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DOS CRIMES CONTRA A FAMILIA

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TÍTULO VII
DOS CRIMES CONTRA A FAMÍLIA 
CAPÍTULO I – DOS CRIMES CONTRA O CASAMENTO
1. BIGAMIA
Art. 235 - Contrair alguém, sendo casado, novo casamento:
Pena - reclusão, de dois a seis anos.
§ 1º - Aquele que, não sendo casado, contrai casamento com pessoa casada, conhecendo essa circunstância, é punido com reclusão ou detenção, de um a três anos.
§ 2º - Anulado por qualquer motivo o primeiro casamento, ou o outro por motivo que não a bigamia, considera-se inexistente o crime.
1.1 Bem jurídico tutelado e sujeitos do crime
O bem jurídico tutelado, neste crime, é o casamento monogâmico – a ordem jurídica matrimonial – bem como, organização familiar. A pena cominada no caput não permite qualquer benefício da Lei nº 9.099/95, mas, o §1º, admite suspensão condicional do processo. 
No caput, referente ao artigo, o sujeito ativo é somente a pessoa já casada, pois trata-se de crime próprio, de concurso necessário, ou seja, duas pessoas concorrendo na sua execução. 
Já no §1º, o autor será o não casado, seja ele solteiro, viúvo ou divorciado. Há ainda, entendimento no que se refere ao sujeito ativo, no sentido que as testemunhas que afirmam a inexistência de impedimento e sabe que um dos nubentes é casada, respondem como partícipes.
Este crime admite-se participação tanto no caput quanto no §1º, pois pode haver induzimento, instigação ou auxílio ao nubente para o cometimento do delito. No entanto, o partícipe deve sempre responder de acordo com a pena do §1º, mesmo que este tenha uma parcela de contribuição para o delito descrito no caput.
Quanto ao sujeito passivo, primariamente será o Estado, por causa do bem jurídico tutelado, secundariamente, as vítimas serão os cônjuges do primeiro matrimônio e, até mesmo, o do subsequente, desde que seja tutelado pela boa-fé. 
1.2 Conduta
CUNHA aduz, “consiste o crime em contrair (assumir) alguém, sendo casado, novo casamento” (cit., p. 543). A lei não exige que o casamento anterior seja válido, basta que esteja vigente. Mas, se for nulo ou anulável, é necessário que declare a nulidade3 ou anulabilidade, pois produzirá efeitos e servirá para a caracterização do crime de bigamia. 
Ademais, não se configura crime se contrair um novo casamento quando separado judicialmente, uma vez, até a declaração do divórcio, o vínculo matrimonial permanece (RT733/554). 
Em outras situações, o crime de bigamia se caracteriza se o agente, casado com alguém do sexo oposto, obtém uma nova união estável com pessoa do mesmo sexo. Pune-se também, conforme o §1º, aquele não ´casada, contrai casamento com pessoa casada, e tem ciência dessa circunstância. Mas, a pena é mais branda, de um a três anos de reclusão ou detenção. Incurso na exceção pluralista a teoria monista do art. 29 do CP. 
No §2º, há duas hipóteses em que o crime deixa de existir:
a) se anulado, por qualquer motivo, o primeiro casamento: a Exposição de Motivos bem elucida (item 76): "Conforme expressamente dispõe o projeto, o crime de bigamia existe desde que, ao tempo do segundo casamento, estava vigente o primeiro; mas, se este, a seguir, é judicialmente declarado nulo, o crime se extingue, pois que a declaração de nulidade retroage ex tunc”.
As causas de nulidade estão previstas nos arts. 1548, I e li, e 1521, I a VII, do Código Civil. As de anulabilidade estão dispostas no art. 1550, I a VI, do mesmo códex.
b) ou se anulado o segundo casamento por motivo que não a bigamia: também se considera inexistente o crime se o segundo casamento é anulado por outro motivo que não a própria bigamia (a bigamia não pode excluir-se a si mesma).
1.3 Voluntariedade, consumação e tentativa
A voluntariedade é o dolo, direto ou eventual, consistente na vontade de contrair um novo matrimônio sendo ainda vigente o casamento anterior. No §1º, aquele que não é casado, contrai casamento com pessoa que o seja, deve conhecer essa circunstância, não sendo bastante o dolo eventual. 
O crime se consuma no momento em que é declarado perfeito o segundo casamento, quando os nubentes expressam a vontade e dispensa a lavratura do termo. Quanto a tentativa, a doutrina se diverge.
Trata-se ação pública incondicionada. 
2. INDUZIMENTO A ERRO ESSENCIAL E OCULTAÇÃO DE IMPEDIMENTO
Art. 236 - Contrair casamento, induzindo em erro essencial o outro contraente, ou ocultando-lhe impedimento que não seja casamento anterior:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
Parágrafo único - A ação penal depende de queixa do contraente enganado e não pode ser intentada senão depois de transitar em julgado a sentença que, por motivo de erro ou impedimento, anule o casamento.
2.1 Bem jurídico e sujeitos do crime 
Aqui também tutela-se a instituição do casamento e a organização familiar. A pena cominada ao delito permite a transação penal e a suspensão condicional do processo – Lei nº 9.099/95. 
Este dispositivo não exige nenhuma condição especial do agente, por isso, qualquer pessoa pode praticar o crime. Porém, há possibilidade dos dois contraente praticarem, simultaneamente, engando um ao outro (dolo bilateral). Já o sujeito passivo, configurar o primário que, também, é o Estado. E podem figurar como secundário o contraente enganado, tutelado de boa-fé.
