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CONHECIMENTO E GESTÃO Volume 3 Organizadores: Camilla Barreto Rodrigues Cochia Caetano Cláudia Herrero Martins Menegassi Andréia dos Santos Gallo Nayara Emi Shimada Yony Brugnolo Alves Nelson Tenório Rejane Sartori Patricia Parra ISBN 978-85-459-1359-7 Volume 3 CONHECIMENTO E GESTÃO Organizadores: Camilla Barreto Rodrigues Cochia Caetano Cláudia Herrero Martins Menegassi Andréia dos Santos Gallo Nayara Emi Shimada Yony Brugnolo Alves Nelson Tenório Rejane Sartori Patricia Parra Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - Núcleo de Educação a Distância Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff James Prestes Tiago Stachon Janes Fidélis Tomelin Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Diretoria de Design Educacional Débora Leite Head de Pós-graduação e extensão EAD Fellipe de Assis Zaremba Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila Toledo Supervisão Operacional de Ensino Luiz Arthur Sanglard Revisão Textual Ariane Andrade Fabreti Estela Pereira dos Santos Projeto Gráfico e Editoração Thayla Daiany Guimarães Cripaldi C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; CAE- TANO, Camilla Barreto Rodrigues Cochia; MENEGASSI, Cláudia Herrero Martins; GALLO, Andréia dos Santos; SHIMADA, Nayara Emi; ALVES, Yony Brugnolo; TENÓ- RIO, Nelson; SARTORI, Rejane; PARRA, Patrícia. (org). Conhecimento e Gestão. Camilla Barreto Rodrigues Cochia Caetano, Cláudia Herrero Martins Menegassi, Andréia dos Santos Gallo, Nayara Emi Shimada, Yony Brugnolo Alves, Nelson Tenório, Rejane Sartori, Patrícia Parra. Maringá-PR.: Unicesumar, 2018. 246 p. “Curso EAD”. 1. Gestão 2. Conhecimento, 3. EaD. I. Título. ISBN 978-85-459-1359-7 CDD - 22 ed. 658 CIP - NBR 12899 - AACR/2 Biblotecário João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828 Organizadores: Dra. Camilla Barreto Rodrigues Cochia Caetano Centro Universitário Cesumar - Unicesumar, Maringá - PR - Brasil Dra. Cláudia Herrero Martins Menegassi Centro Universitário Cesumar - Unicesumar, Maringá - PR - Brasil Me. Andréia dos Santos Gallo Centro Universitário Cesumar - Unicesumar, Maringá - PR - Brasil Me. Nayara Emi Shimada Centro Universitário Cesumar - Unicesumar, Maringá - PR - Brasil Me. Yony Brugnolo Alves Centro Universitário Cesumar - Unicesumar, Maringá - PR - Brasil Dr. Nelson Tenório Centro Universitário Cesumar - Unicesumar, Maringá - PR - Brasil Dra. Rejane Sartori Centro Universitário Cesumar - Unicesumar, Maringá - PR - Brasil Me. Patrícia Parra Centro Universitário Cesumar - Unicesumar, Maringá - PR - Brasil Conselho Editorial: Dr. Augusto Cesar Marins Machado Faculdade de Ensino Superior do Paraná (FESP) e Observatório Sistema FIEP Dr. Carlos Francisco Bitencourt Jorge Faculdade Católica Paulista Dra. Danielly Oliveira Inomata Universidade Comunitária da Região de Chapecó Me. Denise Felix da Silva Universidade de Copenhague - Dinamarca Dr. Éder Rodrigo Gimenes Universidade Estadual de Maringá Dr. Julio Ernesto Colla Universidade Estadual do Paraná - UNESPAR Me. Lucas Henrique Xavier Centro Universitário Cesumar - Unicesumar, Maringá - PR - Brasil Dr. Luiz Tatto Centro Universitário Cesumar - Unicesumar, Maringá - PR - Brasil Dr. Régio Marcio Toesca Gimenes Universidade Federal da Grande Dourados Dra. Sidarta Ruthes de Lima Faculdade Dom Bosco Dr. Thyago Bohrer Borges Centro Universitário Luterano de Ji-Paraná - ULBRA PREFÁCIO As recentes mudanças na sociedade do conhecimento em que vivemos têm se caracterizado como um grande desafio para todos os cidadãos. Os problemas que afetam a sociedade e as organizações têm promovido o surgimento de novos modelos de gestão, que buscam adequar as organizações aos novos tempos. Neste sentido, este livro reúne um conjunto de capítulos que têm como essência o Conhecimento e a Gestão, retratado sob distintos aspectos e áreas temáticas. Por conseguinte, o primeiro conjunto de capítulos trata de questões ligadas à gestão de pessoas nas organizações. Assim, o Capítulo 1 trata da gestão de conflitos, um dos grandes desafios das organizações modernas. Superar conflitos faz parte da história da humanidade e no âmbito organizacional, conflitos não são sinônimos de problemas, mas sim de oportunidades de transformação. O Capítulo 2 aborda um outro grande desafio para os gestores de pessoas, a Síndrome de Burnout nas organizações. As doenças ocupacionais, principalmente as psicológicas, são difíceis de identificar e podem ocasionar consequências de inúmeros fatores, portanto, cabe ao gestor de pessoas estudá-las a fim de prevenir, diagnosticar e tratar estas enfermidades. No Capítulo 3 discute-se sobre o gestor de pessoas nas relações contemporâneas de trabalho, um profissional que tem sido cada dia mais valorizado na atualidade. Concluindo esse grupo, o Capítulo 4 versa sobre a fusão entre a neurociência e o coaching, denominado de neurocoaching, a chave para o autoconhecimento e a sinergia interpessoal. O segundo conjunto de capítulos está voltado para a temática da gestão pública, e para tanto, o Capítulo 5 discorre sobre a atividade física e a promoção da saúde na administração pública, descrevendo de que maneira a atividade física e a promoção da saúde ligam-se com as doenças crônicas não transmissíveis e os possíveis impactos no sistema de saúde pública brasileira. O Capítulo 6 fala sobre os desafios da gestão pública na elaboração do plano de recuperação da bacia do rio Belém, localizado em Curitiba – PR, destacando que a solução para o poder público resolver a questão da gestão dos recursos hídricos está centrada tanto na integração dos órgãos envolvidos, como dos usuários, universidades e demais interessados nesse assunto, democratizando as discussões para assim delinear soluções sustentáveis para os recursos hídricos urbanos. O Capítulo 7 explana sobre a inovação na gestão de pessoas da administração pública, buscando responder à seguinte problemática: como realizar – sob os limites da lei – de forma motivadora e integrativa, uma gestão de pessoas na administração pública? O Capítulo 8 disserta sobre a importância do controle interno para a melhoria da eficiência do gasto público, assunto esse extremamente importante em uma época em que o país passa por um momento de crise que requer cautela dos administradores públicos quanto à aplicabilidade dos recursos e à gestão dos bens públicos. O Capítulo 9 discute sobre as políticas públicas de proteção aos animais na cidade de Maringá-PR, tema que tem ganhado espaço no Brasil nos últimos anos, uma vez que poder público e sociedade têm se mobilizado na luta pelos direitos dos animais devido a inúmeros casos de abandono e maus-tratos nos centros urbanos. Por fim, o Capítulo 10 aborda sobre a gestão de projetos na Polícia Militar de Minas Gerais como instrumento de captação de recursos federais. O terceiro conjunto de capítulos contempla a temática da mobilidade urbana. Assim sendo, o Capítulo 11 trata da análise da implantação de sistema de gestão de trânsito na cidade de Curitiba - PR. O problema norteador desta pesquisa é a busca de qualidade ao usuário do sistema de trânsito nos grandes centros, assim como a solução para os problemas de mobilidade urbana. O Capítulo 12 versa sobre a importância das pesquisas e estudos para definição do plano de circulação viária municipal, identificando diretrizes e normas que estabelecem a forma de melhor organizar a utilização do espaço viário público. Finalizando, o Capítulo 13 aborda o tema ansiedadeem provas, buscando especificamente elucidar a relação entre ansiedade e desempenho em provas práticas de direção veicular. Por fim, o quarto e último conjunto de capítulos expõe estudos sobre a gestão em suas diferentes vertentes. Desse modo, o Capítulo 14 discute a importância da universidade corporativa em uma instituição financeira enquanto estratégia para a sistematização de ações educativas que levem à promoção do desenvolvimento profissional e, consequentemente, à realização dos objetivos e desafios traçados na estratégia organizacional da instituição, com vistas à maximização da eficiência operacional. PR EF Á CI O PR EF Á CI O O Capítulo 15 trata da energia solar e sustentabilidade, ressaltando os benefícios da utilização da energia gerada por dispositivos fotovoltaicos, com foco em um prédio comercial que preza pela sustentabilidade. Por fim, o Capítulo 16 discorre sobre a auditoria interna, uma importante ferramenta de assessoria da gestão que agrega valor aos processos organizacionais e proporciona a segurança adequada para a tomada de decisão. O propósito deste livro é discutir sobre duas temáticas relevantes na atualidade - Conhecimento e Gestão. Desse modo, o conteúdo aqui apresentado certamente fornece valiosas contribuições para os leitores que têm interesse na busca de experiências que possam ser aproveitadas para orientar decisões futuras. William Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor Executivo de Educação a Distância da UniCesumar SUMÁRIO 01 CAPÍTULO 05 CAPÍTULO 03 CAPÍTULO 07 CAPÍTULO 02 CAPÍTULO 06 CAPÍTULO 04 CAPÍTULO 08 CAPÍTULO Gestão de Conflitos: O Desafio de Transformar Problemas em Oportunidades 9 Síndrome de Burnout: Um Grande Desafio para o Gestor de Pessoas 21 O Gestor de Pessoas nas Relações Contemporâneas de Trabalho 37 Neurocoaching na Gestão de Pessoas: A Chave para o Autoconhecimento e Sinergia Interpessoal 53 Atividade Física e Promoção da Saúde na Administração Pública: Implicações no SUS Os Desafios da Gestão Pública na Elaboração do Plano de Recuperação da Bacia do Rio Belém em Curitiba-PR Inovação na Gestão de Pessoas da Administração Pública: Um Modelo Integrativo e Motivador Possível A Importância do Controle Interno para a Melhoria da Eficiência do Gasto Público 71 87 105 121 SU M Á R IO 09 CAPÍTULO 13 CAPÍTULO 11 CAPÍTULO 15 CAPÍTULO 16 CAPÍTULO 10 CAPÍTULO 14 CAPÍTULO 12 CAPÍTULO Proteção aos Animais de Companhia: Políticas Públicas de Bem-Estar Animal e Guarda Responsável na Cidade de Maringá-PR A Gestão de Projetos na Polícia Militar de Minas Gerais Como Instrumento de Captação de Recursos Federais Análise da Implantação de Sistema de Gestão de Trânsito em uma Cidade - Estudo de Caso da Cidade de Curitiba A Importância das Pesquisas e Estudos para Definição do Plano de Circulação Viária Municipal Ansiedade e Desempenho na Prova Prática de Direção Veicular: Uma Revisão Bibliográfica A Importância da Universidade Corporativa em uma Instituição Financeira Enquanto Estratégia para a Melhoria da Eficiência Operacional Energia Solar e Sustentabilidade: Um Estudo de Caso 137 151 165 175 191 201 213 227A Auditoria Interna no Assessoramento da Gestão CAPÍTULO 1 11 GESTÃO DE CONFLITOS: O DESAFIO DE TRANSFORMAR PROBLEMAS EM OPORTUNIDADES Henrique Schneider Sarmento1 Adriana Leonel Terceiro2 RESUMO Gerir e administrar conflitos têm sido o grande desafio das orga- nizações hodiernas, pois estas que tratam e veem os conflitos como oportunidades de superação e de desenvolvimento tendem a melhorar e a obter considerável vantagem competitiva. Assim, este artigo obje- tiva auxiliar os gestores a terem a real compreensão de que é possível transformar problemas organizacionais em grandes oportunidades de crescimento, de desenvolvimento pessoal e organizacional. Uma boa gestão de conflitos parte do princípio de que superá-los faz parte da his- tória da humanidade e que, no âmbito organizacional, conflitos não são sinônimos de problemas, mas sim, de oportunidades de transformação. Neste propósito, a liderança surge como uma importante aliada do ges- tor, pois, além de ser uma prática fundamental para que as organizações tenham sucesso em seu dia a dia, a liderança está diretamente associada a uma boa gestão de conflitos. É graças à sua capacidade de liderança que o gestor consegue identificar, trabalhar e potencializar os conflitos organizacionais de forma satisfatória. Além disso, chama-se a atenção para a necessidade do desenvolvimento contínuo do quadro funcional das organizações, pois, uma vez que há o entendimento de que as pes- soas são o principal capital ativo das empresas, o desenvolvimento de pessoas deve ser encarado como uma tarefa primordial pelo gestor que 1 Graduado em Teologia pelo Centro Universitário de Maringá – UniCesumar. Pós-graduando em Gestão Estratégica de Pessoas pelo UniCesumar. 2 Graduada em Administração pelo Centro Universitário de Maringá – UniCesumar. Especialista em Gestão Contemporânea de Recursos Humanos pela Universidade Estadual de Londrina – UEL. Pós-graduada em EAD e as Tecnologias Educacionais pelo UniCesumar. 12 CAPÍTULO 1 deseja obter sucesso na resolução de conflitos. O trabalho foi realizado pela pesquisa bibliográfica de caráter exploratório, por meio de livros, sites, artigos eletrônicos em periódicos e revistas. Palavras-chave: Gestão de conflitos. Liderança. Desenvolvimento de pessoas. 1 INTRODUÇÃO Superar conflitos faz parte da história da humanidade, porém, um fato tem chamado muito a atenção: nos últimos anos, o gerenciamento de con- flitos ganhou certo destaque no cenário organizacional contemporâneo. Muito desse destaque ocorreu em razão da percepção de alguns gestores de que organizações que conseguem ver, entender e gerir conflitos, não apenas evoluem, mas conseguem obter significativas vantagens competitivas. Desde então, tem-se desencadeado uma série de estudos que visam a compreender o fenômeno dos conflitos organizacionais. Esses estudos são amplos e profundos, vão desde a compreensão do significado etimológico da palavra conflito e perpassam as suas causas e efeitos, até se concentrarem em apurar os benefícios que a gestão de conflitos pode trazer para as organizações. Outro assunto que está em evidência entre as organizações contem- porâneas é a liderança. Nestas organizações, há o entendimento de que a liderança é uma importante aliada do gestor que deseja obter sucesso na resolução de conflitos. Entende-se que é graças à sua capacidade de lideran- ça que o gestor consegue identificar, trabalhar e potencializar os conflitos organizacionais de forma satisfatória, fazendo com que esses conflitos não sejam vistos como problemas, e sim, como oportunidades de crescimento e de desenvolvimento, tanto da organização quanto dos seus colaboradores. Desta forma, o desenvolvimento do quadro funcional da organiza- ção é outra questão que diz respeito ao universo competitivo em que estamos inseridos. Onde se pode destacar que as pessoas são o principal capital ativo das organizações e que, hoje em dia, as organizações estão implantando um novo padrão de comportamento aos seus colabora- dores, visando o sucesso de todos os envolvidos. 13 CAPÍTULO 1 Esse artigo de caráter qualitativo tem, portanto, como objetivo, dis- correr sobre a importância de uma boa gestão de conflitos e apresentar a liderança como fundamental para que as organizações tenham sucesso em seu dia a dia, além de, na busca por resultados com excelência, chamar a atenção dos gestores para a relevância do desenvolvimento do quadro funcional da organização. 2 GESTÃO DE CONFLITOS Uma das principais atribuições que cabem a um gestor de pessoas é o gerenciamento de conflitos. Gerir conflitos, sem dúvidas, não é uma tarefa simples. Ela requer que os gestores tenham cuidados especiais, conhecimento das causas e dos seus efeitos no indivíduo e na organiza- ção,e também paciência e disponibilidade de tempo, pois os conflitos não se resolvem com base no imediatismo. Conforme Berg (2011, p.17), “a palavra conflito vem do latim conflictus, que significa choque entre duas coisas, embate de pessoas ou grupos opostos que lutam entre si”. Consequentemente, a incidência dos conflitos perpassa a história da humanidade, pois há o entendi- mento de que, desde que o ser humano passou a existir, a relacionar-se e a viver em sociedade, ele também passou a ter que conviver com conflitos. Todavia, existem empresas e gestores que acreditam que os conflitos são imprescindíveis para o crescimento e o desenvolvimento de qualquer sistema organizacional. Ao tratar o conflito como algo maior do que uma simples diver- gência pessoal ou organizacional, Griffin (2007, p. 450), explica que o “conflito é o desentendimento entre dois ou mais indivíduos, grupos ou empresas”, que, de forma negativa, causa discórdia e antipatia e, de forma positiva, motiva o aprendizado e a busca por novos desafios. Assim, para todo gestor, isto soa como um indicativo de que se deve tratar e administrar os conflitos com prudência e seriedade. Berg (2011), por sua vez, nos faz compreender que é possível criar diferen- tes alternativas que possibilitem tanto os indivíduos quanto os grupos lidarem 14 CAPÍTULO 1 com os seus conflitos. Assim, os conflitos podem ser ignorados ou sufocados, ou então, sanados e transformados em oportunidades que possam cooperar com o desenvolvimento e o crescimento de uma sociedade ou organização. Atualmente, em muitas organizações, vemos que a ausência de conflitos é encarada como louvável, fruto do bom ambiente e das boas relações internas. Entende-se que a ausência de conflitos é um indicativo da boa competência do gestor, que sabe como evitá-los ou superá-los, sem deixar que eles influenciem no rendimento e no desenvolvimento da organização. Alguns gestores, no entanto, veem o conflito de forma negativa e, por isto, o tratam de maneira pejorativa. Assim, eles não conseguem ter uma visão positiva dos problemas que ocorrem, gerando uma perigosa tendên- cia em ignorá-los ou sufocá-los, não tendo a oportunidade de melhorar. A gestão de conflitos tende a crescer de importância dentro das organizações contemporâneas, tendo em vista a importância, cada vez maior, dada às pessoas que nelas trabalham; já que um dos axiomas gerenciais atuais consiste no fato de os indivíduos constituírem o fator diferencial entre as empresas, os conflitos que os envolvem passam a ser um problema, uma vez que podem reduzir a produtividade, afetando a lucratividade e a rentabili- dade da instituição (NETO, 2005, p. 3). É importante também frisar que o gestor deve sempre estar atento aos diversos indícios de conflitos que possam vir a ocorrer na organização. Haja vista que muitos conflitos são quase imperceptíveis, e somente são percebidos quando as partes envolvidas passam a explicitá-los sem nenhum constrangimento ou dissimulação. Neste caso, se está diante de um conflito instalado, cuja gestão será bem mais complicada. De acordo com os autores Nascimento e El Sayed (2002, p.47), os conflitos devem ser encarados como fontes de novas ideias que permitem “a exploração de diferentes pontos de vista, interesses e valores.” Este novo pensar sobre os conflitos nos leva a entender que, se bem admi- nistrados, eles tendem a ser significativamente positivos e vantajosos. Outra constatação interessante e que está relacionada diretamente à gestão de conflitos, é o fato de muitas empresas já terem extinguido 15 CAPÍTULO 1 ou transformado o seu setor de Recursos Humanos em uma área de abordagem estratégica. Assim, a capacidade de gerenciar conflitos tor- nou-se uma exigência para todos os profissionais que exercem algum posto de liderança nessas organizações. Segundo Neto (2005), compete aos responsáveis pelos diferentes setores da organização saber administrar os conflitos que ocorrem em seu ambiente de trabalho. Desta forma, as organizações que não sou- berem ou que tiverem dificuldades para gerenciar os conflitos do seu grupo operacional, provavelmente enfrentarão alguns contratempos. Assim, acredita-se que é essencial o gestor estar ciente de que os conflitos são importantes e inevitáveis, tanto no âmbito pessoal quan- to organizacional, e que embora se busque eliminá-los, não há como contê-los. Sendo assim, é necessário conhecê-los e saber quais são as suas amplitudes e, principalmente se há a disposição para trabalhar com eles. Faz-se, todavia, necessário frisar que se o gestor não estiver prepa- rado para trabalhar com determinado conflito, ele deve imediatamente procurar a ajuda de alguém que esteja, ou então, atualizar-se e buscar conhecimento suficiente para enfrentá-lo. Boccato (2009) pontua que, antes de chegar a uma resolução adequada para o conflito, o gestor precisa primeiro compreendê-lo. Pode-se dizer, então, que a maneira com que se compreendem os con- flitos é fundamental para determinarmos que as suas resoluções sejam produtivas e construtivas. Assim, a forma como as empresas encaram e administram os conflitos condiciona as suas consequências, sendo positivas ou negativas. Desta maneira, saber como distinguir e identificar os tipos de con- flitos é tarefa indispensável às organizações quando se busca detectar a melhor estratégia para geri-los e administrá-los. A gestão de conflitos, portanto, é parte imprescindível para o bom funcionamento de uma organização, onde os gestores e as organizações que conseguem ver, entender e gerir conflitos não apenas evoluem, mas conseguem obter significativas vantagens competitivas e, consequen- temente, acumulam consideráveis ganhos pessoais e organizacionais, o que lhes confere certo destaque no mercado competitivo em que atuam. 16 CAPÍTULO 1 2.1 LIDERANÇA A liderança é uma ferramenta fundamental para que as organizações tenham sucesso em seu dia a dia, sendo uma das habilidades essenciais aos gestores e às empresas na busca de resultados positivos. Assim, en- tende-se a liderança como a capacidade ou a disposição de gerir e liderar pessoas, conduzindo todos os envolvidos ao sucesso. Robbins (2005, p. 258) define liderança como “a capacidade de influenciar um grupo para alcançar metas.” Assim, a origem desta in- fluência pode ser formal, quando ratificada por algum cargo dentro da hierarquia da organização, ou informal, quando emerge naturalmente fora da estrutura hierárquica da organização. Ambas são de vital impor- tância para o crescimento e o desenvolvimento da organização. A alta competitividade do mercado organizacional contemporâneo sugere que a liderança seja apontada como um pré-requisito indispen- sável para o sucesso organizacional. Isto nos leva à figura do líder, que é um profissional cuja capacidade de liderança lhe permite mobilizar e encorajar uma equipe de trabalho para alcançar objetivos concretos. Assim, entendemos que a liderança nos dias atuais está diretamente relacionada com a obtenção de resultados. Conforme Marques (2012), é graças à sua capacidade de liderança que o líder consegue despertar naturalmente na equipe um espírito de voluntariedade, unidade, participação e motivação, características necessárias para atingir determinado objetivo e/ou resultados concretos. Daí a importância do trabalho e do estilo de liderança do gestor. É importante pontuarmos que o gestor tem um papel fundamental nas tomadas de decisões da organização. Basicamente, ele é o responsável por todo o planejamento estratégico. E, neste planejamento, estão inseridos os objetivos a ser alcançados pela organização. Xavier (2006) enfatiza que o trabalho e o estilo de liderança do gestor são importantes para toda a organização, e tende a fortalecer-se mais ain- da se, além das competências necessárias para o cargo, o gestor também apresentar competências necessárias para liderar a sua equipe de maneira satisfatória. Com isso, torna-se importante destacarmosque nem todos 17 CAPÍTULO 1 os gestores são bons líderes e nem todos os líderes são bons gestores. Na prática, isso significa que, embora alguns profissionais ocupem o posto de líderes, eles nem sempre o fazem na posição de gestores, isto é, não se portam como gerentes, e sim, como chefes da equipe de co- laboradores da qual fazem parte. O mesmo ocorre com alguns gestores que ocupam cargos que exigem capacidade e postura de liderança. Tais profissionais podem até ser ótimos administradores, porém, não possuem as qualidades de liderança que se fazem necessárias para a execução da função conforme o desejado. De acordo com Marques (2012, p.72), “a realidade é que todo gestor precisa conscientizar-se de que ele é mais do que um gerente e um chefe da sua organização,” ele é um influenciador. O gestor é sempre uma referência aos colaboradores da organização, sendo imprescindível que a sua forma de liderança esteja alinhada e ajusta- da com as suas concepções, as suas visões e seus ideais que são perpassados a seus colaboradores. Nos dias atuais, não há espaço para hipocrisias e discrepâncias entre o que se exige e o que se demonstra na prática. Se o gestor é, portanto, um líder que gera influência, deve cons- cientizar-se de que as suas atitudes e decisões impactarão diretamente todo o ambiente organizacional e, consequentemente, afetarão os resultados da organização. Deste modo, independentemente da personalidade ou do estilo de liderança do gestor, quando se trata do gerenciamento de conflitos nas organizações, a forma com que o gestor tratará esses conflitos sempre estará em evidência na organização, e o gestor será o responsável direto pelo resultado trazido por esses conflitos, que serão positivos ou negati- vos para os envolvidos, sejam eles indivíduos ou a própria organização. O gestor tem um papel fundamental diante da árdua tarefa que é gerir conflitos organizacionais, sendo dele próprio a decisão de administrar e de potencializar os ganhos oriundos da gestão desses conflitos, ou então, ter que conviver com as consequências de ignorá-los ou de sufocá-los. Mas, para ter o sucesso esperado, cabe ao gestor a busca de conhecimen- tos satisfatórios para liderar com o desgaste que os conflitos trazem, mas se este for bem administrado, todos terão os seus esforços reconhecidos e colherão os frutos positivos para o ambiente organizacional. 18 CAPÍTULO 1 2.2 DESENVOLVIMENTO DE PESSOAS O grande desafio que recai sobre as organizações hodiernas é a total compreensão de que as pessoas são o seu principal capital ativo. Pois é somente a partir delas que toda e qualquer atividade poderá ser exe- cutada dentro e fora da organização. A realidade é que o êxito de uma organização depende diretamente do comprometimento individual e coletivo de seus colaboradores. Pois, no universo competitivo em que estamos inseridos, o comprometimento individual e coletivo são o que representam garantia de sucesso às organizações. Para ter sucesso, porém, é preciso inovar, criar e aperfeiçoar novos produtos e buscar novos conhecimentos. E são justamente as pessoas, as equipes de trabalho, os colaboradores (como costumeiramente são denominados aqueles que retêm o potencial para fazer tudo isso). Chiavenato (2014) enfatiza que, há algumas décadas, as organizações exigiam um comportamento burocrático, repetitivo e reprodutivo de seus colaboradores, em que o foco concentrava-se apenas na eficiên- cia, isto é, no saber fazer as atividades conforme as regras ditadas pela organização. Não se permitia que os colaboradores pensassem, apenas exigia-se que eles cumprissem as ordens que lhes eram atribuídas. To- davia, este quadro mudou. Hoje as organizações estão implantando um novo padrão de comportamento aos seus colaboradores. É importante destacar que há, por parte do ambiente organizacional moderno, uma significativa exigência para que as organizações e os seus colaboradores apresentem constantes crescimento e desenvolvimento. Na prática, isto representa que tanto o indivíduo quanto a organização devem passar por uma série de mudanças corporativas, mudanças essas que envol- vem a capacidade de gerenciar, liderar e desenvolver integralmente as pessoas. De acordo com Xavier (2006), desenvolver o quadro pessoal sempre foi (e continua sendo) um bom caminho para a construção de empresas sólidas, onde as pessoas que são devidamente treinadas e orientadas aprendem e são estimuladas a pesquisar, pensar, discutir e criar soluções inovadoras e, no futuro, além de apresentarem níveis de produtividade mais elevados, essas pessoas formarão organizações mais sólidas. 19 CAPÍTULO 1 Na prática, isto representa que o desenvolvimento do quadro pessoal traz consideráveis ganhos para a organização, e também se torna a prova concreta de que realmente houve retorno sobre o investimento feito com a contratação e o treinamento dessas pessoas, pois colaboradores treinados, capacitados e motivados geram lucros. Quando falamos em desenvolvimento de pessoas, é importante pontuarmos que algumas organizações ainda tendem a confundir trei- namento com desenvolvimento de pessoas. Embora se utilizem de técnicas comuns, os objetivos e os conceitos de treinamento e de de- senvolvimento de pessoas são distintos. Chiavenato (2014) permite entender que o treinamento é uma ferra- menta utilizada pelos gestores das organizações para estimular e incentivar mudanças sistemáticas no comportamento dos colaboradores e, assim, direcioná-los a uma produtividade maior. Enquanto o desenvolvimento de pessoas é um processo que não está necessariamente relacionado com os cargos ocupados pelos colaboradores, mas sim, em lhes proporcionar oportunidades de desenvolvimento e de crescimento profissional. Desta forma, entende-se que o desenvolvimento de pessoas está dire- cionado para o crescimento pessoal do colaborador e visa a aperfeiçoar a sua carreira profissional, e não apenas o seu desempenho no cargo atual. Para Xavier (2006), o desenvolvimento pessoal pode ser considerado uma estratégia inteligente de qualquer organização. O autor nos permite afirmar que as organizações tem o dever de criar e desenvolver programas eficientes que objetivem o desenvolvimento pessoal de seus colaborado- res, e que estimulem o gestor a também fazer parte desses programas. Ao ocupar-se com o desenvolvimento das pessoas, o gestor im- pacta positivamente o ambiente interpessoal da organização, o que traz harmonia, satisfação e unidade ao quadro de colaboradores. Assim, se os colaboradores estiverem próximos uns dos outros, as trocas de informações, os favores, as experiências e o comprometi- mento coletivo fluirão naturalmente, acarretando em significativos ganhos à organização. 20 CAPÍTULO 1 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta pesquisa mostrou-se relevante, pois foi possível ter um vislumbre do quão importante e rentável a gestão de conflitos pode ser para as organizações. Além de constatar que as organizações que tratam e veem os conflitos como oportunidades de superação, crescimento e desenvol- vimento podem melhorar e obter considerável vantagem competitiva, também se percebeu que uma boa gestão de conflitos torna o ambiente organizacional mais agradável e produtivo. Além disso, se viu que a liderança é uma habilidade fundamental, necessária aos gestores que desejam crescer e desenvolver a sua capa- cidade individual e organizacional para administrar, com resultados satisfatórios, os conflitos que surgem no dia a dia das organizações. Esta pesquisa ainda proporcionou uma profunda reflexão sobre a necessidade que as organizações contemporâneas têm de desenvolver o seu quadro funcional. Constatou-se que há uma exigência, por parte do ambiente organizacional moderno, para que as organizações e os seus colaboradores apresentem constantes crescimento e desenvolvimento. Essa exigência, por sua vez, está mudando a forma de pensar e agir das organizações, que agora focam no treinamento e no desenvolvimentode seus colaboradores e, como resultado, elas percebem que colaboradores treinados, capacitados e motivados geram lucros e solidez organizacional. Cabe ressaltar que esse trabalho tem a intenção de demonstrar que é pos- sível melhorar, transformar e impactar positivamente o ambiente organiza- cional. Lembrando que conflitos não são sinônimos de problemas, mas sim, de oportunidades, sendo competência do gestor fazer esta transformação. Assim, é possível concluir que, devido à amplitude dos assuntos, com o passar do tempo, surgirão novas descobertas. Por isso, sempre que possível, deve-se fazer novas leituras para se cercar de novas informações sobre estes assuntos e aplicá-las, na medida do possível, no dia a dia. 21 CAPÍTULO 1 REFERÊNCIAS BERG, E. A. Administração de conflitos: abordagens práticas para o dia a dia. 1. ed. Curitiba: Juruá, 2011. BOCCATO, S. B. G. Como gerenciar um grupo em conflito. In: MA- LAGUTTI, W.; CAETANO, K. C. Gestão do serviço de enfermagem no mundo globalizado. Rio de Janeiro: Rubio, 2009. p. 85-100. CHIAVENATO, I. Gestão de pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações. 4. ed. Barueri: Manole, 2014. p. 307-400. GRIFFIN, R. W. Introdução à Administração. São Paulo: Ática, 2007. MARQUES, J. R. Leader Coach: Coaching como filosofia de liderança. 1. ed. São Paulo: Ser Mais, 2012. NASCIMENTO, E. M.; EL SAYED, K. M. Administração de confli- tos. In: ______. Gestão do Capital Humano – FAE Business School. Curitiba: Editora Gazeta do Povo, 2002. p. 47-56 (coleção Gestão Empresarial; vol. 5). NETO, A. F. F. Gestão de conflitos. Thesis, São Paulo, a. 2, v. 4, p. 1-16, 2. sem. 2005. ROBBINS, S. Abordagens básicas sobre liderança. In: ______. Com- portamento organizacional. Trad. de Reynaldo Marcondes. 11. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. p. 258-270. XAVIER, R. Gestão de pessoas na prática: os desafios e as soluções. 1. ed. São Paulo: Gente, 2006. CAPÍTULO 2 23 CAPÍTULO 2 SÍNDROME DE BURNOUT: UM GRANDE DESAFIO PARA O GESTOR DE PESSOAS Aline Aparecida De Oliveira1 Adriana Queiroz Palmieri Ferreira2 RESUMO Estudar a Síndrome de Burnout é conhecer a realidade tão complexa do trabalho do gestor de pessoas. As doenças ocupacionais, principalmente as psicológicas, são difíceis de identificar e podem ser consequências de inúmeros fatores, portanto, cabe a este profissional estudá-los a fim de prevenir, diagnosticar e tratar estas enfermidades. Porém, para realizar um trabalho eficiente, é preciso enfrentar diversos desafios, sejam eles prove- nientes das organizações ou dos próprios trabalhadores que, muitas vezes, não enxergam o gestor como um meio para alcançar os seus objetivos. Este estudo teve como propósito analisar os fatores impactantes na Gestão de Pessoas ao abordar a Síndrome de Burnout nas organizações. Para este fim, optou-se por uma pesquisa bibliográfica, em que foram realizadas análises dos estudos existentes sobre o tema a fim de encontrar aspectos relevantes que possam ser considerados desafios. Por isto, foi necessária uma avaliação da Qualidade de Vida do Trabalhador que auxiliou nesta percepção, visto que a sua ausência pode levar ao aumento dos níveis de estresse e, conse- quentemente, da doença abordada nesse estudo. Percebeu-se, portanto, que o gestor de Recursos Humanos deve buscar conhecer a empresa, os trabalhadores e as doenças para que ele possa aplicar as práticas de gestão que lhe são inerentes e, com isto, melhorar o ambiente de trabalho, pois é comprovado que, apesar das semelhanças, cada caso é único. Palavras-chave: Síndrome de Burnout. Estresse. Qualidade de Vida do Trabalhador. Gestão de Pessoas. 1 Graduada em Administração pelo Centro Universitário do Cerrado Patrocínio - UNICERP. 2 Graduada em Ciências Contábeis pela Universidade Estadual de Maringá UEM. Pós-graduada em consultoria organizacional com ênfase em reestruturação de empresas pela UNIFAMMA. 24 CAPÍTULO 2 1 INTRODUÇÃO A Gestão de Pessoas é uma área de muito destaque nas organizações e pode ser vista como um setor estratégico que visa a melhoria institu- cional. Uma das atividades exercidas pelo gestor deste departamento é o acompanhamento da saúde do trabalhador por meio da prevenção, do diagnóstico e do tratamento das doenças ocupacionais. Um dos principais meios para alcançar esses objetivos é por meio da melhoria da Qualidade de Vida do Trabalhador. É a partir dela que o profissional conseguirá alinhar as metas organizacionais com as profissionais, a fim de alcançar os benefícios que ambas necessitam. Ao longo do tempo, diversos estudiosos já identificaram que o clima interno pode afetar a produtividade. Assim, é necessária uma gestão voltada para estudos constantes sobre as pessoas, já que elas são os principais agentes de mudanças. Além do mais, faz-se necessário co- nhecer também a Síndrome de Burnout e, consequentemente, a QVT (Qualidade de Vida do Trabalhador), pois apesar de essa síndrome considerada uma doença recente, ela já atingiu muitas organizações e os seus impactos na sociedade podem ser imensos. Por isto que o trabalho em relação a essa doença tem sido considerado, atualmente, importante na vida das pessoas. No decorrer desse artigo, pretende-se conhecer os impactos dessa síndrome para as empresas, pois ela é uma consequência do estresse ocupacional. Por se tratar de um tema que ainda é pouco abordado em pesquisas, é de grande relevância entendê-la, visto que pode permitir novos estudos acerca dessas doenças ocupacionais, bem como auxiliar nas interpretações sobre a QVT. Acredita-se que esse estudo poderá também contribuir para uma Gestão de Pessoas mais eficiente, propor- cionando grandes melhorias para a área de RH e, consequentemente, para as organizações, como a redução das enfermidades, o aumento da produtividade e da competividade. Ao longo desse trabalho, serão abordados estudos sobre higiene e segurança do trabalho, que são os primeiros passos para a compreensão do tema escolhido. Posteriormente, será feita uma análise da Qua- 25 CAPÍTULO 2 lidade de Vida do Trabalhador por meio da observação do histórico de aplicação, bem como a sua relevância. Em um terceiro momento, será realizado um aprofundamento a respeito do estresse, que faz o elo entre estas ações e o Burnout. Após isto, será preciso compreender essa síndrome para que, por fim, seja possível definir o papel do Gestor de Pessoas diante de tudo isso. O presente artigo pretende responder ao seguinte problema: quais são os desafios encontrados pelo gestor de Recursos Humanos ao buscar a melhoria da Qualidade de Vida do Trabalhador por meio da identifi- cação da Síndrome de Burnout? Para responder este questionamento, a metodologia será fundamentada Em uma pesquisa bibliográfica, que buscará apoiar-se nos estudos de Albuquerque e França (1998); Fernandes (1996) Limongi-França e Assis (1995); Gramms e Lotz (2017) e Pereira (2014), que realizaram relevantes pesquisas sobre o tema. 2 HIGIENE E SEGURANÇA DO TRABALHO A Gestão de Recursos Humanos é uma área que possui diversas ati- vidades dentro das organizações. Ela envolve desde o recrutamento e a seleção de pessoal, até o desenvolvimento de cada colaborador durante as suas atividades, além do desligamento deste. Chiavenato (2015, p. 136) ressalta que “todas essas atividades dentro do contexto organizacional são importantes para obtenção, aplicação, manutenção de habilidades e competências capazes de assegurar a eficiência e a eficácia da organi- zação”. Assim, o gestor de RH é visto como uma peça fundamental no alcance dos objetivos organizacionais. Mas o trabalho deste campo deve ir além destas atividades mencio- nadas, é preciso disponibilizar mais ferramentas que contribuam para o desenvolvimento das pessoas. A Higiene e a Segurança do Trabalho é um campo que deve ser trabalhado como uma parceria para o de- senvolvimento do ser humano. Ela está relacionada à prevenção e ao diagnóstico das doenças ocupacionais(CHIAVENATO, 2015). 26 CAPÍTULO 2 As doenças ocupacionais são qualquer tipo de anomalia causada por algum fator do ambiente de trabalho. Essas doenças podem ser tanto físicas como psicológicas. Tendo em vista isto, o gestor de Recursos Humanos estará contribuindo com a melhoria da Qualidade de Vida dentro da organização. Assim, Holanda (2012, on-line) afirma que “a qualidade de vida no trabalho implica numa preocupação genuína dos dirigentes com aspectos de segurança, higiene, saúde, ergonomia e bem-estar de toda a organização”. Percebe-se, portanto, que falar sobre a Qualidade de Vida do Trabalhador implica em, necessariamente, trabalhar com as doenças ocupacionais em meio a outros aspectos que impactam no desenvolvimento do trabalho. 2.1 A QUALIDADE DE VIDA DO TRABALHADOR (QVT) Apesar de muitas definições, a QVT (Qualidade de Vida do Tra- balhador) refere-se, entre outros aspectos, ao “conjunto de estratégias que têm como objetivo diagnosticar, promover, acompanhar e mo- nitorar ações para a saúde, o bem-estar e a satisfação do profissional” (GRAMMS; LOTZ, 2017, p.17), ou seja, a QVT visa a melhoria das condições gerais do ambiente de trabalho de forma a promover conforto para os colaboradores. São várias as razões para a implantação da QVT nas empresas. Dentre elas, destaca-se a melhoria do ambiente de trabalho e o aumento da produ- tividade, além do controle no aumento das doenças emocionais (ALBUR- QUERQUE; FRANÇA, 1998). Porém, tudo isto, muitas vezes, faz parte apenas de discursos, não sendo necessariamente implantado nas organiza- ções. O fato é que, muitas vezes, para sair do papel, é preciso ser obrigatório. Limongi-França e Assis (1995) afirmam que muitos programas de QVT têm origem nas atividades do setor de segurança e saúde do trabalhador e, em muitos momentos, eles não estão atrelados aos programas de qualidade total ou de melhoria do clima organizacional, ou seja, diversas vezes as empresas visam apenas a atender aquilo que é imposto pela legislação trabalhista. 27 CAPÍTULO 2 Não se trata, porém, apenas de executar/implementar aspectos legais da segurança do trabalho, e sim, conhecer o profissional de forma que ele possa motivar-se e contribuir com a instituição, pois, de acordo com Fernandes (1996), são as pessoas que fazem a diferença para que as organizações tenham competitividade, ou seja, é somente por meio delas, das pessoas, que as mudanças podem acontecer. Implantar a QVT é, portanto, iniciar um processo de conhecimento dos colaboradores. Para isto, Holanda (2012, on-line) ressalta que é importante ver o ser humano de forma holística, que engloba de forma integrada diversos aspectos, conhecendo-o como um ser completo, atentando-se para a sua saúde, ou seja, cada pessoa é única e cada pecu- liaridade deve ser observada e trabalhada de forma exclusiva pela Gestão de Recursos Humanos, a fim de atingir toda a organização. A partir desta concepção, o setor de Recursos Humanos e a direção precisam trabalhar juntos pela saúde do trabalhador, com o objetivo de garantir o bom funcionamento e aumentar os benefícios adquiridos com a im- plantação. O termo saúde possui uma definição mais abrangente. Para Gramms e Lotz (2017) e Chiavenato (2015), a Organização Mundial da Saúde tem definido o termo saúde de forma mais completa do que apenas a ausência de doenças: envolve também as atividades ligadas ao bem-estar físico, mental e social. Assim, percebe-se que compreender a saúde organizacional está diretamente relacionado com conhecer o profissional, e isto vai além de estudá-lo por meio de pesquisas com questionários, é preciso “dar aos funcionários a oportunidade de expressão e de participação nas decisões” (FERNANDES, 1996, p. 25) e, assim, reconhecer e valorizar a sua inteligência. Observa-se, portanto, que existem inúmeras razões para o aumento dos estudos no tema Qualidade de Vida no Trabalho. Albuquerque e França (1998, p. 50) afirmam que uma delas é o “aprofundamento da compreensão a respeito do stress e de doenças associadas às pressões orga- nizacionais”. O estresse causa impactos difíceis de serem revertidos na vida das pessoas, e que podem ser provindos da falta de manutenção da QVT. 28 CAPÍTULO 2 2.2 ESTRESSE A definição do termo estresse foi criada inicialmente pelo endocri- nologista Hans Selye que, após diversas pesquisas sobre os mecanismos do adoecimento, chegou à seguinte definição: “o estresse é um conjunto de reações que ocorrem em determinado organismo quando submetido a um esforço de adaptação” (SELYE, 1936 apud GRAMMS; LOTZ, 2017, p. 52). Isto significa que o organismo cria reações para adminis- trar um estado diferente daquele em que ele está, ou seja, são induzidas mudanças ao sistema biológico. A partir dos estudos desse endocrinologista, surgiram outras pes- quisas sobre o tema, que chegaram à conclusão que o estresse impacta tanto o psicológico como a parte física do ser humano. Pereira (2014, p. 27) afirma que “o estresse tem a função de ajustar a homeostase e de melhorar a capacidade do indivíduo, para garantir-lhe a sobrevivência ou a sobrevida”, ou seja, assim como em espécies de animais, esta adap- tação do corpo e da mente é realizada com o objetivo de manter a vida. Arantes e Vieira (2010) reforçam que o estresse é muito importante para a sobrevivência. Desta forma, são perceptíveis os seus aspectos positivos para o ser humano. Gramms e Lotz (2017) afirmam que o estado positivo é chamado de eustress, e o negativo, de distress. De acordo com os autores, o eustress estimula e mobiliza para conquista dos objetivos, ou seja, são estas reações do organismo frente aos desafios que motivam as pessoas a evoluir. Já o distress ocorre quando há uma demanda excessiva ou quando há frustações, o que pode levar ao excesso ou à ausência de esforço (GRAMMS; LOTZ, 2017). São estes casos que podem levar adoecimento das pessoas, fazendo com que elas não consigam reagir. Uma forma de neutralizar os efeitos desse lado negativo é por meio do conhecimento dos estressores que podem levar ao adoecimento. Pereira (2014) os divide em três tipos: físicos, que se referem ao am- biente; cognitivos, que são ameaçadores da integridade do indivíduo ou do seu patrimônio; e emocionais, os quais são referentes ao afetivo. Observa-se que cada pessoa possui uma reação diferente diante de cada 29 CAPÍTULO 2 situação, portanto, não basta apenas saber identificar os estressores, é preciso interligar com cada indivíduo. Gramms e Lotz (2017), por sua vez, dividem esses fatores em: am- bientais, organizacionais e individuais. Os ambientais são aqueles que não podem ser alterados pelas pessoas, sendo eles: econômicos, polí- ticos, tecnológicos e naturais-geográficos. Os fatores organizacionais podem e devem ser trabalhados pelas empresas e referem-se às tarefas e às condições de trabalho, às normas, às relações interpessoais e aos processos. Os fatores individuais são intrínsecos de cada um e referem-se à personalidade, ao lócus de controle (quem está no controle pessoal), às crenças limitantes e aos valores e comprometimento. É importante saber que tudo isto aqui apresentado pode desencadear outros problemas e, inclusive, agravar o estado de estresse. Muitas vezes, pode ocasionar o surgimento de doenças graves decorrentes do estresse não tratado, como a Síndrome de Burnout, por exemplo. 