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11º Ano Módulo 4 1. A população da Europa nos séculos XVII e XVIII: crises e crescimento 1.1 Economia e população O sistema económico que vigorou no continente europeu até ao fim do século XVIII era genericamente designado por economia pré-industrial. Economia Pré-Industrial: Sistema económico que se caracteriza essencialmente pela base agrícola e pela debilidade tecnológica. O volume da produção encontra-se, por isso, estritamente ligado ao número de homens, estando a expansão demográfica limitada pela insuficiência dos recursos alimentares, Assim, as fases de crescimento e de recessão económica coincidem, em geral, com os fluxos e refluxos populacionais. A economia pré-industrial caracterizava-se essencialmente por uma larga base agrícola e uma evolução tecnológica lenta. Era uma economia agrária e rural (de subsistência) onde a agricultura ocupada cerca de 75% da mão-de-obra disponível. Era pouco produtiva (rendimentos eram insuficientes), com atrasos económicos nos instrumentos e nos métodos de cultivo (utensílios rudimentares, sem fertilizantes químicos, sem meios de combater as pragas), sujeitando-se às variações climáticas e à fertilidade natural dos solos. Era marcada por desequilíbrios entre a oferta e a procura. 1.2 Evolução demográfica 1.2.1 O modelo demográfico antigo: características Esta fraqueza tecnológica da economia pré-industrial limitava o volume de produção de alimentos e claro o número de pessoas que poderia alimentar. O Modelo Demográfico Antigo vai-se caracterizar por flutuações demográficas, devido principalmente: · À maior ou menor disponibilidade de recursos alimentares; · Ao preço dos cereais, principal fonte de comida; · Às alterações climáticas que afectavam as colheitas; · Às epidemias; · Ao estado de guerra; · Às condições de higiene e de saúde pública; · Às condições materiais da vida das populações. Se em época de paz e prosperidade a população aumentava de mais (alta taxa de natalidade), o equilíbrio entre os recursos alimentares e contingente demográfico rompia-se Bastava um ciclo de más colheitas para que a fome agravasse, devastador, arrastando com ela todo um cortejo de doenças mortíferas, elevando a mortalidade de forma súbita e intensa (alta taxa de mortalidade e mortalidade infantil maus cuidados pré-natais e pós-natais). Esta elevada mortalidade que caracteriza este regime vai trazer consigo uma esperança média de vida baixa (entre os 30 e 33 anos de idade), com uma população jovem e uma taxa populacional baixa. 1.2.2 O século XVII e Balanço Demográfico Um exemplo de uma crise demográfica foi a do século XVII. Anos sucessivos de más colheitas devido às más condições climáticas (invernos rigorosos, verões húmidos e frescos) geravam fomes devastadoras, que arrastavam consigo terríveis epidemias. À fome e à peste juntaram-se os efeitos nefastos das guerras, entre a mais devastadora a dos trinta anos (1618-1648) na Alemanha que ceifou 2/3 da população em certas regiões. Encontrávamos neste século a junção da trilogia negra: fome, peste e guerra. Todavia, a população da Europa estagnou apenas e em alguns sítios onde as condições se mantiveram prósperas houve um crescimento ligeiro. 1.2.3 O século XVIII No século XVIII assistiu-se à inversão da estagnação e da regressão demográfica devido à diminuição da frequência e intensidade das crises demográficas e aos factores agravantes (pestes, fomes e guerras) terem sido menos frequentes. Os factores que contribuíram para a redução das taxas de mortalidade, indicador central da nova demografia foram os seguintes: · As melhorias climáticas e boas colheitas; · A introdução de novos alimentos, como o milho e batata, contribuíram para colmatar as ausências do trigo e a sua carestia; · Os legumes e a fruta permitiram uma alimentação mais diversificada e equilibrada; · As melhorias das condições materiais nas habitações tornaram-nas menos frias e com melhores condições de higiene; · A promoção das medidas de saúde pública para combater epidemias, por parte dos Estados e governos mais centralizados; · O aparecimento da ratazana contribuiu para eliminar o rato negro responsável pela difusão da peste; · A utilização do quinino para debelar as febres e a descoberta, em 1789, da vacina contra a varíola, por Edward Jenner (embora os efeitos da utilização fossem mais significativos a partir do século XIX); · A assistência durante o parto, por médicos e parteiras, permitiu melhorar as condições de nascimento a partir da segunda metade do século XVIII; · A alteração dos cuidados com as crianças melhorou as condições de vida na infância e diminuiu, progressivamente, a mortalidade infantil. 2. A Europa dos Estados absolutos e a Europa dos parlamentos 2.1 Estratificação social e poder político nas sociedades do Antigo Regime 2.1.1 Uma sociedade de ordens assente no privilégio Antigo Regime: Época da História europeia compreendida entre o Renascimento e as grandes revoluções liberais que corresponde, a grosso modo, à Idade Moderna. Socialmente, o Antigo Regime caracteriza-se por uma estrutura fortemente hierarquizada, politicamente corresponde às monarquias absolutas e economicamente ao desenvolvimento do capitalismo comercial. Ordem/Estado: Corresponde a uma categoria social definida quer pelo nascimento quer pelas funções sociais que os indivíduos desempenham. Confere aos seus membros determinadas honras, direitos e deveres. A cada ordem corresponde um estatuto jurídico próprio e os seus elementos distinguem-se, de imediato, pelo traje e pela forma de tratamento. Estratificação social: Divisão da sociedade em grupos hierarquicamente organizados, consoante o seu prestígio, poder ou riqueza. As três ordens da sociedade do Antigo Regime Clero Nobreza Terceiro Estado (Ou Povo) Divisão Cerca de 1 a 4% da população, considerado o mais digno pois estava mais próximo de Deus: · Alto Clero (Bispos, cardeais, abades); · Baixo Clero (padres, monges). Cerca de 1,5 a 6% da população: · Nobreza da Corte (vive junto do rei); · Nobreza de Toga (administração); · Nobre de Espada (defesa militar); · Nobreza Provincial (Pequena nobreza rural). Cerca de 90 a 97% da população: Burguesia: · Financeiros e mercadores; · Profissões liberais (homens de letras); · Lavradores; · Funcionários