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MANDADO DE SEGURANÇA

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MANDADO DE SEGURANÇA
II - MANDADO DE SEGURANÇA 
Existência de violação a direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus, a partir de ato de autoridade. Esse é, em suma, o pressuposto para o cabimento do Mandado de Segurança, instrumento previsto na Constituição Federal.
Essa Constituição cidadã, que consagrou direitos individuais e coletivos, trouxe importante valorização do Mandado de Segurança, que se consolidou como um dos instrumentos de defesa desses direitos.
Assim, o Mandado de Segurança é atualmente uma das ações processuais constitucionais de maior utilização, pelo que se justifica o estudo e compreensão do instituto.
1 – Gênese e Evolução do Mandado de Segurança
 De acordo com a definição de Hely Lopes Meirelles, Mandado de Segurança "é o meio constitucional posto à disposição de toda pessoa física ou jurídica, órgão com capacidade processual, ou universalidade reconhecida por lei, para a proteção de direito individual líquido e certo, não amparado por habeas corpus, lesado ou ameaçado de lesão, por ato de autoridade, seja de que categoria for e sejam quais forem as funções que exerça"[footnoteRef:1]. [1: MEIRELLES, Hely Lopes. Mandado de Segurança. 19. ed. São Paulo: Malheiros. 1998. p. 21.] 
O mandado de segurança é uma criação do direito brasileiro, já sugerido em 1914, por Alberto Torres mas somente inserido no ordenamento na Constituição de 1934, como hábil a defesa de “direito certo e incontestável”. Aquele texto constitucional, continha:
“Toda pessoa que tiver um direito incontestável, ameaçado ou violado por ato manifestamente ilegal do Poder Executivo, poderá requerer ao Poder Judiciário que a ampare com mandado de segurança. O juiz, recebendo o pedido, resolverá, dentro de 72 horas, depois de ouvida a autoridade coatora. E, se considerar o pedido legal, expedirá o mandado, ou proibindo esta de praticar o ato, ou ordenando-lhe restabelecer, integralmente, a situação anterior, até que a respeito resolva definitivamente o Poder Judiciário”.
A partir do texto constitucional de 1934, foi editada a Lei nº 191, em 16.01.1936, regulando o instituto (inclusive no rito) e dele excluindo a tutela à liberdade de locomoção, aos atos disciplinares e às questões meramente políticas.
Com o Estado Novo, em 1937, foi proibido seu uso contra atos editados pelo Presidente da República, Ministros de Estado, Governadores e Interventores.
	
O Código de Processo Civil de 1939 incluiu o Mandado de Segurança entre os processos especiais, nos seus artigos 319 a 331. Além das ressalvas trazidas em 1937, o CPC de 1939 também proibia o uso do writ[footnoteRef:2] quando se tratasse de “impostos e taxas, salvo se a lei, para assegurar a cobrança, estabelecer providências restritivas da atividade profissional do contribuinte”. [2: do direito inglês, significa mandado, ordem.] 
		
Pelo rito regulado nesse CPC, a autoridade coatora era notificada para prestar informações no prazo de dez dias e, além disso, era citado o representante legal da pessoa jurídica de direito público interessada na ação.
Com a Constituição de 1946, foram excluídas as limitações ao uso do mandado de segurança e alterou-se a expressão “defesa de direito certo e incontestável” para “direito líquido e certo”, que permanece até hoje.
Em 31.12.1951 foi promulgada a Lei nº 1.533, estabelecendo normas materiais e processuais relativas ao mandado de segurança. Posteriormente, em 1964, as normas processuais restaram completadas pela Lei 4.348, de 26.06.1964.
		
A Constituição de 1967 incluiu o atributo “individual” ao conceituar o direito líquido e certo. A Emenda Constitucional nº 01, de 1969, suprimiu essa expressão, retornando ao conceito anterior. A ressalva que se fazia a essa Emenda era no tocante à supressão do recurso ordinário de mandado de segurança, previsto na Lei 1.533/51. Porém, com o CPC de 1973, foram alterados os artigos 12 e 13 da citada Lei, estabelecendo-se o cabimento da apelação, como recurso da decisão que conceda ou negue a ordem.
Enfim, a Constituição de 1988 veio alargar o alcance do Mandado de Segurança, estendendo-o também à proteção de direitos coletivos. Assim, atualmente admite-se a interposição do Mandado de Segurança por partido político, com representação no Congresso Nacional, organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída há pelo menos um ano em defesa dos interesses de seus membros ou associados.