2.2 Conduta
Como ensina o Rogério Sanches Cunha (2017), “pune-se aquele que contrair casamento, induzindo em erro essencial o outro contraente, ou ocultando-lhe impedimento que não seja casamento anterior” (cit,. pág, 546). Nesse caso, há duas condutas punitivas:
a) Induzir outrem a erro essencial, contraindo com ele casamento. Conforme o art. 1.557, inc. I a IV, do CC. 
b) Ocultar impedimento, desde que não seja casamento anterior. Trata-se do art. 235 e art. 1.521, inc. I a VII, ambos do CC. 
Por isso, a doutrina entende que ocultação deve ser comissiva, pois se for omissiva, considera-se um indiferente penal. 
2.3 Voluntariedade, consumação e tentativa
É o dolo, incide na vontade consciente de contrair matrimônio induzindo em erro essencial outro contraente ou ocultando-lhe impedimento. 
Este crime se consuma com o casamento, não basta o induzimento a erro ou a ocultação de impedimento. A condição imposta pelo parágrafo único (a ação penal não pode ser intentada sendo depois de transitar em julgado a sentença que, por motivo de erro ou impedimento, anule o casamento) torna a tentativa juridicamente impossível.
MIRABETE citando NORONHA e FRAGOSO, ensina que “a prescrição só começa a correr após o trânsito em julgado da sentença que declara a nulidade do casamento, pois, somente a partir de então, é que surge o direito de o Estado iniciar a persecução criminal” (cit,.p.12).
 3. CONHECIMENTO PRÉVIO DE IMPEDIMENTO
Art. 237 - Contrair casamento, conhecendo a existência de impedimento que lhe cause a nulidade absoluta:
Pena - detenção, de três meses a um ano.
3.1 Bem jurídico e sujeitos do crime 
O bem jurídico tutelado é semelhantes aos outros dois dispositivos anteriores, o casamento e organização da família. A pena cominada ao delito permite a transação penal e a suspensão condicional do processo – Lei nº 9.099/95.
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, desde que pessoa ao contrair o casamento saiba que é impedido, admite-se ainda que os cônjuges pratiquem o crime. O sujeito passivo é o Estado, conjuntamente, o cônjuge enganado. 
3.2 Conduta
É praticar o crime com a contração do casamento, tendo a ciência da existência de impedimento que lhe cause a nulidade absoluta. No entanto, aqui não há emprego de fraude, sendo suficiente que um ou ambos nubentes saiba da existência do impedimento. O impedimento ao casamento é previsto no art. 1.521, inc. I a VII, do CC. Neste caso, alei não exclui expressamente o casamento anterior como causas impeditivas, com a figura do art. 236. Mas, se o agente se casa nesta condição, está praticando o crime de bigamia. 
3.3 Voluntariedade, consumação e tentativa
Como os artigos anteriores, trata-se de dolo direto. Consuma-se com a efetiva celebração do casamento, ou seja, após o assentimento dos nubentes (art. 1.514 do CC). Apesar de divergências, admite-se tentativas. 
A ação penalserá pública incondicionada. 
4. SIMULAÇÃO DE AUTORIDADE PARA CELEBRAÇÃO DE CASAMENTO
Art. 238 - Atribuir-se falsamente autoridade para celebração de casamento:
Pena - detenção, de um a três anos, se o fato não constitui crime mais grave.
4.1 Bem jurídico e sujeitos do crime 
O caso em tela, não tutela somente a instituição do casamento e a organização da família, mas também, a manutenção da segurança jurídica na celebração da união. A punição, se justifica porque o Estado é quem pode determinara a autoridade competente a celebração do casamento. A pena cominada ao delito permite a suspensão condicional do processo – Lei nº 9.099/95.
Sujeito ativo pode ser praticado por qualquer pessoa, inclusive funcionário público. E o sujeito passivo será o Estado, bem como o cônjuges que contraíram o casamento de boa-fé. 
4.2 Conduta
Consiste em atribuir-se falsamente autoridade para a celebração de casamento, como disposto no art. 1.550, VI, do CC, o casamento realizado nessas circunstâncias é anulável. Porém, se o Estado perceber a boa-fé nos noivos, que forma induzidos em erro pelo falso celebrante, prevê no art. 1.554 a convalidação da nulidade se o ato tiver sido registrado no Registro Civil. Derradeiramente, a convalidação não faz desaparecer o crime. 
4.3 Voluntariedade, consumação e tentativa
O crime se consuma na prática do ato inequívoco de atribuir-se autoridade, mas, não exige a celebração do matrimônio. É admissível a tentativa, se casuisticamente, o ato praticado pelo agente puder ser fracionado. 
Ação penal será pública incondicionada. 
5. SIMULAÇÃO DE CASAMENTO
Art. 239 - Simular casamento mediante engano de outra pessoa:
Pena - detenção, de um a três anos, se o fato não constitui elemento de crime mais grave.
5.1 Bem jurídico e sujeitos do crime 
Conservar-se tutelado a instituição do casamento e a organização familiar. A pena cominada ao delito permite a suspensão condicional do processo – Lei nº 9.099/95. 
Quanto aos sujeitos do crime, há divergências, alguns autores acreditam que os sujeito ativo do crime é um dos nubentes e outros acreditam que embora admita coautoria o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa que simule casar-se. 
O sujeito passivo é o Estado, e o nubente de boa-fé ou o representante legal de incapazes que necessitam do consentimento para casar.
 5.2 Conduta
Pune-se quem simular ou fingir casamento mediante engano de outra pessoa. É necessário e indispensável que a ação seja enganosa e ludibrie alguém interessado na celebração do matrimônio, tais como: os nubentes ou seus responsáveis. 