administrativos. Povo: · Camponeses; · Pescadores; · Trabalhadores braçais; · Vagabundos e mendigos. Actividades/Funções - Religião, administração pública, ensino e assistência aos pobres e doentes. - Administração pública, defesa militar, agricultura, comércio e indústria. - Comércio, administração pública, notários, tabeliães, médicos, indústria artesanal, agricultura, criação de gado e outros trabalhos braçais. Privilégios · Recebem rendas do rei; · Posse de propriedades com privilégios (senhorios); · Recebem impostos dos camponeses; · Não pagam a maior parte dos impostos; · Uso de títulos e vestuário próprio; · Justiça Própria/ Foro próprio (direito canónico); · Direito de asilo; · Isenção militar; · Recebem a dízima. · Direito de porte de armas; · Isenções jurídicas (penas justificadas). Obrigações · Apoiar o monarca na administração do reino; · Obedecer, sem crítica, ao rei. - Trabalhar/produzir; pagamento de impostos aos senhores das terras; pagamento da dízima ao clero e ao rei; prestação de serviços; cumprimento do serviço militar quando requisitado pelo rei ou pelos senhores das terras. Excepção: - A alta burguesia, à qual o rei se alia na sua luta pela centralização do poder, é frequentemente concedida a mobilidade social. A diversidade de comportamentos e de valores. A mobilidade social Na sociedade hierarquizada do Antigo Regime, todos os comportamentos estavam rigidamente estipulados para cada uma das ordens sociais. Assim, o estatuto jurídico, o vestuário, a alimentação, as profissões, as amizades, os gastos, os divertimentos, as formas de tratamento devem reflectir a pertença a cada uma das ordens: por exemplo, apenas o nobre usava a espada e apenas o membro do clero usava a tonsura(corte de cabelo típico). Esta preocupação em tornar visível a diferenciação social exprimira os principais valores defendidos na sociedade de ordens: a defesa dos privilégios pelas ordens sociais mais elevadas, a primazia do nascimento como critério de distinção e a fraquíssima mobilidade social. Mobilidade social: Transição dos indivíduos de um para outro estrato social, quer em sentido ascendente quer em sentido descendente. Numa sociedade de ordens, esta mobilidade é sempre reduzida, uma vez que o critério de diferenciação social assenta no nascimento. Porém no Antigo Regime, o desenvolvimento do capitalismo comercial conduziu à ascensão da burguesia, que viu reforçadas tanto a sua valia económica como a sua dignidade social. Factores de mobilidade social descendente da nobreza rural e do baixo clero: · Degradação da situação da pequena nobreza e baixo clero devido aos seus baixos recursos económicos; · Desenvolvimento de uma economia monetária que levou ao empobrecimento da nobreza rural que vivia dos rendimentos agrícolas; · Endividamento da nobreza rural que se vê obrigada a vender as suas terras à alta nobreza e burguesia; · Confiança nos sinais exteriores de superioridade e em privilégios antigos que foram caindo em desuso. Factores de mobilidade social ascendente da burguesia: · Expansão geográfica e comercial que estimulou o desenvolvimento de uma economia monetária e comercial; · Enriquecimento com o comércio colonial; · Afirmação do Estado Moderno, Absoluto e Burocratizado que privilegiou o recrutamento da burguesia; · Aquisição de terras à nobreza; · Compra de cargos públicos; · Obtenção de cargos, títulos e doações dos reis; · Obtenção de títulos através do casamento com a nobreza; · Grandes habilitações literárias. 2.1.2 O absolutismo régio Monarquia absoluta: Sistema de governo que se afirmou na Europa, no decurso do Antigo Regime. Concentra no soberano, que se considera mandato por Deus, a totalidade dos poderes do Estado. Os fundamentos do poder real O poder real assenta em quatros características fundamentais: · É sagrado, porque provém de Deus que o conferiu aos reis para que estes o exerçam em seu nome. Daqui decorre que atentar contra o rei é um sacrilégio e que se deve “obedecer ao príncipe por princípio de religião”. Mas esta origem divina do poder real se a torna incontestável também lhe impõe limites, pois os reis devem honrar o poder que Deus lhes deu, usando-o para o bem público; · É paternal, pois, sendo a autoridade paterna a mais natural e a primeira que os homens conhecem, “fizeram-se os reis pelo modelo dos pais”. Por isso, o rei deve satisfazer as necessidades do seu povo, proteger os fracos e governar brandamente, cultivando a imagem de “pai do povo”; · É absoluto, uma vez que o príncipe deve tomar as suas decisões com total liberdade. Por isso, “o príncipe não deve prestar contas a ninguém do que ordena”. Mas poder arbitrário e poder absoluto são coisas muito diferentes. O rei assegura, com o seu poder supremo, o respeito pelas leis e pelas normas da justiça, de forma a evitar a anarquia que retira aos homens os seus direitos e instala a lei do mais forte. · Está submetido à razão, isto é, à sabedoria, visto que Deus dotou os reis de capacidades que lhes permitem decidir bem e fazer o povo feliz. Escolhidos por Deus, os monarcas possuem certas qualidades intrínsecas: bondade, firmeza, forças de carácter, prudência, capacidade de previsão, São elas que asseguram o bom governo. A encenação do poder: a corte régia Na monarquia absoluta, o rei utilizava a vida em corte para mais facilmente controlar a Nobreza e o Clero. O grupo que rodeava o rei (sociedade de corte) estava constantemente sujeito à vigilância deste. Os palácios eram centros da vida da corte e eram locais de ostentação do poder e, ao mesmo tempo, de controlo das ordens privilegiadas. Não foi o Absolutismo que inventou a corte mas foi ele que a transformou no espelho do poder. Tal como Luís XIV é um exemplo de paradigma de um rei absoluto, Versalhes é o exemplo do paradigma de uma corte real. Quem pretendia um cargo ou uma mercê só podia obtê-los no palácio. O luxo da corte arruinara a nobreza que rivalizava no traje, nas cabeleiras, na ostentação, assim se esquecendo de que a sua influência política se esvaíra nas mãos do soberano. Nobres, conselheiros, “privados do rei”, funcionários que viviam na corte e para a corte, seguiam as normas impostas por uma hierarquia rígida e de uma etiqueta minuciosa. Esta sociedade da corte servia de modelo aos que aspiravam à grandeza, pois representava o cume do poder e da influência. Todos os actos quotidianos do rei eram ritualizados, “encenados” de modo a endeusar a sua pessoa e a submeter as ordens sociais. Cada gesto tinha um significado social ou político, pelo que, através da etiqueta, o rei controlava a sociedade. Um sorriso, um olhar reprovador assumiam um significado político, funcionando como recompensa ou punição de determinada pessoa. 