2.3 SÍNDROME DE BURNOUT A Síndrome de Burnout é uma doença caracterizada pelo esgota- mento profissional, que “ocorre pela cronificação de um processo de estresse” (PEREIRA, 2014, p.14). Ela surge em consequência de um período prolongado de exposição do corpo ao estresse, e pode gerar danos físicos e mentais para o trabalhador, seja na sua vida profissional, seja na pessoal ou na social. A Síndrome de Burnout é definida nos estudos de Pereira (2014) como aquilo que deixou de funcionar por falta de energia, ou seja, sig- nifica que o profissional chegou ao seu limite, tanto em condições físicascomo psíquicas, que não é possível ele prosseguir com as suas atividades profissionais, enfim, esse profissional está totalmente consumido por seu trabalho (TAMAYO; MENDONÇA; SILVA, 2012). Os estudos relacionados a essa síndrome começaram a surgir após os artigos do psiquiatra Herbert Freudenberger em 1974, que obser- vou mudanças de comportamento em trabalhadores de uma clínica de 30 CAPÍTULO 2 reabilitação onde era médico. Outra importante pesquisadora do tema foi Christina Maslach, que criou um instrumento de pesquisa para mensurar os casos de Burnout, chamado Maslach Burnout Inventory (TAMAYO; MENDONÇA; SILVA, 2012). Ao longo dessa pesquisa, percebeu-se que muitos autores acreditam que esta doença pode atingir somente os profissionais das áreas da saúde, como médicos, enfermeiros, dentistas, assistentes sociais etc. Entretanto, foi possível perceber que qualquer profissão pode ser afetada. Pereira (2014) afirma que o próprio Freudenberger admitiu que a doença pode atingir qualquer tipo de ocupação, porém, aquelas que estão ligadas à assistência convivem diariamente com as diversas doenças da sociedade, com as necessidades dos pacientes e com as suas próprias necessidades, potencializando o surgimento do Burnout neste tipo de profissão. A Síndrome de Burnout pode trazer consequências tanto para o indivíduo como para a organização e os seus grupos de trabalho (GRAMMS; LOTZ, 2017). Os impactos podem ser desde o isola- mento do funcionário até o seu afastamento. Estas manifestações vão aumentando com o passar do tempo, principalmente quando são ignoradas ou não tratadas da forma correta. É muito complicado fazer um diagnóstico desta doença, entretanto, os sintomas podem auxiliar neste processo. Os sintomas da Síndrome de Burnout são: físicos (fadiga constante e progressiva, distúrbios do sono, dores musculares ou osteomusculares, cefaleias, enxaquecas, perturba- ções gastrointestinais, imunodeficiência, transtornos cardiovasculares, distúrbios do sistema respiratório, disfunções sexuais, alterações mens- truais nas mulheres); psíquicos (falta de atenção e/ou concentração, alterações de memória, lentificação do pensamento, sentimento de alienação, sentimento de solidão, impaciência, sentimento de insuficiên- cia, baixa autoestima, labilidade emocional, astenia, desânimo, disforia, depressão, desconfiança, paranoia); comportamentais (negligência ou excesso de escrúpulos, irritabilidade, incremento da agressividade, in- capacidade para relaxar, dificuldade na aceitação de mudanças, perda de iniciativa, aumento do consumo de substâncias, comportamento de 31 CAPÍTULO 2 alto risco, suicídio); defensivos (tendência de isolamento, sentimento de onipotência, perda pelo interesse pelo trabalho e/ou lazer, absenteísmo, ironia, cinismo) (PEREIRA, 2014, p. 44). Ressalta-se que um indivíduo pode não desenvolver todas as in- dicações que foram descritas ou ainda manifestar outras diferentes, dificultando ainda mais o diagnóstico e necessitando de uma avaliação mais aprofundada. Enfim, apesar da manifestação da Síndrome de Burnout ser muito parecida com o estresse, é importante destacar que ela é uma conse- quência dele, e a principal diferença entre eles é que o estresse, conforme informado anteriormente, pode apresentar dois lados: o positivo ou o negativo, enquanto que o Burnout é uma reação apenas negativa do organismo (PEREIRA, 2014). Assim, observa-se que é de grande relevância que as organizações e os profissionais do setor de Recursos Humanos estejam preparados, por meio da constante atualização, para lidar com esta realidade, a fim de melhor acompanhar essas doenças que têm atingido os profissionais. 2.4 O PAPEL DO GESTOR DE RECURSOS HUMANOS O papel do gestor de Recursos Humanos, diante de tudo o que foi abordado ao longo desse artigo, é conhecer cada dia mais todas essas doenças. É preciso estar atento a cada novo estudo, para que a empresa possa estar preparada para lidar com cada nova doença que surge. As organizações e, consequentemente, o gestor de RH, devem “in- vestir na criação de estratégias que promovam a saúde, o bem-estar, e a satisfação das pessoas no ambiente de trabalho” (GRAMMS; LOTZ, 2017, p.17), isto porque, como visto no presente estudo, a QVT tem grande impacto na prevenção e no tratamento do estresse e, por con- seguinte, sobre a Síndrome de Burnout. Percebe-se, portanto, que essas doenças e a QVT estão totalmente ligadas. Pereira (2014, p. 205), em sua investigação com professores 32 CAPÍTULO 2 universitários, conclui que “Burnout e satisfação no trabalho se correla- cionam de forma significativa”, ou seja, ambos estão interligados. Além do mais, Mendonça et al. (2012, p. 17) concluem que “saúde e qualidade de vida são conceitos interligados e constituem aspectos fundamentais da vida humana”. Ou seja, trabalhar com o Burnout precisa fazer parte das estratégias do plano de melhoria da QVT. Assim, é necessário abordar o tema nos planos de mudanças, aten- tando-se sempre para as dificuldades apresentadas por esta doença. Pois, apesar do diagnóstico dessa síndrome ser extremamente difícil, algumas observações podem auxiliar neste processo. É preciso ficar atento aos atestados, ao absenteísmo, aos acidentes de trabalho, às horas extras e às transferências (PEREIRA, 2014). Além do mais, cada detalhe pode contribuir para essa conclusão, necessitando de total atenção do gestor. Outro ponto importante na Gestão de Recursos Humanos é saber que, ao trabalhar a QVT nas instituições, deve-se ter o conhecimento de que cada organização é única, muitas vezes, são os métodos dife- rentes dos habituais que podem ter o efeito desejado. Entretanto, o gestor de RH deve trazer para a prática do dia a dia tudo aquilo que ele encontra em seus estudos e experiências (FERNANDES, 1996), ou seja, é preciso criar um elo entre teoria e prática, de forma a acrescentar sempre mais no desenvolvimento desta gestão. Fernandes (1996) diz que essas práticas devem estar atreladas aos novos métodos e formas de trabalho, para que haja a motivação do co- laborador e, como consequência, o aumento na produtividade e o maior envolvimento do pessoal no que se refere aos seus próprios processos de trabalho, isto é, os profissionais devem sentir-se como fundamentais no processo para que, desta forma, coloquem o trabalho como prioridade. E para que toda mudança ocorra, é fundamental também mudar a visão das organizações. Muitas empresas já conciliam a expressão Qualidade de Vida no Trabalho com custos em “condições físicas e de instalações, atendimento a reivindicações salariais, redução da jornada de trabalho e outras medidas” (FERNANDES, 1996, p.36) por isso 33 CAPÍTULO 2 criam inicialmente barreiras que dificultam a implantação de ações que auxiliem o atendimento das necessidades básicas do colaborador e, ao mesmo tempo, visem o aumento da produtividade. É preciso, entretanto, ver a QVT como um investimento com ga- nhos mútuos, que contribui para melhoria das condições de trabalho e de vida dos trabalhadores (GRAMMS; LOTZ, 2017). Neste caso, o papel do gestor de RH é auxiliar a empresa, os seus gestores e demais profissionais a visualizarem estes benefícios para a organização e para os trabalhadores, incentivando a implantação de programas de QVT. Conhecer e evitar que o Burnout possa atingir os profissionais é um dos desafios do gestor de pessoas, pois ele precisa incorporar na empresa a consciência que esse tipo de doença pode atingir qualquer lugar e que todos estão suscetíveis a tê-la, sendo necessário apenas o profissional estar exposto aos causadores. Arantes e Vieira (2010) res- saltam que as duas vertentes devem ser observadas ao trabalhar com as doenças ocupacionais, sendo a primeira o trabalho em si, e a segunda, o indivíduo trabalhador. Assim, não se pode esquecer que os funcionários são os principais vetores de mudanças dentro de uma organização. É por meio deles que metas são atingidas, poristo, é preciso difundir a responsabilidade das metas dos programas de Qualidade de Vida para toda a empresa, iniciando pelas gerências e chefias (FERNANDES, 1996). Por isto, cabe ao gestor de RH conciliar ambos os lados para que eles vejam a Qualidade de Vida do Trabalhador como um objetivo comum, a fim de atingir necessidades diferentes e, assim, chegar às mudanças necessárias dentro da organização. É necessário saber que, além de aplicá-las, é preciso mantê-las e ado- tar medidas de acompanhamento e melhoria, visando a não extinguir esse novo processo. Para isto, Gramms e Lotz (2017, p. 40) afirmam que é preciso “criar uma cultura organizacional que favoreça a criação e manutenção de ações em prol da QVT”, visto que não basta apenas implantar, é preciso acompanhar. 34 CAPÍTULO 2 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao longo desse estudo, foi possível perceber a complexidade da Ges- tão de Recursos Humanos. Esse artigo visou a uma pequena parte desta área tão abrangente, buscando aprofundar-se na doença ocupacional, a Síndrome de Burnout, que é trabalhada dentro do tema de higiene e segurança do trabalho. É nesta área que estão aplicadas as práticas de melhoria da Qualidade de Vida do Trabalhador. O Burnout ocorre como consequência do estresse, o qual o trata- mento inadequado ou mesmo a falta dele, levam o indivíduo estressado ao esgotamento físico e psíquico desencadeando, então, essa síndrome. Ao longo desse artigo, percebeu-se que essas doenças estão diretamente relacionadas com a manutenção da Qualidade de Vida do Trabalhador, e que cabe ao gestor de pessoas desenvolver um trabalho que vise o desenvolvimento dessa área dentro das organizações. Percebeu-se que, devido à limitação de estudos sobre essa síndrome, o diagnóstico ainda é muito difícil. Além disso, as doenças psicológicas são difíceis de diagnosticar, já que dependem de diversos fatores e, principalmente, por ser algo intrínseco em cada ser humano. Foram observados, ainda, os principais desafios da Gestão de Pessoas, que estão voltados principalmente para a falta de comprometimento da empresa e dos colaboradores, já que ambos não assumem o papel de agentes de mudanças por não acreditarem nesta filosofia. Constatou-se, portanto, que o trabalho do gestor de Recursos Humanos no tema apresentado contempla: conhecer melhor as pessoas para prevenir, diagnosticar e tratar doenças ocupacionais, como a Síndrome de Burnout; conhecer a organização para implantar as práticas adequadas de gestão da QVT, visando a melhoria no ambiente de trabalho e a redução das doenças e, por fim, estar constantemente ampliando os seus conhecimentos para aplicar as mudanças necessárias e obter maior eficácia nos resultados. Sugerem-se novas pesquisas sobre o tema que visem a contemplar algumas lacunas existentes, como um estudo mais aprofundado sobre a identificação da Síndrome de Burnout, o qual possa apresentar me- canismos mais eficientes de diagnose. 35 CAPÍTULO 2 REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, L. G.; FRANÇA, A. C. L. Estratégias de recursos humanos e gestão da qualidade de vida no trabalho: o stress e a expansão do conceito de qualidade total. Revista de Administração, São Paulo, v. 33, n. 2, p. 40-51, 1998. ARANTES, M. A. A. C.; VIEIRA, M. J. F. Estresse. 3. ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2010. CHIAVENATO, I. Higiene e Segurança do trabalho. In: ______. Remuneração, benefícios e relações de trabalho: como reter talentos na organização. 7. ed. Barueri: Manole, 2015. p.135-178. FERNANDES, E. Qualidade de vida no trabalho: como medir para melhorar. Salvador: Casa da Qualidade, 1996. GRAMMS, L. C.; LOTZ, E. G. Gestão da Qualidade de Vida no Trabalho. 1. ed. Curitiba: Intersaberes, 2017. HOLANDA, F. Qualidade de vida no trabalho. Portal RH.com.br, 17 jul. 2012. Disponível em: <http://www.rh.com.br/Portal/Qualida- de_de_Vida/Artigo/7981/qualidade-de-vida-no-trabalho.html>. Acesso em: 3 maio 2018. LIMONGI-FRANÇA, A. C.; ASSIS, M. P. Projetos de Qualidade de Vida no Trabalho: Caminhos Percorridos e Desafios. Revista de Ad- ministração de Empresas - RAE, v. 35, n. 2, p. 26-33, mar./abr.1995. Disponível em: <http://rae.fgv.br/rae/vol35-num2-1995/projetos-qua- lidade-vida-no-trabalho-caminhos-percorridos-desafios>. Acesso em: 3 maio 2018. http://www.rh.com.br/Portal/Qualidade_de_Vida/Artigo/7981/qualidade-de-vida-no-trabalho.html http://www.rh.com.br/Portal/Qualidade_de_Vida/Artigo/7981/qualidade-de-vida-no-trabalho.html http://www.rh.com.br/Portal/Qualidade_de_Vida/Artigo/7981/qualidade-de-vida-no-trabalho.html 36 CAPÍTULO 2 MENDONÇA, H. et al. Saúde, qualidade de vida e bem-estar: limites e interfaces teórico-metodológicas. In: FERREIRA, M. C.; MEN- DONÇA, H. Saúde e bem-estar no trabalho: Dimensões individuais e culturais. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2012. p. 11-34. PEREIRA, A. M. T. B. Burnout: quando o trabalho ameaça o bem-estar do trabalhador. 4. ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2014. TAMAYO, M. R.; MENDONÇA, H.; SILVA, E. N. Relação entre estresse ocupacional, coping e Burnout. In: MENDONÇA, M. C. F. H. Saúde e Bem-Estar no Trabalho: dimensões individuais e cultura. 1. ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2012. p. 35-61. CAPÍTULO 3 39 O GESTOR DE PESSOAS NAS RELAÇÕES CONTEMPORÂNEAS DE TRABALHO Caroline Neves Pimentel1 Berenice Milani2 RESUMO Esta produção teve como objetivos elencar atribuições do gestor de pessoas, bem como ressaltar a importância deste personagem na vida de uma organização. Como as atribuições desse gestor são inúmeras, foram escolhidas a análise, a descrição de cargos e a seleção por compe- tências, já que estão ligadas ao processo de recrutamento e de seleção, e este é um trabalho cujo desempenho pode contribuir ou atrapalhar muito no percurso da empresa. O gestor de pessoas tem sido cada dia mais valorizado, já que estão sendo feitos investimentos no que condiz à pesquisa neste âmbito, e também na contratação desses profissionais diretamente ou de forma terceirizada, no caso de empresas menores. Isto contribui para o bom andamento de três pilares componentes da sociedade organizacional: empresa, colaboradores e consumidores finais, pois a empresa que cuida de seus funcionários faz com que estes traba- lhem com mais entusiasmo por estarem em funções congruentes com o seu perfil, levando ao terceiro pilar, que é o consumidor que recebe um produto final de maior qualidade. Esta análise foi feita a partir da consulta a periódicos eletrônicos e livros. Palavras-chave: Gestão de pessoas. Seleção por competências. Análise e descrição de cargos. Relações contemporâneas. 1 Bacharel em Secretariado Executivo pela Faculdade Campo Real e Administração com Ênfase em Gestão de Negócios, pela Faculdade Campo Real – Guarapuava/PR. 2 Pós-Graduanda em MBA em Agronegócio, Pós-Graduada em EAD e Tecnologias Educacionais. Pós-Graduada em Auditoria e Controladoria pelo Centro Universitário de Maringá - Unicesumar. Pós-Graduada em Gestão Empreendedora de Negócios pelo Centro Técnico-Educacional Supe- rior do Oeste Paranaense -CTESOP. Graduada em Administração pela Faculdade Dom Bosco. 40 CAPÍTULO 3 1 INTRODUÇÃO O ambiente laboral, nos âmbitos social e tecnológico, tem se modifi- cando com o passar dos anos. À medida que a cultura contemporânea foi concordando-se, o ambiente de trabalho passou por uma transformação intensa, profunda, que alterou o modo como as pessoas trabalhavam, as- sim como o significado destas atividades nas suas vidas e as normas sociais que regulamentavam as diferentes práticas profissionais. Esse ambiente tem se caracterizado pelo estreitamento das relações ali estabelecidas com as interpessoais, o que tem acontecido cada dia mais. As pessoas têm passado progressivamente mais horas no ambiente de trabalho ou em função deste do que com os seus entes. Isto faz com que relações confundam-se e, como consequência, mais conflitos surgem, os quais têm relação direta com o desempenho do funcionário. Em contrapartida, ad- ministradores,proprietários e gerentes também apresentam exigências que acabam por tornar alguns perfis inadequados para certos tipos de funções. Como se não bastasse o estresse que isso gera, temos a imersão das novas tecnologias. Estas têm ocupado cada vez mais funções que antes eram desempenhadas apenas pelos seres humanos, deixando muitos trabalhadores ameaçados, já que a qualquer momento podem ser demi- tidos e substituídos por uma máquina. Diante de tudo isto, existe um terceiro ator nesta relação empregador-empregado: o gestor de pessoas, que tem o papel de mapear e buscar meios de potencializar os recursos humanos disponíveis nas organizações, englobando as exigências do empregador e da função com as características do empregado. Como objetivo geral, foram coletados dados para exemplificar como este profissional pode atuar para o melhor andamento da empresa/or- ganização por meio de instrumentos a ele disponíveis. A partir de suas atividades, além de otimizar o procedimento de recrutamento, seleção e manutenção dos colaboradores que estão sob a sua tutela, o gestor de pessoas também tem a oportunidade de transformá-los em pensadores que realmente trabalharão a favor da empresa, e que não repetirão simplesmente conteúdos que lhes foram previamente transmitidos, sem internalizar ou pensar em melhorias. O gestor de pessoas também 41 CAPÍTULO 3 instala, no repertório dos gerentes e dos supervisores, uma real posição de líder, pois este se caracteriza como um ator que realmente sabe quem faz parte de seu grupo e até onde consegue chegar com os funcionários, incluindo a maneira de motivá-los e saber o que não se pode exigir. Justificando a importância do gestor de pessoas no ambiente orga- nizacional contemporâneo e dos instrumentos que ele tem à sua dispo- sição, foram descritos, no presente artigo, como eles podem auxiliar no processo de contratação de pessoas cada dia mais aptas e na designação de tarefas compatíveis com o perfil de determinado colaborador, bem como as demais atividades. Para isto, foi realizada uma revisão de lite- ratura das obras preexistentes, disponíveis em periódicos online. Tal estudo tem a sua importância em alguns pontos-chave: na eluci- dação das atribuições do gestor de pessoas, na ligação dessas atribuições às necessidades apresentadas atualmente pelo ambiente organizacional/ laboral e no oferecimento de sugestões para a melhoria do citado cenário, a fim de melhorar relações trabalhistas e fazer com que tais melhorias atinjam a vida particular do indivíduo, afinal, o ser humano define-se por sua atividade laboral e esta influência muito o seu cotidiano. Como assuntos específicos, foram reunidas as temáticas: gestor de pessoas, análise e descrição de cargos e seleção por competências, a fim de situar o leitor no cenário organizacional contemporâneo, explicar de forma breve o que significam tais elementos dentro das empresas e ressaltar a sua importância neste processo, que envolve não somente funcionários e gerentes, mas também o público externo. 2 METODOLOGIA Para a elaboração do artigo, são utilizadas fontes de pesquisa biblio- gráficas. A pesquisa bibliográfica, para Gil (2008), é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Não se recomenda trabalhos oriundos da internet. Prodanov e Freitas (2013) dizem que ela é constituída ainda por revis- tas, publicações em periódicos e artigos científicos, jornais, boletins, 42 CAPÍTULO 3 monografias, dissertações, teses, material cartográfico e internet, com o objetivo de colocar o pesquisador em relação direta com todo material já documentado sobre o assunto da pesquisa. A respeito dos dados co- letados na internet, necessita-se atentar à confiabilidade e à fidelidade das fontes examinadas eletronicamente. Na pesquisa bibliográfica, é necessário que o pesquisador averigue a veracidade dos dados obtidos, ressaltando as possíveis incoerências ou contradições que as obras possam oferecer. 3 CONTEXTUALIZAÇÃO DO CENÁRIO ORGANIZACIONAL Nas últimas décadas, o cenário organizacional passou por muitas transformações. Corroborando com estas tentativas de melhoria, au- mentou-se o número de produções na área de Administração, princi- palmente no que dizia respeito à salvação de empresas cujo fracasso e/ ou falência estavam previstos e à adaptação destes núcleos ao “admirável mundo novo”. Destacam-se estes dois fatores por serem indicados como causadores de sofrimento nos indivíduos que compõe tal organização, pela sua situação instável e pelos processos de mudança conduzidos de forma insatisfatória (NEIVA; PAZ, 2012). Esta necessidade de mudar dá-se em decorrência das atualizações sociais, econômicas, tecnológicas e políticas. A partir do momento em que o cliente dessas organizações tem acesso a mais recursos e a mais tecnologia, mais exigente ele torna-se. Medeiros (2013) diz que as demandas vêm de todas as direções, cada dia com maior complexidade e rapidez. Partindo da exigência desse cliente e do trabalho com metas e rela- tórios, como a maioria das empresas/organizações trabalha, aumenta-se a carga de tensão sobre os seus colaboradores, já que estes precisam, em um menor espaço de tempo, dar conta de questões de extrema comple- xidade. E ai dessa empresa se não entregar determinado serviço em certo 43 CAPÍTULO 3 espaço de tempo e com qualidade: as redes sociais vêm como meio de avaliar a produção da organização, sem dó ou piedade. Tudo isto recai sobre o cliente interno desta instituição: o colaborador. Diante deste turbilhão de mudanças, o indivíduo precisa adaptar- -se, mas já assoberbado com tantas funções, acaba por cair em sofri- mento e sentir-se perdido. A parte que compete à atividade laboral é a mais afetada, pois, diante de necessidade de se manter empregado em um mundo onde a economia vai mal e com eventos estressores atacando de todos os lados, o indivíduo vê-se obrigado a desempenhar funções para as quais não está preparado. Concordando com isto, temos Neiva e Paz (2007) defendendo que qualquer ação que resulte em uma mudança, seja esta planejada ou não, traz uma consequência, podendo ela ser positiva ou negativa, tanto no âmbito organizacional como na vida particular do indivíduo. A fim de minimizar os prejuízos que podem acontecer, a gestão de pessoas vem como ferramenta primordial para a sobrevivência das organizações no perigoso mundo dos negócios, já que ela permite, além disso, o crescimento e a competitividade, envolvendo combina- ções e conhecimentos que podem tornar uma empresa única dentre tantas encontradas por aí, independentemente do serviço prestado (OLIVEIRA; ROCHA, 2017). É papel do gestor de pessoas encontrar perfis que sejam os mais compatíveis possíveis com as funções a serem ocupadas em sua em- presa. É ele também quem mapeia as fraquezas e procura soluções para os recursos humanos da organização. Ele precisa conhecer cada função, o que ela envolve e pelo o que ela é responsável, a fim de ajudar os funcionários a não cair em sofrimento, este motivado pela atividade laboral e, assim, retirar tal atividade do verdadeiro significado de trabalho, que vem do latim tripalium, cuja tradução significa “sofrimento”. Por passar mais horas no trabalho do que em casa, a principal identidade do ser humano está intimamente ligada à sua ocupação, mas esta não precisa trazer dor e sofrimento quando lembrada. 44 CAPÍTULO 3 3.1 GESTOR DE PESSOAS No passado, uma pessoa concentrava várias funções. As tarefas des- pendiam menos esforço intelectual e mais de papéis. Porém, não havia o funcionário “x” que desempenhava uma só função. Existia um ge- rente e os seus subordinados dentro das empresas. Porém, com toda a tecnologia emergente e a necessidade do aprimoramento das atividades desempenhadas, os profissionais foram especializando-se, dividindo tarefas, o que acarretou na contratação de novos funcionários. Diante da divisão destas atribuições eda necessidade de especialização em uma ou outra subdivisão dentro de uma área, o setor de Recursos Humanos também passou por esse processo: onde havia um gerente do serviço e seus assistentes, hoje encontramos o supervisor, o assistente, o analista, o auxiliar e o gestor de pessoas. Um gestor é um líder que tem a capacidade de influenciar, repre- sentar e conduzir a sua equipe, um papel necessário à sobrevivência das organizações, pois ele acaba tornando-se um exemplo, uma figura de identificação para os colaboradores, cujo desempenho se dará de forma otimizada, já que o ser humano sente-se mais à vontade a partir da identificação (MEDEIROS, 2013). O gestor de pessoas tem sido adotado pelas empresas que visam a melhoria na relação com os seus colaboradores, pois, quando satisfeitos, eles podem desempenhar as suas funções de forma mais eficaz, ao passo que isto oferece ao empregador a possibilidade de reorganizar processos que demandam tempo e mão-de-obra, ou seja, o gestor é um profissional que trabalha para a empresa e para o empregado, trazendo benefícios como: maior facilidade no processo de interação e de personalização, o que pode resultar na diminuição do tempo e dos custos das transações da empresa (PESTANA et al., 2003). Corroborando com a tentativa de diminuição de custos e a otimização do tempo, tem o exposto por Ferrão (2016), dizendo que todo gestor usa de conhecimentos técnicos e de habilidades para administrar, comandar, coordenar e controlar o grupo a fim de atingir os objetivos da organiza- ção. Além disso, nota-se cada vez mais a importância de horizontalizar 45 CAPÍTULO 3 as relações de trabalho, diminuindo os níveis hierárquicos e agilizando as estruturas e as demandas que o gestor de pessoas está apto para atender. É o ocupante desta função que será o elo de comunicação entre funcionários e gerência, intermediando conflitos, mapeando demandas e procurando soluções, além das atribuições convencionais, que envol- vem o recrutamento e a seleção de pessoas, rotinas pertinentes ao setor de Recursos Humanos, dentre outras. Assim, valoriza-se a empresa e o empregado, pois todos andam no mesmo sentido, já que o funcionário que se sente ouvido e respeitado, trabalha melhor. Para Pestana et al. (2003), esse profissional é quem atrairá, capacitará e reterá talentos, gerirá competências e conhecimento, formará o novo perfil do profissional demandado pelo setor, gerirá novas relações trabalhistas, manterá a motivação dentro da organização, desenvolverá uma cultura gerencial voltada para a excelência por meio da caracterização do setor de Recursos Humanos como um setor bom e estratégico, totalmente necessário às empresas e, ainda, conciliará a redução de custo, ao mes- mo tempo que contrata e mantém desempenho humano de qualidade, proporcionando o equilíbrio e a qualidade de vida dentro da entidade. Tem-se ainda o gestor como aquele que, além de inspirar os seus clientes internos, fará, para o candidato, a propaganda sobre o futuro empregado daquela organização, pois, muitas vezes, o gestor é o único colaborador com quem os candidatos terão contato no processo de recru- tamento e seleção, então é ele quem passará as informações que servirão de base para o novo funcionário constituir a sua imagem da empresa. Scorsolini-Comin, Inocente e Miura (2011) colocam o papel do gestor contemporâneo acrescentado de outra perspectiva, na qual defendem que ele deve ter uma formação ampliada e incrementada, a qual o ocupante deste cargo seja capaz de incorporar aspectos que posicione empregados e empregadores a fim de adquirir novos conhecimentos, práticas e habili- dades, visando o desenvolvimento mútuo, englobando as esferas política, estratégica, laboral e pessoal. Para tanto, apenas a formação acadêmica não basta. É necessário que este sujeito esteja engajado em questões sociais e humanas e seja capaz de discutir, refletir e posicionar-se sobre vários aspectos que envolvem um colaborador e as suas particularidades. 46 CAPÍTULO 3 Oliveira e Rocha (2017) definem a gestão de pessoas como o cuidado com os envolvidos nas relações laborais, pois, em pesquisas determi- nantes do engajamento no trabalho, esses envolvidos podem resultar em uma equipe empenhada, focada e disposta a fazer o seu melhor, atingindo, assim, melhores resultados e atuando em prol da empresa. A organização que investe neste profissional, também investe na qualidade de vida de seus trabalhadores e recebe em troca maior rendimento. Assim, o público final, aquele que utiliza os serviços dessa empresa, recebe um produto melhor, de maior qualidade, independentemente da área do serviço prestado. Além disso, baixam-se os índices de demissão, já que os profissionais estão melhor alocados, em funções que estão à altura de suas habilidades. 3.2 ANÁLISE E DESCRIÇÃO DE CARGOS Como já exposto anteriormente, o mercado de trabalho atual tem refletido o cenário encontrado pelas organizações: os clientes exigem da empresa, a empresa exige de seu colaborador. Em muitos casos, estas exigências englobam certas atitudes e tarefas do profissional, mas ele não entende as razões disto, acarretando prejuízo à empresa e tam- bém ao profissional, já que o esforço que ele dispenderá para realizar determinada tarefa ou atividade, segundo Chiavenato (2004, p. 224), “depende das habilidades e capacidades da pessoa e de sua percepção do papel a ser desempenhado”. Aí entram a análise e a descrição de cargos, que, a partir da narrativa de profissionais que já desempenham tal função, descreverá as atividades laborais que o novo integrante da equipe deverá desempenhar. A partir desta tomada de conhecimento, o mais novo profissional saberá quais os seus direitos e os seus deveres enquanto executante daquela função. Malferrari (1970) traz que, realizada pela primeira vez em 1924, a intitulada avaliação de cargos tinha em sua composição: o levanta- mento de cargos, o qual coletava informações sobre as diversas funções dentro da empresa; a análise de cargos, que investigava mais a fundo 47 CAPÍTULO 3 as informações levantadas na etapa anterior; a descrição de cargos, que consistia na elaboração de documento com as informações pertinentes; a especificação de cargos, que colocava as exigências e as qualificações individuais para o cargo; o cargo em si e, finalmente, o emprego. Apesar de algumas mudanças, o tópico principal, aqui, atualmen- te, a análise e a descrição de cargos, trata de um conjunto de técnicas sistemáticas que objetivam elencar as atividades desempenhadas pelos diferentes cargos das organizações. É a partir dessa análise que também se estabelecem os salários, os diferenciais e a determinação das atribuições de cada cargo nas mais variadas posições na hierarquia. De acordo com Chiavenato (1995), a análise e a descrição tratam de uma verificação comparativa de quais os requisitos que o ocupante deverá ter, a fim de desempenhar de melhor forma o cargo ao qual ele está designado, além de atender às responsabilidades que tal função impõe ao seu ocupante e as condições nas quais o colaborador atuará. O autor ainda coloca as quatro fases da análise e da descrição de cargos como o processo que envolve a avaliação de quatro requisitos: os mentais (como instrução, conhecimento, experiências prévias, capacidade de adaptação à função, bem como iniciativa e aptidões); os físicos (esforço, concentração e habilidade); as responsabilidades (estas ligadas ao cargo, à supervisão dos seus subordinados, bem como tudo que envolve o tra- balho deles e, ainda, as suas próprias responsabilidades); e as condições de trabalho (condições do ambiente e riscos). Esse processo é sério, constituído por etapas predefinidas, sendo cada etapa elencada para o ambiente organizacional após vários estudos e testes, tendo validade científica e comprovado a sua importância para as empresas, tanto para a divisão de tarefas como para a contratação de novos funcionários. E, ainda,comprovado a sua importância para os empregados, já que um indivíduo que desempenha uma função na qual as suas aptidões são compatíveis tem maior chance de sentir-se realizado e, por consequência, maior chance de desempenhar um bom trabalho. A análise e a descrição de cargos tornam-se cada vez mais impor- tantes nas organizações, devido à competitividade das instituições e às melhorias e mudanças exigidas pela atualidade. Elas constituem-se 48 CAPÍTULO 3 em duas fases: a coleta de dados, constituída pela observação, por questionário, pela entrevista direta e por métodos mistos, e a descrição de cargos, em que são relatados os dados obtidos de forma organizada, envolvendo os requisitos para o desempenho das funções ali descritas (PONTES, 2008). Desta maneira, tal etapa tem o importante papel de melhor definir o que cada indivíduo faz dentro da organização, possibilitando, assim, a adequação de pessoal. É processo fidedigno, pois coleta informações direto com o executante de tal tarefa e as elenca de forma a criar um perfil da função, facilitando no processo de recrutamento e de seleção. 3.3 SELEÇÃO POR COMPETÊNCIAS Como todo este trabalho para analisar e descrever cargos, triar currículos, aplicar provas e outras inúmeras técnicas para a contrata- ção poderia ser útil se o que se conhece sobre esse candidato é apenas aquilo que ele traz em seu currículo ou pouco mais do que isto? Como atrelar as atribuições do cargo “x” ao candidato “y”? Aí entra novamente o gestor de pessoas: ele é responsável por outra técnica do âmbito organizacional: a seleção por competências. Definido por White em 1959, o termo competências era usado para descrever características pessoais que seriam de grande valia para uma determinada função dentro das empresas. Elas seriam intimamente liga- das à motivação, não somente uma capacidade passível de ser realizada. Em um conceito menos excludente, McClelland adicionou, em 1973, que a inteligência era importante, mas não determinante, e que as mais variadas pessoas poderiam encaixar-se em diversas funções, pois cada atividade demanda uma característica diferente, independentemente da inteligência para desempenhá-la (MUNCK; MUNCK; SOUZA, 2011). Os indivíduos são muito diferentes por causa da criação, da educação, dos costumes, dentre outros, porém, há características básicas que todos os candidatos devem ter, independentemente da função. Assim como as pessoas, as funções têm peculiaridades que 49 CAPÍTULO 3 atribuem a elas pré-requisitos para que o seu ocupante as desem- penhem de uma melhor maneira, enquanto outras funções têm critérios extremamente diferentes. O objetivo da seleção por competências é oportunizar o uso de ferramentas que mapeiem, para profissional do setor de Recursos Humanos, o perfil do candidato de acordo com as competências ne- cessárias para o cargo. É esta técnica que ajuda a conhecer o perfil comportamental do indivíduo a partir de duas ferramentas: entrevista comportamental, com questionamentos ligados à situação onde tais competências deverão ser usadas, e jogos que coloquem a competência à prova, sendo os candidatos observados pelo profissional aplicador. Assim, poderá contratar o indivíduo com maior compatibilidade nas competências exigidas pela função (MENDES, 2015). Não se trata de julgar a inteligência de um indivíduo ou de um grupo, mas a fim de eliminar gastos desnecessários com contratações, treinamentos e demissões, a seleção por competências traz ao setor de Recursos Humanos a capacidade de melhor alocar um indivíduo em uma determinada função. Isto culmina na tentativa de diminuir os danos causados pelo estresse perante a ameaça de demissões e de substituições, e também de estar na função errada, já que, selecionados de acordo com suas habilidades, os colaboradores sentem-se mais à vontade desempenhando uma atividade na qual já tinham talento prévio, sendo este lapidado pelos treinamentos e pelas capacitações, e não menos importante, pela prática. A seleção por competências não é um processo excludente. É uma abor- dagem que reduz a complexidade e aumenta a capacitação, tanto individual como organizacional. É a partir deste instrumento que são elencadas as competências essenciais para o cargo “x”, para o cargo “y”, etc., e tudo que vem com tais funções, como habilidades, capacidades, responsabilidades, metas e tudo o mais que determinará a atuação eficaz do funcionário. Esse instrumento trata-se de documento que pode e deve ser mudado a partir do olhar dentro da própria empresa onde ele será utilizado, tendo em vista a cultura organizacional que, por sua vez, diz respeito aos aspectos que tornam aquela empresa única (SANT’ANNA et al., 2016). 50 CAPÍTULO 3 Para que não haja exclusões, Leme (2007) coloca que a seleção por competências deve ser feita a partir do mapeamento das habilidades necessárias para o desempenho da vaga e não somente um levantamento de perfil, já que este não teria tanta amplitude, pois deixa a desejar no que se refere às características individuais, apenas detalhando procedi- mentos, tarefas e procedimentos. A seleção por competências, portanto, trata-se de procedimento justo, não discriminatório, o qual oportuniza a empresa e o colabo- rador olharem para o mesmo lado no intuito de crescimento mútuo, pois a empresa que cresce, por sua vez, oferece mais oportunidade aos seus funcionários, que se sentem valorizados, que têm orgulho de desempenhar a sua função por estarem no cargo mais congruente com as suas habilidades e, por isto, “vestem” a camisa da empresa, contribuindo para o crescimento dessa. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Chega-se à conclusão que, conforme a civilização contemporânea foi conformando-se, o mundo do trabalho passou por uma transformação completa, profunda, que alterou o modo como as pessoas trabalhavam, assim como a definição destas atividades nas suas vidas e das normas so- ciais que regulamentavam as diferentes práticas profissionais. Por certo, as modificações no trabalho refletiram e, ao mesmo tempo, marcaram a chamada “sociedade urbano-industrial”. O setor de Recursos Humanos é um ambiente que comporta diversas funções: auxiliar, analista, supervisor, assistente, gerente, dentre outros. É o setor que realiza a intermediação entre gerência e empregados, lutando pelos direitos de ambos. O gestor de pessoas, componente do RH, é papel fundamental para o bom andamento das organizações. 51 CAPÍTULO 3 Conforme o exposto, o indivíduo que deseja tornar-se um gestor de pessoas deve especializar-se e estar em constante atualização, já que as atividades por ele desempenhadas são muito sérias, por envolverem a empresa, os candidatos e, acima de tudo, pessoas que estão em busca dos seus sonhos, pois um emprego tem significados muito diferentes, podendo aquele gestor estar à frente de um processo de seleção de uma empresa que é o sonho de muitas pessoas. Fica conhecido que o cenário encontrado atualmente é favorável a este profissional e, consequentemente, às organizações e à população em geral, porque há inúmeros investimentos sendo feitos no intuito de melhorar as contratações e as relações entre empresas e emprega- dos. Voltando à população, ela também ganha, pois colaboradores que despendem maior esforço para realizar as suas atribuições têm melhor resultado em seu trabalho, levando, assim, um melhor produto ao seu consumidor final, independentemente de qual seja o serviço prestado. Outro fator que demonstra a importância que o gestor de pes- soas tem atualmente é a sua presença cada dia maior nos setores de Recursos Humanos das instituições. Já em empresas menores, enumera-se essa importância no número de contratações de em- presas terceirizadas para realizar estes procedimentos. Consultorias em Recursos Humanos têm se instalado, com demandas crescentes, cada vez mais em nosso país, diariamente. Por fim, o gestor de pessoas é peça fundamental na vida de uma organização, já que permite aeconomia nos custosos processos de recrutamento, seleção, treinamento, ligamento e desligamento de funcionários da empresa. É também diferencial quando se fala na humanização dentro das organizações, independentemente do ramo dela. Além de permitir a cada colaborador desempenhar uma atividade que agregará à sua experiência trabalhista e que contribuirá com o seu crescimento pessoal também. 52 CAPÍTULO 3 REFERÊNCIAS CHIAVENATO, I. Recursos Humanos. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1995. ______. Recursos Humanos: o capital humano das organizações. 8. ed. São Pausolo: Atlas, 2004. FERRÃO, G. S. O papel do líder contemporâneo na avaliação de de- sempenho de seus liderados. 2016. 30 f. (Monografia) - Curso de Espe- cialização em Psicologia, ênfase em Psicologia Organizacional, Instituto de Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2016. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2008. LEME, R. Seleção e entrevista por competências com o inventário comportamental: guia prático do processo seletivo para redução da subjetividade e eficácia na seleção. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2007. MALFERRARI, C. J. Métodos e Fases da Avaliação de Cargos. Revista de Administração de Empresas - RAE, São Paulo, v. 10, n. 3, jul./set.1970. MEDEIROS, F. O papel do RH na gestão da mudança organizacio- nal. 2013. 25 f. (Monografia) - Curso de Especialização em Psicologia, ênfase em Psicologia Organizacional, Instituto de Psicologia, Universi- dade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2013. MENDES, D. C. S. Gestão por competência: foco em seleção por com- petência. Empresa Kimberlit Agrociências (estudo de caso). 2015. 41 f. (Trabalho de Conclusão de Curso) - Fundação Educacional do Município de Assis, Instituto Municipal de Ensino Superior de Assis, Assis, 2015. MUNCK, L.; MUNCK, M. G. M.; SOUZA, R. B. 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Com isto, o artigo objetiva analisar a sistemática concebida do neurocoaching, técnicas, conceitos, autoconhecimento e estudos apreendidos diante de sua com- posição com o coaching e a neurociência. Observa-se um mundo organi- zacional preservacionista de climas e culturas deteriorados por conflitos, repleto de profissionais insatisfeitos e, contraditoriamente, viciados em trabalho. A situação agrava-se com a atuação de líderes controladores, inflexíveis a mudanças e adeptos do pensamento de viver para o labor. O cenário obtido é de colaboradores adoecidos em número crescente pela depressão; a tecnologia avança para poupar um tempo paradoxal- mente raro; o trabalho é vinculado ao conceito de sofrimento para obter o sucesso; o piloto automático é acionado; a consciência, a reflexão e a espiritualidade são esquecidas. Assim, abordam-se as comprovações científicas do neurocoaching como ferramenta para a autodescoberta de talentos e de limitações, sendo produtiva a lida com diferentes perfis. Palavras-chave: Coaching. Comportamento. Neurociências. Propósito. 1 Graduada em Bacharelado em Administração pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ.Graduada em Bacharelado e Licenciatura em Matemática pela UFRRJ. 2 Pós-graduada em EAD e as Tecnologias Educacionais pelo Centro Universitário Cesumar – UniCesumar. Pós-graduada em MBA em Gestão de Pessoas pelo UniCesumar. Graduada em Administração pela Faculdade de Apucarana. 56 CAPÍTULO 4 1 INTRODUÇÃO Esse artigo aborda o estudo bibliográfico do neurocoaching, a fusão entre neurociência e coaching, fundamentado em livros, artigos e sites, e em estudos realizados por coaches, psicoterapeutas, profissionais da área de gestão de pessoas, médicos e neurocientistas, os quais atuam como pesquisadores, palestrantes e terapeutas. Esse trabalho apresenta o neurocoaching como ferramenta efetiva na área de gestão de pessoas e de autoconhecimento, assim como ela colabora com a discussão entre profissionais de gestão de áreas diversas e apreciadores do tema, trazendo o autoconhecimento e a sinergia in- terpessoal à equipe de trabalho. O neurocoaching parte do conhecimento da mente e sugere téc- nicas capazes de atuar no comportamento humano. Primeiramente, direciona-se ao conhecimento adquirido pela ciência dos estímulos cerebrais e pelas principais reações, depois aborda a mudança como resultante de grande trabalho cerebral, demandante de muita energia e empenho, porém, capaz de expandir a consciência e o próprio cére- bro. O autoconhecimento que a ferramenta proporciona pode trazer o equilíbrio pessoal, fazendo toda a diferença dentro de um ambiente organizacional, demonstrando também que é o fator-chave para o desenvolvimento constante do indivíduo. Esse trabalho visa a mostrar uma melhor compreensão do funcio- namento da mente e, a partir disto, ao permitir um maior entendi- mento do comportamento, dos estímulos cerebrais e das principais reações, verifica-se que a mudança é um grande desafio cerebral, capaz de expandir a consciência e o próprio cérebro. A pesquisa apresenta que é possível alcançar o autoconhecimento por meio da associação entre a ciência, as técnicas e as linhas psicológicas, e abrir-se para o desenvolvimento constante. 57 CAPÍTULO 4 2 PROPÓSITO E PARADIGMA O ambiente corporativo pauta-se em valores que priorizam a pro- dutividade em detrimento da visão holística do indivíduo, integra- dora dos aspectos físicos, psíquicos e emocionais. Cultua modelos caracterizados por associar o sucesso financeiro ao ritmo acelerado e ilimitado de trabalho, sem espaço para a reflexão e nem para o silêncio, aniquilando a espiritualidade. O paradigma cultural das empresas analisa o colaborador de maneira robotizada, incutida de excesso de controle, desvinculando-se da visão do indivíduo como ser social. Este discurso repete-se nas obras a seguir. Em suas pesquisas, Silva (2015) e Spíndola (2014) analisam a or- ganização do trabalho como interações de prazer, de dor, de vida, de renúncia e de males psíquicos que se intensificam quanto menor for aautonomia recebida pelo trabalhador e quanto maior for o controle remanescente da Revolução Industrial. O indivíduo encontra-se tão alienado que entrega a sua liberdade em prol da empresa, abstendo-se de sua vida privada e afetiva. A cultura está tão enraizada que o co- laborador é quem realiza a autocobrança incisiva e disfuncional por maior excelência e por alta performance. Seja dentro ou fora das empresas, verificamos um movimento de mudança: de convite ao questionamento sobre o caminho correto, os reais talentos e onde reside o local da felicidade austera. Pink (2010) revela que o propósito é a verdadeira motivação, uma energia intrín- seca, capaz de gerar felicidade quando atrelada a uma razão maior que o próprio indivíduo, combinada à excelência (experiência mental de aperfeiçoamento) e à autonomia (livre escolha de decisões). Para descobrir o seu propósito, é primordial saber quem se é. Neste contexto, Jacob (2016) evidencia que há muitas maneiras de interligar psi- cologia, neurociências e autoconhecimento. Uma delas é o neurocoaching. 