5.3 Voluntariedade, consumação e tentativa
É a vontade de simular casamento, enganar outra pessoa. Se o agente, com a simulação, visou a pratica de crime mais grave, responde somente por este, como destaca o preceito secundário do dispositivo. Tal crime se consuma com a realização da cerimônia fraudulenta, a tentativa se dá no fracionamento da conduta. 
Ação penal será pública incondicionada. 
6. ADULTÉRIO 
Art. 240 - (Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005).
CAPÍTULO II – DOS CRIMES CONTRA O ESTADO DE FILIAÇÃO
7. REGISTRO DE NASCIMENTO INEXISTENTE
Art. 241 - Promover no registro civil a inscrição de nascimento inexistente:
Pena - reclusão, de dois a seis anos.
7.1 Bem jurídico e sujeitos do crime 
Este dispositivo tutela o estado de filiação, o que também recai a proteção sobre a fé pública de que são dotados os documento inscritos no registro civil (com a prática delituosa, tornam público um ato inexistente). Não admite nenhum benefício da Lei nº 9.099/95. 
Qualquer pessoa pode praticar o delito. O sujeito passivo será o Estado, pode ser vítima também aquele eventualmente prejudicado pelo falso registro. 
7.2 Conduta
Rogério Sanches Cunha ensina “consiste o crime em promover (gerar, provocar, requerer) no registro civil a inscrição de nascimento inexistente, isto é, assentamento de pessoa que não foi concebida (abrangendo, também, a inscrição de nascimento de natimorto)”. (cit., pág. 554). Por isso, trata-se de forma especial de praticar falsidade ideológica (art. 299), que, no entanto fica absorvida pelo crime fim (art. 241).
7.3 Voluntariedade, consumação e tentativa
Também, é dolo na vontade consciente de promover no registro civil a inscrição de nascimento inexistente. No entanto, consuma-se com a inscrição do nascimento inexistente no registro civil, independentemente dos efeitos que possa causar. A tentativa é possível, se o registro não é realizado por circunstâncias alheias à sua vontade. 
Ação penal será incondicionada. 
8. PARTO SUSPOSTO. SUPRESSÃO OU ALTERAÇÃO DE DIREITO INERENTE AO ESTADO CIVIL DE RECÉM-NASCIDO 
Art. 242 - Dar parto alheio como próprio; registrar como seu o filho de outrem; ocultar recém-nascido ou substituí-lo, suprimindo ou alterando direito inerente ao estado civil:
Pena - reclusão, de dois a seis anos.
Parágrafo único - Se o crime é praticado por motivo de reconhecida nobreza:
Pena - detenção, de um a dois anos, podendo o juiz deixar de aplicar a pena
8.1 Bem jurídico e sujeitos do crime 
Neste caso, se tutela tanto o estado de filiação quanto a fé pública que envolve registro. O caput, não admite os benefícios da Lei nº 9.099/95, mas se a conduta se subsumir ao parágrafo único, são cabíveis a transação penal e a suspensão condicional do processo. 
Na primeira figura típica, o crime só pode ser praticado pela mulher que comunica parto alheio como sendo próprio. Nas demais (registrar como seu o filho de outrem; ocultar recém-nascido ou substituí-lo, suprimindo ou alterando direito inerente ao estado civil), qualquer pessoa pode praticá-lo, pois dispensa qualidade (ou condição) especial do agente.
Sujeito passivo primário é o Estado, atingido pela conduta que abala a regular formação da família e macula os registros públicos inerentes ao estado civil do indivíduo. Também poderá figurar como vítima do crime pessoa que eventualmente seja prejudicada pela ação delituosa (ex.: herdeiros do agente).
8.2 Conduta
Os comportamento típicos são de múltiplas ações ou conteúdos variados: 
a) dar parto alheio como próprio: neste caso, a mulher sem gerar falso registro atribui a si mesma a maternidade de uma criança não originária de seu ventre. 
b) de registar, como seu, o filho de outrem : aqui, se assemelha ao artigo tratado anteriormente, o nascimento ocorreu efetivamente. 
c) de ocultar recém-nascido, suprimindo ou alterando direito inerente ao estado civil: o sujeito ativo sonega a existência do recém-nascido, com objetivo de suprimir ou alterar direito concernente a estado civil.
d) quando o agente substitui o recém-nascido, suprimindo ou alterando direito inerente ao estado civil: neste caso, há troca do neonato, apresentando-se outra criança em seu lugar, suprimindo lhes os direitos ligados ao estado de filiação, já que passará aos cuidados de família que não a sua. 
8.3 Voluntariedade, consumação e tentativa
Nas modalidades de dar parto alheio como próprio e de registrar como seu o filho de outrem, é o dolo, consubstanciado na vontade consciente de praticar a ação típica.
No entanto, a ocultação e a substituição de recém-nascido exigem, além do dolo, o elemento subjetivo especial do injusto, consistente na finalidade de suprimir ou alterar direito inerente ao estado civil.
Temos que distinguir o momento consumativo do crime conforme ~ modalidade de execução, como bem esclarece REGIS PRADO: 
"Na primeira figura, verifica-se quando criada situação duradoura que realmente implique alteração do status familiar da criança; na segunda, com o efetivo registro do filho alheio como se fosse próprio; na terceira e quarta figuras, com a supressão ou alteração de direito inerente ao estado civil. Logo, se dá ocultação ou da supressão não resultou a privação de direito do neonato, haverá unicamente tentativa. Aliás, a tentativa é admissível em qualquer das figuras examinadas" (cit., p. 494).