2.1.3 Sociedade e poder em Portugal A preponderância da nobreza fundiária e mercantilizada A restauração da independência nacional, em 1640, por iniciativa da nobreza, concedeu a esta ordem de grandes proprietários de terras um papel social importante, reforçado pelos cargos na governação da monarquia, na administração ultramarina e no comércio ultramarino. Deste modo, as principais características da sociedade de ordens em Portugal são, por um lado, a preponderância política da nobreza de sangue, e por outro lado, o afastamento da burguesia das esferas do poder. A debilidade da burguesia portuguesa, deveu-se, em grande parte, à centralização das actividades mercantis nas mãos da Coroa e da Nobreza (completavam os rendimentos da administração do reino com dádivas reais e com o comércio). Em Portugal, a nobreza mercantilizada (dedicada ao comércio), dá origem à figura do “cavaleiro-mercador”, o qual investe os lucros do comércio em terras e bens de luxo. Deste fenómeno decorrem duas consequências: a difícil afirmação da burguesia portuguesa e o atraso económico de Portugal face a vários países da Europa. A criação do aparelho burocrático do Estado absoluto Os reinados da Dinastia de Bragança corresponderam à afirmação progressiva do absolutismo régio: D. João IV: · Convocação das Cortes em 1641; · Reactivação e reestruturação do aparelho burocrático central do Estado; · Reorganização do Conselho do Estado com a criação de 3 secretarias em áreas fundamentais com a defesa (criação do Conselho de Guerra), as finanças (reforma do Conselho da Fazenda) e a Justiça (reestruturação do Desembargo do Paço); · Governo partilhado entre secretarias e Conselhos dos Nobres; D. Pedro II: · Desvalorização do papel das Cortes (apenas as reuniu para decisões com direitos hereditários da Corte); · Manutenção das instituições criadas anteriormente; · Declínio dos Conselhos; D. João V: · Não convoca as cortes; · Diminuição do poder dos Conselhos; · Redefinição das funções dos secretários, aos quais recorria frequentemente; · Reforço da autoridade e centralidade do rei. O absolutismo Joanino O fenómeno a que se chamou a “encenação do poder” estava, também, presente na monarquia portuguesa, em particular no reinado de D. João V. Tal como Luís XIV, D. João V realçava a figura régia através da magnificência (luxo) permitida pelo ouro e diamantes do Brasil, da autoridade e da etiqueta, de que se salientaram os seguintes aspectos: · Subordinação das ordens sociais (manifestada na recusa em reunir cortes e no controlo pessoal sobre a administração pública); · Envio de embaixadas ao estrangeiro (com engrandecimento das representações diplomáticas); · Distribuição de moedas de ouro pela população; · Política de grandes construções (Convento de Mafra, Aqueduto de águas livres); · Política externa (o rei procurou a neutralidade face aos conflitos europeus, salvaguardando os interesses do nosso império e do nosso comércio); · Grande protocolo da corte (luxo e etiqueta minuciosa); · Reforma das secretarias existentes e a redefinição dassuas funções. · Grande política cultural com o desenvolvimento das letras, das ciências e das artes com a criação da Real Academia Portuguesa da História e a protecção de diversos artistas e músicos, expresso nas grandes obras barrocas. 2.2 A Europa dos Parlamentos: a sociedade e poder político 2.2.1 A afirmação da política da burguesia nas Províncias Unidas / A burguesia nas estruturas do Poder / A jurisprudência ao serviço dos interesses económicas: Grotius e a legitimação da liberdade dos mares Depois de uma longa guerra contra a soberania espanhola, a região dos Países Baixos do Norte tornou-se num pequeno Estado independente. O novo Estado tomou a forma de uma república altamente descentralizada e conduzida pela burguesia de negócios, sobretudo pela holandesa, a província mais rica da União. Eram os burgueses que assumiam as magistraturas nas cidades e eram também eles que desempenhavam funções ao mais alto nível, como as de deputado aos Estados Gerais, o Parlamento da República com sede em Haia. Aos nobres ficaram reservadas, quase unicamente, as funções militares. Influenciada pela moral protestante mas também pela consciência do seu valor e dos seus interesses, a burguesia holandesa cultivou uma mentalidade própria que valorizava a vida sóbria, o sucesso dos negócios e o bom desempenho dos cargos públicos. Foi desta “república de mercadores” que partiu, pela mão de Hugo Grócio, a contestação do exclusivo ibério de navegação e comércio transoceânico, expresso no seu texto publicado em 1608, “A Liberdade dos Mares (Mare Liberum)”. Grotius argumentava que os mares eram inesgotáveis e essenciais à vida, pelo que constituíam propriedade comum de toda a Humanidade. 2.2.2 A recusa do Absolutismo na sociedade inglesa A primeira revolução e instauração da república/ A restauração da monarquia. A Revolução gloriosa/ Locke e a justificação do parlamentarismo Entre 1603, data da morte da rainha Isabel I, e 1688-1869, data da Revolução gloriosa, a Inglaterra viveu um período politicamente conturbado, oscilando entre o absolutismo e o parlamentarismo. Jaime I sucedeu a Isabel I, pondo fim à dinastia dos Tudor, iniciando a dos Stuart; era um rei autoritário, adepto do Catolicismo, o que impossibilitou que dispusesse do apoio das elites, sobretudo das representadas no Parlamento. O fortalecimento do poder régio acentuou-se com a subida ao trono em 1625 de Carlos I: era católico e ampliou a cisão entre o rei e o Parlamento, ao tomar medidas consideradas ilegais. A governação de Carlos I deu origem a protestos por parte do Parlamento: em 1628, o Parlamento apresentou ao rei a “Petição dos direitos”, que recomendava que os direitos dos súbditos fossem respeitados. Carlos I não respeitou a “Petição”, nem a cumpriu, pois governou de forma absoluta, no