58 CAPÍTULO 4 2.1 NEUROCIÊNCIAS E COACHING: CONCEITOS A neurociência consiste em um conjunto de ciências cujo objeto de estudo é o sistema nervoso, as suas estruturas, funcionalidades e desen- volvimento. Como base de trabalho, utiliza o cérebro, a medula espinhal e os nervos periféricos. A neurociência divide-se em especialidades, tais como: neuropsicologia, neurociência comportamental, neurociência cognitiva, neuroanatomia e neurofisiologia (NEUROSABER, 2016). A partir da premissa que o cérebro é a estrutura que interliga todas as especialidades da neurociência citadas, compreende-se a sua relação com as nossas atitudes e escolhas e como elas estão a ele conectadas. Segundo Jacob (2016), na década de 50, o médico e pesquisador Paul MacLean apresentou a teoria em que o cérebro é dividido em três camadas: Reptiliano, Sistema Límbico e Neocórtex. Resumida- mente, o cérebro reptiliano consiste na camada mais antiga, abrange as funções vitais do organismo, relacionando-se à sobrevivência física e aos instintos (reprodução, dominância, defesa territorial); o cérebro límbico é de formação intermediária, onde residem as emoções; e o neocórtex é a camada de formação recente, composta pelo córtex pré-frontal, controladora da tomada de decisões. Se a linguagem é um aspecto lógico controlado pelo hemisfério direito do cérebro que compõe o neocórtex, no sistema límbico temos a linguagem corporal, ou seja, sinais que correspondem ou denunciam o nosso estado emocional. Goman (2015) exemplifica respostas límbicas não verbais universais, tais como: levantar as sobrancelhas ao ver um amigo denota reconhe- cimento; deixar a parte superior do corpo cair abaixando a cabeça, ao receber uma notícia angustiante; ver um executivo comprimir os lábios diante de uma pergunta indesejada. Ao se tratar de gestão de pessoas e de relacionamento humano, a posição da liderança destaca-se delicadamente, pois a emoção, positiva ou negativa, é contagiosa, gera produtividade e compromisso, ou letargia e inércia. Os estudos de Goman (2015) evidenciam que as pessoas são verda- deiras antenas emocionais não verbais. Em mudanças organizacionais, 59 CAPÍTULO 4 as influências emocionais da liderança são tomadas como base de referência, e a equipe assumirá um estado de alerta. Caso a liderança assuma uma postura relaxada e otimista, a equipe torna-se mais pro- dutiva e positiva; contudo, se a liderança denota depressão, tristeza ou raiva, a equipe responderá com baixa produtividade, resultado abaixo do esperado e absenteísmo. Isto se agrava em cenários críticos ou de crise, onde a emoção negativa seria ineficaz, por ser rápida e automática, limita a criatividade e as habilidades em um cenário de mudanças flexíveis, contínuas e graduais. Se relacionarmos com os estudos convergentes de Chopra e Tanzi (2013) e Goman (2015), verifica-se que as decisões não são disso- ciadas da emoção. Ao compreender como o organismo age, sente ou apenas reage à ação de outro indivíduo diante de uma situação, é possível escolher mais sabiamente do que impactar impetuosamente nas decisões cotidianas. O neurocientista Antônio Damásio afirma que as emoções diferen- ciam-se dos sentimentos: “a emoção é um programa de ações sucessivas, uma espécie de concerto que acontece dentro do corpo [...]. Já os sen- timentos são a experiência mental que temos daquilo que está a passar do corpo” (DAMÁSIO apud SANTOS, 2013, p. 30). As emoções, portanto, integram os processos do próprio organismo para a sua manutenção e existência, enquanto que o sentimento baseia-se na emoção positiva ou negativa retida na memória. Em entrevistas, o neurocientista admirador de Antônio Damásio, Pedro Calabrez (EGAP 2015, on-line), explica que “as emoções são programas inteligentes biológicos, cujo alarme é agir sem perder tempo”, produzindo e reagindo a uma série de hormônios e neurotransmissores na fuga de um tubarão, na cobiça de um alimento, ao apaixonar-se, ou ao pensar em algo que faça querer lutar ou fugir. O sentimento é mais complexo psicologicamente: envolve memórias, seja de um grande amor ou das poesias lidas, e de ideias e planejamentos futuros com os seus receios, a percepção de si próprio e a identidade. Desta forma, o siste- ma afetivo é composto, então, pelos mecanismos neurais das emoções e sentimentos (afetos). Conhecendo os sentimentos e as emoções, é 60 CAPÍTULO 4 possível gerenciar os seus relacionamentos (NEUROVOX, 2016, on- -line). Calabrez completa que a inteligência emocional é compreender o processo emocional dentro de nós e nos outros, e depois, selecionar as melhores formas de agir mediante essa compreensão e de se relacio- nar bem com os outros indivíduos, de desenvolver autocontrole, por exemplo. (EGAP, 2015, on-line). A neurociência, por meio das redes neurais e do funcionamento físico-químico do cérebro, compreende a inteligência emocional e busca orientar formas de estímulo externo para que este processo seja retroa- limentado, gerando indivíduos autônomos, realizados, equilibrados emocionalmente e com vínculos saudáveis. Desenvolver e remodelar-se também são uma capacidade do cérebro. A chamada neuroplasticidade (“neuro” refere-se a neurônio, e “plastici- dade”, à maleabilidade) consiste em um novo mapeamento de conexões neurais, que se reconfiguram a todo instante a cada novo aprendizado. A neuroplasticidade é estimulada ao vivenciar uma nova experiência, tal qual um idoso, ao ganhar um animal de estimação, reaviva o sentido da vida e do amor. Novos pensamentos, novas conexões: o cérebro modi- fica-se e cresce materialmente. Quanto mais exercícios físicos, aprendi- zados novos e atividades redutoras do estresse, novas células preenchem o hipocampo, a área da memória, que, quando aumenta de tamanho, diminui os sintomas de depressão (CHOPRA; TANZI, 2013). As descobertas da neurociência levaram à dopamina, a substância do prazer e da motivação. Ao estimular uma atividade prazerosa mais vezes, o cérebro registrará a sensação e almejará por mais. Por isto, a importância de atuar no que, de verdade, traz realização, e de estar na companhia de quem se gosta. E, na preocupação com o bem-estar, os estudos focaram a empatia (função desempenhada pelos neurônios- -espelho e pelo hormônio ocitocina), que consiste no elemento de sinergia interpessoal. Seja para encontrar a solução, seja com base no compromisso, o vínculo de sentimento no pilar emocional estabelece-se na resolução de uma problemática alheia. O coaching caracteriza-se como um processo de conscientização de talentos e inabilidades, no qual se conduz o indivíduo na diretriz do 61 CAPÍTULO 4 alcance de suas metas e na implementação de mudanças por meio de um plano de ação com cronograma de prazos estipulados pelo próprio cliente, assumindo um compromisso consigo. Os estudos de Nascimento (2015) e Silva (2015) revelam o uso da palavra ao longo dos séculos.Inicialmente empregada como tipo de carruagem na Hungria (no ano de 1400) e nos Estados Unidos (no século XVIII), especificamente utilizada pelos universitários norte-ame- ricanos abastados, coach logo passou a designar o tutor. Na década de 50, integrou-se à área dos negócios como capacidade de gerenciar pessoas. Em 1974, o significado do termo transmutou-se com o lançamento do livro “The Inner Game of Golf”, do educador Timothy Gallwey. “O termo ‘inner’ indica [...] o jogo interno do jogador – a batalha que cada atleta tem com suas próprias limitações mentais” (SILVA, 2015, p. 85). Portanto, os atletas têm dois adversários: um interno (as suas limitações e crenças internas) e outro externo (o oponente). Respostas e orientações prontas são exclusas do processo. O prin- cípio parte de que as soluções a serem desvendadas estão no próprio cliente. A metodologia de coaching, apesar de revolucionária, buscou inspiração na Antiguidade. Silva (2015) esclarece o coaching como uma versão moderna do modelo de aprendizagem inspirador do filósofo Sócrates, embasado na busca pelo autoconhecimento e pelo ensino à reflexão sobre diversos aspectos da vida, capaz de fazer o indivíduo identificar a sua missão, a sua visão; direcionando à realização de seus sonhos. Lira e Marinelli (2014) explicitam o emprego das “perguntas pode- rosas”, que desafiam o coachee (cliente) a encontrar as respostas por si: não admitindo apenas “sim” ou “não”, requerem descrições, preferencial- mente a julgamentos, e proporcionam múltiplos questionamentos com enfoque na autopercepção, utilizando expressões tais como “o quê?”, “Como?”, “Quando?”, “Quem?”, “Com que finalidade?”. Para conectar tantas perguntas e respostas, adota-se outra ferra- menta: a escuta ativa. Segundo Nascimento (2015), esta competência fortalece fundamentalmente a relação entre coach e coachee (ou entre colaboradores), pois reflete o sentimento de compreensão ao ser ou- 62 CAPÍTULO 4 vido, fortalecendo o elo de confiança. Nesta etapa, o coachee escuta o ato de sua fala e processa as suas próprias reflexões. O discernimento decorre da consequente catarse. Nascimento (2015) e Silva (2015) complementam-se ao esclarecer que a terapia diferencia-se do coaching por orientar para que ações ne- gativas não sejam repetidas no presente, contudo, o coaching tem seu o efeito terapêutico e, apesar disso, não deve ser associado ao conceito de aconselhamento e nem de consultoria, pois prescrições ou a exposição da opinião do coachee não são condizentes. No ambiente corporativo, Silva (2015) ressalta que, para economizar tempo, muitas empresas não valorizam ações que foquem a criatividade, a escuta e a participação como ferramentas de liderança. Para uma mu- dança, é necessário que os donos das organizações sejam os primeiros a dar os passos iniciais. Conforme visto anteriormente, o líder estabelece regras, mas tam- bém é vetor de contágio emocional. Se a mudança é almejada, o líder tem papel fundamental na quebra de paradigmas e na adoção de métodos inovadores de sua gestão. 2.2 NEUROCOACHING Cuerva, Soubriet e Foffani (2015) e Jacob (2016) definem neuro- coaching como a união das técnicas de coaching com os conhecimentos propagados pela neurociência, associando a atividade cerebral e a refle- xão por meio de perguntas, fomentando a autodescoberta, as soluções ou insights, expandindo a consciência. Afinal, interagimos com o meio desde a infância, herdando crenças alheias. Isto fica evidenciado na afirmação de Baba (2016 p. 41): “o ver- dadeiro sucesso diz respeito à realização do propósito da alma, mas a maioria das pessoas acredita que o propósito é a realização do ego. [...] o ego tem um programa que é construído com base em crenças herdadas do mundo exterior”. O neurocoaching propõe o ato corajoso de confrontar o lado sombrio 63 CAPÍTULO 4 inerente ao ser humano, temido e escondido por culpa, vergonha ou por receio de desconhecer a profundeza interna. Portanto, o neurocoaching é um convite ao autoconhecimento ao propor identificar crenças ne- gativas, ao ressignificá-las positivamente e ao reforçar a consciência das nossas reações instintivas e emocionais, o funcionamento do cérebro e da neuroplasticidade como função de transformação progressiva possibilita o empoderamento do indivíduo na realização de suas próprias e novas escolhas, além de possibilitar a promoção de mudanças e a manutenção de vínculos interpessoais saudáveis. Cuerva, Soubriet e Foffani (2015) apontam que as crenças mais comuns dos clientes são: não se muda após os 40 anos, os complexos da perfeição, da Mulher Maravilha, de inferioridade e superioridade, de agradar a todos, da dificuldade de dizer não e de não sonhar, a falta de tempo, a vida ser o seu cargo. As crenças têm poder sabotador, fazendo com que o indivíduo seja conduzido pelas escolhas e não o contrário. Os insucessos geram frustrações e falta de motivação ao invés de aprendizado e, quanto maior o estresse, mais a inspiração esvai-se, promovendo espaço às queixas incessantes, adoecendo os vínculos ao redor e consigo. O neurocoaching permite a resignificação das crenças destrutivas por meio do confronto reflexivo com elas e, em seguida, as reconstrói po- sitivamente. Às vezes, as crenças estão tão enraizadas no inconsciente, que é vital a integração de psicoterapias tradicionais às inovadoras, como a junguiana e a arteterapia. Jacob (2016) exemplifica benefícios e resultados de seus clientes em sua atuação com neurocoaching: desenvolveram capacidade de lidar consigo mesmos, a empatia e a interação social; líderes autoritários ad- quiriram novos comportamentos e hábitos que transformaram os seus relacionamentos interpessoais, outrora baseados em conflitos, controle e rigidez. Estes deram espaço ao autocontrole e à exposição de ideias. É importante ressaltar que as palestras motivacionais diferenciam-se do processo de coaching pela falta da vivência, pois as palavras de enco- rajamento, sem o sabor da experiência, esvaem-se. Por sua vez, coaching distingue-se de neurocoaching, segundo Jacob (2016), por basear-se em 64 CAPÍTULO 4 três pilares: na autoconscientização; na reflexão e no entendimento com base nos relacionamentos; e na ação e tomada de decisão. Enquanto que o neurocoaching acrescenta o fator consciência que, ao ser expandido, possibilita o indivíduo a controlar e a aprimorar emoções e instintos capturadores. Contudo, pode-se treinar o cérebro a mudar o estado emocional com a tendência de normalmente valorizar fatos negativos para se concentrar em opções positivas e em projeções futuras, por exemplo, com uma lista dos desejos. As organizações buscam candidatos com mais capacidade emocional (QE) que capacidade técnica (QI), um indício de maior alinhamento com as suas emoções, com os seus relacionamentos e com a sua missão de vida (motivador diário de realização de impacto pessoal e social). A inteligência emocional consiste em alcançar tamanho ponto de equilíbrio e, partir desta interação com os outros, da contribuição mais autêntica para si e para os outros, nisto define-se a sinergia. Enquanto que se conhecer exige motivação intrínseca em uma viagem solo, um condutor pode auxiliar nesta jornada, dando preciosas orientações e técnicas: o neurocoach. A disponibilidade e a inovação em técnicas de autoconhecimento e de autoconsciência têm crescido cada vez mais. Algumas delas são citadas a seguir. • A meditação vem ganhando reconhecimento pelos neurocien- tistas ao destacar-se no tratamento de doenças como atenuan- te dos sintomas psíquicos e de dores crônicas, e também na intensificação de atitudes positivas, como a compaixão, ou na geração de resultados de saúde e bem-estar. As alterações físicas cerebrais promovidas pela meditação são: 1. aumento do córtex pré-frontal , um indício de maior poder de memorização e de habilidade em tomar decisões; 2. expansão do hipocampo, no- tadamente reconhecido pelos neurocientistas comoreduzido em pessoas com depressão; é uma área relacionada à memória, ao aprendizado e ao controle de emoções; 3. redução da amígdala, a estrutura que alarma o senso de luta e de fuga por coordenar a reação de sobrevivência. Se acionada demasiadamente, ela pode acarretar ansiedade e síndrome do pânico (GONZALEZ, 65 CAPÍTULO 4 2016). Isto converge com o estudo de Chopra e Tanzi (2013) que atesta a ligação estreita entre hipocampo e a amígdala (mediadora das memórias emocionais) e também evidencia o aumento da enzima telomerase. Esta evita o encurtamento dos telômeros cromossomiais preservadores do material genético do DNA durante as divisões celulares, desacelerando a senilidade. • O mindfulness consiste na técnica de meditação tradicional- mente asiática adaptada ao Ocidente. A sua tradução mais ade- quada é “atenção plena”, baseada em observação e sensação, com foco no presente. A sua eficácia é comprovada no alívio de dores crônicas, e por diminuir a pressão arterial e por manter o cérebro jovem, aborda o tratamento de Alzheimer como objeto de estudo (GONZALEZ, 2016). • Storytelling, de acordo com Matos (2010), baseia-se no poder transformador, educador e terapêutico da antiga sabedoria mi- lenar das sociedades ancestrais na constituição e na preservação do conhecimento. É uma ferramenta de gestão que utiliza con- tação de histórias organizacionais ou construção de histórias, auxiliando as empresas na estruturação de sua memória, na gestão do conhecimento e na humanização do meio corporativo. • O eneagrama, segundo Lira, Marinelli e Novoa (2014), é uma ferramenta de autoconhecimento baseada em crenças, padrões de comportamento, pontos fortes a desenvolver e identificação de limitações dos nove perfis de personalidade desenhados, além do enfoque em suas interações qualitativamente. • Franco e Correia (2014) recomendam que o MBTI (Myers- -Briggs Type Indicator) seja aplicado no assessment, diagnóstico de necessidade de desenvolvimento. O MBTI consiste nos es- tudos de Carl G. Jung sobre tipos psicológicos, apresentando dezesseis personalidades por meio da combinação fundamen- tológica junguiana Extroversão/Introversão, Sensação/Intui- ção, Pensamento/Sentimento, Julgamento/Percepção. Mapeia potencialidades, limitações, idiossincrasias e tendências, além de otimizar as interações interpessoais. 66 CAPÍTULO 4 • Franco e Correia (2014) ressaltam que a grafologia tem a per- sonalidade como objeto de estudo, analisando-a por meio de símbolos e dos aspectos neurofisiológicos e psicomotores, in- dicadores comprovados cientificamente de tendências com- portamentais. Tem sido adotada em processos seletivos, em assessment, em orientação vocacional, entre outros. • Segundo Reiter (2016), o DISC baseia-se em quatro respostas emocionais: dominância (D), influência (I), estabilidade (S) e cautela (C). Os seus conceitos básicos foram concebidos pelo psicólogo e escritor feminista William Moulton Marston, criador da famosa Mulher Maravilha. Visa o resultado positivo da interação produtiva entre perfis diferentes (conflituosos), empregando a comunicação como veículo de integração har- moniosa, propiciando a avaliação comportamental com foco em maior compreensão de si e do outro. Além de processos seletivos, tem tido aplicação em programas de desenvolvimen- to individual e de liderança, em prevenção/resolução de con- flitos interpessoais, em aprimoramento de relacionamentos, coaching, entre outros. E qual o sentido destas ferramentas com nosso estudo? O nosso com- plexo cérebro naturalmente cria problemas irreais, contudo, ao menor sinal de risco, arma-se para uma batalha de tudo ou nada. A ameaça não está próxima, mas o cérebro pensa que sim, liberando o hormônio do estresse, o cortisol, fazendo o indivíduo reagir precipitadamente (GONZALEZ, 2016). Impossível não correlatar essas ameaças com as crenças limitantes, que são fontes de estados psíquicos disfuncionais. 67 CAPÍTULO 4 2.3 GESTÃO DE PESSOAS: A IMPORTÂNCIA PARA A ORGANIZAÇÃO A gestão de pessoas é formada por pessoas e organizações em uma duradoura interdependência, é inevitável que as pessoas passem a maior parte da vida dentro das organizações e focadas em seus trabalhos, até porque as empresas dependem desta doação para funcionar e alcançar o sucesso. Para Chiavenato (2014), separar o trabalho da vivência das pessoas é praticamente impossível, pelo fato de que elas dependem do trabalho para a subsistência e o sucesso social. Assim como as pessoas dependem da organização, ela, por sua vez, também depende das pessoas para desenvolver os serviços e atingir os seus objetivos. As organizações jamais existiriam sem os indivíduos, e ter o autoconhecimento traz o equilíbrio desejado na gestão de pessoas, que é o sucesso esperado. Segundo Chiavenato (2014, p. 9): “cada uma das partes depende da outra em uma relação de mútua dependência na qual há benefícios recíprocos”. A gestão de pessoas baseia-se em alguns aspectos fundamentais. Pessoas como seres humanos: dotados de personalidade própria e profundamente diferente entre si, com uma história pessoal particular e diferenciada, possuidores de conhecimento, habili- dades e competências indispensáveis à adequada gestão dos de- mais recursos organizacionais. Pessoas como pessoas, não como meros recursos da organização (CHIAVENATO, 2014, p.10). Para o autor citado, a gestão de pessoas baseia-se não só em pessoas como seres humanos, mas também em pessoas como ativadoras de recursos organizacionais, responsáveis por impulsionar a organização e dividir talentos indispensáveis à sua renovação. Pessoas como parceiras da organização, capazes de conduzi-la ao sucesso, dispostas a investir nas organizações com esforço, dedicação e comprometimento, na esperança de receber incentivos financeiros e retorno destes investimentos. 68 CAPÍTULO 4 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente artigo baseou-se em uma pesquisa bibliográfica com o objetivo de apresentar o neurocoaching como ferramenta para o auto- conhecimento e a sinergia interpessoal. O neurocoaching consiste na associação do processo de coaching e dos conhecimentos científicos apreendidos pela neurociência a respeito do cérebro, os seus estímulos e reações, prezando as emoções e as decisões, afetando diretamente o indivíduo. Com base no que foi apresentado, o autoconhecimento compreende o reconhecimento dos próprios traços de personalidade por meio de técnicas diversas. A sinergia define-se como a interação com perfis distintos, o neurocoaching é a chave para harmonizar o re- lacionamento consigo e o interpessoal ao conhecer-se, equilíbrio este denominado de inteligência emocional. Aliás, o neurocoaching aplica técnicas eficazes na investigação de deficiências e no fomento de po- tencialidades, assim como na construção de novas condutas cobiçadas. Conclui-se que a ferramenta é indispensável para a gestão de pessoas, uma vez que o estudo do indivíduo é fundamental para ter um alto desempenho no ambiente de trabalho, e trazer o autoconhecimento para cada indivíduo é uma estratégia interessante para a gestão de pessoas. O neurocoaching, portanto, respalda-se como uma ferramenta de contribuição de desenvolvimento humano ao permitir alcançar metas; ampliar a destreza emocional na tomada de decisões assertivas; solu- cionar conflitos íntimos e interpessoais; promover a autorrealização; detectar e mudar comportamentos viciosos; impactar positivamente o clima organizacional por meio da liderança ao introduzi-lo na cultura corporativa e de seus colaboradores. Por meio desse artigo, fica a sugestão de ainda abordar, oportunamente, em outros trabalhos, a retenção de talentos e o neurocoaching nas corporações. 69 CAPÍTULO 4 REFERÊNCIAS BABA, S. P. Propósito: a coragem de ser quem somos. Rio de Janeiro: Sextante, 2016. CHIAVENATO, I. Gestão de Pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações. 4. ed. Barueri: Manole, 2014. CHOPRA, D.; TANZI, R. E.Supercérebro. 1. ed. São Paulo: Alaúde, 2013. CUERVA, S. S.; SOUBRIET, F. C.; FOFFANI, G. Neurocoaching: entre la ciencia y la vida. 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São Paulo: Constelação Coaching, 2014. CAPÍTULO 5 73 ATIVIDADE FÍSICA E PROMOÇÃO DA SAÚDE NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: IMPLICAÇÕES NO SUS Majorie Catherine Capdeboscq1 Gustavo Feitoza Da Silva2 RESUMO Pessoas fisicamente ativas apresentam menor probabilidade de con- traírem doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como: doenças cardiovasculares, diabetes e obesidade. Atualmente, as DCNT representam um dos grandes problemas de saúde pública. Isto se deve ao alto índice de mortalidade decorrente e, ainda, ao alto custo que recai sobre o Sistema Único de Saúde (SUS), tornando, assim, a atividade física uma ferramenta eficaz para a promoção e os cuidados gerais com a saúde. Este estudo busca relacionar e descrever de que maneira a atividade física e a promoção da saúde ligam-se com as DCNT e com o SUS, e também levantar possíveis impactos no sistema de saúde pública brasileira. O estudo foi desenvolvido a partir de uma revisão bibliográfica com base na literatura especializada e por meio de um levantamento de dados oficiais do Governo Federal. Foi constatado que, apesar dos benefícios da atividade física e da sua forte associação com indicadores de saúde, ainda são verificados baixos índices de sua prática pela população. A literatura científica comprova a forte associação entre os descritores estudados: atividade física, DCNT e o SUS. Entretanto, novos estudos devem ser realizados para analisar outros possíveis impactos no Sistema Único de Saúde. É necessário que mais iniciativas para a promoção de hábitos de vida, como a atividade física, sejam realizadas tanto no âmbito federal, estadual e municipal quanto pelas operadoras de saúde na saúde suplementar. 1 Licenciada em Educação Física pela Universidade Estadual de Maringá – UEM. Mestre em Atividade Física e Saúde pelo programa de pós-graduação associado UEM/UEL (2014). 2 Bacharel em Ciências Econômicas. Mestre em Teoria Econômica pela Universidade Estadual de Maringá - UEM. 74 CAPÍTULO 5 Palavras-chave: Doenças crônicas não transmissíveis. Saúde pública. Atividade Física. Saúde. 1 INTRODUÇÃO No Brasil, em conformidade com a tendência mundial, tem-se observa- do, nas últimas décadas, uma série de mudanças no processo saúde-doença, pelo aumento acelerado da morbidade, pela mortalidade por doenças não transmissíveis (DCNT) e, ainda, pelo envelhecimento da população. Essa mudança no padrão de mortalidade nas últimas décadas, de doenças infectocontagiosas para doenças crônicas não transmissíveis, chama-se transição epidemiológica. O perfil de morbimortalidade é um indicador de saúde importante para se analisar o comportamen- to humano e os seus hábitos de vida, sendo resultado, portanto, de diversos fatores interdependentes. As DCNT compõem um grupo de enfermidades que possui etiologia multifatorial, de longa duração, de progressão geralmente lenta e que não se transmite de pessoa para pessoa. Esta mudança no padrão de morbimortalidade leva à necessidade de (re)pensar em modos de gestão e de construção de políticas públicas diferen- tes. Assim, a prevenção e o manejo adequado das DCNT são um grande desafio, tornando-se essencial a constituição de políticas e de programas que visem a reverter este quadro. A promoção da saúde e a prevenção de doenças são consideradas, pelo Ministério da Saúde (MS), estratégias que possibilitam responder às necessidades sociais em saúde, ampliando o seu escopo e tomando, como objeto, os problemas e as suas necessidades. A criação da Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS) confirmou a institucionalização da promoção da saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), con- tendo um campo exclusivo voltado às práticas corporais/atividade física. O fomento da prática da atividade física é uma das ações mais impor- tantes na promoção da saúde e na prevenção de doenças no nível indivi- dual, como as DCNT. Bem como a possibilidade de assegurar informação 75 CAPÍTULO 5 qualificada à população para a melhoria de sua qualidade de vida e de suas práticas corporais. Neste sentido, o sedentarismo é, nos dias de hoje, um grande problema de saúde pública, o que torna a atividade física uma ferramenta eficaz para a promoção e os cuidados gerais com a saúde. O presente estudo foi feito a partir de uma revisão bibliográfica com base na literatura especializada e no levantamento de dados oficiais do Governo Federal. Constitui-se, portanto, de uma revisão de literatura especializada de livros e de artigos no banco de dados da Scielo a partir de fontes Medline e Lilacs. A busca no banco de dados foi realizada utilizando as terminologias cadastradas nos Descritores em Ciência da Saúde, criados, por sua vez, pela Biblioteca Virtual em Saúde. Assim, o objetivo deste estudo foi identificar e discutir a relação entre atividade física e promoção da saúde com as DCNT e SUS. O presente estudo foi dividido, além desta introdução, da seguinte forma: o item dois, denominado “Atividade física, saúde e o Sistema Único de Saúde (SUS)” aborda questões gerais sobre o novo padrão de morbimortali- dade, a epidemiologia da atividade física e das DCNT, bem como traz mais informações sobre o sistema de saúde público brasileiro; o item três, nomeado “A implementação de políticas públicas de promoção da saúde e da atividade física” disserta sobre as dificuldades e traça um panorama das políticas públicas relacionadas à atividade física, e o item quatro, por fim, é referente às considerações finais. 2 ATIVIDADE FÍSICA, SAÚDE E O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) Melhorar a qualidade de vida, diminuir a prevalência de doenças, aumentar a expectativa de vida, combater o tabaco e álcool, entre outros, são objetos de estudo e de ações nos quais o objetivo principal é comum: promover a saúde e prevenir doenças. Os progressos políticos, econômicos, sociais e ambientais, bem como os avanços na saúdepública e na medicina, são os principais fatores que levaram às melhorias nas condições de vida e saúde de forma contínua e sustentada na maioria dos países (BUSS, 2000). 76 CAPÍTULO 5 Os modelos de cuidados de saúde desenvolvidos pelos países de renda mais elevada referem-se quase que exclusivamente às intervenções profis- sionais, tais como triagem em massa, tratamentos médicos e cirúrgicos disponíveis e cuidados paliativos, associados à recomendação de mu- danças comportamentais e nos estilos de vida adotados pelos indivíduos (BRASIL, 2002). No Brasil, seja pelas suas dimensões continentais, ou pela ampla diversidade social, econômica e cultural, a abordagem de tal complexidade epidemiológica deve estar fundamentada na promoção da saúde e na constituição de ambientes e de contextos promotores de práticas saudáveis que possibilitem e garantam, a todo e qualquer cidadão, o acesso às informações necessárias para a adoção de modos de vida saudáveis (OMS, 2005). A busca pela saúde, o esforço para compreender o processo saúde- -doença e intervir sobre ele são questões que remontam há tempos. Cada período da História valoriza ora determinantes biológicos, ora os sociais, ou ainda, os comportamentais, sem uma sequência linear e acumulativa dos conhecimentos (ROSEN, 1994). O processo de industrialização, urbanização e mecanização das úl- timas décadas culminou em mudanças significativas no estilo de vida, mudanças estas que também foram observadas no padrão de morbimor- talidades mundial (HALLAL et al., 2010). O aumento na prevalência de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) é uma das características que marcam a transição epidemiológica (BARRETO et al., 2009). As doenças crônicas constituem no Brasil a principal causa de morte em adultos, podendo destacar as doenças cardiovasculares, a diabetes, as neoplasias e as doenças respiratórias crônicas (BRASIL, 2008). Além das mortes precoces, as DCNT também acarretam em incapacidade laboral, em redução de produtividade e, consequentemente, na redução da renda das famílias (WHO, 2011). Essas doenças são multifatoriais, ou seja, vários fatores influenciam o seu desenvolvimento e ainda têm como fatores de risco a inatividade física, a alimentação não saudável, o tabagismo e o uso nocivo de álcool. De acordo com a World Health Organization (WHO, 2011) as DCNT resultam também em crescente impacto econômico, afetando 77 CAPÍTULO 5 famílias e sistemas de saúde. No ano de 2009, as DCNT foram respon- sáveis por 63% dos 57 milhões de óbitos no mundo, sendo que 80% destas mortes ocorreram em países em desenvolvimento (WHO, 2011). Neste sentido, além dos problemas relacionados à saúde, essas doenças abrolham impacto econômico em diversos países (TROG- DON et al., 2007; ADA, 2008). No Brasil, em 2004, estimou-se um gasto de R$ 30,8 bilhões com custos relacionados às doenças cardiovasculares (AZAMBUJA et al., 2008). Outro estudo realizado por Duncan, Stevens e Schmidt (2011) afirma que o custo hospitalar por doenças cardiovasculares no Brasil representa a maior parcela de gastos com internações hospitalares. Este quadro atual de morbidade reflete as mudanças compor- tamentais da nossa sociedade neste sentido. O sedentarismo é, nos dias de hoje, um grande problema de saúde pública, o que torna a atividade física uma ferramenta eficaz para a promoção e os cuidados gerais com a saúde (BARRETO et al., 2005). Mudanças positivas no estilo de vida representam retorno direto sobre a saúde, em qualquer estágio da vida ou em condição preexis- tente de saúde, bem como é possível afirmar que pessoas fisicamente ativas diminuem os riscos de desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis. O departamento de saúde e serviços humanos dos Estados Unidos (HHS, 1996) salienta o importante papel da prática de atividades físicas e a sua atuação na prevenção de doenças crônicas, assim como a sua ampla divulgação na literatura científica. Apesar das sólidas evidências sobre os benefícios da atividade fí- sica regular para a saúde, estudos têm indicado baixos níveis deste comportamento na população em geral (BARROS; NAHAS, 2001; MASSON et al., 2005; HALLAL et al., 2012). De acordo com Silva et al. (2011), sentir-se cansado (15,1%) foi a principal barreira apon- tada pelo grupo estudado, seguida de excesso de trabalho (12,7%), ressaltando, ainda, que as justificativas apontadas podem refletir a falta de motivação para o envolvimento na atividade física. Para Sherwood e Jeffery (2000), fatores motivacionais demonstram forte associação com o nível de atividade física. 78 CAPÍTULO 5 Diante o exposto, os baixos níveis de atividade física regular da popu- lação motivaram organizações internacionais e nacionais a inserir a ativi- dade física na agenda mundial de saúde pública (HALLAL et al., 2010). Torna-se, portanto, importante compreender a relação existente entre a prática de atividade física e a saúde da população, bem como o papel desenvolvido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) diante deste contexto. 3 A IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS DE PROMOÇÃO DA SAÚDE E DA ATIVIDADE FÍSICA As reflexões inerentes ao debate sobre a promoção da saúde, a prevenção de doenças e os hábitos de vida marcam as estratégias utilizadas por insti- tuições nacionais e internacionais no âmbito da atividade física. Nota-se tal afirmação nas ações realizadas nas últimas décadas, principalmente a partir da divulgação da Política Nacional de Promoção da Saúde, em 2006. Este documento foi criado após muitos debates e trocas de experiên- cia realizados pelo setor de Promoção da Saúde do Ministério da Saúde, que então ficava alocado na Coordenação Geral de Doenças e Agravos Não Transmissíveis (CGDANT) da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) (BRASIL, 2013; HALLAL; REIS; HINO, 2009). A CGDANT deu continuidade à construção da Política Nacional de Promoção da Saúde (PNPS) que, de acordo com Brasil (2013, p. 60-61): empreendeu uma revisão dos documentos ministeriais e de governo a fim de fortalecer o caráter integrador e intersetorial do texto da Política, com ênfase no próprio Plano Nacional de Saúde 2004/2007 e nos materiais das áreas de meio ambiente, educação, esporte e cidades. Concomitantemente, trabalhou pela ratificação da perspectiva transversal da Promoção da Saúde, de maneira tal que o Ministério da Saúde publicou a Portaria n. 1.190 GAB/MS, em julho de 2005, instituindo o Comitê Gestor da Política Nacional de Promoção da Saúde. Ao Comitê Gestor, formado por diferentes secretarias e órgãos do MS, atribuiu-se: consolidar proposta da Política Nacional da Saúde; coordenar a sua implantação e a articulação com de- 79 CAPÍTULO 5 mais setores governamentais e não governamentais; incentivar Estados e Municípios a elaborarem Políticas de Promoção da Saúde; articular e integrar ações de Promoção da Saúde no SUS; monitorar e avaliar as estratégias de implementação da Política Nacional de Promoção da Saúde e seu impacto. Assim, por meio da Portaria GM nº 687/2006, que aprovou a PNPS (BRASIL, 2006), a Promoção da Saúde passou entre as prioridades e di- retrizes do Pacto pela Vida, em Defesa do SUS e de Gestão, ratificando o compromisso do SUS com a Política. A aprovação da PNPS ratificou a ins- titucionalização da Promoção da Saúde no âmbito do SUS e ainda revelou a importância da análise de situação em saúde para a eleição de prioridades e a focalização das ações sanitárias. A PNPS tem como objetivo geral: promover a qualidade de vida e reduzir vulnerabilidade e riscos à saúde relacionados aos seus determinantes e condicionantes – modos de viver, condições de trabalho, habitação, ambien- te, educação, lazer, cultura, acesso a bens e serviços essenciais (BRASIL, 2010, p.17). Neste sentido, a PNPS constitui um instrumento de fortalecimento e implantação de ações transversais, integradas e intersetoriais, bus- cando o diálogo entre diversas áreas do setor sanitário, outros setores do próprio Governo,setor privado e não governamental e a sociedade em geral (BRASIL, 2006). A PNPS destacou sete áreas temáticas prioritárias: 1) alimentação saudável; 2) práticas corporais/atividades físicas; 3) prevenção e controle do tabagismo; 4) redução da morbimortalidade por uso abusivo de ál- cool e de outras drogas; 5) redução da morbimortalidade por acidentes de trânsito; 6) prevenção da violência e estímulo à cultura de paz; 7) promoção do desenvolvimento sustentável. As ações estratégicas de prática corporal/atividade física descritas na Política Nacional de Promoção da Saúde (BRASIL, 2006) são divididas em quatro eixos: ações na rede básica de saúde e na comunidade; ações de aconselhamento/divulgação; ações de intersetorialidade e mobilização de parceiros; ações de monitoramento e avaliação. 80 CAPÍTULO 5 O primeiro eixo contempla movimentos de apoio às práticas corporais nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) onde já existem atividades e inserir naquelas em que não há ações, capacitar os profissionais envolvidos, in- corporar pessoas com necessidades especiais nessas atividades, incentivar articulações intersetoriais a fim de melhor o espaço público disponível para essas atividades e constituir mecanismos de sustentabilidade e de continuidade das ações do “Pratique Saúde” no SUS. O segundo eixo consiste em informatizar e conscientizar os usuários do SUS sobre os benefícios de estilos de vida saudáveis por meio de campanhas, a fim de reduzir os fatores de risco para as doenças crônicas não transmissíveis. No terceiro eixo, ações de articulações com outras esferas governamentais a fim de mobilizar recursos existentes, trocar experiências com outros mu- nicípios, resgatar as práticas corporais/atividades físicas de forma regular nas escolas, universidades e demais espaços públicos. No último eixo, devem-se desenvolver estudos e metodologias que evidenciem a efetivi- dade dessas estratégias de práticas corporais como forma de promover a saúde, principalmente para atuar no controle e na prevenção das DCNT. Em 2005, com o objetivo de assegurar informações qualificadas à população para a melhoria de sua qualidade de vida e das suas práticas corporais, foi realizado o evento “Brasil Saudável”, que divulgou os benefícios da alimentação saudável, da atividade física e da prevenção ao tabagismo (MALTA et. al, 2009). Coutinho (2005) pactua com a conceituação de atividade física dis- tinta daquela que tem como base fundamental a visão biomédica, cen- trada no comportamento do indivíduo. Defende-se, portanto, uma visão de atividade física ampliada que possa responder a todas as necessidades de saúde e que perpetue noções de autocuidado por parte da população. Com a alta e crescente incidência de DCNT no Brasil, o Ministério da Saúde lançou um plano que define e prioriza as ações e os investi- mentos necessários, e também estabelece metas e compromissos a serem assumidos pelo Brasil. Salientam-se alguns programas e/ou ações que promovam e estimulem a adoção de modos de viver saudáveis com ênfase na atividade física. Estes programas foram descritos no “Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não 81 CAPÍTULO 5 Transmissíveis no Brasil, 2011-2022” no eixo de Promoção da Saúde (MALTA; MORAIS; SILVA JUNIOR, 2011). Brasil (2011) salienta as evidências envolvendo programas popula- cionais de incentivo à prática de atividade física, como políticas públicas de urbanização (espaços urbanos que propiciem a adoção de hábitos mais saudáveis, como pistas de caminhada, ciclovias, outras formas de transporte ativo, entre outras). Becker, Gonçalves e Reis (2016) fizeram uma revisão sistemática com o objetivo de sintetizar as evidências disponíveis na literatura referentes aos programas para a promoção de atividade física no Sistema Único de Saúde do Brasil. Em relação à avaliação dos resultados, a principal ocorrência foi o aumento nos níveis de atividade física no lazer (AFL) dos participantes dos referidos programas. Nos estudos de Siqueira et al. (2009), Hallal, Reis e Hino (2009), Simões et al. (2009) e Reis et al. (2010), foi observado que os frequentadores que participavam dos programas eram mais ativos fisicamente no tempo livre e em caminhadas em relação àqueles que não participavam ou ainda não conheciam os programas. Uma intervenção importante a ser comentada nesse estudo foi a inserção do profissional de Educação Física na equipe multiprofissional do Núcleo de Apoio da Saúde da Família (NASF). Os NASF fazem o aconselha- mento da prática de atividade física, sendo considerado o principal meio de promoção dessa atividade (BECKER; GONÇALVES; REIS, 2016). Apesar da inserção do profissional de Educação Física ter significado um grande avanço para a promoção da atividade física, ainda é incomum que os cursos de graduação formem os educadores físicos sob tal perspectiva. A formação dos profissionais da Educação Física na área da ati- vidade física e saúde, voltada à capacitação de tais educadores para atuar no sistema público ou privado de saúde, pode auxiliar a elevar os índices de atividade física na população, contribuindo, portanto, com melhorias nas condições de saúde e também na prevenção e no controle das doenças crônicas não transmissíveis. Malta et al. (2014, p. 296-297) trazem em seu estudo alguns desafios no campo de articulação da temática envolvendo promoção da saúde e da atividade física: 82 CAPÍTULO 5 [...] citamos a necessidade de que o tema das práticas corporais/ atividade física no SUS integre aos princípios e diretrizes da Atenção Básica, principalmente no que se refere à coordenação do cuidado, articulando suas ações com os demais pontos da rede de serviços, integrando e aumentando a resolutividade das ações. Outro desafio consiste na necessidade de avançar na ação intersetorial, buscando articular ações destinadas a públicos específicos, como a promoção de atividade física no ambiente do trabalho, na comunidade, buscando avançar em projetos destinados à melhoria da mobilidade urbana e na inclusão de pessoas com deficiência e idosos. Apesar das intervenções citadas terem sido disseminadas para a po- pulação, é explícita a necessidade de implementação de mais políticas públicas na área de atividade física e de saúde no âmbito do SUS. Neste sentido, mesmo com as sólidas informações trazidas e sistema- tizadas nesse estudo sobre a relação entre atividade física, saúde e as suas implicações no SUS, e de todas as iniciativas na promoção da atividade física, os resultados sobre as intervenções são escassos, e ainda é preciso salientar que se faz necessário avaliar a efetividade das ações, bem como ampliar consideravelmente os programas para que mais pessoas tenham acesso a eles e venham a tornar-se fisicamente ativas. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Mesmo diante de tantos documentos normativos criados pelo próprio Ministério da Saúde e da importância da atividade física como agente promotor da saúde, sendo a sua falta considerada como um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de diversas doenças e agravos não transmissíveis, além da grande disseminação dos benefícios de sua prática, nota-se a falta de ações e de programas voltados à prática do exercício físico no âmbito do SUS, e este fato parece ser realidade em todas as regiões. Apesar da divulgação da Política Nacional de Promoção da Saúde, no ano de 2006, em que, dentre os principais eixos temáticos, está a implementação de ações para o estímulo da atividade física como 83 CAPÍTULO 5 condicionante da melhora da qualidade de vida das pessoas, as ações implementadas até o momento não são suficientes para impactar de modo significativo os indicadores de saúde pública no Brasil. Assim, mais intervenções voltadas à promoção da atividade física e mais estudos voltados a elas devem ser realizados para que possamos alterar essa realidade e, desta forma, a atividade física deixe de ser um mero coadjuvante e passea ser o personagem principal nas ações de promoção da saúde. É necessário criar mecanismos para despertar a necessidade da prática de atividade física dentro da rotina do indivíduo contemporâneo, de modo a reverter uma situação de sedentarismo de grande parcela da população. Isto pode ser viabilizado por meio de um amplo processo de conscientização presente nos vários níveis de ensino e que seja capaz de mostrar as vantagens da prática de esportes para a vida das pessoas. Não se trata aqui em dizer que a atividade física é a solução para os problemas da saúde pública (apesar das sólidas evidências que a sua prática traz) e, ainda, que a sua adesão seja responsabilidade única e exclusivamente da pessoa, conceito que nos leva ao que chamamos de culpabilização do sujeito (mesmo com a questão do autocuidado). Aliado a isso, não devemos esquecer-nos da responsabilidade e da não exclusivamente do poder público, ou seja, a União, o Estado e o Muni- cípio, perante a criação de locais (apropriados) e políticas (sérias e com todo suporte necessário) voltadas a essa prática. O poder público também deve dar suporte às ações desenvolvidas pelas iniciativas oriundas da sociedade civil organizada, dando o respaldo necessário para viabilizar o atendimento de demandas que podem ser supridas, por sua vez, por meio das sinergias geradas pela disponibili- dade de recursos humanos e financeiros presentes em cada localidade. A prática de atividade física apresenta-se como uma solução barata e que viabiliza o contingenciamento de recursos financeiros escassos em longo prazo, já que diminui a necessidade de atendimentos médicos e hospitalares, assim como a necessidade de fornecimento de medicamen- tos. Isto permite um aumento da eficiência e da efetividade dos gastos públicos ao longo do tempo. 84 CAPÍTULO 5 REFERÊNCIAS AMERICAN DIABETES ASSOCIATION - ADA. Economic costs of dia- betes in the U.S. in 2007. Diabetes Care, v. 31, n. 3, p. 596-615, mar. 2008. AZAMBUJA, M. I.; FOPPA, M.; MARANHAO, M. F.; ACHUTTI, A. C. 