		
O Mandado de Segurança é ação de natureza nitidamente mandamental, na classificação relativa à eficácia do provimento reclamado. O comando ordenatório da sentença é claro – fazer cessar o ato que representa o abuso de autoridade e viola o direito líquido e certo. 
Nesse sentido, não se admite o seu uso com propósitos declaratórios, como já decidiu o Tribunal de Justiça do Estado:
TJRS-161185) MANDADO DE SEGURANÇA. DECRETO MUNICIPAL CUJA VALIDADE E EFICÁCIA SE PRETENDE DECLARAR VIA AÇÃO MANDAMENTAL. IMPROPRIEDADE DA AÇÃO.
Não é a ação de mandado de segurança substitutiva da ação declaratória. Assim, imprópria a ação mandamental escolhida para o fim de declaração, pura simples, da validade eficácia do decreto municipal de intervenção na CORSAN.
O writ, diversamente, serve para impedir e afastar a eficácia do ato ilegal ou que tenha sido praticado com abuso de poder. Indeferimento da inicial do mandamus que se mantém.
Apelação não provida. Sentença confirmada em reexame necessário.
(Apelação e Reexame Necessário nº 70004029773, 1ª Câmara Cível do TJRS, São Borja, Rel. Des. Henrique Osvaldo Poeta Roenick. j. 15.05.2002)
Assim, tratando-se de ação mandamental, é indispensável que o comando sentencial pretendido destine-se à cessação ou impedimento do ato abusivo.
2 – Atos do executivo e legislativo municipais que podem ser objeto do Mandado de Segurança
É certo que o mandado de segurança pode ter por objeto atos da autoridade do executivo, do legislativo e do judiciário. A aplicação do instituto contra atos judiciais era largamente encontrada até 1995, como forma de conceder efeito suspensivo ao recurso de Agravo de Instrumento. 
Com a reforma do Código de Processo Civil, realizada pela Lei 9.139/95, introduziu-se nova modalidade de processamento do recurso do Agravo de Instrumento. A partir dessa reforma, o Agravo de Instrumento passou a ser dirigido diretamente ao tribunal e, assim, o exame de admissibilidade (e da concessão dos efeitos agregados ao recurso) tornou-se prerrogativa do tribunal ad quem.
Por isso, praticamente desapareceu a utilização do Mandado de Segurança para ataque de atos de autoridades judiciárias, apenas encontrando-se exemplo desse uso a partir de algumas decisões monocráticas, proferidas nos tribunais e quando não se admitam os recursos previstos no CPC ou regimentos internos.
Não se pode esquecer, é claro, da ampla utilização do Mandado de Segurança no Processo do Trabalho: é que a inexistência de recursos das interlocutórias, nesse Processo, propicia oportunidades de uso do instituto.
Afora isso, o Mandado de Segurança é ação cabível contra atos que constituam abuso de autoridades legislativas e executivas. Nesse estudo, busca-se alcançar exatamente os atos das autoridades do executivo, especialmente do Executivo Municipal.
	Uma de suas amplas utilizações, contra atos do Executivo Municipal, refere-se aos servidores públicos e aos inúmeros atos que envolvem sua vida funcional.
Nesse caso, o Mandado de Segurança é francamente admitido, possivelmente uma das mais comuns com que se defrontam os procuradores municipais.
TJRS-160868) ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. DEMISSÃO. LEGALIDADE.
1. Convalidadas as irregularidades no processo administrativo disciplinar, observada a correlação entre o ilícito imputado e a pena aplicada, bem como a possibilidade de se cassar a aposentadoria do servidor público para aplicar-lhe a pena de demissão, não há ilegalidade ou abuso de poder passíveis de correção via Mandado de Segurança.
2. Mandado de Segurança denegado. (12 fls.)(Mandado de Segurança nº 70003540655, Tribunal Pleno do TJRS, Porto Alegre, Rel. Des. Araken de Assis. j. 18.03.2002)
TJRS-160820) ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. RESTITUIÇÃO DE VANTAGENS PECUNIÁRIAS ILEGALMENTE RECEBIDAS. PRÉVIO PROCESSO ADMINISTRATIVO. DISPENSABILIDADE.