período que ficou conhecido como a “tirania dos onze anos”, entre 1629 e 1640. O descontentamento face ao Rei Carlos I aumentou, o que originou uma guerra civil entre 1642-1649. O que se estipulava na “Petição dos Direitos”? · A proibição de levantamento de impostos sem o consentimento do clero, da nobreza e do povo; · A proibição do rei de exigir dinheiro emprestado; · A proibição de prender ou retirar bens e liberdades a um homem excepto quando decidido por um tribunal. A guerra civil: Abolição da monarquia e proclamação da República. · A guerra civil apôs os defensores do rei (os realistas) aos apoiantes do Parlamento, os parlamentaristas, também conhecidos por “cabeças redondas. · Os opositores do rei eram liderados por Oliver Cromwell e derrotaram as tropas realistas. O rei foi executado; · Cromwell e os seus partidários proclamaram a república. Este tornou-se Lorde Protetor da República, pela nova constituição aprovada em 1653 e assumiu o poder executivo, enquanto o Parlamento se assumiu como o órgão supremo legislativo. Cromwell acabou por governar de forma ditatorial e o descontentamento generalizou-se. Em 1660, Carlos II ocupou o trono e assegurou a restauração da monarquia. A Restauração da monarquia em Inglaterra: Carlos II · As primeiras medidas de Carlos II foram compensar as vítimas da guerra civil; promulgar o habeos corpus em 1679, mediante a qual ninguém podia ser preso sem culpa formada; abolir a censura e garantir a liberdade de petição; · Devolveu ao Parlamento o seu poder e restabeleceu a câmara dos Lordes; · Carlos II morreu e subiu ao trono o seu irmão Jaime II, católico e também defensor do absolutismo o que suscitou uma outra crise com o Parlamento e como os seus súbditos; · Alguns membros do Parlamento solicitaram, em 1688, a intervenção de Guilherme de Orange e Nassau, Stathouse da Holanda, protestante e casado com Maria, a filha mais velha do rei Jaime II; · Face a esta situação Jaime II refugiou-se em França. A declaração de direitos e a consagração da monarquia parlamentar em Inglaterra · Os reis Guilherme III e Maria II assinaram a “Declaração dos Direitos” e aceitaram a partilha da soberania com o Parlamento; · Os reis ficaram obrigados a convocar o Parlamento e ficaram submetidos ao direito comum; não podiam suspender leis; recrutar exército em tempo de paz ou levantar impostos sem o consentimento parlamentar; · Ficou consagrada uma monarquia parlamentar. John Locke e a Justificação do Parlamentarismo · Influenciou os sistemas políticos modernos: ao nível dos direitos e liberdade individuais e na afirmação do parlamentarismo; · Defendeu a ideia de que o poder político assenta num contrato entre o soberano e a nação; -Os súbditos tinham legitimidade para depor o monarca, caso não cumprisse o contrato o poder estava nas mãos do povo. 3. 3.1 Reforço das economias nacionais e tentativas de controlo do comércio 3.1.1 O tempo do grande comércio oceânico Capitalismo comercial: Sistema económico que se afirmou nos séculos XVI a XVIII e se caracteriza pela procura do maior lucro, pelo espírito de concorrência e pelo papel determinante do comércio como motor do desenvolvimento. Comércio Triangular: Circuito do comércio atlântico que ligava os continentes europeu, africano e americano. Este comércio, que prosperou sobretudo nos séculos XVII e XVIII, era suportado pelas necessidades de mão-de-obra das colónias americanas que dependiam dos contingentes negros para as suas plantações e explorações mineiras. Tráfico Negreiro: Intenso comércio de escravos negros que canalizou para a América grande número de africanos, na sua maioria comprados ou aprisionados nas costas da Guiné, de Angola e de Moçambique. 3.1.2 Reforço das economias nacionais: O Mercantilismo Mercantilismo: Teoria económica enunciada nos séculos XVI, XVII e XVIII, que defende uma forte intervenção do Estado na economia. O objectivo dessa intervenção era o aumento da riqueza nacional, identificada com a quantidade de metais preciosos acumulados pelo país. São características do Mercantilismo as medidas de tipo proteccionista e monopolista. Proteccionismo: Política económica que impede a livre iniciativa e a livre circulação de mercadorias. O proteccionismo traduz-se, geralmente, quer por um aumento dos direitos alfandegários sobre as importações quer pela concessão de exclusivos e privilégios industriais. O objectivo destas medidas é permitir o desenvolvimento das produções internas que, desta forma, se tornam mais competitivas. Segundo o Mercantilismo, a riqueza do Estado contava-se pela quantidade de metais precisos que se conseguia acumular nos cofres do Estado. Canalizar dinheiro para dentro do reino, através de um saldo positivo da balança comercial tornou-se o foco das práticas mercantilistas, aumentando o volume da produção interna e diminuindo as mercadorias importadas. Na lógica mercantilista, competia ao Estado implementar medidas que fomentassem e salvaguardassem os produtos e as áreas do comércio nacional da concorrência estrangeira, numa espécie de proteccionismo económico. Delas destacaram-se: · O fomento da produção industrial, promovendo a auto-suficiência do país e a exportação de produtos manufacturados; · A revisão das tarifas alfandegárias,penalizando os produtos estrangeiros com impostos e taxas e aliviando os nacionais, aumento as exportações; · O incremento e reorganização do comércio externo, proporcionando mercados de abastecimento de matérias- primas e de colocação dos produtos manufacturados. O Mercantilismo em França Manufactura: Grandes unidades transformadoras típicas dos séculos XVII e XVIII que recorriam já à divisão do trabalho e ao uso de tecnologia própria mas não de maquinaria. Companhia Monopolista: Associação económica, geralmente de cariz comercial, com direitos exclusivos sobre determinado produto ou área do comércio. Nos séculos XVII e XVIII organizaram-se numerosas companhias monopolistas, na sua maior parte destinadas ao comércio colonial. AS mais poderosas foram as Companhias das Índias Orientais, às quais os estados (Holanda, Inglaterra e França) conferiram poderes de conquista, administração e defesa do Oriente. Colbert fomentou as manufacturas nacionais através da concessão de incentivos económicos e privilégios; protegeu as produções