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CAPÍTULO 6 89 CAPÍTULO 6 OS DESAFIOS DA GESTÃO PÚBLICA NA ELABORAÇÃO DO PLANO DE RECUPERAÇÃO DA BACIA DO RIO BELÉM EM CURITIBA-PR Elaine Aparecida Garcia De Oliveira1 Francieli Muller Prado2 RESUMO O presente artigo tem como objetivo analisar as dificuldades do poder público na elaboração do plano de despoluição e revitalização do rio Belém, importante rio urbano de Curitiba. Este trabalho também aborda a atual situação do rio Belém, cita os programas de despoluição que atualmente estão sendo realizados e a legislação vigente que, apesar de ser abrangente quanto à preservação dos recursos hídricos, tem obje- tivos que ainda não foram alcançados. Finalmente, sugere e argumenta que a solução para o poder público resolver a questão da gestão dos recursos hídricos está centrada na integração dos órgãos envolvidos, como também dos usuários, universidades (com a tecnologia renovada) e demais interessados em contribuir, democratizando as discussões, para, assim, delinear soluções sustentáveis aos recursos hídricos urbanos. Palavras-chave: Gestão hídrica. Sustentabilidade. Poder público. 1 Pós-graduada em Literatura pela Universidade do Oeste Paulista – Unoeste. Graduada em História pela Universidade Estadual de Londrina – UEL. 2 Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Maringá – UEM. Especialista em Gestão de Projetos . Graduada em Ciências Sociais. 90 CAPÍTULO 6 1 INTRODUÇÃO A água é o bem mais precioso para a sobrevivência humana e também necessária para o desenvolvimento econômico das sociedades e do meio ambiente. A preservação do meio ambiente, principalmente dos recursos hídricos urbanos, visa a atingir os objetivos de várias políticas públicas, pois, além de promover a saúde para a população por meio do tratamento do saneamento básico, recupera e preserva a mata ciliar, assim como oferece uma paisagem mais agradável para o lazer e a convivência urbana. Em tempos de escassez de disponibilidade de água para a popula- ção de todas as cidades, Curitiba começa a sofrer as consequências da degradação de seus recursos hídricos. Além da falta de planejamento integrado, as ações de fiscalização e de recuperação dos recursos hídri- cos existentes não têm apresentado os resultados necessários. Soma-se a isto o fato de que a qualidade das águas urbanas vem piorando cada vez mais, em virtude dos esgotos clandestinos e da degradação com o aumento das ocupações irregulares em áreas de mananciais. Neste contexto, as ações conjuntas tornam-se urgentes, visando a gestão integrada de um plano de recuperação e de revitalização dos recursos hídricos urbanos. Sabe-se que hoje há uma tendência mundial na recuperação de rios urbanos onde a questão ambiental é prioridade. O governo do Estado do Paraná, juntamente com a Prefeitura de Curitiba, preocupados com a escassez dos recursos hídricos e com todos os problemas enfrentados com a degradação da bacia do Rio Belém, um rio urbano que sofre as consequências da ocupação desordenada da população, com esgotos clandestinos e com canalização que o esconde da paisagem urbana, assinaram, no dia 17 de fevereiro de 2017, um Termo de Cooperação para Recuperação e Revitalização do Rio Belém. Um dos objetivos do plano é a apresentação de soluções e medidas que conciliem a sustentabilidade ambiental e a convivência da popu- lação com esse rio. A elaboração do plano integrado de gestão do ciclo hídrico da bacia do rio Belém visa a quantidade e a qualidade da água, 91 CAPÍTULO 6 deliberando acerca da questão dos resíduos sólidos, o uso do solo e a saúde da população, como também a paisagem urbana. Para tanto, faz-se necessária a articulação de ações conjuntas em projetos integrados e abrangentes, buscando novos padrões de gestão, tecnologia e engenharia. Vale destacar que a busca pela efetividade deste plano, como política ambiental urbana, depende de um esforço intenso do poder público em ações que visem o debate democrático na elaboração desse plano de revi- talização para, a partir daí, sugerir ações que incentivem a comunidade e os usuários a entrar neste processo, envolvendo também a sociedade civil e a iniciativa privada, assim como as universidades. Paradigmas da gestão atual deverão ser quebrados e a busca por uma Gestão Integrada dos Recursos Hídricos será um enorme desafio para o poder público local. A função do poder público nesse processo é muito importante, pois as políticas públicas de recuperação e revitalização do rio Belém devem ser traçadas a partir do planejamento e da organização dos debates que a administração pública deverá realizar, integrando a sociedade e recebendo contribuições valiosas de vários setores. E, para que essas políticas públicas sejam efetivadas, o poder público terá o grande de- safio de desenvolver a capacidade de se aprimorar e criar instrumentos para que as ações multidisciplinares recebam investimentos e recursos orçamentários capazes de possibilitar, em longo prazo, a efetividade dos projetos, proporcionando a sustentabilidade destes. No desenvolvimento desse artigo, será utilizada a pesquisa bibliográfica, realizando o estudo da legislação e de diversos autores, compreendendo e adquirindo embasamento teórico sobre o assunto. Portanto, o presente estudo tem por objetivo analisar a atual situação da gestão pública dos recursos hídricos do rio Belém, citar os atuais programas de despoluição, observar a legislação vigente e identificar as dificuldades na integração e articulação dos diferentes órgãos públicos gestores dos recursos hídricos da bacia do Rio Belém em Curitiba, para, assim, a elaboração do Plano de Revitalização quebrar paradigmas atuais, pontuar e sugerir ações para a elaboração e gestão do Plano de Recuperação da Bacia do Rio Belém. 92 CAPÍTULO 6 Sendo assim, será possível apresentar um levantamento conceitual da gestão integrada dos recursos hídricos e a importância do papel do poder público na integração dos diferentes setores para administrar a recuperação e a revitalização do Rio Belém em Curitiba-PR. 2 O RIO BELÉM E A CIDADE DE CURITIBA Curitiba, capital do Estado do Paraná, atualmente possui uma po- pulação estimada em 1.908.359 de pessoas, ocupando uma área de 435,036km². O Município possui seis bacias hidrográficas, dentre elas, a bacia hidrográfica do rio Belém, objeto desse artigo (IBGE, 2017, on-line). A bacia do rio Belém possui extensão de 17,13 km, que nasce no bairro Cachoeira, atravessa grande parte do município de Curitiba de norte a sul, percorrendo 35 bairros da cidade, até desaguar no rio Iguaçu, no bairro Boqueirão. Segundo dados do Instituto Ambiental do Paraná (IAP): “a sub-bacia do Rio Belém é uma das mais importantes, pois ocupa uma área de drenagem de 87,80 km², equivalente a 20,32% da área total da cidade que é de 432km²” (IAP, 2005, p. 22). O rio Belém, por ser um rio urbano, foi pressionado pela expansão desordenada da população e, com isto, ele vem recebendo a descarga de dejetos domésticos e industriais, o que contribui para sua poluição. O rio Belém enfrenta problemas ambientais graves, necessitando de aplicação de políticas de despoluição e revitalização urgentes. À medida que as cidades se urbanizam, ocorre o aumento das vazões devido à impermeabilização e canalização, a produção de sedimentostambém aumenta de forma significativa, as- sociada aos resíduos sólidos, e os rios recebem grandes cargas de esgoto doméstico e industrial. Os rios urbanos recebem as alterações e impactos que as atividades antrópicas têm cau- sado, existindo uma crescente necessidade de se apresentar soluções e estratégias que minimizem e revertam os efeitos desta degradação ambiental (PMC, 2008, p.185). 93 CAPÍTULO 6 Figura 1 - Leito do rio Belém Fonte: Retratos do Belém (2012, on-line). 94 CAPÍTULO 6 Apesar de algumas ações conjuntas entre o poder público, as as- sociações de bairro e os programas ambientais desenvolvidos pela Sanepar, os resultados ainda são imperceptíveis, mostrando que há a necessidade de acompanhamento, monitoramento e continuidade das atividades previstas nos programas, ampliando as perspectivas de revitalização do rio. A Sanepar possui dois programas ambientais: o Programa de Despoluição Ambiental (PDA) e o Programa de Revi- talização de Rios Urbanos (PRRU), que atuam para minimizar os impactos da poluição do rio Belém. O PDA atua na região há 13 anos, tendo como função principal a verificação das interligações dos imóveis à rede coletora de esgoto - RCE. Já o PRRU, que atua desde 2010, faz verificações do oxigênio dissolvido - OD nos rios e córregos, identificando as alterações e localizando áreas de possíveis rompimentos de RCE. O programa também monitora e registra os consertos da Rede Coletora de Esgoto – RCE, e estabelece o monitoramento participativo com a população (LARA, 2014, p. 20). Esses dois programas atendem a legislação da Constituição Brasileira no que se refere aos aspectos de preservação do meio ambiente para as gerações atuais e futuras quanto à função dos Estados e Munícipios de estabelecer programas de saneamento básico. A Prefeitura também possui o Programa de Despoluição Hídrica (PDH) e o Programa de Monitoramento da Qualidade de Águas de Rios (PMQAR), que visa a implementar as políticas de recuperação e proteção dos recursos hídricos municipais (PMC, 2013). Pode-se perceber também, através da criação de programas da Sanepar (PDA e PRRU) e da Prefeitura de Curitiba (PDH), além de projetos como o “Viva o Belém”, desenvolvidos por associações de moradores, o envolvimento da população nos programas, indicando que existe a vontade de reverter este ce- nário (LARA, 2014, p. 84). As criações desses dois programas demonstram a preocupação tanto da Prefeitura Municipal quanto da Sanepar com a qualidade da água dos 95 CAPÍTULO 6 rios urbanos e são fundamentais para a despoluição do rio Belém, mas, infelizmente, eles não estão sendo suficientes para a sua revitalização, pois apenas monitoram a qualidade da água, fiscalizam irregularidades e orientam a população com atividades educativas (LARA, 2014). O Instituto Ambiental do Paraná (IAP) é também um importante órgão de monitoramento da qualidade das águas nas bacias hidrográficas do Alto Iguaçu, as quais o rio Belém faz parte. O monitoramento da qualidade da água tem por finalidade a divulgação à população das condições de qualidade dos recursos hídricos e o suporte ao planejamento local e regional para a ges- tão de recursos hídricos, bem como objetiva avaliar programas de saneamento e recuperação ambiental [...]. O licenciamento, por si só, não promove a gestão numa bacia hidrográfica, a qual somente se efetiva pelo tripé monitoramento, fiscalização e licenciamento (IAP, 2009, p.17). Neste contexto, vale destacar a importância do IAP no processo, uma vez que ele exerce a função de avaliação integrada das águas, bem como a de “informar as autoridades, o público, organizações governamentais e instituições públicas e privadas sobre a condição de qualidade das águas dos trechos dos rios monitorados” (IAP, 2009, p.18). Os relatórios elaborados pelo IAP demonstram que a qualidade da água do rio Belém continua poluída, necessitando de políticas públicas efetivas e susten- táveis que possibilitem resultados em longo prazo para a população. 3 A LEGISLAÇÃO VIGENTE Quanto à legislação vigente, temos a Constituição Federal que, no Art. 225, assegura o direito ao meio ambiente ecologicamente equili- brado, bem como o direito ao uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, “impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações” (BRASIL, 1988, on-line). Já a Lei 9.433/1997, em seu Art. 2º, assegura que os objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos consistem em: 96 CAPÍTULO 6 I - assegurar à atual e às futuras gerações a necessária dispo- nibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos; II - a utilização racional e integrada dos re- cursos hídricos, incluindo o transporte aquaviário, com vistas ao desenvolvimento sustentável; III - a prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de origem natural ou de- correntes do uso inadequado dos recursos naturais (BRASIL, 1997, on-line). Dentre as leis que disciplinam o uso da água, aparece a Lei nº 9.984/2000, que institui a criação da Agência Nacional de Águas (ANA), cabendo-lhe: “supervisionar, controlar e avaliar as ações e ati- vidades decorrentes do cumprimento da legislação federal pertinente aos recursos hídricos”. De acordo com Silva (2004 apud SILVA et al., 2008), na implan- tação da Política Nacional de Recursos Hídricos, cabe aos Municípios promover políticas locais de saneamento básico, de uso, de ocupação e conservação do solo e do meio ambiente, juntamente com as políti- cas federais e estaduais de recursos hídricos. Assim, as esferas políticas municipais, estaduais e federais trabalham em conjunto para alcançar os objetivos da preservação dos recursos hídricos. A Política Estadual de Recursos Hídricos e Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos possui a Lei nº 12.726, de 29 de novembro de 1999. Esta lei acompanha a disposição federal que diz que a água é um bem de domínio público. A legislação estadual de recursos hídricos também possui o Decreto nº 9.130/2010, que regulamenta o processo de instituição dos Comitês de Bacia Hidrográfica, o Decreto nº 4.646/2001, que dispõe sobre o regime de outorga de direitos de uso de recursos hídricos e o Decreto nº 9.131/2010, o qual regulamenta a participação de organizações civis de recursos hídricos junto ao Sistema Estadual de Gerenciamento de Recur- sos Hídricos. O órgão gestor de recursos hídricos no Paraná é o Instituto das Águas do Paraná (ÁguasParaná), criado pela Lei nº 16.242, de 13 de outubro de 2009, que extinguiu a Superintendência de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental (SUDERHSA), criação que foi regulamentada pelo Decreto nº 7.878, de 29 de julho de 2010. 97 CAPÍTULO 6 Além desta legislação estadual, destaca-se, ainda, segundo documento da Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Curitiba, as leis de âmbito municipal que cuidam da gestão dos recursos hídricos, por exemplo, a Lei Municipal nº 7.833/1999, que dispõe sobre a Política de Proteção, Conservação e Recuperação do Meio Ambiente e o Decreto nº 293/2006, que regulamenta a Lei nº 10.785/2003 e dispõe sobre os critérios do uso e conservação racional da água nas edificações (PMC, 2018, p. 2). Verifica-se que, apesar da amplitude das bacias hidrográficas, as quais ultrapassam os limites do município, há uma preocupação no controle municipal. Os arcabouços legislativos federal, estadual e municipal, no que se refere aos recursos hídricos, são excelentes, basta refletir se estão sendo cumpridos. Percebe-se que a exequibilidade da legislação nem sempre é aplicada, muitas vezes, por falta de políticas públicas ambientais exe- quíveis e pelo orçamento limitado. A legislação não é capaz de cumprir com o seu objetivo, que é conciliar o desenvolvimento econômico com a preservação ambiental. 4 DIFICULDADES DA GESTÃO PÚBLICA NA ELABORAÇÃO DO PLANO DE REVITALIZAÇÃO DO RIO BELÉM O problema da poluiçãodos rios urbanos iniciou-se quando a população ocupou desordenadamente as margens destes rios durante a colonização e o surgimento das cidades. Os rios serviram para abas- tecimento urbano e para despejo de esgotos, chamados também de águas servidas. Mas quando esses rios começaram a ser um problema para a expansão urbana, os gestores públicos resolveram o problema os canalizando e os escondendo da paisagem. “As canalizações foram realizadas para suprimir os rios da paisagem urbana e, ao mesmo tempo, transferir os impactos dos seus problemas e mazelas, tais como enchentes e poluição, para outras regiões dos municípios” (GARCIAS; AFONSO, 2013, p.132). 98 CAPÍTULO 6 A falta de planejamento urbano e a ocupação territorial desor- denada poluíram a maioria dos rios das grandes cidades. Garcias e Afonso (2013, p.140) afirmam que, em nosso país, grande parte dos rios e afluentes apresenta poluição, em virtude do “descontrole da ocupação de suas margens, principalmente pela população de baixa renda, sem nenhuma proteção sanitária e que contribuem para a insalubridade dos ambientes urbanos”. Em Curitiba não é diferente, as políticas públicas planejadas e apli- cadas na despoluição do rio Belém, até o momento, não atingem o nível desejado. Para que a gestão pública dê conta da elaboração de um plano sustentável e que este possa ser piloto de muitas outras ações pelo Estado do Paraná, serão enfrentados desafios na construção de uma gestão integrada dos recursos hídricos, um novo conceito em administrar. Mas o que é uma Gestão Integrada de Recursos Hídricos (GIRH)? De acordo com Moriarty; Butterworth; Batchelor (2004 apud Silva; Herrero; Borges, 2017, p. 105): [...] em termos gerais, é possível afirmar que a GIRH consiste em um processo que promove um gerenciamento coordenado da água, da terra e dos recursos relacionados, de forma a ma- ximizar a resultante econômica e o bem-estar social de forma equilibrada, sem comprometer o ecossistema. Nesse processo, são desenvolvidas normas, políticas, análise física e socioeco- nômica e coleta de dados em nível global e regional, criando, a partir desses mecanismos, um instrumento para os tomadores de decisão a respeito do uso dos recursos hídricos. Esta nova forma de realizar a gestão dos recursos hídricos urbanos vem sendo recomendada aos gestores públicos, pois os projetos de des- poluição e de revitalização dos rios são planejados democraticamente visando a sustentabilidade, obtendo resultados eficientes e duradouros. A bacia hidrográfica do rio Belém, considerada uma unidade de gestão, visará a ações planejadas e que deverão envolver a participa- ção dos usuários, da população civil, das universidades e de todos os interessados com a coordenação do poder público (governantes). A descentralização das decisões quebra paradigmas de práticas que até 99 CAPÍTULO 6 então visavam a solucionar os problemas existentes em curto prazo e com tecnologias convencionais, sem refletir nos impactos em longo prazo. Além disso, a estrutura de gestão tradicional é inflexível, não apresentando os resultados esperados. A infraestrutura e a gestão tradicionais tendem a ser inflexíveis quanto às mudanças circunstanciais. Sistemas de abastecimento de água, tratamento de efluentes líquidos e manejo de águas pluviais são construídos para atender às capacidades fixas, e quando estas são excedidas, problemas ocorrem. Da mesma for- ma, o gerenciamento desses sistemas torna-se precário quando confrontado, por exemplo, com maior variabilidade climática e demanda urbana em rápido crescimento (PHILIP, 2011, p.11). A gestão integrada das Águas Urbanas (GIAU) exige que: Todas as partes do corpo hidrológico devem ser consideradas como partes de um sistema integrado; que todos os aspectos da sustentabilidade sejam equilibrados; todos os grupos de inte- resse, inclusive os usuários da água, sejam envolvidos; todos os usos da água sejam considerados e todas as especificidades do contexto local sejam atendidas (PHILIP, 2011, p.12). A grande dificuldade dos gestores públicos na integração e gestão dos recursos hídricos da bacia do rio Belém em Curitiba, para a elabo- ração do Plano de Revitalização, é o envolvimento de diversos órgãos e do público, visando a traçar soluções coordenadas e sustentáveis. Esta articulação dos diferentes órgãos exige um planejamento complexo, pois as decisões envolvem projetos articulados, aproveitando ao máximo os recursos disponíveis e que visam os objetivos comuns. Gerenciar o ciclo hidrológico urbano de maneira holística não é possível sem discussões entre todos os usuários da água, em conjunto com os responsáveis pela elaboração de políticas, leis, regulamentos, bem como pelos responsáveis pela construção, captação, tratamento de água etc. Quanto maior a cidade, maior o conjunto de instituições, grupos de interesse, associações de usuários, dentre outros, que estão, de uma forma ou de outra, 100 CAPÍTULO 6 vinculados ao ciclo hidrológico urbano. Nenhum grupo de interesse relevante deve ser deixado de fora e essa colaboração deve ser cuidadosamente planejada para que uma abordagem mais integrada realmente tenha êxito (PHILIP, 2011, p. 25). O envolvimento de todos no processo de planejamento, portanto, fortalecerá as decisões. Todos deverão agir alinhados aos princípios comuns, na busca de soluções para os problemas existentes. Observa-se que, nesta nova forma de gerenciar os recursos hídri- cos, os interesses dos grupos não substituem o poder das instituições públicas, pois a responsabilidade em oferecer bons serviços fica a cargo do poder público. Deve-se lembrar que as decisões compartilhadas desenvolvem o senso de responsabilidade e de apoio às entidades ofi- ciais. Pizella (2014, p. 644) é enfática quando defende a participação democrática nas questões ambientais: outro instrumento que traz oportunidades para uma gestão in- tegrada das águas é o Zoneamento Municipal, também presente no Estatuto da Cidade, e que possibilita a prevenção de impactos ambientais derivados da expansão urbana e demais usos do solo também no meio rural. Quando realizado de forma participati- va, possibilita que atores sociais preocupados com a questão so- cioambiental interfiram em seu processo de elaboração, de modo a impedir que interesses puramente econômicos prevaleçam. Além disto, há casos de consórcios intermunicipais organizados em bacias hidrográficas, previstos na PNRH, que facilitam a gestão integrada das águas, agregando objetivos comuns de melhoria da disponibi- lidade hídrica em termos qualitativos e quantitativos no momento de elaboração e revisão de Planos de Bacias Hidrográficas. Neste sentido, segundo Philip (2011), para facilitar o trabalho participativo, a unidade do governo responsável por organizar as re- uniões e os trabalhos poderá criar uma plataforma de comunicação, onde informações e conhecimentos sejam disponibilizados durante o processo de planejamento. Para que as ações da Gestão Integrada dos Recursos Hídricos Urbanos seja um sucesso, é necessário o apoio dos políticos locais, 101 CAPÍTULO 6 pois estes serão os responsáveis pela alocação de recursos financeiros necessários para a aplicação nos projetos. Portanto, conscientizar os diversos segmentos políticos de que a gestão dos recursos hídricos trará benefícios econômicos, sociais e ambientais para a população é essencial, pois proporcionará a continuidade do planejamento e contribuirá para a criação de políticas públicas que envolvam a recuperação do rio Belém. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Vários estudos apontam que as águas do rio Belém estão muito poluídas, necessitando de ações de recuperação e despoluição urgentes. A Sanepar desenvolve dois projetos de despoluição: o PDA e o PRRU, como também a Secretaria do Meio Ambiente da Prefeitura e as asso- ciações de bairros, demonstrando a preocupação com a saúde hídrica do rio Belém. Esses programas de despoluição não apresentam grandes resultados,pois o rio continua muito poluído. A legislação vigente assegura que a qualidade das águas urbanas é fundamental para a saúde da população e a preservação do meio am- biente. Tomando como exemplo outros países, a gestão integrada dos recursos hídricos indica ser a solução que está faltando para melhorar a qualidade da água na bacia hidrográfica do rio Belém. Está nas mãos do poder público a capacidade de implementá-la. O planejamento e a articulação das ações deverão partir dos governos locais, facilitando o diálogo entre a população, as universidades e a sociedade civil. Este novo paradigma será imprescindível para a recu- peração sustentável do rio Belém, pois com a participação de diversos órgãos e setores da sociedade, será possível compartilhar informações e técnicas que efetivem a construção coletiva do conhecimento e das responsabilidades. Campanhas educativas e ações multidisciplinares proporcionarão uma nova dinâmica para as políticas locais. Que a gestão integrada deste importante rio urbano, coordenada pelo poder público, seja exemplo para novas ações em outros lugares do Estado. 102 CAPÍTULO 6 REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promulga- da em 5 de outubro de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 2 maio 2018. ______. Lei nº 9.433, de 8 de janeiro 1997. Institui a Política Nacio- nal de Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal, e altera o art. 1º da Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990, que modificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9433.htm>. Acesso em: 2 maio 2018. ______. Lei nº 9.984, de 17 de julho de 2000. Dispõe sobre a criação da Agência Nacional de Águas - ANA, entidade federal de implemen- tação da Política Nacional de Recursos Hídricos e de coordenação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ leis/L9433.htm>. Acesso em: 2 maio 2018. GARCIAS, C. M.; AFONSO, J. A. C. Revitalização de Rios Urbanos. Revista Eletrônica de Gestão e Tecnologias Ambientais – GESTA, Salvador, v.1, n.1, p.131-144, 2013. INSTITUTO AMBIENTAL DO PARANÁ - IAP. Monitoramento da qualidade das águas dos rios da Bacia do Alto Iguaçu, na região metropolitana de Curitiba, no período de 2005 a 2009. Curitiba: IAP, 2009. Disponível em: <http://ambienteduran.eng.br/system/files/ publicador/MONITORAMENTO/relatorio_RIOS_2005_2009.pdf>. Acesso em: 2 maio 2018. ______. Monitoramento da qualidade das águas dos rios da região metropolitana de Curitiba, no período de 1992 a 2005. Curitiba: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9433.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9433.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9433.htm 103 CAPÍTULO 6 IAP, 2005. Disponível em: <http://www.iap.pr.gov.br/arquivos/File/ Monitoramento/monitoramento_da_qualidade_agua_1992_2005. pdf>. Acesso em: 2 maio 2018. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Cidades - Brasil/Paraná/Curitiba [2017]. Disponível em: <ht- tps://cidades.ibge.gov.br/brasil/pr/curitiba/panorama>. Acesso em: 2 maio 2018. LARA, M. V. R. Análise crítica de programas de revitalização de rios urbanos na bacia hidrográfica do Rio Belém em Curitiba-PR. 2014. 150 f. Dissertação (Programa de Mestrado Profissional e Internacional em Meio Ambiente Urbano e Industrial) – Universidade Federal do Paraná, Setor de Tecnologia, SENAI-PR, Universität Stuttgart. Curi- tiba, 2014. PARANÁ. Assembleia Legislativa do Estado do Paraná. Decreto Es- tadual nº 12.726, de 29 de novembro de 1999. Institui a Política Estadual de Recursos Hídricos e adota outras providências. Dispo- nível em: <http://www.legislacao.pr.gov.br/legislacao/listarAtosAno. do?action=exibir&codAto=5849&codItemAto=40340>. Acesso em: 2 maio 2018. ______. Assembleia Legislativa do Estado do Paraná. Decreto Estadual nº 4.646, de 31 de agosto de 2001. Dispõe sobre o regime de outorga de direitos de uso de recursos hídricos e adota outras providências. ______. Assembleia Legislativa do Estado do Paraná. Decreto Esta- dual nº 7.878, de 29 de julho de 2010. Aprovando o Regulamento do Instituto das Águas do Paraná, na forma do Anexo que integra o presente Decreto, Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricios-SEMA. Disponível em: <http://leisestaduais.com.br/pr/de- creto-n-7878-2010-parana-aprovando- o-regulamento-do-instituto- -das-aguas-do-parana-na-forma-do-anexo-que-integra-opresentedecre- 104 CAPÍTULO 6 to-secretaria-de-estado-do-meio-ambiente-e-recursos-hidricios-sema>. Acesso em: 2 maio 2018. ______. Assembleia Legislativa do Estado do Paraná. Decreto Estadual nº 9.130, de 27 de dezembro de 2010. Regulamenta o processo de instituição de Comitês de Bacia Hidrográfica e dá outras providências. Disponível em: <http://www.recursoshidricos.pr.gov.br/arquivos/File/ CERH/Decretos/decreto_comites.pdf>. Acesso em: 2 maio 2018. ______. Assembleia Legislativa do Estado do Paraná. Lei nº 16.242, de 13 de outubro de 2009. Cria o Instituto das Águas do Paraná, conforme especifica e adota outras providências. Disponível em: <http://www. legislacao.pr.gov.br/legislacao/listarAtosAno.do?action=exibir&codA- to=52454&codItemAto=407282#407282>. Acesso em: 2 maio 2018. PHILIP, R. Kit de Treinamento SWITCH: Gestão Integrada das Águas na Cidade do Futuro. Módulo 1 – Planejamento estratégico: preparan- do-se para o futuro. São Paulo: Florence Karine Laloë, 2011. PIZELLA, D. G. A relação entre Planos Diretores Municipais e Planos de Bacias Hidrográficas na gestão hídrica. Revista Ambiente & Água, v. 10, n. 3, p. 635-645, jul./set. 2014. PREFEITURA MUNICIPAL DE CURITIBA - PMC. Secretaria Mu- nicipal de Meio Ambiente. Plano Municipal de Controle Ambiental e Desenvolvimento Sustentável. Curitiba: SMMA, jun. 2008 (versão completa; vol. 1). Disponível em: <http://multimidia.curitiba.pr.gov. br/2010/00085324.pdf>. Acesso em: 2 maio 2018. ______. Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Plano Municipal de Saneamento de Curitiba. Curitiba: SMMA, 2013 (infraestrutura de esgotamento sanitário; vol. 3). Disponível em: <http://multimidia. curitiba.pr.gov.br/2013/00142056.pdf>. Acesso em: 2 maio 2018. 105 CAPÍTULO 6 ______. Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Recursos Hídricos. Portal da Prefeitura de Curitiba - Rios da Cidade [2018]. Disponível em: <http://multimidia.curitiba.pr.gov.br/2010/00085317.pdf>. Acesso em: 2 maio 2018. RETRATOS DO BELÉM. Contexto Natural e Urbano [2012]. Dis- ponível em: <http://retratosdobelem.blogspot.com.br/2012/10/con- texto-natural-e-urbano.html>. Acesso em: 2 maio 2018. SILVA, C. L. et al. Plano Diretor de Curitiba como Política Urbana para a Preservação dos Recursos Hídricos: uma avaliação da sua exeqüi- bilidade sob a ótica neo-institucionalista. 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Este estudo avalia a possibilidade de uma inovação em Gestão de Pessoas dentro da AdministraçãoPública, partindo de suas características predominantes e de suas particularidades, bem como aborda as dificuldades cotidianas enfrentadas nesta área da gestão no que diz respeito à cultura e à prática organizacional da Administração Pública, o seu denso ordenamento jurídico, a ausência de importantes recursos de estímulo a título de moedas de troca, entre outros. Em resposta ao problema levantado, o presente trabalho oferece o método da Gestão da Singularidade como oportunidade de inovação lícita e possível, somada a algumas práticas particulares descobertas ao longo da pesquisa, específicas para as necessidades levantadas no presente estudo. 1 Pós-graduando em Gestão Pública pelo Centro Universitário de Maringá - Unicesumar. Pós- -graduando em Docência no Ensino Superior pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci - Uniasselvi. Pós-graduado em Gestão e Tutoria EAD pelo Uniasselvi. Graduado em Gestão Pública pelo Uniasselvi. Servidor Público e Gestor no Instituto Nacional do Seguro Social - INSS. 2 Mestre em Ciências Jurídicas pelo Centro pelo Universitário de Maringá - Unicesumar. Pós-gra- duada em Ciências Penais pela Universidade Anhanguera - Uniderp. Pós-graduada em Plane- jamento e Gestão de Trânsito. Graduada em Direito pela Universidade Paranaense, advogada e professora do Unicesumar. 108 CAPÍTULO 7 Palavras-chave: Administração Pública. Gestão de Pessoas. Gestão da Singularidade. Inovação. 1 INTRODUÇÃO Ao falar em inovação na Administração Pública, instantaneamente surgem inúmeras justificativas para a sua impossibilidade. Em parte, resultado de uma cultura de longa data, em que as características fun- damentais do Estado fazem parecer tudo muito impróprio, até mesmo impossível, para ser feito no burocrático universo da coisa pública. O que dizer, então, de inovações na área de Gestão de Pessoas, campo amplo e densamente normatizado, com a finalidade de resguardar cada ente envolvido na relação Estado, agente público e usuários? É necessário vencer esta barreira e encontrar meios de oportunizar novos modelos de gestão, que se mostrem mais eficazes no trato dos gestores com as suas equipes, e que mostrem melhores resultados à população no que diz respeito ao desempenho da máquina pública e ao atendimento das suas necessidades. Este é o objetivo a que se propõe o presente estudo. Este artigo tem por objetivo estudar a Administração Pública e as suas características de organização e funcionamento, e subdivide-se em dois tópicos principais. Um abordará as características que fazem da Administração Pública e da sua Gestão de Pessoas um elemento diverso do comumente conhecido na iniciativa privada. Outro apontará recursos lícitos de inovação, principalmente na prática cotidiana de Gestão de Pessoas, e o seu método. A partir de uma metodologia evidenciada ao longo do artigo, uma apurada pesquisa bibliográfica buscará oferecer resposta ao tema abor- dado, sugerindo novas práticas e novo método para a Gestão de Pessoas na Administração Pública. 109 CAPÍTULO 7 2 A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E A SUA GESTÃO DE PESSOAS Para versar sobre a gestão de uma equipe dentro da Administração Pública, a que esse artigo se propõe, é imprescindível que se discorra, ao menos em parte, a respeito da própria Administração Pública, enquanto princípios e fundamentos. Administração Pública é um termo com duas realidades (JOSEPET- TI; OTERO; SILVA, 2014): a Administração Pública enquanto Ente (poder, órgãos e agentes que a compõem) e a Administração Pública enquanto ação oriunda do Ente. Particularmente ao estudo, as ações dos integrantes são ações da própria Administração, do conjunto de agentes que a compõem e das ações tomadas por estes, direcionadas a eles mesmos (gestão) ou aos que a eles recorrem (atendimento). A Constituição Federal vastamente versa sobre Estado, seus entes, poderes e funcionamento. Importante lembrar que, na Carta Magna, em seu artigo 37, estão expressos os princípios que regem a Administração Pública (BRASIL, 1988, on-line), quais sejam: Legalidade, Impessoa- lidade, Moralidade, Publicidade e Eficiência. Estes princípios buscam garantir que sejam preservados: o respeito à lei e a sua aplicação; a garantia do interesse público sobre o interesse particular; um agir ético e moral; a transparência na Administração; e que os seus atos sejam eficientemente executados. Ainda a respeito de princípios basilares da Administração Pública, há os assim chamados Fundamentais, que acompanham a Adminis- tração Pública desde o Decreto-Lei nº 200 (BRASIL, 1967, on-line). São eles: Planejamento, Coordenação, Descentralização, Delegação de Competência e Controle. Estes procuram garantir que, na Administração Pública, entre outros: não se realize nada sem planejamento, previsão e justificativa; que os seus atos sejam feitos organizada e coordenadamente, empregando, por exemplo, o menor gasto possível; que se possa descentralizar serviços de tal forma a cumprir, otimamente, o interesse público no atendimento ao cidadão, sem, no entanto, deixar de fiscalizar tal prestação; que as 110 CAPÍTULO 7 competências possam ser delegadas àqueles bastantes suficientes de as exercerem, permitindo à Administração ser efetiva em todas as neces- sidades dos cidadãos; e, por fim, que se estabeleça o controle realizado pelos superiores e auditores externos, ou ainda, por sistema próprio, visando a garantia do bem-fazer de todos os princípios anteriores. Assim, a Administração Pública é, muito provavelmente, a área que mais possui normas a observar-se. Trata-se de um emaranhado legal que: delimita e determina, quando não impede. Nela, somente a norma (e aqui leia-se: norma escrita) define o que deve e o que não deve acontecer, uma realidade aplicável da mais alta até a mais baixa esfera da máquina pública, inclusive aos recursos que a integram. Todo agente público é norteado pelos princípios anteriores, por isto, tamanha a sua importância ao construir conhecimentos sobre Gestão de Pessoas. A respeito do princípio da Legalidade e o seu efeito, a partir do que nos diz Meirelles (2005), tem-se que, na Administração Pública, só é possível executar o que está previsto na lei, só agir estritamente dentro do já normatizado. De tal forma, que um serviço, uma rotina ou uma medida ainda não prevista em lei não podem ser realizadas. O contrário acontece na iniciativa privada; tudo o que não é vedado está permitido. Uma ímpar característica, que se estende até a Gestão de Pessoas da Administração Pública. Um princípio que, muitas vezes, desacelera os processos criativos. Ao passo que faz pensar em dificuldades, o princípio da eficiência convida a realizar cada ato da melhor maneira possível, buscando sempre o atendimento do interesse coletivo, a preservação do erário e a melhor prestação do serviço. Claro, não se pode ignorar, nem se pretende dizer o contrário, que o princípio da Legalidade é impres- cindível na Administração Pública como ferramenta de preservação do bem público e comum. Mas é justo apontá-lo como um fator importante na cultura da não inovação dentro das práticas públicas. Desta forma, é natural intuir o motivo pelo qual a Administração Pública e a inovação não caminham, entre si, céleres e harmônicas. A inovação, que na administração privada atém-se apenas a não descum- prir proibições legais, na Administração Pública, desde o início, precisa ater-se à previsão legal, adequando-se, construindo a partir do que está 111 CAPÍTULO 7 previsto e tão somente nele. Isto, não raras as vezes, faz com que ideias inovadoras sejam niveladas por baixo para se encaixarem dentro de uma estrutura já prevista em lei. A isto Josepetti, Otero e Silva (2014, p. 32) nomeiam de “limites à postura inovadora”. Ao aprofundar a Gestão de Pessoas na Administração Pública, ob- serva-se que, além de todo o anterior, outras normas versam especifi- camente a respeito. Exemplificativamente, tem-se a Lei nº 8.112/1991 e o Decreto nº 1.171/1994.Atos que tratam do regime jurídico de trabalho dos servidores civis da União e do código de conduta ética dos mesmos servidores, respectivamente. Tudo o que se refere ao servidor público é normatizado: recruta- mento, contratação, avaliação de seu estágio probatório, eventual pro- cesso disciplinar acerca de conduta ilícita, remuneração, aposentadoria ou dispensa. Detalhadamente regulamentada, este “engessamento” da Gestão de Pessoas, muitas vezes, corrobora com a cultura de não inovar, presente na Administração. Em tempo, a não regulamentação do servi- ço público, na Gestão de Pessoas, também descumpriria princípios da Administração Pública e, certamente, poria o agente público em risco. A legislação brasileira, preocupada com o atendimento dos princípios básicos e fundamentais, legislou a fim de garantir a empregabilidade desses princípios e a funcionalidade de seus serviços em atendimento àqueles. No entanto, não sugeriu vias claras de inovação ou de agir diferenciado para que o gestor tivesse recursos adicionais à sua disposi- ção. A exemplo disto e da morosidade das transformações, temos que o advento da Gestão por Competências, enquanto método de gestão da Administração Pública, só fora inaugurada com o Decreto nº 5.707 (BRASIL, 2006, on-line). Já no meio acadêmico e na iniciativa privada, o mesmo método apresentava-se consideravelmente em construção no início do século passado, a partir das observações de Taylor (1970). Outro fator de dificuldade na Gestão de Pessoas na Administração Pública é a escassez das moedas de troca, como reajuste salarial, concessão de folgas, benefícios, promoções individuais etc. Como tratar, então, as ne- cessidades individuais indicadas por Maslow (1970), quando o empregador não oferece ferramentas acessíveis? Cabe ao gestor uma nova abordagem. 112 CAPÍTULO 7 De acordo com Josepetti, Otero e Silva (2014, p. 30), a Gestão de Pessoas, que se estende a todo gestor que lida com indivíduos, “agora enfrenta o desafio de desenvolver as pessoas e aumentar a identificação com a empresa” e ainda “é a responsável por desenvolver e reter os talen- tos”. Não há mais que se falar na simples manutenção de rotinas mensais, como a gestão de folha de pagamento, direitos e deveres, por exemplo. Mas de uma práxis proporcionadora de integração dos recursos, com o objetivo de trabalho do ente a que estão vinculados. Schikmann (2010 apud Josepetti; Otero; Silva, 2014) apresenta como características comuns e dificultosas para o exercício da Administração Pública na Gestão de Pessoas: a rigidez da legislação; a não visão do cidadão como destinatário do serviço; a pouca ênfase no desempenho; mecanis- mos de remuneração desreguladores do desempenho e do vencimento; os limites à postura inovadora; poucos mecanismos de planejamento ou pre- ocupação com a gestão; rotatividade das chefias; e o papel da gratificação. Somado a isto e, ao mesmo tempo, já relacionado, pode-se apontar ainda, como características dificultosas, mesmo que benéficas: a esta- bilidade e os planos de carreira. A estabilidade traz segurança para o atendimento dos princípios constitucionais, inibe ato de interesse político ou particular que pre- judicaria os trabalhos do serviço público, como a sistemática troca de agentes. Ao mesmo tempo, oferece ao servidor garantia do seu pleno emprego no exercício de suas funções, mas pode impactar no seu en- gajamento nas tarefas recebidas, já que é garantida a permanência no emprego, sendo aplicado ou não em suas atribuições. Cabe registrar que o emprego de processo disciplinar, previsto em condições como esta, não é ato frequente da Administração, causas de tal postura são interessante objeto para uma pesquisa em continuidade. Os planos de carreira, definidos em lei, conforme preceitua o artigo 39 da Constituição Federal (BRASIL, 1988, on-line), fazem com que os vencimentos dos servidores sejam periodicamente reajustados, mediante um sistema previamente estabelecido, considerando principalmente a temporalidade. Concomitante, inibe progressões ou aumentos salariais como ferramenta de estímulo, de negociação ou de recompensa ao agente 113 CAPÍTULO 7 na relação empregador-empregado. O agente público tem prévio conhe- cimento do seu salário, conforme disciplina o plano de cargos e salários do seu plano de carreira, sabe quais são os quesitos mínimos necessários para que implemente as condições de uma ascensão profissional, e pode, com isso, realizá-las na justa medida da implementação desses quesitos, desfavorecendo a qualidade do resultado do serviço público. Contextualizadas, pois, as principais características da Gestão de Pessoas na Administração Pública brasileira, permanece o questiona- mento: como gerir licitamente pessoas de forma inovadora, integrativa e estimulante? 3 UMA PROPOSTA À GESTÃO DE PESSOAS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Milkovich e Boudreau (apud Morais; Santana, 2012, p. 15) definem gestão de Recursos Humanos como uma “série de decisões integradas que formam as relações de trabalho”. Estas relações referem-se à intera- ção empregador-empregado, gestor gerido, líder de equipe. De tal forma que a gestão de Recursos Humanos está fundamentada sobre as bases da relação interpessoal destes indivíduos, sinalizando a importância deste relacionamento para uma boa gestão. Cortella (2016) afirmará que a empresa vive a partir das pessoas. A respeito do desafio de inovar, proporcionando a integração da equipe em uma estrutura erigida sobre a norma, já nos disseram Ro- cha-Pinto et al. (2007, p. 33): Se o contexto do trabalho mudou, se o conceito de carreiras, con- forme edificado no século passado, também se transformou, inevita- velmente a então conhecida área de gestão de pessoas está diante de um enorme desafio. Esse desafio é uma decorrência da necessidade de incorporar, definitivamente, a dimensão estratégica à gestão de pessoas. Dessa forma, em vez de se reduzir a um departamento ou área, a gestão de pessoas há de ser considerada uma prática que requer a atenção plena em todos os setores da organização. 114 CAPÍTULO 7 Significa dizer que não se pode mais considerar a Gestão de Pessoas um serviço desarticulado do restante da organização, mas uma valiosa colaboração no atingimento dos resultados vendo o todo, assim como a participação de cada servidor individualmente, fazendo-se presente em todos os níveis da gestão e integrada ao cotidiano de todo gestor. O relacionamento interpessoal dos agentes públicos é uma frente ab- solutamente lícita de ação do gestor, visando a melhoria do desempenho da equipe, mantendo-os integrados e motivados em serem realizadores de uma obra. O próprio Decreto nº 1.171 (BRASIL, 1994, on-line), que trata do código de ética no serviço público em seus deveres, obri- gações e direitos, afirma: o servidor que trabalha em harmonia com a estrutura or- ganizacional, respeitando seus colegas e cada concidadão, colabora e de todos pode receber colaboração, pois sua ati- vidade pública é a grande oportunidade para o crescimento e o engrandecimento da Nação. Cabe ao gestor, portanto, uma abordagem efetiva no âmbito do relacionamento interpessoal, buscando atingir uma atmosfera saudável de trabalho, afinal, o “Clima Organizacional pode contribuir para re- sultados eficazes”, uma vez que, “trata-se de um dos instrumentos que podem fazer a diferença no desempenho dos colaboradores e, assim, oferecer melhores resultados para a organização” (OLIVEIRA; CAR- VALHO; ROSA, 2012, p. 13). Segundo Cortella (2016, p. 59), é “necessário entender que embora a palavra motivação significa mover, movimentar, fazer com que haja o ponto de partida para algo, ela é um estado interior. Não devemos confundir motivação com estímulo”. O servidor possui as suas próprias razões de motivação pessoal. Ao gestor, cabe agir de tal forma a atender às expectativas do empregador, sem, com isto, negligenciar a realidade dos recursos à sua disposição. Trata-se de considerar cada membroda equipe na sua totalidade, observar a satisfação das suas necessidades (MASLOW, 1970) e administrar tal informação a fim de obter os re- 115 CAPÍTULO 7 sultados desejados. Também Herzberg, Mausner e Snyderman (1959) dirão que o nível de rendimento do indivíduo depende diretamente da sua satisfação com o seu trabalho, influenciando em sua motivação. Nesta perspectiva, é preciso superar uma visão rasa do princípio da Impessoalidade, que direciona todo ato administrativo para a generali- zação, e apostar numa abordagem individual, singularizada e, nem por isto, infringente do princípio já exposto. Para tal, é possível implantar uma Gestão da Singularidade: “tratar igualmente os iguais e desigual- mente os desiguais, na exata medida de suas desigualdades” (NERY JUNIOR, 1999, p. 42). A adoção de medidas interpessoais do gestor com sua equipe, que lhes tragam sentimento de satisfação e pertencimento, passa pelo abandono do velho sistema de trabalho diário, “precisamos conseguir desenvolver me- lhor nossa equipe [...], caso contrário, estaremos utilizando grande parte do nosso tempo administrando incêndios, [...] desengajamento e queda imediata do desempenho da organização” (CARMELLO, 2013, p. 25). Essa Gestão da Singularidade consiste em acompanhar cada membro da equipe dentro do seu todo, formando um painel de desenvolvimento do servidor e conhecê-lo não apenas como recurso produtivo, mas como indivíduo. É deixar de generalizar as atividades e as ações, suspender o tradicional hábito de parabenizar e advertir a todos com a mesma me- dida. É transformar o feedback em uma ferramenta efetiva de estímulo, e o reconhecimento (pouco avocado na Administração Pública), em um substituto às moedas de troca inexistentes. Um bem valioso para o gestor é uma equipe que ainda esteja motivada. O compete, então, identificar as raízes individuais e co- letivas dessa motivação e, assim, preservá-las por meio de seu papel integrativo e mediador. Generalizar é um erro. Conhecer e trabalhar com a individualidade e a singularidade dos membros da equipe, sem perder o foco do todo, é propiciar um clima de colaboração e engajamento. O servidor produz melhor quando assume e compreende os motivos de seu trabalho. 