1. É admissível, na forma do art. 82 da Lei 10098/94, a administração invalidar ato administrativo e impor ao servidor restituição das vantagens pecuniárias, ilegalmente recebidas, independentemente de prévio processo administrativo. Base de desconto.
2. Segurança concedida em parte. (6 fls.)
(Mandado de Segurança nº 70003378239, 2º Grupo de Câmaras Cíveis do TJRS, Porto Alegre, Rel. Des. Araken de Assis. j. 08.03.2002)
TJRS-160815) ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO. EXONERAÇÃO. LEGALIDADE OBSERVADA.
1. Nenhum é o vício do processo administrativo que concluiu pela exoneração do servidor em estágio probatório, assegurada a ampla defesa.
2. Segurança denegada. (8 fls.)
(Mandado de Segurança nº 70003253176, 2º Grupo de Câmaras Cíveis do TJRS, Porto Alegre, Rel. Des. Araken de Assis. j. 08.03.2002)
Não se pode deixar de referir, também, o seu uso em face dos procedimentos licitatórios, geralmente utilizado por licitantes que se sintam preteridos nesses processos:
TJRS-161236) MANDADO DE SEGURANÇA. DIREITO ADMINISTRATIVO. LICITAÇÃO. CONVITE. HABILITAÇÃO DE LICITANTE CONCORRENTE DA IMPETRANTE. ALEGAÇÃO DE INFRINGÊNCIA A DIREITO LÍQUIDO E CERTO. IMPROCEDÊNCIA. OBJETO SOCIAL COMPATÍVEL AO RAMO DO SERVIÇO A SER CONTRATADO. SEGURANÇA DENEGADA.
Inexiste direito líquido e certo a amparar a concessão de segurança a impetrante, se a comissão de licitação houve por bem habilitar concorrente sua, sob o argumento de que o objeto social da mesma se coaduna ao fim almejado no certame, na modalidade convite. O rigorismo formal da interpretação da norma legal não pode vir em prejuízo a viabilidade de concorrência e a possibilidade de melhor oferta a administração. Inteligência do art. 22, § 3º, da Lei nº 8.666/93 em acordo com os fins do procedimento licitatório e ao interesse público. Apelação não provida.
(Apelação Cível nº 70003773496, 1ª Câmara Cível do TJRS, Cachoeirinha, Rel. Des. Henrique Osvaldo Poeta Roenick. j. 15.05.2002)
TJRS-160866) ADMINISTRATIVO. LICITAÇÃO. FALTA DE JULGAMENTO OBJETIVO.
Presumir a previsão de certas despesas representa juízo subjetivo, incompatível com o princípio do julgamento objetivo (Lei 8666/93, art. 3º). Também não é de se presumir que, da falta de previsão de certa despesa, o licitante arcasse com os custos respectivos. Não é possível a administração, em licitações diferentes, adotar dois pesos e duas medidas: numa, rejeitar determinação previsão de encargos sociais, porque irreal; noutra, ao invés, aceitar tal previsão sem nenhuma explicação. Votos vencidos. (8 fls.)
(Mandado de Segurança nº 70003617891, Tribunal Pleno do TJRS, Porto Alegre, Rel. Des. Alfredo Guilherme Englert. j. 18.03.2002)
TJRS-160746) MANDADO DE SEGURANÇA. LICITAÇÃO. DESQUALIFICAÇÃO. MERA IRREGULARIDADE. COMPETITIVIDADE
Ao efeito da desqualificação de licitantes pelo não cumprimento de exigência estabelecida no edital, é indispensável distinguir formalidade essencial de simples irregularidade. A falta de registro na parte exterior do envelope de qual linha de microônibus o licitante pretendia se habilitar configura mera irregularidade, porquanto esta informação constou do conteúdo do envelope. Sentença confirmada em reexame necessário.
(Reexame Necessário nº 70003243474, 2ª Câmara Cível do TJRS Sapucaia do Sul, Rel. Des. Maria Isabel de Azevedo Souza. j. 27.02.2002)
Em matéria tributária também é possível encontrar exemplos de utilização do Mandado de Segurança:
TJRS-161212) APELAÇÃO CÍVEL. MANDADO DE SEGURANÇA. AUTORIZAÇÃO PARA IMPRESSÃO DE NOTAS FISCAIS. PROVIMENTO LIMINAR EM PARTE.
