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DIREITO CIVIL 07 - DIREITO DE FAMÍLIA - Casamento, Regime de Bens

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Direito Civil
[Direito de Familia]
─────────── INTRODUÇÃO ───────────
A Constituição Federal, em seu artigo 226, estabelece que a família é a base da sociedade, gozando de especial proteção do Estado. Em seus incisos, reconhece, de forma expressa, três categorias de família: casamento, união estável e o núcleo monoparental. Contudo, o rol do artigo 226 é meramente exemplificativo, sendo reconhecidos outros arranjos familiares, como exemplo: família anaparental, homoafetiva, mosaico ou pluriparental, poliafetiva, dentre outras.
De uma forma bem geral, pode-se conceituar família como o núcleo existencial integrado por pessoas unidas por vínculo socioafetivo, teleologicamente vocacionada a permitir a realização plena dos seus integrantes, segundo o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana. 
─────────── PRINCÍPIOS ───────────
── Dignidade da pessoa humana: como aplicações deste princípio do campo do direito de família, temos a proteção ao bem de família, reconhecimento da responsabilidade em caso de abandono afetivo e ainda a multiparentalidade.
 
── Afetividade: o afeto é a base das relações familiares. A comunidade de existência formada pelos membros de uma família é moldada pelo liame socioafetivo que os vincula, sem aniquilar as suas individualidades. É com base neste princípio que são admitidas outras formas de arranjos familiares. Inclusive, não há hierarquia entre o vínculo afetivo e o biológico.
── Solidariedade familiar: traduz aqui uma forma de responsabilidade social aplicada à relação familiar. Tal princípio justifica, por exemplo, o pagamento de alimentos, havendo necessidade.
── Proteção ao idoso: estabelece um tratamento respeitoso e preferencial aos idosos.
── Função social: A família perdeu algumas funções que exerceu durante a história (ex. Unidade de produção ou forma de conservação e transmissão do patrimônio). Hoje, a família exerce um papel sociocultural, preparando o indivíduo para o convívio em sociedade.
── Plena proteção da criança e do adolescente: deve-se propiciar o acesso aos adequados meios de promoção moral, material e espiritual das crianças e adolescentes, educação, saúde, lazer, alimentação, etc. A violação pode, inclusive, gerar a perda do poder familiar.
── Convivência Familiar: pais e filhos, via de regra, devem permanecer unidos e o afastamento definitivo dos filhos da família natural é medida excepcional, como no caso de adoção ou destituição do poder familiar.
── Intervenção mínima do Estado no Direito de Família: o Estado só deve intervir para tutelar a família e dar-lhe garantias. Por isso, não se admite que o Estado molde os núcleos familiares. Verifica-se a incidência deste princípio nos artigos 1.513 e 1.565, §2º do Código Civil. Como nenhum princípio é absoluto, cite-se que a Lei 9.263/96 disciplina o planejamento familiar, trazendo, inclusive, requisitos para esterilização voluntária.
─────────── CASAMENTO ───────────
É a forma mais tradicional de constituição de uma família. Qual seria a natureza jurídica? Há teorias que defendem ser um contrato, outras que seria uma instituição. Para Stolze e Pamplona, é um contrato especial de direito de Família.
· PROMESSA DE CASAMENTO: ──────────────────────────────────────
O noivado consiste na promessa recíproca de unirem-se por meio do casamento. A depender da forma de ruptura do noivado, pode acarretar dano moral ou material indenizável.
· FORMAS ESPECIAIS DE CASAMENTO: ──────────────────────────────
─── Casamento por procuração: artigo 1542 exige forma pública e poderes especiais. O mandatário, inclusive, dizer não, em circunstância devidamente justificável, caso em que o próprio mandante, se ali estivesse, também o faria. 
É possível a revogação do mandato, também por instrumento público. Tal revogação não precisa chegar ao conhecimento do mandatário.