francesas aplicando pesados direitos de entrada aos produtos importados e facilitando as exportações, introduzindo novas indústrias com importação de técnicas e mão-de-obra estrangeira; aumentou o poder do Estado de regulamentar minuciosamente a actividade industrial; reforçou o comércio oceânico com a criação de companhias monopolistas, às quais foi concedido o exclusivo comercial de determinadas áreas geográficas, bem como poderes para aí representarem o Estado, conquistando terras, administrando os territórios e negociando tratados. O sistema mercantil em Inglaterra O mercantilismo inglês foi implementado por Cromwell, que valorizou a marinha e sector comercial. Como aconteceu em França, o proteccionismo adoptado foi uma resposta ao poderio Holandês, que apresentava forte concorrência nas áreas dos transportes marítimos e do comércio externo). Este proteccionismo foi marcado, principalmente, pelos Actos de Navegação, destinados a banir os Holandeses das áreas de comércio britânico. Por determinação, todas as mercadorias estrangeiras que entrassem em Inglaterra seriam obrigatoriamente transportadas em embarcações inglesas ou do país de origem. Reservou-se de forma igual à marinha britânica, a navegação de cabotagem e o transporte para Inglaterra das mercadorias coloniais. O sector comercial foi ainda reforçado com a criação de grandes companhias de comércio, onde se destacou a Companhia das Índias Orientais. 3.1.3 O equilíbrio europeu e a disputa das áreas coloniais Exclusivo Colonial: Forma de exploração económica que reserva para a metrópole os recursos e o mercado das colónias. Trata-se de uma medida proteccionista cujo objectivo é garantir a obtenção de matérias-primas e produtos exóticos a baixo preço, bem como escoar as produções manufactureiras do país dominador. O equilíbrio europeu no decurso dos séculos XVII e XVIII foi particularmente frágil e palco de numerosas guerras. O proteccionismo económico, as motivações económicas e o grande desenvolvimento e importância levada a cabo pelo comércio levou a que os soberanos reparassem na importância que o domínio comercial tinha, traduzido num domínio militar. O entrave à circulação de mercadorias no circuito europeu, fruto das medidas proteccionistas, levou para que os olhares se voltassem para as colónias. Aí os países adoptaram sistemas de exclusivo colonial, onde o Estado dominador regulava as produções e os preços sem ter em conta a concorrência dos outros países. Após um longo período de conflitos entre as três principais potências (Holanda, Inglaterra e França), a Inglaterra prosperou e tornou-se na maior potência colonial e marítima da Europa, com aquisição de terras em todos os continentes, fruto do Tratado de Paris da vitória na guerra dos Setes anos (1756-1763). 3.2 A hegemonia económica britânica 3.2.1 Condições do sucesso inglês Os progressos agrícolas O sector agrícola viu crescer a sua produtividade, aumentando substancialmente os recursos alimentares do país. Esta abundância não só permitiu a canalização da mão-de-obra para outros sectores económicos, como impulsionou um intenso crescimento demográfico, facto de vitalidade e riqueza económica. Tal desenvolvimento, que serviu de resposta ao problema do esgotamento dos solos deveu-se a uma série de factores: · Supressão do pousio, com o sistema de rotação quadrienal de culturas (Afolhamento quadrienal: trigo, nabos, trevo e cevada); · Mudanças na estrutura da propriedade, com o processo de vedações (enclousers); · Inovações técnicas no cultivo, na selecção de sementes e no apuramento das raças dos animais. O crescimento demográfico e a urbanização O crescimento demográfico, da segunda metade do século XVIII, atingiu especialmente a Inglaterra, sendo simultaneamente um resultado e um factor do desenvolvimento económico. Tal deveu-se a um conjunto de factores: · A abundância e a criação de postos de trabalhos fazem aumentar a taxa de nupcialidade e o número de nascimentos (alta taxa de natalidade); · A progressiva diminuição da mortalidade que permitiu o crescimento irreversível da população e o positivo crescimento natural; · A forte migração e êxodo rural para os grandes centros urbanos dinamizam as cidades e aumentam a concentração e densidade populacional (Londres era a maior cidade da Europa no final do século XVIII). A criação de um mercado nacional Mercado Nacional: Capacidade aquisitiva da procura interna que no caso de Inglaterra foi favorecida por: · Revolução demográfica, que trouxe um crescente número de consumidores aliado a um crescimento urbano; · Abolição dos entraves à circulação dos produtos (inexistência de alfândegas internas que encarecessem as mercadorias); · Incremento e melhoramento dos transportes; · Desenvolvimento das vias de circulação, ampliando a rede de estradas. O alargamento do mercado externo Durante o século XVIII, a Inglaterra tornou-se a maior potência económica do mundo, fruto de um alargamento constante do mercado externo. Este alargamento deveu-se principalmente: · Ao alargamento dos mercados externos, com inscrição no comércio triangular, nos vários mercados transoceânicos como a Ásia-Europa, e nos circuitos de trocas locais (country-trade); · Aproveitamento dos produtos das colónias assim como o controlo das suas produções (açúcar, pimenta, açafrão, índigo, seda e algodão), exploradas pelos muitos escravos que vinham de África em troca de quinquilharias; · Criação de monopólios como a Companhia das Índias Orientais, onde 85 a 90% das transacções externas estavam nas mãos dos ingleses que manipulavam os preços a seu favor. · Qualidade e baixo preço dos produtos manufacturados, que muitos países da Europa compravam incluindo a França. O sistema financeiro A superioridade inglesa assentava, também, num sistema financeiro avançado, facilitador do desenvolvimento económico: · Criação da bolsa de valores londrina, onde se cotaram as primeiras acções da Companhia das Índias Orientais. A actividade bolsista permitiu canalizar as poupanças particulares para o financiamento de empresas alargando assim o mercado de capitais; · Criação do Banco de Inglaterra que permitiu a emissão de notas e a sua rápida e abundante circulação, fornecendo os meios necessários ao incremento dos pequenos negócios; · Criação de dezenas de pequenas instituições, os country-banks, que realizavam numa escala mais reduzida o mesmo tipo de operações que o Banco de Inglaterra desde depósitos a transferências de conta para conta. · Acumulação de metais preciosos nos bancos (estabilidade da moeda- libra esterlina); Uma nova mentalidade A mentalidade empreendedora, espírito de iniciativa e uma política e prática governativa centralizada, que incentivava o lucro e os negócios, foram condições favoráveis ao desenvolvimento do comércio e do arranque industrial, complementada com uma burguesia activa e empreendedora e a influência dos land lords virados para o lucro e o investimento. 