Ilegal e abusiva a negativa de autorização para a impressão de documentos fiscais, condicionando-a ao pagamento do débito do contribuinte para com o Fisco, porquanto fere a regra do art. 5º, XII, da Constituição Federal. Pendente débito, deve o Fisco lançar mão da cobrança judicial. Possibilidade de exigência de garantia, porém nunca condicionada ao montante do débito, mas sim nos termos do que dispõe a Lei 8.820/89.
Apelação provida em parte, por maioria. Voto vencido.
(Apelação Cível nº 70004059366, 1ª Câmara Cível do TJRS, Rel. Des. Henrique Osvaldo Poeta Roenick. j. 15.05.2002)
TJRS-161071) APELAÇÃO CÍVEL. MANDADO DE SEGURANÇA. AUTORIZAÇÃO PARA IMPRESSÃO DE DOCUMENTOS FISCAIS. EXIGÊNCIA DE GARANTIA.
Possibilidade de o Fisco exigir garantias para autorizar a emissão de documentos fiscais, estando o contribuinte em débito. Inteligência dos arts. 39 e 42, § único, da Lei nº 8.820/89.
Apelação provida, por maioria. Reexame prejudicado. Voto vencido.
(Apelação e Reexame Necessário nº 70004048401, 1ª Câmara Cível do TJRS, Rel. Des. Henrique Osvaldo Poeta Roenick. j. 17.04.2002)
É possível sua utilização, ainda, em matéria ambiental e previdenciária:
TRF4-069122) MANDADO DE SEGURANÇA - PROJETO DE LEI COMPLEMENTAR MUNICIPAL CRIANDO "PARQUE DE EVENTOS" QUE PODERÁ CAUSAR IMPACTO AMBIENTAL E EMBARAÇO A SERVIÇOS PÚBLICOS FEDERAIS DESENVOLVIDOS NO CENTRO ADMINISTRATIVO FEDERAL CONTÍGUO - LEGITIMIDADE ATIVA DA UNIÃO - PROCEDÊNCIA DA AÇÃO - DESCUMPRIMENTO DE NORMA DA LEI ORGÂNICA DO MUNICÍPIO.
1 - Não existe um "meio ambiente municipal", e sim o meio ambiente único, a cujo equilíbrio ecológico todos têm direito, cabendo ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (art. 225 da Constituição de 1988).
2 - A proteção ao meio ambiente e o combate à poluição em qualquer de suas formas é da competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (art. 23 da CF/88), independentemente de a agressão ocorrer em próprio público federal, estadual ou municipal.
3 - A União tem legitimidade para figurar no pólo ativo de Mandado de Segurança contra a votação de lei municipal que possa causar impacto ambiental ou gerar qualquer forma de poluição, ou o embaraço de seus serviços, sem observância dos requisitos legais.
4 - O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado não diz respeito apenas à proteção das matas, da flora e da fauna, mas também ao espaço urbano onde vive a maioria da população, que sofre de grave degradação da qualidade de vida causada por todas as formas de poluição, inclusive a sonora, não se podendo ignorar que a instalação de um Parque de Eventos, onde ocorrerão festejos, solenidades e manifestações de massa, ao lado de um Centro Administrativo, contribuirá para agravar ainda mais a poluição sonora a que já se encontram expostos os servidores e os usuários de seus serviços.
5 - O art. 236 da Lei Orgânica do Município de Porto Alegre estabelece que a votação de qualquer projeto de cuja implementação possa decorrer impacto ambiental será precedida de ampla divulgação para que a população possa se manifestar, podendo ocorrer, a requerimento de qualquer entidade interessada em oferecer opinião ou proposta alternativa (parágrafo único), uma audiência pública, formalidade essencial para que a coletividade e o Poder Público possam exercer a defesa do meio ambiente prevista no art. 225 da Constituição. Omitida essa formalidade, o Mandado de Segurança tem procedência.
6 - Apelo da autoridade impetrada não conhecido. Apelo do Município e remessa oficial improvidos.
(Apelação em Mandado de Segurança nº 96.04.07565-9/RS (00079400), 4ª Turma do TRF da 4ª Região, Rel. Juiz A. A. Ramos de Oliveira. j. 05.12.2000, Publ. DJU 31.01.2001, p. 606).
TRF4-068946) PREVIDENCIÁRIO. LANÇAMENTO DE DÉBITO. MUNICÍPIO. REGIME PRÓPRIO.