 Contudo, celebrado o casamento sem que o mandatário ou o outro contraente tivessem ciência da revogação, poderá o mandante responder por perdas e danos. O casamento poderá ser anulado, desde que não sobrevenha coabitação, artigo 1550, V do CC.
─── Casamento nuncupativo: é o matrimônio contraído por nubente que se encontre moribundo;
 Exige-se a presença de pelo menos 06 testemunhas, que não tenham parentesco com os nubentes na linha reta ou colateral até o segundo grau; independe da presença da autoridade competente e não há prévia habilitação. Realizado o casamento, as testemunhas comparecerão perante a autoridade judicial em 10 dias, declarando o ocorrido. É instaurado um procedimento de jurisdição voluntária, com participação do MP, sendo verificado se os interessados poderiam ter sido habilitados. Se estiver ok, juiz determina o registro do ato, com efeitos retroativos até a data da celebração.
─── Casamento em caso de moléstia grave: Neste caso, a habilitação foi feita, mas o comparecimento do nubente não é possível em razão de grave doença. Exige-se a presença de duas testemunhas que saibam escrever.
─── Casamento celebrado fora do país, perante autoridade diplomática brasileira: Estando o brasileiro fora do território nacional, poderá contrair núpcias perante a autoridade diplomática brasileira, observando-se todos os requisitos de validade para produzir efeitos segundo a lei brasileira. Conforme artigo 1.544, o casamento deve ser registrado no prazo decadencial de 180 dias, a contar da volta de um ou de ambos os cônjuges ao Brasil. Entende-se que o retorno deve ser com ânimo definitivo.
─── Casamento celebrado fora do país, perante autoridade estrangeira: Aqui, aplica a lei do local do domicílio do casal. A lei estrangeira deve reger o casamento em todos os seus planos, até mesmo quanto ao regime de bens adotado.
· CAPACIDADE E CELEBRAÇÃO MATRIMONIAL: ───────────────────────
	Conforme artigo 1.517, a capacidade civil para o casamento é adquirida com 16 anos completos, desde que com autorização de AMBOS os pais. Se houver divergência, depende de autorização judicial. A autorização dos pais constitui direito potestativo, podendo ser revogada até o momento da celebração.
	O Artigo 6º do Estatuto da Pessoa com deficiência dispõe que a deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa, inclusive para casar e constituir união estável.
Antes de recente alteração, o CC permitia a antecipação da idade núbil para evitar imposição ou cumprimento de pena criminal ou em caso de gravidez. Tal situação não é mais permitida, nos termos do artigo 1520.
	Realizado o casamento, temos uma causa de emancipação legal. Havendo a dissolução do casamento, o emancipado não retorna à anterior situação de incapacidade civil. No entanto, se o casamento é reconhecido como nulo ou anulável, em regra os efeitos da sentença são retroativos, voltando ao estado de solteiros e incapazes.
· HABILITAÇÃO PARA O CASAMENTO. ─────────────────────────────────
	É procedimento administrativo regulado pelo CC e pela lei 6.015, por meio do qual o Oficial do Registro Civil afere a concorrência dos pressupostos de existência de validade do ato matrimonial. OBS: a resolução nº 175/2013 do CNJ veda às autoridades competentes a recusa de habilitação, celebração de casamento civil ou de conversão de união estável em casamento entre pessoas de mesmo sexo.
	O requerimento deve ser instruído com a documentação prevista no artigo 1525, é feito diretamente ao Oficial do registro civil, com audiência do MP.
	Estando OK a documentação, será expedido o edital de proclamas, que se afixará durante quinze dias nas circunscrições do Registro Civil de ambos os nubentes, e, obrigatoriamente, se publicará na imprensa local, se houver.
	O edital de proclamas é o instrumento pelo qual se anuncia o casamento para a sociedade. Esta publicidade é importante, pois é o momento adequado e menos traumático para a apresentação de impedimentos matrimoniais ou causas suspensivas (em que pese não haja preclusão até o momento da celebração).