A ação penal será pública incondicionada.
Na modalidade de registrar como seu filho de outrem, a prescrição somente começa a correr da data em que o faro se tornarconhecido, tal como prevê o arr. 111, IV, do CP.
9. SONEGAÇÃO DE ESTADO DE FILIAÇÃO
Art. 243 - Deixar em asilo de expostos ou outra instituição de assistência filho próprio ou alheio, ocultando-lhe a filiação ou atribuindo-lhe outra, com o fim de prejudicar direito inerente ao estado civil:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
9.1 Bem jurídico e sujeitos do crime 
Tutela-se a organização familiar e o estado de filiação. A pena cominada ao delito permite a suspensão condicional do processo Lei nº 9.099/95. 
Por se tratar de uma crime comum, qualquer pessoa pode praticar o crime em tela, salvo na hipótese de filho próprio, caso em que somente o pai e a mãe podem praticá-lo. Já o sujeito passivo, será o Estado e o menor, prejudicado pela sonegação dos estado de filiação. 
9.2 Conduta
Consiste em deixar em asilo exposto ou outra instituição de assistência o próprio filho ou alheio, ocultando-lhe a filiação ou atribuindo-lhe outra, com o fim de prejudicar direito inerente ao estado civil. Nesta conjuntura, o simples abandono não incide em sanção penal, se fora abandonada com declarações escritas suficientes indicando sua filiação. 
Podendo tal crime, ser comissivo ou omissivo. Se caso houver, abandono em outro lugar que não os mencionados neste tipo penal, se configura o crime de abandono de incapaz ou exposição ou abandono de recém-nascido, incurso nos art. 133 e 134 do CP, respectivamente. 
9.3 Voluntariedade, consumação e tentativa
É o dolo, em que o agente tem vontade de deixar a vítima em asilo de expostos, ou outra instituição de assistência, ocultando-lhe a filiação ou atribuindo-lhe outra. 
CUNHA ainda complementa “O tipo é caracterizado também pelo elemento subjetivo especial do injusto, consubstanciado na finalidade específica de prejudicar direito inerente ao estado civil (pode o agente, sonegando estado de filiação, buscar omitir o menor vítima de herança, ou mesmo privá-lo dos alimentos devidos)” (cit., p. 558).
O crime se consuma com o abandono do menor com a consequente ocultação de sua filiação ou com a sua falsa atribuição. A tentativa é admissível. 
Ação será pública incondicionada. 
CAPÍTULO III – DOS CRIMES CONTRA A ASSISTÊNCIA FAMILIAR
10. ABANDONO MATERIAL 
Art. 244. Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou de filho menor de 18 (dezoito) anos ou inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido ou maior de 60 (sessenta) anos, não lhes proporcionando os recursos necessários ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada; deixar, sem justa causa, de socorrer descendente ou ascendente, gravemente enfermo:  
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa, de uma a dez vezes o maior salário mínimo vigente no País.
Parágrafo único - Nas mesmas penas incide quem, sendo solvente, frustra ou ilide, de qualquer modo, inclusive por abandono injustificado de emprego ou função, o pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada. 
10.1 Bem jurídico e sujeitos do crime 
Tutela-se a regula manutenção da família, buscando-se a garantia de subsistência de seus membros. A pena cominada permite a suspensão condicional do processo Lei nº 9.099/95.
Trata-se de crime próprio, podendo ser praticado somente por aquele que tem o dever legal de garantir a subsistência da vítima (cônjuge, ascendentes e descendentes). No caso de coobrigados, isto é, quando o dever de assistência recai sobre várias pessoas, cada um responderá como autor da sua omissão.
Sujeito passivo será aquele que pode exigir o amparo por parte do agente (cônjuge, ou filho menor de 18 anos ou inapto para o trabalho, ou ascendente inválido ou maior de 60 anos e ascendente ou descendente gravemente enfermo).
10.2 Conduta
O caput descreve três formas de praticar o crime: 
a) deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou de filho menor de dezoito anos ou inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido ou maior de sessenta anos, não lhes proporcionando os recursos necessários (abandono material em sentido estrito);
b) faltar ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada;
c) deixar, sem justa causa, de socorrer descendente ou ascendente, gravemente enfermo.
Na primeira ação, o agente, sem justificativa, deixa de garantir ao cônjuge, ao filho menor de dezoito anos ou inapto para o trabalho, ou ao ascendente inválido ou maior de sessenta anos, os recursos materiais necessários à sua sobrevivência, compreendendo alimentação, vestuário, habitação, tratamento da saúde etc. (a maioria limita tão somente às necessidades fundamentais à manutenção da pessoa humana com dignidade). Mostra-se desnecessária, para a caracterização do crime, prévia ação de alimentos (finda ou em discussão). Deve-se ressaltar, quanto à subsistência de filho, que a lei pune a omissão apenas e este for menor de dezoito anos ou inapto para o trabalho, não se simplesmente recusa o trabalho porque os pais têm possibilidade de sustentá-lo. Neste caso, a lei penal não incidirá, pois, do contrário, tornar-se-á um meio de fomentar a vadiagem, desviando-se do seu sentido de preservar a solidariedade no âmbito familiar.
O segundo comportamento típico se dá quando o sujeito ativo falta ·ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada (sendo necessária, nessa hipótese, a existência de sentença judicial alimentícia). FRAGOSO (seguido por MIRABETE) entende que a inobservância da ordem estabelecida pela Lei Civil na atribuição da obrigação de prestar alimentos é irrelevante para o aperfeiçoamento do crime.