1. Havendo no município regime próprio de previdência social, o qual alberga também os titulares de cargos em comissão, são indevidos os débitos previdenciários lançados em virtude do não recolhimento de contribuições incidentes sobre a remuneração destes servidores.
2. Apelo e remessa "ex-officio" improvidos.
(Apelação em Mandado de Segurança nº 97.04.57906-3/SC(00077121), 2ª Turma do TRF da 4ª Região, Rel. Juiz João Pedro Gebran Neto. j. 01.06.2000, Publ. DJU 30.08.2000 p. 143).
Recentemente, o Mandado de Segurança também começou a ser utilizado para garantia do direito à saúde, matéria que será abordada oportunamente:
TJRS-160871) MANDADO DE SEGURANÇA. SEGUROS. REVISÃO DE ATO ADMINISTRATIVO. CABIMENTO DA VIA ESCOLHIDA ANTE A VIRTUAL AUSÊNCIA DE INSTÂNCIA A QUE FOI SUBMETIDO O IMPETRANTE. PRESENÇA DO FUMUS BONI JURIS, FACE A IMPERATIVA REALIZAÇÃO DE QUIMIOTERAPIA NA BUSCA DA CURA DE DOENÇA A QUE FOI ACOMETIDO O IMPETRANTE. SAÚDE.
Natureza de direito fundamental competência do Poder Judiciário em acolher pretensão que vise ao cumprimento do determinado em lei. Concessão do mandamus.
(Mandado de Segurança nº 70003791365, 2ª Câmara Especial Cível do TJRS, Rel. Des. Ney Wiedemann Neto. j. 26.03.2002)
Enfim, pode-se afirmar que a utilização do Mandado de Segurança é ilimitada, bastando estarem preenchidos os seus pressupostos de cabimento e admissibilidade, que serão adiante analisados.
3 – Aspectos Processuais do Mandado de Segurança: competência, legitimação, concessão liminar da segurança, sentença e recursos
3.1. Aspectos relativos à Petição Inicial
A inicial do Mandado de Segurança deve preocupar-se em demonstrar o direito líquido e certo e o ato – de autoridade – que lhe represente violação. Dentre os pedidos, necessário incluir o de notificação da autoridade coatora, para prestar informações e de intimação do Ministério Público.
Se houver pedido de liminar, incluir de plano o pedido de “... concessão liminar da segurança ...”
		
Enfim, o pedido de procedência “julgar procedente o pedido” conterá o pedido mediato (pretensão de sentença mandamental) e pedido imediato (o bem da vida perseguido). É bem adequada, à espécie, a locução “conceder definitivamente a segurança impetrada, para o fim de...”
Tecnicamente, a inclusão do protesto “por todos os meios de prova admitidos” é imprópria: se o Impetrante ainda necessita provar o seu direito, então é porque não é “líquido e certo”, donde surgiria a impropriedade de uso do Mandado de Segurança.
3.2. Legitimidade Ativa
O Impetrante, titular da ação de mandado de segurança, é o titular de direito líquido e certo, violado ou ameaçado por ato de autoridade.
De acordo com José da Silva Pacheco, “Órgão de direito público tem legitimidade para ser parte ainda que contra outro órgão da mesma pessoa jurídica. Assim, pode o prefeito impetrar mandado contra o ato da Câmara de Vereadores.”[footnoteRef:3] [3: PACHECO, José da Silva. O Mandado de Segurança e Outras Ações Constitucionais Típicas. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais. 1998. p. 232.] 
Ainda contempla-se a legitimidade do Ministério Público, agindo na defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.
O direito à propositura do Mandado de Segurança é personalíssimo, daqueles considerados intransmissíveis por disposição legal. Então, na hipótese de falecimento do Impetrante, a extinção do writ, sem julgamento do mérito, tem amparo no inciso IX, do artigo 267, do Código de Processo Civil:
TJRS-160872) MANDADO DE SEGURANÇA. DIREITO PERSONALÍSSIMO. FALECIMENTO DA IMPETRANTE.
Extinção do processo sem julgamento do mérito. (2 fls.)