3.2.2 O arranque industrial A indústria têxtil O sucesso dasprimeiras indústrias têxteis deveu-se principalmente: · Ao aumento da procura, interna e externa; · À abundância de matéria-prima proporcionada pelas colónias; · À invenção da lançadeira volante por John Kay, que permitiu tecer panos de qualquer dimensão e duplicar a produção; · À invenção da spinning-jenny por James Hargreaves, que permitia fiar o algodão e a lã em maior quantidade e com maior rapidez; · À invenção da water-frame de Richard Harkwright; · À invenção do tear mecânica por Edmund Carteright; · À invenção da mule-jenn por Samuel Crompton. Metalurgia O sector metalúrgico viu a sua expansão e desenvolvimento graças a Abraham Darby, que resolveu o problema do combustível necessário a este sector, utilizando na fusão do ferro, o coque em vez do carvão vegetal. Este tipo de carvão, muito abundante na Inglaterra, permitiu a redução do abate maciço de árvores que colocava grandes entraves à expansão da indústria. Completado com outras técnicas, o fero mais barato e resistente começou a substituir outros materiais. Ainda no século XVIII foi inaugurada a primeira ponte metálica, a ponte de Coalbrookdale. A força do vapor A máquina a vapor de James Watt constituiu o primeiro motor artificial da História. Com ela foi possível mover teares, martelos, locomotivas e todo o tipo de maquinismo que anteriormente, dependiam do trabalho humano ou das forças da natureza. A manufactura cedera lugar à maquinofactura, cerne da Revolução Industrial. Um tempo de mudança Revolução Industrial: É um conjunto de transformações técnicas e económicas que se iniciaram na Inglaterra na segunda metade do século XVIII e se alargaram a quase todos os países da Europa e da América do Norte no decorrer do século XIX. Considera-se, geralmente, que foi a invenção da máquina a vapor e a sua subsequente aplicação aos transportes e à indústria que provocaram a rápida mudança nos modos de produção (da manufactura passou-se à maquinofactura). A Grã-Bretanha tomou a dianteira da Europa, guiando-a em direcção a uma época nova: a do capitalismo industrial. 3.3 Portugal- dificuldades e crescimento económico 3.3.1 Da crise comercial de finais do século XVII à apropriação do ouro brasileiro pelo mercado britânico Os finais do século XVII em Portugal foram marcados por uma dificuldade do sistema produtivo e uma concorrência internacional ao comércio colonial português. Assistiu-se, entre 1670-1692, a uma crise comercial devido principalmente: · À política económica de Colbert (Portugueses começaram a comprar produtos manufacturados aos franceses, aumentando as nossas importações); · Os Holandeses, franceses e ingleses passaram a produzir nas suas próprias colónias e países as produções de açúcar e tabaco que eram exclusivas anteriormente aos portugueses, provocando a diminuição das compras feitas em Lisboa; · O preço dos produtos coloniais portugueses baixa devido ao excesso de oferta e à pouca procura; · Recai também as vendas de Sal aos mercadores holandeses; Portugal privasse então dos meios necessários ao pagamento das suas importações O surto manufactureiro D. Luís de Meneses, desde que assumiu o cargo em 1675, procurou equilibrar a balança comercial do reino substituindo as importações por artigos de fabrico nacional. Neste sentido procedeu: · À contratação de artífices; · À concessão de subsídios e privilégios às manufacturas; · À criação das manufacturas do vidro, têxtil e fundição de ferro; · À criação das leis pragmáticas (“controlo do luxo”); · À desvalorização da moeda; · À criação de companhias monopolistas. A inversão da conjuntura e a descoberta do ouro brasileiro Bandeirante: Indivíduo participante numa bandeira, termo pelo qual ficaram conhecidas as expedições armadas que percorriam o interior do Brasil em busca de ouro e escravos. As bandeiras prolongaram.se do século XVI ao século XVIII, tendo como centro São Paulo, pelo que os bandeirantes são também conhecidos como “paulistas” ou “gentes de São Paulo”. A acção dos bandeirantes foi também de maior importância para o conhecimento do território e para a fixação das fronteiras do Brasil. No final do século XVII, encontraram-se as primeiras jazidas no interior do Brasil, na região das Minas. Os bandeiras organizaram bandeiras, com o objectivo de: · Encontrar novas riquezas no interior brasileiro; · Encontrar novas fontes de rendimento que permitissem fazer frente à crise com que o reino se debatia; · Explorar o interior do Brasil e delimitar as fronteiras do território brasileiro (para além do tratado de Tordesilhas). A descoberta do ouro veio dar novo fôlego à economia portuguesa e permitiu um período de relativa prosperidade: · Aumentou a moeda em circulação (serviu para cunhar moedas de ouro); · Tornou possível pagar novamente as importações, o que contribuiu para negligenciar as políticas de fomento da produção interna (industrialização); · Não diminuiu o défice comercial, que passou a ser pago com o outro brasileiro. Os países europeus dinamizaram as relações comerciais com Portugal com o intuito de captar o ouro que chegava ao reino. Portugal tornou-se um mero ponto de passagem de metal precioso. A Inglaterra acabou por ser o destino preferencial do ouro do Brasil. As relações económicas entre Portugal e Inglaterra foram marcadas pela assinatura, em 1703, do Tratado de Methuen, que consagrava a admissão, sem restrições, dos tecidos de lã ingleses, no mercado português, e a entrada dos vinhos portugueses em Inglaterra. Portugal abandonava as restrições às importações, anulava as leis anti.sumptuárias (pragmáticas) e minimizava o surto