A terceira ação criminosa ocorre quando o agente deixa, sem justa causa, de socorrer descendente ou ascendente, gravemente enfermo. Não se trata de omitir os meios de subsistência que devem ser garantidos ao sujeito passivo, mas o amparo de que necessita em razão de grave enfermidade (física ou mental), como medicamentos, acompanhamento médico, acomodação hospitalar etc. Trata-se de forma especial de omissão de socorro, que, ao contrário do art. 135 do Código Penal, pressupõe relação de ascendência ou descendência entre o agente e a vítima. Daí advém outra diferença: se da omissão ·de socorro do art.135 resulta lesão corporal grave ou morte, a pena daquele crime é majorada; se decorre o mesmo da omissão do art. 244, o agente é responsável pelo resultado mais grave na forma de omissão imprópria, pois, na qualidade de ascendente ou descendente obrigado a socorrer a vítima gravemente enferma, sobre ele recai a obrigação de evitar o resultado.
Contudo, observarmos que se a vítima sofre de doença não grave, mas que a impossibilite para o trabalho, prejudicando sua subsistência, não se poderá falar em atipicidade, subsumindo-se a conduta do agente à primeira ação típica.
O parágrafo único equipara ao caput a ação de quem, sendo solvente, frustra ou ilide, de qualquer modo, inclusive por abandono injustificado de emprego ou função, o pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada. Pune-se, principalmente, o ato daquele que abandona o emprego, sem justa causa, com a finalidade de evitar que lhe sejam descontados valores referentes à obrigação alimentar. A lei não pune somente aquele que abandona o emprego, mas quem de qualquer modo frustra ou ilide o pagamento de pensão alimentícia.
Parece-nos, todavia, que a intenção do legislado era a de evitar, tão somente, que o agente deixasse o emprego para alegar justa causa ao não pagamento dos alimentos, pois quem o frustra ou ilide de qualquer outro modo, já está faltando com a prestação, e incide na figura prevista no caput.
Nota-se que, para a caracterização de qualquer das figuras típicas, deve o sujeito ativo agir de forma injustificada (elemento normativo do tipo), aquilatada no caso concreto, apreciando as necessidades do paciente e as possibilidades do agente.
Por fim, a omissão de assistência a número plural de parentes não desnatura a unidade do crime, pois, como vimos, o bem jurídico protegido é a família (nesse sentido:RT518/385).
10.3 Voluntariedade, consumação e tentativa
É o dolo, consiste na vontade e de praticar uma das condutas típicas. 
A consumação depende do tipo de comportamento praticado pelo agente:
a) se abandono material propriamente dito, o crime se consuma no momento em que o agente deixa de prover a subsistência da vítima, podendo fazê-lo (é modalidade permanente do crime, protraindo-se a sua consumação no tempo da omissão); 
b) se o crime consistir no não pagamento de pensão alimentícia acordada, fixada ou majorada judicialmente (aplicando-se o mesmo raciocínio para o caso do parágrafo único), consuma-se com a recusa, considerando-se, porém, as datas de adimplemento eventualmente pactuadas pelos interessados. A consumação deste crime não se atrela à decretação, pelo juízo cível, da prisão em decorrência da dívida alimentar. A única exigência para que se perfaça o delito é que: a prestação não paga tenha sido judicialmente acordada, fixada ou majorada. 
c) a omissão de socorro consuma-se com a mera inação, geradora de perigo.
Por se tratar de delito omissivo próprio, é inadmissível a tentativa. 
Ação penal pública incondicionada. 
11. ENTREGA DE FILHO MENOR A PESSOA IDÔNEA
Art. 245 - Entregar filho menor de 18 (dezoito) anos a pessoa em cuja companhia saiba ou deva saber que o menor fica moral ou materialmente em perigo: 
Pena - detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos.  
§ 1º - A pena é de 1 (um) a 4 (quatro) anos de reclusão, se o agente pratica delito para obter lucro, ou se o menor é enviado para o exterior.   
§ 2º - Incorre, também, na pena do parágrafo anterior quem, embora excluído o perigo moral ou material, auxilia a efetivação de ato destinado ao envio de menor para o exterior, com o fito de obter lucro.   
11.1 Bem jurídico e sujeitos do crime 
Também, se tutela a manutenção da família, formação dos filhos, acautelando a vida e a moral dos menores de 18 anos. A pena cominada no caput admite a transação penal e a suspensão condicional do processo (Lei 9.099/95), mas se a conduta se subsumir ao § 1° somente este último benefício poderá ser concedido.
Cuida-se de crime próprio, só podendo ser praticado pelos pais, ou o tutor, parente ou o terceiro que tenha a guarda do menor podem, eventualmente, figurar como coautores ou partícipes.
Sujeito passivo, consequentemente, só poderá ser o filho menor de dezoito anos.
11.2 Conduta
A conduta típica- consiste em desencarregar-se de filho menor de 18 anos, entregando-o a pessoa com a qual saiba ou deva presumir que ele (filho) ficará moral ou materialmente em perigo.
Percebe-se que a lei não se contenta com a simples entrega do menor à pessoa inidônea, sendo imprescindível que esta pessoa possa atingir o infante material ou moralmente.
Será perigo material aquele capaz de causar algum dano físico, como lesões, doenças, inclusive decorrentes de trabalho excessivo, a entrega a um ébrio, a um toxicômano. Perigo moral se dá quando capaz de causar dano psíquico no menor, seja pela atividade que irá realizar juntamente com a pessoa à qual foi entregue (viver com pessoa que exerça indústria perigosa), seja pelo que irá presenciar por parte dessa pessoa (viver com meretriz).