116 CAPÍTULO 7 Quando estou comprometido, significa que estou consciente do meu compromisso funcional, que cumpro com meus papéis e minhas responsabilidades. Eu fiz um acordo e vou trabalhar até que a promessa do produto, do serviço ou da experiência se realize. Quando estou engajado, estou envolvido emocio- nalmente, há disposição e conexão emocional. O engajamento seria o compromisso funcional mais o envolvimento emocional (CARMELLO, 2013, p. 78). A respeito do foco de ação dos gestores, Carmello (2013, p. 121) continua: o foco da gestão deve estar na criação de experiências e inova- ções funcionais, úteis e significativas. Funcionais no sentido de facilitar a vida dos funcionários, para que possa focar na perfeita realização de seu trabalho, úteis no sentido de servirem a um real propósito, e significativas no sentido de terem impacto relevante para construir o verdadeiro engajamento. O gestor será sempre o mediador entre recurso e empregador, entre recurso e resultado e entre recursos. Uma equipe em sintonia é, em boa parte, mérito de seu gestor. Ao contrário, uma equipe sem sintonia é, exclusivamente, reflexo da práxis insuficiente deste mesmo profissional. Em se tratando de como aplicar os princípios da Gestão de Singu- laridade no serviço público, um bom ponto de partida é compreender que os recursos disponíveis ao gestor não são uniformes e, a partir desta realidade, identificar cada recurso segundo a sua performance. Carmello (2013) distingue três níveis: baixa, média e alta performance. Neles, o gestor, mediante cuidadosa análise, relacionará cada recurso segundo as suas características reativas às demandas de trabalho. Cabe lembrar que identificar um nível de eficiência é uma ferramenta de ges- tão, não significa fazer dele rótulo para os membros da equipe, atitude que seria potencialmente desmotivadora. Em suma, pode-se categorizar a equipe em níveis: como de alta performance para o recurso proativo, aquele que recebe uma demanda e a entrega dentro do prazo com ações e iniciativas próprias na resolução de dificuldades ou obstáculos que, porventura, se apresentaram. Outra categoria, a de média performance, 117 CAPÍTULO 7 é direcionada para o recurso coativo, aquele que recebe uma demanda e a entrega dentro do prazo, tal qual como lhe foi solicitado, sem ações ou iniciativas extras, tampouco superação de eventuais obstáculos. Por fim, a última categoria compreende o recurso de baixa performance, um recuso inativo, que recebe uma demanda e não consegue dar-lhe cabo sem algum acompanhamento de terceiros (CARMELLO, 2013). Essa identificação do nível de eficiência dos recursos disponíveis, por si só já permite um progresso dos resultados em processos dentro da Ad- ministração Pública, a partir da premissa de que eles serão distribuídos a recursos competentes ao seu grau de complexidade. Mas trata-se apenas de fundamento de outras ações que se seguem (CARMELLO, 2013). Importante na Gestão de Singularidade é o recurso da meritocracia. Nele, o recurso é reconhecido por suas realizações, na justa medida em que elas são realizadas. Nesta prática estão os feedbacks frequentes, o aproveitamento de oportunidades para estimular o recurso, fazendo-o ver o quão importante foram os seus resultados, elogiando a sua eficá- cia e/ou eficiência, promovendo momentos individuais de interação e avaliação, e ajudando-o quando seu resultado for insuficiente. Atualmente, os sistemas de avaliação de desempenho no serviço público são generalistas, considerando metas alcançadas no todo e os números produzidos por grandes equipes, não raras as vezes, dispersas por mais de uma unidade de trabalho. Não fosse o bastante, para aplicar o conhecido nivelamento por baixo, o sistema prejudica o atingimento do real objetivo da avaliação, fazendo dela um instrumento contrário: “a avaliação de desempenho com mesmas notas a todos, apenas para manter as bonificações, que dá resultado num nível de performance alta e média desmotivar-se-á diante da nota de um em nível de performance baixa” (CARMELLO, 2013, p. 46). É preciso ir além de uma aplicação séria do sistema de avaliação já existente, o que por si só é urgente, para a construção de um que consi- dere a Gestão da Singularidade, com o acompanhamento de painéis de desempenho singularizados. Não se trata de abolir os sistemas atuais de mensuração de resultados, afinal, o objetivo coletivo permanece o mes- mo e a referência é necessária. Mas trata-se de construir um painel por 118 CAPÍTULO 7 recurso, com as suas realidades, necessidades, capacidades, habilidades etc., uma ferramenta importante para o processo de aperfeiçoamento do recurso e de sua avaliação. Com ela, o gestor pode executar bem as suas tarefas dentro do modelo da Gestão de Singularidade, sem negligenciar as expectativas da Administração e nem as realidades e as necessidades dos membros da equipe. São elementos constituintes da Gestão da Singularidade, eixos nos quais o gestor norteará a sua práxis inovadora: o painel de desem- penho por recurso, elaborado de acordo com o nível de performance e de desenvolvimento individual; a avaliação de desempenho efetiva, justa, que expresse a realidade do desempenho de cada recurso, ainda que afete o valor das bonificações; a construção individual e por níveis de performance de capacitações específicas; a realização de feedbacks e a remoção de obstáculos ao desempenho da equipe (internos e externos), identificados pelo gestor e colaborativamente auxiliado pela equipe (CARMELLO, 2013). Somados a estes, há outros recursos apontados a partir das pe- culiaridades da gestão no serviço público e dos achados do presente trabalho de pesquisa, quais sejam: a proatividade do gestor norela- cionamento interpessoal, buscando integrar os membros da equipe numa atmosfera de pertencimento e participação ativa na realização das tarefas como obra colaborativamente realizada; a busca constante de integrabilidade entre os membros da equipe, com o objetivo de preservar a motivação individual e coletiva, bem como sustentar um clima organizacional saudável; e dentro das balizas erigidas pela norma brasileira, combater a cultura da estagnação e da generalização dos atos e das práticas de gestão. Finalmente, sobre a Gestão da Singularidade repousa a possibilidade de levar a Gestão de Pessoas na Administração Pública a um novo pata- mar, carregando a Gestão por Competências, atualmente vigente, com novos recursos e método a partir de uma visão aprofundada de cada membro da equipe, singular, integrativa e inovadoramente e, assim, melhorar os resultados a partir do desenvolvimento de cada integrante. 119 CAPÍTULO 7 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante de um cenário tão delicado para o agir, característico da Ad- ministração Pública, é desafiadoramente necessária a inovação constante de rotinas, práticas e modelos de gestão. Neste sentido, a Gestão da Singularidade, acrescida de alguns apon- tamentos particularmente construídos para a realidade da Gestão de Pessoas na Administração Pública brasileira, a partir dos achados de pesquisa, mostra-se um recurso para o trato empregador-empregado, gestor gerido e líder equipe. Isto focando no indivíduo como protago- nista da sua obra e de seu processo individual de realização. Urge transformar a Administração Pública em uma prestação de serviço qualitativa, que abandone velhas práticas, entre elas, princi- palmente, a do nivelamento por baixo, a da generalização e da meta pela meta. As habilidades individuais de cada agente precisam ser potencializadamente exploradas de forma integral, para que os seus resultados e os do órgão ao qual esse agente está vinculado atendam verdadeiramente às necessidades do Estado e dos seus cidadãos. A Gestão da Singularidade, audaciosamente, apresenta-se ao desafio. REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promulga- da em 5 de outubro de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 3 maio 2018. ______. Decreto-Lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967. Dispõe sobre a organização da Administração Federal, estabelece diretrizes para a Reforma Administrativa e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del0200.htm>. Acesso em: 3 maio 2018. 120 CAPÍTULO 7 ______. Decreto nº 1.171, de 22 de junho de 1994. Aprova o Códi- go de Ética Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/ d1171.htm>. Acesso em: 3 maio 2018. ______. Decreto nº 5.707, de 23 de fevereiro de 2006. Institui a Política e as Diretrizes para o Desenvolvimento de Pessoal da adminis- tração pública federal direta, autárquica e fundacional, e regulamenta dispositivos da Lei no 8.112, de 11 de dezembro de 1990. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/de- creto/d5707.htm>. Acesso em: 3 maio 2018. CARMELLO, E. Gestão da singularidade? Alta performance para equipes e líderes diferenciados. São Paulo: Gente, 2013. CORTELLA, M. S. Por que fazemos o que fazemos? Aflições vitais sobre trabalho, carreira e realização. 1. ed. São Paulo: Planeta, 2016. HERZBERG, F.; MAUSNER, B.; SNYDERMAN, B. B. The Motiva- tion to Work. 2. ed. New York: John Wiley & Sons,1959. JOSEPETTI, D. G.; OTERO, L. F.; SILVA, R. B. Gestão de pessoal da Administração Pública. Maringá: Unicesumar, 2014. MASLOW, A. H. Motivation and personality. 2. ed. New York: Harp- er and Row, 1970. MEIRELLES, H. L. Direito Administrativo Brasileiro. 30. ed. São Paulo: Malheiros, 2005. MORAIS, L. L.; SANTANA, L. P. Gestão com pessoas. Maringá: Unicesumar, 2012. 121 CAPÍTULO 7 NERY JUNIOR, N. Princípios do processo civil na constituição federal. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999. OLIVEIRA, D.; CARVALHO, R. J.; ROSA, A. C. M. Clima Or- ganizacional: Fator de Satisfação no Trabalho e Resultados Eficazes na Organização. In: SIMPÓSIO DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO E TECNOLOGIA – SEGeT, 2012, 9, Resende. Anais... Resende: SEGeT, 2012. Disponível em: <https://www.aedb.br/seget/arquivos/ artigos12/37116504.pdf>. Acesso em: 3 maio 2018. ROCHA-PINTO, S. R.; PEREIRA, C. S.; COUTINHO, M. T. C.; JOHANN, S. L. Dimensões funcionais da gestão de pessoas. 9. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2007. TAYLOR, F. W. Princípios da Administração Científica. São Paulo: Atlas, 1970. CAPÍTULO 8 123 CAPÍTULO 8 A IMPORTÂNCIA DO CONTROLE INTERNO PARA A MELHORIA DA EFICIÊNCIA DO GASTO PÚBLICO Greice Eccel Pontelli1 Juliana De Cassia Bento2 RESUMO O Brasil está passando por um momento de crise que requer cautela dos administradores públicos quanto à aplicabilidade dos recursos e a gestão dos bens públicos. Casos de corrupção e mau gerenciamento da coisa pública são noticiados seguidamente. Estapesquisa tem por objetivo verificar a importância do controle interno para a melhoria da eficiência do gasto público. Para isso, foi realizado um estudobiblio- gráfico sobre os temas controle interno, eficiência do gasto público e gestão pública a fim de atender ao objetivo geral. O controle interno assume um importante papel para o gerenciamento de recursos, permite a padronização de rotinas, maior controle e eficiência na prestação dos serviços públicos e embasa a decisão dos gestores públicos por meio da utilização de indicadores de eficiência, dados e informações. Palavras-chave: Instrumentos de gestão. Escassez de recursos. Gestão Pública. 1 Pós-graduada em Auditoria e Controladoria (EaD) pelo Centro Universitário de Maringá (UniCesumar) (2017). Mestranda no Programa de Pós-Graduação Gestão de Organizações Públicas da Universidade Federal de Santa Maria. Especialista em Gestão Pública pela Univer- sidade Federal de Santa Maria – UFSM (2016). Graduada em Ciências Contábeis pelo Centro Universitário Franciscano (2014). ² Mestre em Gestão do Conhecimento nas Organizações pelo Programa de Pós Graduação Centro Universitário de Maringá (UniCesumar). Graduada em Ciências Contábeis pela Universidade Estadual de Maringá (2006) e especialista em Contabilidade e Controle de Gestão na Univer- sidade Estadual de Maringá (2008). 124 CAPÍTULO 8 1 INTRODUÇÃO Em época de crise e consequente escassez de recursos públicos, o tema gestão do gasto público tem sido frequentemente debatido pelos gestores e órgãos de controle, a fim de melhorar a eficiência na destinação dos recursos. Diante disso, torna-se necessário encontrar mecanismos que assegurem as decisões do gestor quanto à aplicabilidade de recursos. Espe- cialmente na esfera pública, os problemas associados à corrupção não são recentes e acontecimentos dessa natureza são noticiados com frequência, uma vez que, seguidamente, a mídia evidencia infaustos e desagradáveis casos envolvendo o setor público.A atual crise econômica fez com que gestores públicos e órgãos fiscalizadores buscassem formas de melhorar a aplicabilidade de recursos públicos, reduzindo despesas e melhorando a eficiência do gasto de maneira que o fim social seja atendido. Após a crise de 2008, falar em eficiência do gasto público se tornou ponto importante para a gestão pública, visto que os gestores precisam “fazer mais com menos”, ou seja, utilizar o dinheiro público de forma eficientepara prover todos os serviços essenciais ao cidadão dispostos na Constituição Federal de 1988.A corrupção, associada à má gestão pública e à redução na arrecadação de impostos, corrobora para a crise atual do país. Nesse sentido, surge o controle interno como instrumento de me- lhoria da gestão pública que, além de tornar transparente essa gestão, proporciona à administração subsídios para garantir um bom geren-ciamento e controle dos negócios e recursos públicos. Os processos quando fiscalizados e executados de forma correta asseguram qualidade ainda no início, apresentando resultados satisfatórios, livre de erros e fraudes. Portanto, falar sobre controle interno é interessante para a administração pública, pois se trata de uma ferramenta de gestão que garante às entidades maior segurança quanto aos seus ativos, organiza- ção, qualidade nas informações e controle de seus processos. Por outro lado, a ineficiência no controle interno não permite mensurar se as metas e normas institucionais estão sendo cumpridas devidamente ou se necessitam de alterações, por isso é essencial a adoção de um controle atuante e eficiente. 125 CAPÍTULO 8 Assim, tem-se um valioso instrumento capaz de contribuir para o controle de recursos, bem como para a eficiência do gasto público: o controle interno. Com o objetivo de analisar a importância do controle interno nas organizações públicas para a melhoria da eficiência do gasto público, este artigo contribui com os órgãos públicos por mostrar como o controle interno pode melhorar a aplicabilidade dos recursos públicos na busca da eficiência, principalmente em cenários de crise. Para atender ao objetivo geral,realizou-se um estudo bibliográfico com a finalidade de verificar as contribuições do controle interno para a eficiência do gasto público referenciando estudos que englobam os temas controle interno, eficiência do gasto e gestão pública. Quanto aos objetivos, trata-se de uma pesquisa descritiva. Em relação à forma e abordagem do problema, este estudo se classifica como qualitativo. Este artigo está subdividido em trêstópicos. No primeiro, serão abordados os conceitos relativos ao controle interno; no segundo, serão apresentados conceitos sobre a eficiência do gasto público no contexto atual; por fim, no terceiro, as considerações finais. 2 CONTROLE INTERNO NO SETOR PÚBLICO As organizações necessitam de um controle eficiente e eficaz, a fim de verificar se tudo está ocorrendo conforme o planejado. Conforme Castro e Garcia (2004), “O controle é a verificação da execução física e financeira das ações, que objetiva preservar a probidade do gestor e a eficiência da gestão”. Para isso são necessários relatórios, pessoas comprometidas, responsáveis e conferências diárias, principalmente quando se trata de ativos. Segundo Almeida (2003), para uma organização o controle in- terno representa o conjunto de procedimentos, métodos ou rotinas que irão ajudar a administração na condução ordenada dos negócios. O controle interno tem por finalidade impedir erros, fraudes e inefi- ciências, observados os princípios da responsabilidade, rotinas internas, segregação de funções, salvaguarda de ativos, amarrações do sistema e confronto de ativos com registros. Na esfera pública, o controle interno 126 CAPÍTULO 8 representa um conjunto de atividades, planos, métodos e procedimen- tos interligados, com vistas a assegurar que os objetivos dos órgãos da administração pública sejam alcançados de forma confiável e concreta, evidenciando eventuais desvios desde o início da gestão até consecução dos objetivos fixados pelo Poder Público (PETER; MACHADO, 2008). Conforme José Filho (2008), o controle interno desempenha um papel importante quanto à orientação em relação às ações dos admi- nistradores a fim de assegurar a eficiente arrecadação das receitas e o apropriado emprego de recursos públicos, configurando-se em uma eficaz ferramenta no combate ao erro e à fraude, capaz de inibir ir- regularidades e resguardar os bens públicos. O controle interno deve dispor de instrumentos e processos que minimizem erros, fraudes e ineficiências com o objetivo de melhorar a gestão do gasto público e atender às exigências dos órgãos de controle externo. De acordo com Carvalho (2008), o controle interno compreende o conjunto de procedimentos adotados com vistas à salvaguarda de ativos e eficácia operacional, pode ser dividido em controles contábeis relacionados à proteção do patrimônio da empresa e aos diversos sistemas de informa- ções e controles administrativos que intentam proporcionar eficácia para operações. Em complemento, Botelho (2011) menciona que a função do controle interno compreende o acompanhamento da execução orçamen- tária (receitas e despesas), subsidiando o gestor por meio de relatórios, das eventuais distorções, da possível utilização despropositada de recursos públicos e de qualquer eventualidade de danos ao erário público. Andrade (1999, apud PINHO, 2007) mostra uma visão mais elu- cidativa ao classificar o controle interno em: • controles contábeis: estabelecidos como parte do plano geral organizatório, no tocante à estrutura contábil; • controles gerenciais: ações tomadas pela gerência para aumentar a probabilidade de que os objetivos fixados sejam atingidos; • controles operacionais: estabelecidos pela organização para acom- panhar ciclos de negócios, medindo seu desempenho, propician- do acompanhamento e, se for preciso, redirecionando negócios; 127 CAPÍTULO 8 • controles de sistemas informatizados: envolvem proteção física e a segurança de dados e informações da organização. Como não há um sistema-modelo, a organização deverá observar os princípios essenciais para constituir um controle interno, tais como: responsabilidade; rotinas internas; segregação de funções; acesso aos ativos; amarrações do sistema; e confronto de ativos com registros. Para os autores Peter e Machado (2008), o controle interno tem como objetivo geral assegurar que não ocorram erros potenciais, por meio do controle de suas causas. Para Attie (2010), o controle interno envolve inúmeros procedimentos e práticas que possibilitam o alcance de um determinado fim, ou seja, controlar. E, como regra geral, possui quatro objetivos básicos:a salvaguarda dos interesses da entidade;a precisão e a confiabilidade dos informes e relatórios contábeis, financeiros e operacio- nais;o estímulo à eficiência operacional; ea aderência às políticas existentes. Segundo Crepaldi (2012), o controle interno deve ser exercido em todos os níveis do setor público, compreendendo a preservação do patrimônio público, bemcomo o controle da execução das ações que integram os programas e, por fim, a observância de leis, regulamentos e diretrizes estabelecidas. Nesse sentido, para que os objetivos do controle interno sejam atin- gidos, a legislação cumpre um papel importante. O Quadro 1 traz a legislação aplicada ao controle interno no setor público, conforme segue. Quadro 1 – Legislação aplicada ao Controle Interno Legislação Objetivo Artigos Constituição Federal/88 Seção IX - Da Fiscalização Contábil, Financeira e Orçamentária. 70º e 74º Lei nº 4.320/64 Estatui Normas Gerais de Direito Financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municí- pios e do Distrito Federal 75º a 80º Lei Complemen- tar nº 101/00 Estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências. 59º 128 CAPÍTULO 8 Decreto 200/67 Dispõe sobre a organização da Administração Federal, estabelece diretrizes para a Reforma Administrativa e dá outras providências. 6º e 13º Lei nº 10.180/01 Organiza e disciplina os Sistemas de Planejamen- to e de Orçamento Federal, de Administração Financeira Federal, de Contabilidade Federal e de Controle Interno do Poder Executivo Federal, e dá outras providências. 19º a 21º e 24º Instrução Nor- mativa nº 01/01 – Ministério da Fazenda Define diretrizes, princípios, conceitos e aprova normas técnicas para a atuação do Sistema de Controle Interno do Poder Executivo Federal. 1º e 2º Resolução 1.135/08 – Conselho Federal de Contabilidade (CFC) Aprova a NBC T 16.8, a qual trata do controle interno das entidades públicas objetivando garantir razoável grau de eficiência e eficácia do sistema de informação contábil. Anexoda Resolu- ção Fonte: as autoras. Observa-se, assim, que leis, normas e procedimentos que a organi- zação deverá adotar com a finalidade de salvaguardar seus interesses e proteger seu patrimônio apoiam o controle interno.Na esfera federal, o Tribunal de Contas da União (TCU) exige a apresentação anual dos Relatórios de Gestão da organização (parte integrante do processo de prestação de contas),que contempla a avaliação dos controles internos da organização com base no modelo COSO I3. Ademais, outros instrumentos como a análise SWOT, análise Sta- keholder; Mapa de Processos, Análise RECI e Marco Lógico e Benchmar- king contribuem com a melhoria do controle interno da instituição quanto àverificação de erros e fraudese observância aos princípios do controle interno, como a segregação de funções, que pode ser verificada por meio do mapeamento de processos. O Quadro 2, a seguir, traz o conceito dos instrumentos referenciados anteriormente. 3 COSO I, oriundo da National Commission on Fraudulent Financial Reporting - Comissão Na- cional sobre Fraudes em Relatórios Financeiros, também conhecido como Treadway Commission, passou a se chamar The Committee of Sponsoring Organizations of the Treadway Commission - Comitê das Organizações Patrocinadoras (COSO). Considerada uma iniciativa independente para estudar as causas da ocorrência de fraudes em relatórios contábeis e financeiros, em 1995, tal comitê publicou o trabalho intitulado Controle Interno - Um Modelo Integrado (COSO, 1992). 129 CAPÍTULO 8 Quadro 2 – Síntese dos instrumentos que contribuem com o controle interno Instrumento Definição Análise SWOT Integra as metodologias de planejamento estratégico organizacio- nal. Trata-se de uma ferramenta facilitadora do diagnóstico insti- tucional e pode ser utilizada nas auditorias operacionais, servindo como guia para organizar a opinião da equipe sobre o objeto da auditoria e o ambiente no qual opera (BRASIL, 2003b). Análise Stakeholder Consiste na identificação dos principais atores envolvidos, dos seus interesses e do modo como esses interesses irão afetar os riscos e a viabilidade de programas e projetos. Está associada à apreciação institucional e à avaliação social, não só utilizando informações oriundas dessas abordagens, mas também contri- buindo para a combinação de tais dados em um único cenário (BRASIL, 2001c). Análise RECI Ferramenta que ajuda identificar quem é responsável pelas ati- vidades desenvolvidas, quem as executa, quem é consultado e quem é informado, seja no âmbito limitado de uma equipe de trabalho, seja em relação a um órgão, entidade ou programa. Contribui para o aumento da economia, eficiência e eficácia de uma instituição ou programa, podendo ser usada isoladamen- te ou como instrumento complementar a outras técnicas de diagnóstico, serve para confirmar problemas identificados com outras técnicas de análise (BRASIL, 2001d). Marco Lógico Modelo analítico para orientar a formulação, a execução, o acom- panhamento e a avaliação de programas ou projetos governamen- tais (BRASIL, 2001e). Benchmarking Técnicavoltada para identificação e implementação de boas prá- ticas de gestão. O objetivo da técnica é determinar, mediante comparações de desempenho e de boas práticas, se é possível aperfeiçoar o trabalho desenvolvido em uma organização. O Benchmarking pode ajudar na identificação de oportunidades para melhorar a eficiência e proporcionar economia. Pode ser organizacional, de desempenho ou de processo (BRASIL, 2000). Mapa de Processos Fornece uma representação gráfica das operações sob análise, evidenciando a sequencia de atividades, os agentes envolvidos, os prazos e o fluxo de documentos em uma organização ou setor (BRASIL, 2003a) Fonte: BRASIL (2003a); BRASIL (2001c); BRASIL (2001d); BRASIL (2001e); BRA- SIL (2000); BRASIL (2003a). 130 CAPÍTULO 8 Além de permitir um controle maior na organização, esses instru- mentos apoiam a tomada de decisão dos gestores púbicos. Com isso, tem-se uma gestão atuante e eficiente. 2.1 EFICIÊNCIA DO GASTO PÚBLICO A Constituição Federal de 1988 define o modelo orçamentário brasileiro, o qual se compõe de três instrumentos: Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão: I - o plano plurianual; II - as diretrizes orçamentárias; III - os orçamentos anuais (BRASIL, 1988, on-line). O Plano Plurianual estabelece as diretrizes, objetivos e metas da ad- ministração pública por um período de quatro anos, já a Lei de Diretri- zes Orçamentárias (LDO) traz os parâmetros e diretrizes para execução do orçamento previsto na Lei Orçamentária Anual que compreende as receitas e despesas dos órgãos públicos. Conforme a Lei 4.320, de 17 de março de 1964, as receitas são previstas e as despesas são fixadas, portanto cabe ao órgão obedecer ao que está previsto na LOA. Nesse viés, Maia et al. (2009) conceituam gastos públicos como ins- trumentos de atuação dos governos, utilizados para definir prioridades em relação à prestação de serviços públicos básicos e aos investimentos a serem realizados. Os gastos públicos são, portanto, a evidenciação das políticas de gestão efetuadas pelos governos.Conforme o artigo 13 da Lei 4.320/64, os gastos compreendem as despesas correntes (despesas de custeio e transferências correntes) e as despesas de capital (investimentos, inversões financeiras e transferências de capital). Medidas para a redução do gasto público são editadas seguidamente, desde a majoração de impostos até cortes bilionários no orçamento fe- deral. A Proposta de Emenda à Constituição 241/2016, famosa “PEC 131 CAPÍTULO 8 dos gastos públicos”, convertida na Emenda Constitucional 95/2016, instituiu o Novo Regime Fiscal no âmbito dos Orçamentos Fiscal e Seguridade Social da União, o qual terá vigência de vinte exercícios financeiros (BRASIL, 2016). Além da Emenda Constitucional 95/2016, o governo aprovou a Reforma Trabalhista e está unindo esforços para aprovação da Reforma da Previdência, necessária para cumprir com a nova regra do teto de gastos públicos. A limitação do gasto público, contudo, é essencial para o equilíbrio das contas públicas e deve estar associada à eficiência nas aquisições. A melhoria da qualidade do gasto público redunda em melhorar a eficiência desse gasto, ou seja, determinado investimento deverá ser concluído com o menor custo possível e gerar o máximo de benefícios para a sociedade (CHAVES, 2007). A Secretaria do Tesouro Nacional lançou, em 2015, o livro Avaliação da Qualidade do Gasto Público e Mensuração da Eficiência4, o qual traz, entre outros conteúdos, alguns indicadores para medir a eficiência do gasto público, quais sejam: Análise Envoltória de Dados (DEA) e Fron- teira Estocástica. Tratam-se, portanto, de ferramentas para verificação da eficiência do gasto público, utilizadas para a comparação de unidades produtoras de serviços públicos. Além disso, a obra traz o Software R, um software livre que permite a programação desses indicadores, bem como possui bibliotecas com rotinas para aplicação das mais variadas técnicas estatísticas e numéricas. A eficiência do gasto público compreende desde o gerenciamento do recurso até a verificação de sua aplicabilidade, requer análises aprofun- dadas sobre alocação de recursos, além do conhecimento dos gestores sobre a despesa pública e as fontes de recursos que irão financiar o gasto público. 4 BOUERI, R.; ROCHA, F.; RODOPOULOS, F. Avaliação da Qualidade do Gasto Público e Mensuração da Eficiência/ Rogério Boueri, Fabiana Rocha, Fabiana Rodopoulos (Organizado- res) - Brasília: Secretaria do Tesouro Nacional, 2015. 132 CAPÍTULO 8 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Com base na pesquisa realizada, nota-se uma grande preocupação em limitar a despesa pública, ou seja, reduzir as aquisições e despesas com pessoal, o que consequentemente prejudica investimentos pú- blicos, já que sustentar a máquina pública tem se tornado uma árdua tarefa para os gestores, ou seja, “fazer maiscom menos” recursos. Os reflexos da crise, associados ao uso inadequado de recursos e àpouca eficiência do gasto público, contribuem para a estagnação dos in- vestimentos e redução dos serviços prestados à comunidade, como educação e saúde, que já são precários no Brasil. Nesse sentido, o controle interno assume um papel importante, pois se trata de um instrumento que os administradores públicos devemse valer para gerir os negócios públicos. A relação controle interno versus eficiência do gasto público é estabelecida a partir do momento em que os dados são solicitados para elaboração de demons- trativos e estudo dos indicadores de eficiência. Quando o controle interno atua dentro da organização, os princípios são observados e a legislação é obedecida, a melhoria nas rotinas é contínua e frequente. Instrumentos como a Análise SWOT, Análise Stakeholder; Mapa de Processos, Análise RECI, Marco Lógico e Benchmarking contribuem com o controle interno da instituição e, consequentemente, com o controle e eficiência do gasto público. Ademais, é necessário que os setores da organização mantenham seus processos mapeados, dimi- nuindo retrabalho, aumentando a qualidade dos serviços prestados e apresentando resultados satisfatórios à sociedade. Por conseguinte, cabe ressaltar que o controle interno contribui para o gerenciamento dos gastos públicos, desde o estabelecimento de meca- nismos de gestão até a implementação de rotinas para redução de custos e melhoria na aplicabilidade dos recursos. Nesse sentido, os gestores, necessariamente, devem planejar e controlar as fontes de financiamentos que irão custear as aquisições, entender os processos e rotinas da orga- nização, a fim de embasar a tomada de decisão atendendo ao fim social. 133 CAPÍTULO 8 REFERÊNCIAS ALMEIDA, M. C. Auditoria: um curso moderno e completo. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2003. ATTIE, W. Auditoria: conceitos e aplicações. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010. BOTELHO, M. M. Manual de controle interno: teoria e prática. 1. ed. Curitiba: Juruá, 2011. BOUERI, R.; ROCHA, F.; RODOPOULOS, F. Avaliação da Qua- lidade do Gasto Público e Mensuração da Eficiência. In: BOUERI, R.; ROCHA, F.; RODOPOULOS, F. (orgs.). Brasília: Secretaria do Tesouro Nacional, 2015. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988: promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em: <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 25 abr. 2018. ______. Emenda Constitucional nº 95, de 15 de dezembro de 2016. Altera o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, para insti- tuir o Novo Regime Fiscal, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/ emc95.htm>. Acesso em: 25 abr. 2018. ______. Lei nº 10.180, de 6 de fevereiro de 2001. Organiza e disci- plina os Sistemas de Planejamento e de Orçamento Federal, de Admi- nistração Financeira Federal, de Contabilidade Federal e de Controle Interno do Poder Executivo Federal, e dá outras providências. 2001a. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LEIS_2001/ L10180.htm>. Acesso em: 25 abr. 2018. 134 CAPÍTULO 8 ______. Lei Complementar nº 101, de 04 de maio de 2000. Esta- belece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal e dá outras providências. Disponível em: <http://www. planalto.gov.br>. Acesso em: 25 abr. 2018. ______. Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964. Estatui normas de Direito Financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L4320.htm>. Acesso em: 25 abr. 2018. ______. Ministério da Fazenda. Instrução Normativa nº 01, de 06 de abril de 2001. Define diretrizes, princípios, conceitos e aprova nor- mas técnicas para a atuação do Sistema de Controle Interno do Poder Executivo Federal. 2001b. Disponível em: <http://www.cgu.gov.br/ sobre/legislacao/arquivos/instrucoes-normativas/in-01-06042001.pdf>. Acesso em: 25 abr. 2018. ______. Tribunal de Contas da União. Técnicas de Auditoria: análise Stakeholder. 2001c. Disponível em: <http://portal.tcu.gov.br/bibliote- ca-digital/tecnicas-de-auditoria-analise-stakeholder.htm>. Acesso em: 25 abr. 2018. ______. Tribunal de Contas da União. Técnicas de Auditoria: análise RECI. Tribunal de Contas da União. 2001d. Disponível em: <portal. tcu.gov.br/biblioteca-digital/tecnicas-de-auditoria-analise-reci.htm >. Acesso em: 25 abr. 2018. ______. Tribunal de Contas da União. Técnicas de Auditoria: marco lógico. Tribunal de Contas da União. 2001e. Disponível em: <portal. tcu.gov.br/biblioteca-digital/tecnica-de-auditoria-marco-logico.htm>. Acesso em: 25 abr. 2018. 135 CAPÍTULO 8 ______. Tribunal de Contas da União. Técnicas de Auditoria: ben- chmarking. Disponível em: <portal.tcu.gov.br/biblioteca-digital/tecni- ca-de-auditoria-benchmarking.htm >. Acesso em: 25 abr. 2018. ______. Tribunal de Contas da União. Técnicas de Auditoria: mapa de processo. Tribunal de Contas da União. Brasília: TCU, Secretaria de Fiscalização e Avaliação de Programas de Governo, 2003a. Disponível em: <portal.tcu.gov.br/biblioteca-digital/tecnica-de-auditoria-mapa-de- -processo.htm>. Acesso em: 25 abr. 2018. ______. Tribunal de Contas da União. Técnicas de Auditoria: análise SWOT e verificação de risco. Tribunal de Contas da União. Brasília: TCU, Secretaria de Fiscalização e Avaliação de Programas de Governo, 2003b. Disponível em: < http://portal.tcu.gov.br/biblioteca-digital/ tecnica-de-auditoria-analise-swot-e-verificacao-de-risco.htm>. Acesso em: 25 abr. 2018. CARVALHO, J. C. O. Auditoria geral e pública. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. CASTRO, D. P.; GARCIA, L. M. Contabilidade Pública no Governo Federal: Guia para reformulação do ensino e implantação da lógica do SIAFI nos governos municipais e estaduais com utilização do Excel. 1. ed. São Paulo: Atlas, 2004. CHAVES, R. S. A qualidade do gasto público no Brasil: propostas para melhoria. Boletim de Orçamento e Finanças, Curitiba, v. 3, n. 29, p. 845-855, set. 2007. COMMITTEE OF SPONSORING ORGANIZATIONS OF THE TREADWAY COMMISSION - COSO. Internal Control – Integrat- ed Framework: Executive Summary. United States of America: 1992. Disponível em: <https://www.coso.org/Pages/default.aspx>. Acesso em: 25 abr. 2018. 136 CAPÍTULO 8 CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. NBC T 16 Nor- mas Brasileiras Aplicadas ao Setor Público. NBC T 16.8 Controle Interno [2018]. Disponível em: < http://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/ docs/RES_1135.pdf>. Acesso em: 25 abr. 2018. CREPALDI, S. A. Auditoria Contábil: teoria e prática. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2012. JOSÉ FILHO, A. A importância do controle Interno na administração pública. Diversa, a. 1, n. 1, p. 85-99, 2008. MAIA, A.; VALLE, A.; FROSSARD, L. B. M.; CAMPOS, L. K.; MÉLO, L.; CARVALHO, M. A. B. A importância da melhoria da qualidade do Gasto Público no Brasil: propostas para alcançar este objetivo. In: CONGRESSO CONSAD DE GESTÃO PÚBLICA, 2009, 2, Brasília. Anais... Brasília: 2009. p. 1-25. Disponível em: <http://consad.org.br/wp-content/uploads/2013/02/A-IMPORT%- C3%82NCIA-DA-MELHORIA-DA-QUALIDADE-DO-GASTO- -P%C3%9ABLICO-NO-BRASIL-PROPOSTAS-PR%C3%81TI- CAS-PARA-ALCAN%C3%87AR-ESTE-OBJETIVO1.pdf>. Acesso em: 25 abr. 2018. PETER, M. G. A.; MACHADO, M. V. V. Manual de auditoria go- vernamental. São Paulo: Atlas, 2008. PINHO, R. C. S. Fundamentos de auditoria: auditoria contábil, outras aplicações de auditoria. São Paulo: Atlas, 2007. CAPÍTULO 9 139 PROTEÇÃO AOS ANIMAIS DE COMPANHIA: POLÍTICAS PÚBLICAS DE BEM-ESTAR ANIMAL E GUARDA RESPONSÁVEL NA CIDADE DE MARINGÁ-PR Marcela Malvezi De Oliveira1 Gustavo Feitoza Da Silva2 RESUMO A discussão sobre políticas públicas de bem-estar animal no Brasil tem ganhado espaço nos últimos anos. O poder público e a sociedade têm se mobilizado na luta pelos direitos dos animais, devidoa inúmeros casos de abandono e maus-tratos nos centros urbanos. O estudo tem como objetivo relacionar quais são as políticas públicas de bem-estar animal e de guarda responsável da cidade de Maringá-PR e como é a sua atuação na proteção do direito dos animais, servindo como base para a implantação de políticas públicas de direito dos animais a outras cidades e, por fim, fornecer material de pesquisa para trabalhos futuros. Para a fundamentação da pesquisa, foi realizada uma revisão bibliográfica de autores, livros e artigos recentes sobre o tema. A pesquisa constatou que a elaboração de políticas públicas voltadas ao bem-estar animal é o principal meio para alcançar resultados efetivos em longo prazo, pois promove a conscientização das pessoas a respeito da senciência dos animais e do papel de responsabilidade do tutor, cujo descumprimento das leis de proteção acarretará penalidades. Palavras-chave: Bem-estar animal. Políticas públicas. Guarda responsável de animais. 1 Pós-graduanda em Administração Pública pelo Centro Universitário Cesumar - UniCesumar. Graduada em Administração pela Faculdade Unissa. 2 Bacharel em Ciências Econômicas. Mestre em Teoria Econômica pela Universidade Estadual de Maringá - UEM. 140 CAPÍTULO 9 1 INTRODUÇÃO Preliminarmente, o bem-estar animal e a posse responsável são as- suntos que precisam ser debatidos com urgência, devido à situação de fragilidade em que os animais de companhia encontram-se e aos danos que esta inércia acarreta na sociedade. Os animais nas ruas são animais domésticos, abandonados ou so- frendo maus-tratos e, na sua grande maioria, estão nestas condições por causa do ser humano. O animal abandonado não possui os seus direitos de bem-estar garantidos e esta situação afeta o bem-estar hu- mano também, pois, sem alimentação adequada, abrigo e cuidados veterinários, os animais podem ficar agressivos, transmitir doenças e provocar acidentes de trânsito. Diante da situação em que se encontram os centros urbanos, a pes- quisa abrange a necessidade de fomentar material e ações voltadas ao direito dos animais, a fim de diminuir o número de abandono e maus- -tratos e, consequentemente, prover um ambiente mais equilibrado. O presente estudo apresenta informações que contribuem na elabora- ção de medidas de conscientização junto à sociedade, por meio de ações, na cidade de Maringá-PR, que o poder público tem adotado em defesa dos direitos dos animais. A metodologia da pesquisa utilizada é exploratória, pois ela aprimora as ideias referentes ao tema. Quanto ao delineamento, este compreende a revisão bibliográfica e de natureza qualitativa. Além desta introdução, o presente trabalho está organizado da se- guinte forma: no segundo capítulo, é apresentado o referencial biblio- gráfico em que são apontados aspectos relacionados às ações praticadas pela sociedade na defesa dos animais e apresenta um levantamento da legislação a respeito da proteção dos animais de companhia, incluindo as políticas públicas de proteção e bem-estar animal no município de Maringá-PR e os seus avanços. Por fim, no capítulo três, são apresen- tadas as considerações finais com os principais resultados do trabalho e as sugestões para futuras pesquisas. 141 CAPÍTULO 9 2 DEFESA DOS DIREITOS DOS ANIMAIS E O CONTEXTO DE MARINGÁ-PR Os cães e gatos convivem com os seres humanos desde a sua domes- ticação. Inicialmente, os cães possuíam funções de guarda da casa e de proteção à família. As espécies domesticadas modificaram os seus hábitos e a sua fisiologia para se adaptar à humanidade. Estudos comprovam a relação entre a perda de pelos dos cães e gatos e a domesticação: a espessa pelagem não era mais necessária, pois estes animais não precisavam mais dormir ao relento (GOMES, 2010). Atualmente, os animais de companhia vivem dentro das casas com a família, vão a pet shops para banhos e cuidados semanais, além de possuírem acompanhamento veterinário constante. Estima-se que a maioria das residências no país possui pelo menos um animal de companhia. Em 2013, o IBGE calculou a proporção de residências com gatos e/ou cachorros, e a pesquisa indicou que existiam 52,2 milhões de cachorros, 1,8 cachorro por domicílio, e 22,1 milhões de gatos, em média, 1,9 gato por domicílio (IBGE, 2015). Apesar de existir, no entanto, uma grande preocupação acerca dos animais de companhia, o abandono, a superpopulação e os maus-tra- tos persistem. É comum encontrar animais abandonados nos centros urbanos em situações deploráveis. Em defesa dos animais, grupos sociais, ONGs e o poder público têm se mobilizado para dar voz àqueles que não a possuem. 2.1 ASPECTOS ÉTICOS DA RELAÇÃO ANIMAIS X HUMANOS A ideia de que o animal é um objeto e que apenas serve ao ser huma- no vem do antropocentrismo tradicional, baseado na Teoria animal-ma- chine, ou Teoria Mecanicista, do filósofo René Descartes (1596-1650). Os sons emitidos pelos animais decorrentes de sofrimento ou da felicidade eram considerados como meros impulsos mecânicos, aná- logo às máquinas, portanto, não sentiam dor (ROCHA, 2004). Em 142 CAPÍTULO 9 contrapartida, o filósofo inglês John Locke (1632-1704) acreditava que os animais eram dotados de percepção e memória, sendo que alguns possuíam a capacidade de aprender e reter informações, embora não pudessem fazer o uso de linguagem devido à falta de capacidade de abstração (GORDILHO, 2009). Precursor ao pensamento de Locke e Descartes, Aristóteles (384- 322 a. C.) esclarece algumas características presentes nos animais que são semelhantes às dos seres humanos. Alguns animais são capazes de raciocinar, apesar de apresentá-lo de modo diferente do ser humano (MOREIRA, 2013). Aristóteles estuda os graus da vida, afirma que a essência do vegetal é “viver e crescer”; a do animal, “sentir dor e prazer”; a do homem, “pensar”. Aristóteles, bem antes de Descartes, em nenhum momento confundiu a razão com a possibilidade de sentir (PEGORARO, 2009, p.105). Mesmo com tantos pensamentos contrários à Teoria Mecanicista, como os de Aristóteles e Locke, a visão de Descartes persistiu até o século XX, como respaldo ético a qualquer utilização dos animais para atender às “necessidades” humanas, fomentando o especismo. Segundo Gordilho (2009, p.17): especismo trata-se de um conjunto de ideias, pensamentos, doutrinas e visões do mundo, que tem como ponto de partida a crença de que os animais não-humanos, sendo destituídos de atributos espirituais, não possuem nenhuma dignidade moral. O pensamento especista não atribui o contrato moral da sociedade aos animais. Embora pertencentes ao mesmo reino Animália, trata-se de um pensamento de que o ser humano está acima das demais espécies. Charles Darwin (apud Gordilho, 2009, p. 36) definiu os motivos do ser humano pertencer ao reino Animália: o naturalista não pode comparar nem classificar as faculdades mentais, mas apenas tentar demonstrar, como eu tenho feito, 143 CAPÍTULO 9 que entre as faculdades mentais do homem e dos animais in- feriores, não existe uma diferença essencial e específica, mas apenas uma imensa diferença de grau. Uma diferença de grau, por maior que seja, não nos autoriza a colocar o homem em um reino distinto. Contrários ao especismo, filósofos contemporâneos como Peter Sin- ger (2004) apresentam teorias de defesa aos animais. Estas correntes de pesquisa incluem a dignidade e o direito dos animais, denominadas como bem-estar animal (animal welfare) e abolicionismo animal. De acordo com Gomes (2010, p. 647), a diferença entre as duas correntes é que: enquanto a primeira defende o reconhecimento de direitos aos animais e a sua convivência digna com os seres humanos em um mesmo habitat, a segunda defende o abolicionismo dos animais, alegando que todos eles são escravos dos seres humanos e devem ser devolvidos a seu habitat, exercendo seu direito a viver longe dos seres humanos, sem a sua interferência. A base histórica da defesa dos animais acontece com ofilósofo Je- remy Bhentam (1748-1832) ao defender que, nas considerações éticas, fossem incluídos todos os seres sencientes. O filósofo faz uma analogia do comportamento especista ao escravismo, pois, em ambos os casos, o interesse da parte escravizada é de não ser tratada como objeto, se um ser sofre deve-se levar em consideração este sofrimento, que não deve ser moralmente aceito (SINGER, 2004). O autor Peter Singer, no livro Libertação Animal, publicado pela primeira vez em 1975, estende o princípio da igualdade aos animais, para que recebam um tratamento digno, de acordo com suas caracte- rísticas especiais, a fim de serem protegidos e preservados. A defesa dos direitos dos animais segue a mesma corrente do direito ambiental em garantir um meio ambiente equilibrado para os humanos hoje e para as futuras gerações por meio de medidas sustentáveis, e também um ambiente equilibrado aos animais. O defensor do abolicionismo Tom Regan (1938-2017) afirma que, para o exercício efetivo do direito animal, é necessária uma rup- 144 CAPÍTULO 9 tura total da exploração, argumentando que os animais não deixarão a sua posição de servidão enquanto estiverem em convivência com os seres humanos (GOMES, 2010). Se olharmos a questão “com olhos imparciais”, veremos um mundo transbordante de animais que são não apenas nossos parentes biológicos, como também nossos semelhantes psico- lógicos. Como nós, esses animais estão no mundo, conscientes do mundo e conscientes do que acontece com eles. E, como ocorre conosco, o que acontece com esses animais é importante para eles, quer alguém se preocupe com isto ou não. A despei- to de nossas muitas diferenças, os seres humanos e os outros mamíferos são idênticos neste aspecto fundamental, crucial: nós e eles somos sujeitos-de-uma-vida (REGAN, 2006, p. 72). Com base no exposto anteriormente, é possível uma mudança de comportamento das pessoas em relação à senciência dos animais a partir da informação e da mudança de costumes. É um longo caminho a ser percorrido e, para isto, o poder público deve garantir os direitos básicos de proteção aos animais. 