	Atendidas as formalidades sem objeções, será extraída a CERTIDÃO DE HABILITAÇÃO, com prazo de 90 dias.
· CELEBRAÇÃO: ──────────────────────────────────────────Várias formalidades devem ser observadas para a celebração do matrimônio. Primeiro, o ato deve ser presidido pelo juiz de direito, juiz de paz ou, no matrimônio religioso com efeitos civis, pela autoridade religiosa.
	No dia, hora e lugar designados, a solenidade será realizada, com toda a publicidade necessária, exigindo-se a presença de testemunhas (em regra, duas) e observância de portas abertas. Exige-se quatro testemunhas se a celebração for em edifício particular ou se um dos nubentes não souber ou não puder escrever.
	Presentes os contraentes, será ouvido o esperado “sim”, com a declaração prevista no artigo 1535. Qualquer manifestação diferente de “sim” implicará na suspensão da celebração, não sendo admitida a retratação no mesmo dia.
	O casamento religioso com efeitos civis opera-se de maneira semelhante, diferenciando apenas quanto à autoridade celebrante. A lei de registro público, nos artigos 71 a 75 prevê a forma de realização, cabendo ao celebrante ou interessado requerer o registro junto ao oficial do cartório.
· PLANO DE EXISTÊNCIA: ──────────────────────────────────────────
	Elementos existenciais do casamento: CONSENTIMENTO + CELEBRAÇÃO POR AUTORIDADE COMPETENTE
	Antigamente, entendia-se que a diversidade de sexos era um elemento essencial, exigência hoje superada.
	O consentimento, manifestação de vontade, deve ser sempre expressa e recíproca. No caso, não há espaço para o silêncio.
	Autoridade materialmente competente: sendo um estado laico, o casamento pode ser celebrado por padre, pastor, líder Umbanda ou Candomblé, espírita, qualquer representante de credo religioso reconhecido, observando-se as formalidades legais do ato. Assim, se o casamento for celebrado por um delegado de polícia, um militar ou qualquer outra pessoa sem competência material para o ato, o casamento será inexistente.
· PLANO DE VALIDADE DO CASAMENTO: ───────────────────────────
	Impedimentos – art. 1521 – CASAMENTO NULO
	Causas de anulação - art. 1550 – CASAMENTO ANULÁVEL
	Causas suspensivas - art. 1.523 – CASAMENTO IRREGULAR (imposição de natureza patrimonial, no plano da eficácia)
· IMPEDIMENTOS MATRIMONIAIS: ───────────────────────────
Conforme art. 1.521 do Código Civil;
 NÃO PODEM CASAR:
· parentes em linha reta, seja o parentesco natural (biológico) ou civil (afetividade);
· afins em linha reta: parentesco por afinidade (formado entre o cônjuge com o parente do outro) – tal proibição é mantida mesmo após o fim do casamento ou união estável;
· Adotante com quem foi cônjuge do adotado e do adotado com quem o foi do adotante: (afinidade em linha reta);
· entre colaterais, até o terceiro grau: visa assegurar a integridade física e mental da prole. Decreto-lei 3.200/1941 admite o casamento entre parentes de terceiro grau se houver parecer médico favorável: solicita ao juiz competente para habilitação que nomeie dois médicos;
· Adotado e filho do adotante: irmãos (ver artigo 227, §6º, CF/88);
· pessoas já casadas: quem não teve o casamento dissolvido pelo divórcio ou pela morte do cônjuge;
· cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte. Maioria da doutrina entende ser necessário o trânsito em julgado e seja crime doloso. Doutrina também discute se é necessário que o trânsito ocorra antes do matrimônio.
A oposição dos impedimentos deve ocorrer até o momento da celebração, por qualquer pessoa capaz, nos termos do artigo 1.522 do CC. 