Não é necessário que haja o efetivo dano ao menor, bastando que seja exposto a tanto, ainda que de forma não contínua.
11.3 Voluntariedade, consumação e tentativa
Caracterizada como dolo, na vontade de entregar o filho menor de dezoito anos aos cuidados de pessoa idônea. 
Consuma-se o crime com o perigo efetivo advindo da entrega do menor a pessoa inidônea, independentemente do tempo em que permaneça sob seus cuidados. Tratando-se de conduta que pode ser fracionada, a tentativa é admissível.
A ação penal será incondicionada.
11.4 Qualificadoras
§ 1° eleva a pena máxima de dois para quatro anos de reclusão quando:
a) o agente pratica o delito para obter lucro: o simples ânimo de lucro justifica a qualificadora, mesmo que não ocorra o locupletamento do agente. Não se confunde com o crime do art. 238 do ECA ("Prometer ou efetivar a entrega de filho ou pupilo a terceiro, mediante paga ou recompensa"), pois nesta figura especial a promessa ou a efetiva entrega do filho deve ser acompanhada do recebimento da paga ou recompensa;
b) se o menor é enviado para o exterior: neste caso, retirando o infante do país de origem, fica dificultada ou impossível sua defesa (e, muitas vezes, seu retorno).
O § 2° pune a conduta daquele que, embora excluído o perigo moral ou material, auxiliava a efetivação de ato destinado ao envio de menor para o exterior, com o fito de obter lucro.
Tal comportamento, hoje, está disciplinado no art. 239 da Lei 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente), revogando, tacitamente, o presente parágrafo (§ 2°), assim dispondo, "promover ou auxiliar a efetivação de ato destinado ao envio de criança ou adolescente para o exterior com inobservância das formalidades legais ou com o fito de obter lucro".
A pena cominada foi majorada (quatro a seis anos) e a figura é mais abrangente, já que o crime irá se configurar pelo simples faro de enviar criança ou adolescente ao exterior sem cumprir as formalidades legais, podendo ou não haver intuito de lucro, que, no § 2°, era imprescindível.
12. ABANDONO INTELECTUAL 
Art. 246 - Deixar, sem justa causa, de prover à instrução primária de filho em idade escolar:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
12.1 Bem jurídico e sujeitos do crime 
Tutela-se a formação dos filhos em idade escolar e a organização familiar, conforme o art. 205 da Constituição Federal c/c art. 1.634, inc. I. A pena cominada admite a transação penal e a suspensão condicional do processo (Lei 9.099/95). 
Referindo-se o tipo a filho em idade escolar como potencial vítima, conclui-se que somente os pais podem figurar como sujeitos ativos.
12.2 Conduta
A conduta punível é deixar, sem justa causa, de prover à instrução primária de filho em idade escolar.
Pratica o crime o pai e/ou a mãe que, convivendo ou não com o filho, deixar de providenciar seu ingresso no ensino fundamental, omitindo investimento na sua formação escolar. Trata-se, pois, de crime omissivo próprio, transgredindo o agente norma mandamental.
Assim como no abandono material, exige-se a inexistência de justa causa para a omissão (elemento normativo do tipo). Todo impedimento de força maior é justa causa, mas não só: dificuldades de ordem econômica da família, quando, por exemplo, a escola fica longe e a família não dispõe de meios para pagar o transporte, podem constituir justa causa. Ao operador do direito compete aferir quando o dolo é excluído pela justa causa. 
Em resumo, para que o delito de abandono intelectual se caracterize, é preciso: a) omissão do pai e/ou mãe, sendo responsável quem se encontre no exercício do poder familiar; b) o menor esteja em idade escolar; c) ausência de justa causa.
12.3 Voluntariedade, consumação e tentativa
É o dolo, consistente na vontade consciente de não cumprir o dever de dar educação. O crime se consuma com a omissão, ficando o menor, em idade escolar, sem a devida instrução, por tempo juridicamente relevante.
O delito se consuma quando esgotado o último dia de prazo para a realização da matrícula daquele que necessita do ensino fundamental, desde que não haja justa causa para tanto. 
A tentativa, por se tratar de crime omissivo próprio, é inadmissível.
Trata-se de ação penal pública incondicionada.
13. ABANDONO MORAL 
Art. 247 - Permitir alguém que menor de dezoito anos, sujeito a seu poder ou confiado à sua guarda ou vigilância:
I - frequente casa de jogo ou mal-afamada, ou conviva com pessoa viciosa ou de má vida;
II - frequente espetáculo capaz de pervertê-lo ou de ofender-lhe o pudor, ou participe de representação de igual natureza;
III - resida ou trabalhe em casa de prostituição;
IV - mendigue ou sirva a mendigo para excitar a comiseração pública:
Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.
13.1 Bem jurídico e sujeitos do crime 
O artigo tratado foi desprovido de rubrica indicativa do nomes iuris, mas a doutrina a batizou de abandonomoral. Aqui também, se tutela a organização da família na formação dos filhos buscando-se evitar situações que o conduzem à corrupção de caráter. A pena cominada permite a transação penal e a suspensão condicional do processo (Lei 9.099/95).
Os sujeitos passivos são os pais, mas podem ser ainda aqueles que sobre ele exerçam poder, guarda ou vigilância. O sujeito passivo é o menor de 18 anos submetido ao poder, guarda ou vigilância. 