2.2 AMPARO LEGAL DE PROTEÇÃO AOS ANIMAIS DE COMPANHIA No aspecto jurídico, é fundamental que existam normas para as- segurar o direito ao meio ambiente. No Brasil, a Constituição Federal de 1988 dispõe sobre a proteção ambiental conforme o Art. 225, que atribui ao poder público e à sociedade a responsabilidade de proteger o meio ambiente, o promovendo para que seja ecologicamente equilibrado às presentes e futuras gerações. O parágrafo VII apresenta o dever de proteger os animais de práticas que os coloquem em risco de extinção ou que os submetam a atos cruéis (BRASIL, 1988, on-line). O Art. 32 da lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, define pena- lidades a quem praticar maus-tratos aos animais. 145 CAPÍTULO 9 Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar ani- mais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. § 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolo- rosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos. § 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal (BRASIL, 1998, on-line). No âmbito municipal, a Câmara Municipal de Vereadores da cidade de Maringá-PR aprovou, no dia 28 de agosto de 2017, o projeto de lei nº 14.274, que prevê multa de R$ 2 mil para quem cometer maus-tra- tos aos animais. Além de prever outras penalidades administrativas, o projeto ainda define as práticas consideradas como maus-tratos. Por exemplo, manter os animais sem abrigo ou em locais em desacordo com a sua espécie e o seu porte, privá-los de alimentação adequada e água, lesá-los, agredi-los ou abandoná-los, deixar o motorista de prestar socorro ao animal atropelado, envenenar animais, utilizá-los em traba- lhos exaustivos e excessivos, dentre outras. A criação dessa proposta de lei surgiu para detalhar os crimes con- siderados maus-tratos, visto que a lei nº 9.605/98 não apresenta esta definição. O projeto de lei auxilia os fiscais durante a averiguação de denúncias, assim como apresenta penalidades e multas rigorosas no intuito de coibir a prática deste crime. 2.3 POLÍTICAS PÚBLICAS EM DEFESA DOS ANIMAIS DE COMPANHIA NO MUNICÍPIO DE MARINGÁ-PR As políticas públicas são um conjunto de ações e programas de- senvolvidos pelo poder público, com a colaboração de entes públicos ou privados direta ou indiretamente, com a finalidade de promover cidadania, saúde, bem-estar, educação, proteção ao meio ambiente e melhores condições sociais e econômicas a todos. 146 CAPÍTULO 9 O município de Maringá está desenvolvendo diversas ações de pro- teção aos animais. A intervenção do poder público é necessária diante dos inúmeros casos de abandono e maus-tratos de animais na cidade. Embora seja há pouco tempo que essas ações foram implantadas, é importante destacar os seus avanços em âmbito municipal. 2.3.1 CONSELHO MUNICIPAL DE PROTEÇÃO E BEM- -ESTAR ANIMAL (COBEM) O Conselho Municipal de Proteção e Bem-Estar Animal (COBEM) foi criado por meio da Lei Municipal nº 10.229, de 29 de junho de 2016, para atuar na proteção e no bem-estar de animais domésticos e silvestres. Participam do conselho os representantes de organizações não governamentais (ONG’s), instituições de ensino, guarda municipal, Força Verde, conselho de medicina veterinária, dentre outros. O conselho contribui na elaboração de políticas públicas, desenvol- vendo ações de conscientização sobre a posse responsável, a defesa dos animais aos maus-tratos e ao abandono, colaborando na execução do programa de educação ambiental. 2.3.2 CENTRO DE CONTROLE DE ZOONOSES (CCZ) O Centro de Controle de Zoonoses de Maringá foi inaugurado em 2014. A unidade é subordinada à Secretaria da Saúde, embora tenha como finalidade a prevenção e proteção à saúde humana, diariamente recebe denúncias de animais na rua ou vítima de maus-tratos. Segundo dados da Ouvidoria da Prefeitura, no ano de 2016, foram realizadas 919 ligações com solicitações de captura de animais soltos e abandonados nas vias públicas. Dessas solicitações, 814 foram atendidas (DIRETORIA DE COMUNICAÇÃO DE MARINGÁ, 2017c, on-line). A unidade possui um abrigo temporário de animais para executar ações, atividades e estratégias de vigilância. O CCZ orienta as pessoas 147 CAPÍTULO 9 quanto aos cuidados com os animais e a sua capacidade de transmissão de doenças, e também desenvolve atividades que estimulam a posse responsável de animais domésticos. 2.3.3 A DIRETORIA DE PROTEÇÃO E BEM-ESTAR ANIMAL A sede da Diretoria de Proteção e Bem-Estar Animal do Município de Maringá foi inaugurada no dia 24 de maio de 2017, subordinada à Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Bem-Estar Animal (SEMA). A diretoria conta com veículo próprio para a fiscalização de denúncias e resgate de animais, uma sede com amplo espaço e quadro próprio de funcionários, dentre eles, fiscais para a apuração de denúncias, médica veterinária e servidores administrativos (DIRETORIA DE COMUNI- CAÇÃO DE MARINGÁ, 2017a, on-line). A Diretoria de Proteção e Bem-Estar Animal tem como missão estimular a guarda responsável, evitar maus-tratos por meio de campa- nhas educativas, implementar políticas públicas e defender e garantir os direitos dos animais. A Diretoria atua na fiscalização de maus-tratos e na conscientização das pessoas sobre a posse responsável de animais. E também apoiará o trabalho realizado pelas ONG’s e pelos protetores independentes por meio de repasse de ração para os abrigos, visto que não será criado um abrigo municipal, pois, geralmente, os abrigos municipais transformam- -se em locais de descarte de animais. As denúncias de maus-tratos e a solicitação de resgate de animais de rua feridos ou doentes são realizadas por meio do telefone 156. No primeiro semestre de 2017, a Diretoriarealizou 520 atendimentos, dos quais 190 eram apurações de denúncias de maus-tratos, e mais de 20 resgates de animais feridos. A Diretoria de Proteção e Bem-Estar Animal realizou, em conjunto com o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), no primeiro semestre de 2017, 1.660 castrações de cães e gatos. A castração evita o aumento populacional dos animais de rua, previne doenças do aparelho reprodutor e aumenta a expectativa de vida (DI- 148 CAPÍTULO 9 RETORIA DE COMUNICAÇÃO DE MARINGÁ, 2017b, on-line). O agendamento das castrações é realizado também pelo telefone 156: podem ser castrados cães e gatos, independentemente de serem machos ou fêmeas. A castração é destinada a animais de rua pertencentes às famílias de baixa renda, às ONG’s e aos protetores independentes. Após o agendamento, o responsável pelo animal aguarda, com o número de protocolo recebido, o direcionamento à clínica conveniada. Atualmente, a Diretoria trabalha com a distribuição de folders so- bre a guarda responsável, e existe um projeto para o próximo ano, em parceria com a Secretaria de Educação, de conscientização nas escolas de ensino fundamental, em que serão abordados a guarda responsável, os maus-tratos e os abandonos de animais. A conscientização das pes- soas é a grande meta a ser alcançada, embora os seus efeitos não sejam imediatos, são duradouros e eficazes em longo prazo. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante da pesquisa bibliográfica realizada, aferiu-se que a superpo- pulação de cães e gatos nos centros urbanos tem como principal causa o abandono. No intuito de resolver esta situação, o poder público tem se mobilizado para solucionar este problema. A apresentação do contexto histórico permitiu a reflexão dos valores que os animais possuem, proporcionando uma mudança de paradigma, partindo do pressuposto de que os animais são sencientes, sentem medo, dor e emoções. E ainda são capazes de aprender comandos e armazenar algumas memórias, como o reconhecimento do tutor. Conforme apresentado no referencial teórico, foi a partir do re- conhecimento da senciência dos animais que surgiram as correntes bem-estarista e abolicionista contemporâneas, as quais deram origem à defesa dos direitos dos animais. Os atos que ferem a dignidade animal não são mais admitidos pela sociedade, esta mobilização resultou na intervenção do Estado, para, assim, garantir o progresso da sociedade. 149 CAPÍTULO 9 A linha de pesquisa do referido artigo é voltada às políticas públicas. Em sua fundamentação teórica, foram apresentadas as ações que são desenvolvidas na cidade de Maringá-PR. Embora sejam recentes, elas poderão ser utilizadas como base para a implantação de políticas públicas de bem-estar animal nas cidades vizinhas. A criação da Diretoria de Proteção e Bem-Estar Animal do município merece destaque, é uma referência a ser seguida pelas demais cidades da região. A Diretoria trabalha com ações de resultado em curto prazo, como castrações, feiras de adoção e trabalho de fiscalização de maus- -tratos, e com metas em longo prazo, como a conscientização da guarda responsável por meio de folders e campanhas e a criação do projeto de educação ambiental nas escolas, que abordará, aos alunos do ensino fun- damental, assuntos sobre maus-tratos, abandono e guarda responsável. Diante da pesquisa apresentada, conclui-se que, para a efetividade das políticas públicas em defesa da dignidade animal, a participação da sociedade nesse processo é indispensável. Nesse processo, as políticas públicas devem abranger medidas preventivas e de conscientização, aliadas à aplicação de penalidade a quem descumprir as leis de proteção aos animais. REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promul- gada em 5 de outubro de 1988. Disponível em: <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 2 maio 2018. ______. Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9605.htm>. Acesso em: 2 maio 2018. 150 CAPÍTULO 9 DIRETORIA DE COMUNICAÇÃO DE MARINGÁ. Bem-Es- tar Animal fiscalizará maus-tratos e sensibilizará posse responsável. Portal da Prefeitura de Maringá, 24 maio 2017a. Disponível em: <http://www2.maringa.pr.gov.br/site/index.php?sessao=0d6f6535e- 7550d&id=31069>. Acesso em: 2 maio 2018. ______. Bem-Estar Animal promove 1.660 castrações no 1º semestre; em 2016 foram 258 o ano inteiro. Portal da Prefeitura de Maringá, 8 ago. 2017b. Disponível em: <http://www2.maringa.pr.gov.br/site/index. php?sessao=52640d2ef25552&id=31536>. Acesso em: 2 maio 2018. ______. Unidade realiza ações de controle de zoonoses. Portal da Prefeitura de Maringá, 30 jan. 2017c. 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Acesso em: 2 maio 2018. 151 CAPÍTULO 9 MARINGÁ. Câmara Municipal. Lei nº 10.229, de 24 de junho de 2016. Cria o Conselho Municipal de Proteção e Bem-Estar Animal – COBEM, e dá outras providências. Disponível em: <http://venus. maringa.pr.gov.br/arquivos/orgao_oficial/arquivos/oom%202521.pdf>. Acesso em: 2 maio 2018. ______. Câmara Municipal. Projeto de Lei nº 14.274, de 31 de julho de 2017. Estabelece no âmbito do Município de Maringá sanções e penalidades administrativas para aqueles que praticarem maus-tratos aos animais e dá outras providências. Disponível em: <http://sapl.cmm. pr.gov.br:8080/sapl/sapl_documentos/materia/24691_texto_integral>. Acesso em: 2 maio 2018. MOREIRA, D. S. Ética: em defesa dos animais. Alumni - Revista Discente da UNIABEU, Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, p. 16-26, 2013. PEGORARO, O. Introdução à ética contemporânea. Rio de Janeiro: Mauad, 2009. REGAN, T. Jaulas vazias: encarando o desafio dos direitos dos animais. Trad. de Regina Rheda. 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Foram utilizados dados do sistema de convênios disponíveis em plataforma universal no sítio do Ministério do Planejamento, no período de 2009 a 2016. A pesquisa se classifica em quantitativa, tendo sido empregada a coleta de dados em caráter indireto em fontes bibliográfica e documental.Quanto à abordagem do conteúdo, foram utilizados o método estatístico e o método monográfi- co. Constata-se que a corporação selecionou a gestão de projetos como uma estratégia de captação de recursos e satisfação das necessidades institucionais, porém os resultados não são expressivos e há espaço para aprimoramento na aplicação dessa ferramenta de gestão. Apurou-se que 1/3 dos projetos apresentados ao governo federal são aprovados e 2/3 são rejeitados por inconformidade técnica ou por permanecerem cadas- trados aguardando alguma retificação. Verifica-se, ainda, que inexiste um padrão no número de projetos apresentados ao governo federal em 1 Mestre em Administração Pública pela Faculdade de Estudos Administrativos em Minas Gerais (2013), pós-graduado em Gestão de Projetos pelo Centro Universitário de Maringá (Unicesumar – 2017) e graduado em Ciências Militares pela Academia da Polícia Militar de Minas Gerais (2009); 2 Mestre em Administração no Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Estadual de Maringá (UEM), pós-graduada em Logística Empresarial pelo Centro de Estudos Avançados e Pós-Graduação (ESAP) e graduada no programa executivo em Marketing e Estra- tégia pela University of La Verne, Califórnia, EUA. Tem experiência no setor administrativo, atua como professora conteudista, gestora de pesquisas e orientadora. 154 CAPÍTULO 10 cada exercício financeiro. Estima-se que uma das causas para a reduzida aprovação nos projetos seja a falta ou a deficiência no treinamento. Logo, sugere-se que os colaboradores da corporação sejam capacitados e habilitados para lidar com a gestão de projetos como forma de aumentar o volume de recursos captados junto ao governo federal. Palavras-chave: Convênios. Gestão Pública. SICONV. 1 INTRODUÇÃO Os fatores econômicos, sociais e políticos estão em constante pro- cesso de mudanças. Tornar-se resiliente é uma necessidade vital para a permanência e viabilidade das organizações, públicas ou privadas, em um cenário social, marcado pela complexa heterogeneidade e acirrada competitividade. Nesse contexto, garantir recursos para o atendimento das necessidades institucionais, com a implementação de gestão da qua- lidade e atendimento das expectativas do público consumidor, contribui com a permanência e a viabilidade da Organização ao longo dos anos. A Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) tem apresentado pro- jetos ao governo federal como forma de celebrar convênios e captar recursos para a realização de investimentos em segurança pública. Entretanto, ainda não foram realizados estudos sobre os projetos apre- sentados e a correspondente aprovação ou reprovação das propostas. Assim, surge a importância, a relevância e o caráter inovador desta pesquisa. A partir da compilação dos dados e análise do volume de projetos aprovados ou reprovados, torna-se possível mensurar o mon- tante de recursos eventualmente3 arrecadados pela corporação por meio da gestão de projetos. Para a presente pesquisa, foram utilizados dados do sistema de convênios disponíveis em plataforma universal no sítio do Ministério do Planejamento, no período de 2009 a 2016. 3 A aprovação de determinado projeto não vincula no repasse de recursos. Por esse motivo, usa-se o advérbio “eventualmente”, uma vez que, embora o projeto possa estar aprovado, é possível que o recurso tenha sido contingenciado pelo governo federal, entretanto, os recursos somente são repassados após aprovação das propostas e planos de trabalho. 155 CAPÍTULO 10 Espera-se que a pesquisa contribua com a PMMG, na medida em que será possível conhecer o volume de projetos aprovados ou reprovados e, a partir daí, estabelecer novas reflexões sobre as causas de aprovação e reprovação, de forma a elevar o número de propostas aprovadas junto ao governo federal e, em efeito cascata, aumentar o volume de investimentos na corporação. Quanto à metodologia, empregou-se a coleta de dados indireta, por meio de consulta em fontes bibliográficas como monografias e livros, além de fontes documentais, como os dados disponibilizados pelo Mi- nistério do Planejamento em caráter universal e eletrônico. Quanto à abordagem do conteúdo, optou-se pelo método monográfico, pois os resultados da pesquisa são representativos e assemelham-se com a realidade vivida por outras entidades proponentes de projetos, além do método estatístico, uma vez que a pesquisa teve a finalidade de analisar uma base numérica dos projetos apresentados. Por fim, a pesquisa teve a finalidade quantitativa, ou seja, priorizou-se apontar numericamente a frequência com que os projetos são aprovados ou reprovados, sem a intenção de estudar as causas que conduziram a estes números. 2 A GESTÃO DE PROJETOS COMO MEIO DE EFICIÊNCIA ADMINISTRATIVA No ano de 1995, o Brasil iniciou uma Reforma do Estado cuja finalidade era fomentar uma cultura gerencial e descentralizada da Ad- ministração Pública, com foco em resultados e excelência na gestão, além de transparência dos respectivos atos. Essa reforma foi personificada no Plano Diretor da Reforma do Estado e no envio para o Congresso Na- cional da emenda sobre a Administração Pública que se transformaria, no ano de 1998, na Emenda Constitucional nº 19 (PEREIRA, 1998). Guardadas as devidas proporções, a Reforma Gerencial buscou o fomento de uma cultura de excelência na gestão pública e na aplicação de técnicas e ferramentas típicas do setor privado ao setor público. Cita-se como exemplo o foco no cidadão, a busca por resultados, a descentrali- 156 CAPÍTULO 10 zação, a avaliação de desempenho dos servidores, a disponibilidade de despesas públicas para livre consulta e o fomento da transparência, ou seja, busca-se a efetividade no gasto público (SOUZA, 2003). Nessa conjuntura de se tornar mais transparente e efetiva, fiscali- zações empreendidas pelo Tribunal de Contas da União, realizadas no ano de 2006, detectaram fragilidades no controle dos recursos federais repassados mediante transferências voluntárias aos órgãos proponentes. Essas irregularidades foram descritas no Acórdão 788/2006 – Plenário e encaminhadas ao governo federal para as tratativas e correções devidas. Como resposta ao Acórdão 788/2006, por meio do Decreto nº. 6.170/2007, o governo federal alterou a metodologia de repasse de recursos da União. Com o objetivo de amenizar as fragilidades na transferência de recursos, o governo federal lançou, no ano de 2008, um sistema em plataforma web para promover a gestão de projetos e a administração das transferências voluntárias de recursos em convê- nios firmados com estados, municípios, Distrito Federal e também com as entidades privadas sem fins lucrativos. A partir de então, as transferências foram inseridas e geridas neste novo sistema: Sistema de Convênios - SICONV (BRASIL, 2013). Embora no governo federal já exigisse a apresentação de um plano de trabalho para a liberação de recursos, a partir da criação do SICONV, a gestão de projetos passa a ganhar notoriedade na gestão pública, uma vez que a apresentação de projetos se tornou requisito para a liberação de recursos aos órgãos proponentes. Em efeito cascata, houve a neces- sidade dos órgãos proponentes aperfeiçoarem suas estruturas internas para atenderem às novas exigências do governo federal. Segundo o Project Management Institute (PMI), “gerenciamento de projetos é a aplicação do conhecimento, habilidades, ferramentas e técnicas às atividades do projeto para atender aos seus requisitos” (PMI, 2013, p. 5). E, projeto, ainda de acordo com o PMI, consiste no “esforço temporário empreendido para criar um produto, serviço ou resultado exclusivo” (PMI, 2013, p. 3). Paralelamente, o Tribunal de Contas da União descreve que: 157 CAPÍTULO 10 Projeto básico é o documento por meio do qual o proponente deve caracterizar precisamente a obra, a instalação ou o serviço objeto do convênio, inclusive quanto sua viabilidade técnica, custo, fases ou etapas e prazos de execução.Deve ser elaborado com base em estudos técnicos preliminares e assegurar o ade- quado tratamento do impacto ambiental do empreendimento (BRASIL, 2013, p. 35). A gestão de projetos é o instrumento pelo qual os órgãos proponentes necessariamente precisam adquirir a expertise e dominar o conteúdo, visto que os recursos federais somente são liberados por meio desse instrumento. 3 A GESTÃO DE PROJETOS E A CAPTAÇÃO DE RECURSOS No cenário atual, é imprescindível que as Organizações tenham a sensibilidade de conhecer as necessidades de seus clientes e beneficiários e aprimorem seus serviços ou produtos, customizando-os com a chancela da qualidade, efetividade e criatividade. Neste contexto, a PMMG, órgão da Administração Direta, há 242 anos presta serviços de proteção e segurança à sociedade mineira. Presen- te nos 853 municípios do Estado, a Corporação conta com um efetivo aproximado de 42.000 Policiais Militares. Para suprir as necessidades institucionais, a PMMG dispõe de recur- sos provenientes da Lei Orçamentária Anual em cada exercício finan- ceiro, entretanto, essa reserva orçamentária não é suficiente para suprir todas as necessidades institucionais. Logo, torna-se necessário buscar outras fontes suplementares de investimentos. A apresentação de projetos junto ao Poder Judiciário, junto à Assembleia Legislativa e a Parlamentares Estaduais constituem fontes alternativas para a captação de recursos, no entanto, o objeto desta pesquisa é analisar o montante de projetos apresentados ao governo federal. Logo, do objeto desta pesquisa, excluem-se as propostas apresentadas nos níveis estadual ou municipal. 158 CAPÍTULO 10 A União promove a transferência de recursos do orçamento federal mediante a celebração de convênios, contratos de repasse e termos de parceria. Esses instrumentos operacionalizam um sistema de mútua cooperação entre o governo federal e as demais Unidades Federativas da República, Municípios, Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público e Organizações Não Governamentais, isto é, desde que haja interesse recíproco no objeto proposto (BRASIL, 2013, p. 17). Faz-se necessário mencionar que convênio é conceituado como um acordo firmado entre as entidades públicas de qualquer espécie, ou entre estas e as instituições privadas, com a finalidade de atender objetivos comuns (MEIRELLES, 2013, p. 464). A captação de recursos segue um rito próprio, composto por quatro etapas: proposição; celebração ou formalização; execução; e prestação de contas. A primeira etapa – proposição – refere-se à apresentação de um projeto pelo órgão convenente cujo escopo, objeto e finalidade seja de interesse comum do Proponente e do Concedente. A fase da celebração consiste na formalização do convênio entre o governo federal e o órgão proponente. A execução é a etapa na qual será implementado o projeto, conforme proposta apresentada. Por fim, há o momento da prestação de contas, no qual se checará se o convênio atendeu aos objetivos propostos e se a execução foi realizada em con- formidade com o planejado. 4 A GESTÃO DE PROJETOS NA PMMG A gestão pública de excelência permeia a capacidade das Organiza- ções promoverem um planejamento adequado às necessidades da socie- dade. Trata-se da capacidade de promover o planejamento estratégico. Fernandes (2017, p. 119) postula: A estratégia, também denominada de ação estratégica, significa um rol de ações escolhidas que conduzirão aos objetivos delinea- dos. Trata-se do caminho a ser percorrido entre o diagnóstico e o objetivo a ser alcançado. 159 CAPÍTULO 10 Estas ações são descritas em uma diretriz chamada de Plano Estra- tégico e, via de regra, são elaboradas para aplicação em médio prazo. A PMMG elaborou, ao longo de sua existência, cinco Planos Estratégicos (ARANTES, 2011, p. 18). O primeiro Plano Estratégico, chamado de Diretrizes para Ação de Comando, foi lavrado em dezembro de 1973, sua vigência era prevista para o ano de 1974. Segundo Arantes (2011, p. 18), com o referido plano a Organização buscava, na época, melhorar o futuro por meio de uma intervenção no presente. Posteriormente, a Corporação lavrou os Planos Estratégicos vigentes para os seguintes anos: 2004-2008; 2009- 2011; 2012-2015; e 2016-2019. Constata-se que a PMMG descreveu a Gestão de Projetos como um dos objetivos organizacionais comuns dos últimos quatro Planos Estratégicos, como forma de instrumentalizar e viabilizar a captação de recursos orçamentários seja de ordem estadual ou federal. A gênese da gestão de projetos na PMMG é anterior à criação do SINCONV. Conforme Dias (2008, p. 128), o primeiro marco da apli- cação de metodologia de gestão de projetos na PMMG data do ano de 2001, quando foi promulgada a Lei Federal nº 10.201, de 14 de fevereiro de 2001, que instituiu o Fundo Nacional de Segurança Pública. Esse fundo foi criado para atender as necessidades de modernização e treinamento dos órgãos de segurança pública mediante a apresentação de projetos ao governo federal. Visando a necessidade de adaptar-se à exigência e absorver a expertise na elaboração de propostas, a PMMG criou, no ano de 2003, em sua estrutura organizacional, a Assessoria de Projetos no Núcleo Estratégico da Corporação. Esse embrião de um escritório de projetos era respon- sável por coordenar as propostas da Corporação com vistas à captação de recursos (DIAS, 2008, p. 128). Desde então, a PMMG tem estabelecido o seu escritório de proje- tos em sua arquitetura organizacional, pontuando, ainda, nos Planos Estratégicos, a necessidade de aprimorar a Gestão de projetos como meio de fomentar a captação de recursos para o atendimento das necessidades institucionais. 160 CAPÍTULO 10 No ano de 2007, a assessoria de projetos é institucionalmente aper- feiçoada conquistando dimensões mais representativas e significativas junto à corporação. Já em 2008, a corporação altera a assessoria de projetos, aperfeiçoando-a, e conferindo novas competências e nova nomenclatura. A partir de então, o escritório de projetos passou a ser chamado de Assessoria de Gestão para Resultados (AGR) e passou a acumular tarefas relacionadas ao acompanhamento de indicadores e metas pactuadas junto ao Governo Estadual. No ano de 2013, há nova alteração na AGR, passando a ser cha- mada de Assessoria de Desenvolvimento Organizacional (ADO). Essa estrutura, além de gestão de projetos, assumiu a responsabilidade pelas áreas de estratégia, qualidade, conhecimento e processos no nível estra- tégico. No ano de 2017, o gerenciamento de projetos passou a ser de responsabilidade da Diretoria de Orçamento e Finanças. 5 ANÁLISE DOS PROJETOS APRESENTADOS PELA PMMG À UNIÃO A PMMG apresentou projetos na plataforma SICONV desde o ano de 2009. O objeto das propostas possui uma malha de finalidades dis- tintas e se refere ao reaparelhamento logístico, à construção de quartéis, à aquisição de viaturas, aos mobiliários, à capacitação profissional dos Policiais Militares, dentre outros. No período entre 2009 a 2016, foram 131 projetos apresentados ao governo federal cujo montante de todas as propostas somaram R$ 204.126.436,83 (Figura 1). Das 131 propostas apresentadas, 44 foram aprovadas pela União, o que corresponde a soma de R$ 71.426.556,55. Esses 44 projetos aprovados perfazem 33,59% do total das propostas apresentadas, ou seja, de cada três propostas apresentadas pela PMMG ao governo federal no período de 2009-2016, apenas uma foi devidamente aprovada. O deferimento do projeto no SICONV constitui a etapa inicial para a liberação de recursos e é um sinal de que a Organização, por meio do Gerente de Projeto, conseguiu descrever tecnicamente a 161 CAPÍTULO 10 viabilidade da proposta, bem como o objeto, a finalidade, a justificativa e a metodologia de trabalho, além da mensuração dos resultados. A aprovação do plano de trabalho significa que houve êxito na pro- positura e consiste na circunstância ideal de cada projeto apresentado. A distribuição dosprojetos aprovados, rejeitados ou que permane- ceram cadastrados no SICONV aguardando alguma complementação segue representada na Tabela 1 e na Figura 1 a seguir. Tabela 1 – Projetos apresentados pela PMMG ao governo federal, período de 2009-2016 Status do Projeto/Ano da proposta 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 Total Valor Global do Projeto Percentual de Propostas Percentual de Valores Projeto Aprovado 2 6 2 3 4 12 5 10 44 R$ 71.426.556,55 33,59% 34,99% Projeto enviado para análise/Pla- no de trabalho em Complemen- tação/Cadastro 19 1 0 2 3 2 31 1 59 R$ 104.018.780,88 45,04% 50,96% Projeto Rejeitado 3 0 0 2 0 1 6 16 28 R$ 28.681.099,40 21,37% 14,05% Total de Projetos Apresentados 24 7 2 7 7 15 42 27 131 R$ 204.126.436,83 100,0% 100,0% Fonte: Brasil (2017, on-line). R$ 28.681.099,40 R$ 71.426.556,55 R$ 104.018.780,88 Projeto Aprovado Projeto enviado para análise/Plano de trabalho em Complementação/Cadastro Projeto Rejeitado Figura 1 - Análise dos projetos apresentados pela PMMG ao governo federal Fonte: os autores. 162 CAPÍTULO 10 Em contrapartida, 59 das 131 propostas apresentadas não tiveram êxito no processo de proposição em virtude de permaneceram cadas- tradas, ou em análise no SICONV, ou aguardando complementação, ou retificação do plano de trabalho. Proporcionalmente, estes números representam 45,04% do total de projetos apresentados pela PMMG à União e correspondem ao valor de R$ 104.018.780,88. Uma proposta apresentada no SICONV carece de acompanhamento junto ao concedente, a fim de melhor conhecer as circunstâncias de rejeição por parte do técnico parecerista e análise de possibilidades da aprovação do projeto a partir das retificações recomendadas. Nesses termos, 45,04% das propostas apresentadas – 59 projetos – aguardavam alguma complementação do plano de trabalho, ou somente permane- ceram cadastradas no sistema, sem o acompanhamento devido. Nestas circunstâncias, é importante que a Organização, por meio dos Gerentes de Projeto, acompanhe os trâmites da propositura como forma de realizar as retificações recomendadas pelos técnicos pareceristas ou até mesmo provocar o Convenente para alinhar o prosseguimento da proposta. Por outro lado, dos 131 projetos apresentados, 28 foram rejeita- dos por alguma falha técnica, o que corresponde ao montante de R$ 28.681.099,40 e a 21,37% do total de propostas apresentadas. Esses dados demonstram que houve alguma falha técnica na elaboração do projeto, o que inviabilizou o prosseguimento da proposta e corresponde a uma circunstância a ser evitada pelos Gerentes de Projetos. Constata-se que a PMMG tem apresentado projetos ao governo federal, porém o índice de aprovação de 33,59% revela que há espaço para aprimoramento da gestão de projetos na Organização, em especial, quanto à capacitação de colaboradores. Proporcionalmente, de cada três propostas apresentadas pela corporação ao governo federal, duas não chegam a concluir a primeira etapa do ciclo de liberação de recur- sos – a fase da proposição. Sendo assim, a organização tem dispensado tempo, energia e trabalho em projetos que não chegarão a concluir sua finalidade, a qual se materializa no atendimento das necessidades organizacionais por meio da captação de recursos. 163 CAPÍTULO 10 Ao analisar a Tabela 1, verifica-se que inexiste um padrão no número de projetos apresentados no período 2009-2016. Esse dado demonstra que os projetos são apresentados de acordo com as necessidades orga- nizacionais da PMMG, inexistindo uma quantidade padronizada de propostas apresentadas ao governo federal. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS As organizações públicas vivenciam a experiência da transforma- ção de uma Escola Burocrática, como foco no processo para a escola gerencial, voltada para resultados. Corroborando com esta transição e buscando implementar medidas mais transparentes e efetivas, o governo federal, desde o ano de 2008, condensou as transferências de recursos mediante a apresentação de projetos em uma plataforma web, mais transparente e efetiva. Dessa maneira, os órgãos que buscam os recursos federais precisam se adaptar a esta metodologia e aplicar a gestão de projetos nessa plataforma. A atividade de polícia ostensiva carece de constantes investimentos em Pessoal, Marketing, Inteligência, Comunicações, Logística, Tecno- logia, entre outros. Logo, ter recursos orçamentários que viabilizem a manutenção e a constante evolução logística é fator preponderante para a prestação de serviços públicos de qualidade pela Corporação. Nesse contexto, surge a gestão de projetos como o caminho pelo qual a corpo- ração possa captar os recursos e atender as necessidades organizacionais. Percebe-se que a corporação tem instituído o gerenciamento de projetos como uma das estratégias para a captação de recursos e a sa- tisfação de necessidades organizacionais ao longo das últimas décadas. Constata-se, porém, que há espaço para aprimoramento na capacitação dos Integrantes da Corporação para a aprovação de um número maior de propostas. Conforme visto, apenas 1/3 das propostas apresentadas são aprovadas e aproximadamente metade dos projetos – 45,04% - perma- necem como cadastrados ou aguardando alguma complementação no plano de trabalho. Significa dizer que a corporação tem dispensado tem- 164 CAPÍTULO 10 po, dinheiro e energia em propostas que não alcançarão sua finalidade. A implementação de uma cultura gerencial consiste em um pro- cesso longo e suscetível a interferências política, econômica, social e ambiental. Percebe-se que a PMMG selecionou a gestão de projetos nas últimas duas décadas como um instrumento para aperfeiçoar a capilaridade investimentos e na consequente satisfação das necessidades organizacionais. A presente pesquisa não tem o viés de identificar e analisar as fontes para a não aprovação de 2/3 dos projetos apresentados. Porém, pode-se estimar que a falta de capacitação dos Integrantes da Corporação ou a deficiência no treinamento contribuíram o número reduzido de propostas aprovadas. Assim, propõe-se que a corporação aprimore seus processos orga- nizacionais, em especial, quanto ao treinamento e a capacitação dos colaboradores em gestão de projetos, de maneira a tornar mais efetiva a captação de recursos e a aprovação de propostas junto ao governo federal. REFERÊNCIAS ARANTES, F. A. A implementação da Estratégia na PMMG: uma pro- posta de inovações ao modelo previsto no Sistema de Gestão Estratégica para Resultados. 2011. 97 f. Monografia (Especialização) – Curso de Gestão Estratégica em Segurança Pública - CEGESP, Academia da Polícia Militar de Minas Gerais, Polícia Militar de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2011. BRASIL. Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão. Propostas cadastradas no Sistema de Convênios do governo federal. Disponível em:< http://portal.convenios.gov.br/download-de-dados>. Acesso em: 15 ago. 2017. ______. Tribunal de Contas da União. Convênios e outros repasses. 4. ed. Brasília: Secretaria Geral de Controle Externo, 2013. http://portal.convenios.gov.br/download-de-dados 165 CAPÍTULO 10 DIAS, M. A. Desafios para implementação de uma plataforma de gerenciamento de projetos: o caso da Polícia Militar de Minas Gerais. 2008. 207 f. Monografia (Especialização) – Curso de Especialização em Segurança Pública, Academia da Polícia Militar de Minas Gerais, Polícia Militar de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2008. FERNANDES, S. H. S. Fundamentos de Planejamento Prospectivo aplicados à Polícia Militar. 3. ed. Belo Horizonte: D’Plácido, 2017. MEIRELLES, H. L. Direito Administrativo Brasileiro. 39. ed. São Paulo: Malheiros, 2013. PEREIRA, L. C. B. Reforma do Estado para a cidadania: a Reforma Gerencial Brasileira na Perspectiva Internacional. São Paulo: 34, 1998. PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE - PMI. Um guia do co- nhecimento em gerenciamento de projetos. Guia PMBOK. 5. ed. Newton Square: Project Management Institute, 2013. SOUZA, R. V. Do exército estadualà polícia de resultados: crises e mudanças de paradigmas na produção doutrinária da Polícia Militar de Minas Gerais. 2003. 317 f. Dissertação (Mestrado em Administração Pública) – Fundação João Pinheiro, Belo Horizonte, 2003. CAPÍTULO 11 167 CAPÍTULO 11 ANÁLISE DA IMPLANTAÇÃO DE SISTEMA DE GESTÃO DE TRÂNSITO EM UMA CIDADE - ESTUDO DE CASO DA CIDADE DE CURITIBA Thais Volttani Koyama1 Yony Brugnolo Alves2 RESUMO Este artigo tem como tema a implantação e análise de uma ferra- menta de gestão de trânsito em uma cidade. O problema norteador da pesquisa é a busca de qualidade ao usuário do sistema de trânsito nos grandes centros, assim como a solução para os problemas de mobilidade urbana. O objetivo da pesquisa foi relatar e verificar a situação antes e depois da implantação da ferramenta denominada Área Calma, assim como suas consequências aos usuários. Em relação aos procedimentos metodológicos, tem-se uma avaliação com dados qualitativos informa- dos pela Prefeitura da cidade e demais órgãos responsáveis. Os resultados do universo pesquisado apontaram 33% de redução no número de acidentes de trânsito. A relevância dos resultados indicou o lado positivo da iniciativa municipal de alterar leis municipais para alcançar mais segurança nas vias públicas. Considerou-se válida essa iniciativa, bem como se sugere essa implantação em mais locais na cidade. Palavras-chave: Planejamento de trânsito. Mobilidade Urbana. Curitiba. 1 Pós-graduanda em EaD em Planejamento e Gestão de Trânsito pelo Centro Universitário de Maringá (UniCesumar). Graduada em Engenharia Civil pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). 2 Mestre em Desenvolvimento Regional e Agronegócio pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE). Graduada em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). 168 CAPÍTULO 11 1 INTRODUÇÃO As primeiras cidades surgiram assim que o homem começou a do- minar a agricultura. Produzindo e estocando seus alimentos, o homem se tornou sedentário e surgiram as primeiras civilizações. O transporte acabou sendo essencial para a interligação e desenvolvimento dessas pequenas cidades. Com as primeiras cidades, surgem também os pri- meiros problemas de organização e locomoção. Desse modo, vê-se a necessidade de planejamento e organização para que todos os usuários do espaço urbano sejam eles pessoas, veículos motorizados ou não motorizados, pudessem realizar suas atividades. A mobilidade urbana é um dos fatores imprescindíveis para a sobrevivência e bom funcionamento das cidades. O estudo do planejamento de trânsito e sistemas de gestão que faci- litem a mobilidade urbana e a organização das cidades é tema recorrente em discussões e este artigo apresenta e analisa um estudo de caso de implementação de modelo e sua eficiência. Assim sendo, este artigo apresenta uma breve análise de uma ferra- menta de gestão de trânsito aplicado em uma cidade. Buscou-se verificar se a implantação da chamada Área Calma influenciou ou não no número de acidentes na cidade. Este artigo está subdividido em quatro grandes tópicos, além dessa introdução. No primeiro, o referencial teórico é apresentado; no se- gundo tópico; a metodologia é apresentada; no terceiro, os resultados encontrados; e no quarto, por fim, há as considerações finais. 2 MOBILIDADE URBANA Dá-se o nome de mobilidade urbana ao deslocamento de cargas ou pessoas pelo espaço urbano de uma cidade. É imprescindível para um bom funcionamento das cidades, que a mobilidade urbana seja estudada por arquitetos, urbanistas, engenheiros e outros profissionais. De acordo com Lerner (2013), o aumento populacional ocasionou 169 CAPÍTULO 11 diminuição dos espaços de circulação e, cronologicamente, a criação de novos modos de transporte gerou problemas ainda maiores. O cenário atual demonstra cidades lotadas, com congestionamentos, acidentes e ameaças constantes ao conforto da população. Gehl (2013) explica que é necessário rever os modelos de organização das cidades e planejar, de maneira adequada, melhores condições de locomoção para todos os usuários do espaço público urbano. É impor- tante ressaltar que uma grande ferramenta da mobilidade urbana seria a utilização de meios coletivos de transporte, entretanto as políticas públicas do Brasil não favorecem o uso de transporte coletivo. Conforme Campos (2006), a gestão de transportes deve estar in- serida no contexto socioeconômico da cidade. Deve-se proporcionar acesso a todos de forma eficiente garantindo ou até mesmo melhorando a qualidade de vida da população já pensando em futuras gerações. Pontes (2010) esclarece que a discussão sobre mobilidade urbana no Brasil é tratada como assunto de engenharia de tráfego ou planejamento de transporte. Verificou-se, contudo, insuficiente o estudo por apenas essas áreas, visto que questões de mobilidade urbana devem ser consi- deradas também sob aspectos, como social, ambiental e econômico, a partir de um planejamento urbano integrado. 2.1 POLÍTICAS PÚBLICAS E GESTÃO DE TRÂNSITO Na tentativa de melhores políticas de mobilidade, em 2012 foi aprovada a Lei Federal nº 12.587, que instituiu as diretrizes para a Política Nacional de Mobilidade Urbana. Determina-se que sejam to- madas medidas que deem prioridade à utilização de meios de transporte alternativos, sejam eles coletivos ou veículos não motorizados. Além disso, instituiu-se que o plano diretor das cidades com mais de 20 mil habitantes atenda a esses novos modelos de mobilidade (BRASIL, 2012). Curitiba vem sendo referência no quesito planejamento. Desde 1943, o planejamento foi meta de todos os prefeitos que a administra- ram. De acordo com a legislação federal – Estatuto das Cidades - Lei 170 CAPÍTULO 11 nº 10.257, de 10 de julho de 2001 –, deve-se realizar a revisão do Plano Diretor a cada 10 anos (BRASIL, 2001). Além disso, a cidade conta com a participação da população em audiências de discussão para revisão. O Plano Diretor de Curitiba estrutura de que modo deve ocorrer o funcionamento da cidade com qualidade. O objetivo é alcançar as metas de organização por meio de programas e políticas orientadoras do de- senvolvimento urbano. Em 2015, a revisão no plano diretor implantou a Área Calma na região central da cidade (Curitiba, [2018], on-line). A Área Calma é definida por um perímetro na região central da cidade pela qual os veículos circulam com velocidade máxima de 40 km/h. O principal objetivo é aumentar a segurança dos usuários da via, sejam eles pedestres usuários de transporte coletivos e individuais ou modais não motorizados. Além disso, buscou humanizar o espaço público central da cidade, propiciando ambiente que todos os usuários possam conviver sem apresentar perigo uns aos outros (PREFEITURA MUNICIPAL DE CURITIBA, 2016, on-line). A Área Calma possui 133 cruzamentos semaforizados. A forma de controle encontrada foi a instalação de 22 fiscalizações eletrônicas nesses cruzamentos para a garantia de respeito aos 40 Km/h determinados. Além disso, buscou-se melhorar a sinalização do perímetro instituído com pinturas no pavimento, placas indicativas do limite de velocidade e também placas indicando o início da Área Calma nas ruas que precedem o perímetro de- terminado (PREFEITURA MUNICIPAL DE CURITIBA, 2016, on-line). 3 ESTUDO DA MOBILIDADE EM GRANDE CENTRO URBANO Enquanto não se consegue melhorias de políticas de transporte coletivo para favorecer a mobilidade nos grandes centros urbanos, o pla- nejamento urbano busca alterações ou novas opções de gerenciamento de trânsito para que se diminuam os problemas gerados por causa da grande frota de veículos. A seguir, verifica-se a tentativa de alteração na velocidade de vias para apresentar melhor segurança aos usuários. 171 CAPÍTULO 11 3.1 DELIMITAÇÃO DA PESQUISA A pesquisa foi realizada em uma cidade de grande porte, uma capital que possui 20 municípios em sua região metropolitana. 3.2 TÉCNICA A SER UTILIZADA Foram utilizadosdados pesquisados pela Prefeitura Municipal de Curitiba por meio da Superintendência de Trânsito e Batalhão de Polícia de Trânsito (BPTran), considerando o período 11meses antes e 11 meses após a implantação da Área calma na cidade. 3.3 ANÁLISE DOS DADOS E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS Para análise, foram considerados dados de acidentes acontecidos na região central de Curitiba, região está que posteriormente foi chamada Área Calma. Foram analisados dados obtidos por meio de pesquisa em dois períodos. O período 1 compreendia os 11 meses que antecediam a implantação do projeto. O segundo período foi determinado pelos 11 meses posteriores à implantação da Área Calma. O conceito da Área Calma foi implantado na cidade em novem- bro de 2015. Iniciou-se estudo com dados de acidentes obtidos deste período até outubro de 2016. Assim, para que houvesse parâmetros comparativos, verificaram-se também os 11 meses que antecederam a implantação, ou seja, de dezembro de 2014 a novembro de 2015. Inicialmente, a ideia da prefeitura era que o projeto abrangesse apenas ruas da região central de Curitiba, ou seja, a região com maior fluxo de circulação de pessoas e veículos. As vias tinham como limite de velocidade 50 km/h e até 60 km/h. Todas elas foram limitadas a 40 km/h após o início da Área Calma. 172 CAPÍTULO 11 No período 1, houve, de acordo com Prefeitura de Curitiba, 295 acidentes de trânsito anterior à implantação do sistema. No período 2, 199 acidentes ocorreram. E em relação aos acidentes com vítimas por atropelamento, foram apontados, no primeiro momento, 104 acidentes, enquanto que, posteriormente, foram verificados 74 acidentes. Paralelamente aos dados de acidentes, obtiveram-se dados de multas aplicadas, sejam elas por agentes de trânsito ou pelos radares semafó- ricos instalados. Assim como os dados anteriores, foram considerados períodos antes e depois da implantação. Nos 11 meses anteriores, foram aplicadas 347 mil multas, uma média superior a 32 mil multas por mês. No período subsequente, verificaram-se 455 mil multas aplicadas, tendo em média em torno de 41 mil multas mensais. A diminuição nos números de acidente se deu em torno de 33% quando se verifica apenas os dados de acidentes gerais. A diminuição de acidentes com atropelamento também foi significativa após a implanta- ção da ferramenta do sistema de gestão de trânsito, em torno de 29%. Inversamente proporcional aos dados mencionados, as multas apli- cadas no período nas proximidades da Área Calma cresceram conside- ravelmente. Houve aumento de 31% nas multas aplicadas. Embora, aparentemente, justifique-se a ampliação do modelo de gestão para mais locais da cidade, ainda não há planos por parte da prefeitura para tal implantação. Cogita-se que o sistema mesmo que bem implementado pode gerar maiores congestionamentos se aplica- dos em áreas não tão centrais da cidade, havendo, assim, necessidade de estudos mais abrangentes e levando em consideração outros dados para uma conclusão. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Após verificação dos dados apresentados, acredita-se que a pesquisa evidencia a importância da implantação e revisão das políticas públi- cas, a fim de se obter melhores resultados e consequente melhoria na qualidade de vida dos usuários das vias públicas. 173 CAPÍTULO 11 A diminuição em torno de 33% nos acidentes foi satisfatória e comprova que a diminuição da velocidade na área central de Curitiba, em conjunto com uma maior fiscalização, pode resultar em maior se- gurança aos usuários. O sistema contribui para segurança principalmente dos mais vulne- ráveis, sendo eles pedestres e ciclistas. Além disso, possibilita um melhor funcionamento de vias compartilhadas entre os modos de transporte não motorizados. Contribui diretamente para a melhoria da mobilidade urbana e redução da poluição nas regiões centrais da cidade. Acredita-se que a ampliação do sistema em demais trechos da cidade poderia contribuir mais para segurança na mobilidade urbana. Além disso, com maior tempo de implantação, as multas podem diminuir visto que o usuário tende a se educar e se acostumar com as novas regras da via. Cabe aos governantes, engenheiros e arquitetos a verificação de novas políticas e implantação de programas que melhorem a configuração do trânsito urbano. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001. Regulamenta os artigos 182 e 183 da Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10257.htm>. Acesso em: 26 abr. 2018. ______. Lei n° 12.587, de 3 de janeiro de 2012. Institui as diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana. Disponível em: < http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12587.htm>. Acesso em: 26 abr. 2018. CAMPOS, V. B. G. Uma Visão da Mobilidade Urbana Sustentável. Re- vista dos Transportes Públicos – ANTP, a. 28, n. 110, p. 99-106, 2006. 174 CAPÍTULO 11 CURITIBA. Plano Diretor de Curitiba, 2014-2024. Portal da Pre- feitura Municipal de Curitiba [2018]. Disponível em: <http://www. curitiba.pr.gov.br/planodiretor>. Acesso em: 26 abr. 2018. GEHL, J. Cidade para pessoas. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 2013. LERNER, J. Prólogo à edição brasileira. In: GEHL, J. Cidades para pessoas. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 2013. p. 12-13. PONTES, T. F. Avaliação da Mobilidade Urbana na Área Metropo- litana de Brasília. 2010. 275 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Brasília, Brasília, 2010. PREFEITURA MUNICIPAL DE CURITIBA. Secretaria Municipal da Comunicação Social. Área calma completa um ano com redução de acidentes e multas. Prefeitura Municipal de Curitiba, 16 nov. 2016. Disponível em: <http://www.curitiba.pr.gov.br/noticias/noticiaimpres- sao.aspx?codigo=40574>. Acesso em: 26 abr. 2018. CAPÍTULO 12 177 CAPÍTULO 12 A IMPORTÂNCIA DAS PESQUISAS E ESTUDOS PARA DEFINIÇÃO DO PLANO DE CIRCULAÇÃO VIÁRIA MUNICIPAL Marcelo Gonçalves dos Santos1 Marcos Luiz Lovato2 RESUMO A industrialização do Brasil no século XX trouxe a população para os centros urbanos na busca por empregos e por melhor qualidade de vida socioeconômica. O governo brasileiro, por meio de incentivos fiscais, impulsionou a produção e a comercialização dos veículos automotores no Brasil, e também a expansão do crédito aos cidadãos popularizou o veículo automotor privado como meio prioritário de transporte, deixando de lado o transporte coletivo de massa. O crescimento acelerado da população nas cidades brasileiras acarretou uma estruturação urbana dispersa, necessitando da utilização do veículo automotor para se locomover de um lugar a outro na maioria das atividades. As consequências de uma estruturação sem o devido investimento e tratamento da infraestrutura sobre a expansão urbana evidencia conflitos de circulação viária nas vias dos municípios brasilei- ros. Para fins de soluções, existem materiais técnicos abrangentes, desde o planejamento urbano até a municipalização do trânsito e o tratamento da circulação viária. O presente trabalho busca, por meio de pesquisas bibliográficas, identificar as diretrizes e as normas que estabelecem a forma de organizar o plano de circulação viária municipal, obtendo o método essencial para concluir uma melhor utilização do espaço viário público. Palavras Chave: Sistema viário. Trânsito. Planejamento viário. 1 Pós-graduando em EAD em Planejamento e Gestão de Trânsito pelo Centro Universitário de Maringá - UniCesumar. Graduado em Engenharia Civil pela Universidade São Francisco (Campus Itatiba-SP). 2 Mestre em Direito pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, São Leopoldo, Rio Grande do Sul. Professor na Faculdade Palotina de Santa Maria – Fapas, Santa Maria, Rio Grande do Sul. 178 CAPÍTULO 12 1 INTRODUÇÃO As cidades brasileiras têm sofrido com os efeitos da falta de planeja- mento urbanoque se estende desde o princípio de suas circunscrições. O crescimento das cidades, movido pela força da industrialização mecânica do século XX, trouxe a população para os centros urbanos em busca de melhor qualidade de vida, e o poder público, observando as mudan- ças na cultura social, não planejou a ampliação do território urbano, que teve a sua formação desproporcional, gerando grandes impactos na convivência urbana. A soma do acelerado crescimento das cidades brasileiras com a falta de planejamento em infraestrutura viária resulta na evidente crise da mobilidade urbana no país. O desenvolvimento econômico da indústria automobilística, junto com os incentivos do governo brasileiro, popularizou o veículo automo- tor privado como principal meio de transporte, tanto de cargas como de locomoção de pessoas, deixando de lado os meios de transporte coletivos de massa. A priorização do veículo automotor privado acarretou grandes pro- blemas na circulação do trânsito nas cidades. Por exemplo: grande nú- mero de veículos nas vias, congestionamentos, aumento nos tempos das viagens, conflitos, acidentes, problemas de saúde gerados pela poluição do ar e pela poluição sonora, entre outras negatividades. Os avanços na economia são significativos e têm a sua devida impor- tância na vida de todos. Este progresso, no entanto, demanda adapta- ções de alguns setores, como o de infraestrutura viária. Assim, exige-se das autoridades e dos usuários da malha viária o devido aprimoramento, tanto em relação aos problemas já existentes como quanto à necessidade de planejar o futuro das cidades brasileiras. O trabalho visa a destacar a atual situação do trânsito em termos de circulação viária e também definir os materiais técnicos disponíveis ao gestor de trânsito. Da mesma forma, objetiva compreender e estabele- cer a existência de um planejamento técnico que compõe um plano de circulação viária, assim como as suas disciplinas para obter a melhor e mais segura eficiência do tráfego sobre a malha viária pública. 179 CAPÍTULO 12 Este artigo está organizado em dois tópicos para o melhor deta- lhamento do tema, tendo, primeiramente, no seu desenvolvimento, o subcapítulo “Fatores que antecedem a circulação viária: verificações necessárias e problemas de circulação”, e no segundo, o subcapítulo “Planejamento, pesquisas e estudos relevantes para estabelecer o plano de circulação viária”. O objetivo do artigo é destacar que, em termos de circulação viária, o gestor de trânsito do município precisa olhar o conjunto de materiais técnicos existentes, as suas técnicas e hierarquias. 2 ANÁLISES RELEVANTES PARA DEFINIÇÃO DA CIRCULAÇÃO VIÁRIA O conteúdo deste capítulo quer demonstrar os componentes impor- tantes para a composição de um plano de circulação viária, que precisam ser evidenciados e trabalhados de forma conjunta para, assim, surtir efeitos positivos na conscientização das autoridades e da população. 2.1 FATORES QUE ANTECEDEM A CIRCULAÇÃO VIÁRIA: VERIFICAÇÕES NECESSÁRIAS E PROBLEMAS DE CIRCULAÇÃO A complexidade da vida nas cidades brasileiras nos leva a buscar alguns conhecimentos básicos sobre urbanismo. Segundo Santos (2013, p. 106), “o modelo rodoviário urbano é fator de crescimento disperso e de espraiamento da cidade”. Santos (2013) relata que a valorização imobiliária em determinadas áreas das cidades causa a segregação ur- bana, o que leva a população mais pobre a viver em locais afastados dos grandes centros. Este processo originou o aumento do território urbano. O crescimento urbano desordenado impõe a necessidade de entendimento dos parâmetros técnicos de planejamento da cidade, de forma a conduzir a melhor estruturação das cidades brasileiras. Para Mukai (1988 apud ARAÚJO, 2014), “planejamento urbano é 180 CAPÍTULO 12 a ciência que se atenta com a sistemática e ampliação da cidade procu- rando originar a melhor posição das ruas, dos edifícios e obras públicas, e de habitação privada”. O conceito de planejamento urbano é amplo, tendo em vista as obrigações de desenvolver as cidades. Considerando a atualidade para obter o crescimento planejado, os municípios devem seguir os parâmetros do Governo Federal, por meio do Estatuto das Cidades, Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001, que estabelece, nos artigos 182 e 183 da Constituição Federal, diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências. Dentro do planejamento urbano destacado no Estatuto das Cida- des, está a obrigatoriedade e as atribuições sobre a elaboração do plano diretor, cuja função principal é o desenvolvimento e a expansão das cidades brasileiras de maneira ordenada. Segundo Saboya (2007, p. 39): o Plano Diretor é um documento que sintetiza e torna explí- citos os objetivos consensuados para o Município e estabelece princípios, diretrizes e normas a serem utilizadas como base para que as decisões dos atores envolvidos no processo de desenvol- vimento urbano convirjam, tanto quanto possível, na direção desses objetivos. Para Saboya (2007), o plano deve fornecer orientações estratégicas. Desde o controle do meio ambiente, o sistema viário, os usos e as ocupações do solo, saneamento e infraestrutura, trabalhados de maneira conjunta. É, portanto, indispensável que os municípios desenvolvam o seu planejamento urbano, a fim de assegurar a urbanização existente e de- finir a projeção urbanística futura com o máximo de qualidade a seus usuários, como indica Saboya (2007). Segundo Lessa (2008, p. 1), “foi o motor à explosão interna, movido por derivados de petróleo, a chave da industrialização do século XX”. Lessa (2008), conclui que, junto com toda a industrialização no Brasil, são nota- dos os avanços socioeconômicos aos cidadãos, como a geração de empregos, a vinda da população para os centros urbanos, a profissionalização do setor e a maior geração de renda às famílias, fatores estes muito importantes. Por outro lado, priorizou-se o veículo automotor privado como meio de 181 CAPÍTULO 12 transporte, o que, junto com a facilitação da expansão do crédito, trouxe o enorme número de veículos para as vias das cidades brasileiras. O acelerado crescimento populacional (decorrente tanto pelo au- mento das taxas de natalidade como pela atração pelos centros urbanos) sem planejamento adequado tem, como consequência, alguns problemas de ordem ambiental e social. O subsistema viário, parte integrante do sistema de infraestrutura urbana, encontra-se em crise devido ao grande número de congestionamentos no trânsito nas cidades. O planejamento viário ineficaz provoca, em vários pontos dos municípios, interrupções na malha viária, aumentando, assim, os trajetos e os conflitos viários (FILHO et al., 2003, p. 21). Outro problema que influencia diretamente na circulação viária diz respeito à estruturação urbana. Conforme Zmitrowicz (1998, p. 5): “embora planos de aglomerações humanas e de suas expansões tenham surgido há milênios, as primeiras preocupações com a estruturação urbana datam o final do século XIX”. Ainda assim, são relatados os acontecimentos de maneira lenta, com pouca integração na adminis- tração pública. No entanto, segundo Zmitrowicz (1998), para a circu- lação viária, a estruturação espacial urbana torna-se fator principal para melhores aproveitamento e funcionamento do sistema viário. Também os polos geradores de tráfego influenciam na circulação viária: os pólos geradores de tráfego são empreendimentos de grande porte que atraem ou produzem grande número de viagens, causando reflexos negativos na circulação viária em seu entorno imediato e, em certos casos, prejudicando a acessibilidade de toda a região, além de agravar as condições de segurança de veículos e pedestres. (BRASIL, 2001, on-line). Assim, para todo empreendimento enquadrado como polo gerador de tráfego, torna-se obrigatório um criterioso processo de licenciamento para a sua implantação e funcionamento. Neste caso, as diretrizes fi- cam expostas no manual de procedimentospara o tratamento de polos geradores de tráfego, material técnico para o devido condicionamento do trânsito ajustado à localidade da cidade. 182 CAPÍTULO 12 Nota-se que são vários os fatores que influenciam na circulação do trânsito de um município, cabendo destacar outro agravante sobre a questão, que é a falta de mão-de-obra no setor de planejamento e de gestão do trânsito que, desde a instituição do Código de Trânsito Bra- sileiro (CTB) pelo Governo Federal, a administração pública municipal parece não se atentar à temática que compõe a importante lei. Entre outros materiais técnicos existentes, o Denatran (BRASIL, 2016) indica seguir o guia básico para a gestão municipal do trânsito e descreve que o conteúdo “deve ser observado em sua totalidade, uma vez que as atri- buições e princípios a serem cumpridos, assim como as atividades a serem executadas, devem funcionar de maneira integrada” (BRASIL, 2016, p. 5). Ainda no que diz respeito ao ordenamento municipal, a União instituiu, por meio da Lei nº 12.587, de 3 de janeiro de 2012, a cha- mada política nacional de mobilidade urbana, as suas obrigatoriedades e atribuições aos municípios para a elaboração do plano de mobilidade urbana. O Ministério das Cidades (BRASIL, 2015), por meio da Secre- taria Nacional de Transporte e da Mobilidade Urbana (SeMob), define a Política Nacional de Mobilidade Urbana Sustentável como: A reunião das políticas de transporte e de circulação, e integrada com a política de desenvolvimento urbano, com a finalidade de proporcionar o acesso amplo e democrático ao espaço urbano, priorizando os modos de transporte coletivo e os não moto- rizados, de forma segura, socialmente inclusiva e sustentável (BRASIL, 2015, p. 21). Dentro da política nacional de mobilidade urbana, o município enquadrado nos termos da lei necessita desenvolver o plano de mobi- lidade, visar a racionalização de utilização do espaço público e prever a estruturação dos meios de transportes coletivos, interligados com faixas exclusivas de tráfego. No conjunto do plano, incentivar políticas públi- cas para a implantação de infraestruturas que contribuam para a maior utilização dos transportes públicos e dos veículos não motorizados, contendo, no plano de mobilidade, as adaptações de acessibilidade dos meios de locomoção e da infraestrutura viária. O plano de mobilidade 183 CAPÍTULO 12 urbana concluído, contendo as projeções urbanas futuras, deve ser in- serido no plano diretor municipal (BRASIL, 2015). Ainda quanto aos problemas de circulação do trânsito é descrito que: devido às próprias características das cidades, como concentra- ção de pessoas e atividades, os problemas de circulação sempre estiveram, de certa maneira, na pauta das discussões. Seja devido à presença dos veículos, aos problemas de estacionamento, velo- cidade, poluição e acidentes, seja devido ao comportamento de motoristas e pedestres, ou então, às condições do sistema viário (VASCONCELLOS, 1999, p. 67). Dentre os apontamentos, Vasconcellos (1999) evidencia a situação conturbada das condições do sistema viário, devido à amplitude na qual a degradação aconteceu. Os congestionamentos passaram a fazer parte do cotidiano nas cidades, portanto, são muitos os fatores que atrapalham a circulação viária. As construções antigas com ruas estrei- tas, obras públicas sem os devidos isolamento e ordenamento do fluxo e a obrigatoriedade do uso do veículo particular devido à carência do setor público em promover melhorias no transporte coletivo de massa. A ampliação das cidades trouxe novos pontos de conflitos nas vias municipais. O aumento das interseções, que são definidas pelo DNIT (BRASIL, 2005) como confluência, entroncamento ou cruzamento de duas ou mais vias, constituem-se de elementos de descontinuidade em qualquer rede viária, e representam situações críticas que devem ser tratadas de forma especial, a fim de assegurar a circulação com segurança. Nota-se que houve o desenvolvimento socioeconômico com no- vas tecnologias, o que nos faz voltar ao passado é a ordem da gestão pública, quando, de acordo com o artigo 24 do Código de Trânsito Brasileiro, “compete aos órgãos e entidades executivos de trânsito dos municípios, no âmbito de sua circunscrição, cumprir e fazer cumprir a legislação e as normas de trânsito, no âmbito de suas atribuições” (BRASIL, 1997, on-line). Assim, cabe analisar como a administração pública municipal pode enfrentar o problema da mobilidade urbana mediante o planejamento de sua circulação viária. 184 CAPÍTULO 12 2.2 PLANEJAMENTO, PESQUISAS E ESTUDOS RELEVANTES PARA ELABORAÇÃO DO PLANO DE CIRCULAÇÃO VIÁRIA O planejamento do trânsito, definido pelo Ministério das Cidades, diz: “municipalizar o trânsito significa assumir integralmente a gestão das questões locais naquilo que a Lei de trânsito determina como res- ponsabilidades dos municípios, isto é, a Engenharia, a Fiscalização, a Operação e a Educação” (BRASIL, 2016, p. 8). A atribuição da responsabilidade aos municípios exige adequação do setor de trânsito municipal. À composição de uma equipe técnica para a integração do município ao Sistema Nacional de Trânsito, com- pete administrar de maneira conjunta para manter um trânsito seguro (BRASIL, 2016). Na dinâmica do planejamento, por exemplo, o plano diretor do mu- nicípio de Campinas (2006) serve como referência quando deixa claro, na obra elaborada, o conjunto de regras e de princípios orientadores e indutores da ação dos diversos agentes que, por sua vez, constroem e utilizam o espaço urbano. Dentre as considerações do plano diretor, é destaque o trabalho do cadastro abrangente que integra a evolução urbana. Fez-se a classificação ampla do perímetro urbano, o controle do macrozoneamento, a situação atual e os eixos de expansão. No plano de circulação viária, são vistos a situação das vias públicas e das praças, as pes- quisas de origem/destinos, a hierarquização do sistema viário, a operação e o disciplinamento dos transportes de cargas na infraestrutura viária, o controle de polos geradores de tráfego e o controle de estacionamentos. Por outro lado, a prefeitura da cidade de São Paulo segue o plano de mobilidade municipal como base para a definição do plano da circulação viária: “elabora um diagnóstico sobre a situação atual da mobilidade urbana no munícipio e faz um prognóstico a partir deste cenário de referência em que elenca ações e infraestruturas necessárias” (SÃO PAU- LO, 2015, p. 9). E após a investigação abrangente do macrozoneamento urbano, são cadastrados todos os tipos de transportes e necessidades, definindo, assim, os contornos da nova política de transporte e de 185 CAPÍTULO 12 circulação sobre a malha viária do município de forma a melhorar a mobilidade urbana (SÃO PAULO, 2015). Para controle do fluxo viário, Szasz e Pereira (1981) explicam: O conhecimento dos volumes veiculares incidentes numa área de estudo é informação preponderante para o estabelecimento de um diagnóstico da situação de tráfego e para formulação de alternativas, quaisquer que sejam os objetivos do projeto (SZASZ; PEREIRA, 1981, p. 1). De acordo com Brandão (2014, p. 58), os objetivos das pesquisas de fluxo de tráfego são: “determinar quantidade, direção e composição do fluxo de veículos e pedestres na unidade do tempo”. Prossegue Brandão (2014, p. 58) que as pesquisas de fluxo de tráfego têm como finalidade de aplicações “verificar demanda da via ou interseção; comparar deman- da com capacidade; avaliar dispositivos de controle; dimensionar tempos semafóricos; classificar vias; analisar dados de acidentes; dimensionar calçadas, passarelas, tempos de travessia”. A composição das pesquisas de fluxo de tráfego é obtida por meio da metodologia de contagens manuais ou contagens automáticas. As definições de controle de fluxo geram informações para a distribuição do tráfego no sistema viário, podendo, assim, programar melhorias viárias (BRANDÃO, 2014). Brandão(2014) inclui como gerenciamento de tráfego para melhorias na circulação viária as pesquisas de origem/destino: os métodos de coleta de dados a fim de determinar a matriz de origem/destino servem de base para definições na área de planejamento. Na busca para concluir um inventário com o diagnóstico da situação existente e definir a estrutura de um plano de transportes, a pesquisa de origem/destino tem as suas características divididas em pesquisas domiciliares e no cordão externo, contagem em vias e em veículos, além de pesquisas por meio dos correios. Cybis, Lindau e Araújo (2002) apresentam a implantação de um modelo de simulação e de alocação do tráfego em Porto Alegre. O processo permite uma melhor compreensão da operação proposta por um projeto. Assim, é possível identificar deficiências na concepção 186 CAPÍTULO 12 original de um projeto antes de sua implantação, de modo a viabilizar o seu aperfeiçoamento. O estudo teve como base de planejamento e de gerenciamento do tráfego uma ferramenta computacional, o modelo Saturn, desenvolvido na década de 70. Carregado com informações de determinado local, ele gera um modelo de alocação de tráfego e uma análise de impactos por modificações na circulação viária urbana. Conforme Tibúrcio et al. (2014, p. 5), a técnica do sistema binário “pode ser conceituado como um conjunto de duas vias próximas e paralelas, cujos fluxos de trânsito se dão em uma única direção com vias de sentidos opostos”. Afirmam Tibúrcio et al. (2014) que o sistema binário diminui os conflitos entre trajetórias de veículos e pedestres, traz segurança para manobras de ultrapassagem e ameniza conflitos causados pela conversão à esquerda, podendo designar, no espaço viário, uma faixa exclusiva para o transporte público de massa. Tibúrcio et al. (2014) definem ainda que a implantação do binário vem de encontro com o crescimento veicular, no sentido de que a técnica permite o melhor uso da via para veículos e pedestres. Os materiais técnicos disponíveis, aplicados de maneira a atender às necessidades do munícipio, somados às técnicas de engenharia e gerenciamento de tráfego, podem racionalizar a utilização do espaço público, trazendo melhorias à circulação viária. O plano de circulação viária, tendo visto o necessário para a mobilidade urbana do município, disponibilizará as vias em suas capacidades para a utilização. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Esse trabalho teve como objetivo abordar a importância dos planos de circulação viária municipais e a necessidade de que este instrumento leve em consideração a complexidade de fatores que envolvem o crítico quadro da mobilidade urbana no país. O gestor do trânsito de um município precisa estar a par de todos os fatores que afetam a mobilidade urbana, pois inúmeros eventos ocorridos nos centros urbanos alteram a circulação viária e precisam 187 CAPÍTULO 12 ser remediados por quem administra o setor viário. As ações sobre a expansão urbana futura devem ser planejadas tendo em vista a atribuição de um conjunto de regras e de princípios orientadores da ação dos diversos agentes que constroem e utilizam o espaço urbano, de maneira a controlar o macrozoneamento. Para melhorar a circulação viária, diante da evolução diária do trân- sito, foi exposto na pesquisa que a administração pública municipal deve compor uma secretaria de trânsito e de transportes com técnicos responsáveis, habilitados e capacitados, que consigam realizar o devido planejamento urbano, objeto fundamental que disciplina a regulamen- tação viária. A correta padronização do traçado viário municipal trará maior segurança e melhor qualidade para a sua utilização. São amplos os compromissos do gestor de trânsito, pois é preciso compreender o território municipal, conhecer todo o sistema político nacional de trânsito, assim como os manuais técnicos, a fim de seguir os parâmetros estipulados pelo Governo Federal. Dentre destas ati- vidades do trânsito, estão a engenharia, a fiscalização, a operação e a educação, que precisam ser administradas de forma conjunta e ter o seu devido organograma funcional. O trânsito exige mudanças rápidas e o gestor viário precisa estar ciente de suas atribuições, bem como ser um estudioso e um conhe- cedor das técnicas de engenharia de tráfego e das novas tecnologias computacionais que, somadas às diretrizes e normas, são fundamen- tais para organizar e disciplinar um plano de circulação viária. Um ponto relevante que precisa ter maior utilização no plano de circulação viária são as novas tecnologias. O gestor do trânsito, além das atribuições já estipuladas pelo cargo, precisa aliar a evolução tecnológica do setor viário, e manter a capacitação educacional dos seus colaboradores é de suma importância para compor um grupo com a comunicação integrada. A manutenção na formação dos agentes trará resultados positivos na prestação de serviços e melhor representação junto ao usuário do trânsito. 188 CAPÍTULO 12 REFERÊNCIAS ARAÚJO, R. V. Planejamento Urbano da Cidade de Juína-MT, com foco no plano diretor da cidade: obstáculos, avanços, limites e possibili- dades. 2014. 175 f. Dissertação (Programa de Pós-Graduação em Ambien- te e Desenvolvimento) - Centro Universitário Univates, Lajeado, 2014. Disponível em: <www.univates.br/bdu/bitstream/10737/792/1/2014Ril- doVieiradeAraujo.pdf>. Acesso em: 25 abr. 2018. BRANDÃO, L. M. Engenharia e Gerenciamento de Tráfego. Ma- ringá: NEAD UniCesumar, 2014. BRASIL. Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes - DNIT. Diretoria de Planejamento e Pesquisa. Coordenação Geral de Estudos e Pesquisa. Instituto de Pesquisas Rodoviárias. Manual de projeto de interseções. 2. ed. Rio de Janeiro: IPR, 2005. Disponível em: <http://www1.dnit.gov.br/ipr_new/..%5Carquivos_internet%- 5Cipr%5Cipr_new%5Cmanuais%5CMANUAL_DE_PROJETO_ DE_INTERSECOES_Versao_Final.pdf>. Acesso em: 25 abr. 2018. ______. Departamento Nacional de Trânsito - DENATRAN. 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Regulamenta os arts. 182 e 183 da Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências. Disponível em: <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LEIS_2001/L10257.htm>. Acesso em: 25 abr. 2018. ______. Lei nº 12.587, de 3 de janeiro de 2012. Institui as diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana; revoga dispositivos dos Decretos-Leis nºs 3.326, de 3 de junho de 1941, e 5.405, de 13 de abril de 1943, da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT),aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1º de maio de 1943, e das Leis nºs 5.917, de 10 de setembro de 1973, e 6.261, de 14 de novembro de 1975; e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/cci- vil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12587.htm>. Acesso em: 25 abr. 2018. ______. Ministérios das Cidades. Departamento Nacional de Trânsito. Manual para Integração de Municípios ao Sistema Nacional de Trânsito - SNT. 1. ed. Brasília: Denatran, 2016. Disponível em: <http://www.denatran.gov.br/images/Arquivos/ Manual_para_integracao_dos_municipios.pdf>. Acesso em: 25 abr. 2018. ______. Secretaria Nacional de Transporte e da Mobilidade Urbana - SeMob. Ministério das Cidades. PlanMob. Caderno de Refe- rência para Elaboração de Plano de Mobilidade Urbana. Brasília: SeMob, 2015. Disponível em: <http://www.cidades.gov.br/images/ stories/ArquivosSE/planmob.pdf>. Acesso em: 25 abr. 2018. CAMPINAS. Câmara Municipal de Campinas. Lei Complemen- tar nº 15, de 27 de dezembro de 2006. Dispõe sobre o Plano Diretor do Município de Campinas. Disponível em: <http://sagl. campinas.sp.leg.br/generico/pdfJS/viewer_html?file=http://sagl. campinas.sp.leg.br/sapl_documentos/norma_juridica/9639_tex- to_integral.pdf?1524665972.52>. 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O interesse pelo tema surge devido à constatação de baixo índice de aprovação pelos candidatos à Permissão para Dirigir, aliado ao discurso recorrente da relação entre o resultado negativo e aos sintomas ansiosos vivenciados pelos alunos no momento da avaliação. Percebe-se pela leitura de artigos que a ansiedade de fato interfere no desempenho de uma atividade, principalmente pelo fato de diminuir a atenção no momento em que a esta é executada. Propõe-se, desse modo, estudos mais aprofundados e pesquisas empíricas para melhor compreensão do tema. Palavras-chave: Aspectos psicológicos. Avaliação. Prova prática. 1 Pós-graduanda em Gestão e Planejamento de Trânsito pelo Centro Universitário de Maringá (UniCesumar). Pós-graduanda em Psicologia do Trânsito pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci (Uniasselvi). Graduada em Psicologia pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Gestora de Educação e Segurança de Trânsito do Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso do Sul (DETRAN-MS). 2 Pós-Graduado em Voleibol pela AVM Faculdade Integrada. Pós-Graduando em Treinamento Esportivo pela UNOPAR. Graduado em Tecnologia em Processos Gerenciais pela Faculdade de Tecnologia Internacional. Graduando licenciatura em Educação Física pela UNOPAR. Técnico em contabilidade, 2º Sargento da policia Militar do Paraná - Secretaria Segurança Publica Paraná. Especialista em Segurança publica e patrimonial. Fez cursos diversos na área de segurança, trânsito urbano e rodoviário. 194 CAPÍTULO 13 1 INTRODUÇÃO A ansiedadeé extremamente comum nos indivíduos quando co- locados em situações novas e desafiadoras. Provoca sintomas físicos e psicológicos e pode interferir no desempenho da tarefa a ser executada. A Carteira Nacional de Habilitação é, além de desejo do indivíduo e sinônimo de liberdade de deslocamento, uma concessão do Estado ao cidadão, que precisa ser aprovado em diversas etapas para comprovar que possui condições físicas e psicológicas para conduzir um veículo automotor. Contudo, durante o processo de primeira habilitação, o candidato passa por diversas avaliações em que se expõe a situações novas e conflitantes, passíveis de provocar sintomas relacionados à ansiedade, especialmente na última etapa, a prova prática de direção veicular. Além disso, é fato que muitos relacionam o resultado negativo nessa etapa aos sintomas experienciados antes e durante a prova. Surge, então, o interesse pelo tema ansiedade em provas, já que sua compreensão proporcionaria melhores propostas para atuação de todos os envolvidos na formação do candidato de primeira ha- bilitação, embora haja grande dificuldade de mensuração desses dados. Não é possível afirmar que as reprovações têm como causa direta a ansiedade dos alunos. Além disso, dificilmente poderia ser apontada como o único motivo das reprovações. Entretanto, questiona-se como a ansiedade pode influenciar no de- sempenho dos candidatos e em quais pontos deve-se atuar para diminuir a interferência desse fator para melhorar índices de aprovação e melhor acompanhamento de condutores. Uma revisão bibliográfica foi realizada buscando estudos que re- lacionem a ansiedade ao baixo desempenho em provas, mais especi- ficamente na prova prática para obtenção da permissão para dirigir (PPD). Buscou-se, nas principais bases de dados online, artigos/traba- lhos científicos relacionados à ansiedade, ao trânsito e às provas, com o objetivo de estudar o tema de forma mais aprofundada e estruturar um posicionamento que embase uma proposta de atuação para o órgão de trânsito e/ou para os Centros de Formação de Condutores, com o 195 CAPÍTULO 13 principal objetivo de reduzir a influência da ansiedade no momento da avaliação e o consequente aumento no índice de aprovação dos candidatos na prova prática. Este artigo está dividido em dois tópicos principais. Inicia-se tra- zendo referenciais teóricos relacionados ao tema abordado, apontando ainda a importância de tratarmos sobre esse assunto. Em seguida, as considerações finais, apresentam-se possíveis abordagens e propostas que objetivem atuar diretamente em prol de um trabalho mais efetivo, melhor formação e aprovação nas provas práticas de direção veicular. 2 A ANSIEDADE A ansiedade possui componentes psicológicos e fisiológicos. É um estado emocional experimentado em situações novas e consideradas ameaçadoras, fazendo com que o indivíduo emita respostas de luta e fuga, ou um mecanismo de defesa para diminuir essa sensação. O es- sencial é saber que são respostas normais do organismo, que o preparam para agir e que o mantém mais atento. Crake e Barlow (1994) descrevem fisiologicamente os efeitos da ansiedade. Explicam que a reação de luta e fuga do organismo se deve à atividade do Sistema Nervoso Simpático, que aumenta a velocidade e profundidade da respiração, fazendo com que os tecidos necessitem de mais oxigênio, podendo causar sensações como falta de ar ou pressões no peito. Há também uma redução de fluxo de sangue na cabeça, que podem provocar sintomas como tonturas, visão embaçada, confusão, sensações de frio e calor. Outro sintoma é o aumento na transpiração, que ocorre com o objetivo principal de resfriar e evitar um superaqueci- mento no corpo. Além disso, pupilas se dilatam, a boca fica seca devido à diminuição na produção de saliva, taquicardia, redução da atividade no sistema digestivo, músculos tensionados, dentre outros sintomas. Por outro lado, explicam ainda Crake e Barlow (1994), o Sistema Nervoso Parassimpático tem efeitos contrários ao Sistema Nervoso Simpático. Quando ativado, o primeiro restaura o relaxamento do 196 CAPÍTULO 13 organismo, protegendo-o e impedindo o segundo de se desgovernar. Algumas técnicas fisiológicas podem ser utilizadas para auxiliar o organismo a ativar o Sistema Nervoso Parassimpático e para relaxar o corpo, como a respiração diafragmática, técnica muito utilizada nas terapias cognitivo-comportamentais (PSICOLOGIA, 2013, on-line). 2.1 A ANSIEDADE EM PROVAS O contexto avaliativo está relacionado com a situação em que a pessoa será avaliada com base em seu desempenho, sendo os resultados possíveis de sucesso ou insucesso. Diante disso, as consequências têm, na maior parte das vezes, um peso muito grande. Os momentos de avaliação são normalmente experimentados de forma angustiante e tensa. A ansiedade, em situações de avaliação, afeta grandemente o bem-estar físico, psicológico e social dos indiví- duos. Vivemos em uma sociedade competitiva onde o desempenho e as oportunidades são medidos pelos resultados em provas. Assim, ser avaliado é uma situação desconfortável para a maioria das pessoas. Ao passar por uma situação em que suas habilidades são colocadas à prova e seu desempenho é, posteriormente, comparado com o dos demais, o indivíduo sente seu corpo fora de controle fisiologicamente e, também, psicologicamente, com a sensação de taquicardia, suor, tremores, descon- forto, nervosismo e diversos outros sintomas relacionados à ansiedade. Hill e Wigfield (1984 apud BZUNECK; SILVA, 1989, p. 195) propuseram a seguinte definição de ansiedade em provas: “sentimento desagradável ou estado emocional que tem componentes fisiológicos e comportamentais, e que é experimentado por ocasião de testes formais ou de outras avaliações”. Esses mesmos autores, em seu artigo, des- tacam pesquisas que, desde a década de 50, apontam para resultados inversamente proporcionais entre nível de ansiedade e desempenho em avaliações. Outro aspecto mencionado é que a avaliação não afere conhecimentos ou habilidades dos alunos, uma vez que estes podem ter resultados enviesados devido ao alto nível de ansiedade. 197 CAPÍTULO 13 Ao relacionar os resultados de diversos estudos em sua revisão bi- bliográfica sobre ansiedade em provas, Bzuneck e Silva (1989) mos- tram que o principal motivo da ansiedade interferir no desempenho em provas é o enviesamento da atenção do avaliando. A depender do grau de ansiedade, seu nível de atenção é baixo desde o momento do aprendizado, que fica prejudicado, fato que pode provocar uma cadeia causal, uma vez que o aluno, no momento em que é avaliado, ainda terá a percepção de sua baixa capacidade de responder à prova e consciência das dificuldades que possui em ter resultado satisfatório na avaliação. Logo, o resultado negativo seria uma consequência natural. Há diversos estudos no exterior relacionando ansiedade e diversas situações de avaliação, conforme os próprios artigos aqui citados, que fizeram também uma revisão bibliográfica sobre o tema. Contudo, poucos são os estudos que relacionam diretamente ansiedade com o processo de obtenção da Permissão para Dirigir (PPD). O número de reprovações na prova prática de direção veicular no Estado de Mato Grosso do Sul é alto, considerando que mais da metade dos Centros de Formação de Condutores possuem índi- ces de aprovação inferiores ao mínimo exigido pela legislação, que atualmente é 60% do total de candidatos. No Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso do Sul, os instrutores de trânsito, profissionais responsáveis pela formação dos novos condutores, são obrigados a passar por curso de atualização a cada cinco anos. Nesse curso, uma das disciplinas atualmente ministrada é “Ansiedade na Formação e Exame de Prática Veicular”, justamente para oportunizar a discussão desse tema tão relevante em seu cotidiano profis- sional, pois é comum no discurso dos instrutores que a ansiedade inter- fere, e muito, no resultado da provaprática de direção veicular, embora não tenham dados empíricos e conhecimento técnico sobre o assunto. Seja em função da pressão pelos examinadores, pela formação insufi- ciente e despreparo dos candidatos, ou mesmo pelo fato de a ansiedade ser um traço da personalidade do aluno, é fato que o estudo desse tema é de grande relevância para o aumento de índice de aprovação e cum- primento da legislação e, primordialmente, para zelar por uma melhor 198 CAPÍTULO 13 qualidade na formação de um indivíduo, não apenas para o exame prático, mas para o trânsito em si. Em um artigo publicado no ano de 2008, Raad et al. mencionam que não havia, naquela época, estudos sobre ansiedade e desempenho na prova prática de direção veicular. Esses autores desenvolveram uma pesquisa com 54 participantes com o objetivo de verificar a relação da ansiedade com o processo de obtenção da Permissão para Dirigir, relacionando-a, ainda, com variáveis como escolaridade, sexo e auto- percepção da ansiedade. Os pesquisadores realizaram o estudo antes da avaliação teórica e antes da avaliação prática, momento em que aplicaram um instrumento para avaliação da ansiedade dos candidatos, relacionando-o com o resultado final (aprovação ou reprovação). Con- cluíram que, quanto à prova teórica, o resultado positivo ou negativo estaria principalmente vinculado à escolaridade, embora apontem a necessidade de uma amostra maior para afirmações mais contunden- tes. Um grau mais elevado de ansiedade foi encontrado na amostra de sexo feminino e perceberam, ainda, um maior grau de ansiedade em candidatos com menor escolaridade. Já na prova prática, encontraram uma relação entre ansiedade e desempenho, já que os candidatos com maior grau de ansiedade, em sua maioria, reprovaram. Os pesquisadores finalizaram destacando a necessidade de novos estudos sobre o tema. O segundo artigo encontrado trata da intervenção terapêutica em um caso de ansiedade em prova de direção veicular. Araújo, Bortoloti e Haydu (2016) demonstraram que um preparo apropriado para a prova prática de direção, associado a uma terapia adequada, contribuíram para um resultado satisfatório na avaliação e diminuição dos sintomas ansiosos. Os autores reforçaram a necessidade de mais estudos relacio- nando ansiedade e desempenho na prova para Carteira Nacional de Habilitação, bem como reforçaram, por meio do relato de um estudo de caso, a importância do preparo adequado para se submeter a avaliações e, inclusive, a necessidade de aceitar emoções, incluindo a ansiedade, para que ela não seja tão perturbadora quando ocorrer. O despreparo pode levar ao fracasso, já que a pessoa passa a acreditar que não possui capacidade de obter sucesso, o que leva também ao surgimento de sin- 199 CAPÍTULO 13 tomas ansiosos. Daí a relevância de uma boa técnica terapêutica para reverter crenças como essas. Viecili (2011) pontua que a ansiedade é, até certo ponto, desejável no trânsito e em situações de avaliação, por fazer com que as pessoas tenham maior concentração e atenção enquanto desempenham suas atividades, mantendo-as alertas e com maior probabilidade de respei- to às leis de trânsito. Contudo, se não controlada, pode dificultar a direção segura, na medida em que distorce a percepção do condutor, o que compromete processos como processamento da informação e tomada de decisão, etapas fundamentais do comportamento de dirigir. Outro aspecto que vale mencionar é que, durante o processo de primeira habilitação, o candidato necessita comprovar diver- sas habilidades e conhecimentos, colocando à prova suas aptidões psicológicas, físicas, conhecimentos sobre a legislação de trânsito e capacidade motora e emotiva nas etapas exigidas pelo Código de Trânsito Brasileiro (VIECILI, 2011). 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS A literatura relacionada ao tema tratado no artigo aponta a relação entre ansiedade e desempenho em provas. Logo, faz-se necessário pensar em novas possibilidades de trabalho para diminuir os sintomas ansiosos a um nível desejável, mantendo o padrão de atenção e segurança para o trânsito e para a prova prática de direção veicular. Inicialmente, percebe-se que o papel do examinador no momento avaliativo precisa ser melhor investigado. Há indícios de sua influência na ansiedade dos avaliados, especialmente por representarem o Estado em sua decisão final para concessão ou não da Permissão para Dirigir. Capacitá-los visando melhorar o relacionamento interpessoal, empatia e, obviamente, sintomatologia ansiosa é uma proposta de baixo custo e facilmente implantável, uma vez que é exigido que o servidor público passe por capacitações com frequência, e isso traria resultados positivos, humanizando cada vez mais a relação entre candidato e examinador. 200 CAPÍTULO 13 A atenção diminuída pelos sintomas ansiosos foi apontada como principal motivo para reprovações relacionando ansiedade e desem- penho. Logo, sugere-se que técnicas fisiológicas sejam estudadas pe- los profissionais responsáveis pela formação dos condutores, para que possam repassá-las aos alunos. Outrossim, preparar o aluno de forma contundente durante a carga horária exigida, avaliando constantemente sua aprendizagem e utilizando didática e bom planejamento, o que parece ser imprescindível para aumentar a probabilidade de resultado positivo no exame, já que, conforme demonstrado nas pesquisas cita- das, a percepção de estar ou não preparado para o exame interfere no surgimento de sintomas ansiosos. Pesquisas de campo antes e depois do exame prático de direção veicular são extremamente necessárias, mas há a necessidade de uma amostra significativa para ampliar a compreensão do tema e verificar novas possibilidades relacionadas ao tema. Outra falta nas pesquisas é referente aos dados estatísticos quanto aos motivos de reprovação, aspectos que os Departamentos Estaduais de Trânsito não costumam considerar tão relevantes atualmente. Com base no exposto, sugere-se uma hipótese de trabalho futuro, que é a relação entre carga horária, desempenho e ansiedade. Isso por- que foi implantado recentemente no Estado de Mato Grosso do Sul a biometria digital e facial nas aulas práticas em veículos quatro rodas, o que possibilita efetiva fiscalização sobre a carga horária exigida pela legislação – 25 horas/aula, distribuídas entre simulador e veículo. Antes da implantação, no mês de julho de 2018, era comum o discurso de venda de “pacotes” de cinco ou dez aulas práticas, algo que, se de fato ocorria, hoje foi inviabilizado. Assim, uma comparação de índices de aprovação, antes e após a implantação da biometria, traria boas perspec- tivas quanto à necessidade da carga horária mínima ser bem utilizada para a preparação do candidato para a prova e para o trânsito. 201 CAPÍTULO 13 REFERÊNCIAS ARAÚJO, A. H.; BORTOLOTI, E.; HAYDU, V. B. Ansiedade em pro- vas: um estudo na obtenção da licença para dirigir. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 36, n. 1, p. 34-47. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ pcp/v36n1/1982-3703-pcp-36-1-0034.pdf>. Acesso em: 26 abr. 2018. BZUNECK, J. A.; SILVA, R. O problema da ansiedade nas provas: perspectivas contemporâneas. Semina, v. 10, n. 3, p. 195-201, 1989. CRASKE, M.; BARLOW, D. Fisiologia e Psicologia do Medo e da Ansiedade. Análise do comportamento e psicopatologia. Trad. de Bernard Rangé. 1994. Disponível em: <http//http://pospsicopatologia. com.br/paula/Paula_Fisiologia_e_Psicologiado_medo_e_da_ansiedade. pdf>. Acesso em: 26 abr. 2018. PSICOLOGIA. Técnicas em TCC: Respiração Diafragmática. Psicolo- gia Explica [2018]. Disponível em: http://www.psicologiaexplica.com. br/tecnicas-em-tcc-respiracao-diafragmatica/>. Acesso em: 26 abr. 2018. RAAD, A. J.; CARDOZO, A. M.; NASCIMENTO, M. A.; ALVEDS, G. L. A ansiedade no processo para obtenção da Carteira Nacional de Habilitação. PSIC - Revista de Psicologia da Vetor Editora, v. 9, n. 2, p. 245-249, jul./dez. 2008. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud. org/scielo.php?pid=S1676-73142008000200013&script=sci_arttext>.Acesso em: 26 abr. 2018. VIECILI, J. Ansiedade e comportamento de dirigir. In: HOFFMAN, M. H.; CRUZ, R. M.; ALCHIERI, J. C. (orgs.). Comportamento Huma- no no Trânsito. 3. ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2011. p. 361-374. http://www.scielo.br/pdf/pcp/v36n1/1982-3703-pcp-36-1-0034.pdf http://www.scielo.br/pdf/pcp/v36n1/1982-3703-pcp-36-1-0034.pdf CAPÍTULO 14 203 CAPÍTULO 14 A IMPORTÂNCIA DA UNIVERSIDADE CORPORATIVA EM UMA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA ENQUANTO ESTRATÉGIA PARA A MELHORIA DA EFICIÊNCIA OPERACIONAL Marcelo José Da Silva1 Camila Chirnev Caobianco2 RESUMO Partindo do pressuposto de que o desenvolvimento das empresas e dos próprios funcionários depende da construção do conhecimento, este artigo, resultado de uma pesquisa bibliográfica, analisa a importância da universidade corporativa em uma instituição financeira enquanto ferramenta estratégica para a sistematização de ações educativas que levem à promoção do desenvolvimento profissional e, consequente- mente, à realização dos objetivos e dos desafios traçados na Estratégia Organizacional da instituição, por meio da disseminação de valores e do desenvolvimento de competências que visem a redução de custos operacionais e, assim, maximizem a eficiência operacional. Palavras-chave: Gestão. Conhecimento. Educação corporativa. 1 Pós-graduando em Gestão Estratégica de Negócios pelo Centro Universitário de Maringá – Unicesumar. Especialista em EAD e as Tecnologias Educacionais pelo Centro Universitário de Maringá – Unicesumar. Graduado em Letras pelas Faculdades Integradas de Naviraí. 2 Mestre em Gestão do Conhecimento nas Organizações pelo Centro Universitário de Maringá – Unicesumar (2017). Especialista em EAD e as Tecnologias Educacionais pelo Unicesumar (2014). Especialista em Gestão da Produção pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR (2010). Graduada em Administração com ênfase em Comércio Exterior pelo Unicesumar (2004). 204 CAPÍTULO 14 1 INTRODUÇÃO O desempenho de uma organização cujo principal atributo é a inter- mediação financeira, ou seja, a captação de recursos de uma parcela da população mediante remuneração, e empréstimo aos indivíduos ou às empresas mediante cobrança de juros, é mensurado pelos lucros auferi- dos ao final de cada período que, por sua vez, é composto pela diferença entre os juros pagos e recebidos resultantes desta intermediação, também chamado de spread, já subtraídos os impostos, as provisões para créditos de liquidação duvidosa e as despesas administrativas. Em um contexto de spread menor, uma parcela significativa dos lu- cros do setor financeiro está relacionada à redução de custos e à melhoria da eficiência operacional. A atividade bancária, por suas características intrínsecas, está exposta a riscos diversificados que podem afetar dire- tamente o seu desempenho, levando a uma necessidade crescente de gestão. Em um momento no qual se transita da sociedade da informação para a sociedade do conhecimento (GUEVARA; DIB, 2008), cria-se uma demanda nas organizações para a promoção de ações educativas sistematizadas como forma de capacitar os seus colaboradores para a adoção de práticas que, por sua vez, possam ser traduzidas na melhoria do desempenho e na redução de custos. Além do aspecto financeiro, a necessidade de construir competitivi- dade em um contexto no qual os produtos e serviços apresentam carac- terísticas semelhantes, como é o caso dos produtos e serviços oferecidos pelo setor financeiro, passa inevitavelmente pelo investimento na forma- ção e na qualificação dos funcionários com vistas ao desenvolvimento de novas habilidades e competências, capacitando-os a enfrentar os desafios cotidianos impostos pelas transformações socioeconômicas em curso. O objetivo principal deste artigo é analisar a importância da universidade corporativa (UC) em uma instituição financeira (IF) enquanto ferramenta estratégica para a sistematização de ações edu- cativas que levem à promoção do desenvolvimento profissional e, consequentemente, à redução de custos e ao aumento da eficiência operacional. Para este fim, foram seguidos os pressupostos da pesquisa 205 CAPÍTULO 14 bibliográfica de cunho qualitativo (MARCONI; LAKATOS, 2001), segundo os quais as informações e os dados obtidos são oriundos de trabalhos já elaborados, sendo constituídos prioritariamente por livros, artigos científicos e relatórios. A relevância do tema justifica-se pela tentativa de compreender como a UC de uma IF pode contribuir para o desenvolvimento de competências e de habilidades necessárias para a melhoria do desempenho organiza- cional. Espera-se contribuir para a percepção das vantagens de implantar uma UC como forma de ampliar as possibilidades de ações educativas no âmbito empresarial, objetivando alinhar as práticas de seus colaboradores às ações que levem à consecução da estratégia corporativa. Para contextualizar o tema proposto, serão apresentados diversos conceitos sobre educação corporativa e universidade corporativa, com ênfase no seu papel estratégico para as organizações. Na sequência, será efetuada uma contextualização histórica da educação corporativa em uma IF, doravante identificada pelo nome fictício de Banco X e, final- mente, demonstradas ações educacionais desenvolvidas pela UC desta IF, como forma de promover o desenvolvimento profissional de seus colaboradores visando, desta forma, a melhoria da eficiência operacional e o alinhamento à Estratégia Corporativa da instituição. 2 O PAPEL ESTRATÉGICO DA EDUCAÇÃO CORPORATIVA As mudanças econômicas e sociais, impulsionadas pelas transfor- mações tecnológicas características da contemporaneidade, requerem que empresas e colaboradores estejam preparados para fazer frente a um mercado cada vez mais competitivo. No caso de uma instituição financeira, na qual os produtos e os serviços oferecidos possuem pouca diferenciação entre os concorrentes, o conhecimento dos produtos e dos serviços ofertados ocupa lugar de destaque na estratégia go- vernamental de qualquer instituição. Acerca do conhecimento nas organizações, Silva (2009, p. 231) afirma: 206 CAPÍTULO 14 o conhecimento é o fator econômico mais importante na com- petição organizacional da atualidade – conhecimento sobre seu mercado, seus processos, seus clientes, sua tecnologia, seus concorrentes. Esse conhecimento deve ser inserido em cada processo, em cada operação, e deve fazer parte das atitudes dos colaboradores da empresa, para que, de forma consciente, saibam o que e o porquê de produzir de determinada maneira. A partir da percepção da necessidade de produzir e disseminar conhe- cimento como forma de fortalecer o seu posicionamento no mercado, as organizações passaram a ofertar, de modo sistematizado, ações de educação no âmbito da corporação. No entanto, como afirma Martins (2009, p. 224): “a preocupação de promover treinamento como meio de formação profissional tem suas origens em Taylor e Ford”. Com o desenvolvimento das tecnologias de comunicação e in- formação, o capital intelectual passa a ser mais valorizado que os próprios recursos materiais (GUEVARA; DIB, 2008), uma vez que a informação circula de modo rápido e sem barreiras, possibilitando que todos tenham acesso a ela. Assim, o treinamento, “entendido como ação direcionada para atividades atualmente desempenhadas” (MENESES; ZERBINI; ABBAD, 2010, p. 18), de caráter corretivo, passa a dar lugar a ações de desenvolvimento e educação, preparando os seus colaboradores para a futura assunção de cargos e atividades diferentes dentro da organização. Deste modo, a aprendizagem cor- porativa torna-se um fator gerador de desenvolvimento também para a organização. Segundo Cruz (2008, p. 106): na concepção de aprendizagem na organização, nasce um modelo de educação corporativa denominado universidade corporativa, modificando os objetivos e o formato dos anti- gos programas de treinamento e desenvolvimento, criados e aplicados pela área derecursos humanos, área utilizada nor- malmente com esse enfoque tradicional. Essa demanda surgiu por causa de uma necessidade cada vez maior de alinhar a educação do corpo empresarial com as estratégias da empresa e a especificidade do negócio. 207 CAPÍTULO 14 Por meio da UC, é possível desenvolver a aprendizagem dos colabo- radores de modo que as ações educativas estejam alinhadas à estratégia governamental. Deste modo, os cursos a serem desenvolvidos pelo quadro funcional estão diretamente relacionados aos desafios expressos na Estratégia Corporativa da empresa. Esta visão coaduna-se com a defi- nição de UC proposta por Allen (2007, apud MORAES, 2012, p. 30): [...] uma universidade corporativa é uma entidade educacional, desenhada como uma ferramenta estratégica para ajudar sua organização de origem no cumprimento de sua missão com atividades que cultivam o aprendizado individual e organiza- cional, conhecimento e sabedoria. Além de contribuir para a superação dos desafios da organização, a implantação de uma UC reforça o comprometimento dessa orga- nização em relação ao desenvolvimento e à educação de seus cola- boradores, contribui para uma maior qualidade da força de trabalho do seu quadro funcional e cria vantagem competitiva sustentável. Isto porque o investimento em educação nas corporações deixa de ser entendido como despesa e passa a ser considerado investimento. Por meio da educação, as empresas podem transformar competências (valores intangíveis) em lucro (valores tangíveis). 2.1 A EDUCAÇÃO CORPORATIVA EM UMA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA Para compreender de que forma a UC de uma instituição fi- nanceira pode auxiliar na consecução dos objetivos e dos desafios traçados na Estratégia Corporativa da organização, faz-se necessário um breve retrospecto para buscar a gênese da educação no Banco X. No entanto, pode-se adiantar, consoante afirmação de Xavier (2015, p. 55) que, no Banco X, “a educação, no sentido amplo, nasce no momento da sua própria fundação”. 208 CAPÍTULO 14 2.2 O PERCURSO HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO NO BANCO X A sistematização da formação do quadro funcional do Banco X coube ao Departamento de Seleção e Desenvolvimento de Pessoal (DESED), oficializando, assim, as ações de desenvolvimento profissional em 1965. As oportunidades de treinamento são direcionadas inicialmente aos gerentes, e as ações são desenvolvidas por funcionários que desenvolvem as suas funções administrativas concomitantemente com a sua atuação na área da educação. Apesar da filosofia educacional no Banco X apon- tar para a necessidade de ações que desenvolvam habilidades técnicas, humanas e institucionais, verifica-se que a atuação do DESED pauta-se por uma concepção tecnicista (XAVIER, 2015). Aos poucos, as oportunidades de treinamento no Banco X são ampliadas. Sente-se a necessidade do estabelecimento de uma filosofia de educação, de pressupostos ou de uma linha metodológica que de- marcasse um método de ensino. Na década de 70, já é possível verificar uma preocupação maior com a valorização do aluno como sujeito da aprendizagem, alterando também a forma de se fazer educação no Banco X, incluindo, em suas formações, conteúdos humanistas de caráter socializador (XAVIER, 2015). Um marco importante é a criação da Revista DESED em 1966, veículo que, por mais de uma década, serviu para divulgar os valores organizacionais da instituição. Apontada por Xavier (2015) como a precursora da educação a distância no âmbito da instituição, a revista aborda temas como economia, administração, literatura e atualidades. Além de contribuir para a difusão rápida de informações, principal- mente em agências localizadas em lugares menos providos de fonte de referência, “a revista ajuda a sedimentar a ideia de que há um com- promisso do Banco com o desenvolvimento do País e que o trabalho do funcionalismo é importante contribuição para que a empresa possa atingir esse fim” (XAVIER, 2015, p. 89). Ato contínuo, o Banco X implementa diversos programas que de- monstram o comprometimento da instituição com a educação e o desen- volvimento de seus colaboradores. Para não perder o escopo do presente 209 CAPÍTULO 14 trabalho, promove-se um corte temporal até o ano de 2001, quando ocor- re a implantação do Portal de Desenvolvimento Profissional, acessado por meio da web e que será o embrião da Universidade Corporativa Banco X. 2.3 A UNIVERSIDADE CORPORATIVA BANCO X A Universidade Corporativa Banco X foi inaugurada em julho de 2002, tendo como núcleo, a partir do qual serão estabelecidos os enfoques de aprendizagem, as áreas de atuação do Banco X e os seus pilares nego- ciais. Os domínios temáticos são constituídos pelas áreas de interesse da empresa. A UC Banco X nasce voltada para o desenvolvimento de com- petências relacionadas à estrutura e à estratégia organizacional (XAVIER, 2015). Assim, a UC Banco X, conforme XAVIER (2015, p. 164-165): passa a abrigar, internamente, a oferta e a disponibilização de soluções educacionais na busca de desenvolver competências, estimulando o aprendizado em consonância com as estratégias da empresa. Externamente, oferece produtos educativos variados à sua rede social. Clientes, fornecedores, enfim, o público em geral, pode acessar o site e realizar cursos online, ler artigos de interesse, conhecer mais sobre a educação no Banco. É possível perceber que a UC do Banco X está disponível não ape- nas para os seus colaboradores, mas também para clientes, parceiros, fornecedores, familiares dos funcionários e entidades vinculadas ao Banco. Para atingir o público-alvo, não é concebível pensar que os cursos ofertados pela UC abordem apenas temas estritamente ligados às atividades-fim da empresa. O portfólio de cursos ofertados inclui temas relacionados à qualidade de vida, à ética, à segurança e à cidadania. Somadas às soluções de capacitação ofertadas diretamente pela UC, são ofertadas ainda bolsas de estudo para os níveis de graduação, pós- -graduação Lato Sensu e pós-graduação Stricto Sensu. Tendo como premissa básica a relação dos cursos de graduação e dos programas de pós-graduação com as áreas de interesse da organização. 210 CAPÍTULO 14 De acordo com informações disponíveis no portal da universidade corporativa do Banco X (2016), as atividades educativas são desenvolvi- das por meio de treinamentos presenciais em 26 centros localizados em locais estratégicos no país, a fim de facilitar o acesso de colaboradores. São disponibilizados aprendizagem por meio de diversas tecnologias educacionais que podem ser desenvolvidas no próprio local de trabalho e também na modalidade a distância, por meio da web. Além das ações sistematizadas, a UC do Banco X disponibiliza a seus colaboradores consultas às bibliotecas do Banco, com acesso a livros, periódicos especializados, banco de vídeos, bancos de teses, dissertações e monografias e, ainda, um portal virtual que permite acessar publicações digitalizadas, biblioteca virtual, trilhas de desenvolvimento profissional, treinamentos online etc. Segundo o Relatório 2016, disponibilizado pela Diretoria de Gestão de Pessoas e pela Gerência de Educação Corporativa (2016, on-line), as ações da UC do Banco X “alinham à Estratégia Corporativa e contri- buem para o Banco concretizar sua visão de futuro, atingir seus objetivos estratégicos e fortalecer suas crenças e valores”. Isto posto, entende-se que a UC Banco X orienta-se pelos propósitos de produção e de disseminação do conhecimento relacionado à área de atuação da instituição financeira, com o objetivo de fortalecer a sua marca e o seu posicionamento no mercado. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente artigo possibilitou traçar um panorama da educação corporativa, demonstrando a importância do desenvolvimento de ações educativas nas organizações que possam convergir para a realização de seus objetivos estratégicos, principalmente no que concerne ao desenvol- vimento de competências necessárias para a concretização denegócios e que estão relacionadas à sua área de atuação. 211 CAPÍTULO 14 A apresentação de conceitos de Universidade Corporativa reforça a mudança de paradigma na educação corporativa, que deixa de estar cen- trada no desenvolvimento de treinamentos pontuais, visando a superar dificuldades momentâneas ou lacunas específicas, para se transformar em uma educação que busque integrar as políticas de capacitação às políticas ou às estratégias organizacionais, sem deixar de considerar o colaborador-aprendiz como sujeito do seu processo de formação, haja vista a preocupação das instituições em inserir, no seu portfólio de soluções educacionais, temas secundários à sua atuação. O estudo do itinerário da educação em uma instituição financeira, denominada Banco X, revela que, desde a sua implementação, estiveram presentes a preocupação com a convergência das ações educativas aos objetivos e desafios da instituição. Com a criação da UC Banco X, a ligação entre a estratégia da empresa e a formação profissional de seus colaboradores tornou-se mais evidente. Foi possível identificar que os conhecimentos necessários para o desenvolvimento de competências pos- síveis de concretizar a Estratégia Governamental da instituição financeira permearam as ações educativas ofertadas pela universidade corporativa. Pôde-se, assim, comprovar por meio da pesquisa bibliográfica desen- volvida, que a universidade corporativa desempenha papel estratégico em uma instituição financeira, contribuindo para a realização da estra- tégia corporativa e a melhoria da eficiência operacional. REFERÊNCIAS ALLEN, M. The corporate university handbook: designing, managing and growing a successful program. San Francisco: Pfeeffer, 2007 apud MORAES, F. C. C. A educação corporativa na gestão dos bancos no Brasil: um estudo sobre os valores disseminados e as competências desenvolvidas pelos programas de formação gerencial. 2012. 192 f. Tese (Programa de Pós-Graduação em Administração) – Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Departamento de Admi- nistração, Universidade de São Paulo, 2012. 212 CAPÍTULO 14 CRUZ, R. C. Universidade corporativa: uma reflexão sobre conceitos e o termo universidade. In: GUEVARA, A. J. H.; ROSINI, A. M. Tecnologias emergentes: organizações e educação. São Paulo: Cengage Learning, 2008. p.105-122. GUEVARA, A. J. H.; DIB, V. C. Da sociedade da informação à so- ciedade do conhecimento. In: GUEVARA, A. J. H.; ROSINI, A. M. Tecnologias emergentes: organizações e educação. São Paulo: Cengage Learning, 2008. p. 1-20. MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Atlas, 2001. MARTINS, H. H. Educação corporativa: educação e treinamento nas empresas. In: LITO, F. M.; FORMIGA, M. M. M. Educação a distância: o estado da arte. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009, p. 224-236. MENESES, P.; ZERBINI, T.; ABBAD, G. Manual de treinamento organizacional. Porto Alegre: Artmed, 2010. SILVA, R. S. A educação corporativa: universidades corporativas. In: LITO, F. M.; FORMIGA, M. M. M. Educação a distância: o estado da arte. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009, p. 231-236. XAVIER, L. B. Itinerários da educação no Banco do Brasil. Brasília: Banco do Brasil, 2015. CAPÍTULO 15 215 ENERGIA SOLAR E SUSTENTABILIDADE: UM ESTUDO DE CASO Flávia Aparecida Silveira1 Shirlene da Conceição de Jesus Lima2 RESUMO Contemplando a energia elétrica que está cada vez mais intrínseca ao modo de vida da sociedade e também seu modo de produção que apresenta problemas como a escassez de matéria prima, é possível perceber que existe uma demanda por novos meios de geração de energia. Este trabalho consiste na pesquisa e relato dos benefícios da utilização da energia gerada por dispositivos fotovoltaicos, com foco em um prédio comercial que preza pela sustentabilidade. Nota-se que a energia fotovoltaica contribui significativamente para a sus- tentabilidade do planeta no que tange à geração de energia renovável e conservação do meio ambiente. O desenvolvimento deste estudo tem suas bases em um estudo de caso, sendo que os aspectos teóricos foram embasados em material já existente sobre o assunto, entrevista, questionário e visita à empresa estudada. Palavras-chave: Meio ambiente. Energia fotovoltaica. Certificação ambiental. 1 Pós-graduanda em MBA em Gestão Ambiental e Desenvolvimento Sustentável pelo Centro Universitário de Maringá (Unicesumar). Graduada em Design pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). 2 Orientadora. Especialização em Educação à Distância e as Tecnologias Educacionais pelo Unicesu- mar (2015); Economia do Meio Ambiente pela FCV (2013) e; Gestão de Negócios Empresariais pela Faculdade Unissa de Sarandi (2006). Graduada em Administração com Habilitação em Análise de Sistemas pela Faculdade Unissa de Sarandi (2004). 216 CAPÍTULO 15 1 INTRODUÇÃO A oferta de energia elétrica enfrenta problemas como a escassez de recursos e sua utilização na sociedade tende a ser acentuada com o passar do tempo, pois novas tecnologias são geradas continuamente e muitas delas necessitam de energia elétrica para o funcionamento. Nesse contexto, a necessidade da geração de energia a partir de fontes renováveis tem se tornado indispensável e a geração de energia por meio de dispositivos fotovoltaicos tem se destacado. Neste artigo, foram abordados aspectos referentes à utilização da energia elétrica, considerando problemas relacionados aos modos de produção convencionais e os benefícios dos meios de geração de energia renováveis, com foco na energia solar. Inicialmente, este estudo apresenta aspectos referentes à geração de energia solar, desde a formação das células fotovoltaicas até a utilização da energia gerada. Assim, o artigo é composto por uma pesquisa explo- ratória, iniciada com a revisão da literatura disponível. Espera-se que o resultado deste estudo possa contribuir para a redu- ção do uso de energias de fontes não renováveis, incentivando o cuidado e a preservação do meio ambiente. 2 ENERGIA SOLAR E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL 2.1 ENERGIA SOLAR De acordo com Santos (2007, p. 21), “olhando para o futuro, será possível perceber que o custo da energia tende a ser sempre maior, e a crise dos combustíveis fósseis e da madeira se ampliará, tornando-se mais aguda”. Este quadro demonstra a necessidade de uma mudança comportamental na sociedade que implica em uma busca por fontes alternativas de energia. 217 CAPÍTULO 15 Ainda em relação à crise dos combustíveis fósseis, Farret (1999, p. 115) afirma que “as emissões de dióxido de carbono, na produção de energia, contribuem sozinhas com 50% de gases prejudiciais para o efeito estufa”. Nesse contexto, Villalva e Gazoli (2012, p. 17) con- tribuem destacando que “a exploração de qualquer fonte de energia provoca alterações no meio ambiente e produz impactos de maior ou menor relevância”. Partindo do pressuposto de que o custo e a oferta dos combustíveis fósseis e de madeira estão caminhando em direções contrárias, e de que a produção de energia nos moldes atuais é bastante prejudicial ao meio ambiente, vê-se a necessidade de explorar novos meios de geração de energia, buscando ampliar a produção energética sem agregar altos custos, sejam eles ligados ao meio ambiente ou à economia. Contem- plando esses aspectos, existem na crise atual oportunidades de reconstruir o sistema ener- gético mundial em novas bases, mais sólidas e menos poluentes. Um sistema eficiente e baseado em energias renováveis permitirá reverter às tendências de aumento da emissão de gases de “efeito estufa”, pelo qual o uso de combustíveis fósseis são os principais responsáveis (LUCON; GOLDEMBERG, 2009, p. 124). O Brasil possui um grande potencial energético quando são conside- radas as energias renováveis, porém esse potencial ainda não é explorado em todas as suas vertentes. Para Lucon e Goldemberg (2009, p. 124), “o Brasil há anos é consideradouma potência mundial em energias renováveis, graças ao bioetanol e ao seu parque hidrelétrico”. É preciso repensar os rumos da produção de energia e procurar soluções para reverter antigos hábitos, cogitando mudanças. Silva et al. (2004) mostram que muito tempo antes da atual e necessária procura por novas tecnologias de geração de energia, mais limpas, eficazes e de menor custo ambiental, as células solares já haviam mostrado sua po- tencialidade neste campo. Sendo assim, o desenvolvimento das células solares, os meios de aplicação e o seu uso têm um grande potencial, o que é demonstrado por Santos e Jabbour (2013), quando mencionam que a 218 CAPÍTULO 15 energia solar fotovoltaica se tornou uma ótima alternativa, por ser uma fonte de energia limpa, causando menos impacto ao meio ambiente. Os dispositivos fotovoltaicos são compostos, principalmente, por células fotovoltaicas, conforme mostra a Figura 1, que convertem di- retamente a luz do sol em eletricidade. Para Farret (1999, p. 96) “a célula solar comporta-se como se fosse uma bateria de baixa tensão (em torno de 0,5 V), cuja carga é continuamente recompletada numa taxa proporcional à iluminação incidente”. Figura 1 - Célula Fotovoltaica Fonte: as autoras. Villalva e Gazoli (2012, p. 66) comentam que “uma célula foto- voltaica geralmente é composta por duas camadas, cada uma de um material semicondutor”. Os autores afirmam, ainda, que existem células fotovoltaicas com múltiplas junções, ou seja, maior número de cama- das, porém seu funcionamento é igual àquelas compostas por duas. Os autores também discorrem que aproximadamente 95% das células fotovoltaicas são produzidas utilizando silício, um material abundante na natureza e de custo reduzido. Farret (1999) observa que o efeito fotovoltaico, que ocorre nas células fotovoltaicas, é baseado na transformação direta da energia radiante (proveniente do Sol) em eletricidade, isto é, 219 CAPÍTULO 15 [...] consiste na transformação da radiação eletromagnética do Sol em energia elétrica, através da criação de uma diferença de potencial, ou uma tensão elétrica, sobre uma célula formada por um sanduíche de materiais semicondutores. Se a célula for conectada a dois eletrodos, haverá tensão elétrica sobre eles. Se houver um caminho elétrico entre os dois eletrodos, surgirá uma corrente elétrica (VILLALVA; GAZOLI, 2012, p. 41). Sendo assim, o efeito fotovoltaico, que ocorre por meio de uma diferença de potencial entre os materiais que constituem a célula, apre- senta-se como um método eficiente para a captação da energia solar que, em seguida, é convertida em energia elétrica. 2.2 CERTIFICAÇÃO LEADERSHIP IN ENERGY AND ENVIRONMENTAL DESIGN (LEED) Segundo Fujihara (2012, p. 16) a certificação LEED é um “sistema desenvolvido para orientação e certificação de construções sustentá- veis. É a ferramenta mais reconhecida e a que mais cresce no mundo”. Para obter a certificação LEED, é realizada uma avaliação baseada em diversos fatores, como a localização do empreendimento, as questões ambientais referentes a ele, e o que ele pode agregar à sociedade em que está inserido. A avaliação possui algumas categorias que definem os níveis de obtenção da certificação LEED, como mostra a Figura 2. Figura 2 - Níveis das Certificações LEED Fonte: GBC Brasil ([2018], on-line). De acordo com a figura acima, os empreendimentos que recebem uma pontuação entre 40 e 49 pontos são categorizados com apenas um 220 CAPÍTULO 15 certificado LEED, já os que recebem entre 50 e 59 pontos, obtém o certificado dentro da categoria prata. Aqueles que possuem entre 60 e 79 pontos são categorizados como ouro, enquanto os empreendimentos que estão acima de 80 pontos na avaliação recebem o certificado nível platina. 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Para a produção deste artigo, optou-se por realizar um estudo de caso a partir de uma pesquisa exploratória. Para Gil (2002 p. 41), “estas pesquisas têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a constituir hipóteses”. 3.1 DELIMITAÇÃO DA PESQUISA Esta pesquisa buscou estudar a unidade de uma empresa sem fins lucrativos, que oferece capacitação e aperfeiçoamento profissional para a população. Tal unidade fica no bairro Portão, na cidade de Curitiba, PR. 3.2 TÉCNICA UTILIZADA Foi realizado um estudo de caso, que segundo Almeida (2014, p. 58), “é considerado um método qualitativo, que consiste em um modo de aprofundar uma unidade individual [...]. É um instrumen- to utilizado para compreender a forma e os motivos que levaram a determinada tomada de decisão”. A literatura disponível foi revisada e, posteriormente, realizou-se uma entrevista com a vice-coordenadora da unidade estudada. Foi aplicado também um questionário com questões abertas a um dos arquitetos responsáveis pela construção e manutenção de tal unidade. Em seguida, foi realizada a análise dos dados obtidos. 221 CAPÍTULO 15 Em relação ao desenvolvimento da maioria das pesquisas do tipo ex- ploratórias, Selltiz et al. (1967, p. 63 apud GIL, 2002, p. 41), afirma que “essas pesquisas envolvem: (a) levantamento bibliográfico; (b) entre- vistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado; e (c) análise de exemplos que ‘estimulem a compreensão’”. Para isso, foram utilizadas diferentes técnicas para a obtenção dos dados necessários. Primeiramente, conforme mencionado, realizou-se uma entrevista com a vice-coordenadora da unidade escolhida para a realização da pesquisa. Para Almeida (2014, p. 40), “entrevista: é uma conversação efetuada face a face, de maneira metódica; proporciona ao entrevistador, verbalmente, a informação necessária. Tipos: padronizada ou estruturada, despadronizada ou não estruturada, painel”. A entrevista é de tipo não estruturada, mas possui questões focadas a partir de tópicos relativos ao problema. As respostas foram anotadas durante a entrevista. Na sequência, foi realizada uma visita à unidade de estu- do, para conhecer as estruturas e as características relevantes para a obtenção da certificação LEED. Posteriormente, foi apli- cado um questionário a um dos arquitetos responsáveis pela construção da unidade. Almeida (2014, p. 56) estabelece que “o questionário também é considerado um instrumento de coleta de dados e se constitui por perguntas que podem ser respondidas tanto na presença do pesquisador, quanto em sua ausência”. 3.3 ANÁLISE DOS DADOS E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS Durante a análise e interpretação dos resultados, foram observados os dados obtidos durante a pesquisa e a revisão bibliográfica. Segundo Almeida (2014, p. 40) “a análise dos dados busca evidenciar as rela- ções que podem ser compreendidas entre o fenômeno que está sendo estudado e outros fatores que direta ou indiretamente influenciam o estudo em questão”. 222 CAPÍTULO 15 A utilização da energia solar pode trazer benefícios para diversos setores, como o elétrico, em que, afirma Rűther (1999 apud RODRÍ- GUEZ, 2002, p. 34), “a energia é gerada junto ao ponto de consumo e na tensão de consumo, reduzindo, desta maneira, as perdas associadas à transmissão e distribuição da energia”. Existem benefícios também para a arquitetura, na qual CIEMAT - Centro de Investigaciones Energéticas, Medioambientales y Tecno- lógicas (1998 apud RODRÍGUEZ, 2002, p. 35) demonstra que os painéis fotovoltaicos podem melhorar esteticamente as construções, pois “muitas instalações se integram sobre telhados, já que costumam ser as superfícies do edifício menos aproveitadas e submetidas a uma maior exposição solar ao longo do dia”. Em relação aos benefícios ambientais, Rodríguez (2002, p. 36) afirma que “o mais importante benefício ao meio ambiente da gera- ção fotovoltaica é a ausência de emissões, de qualquer tipo, durante sua operação”. A IEA - PVPS - International Energy Agency - Photovoltaic Power Systems Programme (2001 apud Rodríguez 2002, p. 37) aponta,ainda, como benefício socioeconômico, a “redução das importações de com- bustíveis e proteção contra possíveis volatilidades de preços”. No decorrer da entrevista com a vice-coordenadora da unidade estudada, foi possível ter um panorama geral sobre a infraestrutura, o modo de captação da energia solar e a obtenção da certificação LEED na categoria platinum. O questionário aplicado ao arquiteto possibilitou o entendimento de algumas questões relacionadas à estrutura construída e melhor visualizadas durante a visita. Inicialmente, tanto na entrevista quanto no questionário, houve um questionamento sobre a iniciativa para a instalação dos painéis de cap- tação de energia solar. Ângela D. A. Borges (2017), vice coordenadora da unidade, comentou que o projeto inicial da construção (finalizada em 2016) não tinha o objetivo de agregar uma instalação de captação de energia solar e priorizar o uso de materiais sustentáveis, mas já bus- cava um modo de flexibilização dos espaços e maior utilização tanto da ventilação quanto da iluminação natural. Contudo, ao vencer a 223 CAPÍTULO 15 licitação, a empresa responsável pela obra percebeu, por meio do pro- jeto realizado pelos arquitetos, que existia a possibilidade de a unidade receber a certificação Leed Platinum, desde que algumas modificações fossem aplicadas ao projeto original. Dentre essas modificações, entrou a instalação dos painéis de captação de energia solar, a construção de vestiários externos, de bicicletários, entre outras. Posteriormente, o arquiteto respondeu ao questionário afirmando que a instalação dos painéis fotovoltaicos partiu da empresa estudada como uma medida de sustentabilidade. Ele ressaltou também que outras unidades da mesma empresa possuem instalações para captação de energia solar. Com relação às dificuldades encontradas no processo de implantação do sistema de captação de energia solar até o funcionamento efetivo da instalação fotovoltaica, a Borges (2017) afirmou que foi necessária uma vistoria para a regulamentação do sistema de captação de energia, que foi realizada pela Companhia Paranaense de Energia (Copel). Para o arquiteto Eduardo H. A. Pereira (2017, s. p.), “a dificuldade consistiu em viabilizar o sistema, uma vez que não fez parte do escopo original da obra e por representar um valor significativo de investimento”. Durante a entrevista, perguntas a respeito da rotina presente na unidade, em relação à utilização da energia solar, foram realizadas, obtendo como respostas que a energia solar gerada pela estrutura supre entre 35 e 40% da demanda da unidade, sendo que o restante da energia utilizada é provida pela companhia de energia. Além disso, aos sábados à tarde e aos domingos não há aulas no local, portanto a energia gerada nestes dias é enviada para a rede da companhia de energia, gerando crédito na conta de luz. Outra questão abordada teve relação com o gerenciamento da energia gerada e utilizada na unidade. A entrevistada afirmou que a empresa que auxiliou na implantação das placas fotovoltaicas também auxilia no gerenciamento da utilização da energia na unidade (BORGES, 2017). A partir de um sistema eletrônico de controle, são monitoradas as ativi- dades que dependem da utilização de energia elétrica. No questionário, Eduardo H. A. Pereira (2017, s. p.) frisou que “o prédio possui certifica- ção LEED, portanto, o comissionamento (avaliação do funcionamento 224 CAPÍTULO 15 de equipamentos e instalações ou o conjunto) e monitoramento da energia gerada possui frequente gerenciamento”. Quanto à captação, utilização e armazenamento de energia, constatou-se que A instalação do sistema fotovoltaico consiste na implantação de placas coletores, inversores e transformadores. A utilização ocorre concomitante a energia convencional recebida pela con- cessionária. Já o armazenamento, isso não ocorre, uma vez que o excedente de energia elétrica é injetado diretamente na rede da concessionária. Quando isso ocorre, a energia excedente é convertida em créditos que abatem parte do consumo da fatura da Unidade (PEREIRA, 2017, s. p). Foi possível visualizar, ainda, alguns aspectos da estrutura voltados à gestão ambiental. Em relação à estrutura, além da captação de energia solar no telhado, a unidade busca reduzir o uso da energia elétrica com grandes janelas que proporcionam iluminação e ventilação natural. Os aparelhos de ar condicionado são todos ligados a um aglomerado de condensadores e evaporadores, o que permite uma redução nos custos da utilização destes aparelhos. A unidade possui também um piso elevado, que possibilita a passa- gem do cabeamento estruturado sob o piso. Grande parte das paredes internas da unidade é móvel, fator que possibilita que os andares sejam moldados de acordo com as necessidades diárias. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Esse estudo possibilitou a percepção dos benefícios da utilização da energia solar, que podem ser ambientais, estéticos e socioeconômicos. A pesquisa teórica demonstrou o crescimento na demanda por fontes de energia alternativas, uma vez que o consumo de energia elétrica está em constante crescimento. Além disso, os meios não renováveis de produ- ção de energia apresentam-se cada vez mais nocivos ao meio ambiente. Por meio dos resultados obtidos na visita à empresa, na entrevista e no questionário, nota-se que a energia fotovoltaica pode ser uma gran- 225 CAPÍTULO 15 de aliada na busca pela sustentabilidade e na obtenção de certificações ambientais. A energia gerada pelos painéis fotovoltaicos também pode implicar na redução dos custos energéticos mensais. É importante ressaltar, contudo, que mesmo a utilização da energia solar não sendo muito difundida na sociedade atual, faz-se necessário promover estudos e pesquisas a fim de que fomentem sua importância e implementação, pois se apresenta como uma alternativa limpa de energia, que está cada vez menos dispendiosa financeiramente em rela- ção aos seus resultados, bem como contribui significativamente para o desenvolvimento sustentável do planeta. REFERÊNCIAS ALMEIDA, S. C. D. Metodologia da Pesquisa. Maringá: NEAD/Uni- cesumar, 2014. BORGES, A. D. A. Entrevista concedida a Flávia Aparecida Silveira Curitiba, 7 abr. 2017. FARRET, F. A. Aproveitamento de pequenas fontes de energia elétrica. Santa Maria: UFSM, 1999. FUJIHARA, M. C. Construção Sustentável e Certificação LEED no Brasil. 2012. Disponível em: <http://iab-sc.org.br/concursofatmafapesc/ wp-content/uploads/2012/08/16.00h-Maria_Carolina_Fujihara.pdf>. Acesso em: 27 abr. 2018. GBC BRASIL – GREEN BUILDING COUNCIL. Certificação LEED. [2018]. Disponível em: <http://www.gbcbrasil.org.br/sobre-certificado. php?doc=CompreendaoLEED.png.zip>. Acesso em: 27 abr. 2018. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002. 226 CAPÍTULO 15 LUCON, O.; GOLDEMBERG, J. Crise financeira, energia e sustentabi- lidade no Brasil. Estudos Avançados, São Paulo, v. 23, n. 65, p. 121-130, 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ea/v23n65/a09v2365. pdf>. Acesso em: 26 abr. 2018. PEREIRA, E. H. A. Entrevista concedida a Flávia Aparecida Silveira. Curitiba, 13 abr. 2017. RODRÍGUEZ, C. R. C. Mecanismos Regulatórios, Tarifários e Eco- nômicos na Geração Distribuída: O Caso dos Sistemas Fotovoltaicos Conectados à Rede. 2002. 42 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Mecânica) –Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2002. Dis- ponível em: <http://www.professores.uff.br/dulcemar/Doc_PDF/Tari- fas_Energia.pdf>. Acesso em: 27 abr. 2018. SANTOS, J. B.; JABBOUR, C. J. C. Adoção da energia solar fotovoltaica em hospitais: revisando a literatura e algumas experiências internacionais. Saúde Soc. São Paulo, v. 22, n. 3, p. 972-977, 2013. Disponível em: <http://www. scielo.br/pdf/sausoc/v22n3/26.pdf>. Acesso em: 27 abr. 2018. SANTOS, N. R. G. Projeto, construção, e análise de desempenho de coletores solares alternativos utilizando garrafas PET. 2007. 100 f. Dissertação(Mestrado em Engenharia Mecânica) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2007. Disponível em: <http://repositorio. ufrn.br:8080/jspui/handle/123456789/15534>. Acesso em: 26 abr. 2018. SILVA, R.; CHIQUITO, A. J.; SOUZA, M. G.; MACEDO, R. P. Células solares “caseiras”. Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 26, n. 4, p. 379-384, 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbef/v26n4/ a12v26n4.pdf> Acesso em: 27 abr. 2018. VILLALVA, M. G.; GAZOLI, J. R. Energia solar fotovoltaica: conceitos e aplicações. São Paulo: Ética, 2012. CAPÍTULO 16 229 A AUDITORIA INTERNA NO ASSESSORAMENTO DA GESTÃO Alexandre Mindas Vieira1 Ronaldo César Pimenta2 RESUMO O presente estudo buscou identificar como a auditoria interna pode impactar a tomada de decisão nas organizações por meio das suas ativida- des de análises, avaliações e críticas que se realizam em diversos segmentos da empresa. A assessoria prestada pela auditoria interna auxilia a gestão da empresa a alcançar os seus objetivos estratégicos com maior eficiência, eficácia e efetividade, pois, com o seu trabalho rotineiro dentro da empre- sa, a auditoria proporciona operações adequadas e racionais, segurança e confiabilidade nos registros, prevenção de fraudes e de ineficiências administrativas, além de confiabilidade nos controles internos organiza- cionais. Na busca por se certificar que a auditoria interna pode auxiliar nos processos organizacionais, utilizou-se o método de pesquisa bibliográfica, pautada sob o aporte teórico de Almeida (2003), Attie (1992), Morais e Martins (2013) e Ribeiro e Coelho (2013) em suas contribuições sobre o tema. No contexto de alta complexidade do mundo dos negócios e da velocidade do fluxo das informações, os gestores necessitam tomar decisões seguras e oportunas para alcançar os seus objetivos estratégicos e manter as suas organizações competitivas no mercado. Diante disto, a auditoria interna coloca-se como uma importante ferramenta de assessoria da gestão que agrega valor aos processos organizacionais e proporciona a segurança adequada para a tomada de decisão. Palavras-chave: Auditoria interna. Controle interno. Assessoria da gestão. Segurança na tomada de decisão. 1 Graduado em Administração pela Faculdade Fortium de Brasília. 2 Graduado em Administração, Especialista em Controladoria e Gerência Financeira, em Educação a Distância e Tecnologias Educacionais e em Gestão com Pessoas. 230 CAPÍTULO 16 1 INTRODUÇÃO O presente artigo tem por finalidade evidenciar a importância da auditoria interna como instrumento de apoio na tomada de decisão nas organizações. Na atual realidade do mundo dos negócios, com a compe- titividade acirrada e as evoluções rápidas e constantes, a auditoria interna surge para assessorar os segmentos organizacionais, principalmente a alta cúpula da empresa, e com o fruto das suas atividades, proporcio- nar a execução de operações eficientes e eficazes, além de informações confiáveis e tempestivas, de modo a sustentar a tomada de decisão mais acertada para a organização. Em relação à metodologia, a pesquisa será desenvolvida por meio da análise de dados de material bibliográfico relacionado ao tema en- contrado em livros, artigos científicos, sites especializados, entre outros. Segundo Lakatos e Marconi (2003 p. 158) “a pesquisa bibliográfica é um apanhado geral sobre os principais trabalhos já realizados, reves- tidos de importância, por serem capazes de fornecer dados atuais e relevantes relacionados com o tema”. Desta forma, o aporte teórico de autores como Almeida (2003), Attie (1992), Morais e Martins (2013) e Ribeiro e Coelho (2013), por sua relevância no âmbito dos estudos sobre a temática em foco nesse artigo, embasa as análises documentais. Neste contexto de volatilidade empresarial, a auditoria interna, com o objetivo principal de auxiliar a organização a alcançar os seus objetivos, presta um assessoramento primordial aos gestores da empresa por meio de avaliações, análises e críticas que possibilitam aprimorar processos, operações e controles internos, tornando os resultados de cada setor da empresa mais eficazes e racionais. Nesta rotina de constante avaliação e aprimoramento dos processos organizacionais, a atividade de auditoria interna torna-se uma importante ferramenta de gestão que presta valiosa assessoria a todos os setores da empresa, o que resulta em informações confiáveis e tempestivas para que as decisões sejam as mais adequadas. Diante da necessidade das empresas de obterem informações e da- dos seguros que possibilitem aos gestores tomar decisões adequadas, o presente artigo aborda como situação-problema a seguinte questão: a 231 CAPÍTULO 16 auditoria interna pode impactar a tomada de decisão nas organizações? Em busca da resposta, traçou-se o objetivo geral de analisar como a auditoria interna pode auxiliar a tomada de decisão nas organizações. Esse objetivo, por sua vez, para facilitar o entendimento, subdividiu-se nos objetivos específicos de conceituar auditoria interna; identificar os objetivos da auditoria interna nas organizações e identificar como a audi- toria interna poderá impactar a melhoria dos processos nas organizações. O artigo está dividido em quatro seções, além da introdução. A segunda tece considerações sobre alguns conceitos da auditoria interna no contexto empresarial. Em seguida, busca-se mostrar os objetivos da auditoria interna e como eles resultam positivamente nos resulta- dos organizacionais. Apresentamos, na quarta seção, a importância da auditoria interna nas operações organizacionais e como os resultados das suas atividades podem apoiar a tomada de decisão. Por último, são feitas considerações acerca do estudo empreendido e de como a auditoria interna proporciona segurança para os gestores na tomada de decisão. 2 AUDITORIA INTERNA Em outros tempos, o trabalho de auditoria era direcionado apenas para o exame das demonstrações contábeis, sem um caráter contínuo, e o resultado desse trabalho baseava-se em um pequeno volume de testes. Neste contexto, as empresas não dispunham de um setor fiscalizador que pudesse acompanhar o desenvolvimento das melhorias sugeridas para solucionar possíveis problemas nos processos contábeis, e as decisões da administração dessas empresas eram pautadas nesses resultados, gerados, por sua vez, pelos auditores externos (ALMEIDA, 2003). Na atual realidade em que vivem as empresas, em um mundo globa- lizado, com a competitividade acirrada, os gestores, além da rapidez e da volatilidade das informações, necessitam de dados confiáveis, precisos e tempestivos para que possam tomar a decisão mais acertada para a organização, o que não seria possível com os padrões já apresentados da auditoria externa. 232 CAPÍTULO 16 Neste sentido, a auditoria interna, apesar de ser uma atividade recen- te, vem ganhando cada vez mais importância nas organizações devido à evolução dos negócios e à necessidade de maior credibilidade nos processos dos mais diversos setores organizacionais. O Conselho Federal de Contabilidade assim define a auditoria interna, por meio da NBC TI 01 – da Auditoria Interna: a auditoria interna compreende os exames, análises, avaliações, levantamentos e comprovações, metodologicamente estru- turados para a avaliação da integridade, adequação, eficácia, eficiência e economicidade dos processos, dos sistemas de in- formações e de controles internos integrados ao ambiente, e de gerenciamento de riscos, com vistas a assistir à administração da entidade no cumprimento de seus objetivos (CFC, 2012, p. 5). No atual contexto, Ribeiro e Coelho (2013, p. 66) argumentam que “a auditoria interna é a atividade de avaliação estabelecida ou fornecida como um serviço para a entidade. Suas funções incluem, dentre outras: avalia- ção e monitoramento da adequação e efetividade do controle interno”. Diferentemente da auditoria externa, a interna faz parte da estrutura da empresa, ou seja, é