Conforme art. 1.548, o casamento será considerado nulo por infringência de impedimento. Em que pese se tratar de nulidade, não pode ser conhecida de ofício, dependendo da propositura de ação por qualquer interessado ou MP (ação imprescritível, com efeitos ex tunc).
	Por fim, de acordo o art. 1.563 do CC, a declaração de nulidade não prejudicará terceiros de boa-fé. 
Exemplo: A e B vendem imóvel a C, que o adquire de boa-fé. Sendo o casamento declarado nulo porque A já era casado, a venda é válida.
· CAUSAS DE ANULABILIDADE - ARTIGO 1550: ──────────────────────
· nubente que não completou idade núbil: 16 anos
· nubente em idade núbil sem autorização:
· vícios de vontade (1.556 a 1.558):
A) ERRO ESSENCIAL QUANTO À PESSOA: falsa percepção da realidade sobre características pessoais ou comportamento, que torne impossível a vida em comum ao cônjuge enganado:
─── A.1 quanto à identidade, honra e boa fama.
─── A.2 quanto à existência de cometimento de crime – independe da gravidade objetiva do crime, devendo tornar insuportável a vida em comum. Também não precisa de trânsito em julgado.
─── A.3 quanto à existência de defeito físico irremediável que não caracterize deficiência ou patologia transmissível: exemplo: portador de impotência coeundi (e não generandi), sífilis ou HIV. Com o Est. pessoa com deficiência, deixou de configurar erro essencial a doença mental grave. O CC 1916 também trazia a possibilidade de anulação diante do defloramento da mulher, o que não é mais cabível.
B) COAÇÃO: violência psicológica sofrida pelo cônjuge + declaração de vontade viciada + receio de fundado e grave dano à pessoa, família ou bens.
· Nubente incapaz de consentir ou manifestar o seu consentimento: ex: embriaguez ou toxicomania, induzida quimicamente a concordar
· revogação do mandato: desde que não sobrevenha coabitação
· incompetência da autoridade celebrante. Aqui, trata-se da incompetência meramente formal, como no caso de um juiz realizar um casamento em outra comarca.
· PRAZO E LEGITIMAÇÃO PARA ANULAÇÃO: ────────────────────────
Resumindo:
	Coação : 4 anos
	Erro: 3 anos
	Incompetência relativa: 2 anos
	Demais situações: 180 dias. 
A anulabilidade não pode ser reconhecida de ofício. MP não possui legitimidade, sendo apenas o interessado. A sentença tem efeitos ex tunc.
· CASAMENTO PUTATIVO: ────────────────────────────────────────
	O casamento putativo é o casamento da imaginação. Trata-se do casamento que embora nulo ou anulável – nunca inexistente –, gera efeitos em relação ao cônjuge que esteja de boa-fé subjetiva (ignorando o motivo de nulidade ou anulação). É o matrimônio que, contraído de boa-fé por um ou ambos os consortes, ainda que padeça de nulidade absoluta ou relativa, tem seus efeitos jurídicos resguardados em favor do cônjuge inocente (1561).
1ª Regra. Havendo boa-fé de ambos os cônjuges, o casamento gera efeitos em relação a estes e aos filhos, até o trânsito em julgado da sentença de nulidade ou anulação. Por isso, eventuais bens adquiridos no período devem ser partilhados entre os cônjuges de acordo com o regime de bens adotado. Em suma, o Direito de Família atinge ambos os cônjuges. Segue-se a corrente doutrinária e jurisprudencial que sustenta a permanência de efeitos pessoais mesmo após a sentença. Nesse sentido, Flávio Augusto Monteiro de Barros aponta três efeitos existenciais que persistem: a) o direito de usar o nome; b) a emancipação; c) a pensão alimentícia.