13.2 Conduta
São quatro as ações típicas previstas:
I- permitir que o menor frequente casa de jogo ou, mal-afamada, ou conviva com pessoa viciosa ou de má vida. Proíbe-se que os responsáveis pelo menor consintam que ele frequente casa de jogo (cassinos etc.) ou mal-afamada (boates, cabarés, prostíbulos etc.), ou que conviva com pessoa dada à prostituição, ao crime, ao vício em álcool ou drogas. A elementar frequentar significa comparecer muitas vezes. Não basta, portanto, que o menor vá uma só vez aos locais referidos no inciso, sendo imprescindível a reiteração de visitas (só assim, coloca-se em risco o caráter do jovem). De igual forma, utilizando a expressão conviver, a lei não se comenta com um contato esporádico e eventual, exigindo intimidade, contato reiterado com pessoa viciosa ou de má vida. No entanto, obviamente, isso não conduz ao conceito de crime habitual, vez que a reiteração de atos, nestes casos, não se dá por parte do agente, mas do menor por quem deveria zelar.
II - permitir que o menor frequente espetáculo capaz de pervertê-lo ou de ofender-lhe o pudor, ou participe de representação de igual natureza. Pune-se o agente que permita a menor sob seus cuidados frequentar ou participar de espetáculo que possa lhe corromper o caráter (pois obsceno, violento etc.). Na primeira parte, considerando a elementar frequência, aplica-se o mesmo raciocínio feito no inciso anterior, exigindo-se reiteração. Já a segunda parte (permissão para participar), não pressupõe reiteração, bastando uma única participação. Esta figura, contudo, fui revogada pelo art. 240 do ECA, alterado pela Lei 11.829/2008.
III- permitir que o menor resida ou trabalhe em casa de prostituição. Veda-se a presença de menores de 18 anos em casa de prostituição, a título de "residência ou trabalho", não havendo no tipo qualquer elemento que indique a necessidade de reiteração de aros.
IV - permitir que o menor mendigue ou sirva a mendigo para excitar a comiseração pública. A conduta punível consiste na tolerância por parte do agente à mendicância pelo menor ou que sirva a mendigo para fomentar o sentimento de piedade, a compaixão pública. Em ambas as condutas, não se faz necessário que a permissão seja expressa, bastando que o responsável pelo menor deixe de evitar que este pratique qualquer dos atos previstos no tipo penal.
13.3 Voluntariedade, consumação e tentativa
É o dolo, de permitir que o menor se entregue a qualquer atividade prevista. Conforme Cunha, “o elemento subjetivo especial do injusto somente é exigido no inciso IV (finalidade de excitar a comiseração- misericórdia- pública)”.(cit., p. 571).
A consumação dependerá da espécie criminosa cometida:
a) nas situações de permitir que o menor frequente casa de jogo ou mal-afamada ou frequente espetáculo capaz de pervertê-lo ou de ofender-lhe o pudor, em que se exige a reiteração de atos por parte do menor, a consumação só ocorre quando constatado seu comparecimento habitual em lugares que podem prejudicar sua formação moral;
b) nas situações de permitir que o menor conviva com pessoa viciosa ou de má vida ou resida ou trabalhe em casa de prostituição, embora não haja o pressuposto da habitualidade, há de se estabelecer um período juridicamente relevante, capaz de submeter a perigo a formação moral do menor;
c) finalmente, na situação de permitir que o menor mendigue ou sirva a mendigo para excitar a comiseração pública, o crime se consuma no exato momento em que se verifique o ato.
A tentativa pode ser admitida nas hipóteses em que o tipo não exige habitualidade. É possível ao agente permitir alguma das situações de abandono moral também de forma tácita, por omissão, em que toma conhecimento das circunstâncias em que se encontra o menor e não adora nenhuma providência. Não se trata, neste caso, de omissão própria, pois o crime só pode ser cometido pelos pais ou por quem exerça poder, guarda ou vigilância sobre o menor, ou seja, por quem ostente a figura de garante, razão pela qual não há óbice à tentativa na forma omissiva.
A ação penal será pública incondicionada.
CAPÍTULO IV – DOS CRIME CONTRA O PÁTRIO PODER, TUTELA E CAUTELA 
14. INDUZIMENTO A FUGA, ENTREGA ARBITRÁRIA OU SONEGAÇÃO DE INCAPAZES
Art. 248 - Induzir menor de dezoito anos, ou interdito, a fugir do lugar em que se acha por determinação de quem sobre ele exerce autoridade, em virtude de lei ou de ordem judicial; confiar a outrem sem ordem do pai, do tutor ou do curador algum menor de dezoito anos ou interdito, ou deixar, sem justa causa, de entregá-lo a quem legitimamente o reclame:
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.
14.1 Bem jurídico e sujeitos do crime 
Tutela-se a regular manutenção do poder familiar, no que tange aos direitos dos pais, tutor ou curador dos incapazes. A pena cominada ao delito permite a transação penal e a suspensão condicional do processo (Lei 9.099195).
Quanto ao sujeito ativo, qualquer pessoa poderá praticar o delito em estudo (inclusive os pais, destituídos ou suspensos do poder familiar). Já o sujeito passivo é o pai, a mãe, o tutor ou o curador. Secundariamente, figurará como vítima o menor de dezoito anos ou o interdito.
14.2 Conduta
Três são as hipóteses previstas no art. 248:
I- induzir menor de dezoito anos, ou interdito, a fugir do lugar em que se acha por determinação de quem sobre ele exerce autoridade, em virtude de lei ou de ordem judicial. Aqui o agente desperta no menor ou no interdito a ideia de fugir do lugar em que se encontre, mediante conselhos ou promessas, fazendo com que o incapaz, por seus próprios meios, saia da companhia da pessoa a quem foi entregue ou do estabelecimento em que se encontra internado para educação ou tratamento da saúde. Não basta a indução, sendo imprescindível que haja o efetivo desaparecimento.