manufactureiro. O défice da balança comercial portuguesa agravou-se: importava-se mais do que se exportava, sendo pago com o ouro brasileiro. A supremacia económica de Inglaterra acentuou-se: · Resultou numa maior asfixia e estagnação da produção nacional; · Possibilitou a apropriação do ouro brasileiro pela Inglaterra; · Criou uma balança comercial deficitária; 3.3.2 A política económica e social pombalina/ A prosperidade comercial dos finais do século XVIII Em 1750, a conjuntura económica era adversa: · Excessiva dependência da economia nacional face à Inglaterra; · Elevado défice da balança comercial; · Diminuição do fluxo de ouro e de diamantes; · Dificuldades de colocação dos produtos coloniais no mercado internacional; · Produção manufactureira reduzida e de fraca qualidade, asfixiada pela concorrência inglesa; · Comércio colonial sujeito à concorrência e aos interesses estrangeiros; · Agricultura atrasada e pouco produtiva; · Perda de qualidade, baixa de preço e recuo das exportações de vinho. D. José ascendeu ao trono e procedeu a reformas económicas com o objectivo de: · Diminuir as importações e reduzir a dependência face aos ingleses; · Desenvolver a produção manufactureira; · Retirar o controlo do comércio nacional aos estrangeiros; · Aumentar a produção agrícola; · Dotar o comércio colonial de uma maior rentabilidade; · Equilibrar a balança comercial, no sentido de promover a criação de riqueza. Sebastião José de Carvalho e Melo (Marquês de Pombal), optou pela aplicação de medidas mercantilistas 1) Criou companhias comerciais monopolistas na metrópole, apoiadas pelo Estado com vista a nacionalização e reestruturação do comércio: Companhia para a Agricultura das Vinhas do Alto Douro e Companhia Geral das Reais Pescas do Algarve. Para o comércio ultramarino: Companhia da Ásia, Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão, Companhia Geral do Pernambuco e Paraíba. 2) O sucesso das companhias comerciais monopolistas dependeu da criação, em 1735, da Junta de Comércio: · Regulava o comércio do ultramar; · Garantiu e supervisionava a actividade mercantil; · Fiscalizava o contrabando; · Melhorou a organização do comércio; · Possibilitou o aumento da produção e das exportações; -, Publicou medidas facilitadores da circulação no reino. 3) No domínio da indústria: · Fomentou o desenvolvimento de manufacturas; · Criou novas fábricas, com o apoio estatal; · Concedeu privilégios e subsídios a privados; · Recorreu a mão-de-obraestrangeira especializada; · Reformou as corporações que resistiam à inovação. 5) A nível social, a política Pombalina: · Valorizou a alta burguesia, considerada a base social do desenvolvimento económico; · Defendeu os interesses dos grandes comerciantes, concedendo-lhes privilégios; · Declarou o comércio actividade nobre; · Conferiu à alta burguesia um estatuto social elevado; · Promoveu a criação de uma nova nobreza; · Consolidou a situação da alta burguesia, no domínio do comércio e nas profissões liberais; · Aboliu a distinção entre cristãos-novos e cristãos-velhos. As políticas económicas do Marquês de Pombal produziram efeitos positivos, mesmo apara além do seu afastamento do governo: · O saldo da balança comercial melhorou; · 1780: Pela primeira vez, em cerca de um século, Portugal vendeu à Inglaterra mais do que comprou; · O saldo positivo teve tendência a manter-se de forma irregular, até ao início do século XIX. A curva tendencialmente positiva da balança comercial foi consequência: · Do fomento manufactureiro; · Do aumento da produção agrícola com a introdução de novos produtos (milho, arroz, batata); · Do incremento da indústria do sal e das pescas; · Do exclusivo colonial que protegeu o comércio português; · De uma conjuntura externa que fragilizou as principais economias europeias (Guerra de Independência Americana, Revolução Francesa). A prosperidade comercial de finais do século XVIII assentou: · No Brasil, que manteve acrescida importância na economia portuguesa, não devido ao ouro ou diamantes, mas aos produtos agrícolas e matérias-primas; · No comércio com África, nomeadamente Angola, base do tráfico de escravos que aumentou a partir de 1790. 4. 4.1 O método experimental e o progresso do conhecimento do Homem e da Natureza 4.1.1 A revolução científica A partir do século XVII, um pequeno grupo de eruditos, com uma mentalidade crítica e desejo de aprender herdada do Renascimento, provocou uma forte “revolução científica na Europa. Partilhavam entre si três ideias fundamentais: · Só a observação directa conduz ao conhecimento da natureza; · Esse conhecimento pode aumentar constantemente; · O progresso científico contribui para melhor o destino. A descoberta de novas terras permitiu o aumento do conhecimento sobre novas espécies de fauna e flora, que desenvolveram o interesse pelo mundo natural e realizações humanas. Assistiu-se à criação de “gabinetes de curiosidades” e associações que acumulavam colecções de objectos e livros raros, maquinismo, plantas e animais, discutindo teorias e partilhando novidades. Os “experimentalistas” procuraram desenvolver um método capaz de os guiar nas suas pesquisas, evitando o erro e as conclusões apressadas. Foi então que o filósofo inglês Francis Bacon expôs as etapas do método indutivo (ou experimental): · Observar factos precisos; · Formular hipóteses explicativas; · Provocar a repetição dos factos através de experiências; · Determinar a lei e as relações que se estabelecem entre os factos. A matemática surgiu como linguagem de expressão das leis e de todos os fenómenos quantificáveis, dando sentido ao conceito de “ciências exactas”. René Descartes e a sua obra “Discurso do Método” foi um dos pilares ao pensamento racionalista 4.1.2 O conhecimento do Homem As investigações de William Harvey, com as descobertas sobre a circulação sanguínea e o advento da era experimental deram um impulso decisivo à ciência médica, que progrediu notavelmente. O corpo humano passou a ser olhado como uma “máquina”, no qual todas as “peças” se interligam de forma harmoniosa e cujo funcionamento pode ser desvendado. 