2.ª Regra – Havendo boa-fé de apenas um dos cônjuges, o casamento somente gera efeitos para este e para os filhos do casal. O art. 1.564 do CC atribui culpa ao cônjuge de má-fé, sofrendo as seguintes sanções: a) perda de todas as vantagens havidas do cônjuge inocente, caso da necessidade de devolver bens, dependendo do regime de bens adotado; b) dever de cumprir as promessas feitas no contrato antenupcial, como é o caso de doações antenupciais.
3.ª Regra – Havendo má-fé de ambos os cônjuges, o casamento somente gera efeitos para os
filhos. Eventualmente, se bens forem adquiridos durante a união deverão ser partilhados de acordo com as regras obrigacionais que vedam o enriquecimento sem causa (arts. 884 a 886 do CC). Isso porque o Direito de Família não atinge os cônjuges.
──────── PLANO DE EFICÁCIA DO CASAMENTO ────────
· DEVERES MATRIMONIAIS: ────────────────────────────────────────
Antigamente, os direitos e deveres matrimoniais se pautavam por uma proeminência vertical. Com a evolução da sociedade, o Direito mais recente aponta no sentido da horizontalização dos deveres e direitos matrimoniais,numa perspectiva de igualdade entre homens e mulheres (artigo 226, §5º, CF).
	Conforme artigo 1.566 do CC, são deveres de ambos os cônjuges:
· fidelidade recíproca: há doutrina no sentido de que a fidelidade é restrita à relação afetiva e sexual, derivando da lealdade, que leva a um comprometimento mais profundo. Não é um dogma absoluto, mas um valor juridicamente tutelado.
· Vida em comum no domicílio conjugal: a noção de convivência sob o mesmo teto é relativa, pois por razões diversas poderão determinar residência em casas separadas.
· Mútua assistência: moral e material, esta na proporção de seus bens e rendimentos, conforme artigo 1.568.
· sustento, guarda e educação dos filhos: crítica doutrinária, pois tal dever não decorre do casamento, mas sim da relação de filiação.
· Dever de respeito e consideração mútuos: aglutina todas as outras obrigações decorrentes do matrimônio.
· CAUSAS SUSPENSIVAS: ART. 1.523 ────────────────────────────────
	Diz-se causa suspensiva porque suspende a prerrogativa de escolha do estatuto patrimonial. Não afeta a validade do casamento, mas sim o plano da eficácia, impondo-se o regime da separação obrigatória. Nos termos do artigo 1.523, não devem casar:
· viúvo, com filhos do falecido, pendentes inventário e partilha: visa preservar interesses patrimoniais do filho do cônjuge falecido.
· Viúva ou mulher cujo casamento tenha sido nulo ou anulado, antes do decurso do prazo de dez meses: visa evitar a confusão na delimitação da ascendência genética e reconhecimento da paternidade, conhecida como confusio sanguinis. O artigo 1.597 estabelece hipóteses de presunção da paternidade.
· Divorciado, pendente a partilha de bens do casal: visa evitar confusão patrimonial.
· Tutor, curador e seus parentes, com a pessoa tutelada ou curatelada.
	A legitimidade para arguição das causas suspensivas é dos diretamente interessados, previstos no artigo 1.524: parentes em linha reta de um dos nubentes, sejam consanguíneos ou afins, e pelos colaterais em segundo grau, sejam também consanguíneos ou afins.
─────────── REGIME DE BENS ───────────
· NOÇÕES INTRODUTÓRIAS: ────────────────────────────────────────
Regime de bens é o conjunto de normas que disciplina a relação jurídico-patrimonial do casamento. É o estatuto patrimonial. Sua disciplina é regida por três princípios fundamentais:
1. liberdade de escolha: em regra, o regime de bens é de livre opção dos nubentes, não podendo o estado impor a escolha, salvo motivos relevantes (art. 1.641)
2. variabilidade: não existe um regime único.
3. Mutabilidade: com o advento do CC/2002, admitiu-se o direito de modificar o regime de bens, a qualquer tempo, desde que observados os requisitos legais.