II - confiar a outrem sem ordem do pai, do tutor ou do curador algum menor de dezoito anos ou interdito. Neste caso, o agente tem o menor sob sua responsabilidade momentaneamente (como por exemplo, o responsável por instituição de ensino) e o entrega a alguém sem ordem dos pais, tutor ou curador (entrega arbitrária).
III - deixar, sem justa causa, de entregar o menor de dezoito anos ou o interdito a quem legitimamente o reclame. Trata-se de modalidade omissiva, em que o agente já tem o incapaz sob seus cuidados, de forma regular, e se recusa a entregá-lo a quem de direito. Exige se, neste caso, que o ato de recusa se dê sem justa causa, pois, provado motivo justo para que a negativa- se operasse, afastada estará a tipicidade, ocorrendo o mesmo se o reclame for ilegítimo (se o tutor, por exemplo, pretende retirar a tutelada para entregá-la à prostituição, a recusa do agente não constitui crime).
14.3 Voluntariedade, consumação e tentativa
É o dolo, consistente na vontade consciente de praticar uma das condutas previstas no tipo.
Na primeira figura típica, parte da doutrina entende que o crime é material, consumando-se com a efetiva fuga do incapaz (sendo insuficiente o mero induzimento). Na modalidade confiar o menor ou interdito, a consumação ocorre com a efetiva entrega.
Por fim, a terceira ação delituosa se consuma no momento da recusa em entregar o incapaz a quem o legitimamente o reclame, sem justa causa para tanto. Nas duas primeiras, a tentativa é perfeitamente admissível. No entanto, na recusa em entregar o incapaz, por se tratar de crime omissivo próprio, o contatus não ocorre.
Também será ação pública incondicionada. 
15. SUBTRAÇÃO DE INCAPAZES 
Art. 249 - Subtrair menor de dezoito anos ou interdito ao poder de quem o tem sob sua guarda em virtude de lei ou de ordem judicial:
Pena - detenção,de dois meses a dois anos, se o fato não constitui elemento de outro crime.
§ 1º - O fato de ser o agente pai ou tutor do menor ou curador do interdito não o exime de pena, se destituído ou temporariamente privado do pátrio poder, tutela, curatela ou guarda.
§ 2º - No caso de restituição do menor ou do interdito, se este não sofreu maus-tratos ou privações, o juiz pode deixar de aplicar pena.
15.1 Bem jurídico e sujeitos do crime 
Outra vez, protege-se a regular manutenção da família, no que diz respeito à guarda de menor ou interdito. A pena cominada ao delito admite a transação penal e a suspensão condicional do processo (Lei 9.099/95).
Trata-se de crime comum, ou seja, pode ser praticado por qualquer pessoa. O §1º configurará como autores o pai, o tutor ou o curador quando destituídos ou temporariamente privados do poder familiar, tutela, curatela ou guarda.
Sujeito passivo primário será aquele que tem o incapaz sob sua guarda em virtude de lei ou ordem judicial. Secundariamente, também figurará como vítima o próprio menor ou interdito subtraído.
15.2 Conduta
Pune-se a subtração (retirada) do incapaz da companhia dos pais, tutor ou curador ou mesmo da pessoa a quem a lei ou autoridade judicial o confiou (não implicando, necessariamente, deslocamento espacial da vítima).
O crime é de execução livre, podendo ser praticado das mais variadas formas (mediante violência, ameaça etc.).
Trata-se de deliro subsidiário, ficando absorvido se a subtração for praticada com finalidade que ultrapasse a simples retirada do incapaz, como na hipótese em que o agente visa praticar extorsão mediante sequestro.
Note-se, por fim, que eventual consentimento do incapaz não conduz à elisão do crime, tendo-se em vista a natureza do bem jurídico protegido (indisponível), bem como a sua (menor) (in)capacidade de discernir.
15.3 Voluntariedade, consumação e tentativa
É o dolo, consubstanciado na vontade consciente de subtrair o menor ou o interdito de quem tenha a sua guarda por determinação legal ou judicial.
Não se exige finalidade especial por parte do agente, devendo-se ressaltar que, se agiu com outro propósito mais grave que a simples subtração, responderá pelo fato pretendido, se ilícito for, na medida de sua culpabilidade.
Consuma-se com a retirada do incapaz da esfera de proteção de seus pais, tutor ou curador. De acordo com MIRABETE, FRAGOSO o crime é permanente. Tratando-se de crime plurissubsistente, a tentativa é perfeitamente possível.
15.4 Ação Penal e perdão judicial 
A ação penal será pública incondicionada.
O § 2° traz hipótese de perdão judicial, ao prever que o juiz pode deixar de aplicar a pena no caso de restituição do menor ou do interdito, se este não sofreu maus-tratos ou privações. Obviamente, a restituição deve partir do próprio agente, ou seja, deve ser espontânea ou pelo menos voluntária.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de direito penal: parte especial (arts. 121 ao 361). 9ºed. rev., ampl., e atual. – Salvador: JusPODIVM, 2017. 
FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de direito penal: parte especial. São Paulo: José Bushatsky, 1958. v.1; v.2 (1962); v.3; v.4(1959). 
MIRABETE, Julio Fabrini. Manual de direito penal: parte especial. São Paulo: Altas. v.2 (24º. ed, 2006): v.3 (21º. ed, 2006).
PRADO, Luiz Regis. Curso de direito penal brasileiro: parte especial, v. 3, - 2º ed.rev. atual,. ampl. Rio de Janeiro: RT, 2003

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