4.1.3 Os segredos do Universo As observações de Galileu Galilei foram fundamentais: · Basearam-se na experiência; · Abriram um novo caminho no conhecimento matemático e científico; · Puseram em causa o saber tradicional e académico assente no conhecimento livresco; · Comprovaram a Teoria Coperniciana, defendendo o Heliocentrismo; · Construiu o primeiro telescópio; · Descreveu o movimento dos corpo na Terra. · Aperfeiçoou a luneta astronómica que permitiu fazer observações que comprovaram a teoria de Copérnico; observar a lua desconhecida, descobrindo crateras e comprovando o relevo da superfície lunar; descobrir manchas solares. 4.1.4 O mundo da ciência Nas primeiras décadas do século XVIII, as ciências exactas tornaram-se autónomas e o seu interesse público e colectivo aumentou. As academias de carácter científico espalharam-se pelas capitais europeias, divulgando boletins periódicos que permitiam a rápida difusão dos conhecimentos, bem como laboratórios modernos para as experimentações. As inúmeras invenções como o telescópio de Galileu, o barómetro de Torricelli, o termómetro aperfeiçoado por Fahrenheit e o relógio de pêndulo de Huygens permitiram um maior rigor às investigações e desencadearam novas e importantes descobertas. No fim do século XVIII, o público tinha-se apaixonado pela ciência e o mundo natural separou-se com nitidez do sobrenatural, estando as razões de fé excluídas como explicações credíveis dos factos da Natureza. 4.2 A filosofia das Luzes 4.2.1 A apologia da Razão e do Progresso Iluminismo: Corrente filosófica que se desenvolveu na Europa do século XVIII e que se caracterizou pela crítica à autoridade política e religiosa, pela afirmação da liberdade e pela confiança na Razão e no progresso da ciência, como meios de atingir a felicidade humana. 4.2.2 O direito natural e o valor do indivíduo/ 4.2.3 A defesa do contrato social e da separação dos poderes/ 4.2.4 Humanitarismo e tolerância Em suma, os filósofos das luzes defendiam: · A descrença nos valores tradicionais que potenciam a diferenciação social; · A Razão é a “luz” que esclarece o espírito humano, permitindo uma evolução dos saberes; · Crença no valor da Razão Humana como motor de progresso da Humanidade; · Valorização do indivíduo como parte integrante do progresso da Humanidade; · Defesa do direito natural: defesa dos mais desfavorecidos tendo em conta a valorização do indivíduo; · Defesa dos direitos naturais do Homem: direito à liberdade, à igualdade, a um julgamento justo, à posse de bens e à liberdade de consciência; · Defesa do Contracto Social entre o povo e os governantes e da Soberania Popular (o povo detém todo o poder e pode destituir o governo e o governante quase este se torne tirano ou ditatorial); · Defesa da separação dos poderes (legislativo, executivo e judicial); · Denúncia dos actos de escravatura e servidão, da tortura, da execução aviltante e dolorosa e dos trabalhos forçados, desenvolvendo a fraternidade humana (Humanitarismo); · Defesa da tolerância religiosa, da separação da Igreja e do Estado e da aceitação de outros cultos espirituais. 4.2.5 A difusão do pensamento das luzes Os principais nomes dos defensores dos ideais do Iluminismo foram: · John Locke (Defensor dos direitos naturais do Homem através do Contrato Social); · Jean-Jacques Rosseau (Desenvolveu o Contrato Social reforçando a ideia de que o pacto tem por finalidade o estabelecimento de leis justas); · Montesquieu (Defensor da separação dos poderes numa monarquia constitucional); · Cesare Beccaria (Defensor da eliminação da tortura e da pena de morte); · Frederico II da Prússia e Catarina II da Rússia (Defensores dos Filósofos Iluministas); · Voltaire (Defensor do Deísmo). Os principais meios de difusão do Iluminismo foram: · Salões aristocráticos, clubes privados, cafés populares, academias, a imprensa, lojas maçónicas (sociedades que lutavam pela transformação da sociedade mediante o exercício da liberdade política), livros e mais marcadamente a Enciclopédia ou Dicionário Racional das Ciências, das Artes e dos Ofícios. 4.3 Portugal- o projecto pombalino de inspiração iluminista 4.3.1 A reforma pombalina das instituições e o reforço da autoridade do Estado A Reforma das Instituições Após subir ao poder, o primeiro-ministro Carvalho e Melo tinha como principal objectivo racionalizar o aparelho do Estado para que empreendeu um vasto conjunto de reformas. Em primeiro lugarpretendia pôr ordem nas finanças do reino, onde para tal foi criado, em 1761, o Erário Régio, instituição moderna que permitiu a gestão completa e corrente das contas públicas. Paralelamente, Pombal empenha-se na reforma do sistema judicial, implementado uma abundante legislação que uniformizava o país para efeitos judiciais e anulava os privilégios da nobreza e do clero. A submissão das forças sociais O regime do monarca e do primeiro-ministro ficou marcado por atitude de obediência, repressão e submissão das diversas classes sociais. No Povo, após um motim popular contra a Companhia das Vinhas do Alto Douro, seguiu-se uma série de castigos com execuções e condenações a penas várias. Na nobreza, um lamentável atentado contra D. José I fez disparar uma repressão sem paralelo dirigida com as principais casas nobres do país, com o episódio que chocou a Europa e o país da execução dos Távoras. A nível do Clero, Marquês de Pombal procurou controlar o Tribunal do Santo Ofício e institui um organismo de censura estatal a Real Mesa Censória. Por fim, expulsou todos os jesuítas de Portugal em 1759. 4.3.2 O reordenamento urbano/ 4.3.3 A reforma do ensino Com vista à modernização do ensino e à restruturação e construção de Lisboa após o terramoto de 1755, Marquês de Pombal adoptou as seguintes medidas: · Planificou o novo mapa da cidade, com um traçado completamente novo, de uma geometria rigorosa, fruto do mais puro racionalismo iluminista, utilizando um engenhoso sistema de construção anti-sísmica, conhecido por “gaiola”; · Criação do Real Colégio dos Nobres, destinado aos jovens de estirpe nobre, com o objectivo de os preparar para o desempenho de altos cargos do Estado; · Reestruturação do ensino em geral, dando atenção à universidade e à sua reforma com a Junta da Previdência Literária (1768) por critérios racionalistas e experimentais; à criação de postos de “metres de ler e escrever” à criação de aulas de retórica, filosofia, gramática grega e literatura latina.
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