	A escolha do regime opera-se por meio de um negócio jurídico especial e solene: pacto antenupcial, que deve ser lavrado por escritura pública, ficando condicionado ao casamento (art. 1.653), de modo que temos uma condição suspensiva. Por meio do pacto, inclusive, é possível a adoção de um estatuto patrimonial híbrido, conciliando regras de regimes diversos. (ver enunciado 331 da IV jornada de Direito Civil do CJF). O julgador deve se atentar, nessas situações, sobre os efeitos no direito sucessório, aplicando-se as regras do regime que prevalecer.
	O pacto, conforme art. 1655, não pode contrariar disposição legal, o que é obvio, segundo art. 166, VII do CC. Como exemplo, o pacto não poderá perver renúncia antecipada de herança, diante da previsão do artigo 426 do CC.
Realizado o casamento, a prática de determinados atos dependerá de autorização conjugal (o que antigamente era chamado de outorga uxória ou outorga marital), sob pena de invalidade do ato. A matéria está disciplinada nos artigos 1.647 a 1.650, se referindo a situações em que o patrimônio do casal é potencialmente ofendido.
	O caput do art. 1647, ao se referir à separação absoluta, está se referindo à separação convencional de bens. Tal informação se extrai da interpretação da Súmula 377 do STF, informando a possibilidade de comunhão caso a separação seja obrigatória, desde que comprovado o esforço comum.
	Assim, apenas as pessoas casadas sob o regime da separação convencional estão dispensadas da necessidade de autorização conjugal.
	Outra exceção ocorre quando as partes adotarem o regime da participação final nos aquestos, nos termos do artigo 1.656, aplicando-se a dispensa apenas para a disposição de bens imóveis particulares.
	No caso de recusa injustificada ou impossibilidade da autorização conjugal, o juiz poderá suprir a outorga.
	A falta de autorização implicará na anulabilidade do ato, podendo o outro cônjuge pleitear a anulação no prazo de até 2 anos do fim da sociedade conjugal.
· REGIME DE BENS NO DIREITO CIVIL BRASILEIRO: ──────────────────
	Antigamente, no CC/1916, havia o chamado regime dotal, sendo o dote um bem ou conjunto de bens que a mulher, ou um terceiro por ela, transfere ao marido, para que este tire de seus rendimentos recursos necessários para atender aos encargos do lar. A mulher poderia conservar sob a sua exclusiva propriedade determinados bens incomunicáveis, denominados bens parafernais.
	Atualmente, o direito civil brasileiro reconhece os seguintes regimes:
1. comunhão parcial
2. comunhão universal
3. separação convencional
4. separação obrigatória/legal
5. participação final nos aquestos
		
	Até a entrada em vigor da lei do divórcio, lei 6.515/77, o regime supletivo era o da comunhão universal de bens. Atualmente, é o da comunhão parcial de bens (art.1640), que será aplicado no caso de ausência de pacto antenupcial ou no caso de ser considerado inválido.
	Há situações em que a lei impõe o regime de separação de bens. Ver. ART. 1.641. Por se tratar de uma norma limitadora da autonomia da vontade, não admite uma interpretação extensiva, ampliativa ou analógica, entendendo a doutrina que não se aplica à união estável.
	Grande parte da doutrina critica a disposição do artigo 1641, II, do CPC, por ser uma espécie de interdição parcial do idoso, retirando-lhe a autonomia da vontade, sendo a norma inconstitucional. O avanço da idade, por si só, não é causa de incapacidade. No projeto de Lei nº 2.285/07 (Estatuto das Famílias), não existe previsão sobre a separação legal.
	Rompendo o sistema tradicional, o CC/2002 admite a modificação do regime de bens no curso do matrimônio, exigindo-se: autorização JUDICIAL, mediante instauração de procedimento de jurisdição voluntária; o pedido conjunto deve ser motivado, para que a autoridade judicial analise o pleito; a mudança, que se dá por sentença, não pode afrontar direitos de terceiros. Cuidam-se de requisitos concorrentes e cumulativos, conforme artigo 734 do CPC.
	Quanto aos efeitos da sentença que altera o regime de bens, não há consenso na doutrina. Stolze e Pamplona defendem que a sua eficácia é retroativa, pois quando os cônjuges pretendem alterar o regime, o patrimônio que sofrerá a incidência do novo regramento é aquele existente até a data da sentença de mudança. Maria Berenice Dias entende que a mudança poderá ter efeitos ex tunc ou ex nunc, a depender da vontade dos cônjuges.
	Sobre a administração dos bens no casamento, ver artigos 1642 a 1646, bem como 1651 e 1652.
· COMUNHÃO PARCIAL DE BENS: ────────────────────────────────────
	No Brasil, é muito comum as pessoas não optarem pelo regime de bens por meio pacto antenupcial, de maneira que incidirá o regime legal supletivo: comunhão parcial.
	Neste regime, há comunicabilidade dos bens adquiridos a título oneroso na constância do matrimônio, por um ou ambos os cônjuges, preservando-se, assim, como patrimônio pessoal e exclusivo de cada um, os bens adquiridos por causa anterior ou recebidos a título gratuito a qualquer tempo. A comunicabilidade dos aquestos não é absoluta, conforme artigos 1.659 a 1662 do CC.
· COMUNHÃO UNIVERSAL: ────────────────────────────────────
Aqui, temos uma fusão do patrimônio anterior dos cônjuges e, bem assim, a comunicabilidade dos bens havidos a título gratuito ou oneroso, no curso do casamento, inclusiveobrigações assumidas.
	Destaque-se que a comunicação de bens é plena, mas não absoluta, pois existem bens incomunicáveis descritos no art. 1.668 do CC.
	Com relação à administração dos bens, aplicam-se as mesmas regras referentes ao regime da comunhão parcial.
	Por fim, sendo extinta a comunhão pela dissolução do casamento e sendo efetuada a divisão do ativo e do passivo entre as partes, cessará a responsabilidade de cada um para os credores do outro (art. 1.671 do CC).
· SEPARAÇÃO DE BENS: ────────────────────────────────────
O regime da separação pode ser convencional ou legal. Como regra básica do regime, não haverá a comunicação de qualquer bem, seja posterior ou anterior à união, cabendo a administração desses bens de forma exclusiva a cada um dos cônjuges (art. 1.687 do CC). Justamente por isso, cada um dos cônjuges poderá alienar ou gravar com ônus real os seus bens mesmo sendo imóveis, nas hipóteses em que foi convencionada a separação de bens. Em relação à separação legal ou obrigatória, persiste a polêmica relativa à comunicação, retirada da Súmula 377 do STF.
Inobstante a independência patrimonial, o suporte fático autoriza a participação patrimonial de um cônjuge sobre bem do outro, se efetivamente demonstrada a aquisição patrimonial pelo esforço comum. Por fim, o fato de haver uma separação total dos bens dos cônjuges não lhes retira as obrigações pecuniárias decorrentes das relações jurídicas estabelecidas em benefício da família.
· PARTICIPAÇÃO FINAL NOS AQUESTOS: ────────────────────────────
	Adotado em países como a Alemanha e a França, cuida-se de um regime híbrido, com características de separação e de comunhão parcial de bens. Durante o casamento, cada cônjuge possui patrimônio próprio e administração exclusiva dos seus bens, cabendo-lhes, no entanto, à época da dissolução da sociedade conjugal, direito de meação sobre os bens aquestos onerosamente adquiridos pelo próprio casal.
	Diferencia-se da comunhão parcial pois a comunicabilidade toca apenas ao patrimônio adquirido em conjunto pelos próprios consortes. 	
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