(Mandado de Segurança nº 70003830395, 1º Grupo de Câmaras Cíveis do TJRS, Porto Alegre, Rel. Des. Marco Aurélio Heinz. j. 05.04.2002)
Sobre a legitimidade ativa no mandado de segurança coletivo – trazido pela Constituição Federal de 1988 – observa-se que, no tocante aos partidos políticos, embora as posições divergentes na doutrina, o STF tem se inclinado a reconhecer a legitimidade dos partidos políticos, apenas para a propositura de mandados de segurança envolvendo direitos políticos.
Nesse sentido:
“A exemplo dos sindicatos e das associações, também os partidos políticos só podem impetrar mandado de segurança coletivo em assuntos integrantes de seus fins sociais em nome de filiados seus, quando devidamente autorizados pela lei ou por seus estatutos. Não pode ele vir a juízo defender direitos subjetivos dos cidadãos a ele não filiados ou interesses difusos e, sim, direito de natureza política, como por exemplo, os previstos nos arts. 14 a 16 da CF”.
(EDMS 197, DJ 15.07.90, Relator Ministro Garcia Vieira)
Igualmente, os sindicatos, entidades de classe e associações têm legitimidade para propor o mandado de segurança, para tutelar interesses de toda a categoria.
3.3. Legitimidade passiva
A legitimidade para integrar o pólo passivo é da autoridade e não do ente público. Assim, não será o “Município ...” o legitimado passivo mas, por exemplo, o “Prefeito Municipal...”
		
Ainda acerca dessa legitimação passiva, Hely Lopes Meirelles observa, oportunamente:
"deve-se distinguir autoridade pública do simples agente público. Aquela detém, na ordem hierárquica, poder de decisão e é competente para praticar atos administrativos decisórios, os quais, se ilegais ou abusivos, são suscetíveis de impugnação por mandado de segurança quando ferem direito líquido e certo; este não pratica atos decisórios, mas simples atos executórios e, por isso, não responde a mandado de segurança, pois é apenas executor de ordem superior.
Exemplificando: o porteiro é um agente público, mas não uma autoridade; autoridade é o seu superior hierárquico, que decide naquela repartição pública. O simples executor não é coator em sentido legal; coator é sempre aquele que decide, embora muitas vezes também execute a sua própria decisão; que rende ensejo à segurança. Atos de autoridade, portanto, são os que trazem em si uma decisão e não apenas execução."[footnoteRef:4] [4: Idem. p. 31.] 
Assim, nem sempre o Prefeito é o único legitimado, no Município, para integrar o pólo passivo do Mandado de Segurança, podendo-se verificar a legitimação de algum Secretário, desde que ele o responsável pela decisão que se aponta como de abuso de autoridade.
	
	Nesse sentido, recente decisão do Tribunal de Justiça do Estado:
TJRS-160838) MANDADO DE SEGURANÇA - SERVIDOR PÚBLICO - GRATIFICAÇÃO DE PERMANÊNCIA EM SERVIÇO.
Legitimidade do Secretário da Administração e Recursos Humanos para integrar o pólo passivo, por força do Art. 5º do Decreto Estadual nº 36553/96 - lesão configurada a direito líquido e certo do impetrante com a cessação do pagamento da gratificação sem observância do contraditório e do exercício da mais ampla defesa - se motivado o ato de concessão da gratificação, invocados critérios de oportunidade, conveniência e necessidade, o mesmo se exige para a anulação do ato administrativo, apontando-se e comprovando-se o desaparecimento das causas determinantes da permanência. Segurança concedida. Voto vencido. (7 fls.)
(Mandado de Segurança nº 70002801694, 2º Grupo de Câmaras Cíveis do TJRS, Porto Alegre, Rel. Des. Luiz Ari Azambuja Ramos. j. 08.03.2002)
Ainda sobre essa legitimação passiva, é importante observar que os tribunais e também a doutrina registram freqüentes confusões, ou opiniões diversas, sobre a legitimidade para integrar o pólo passivo.
	Ao que parece, José da Silva Pacheco resolve bem a questão, quando afirma:
“Conforme salientamos acima, quando falamos do impetrado, a notificação deve ser dirigida à autoridade coatora. Trata-se de citação, chamamento para integrar a relação processual, prestar as informações e defender-se. Há confusão, tanto na doutrina como nos julgados, entre:
a) a pessoa do funcionário, servidor, agente ou empregado que estiver investido de autoridade pelo exercício de função de chefia em determinado órgão de uma organização civil ou militar, como, p. ex., o Sr. Péricles de Souza; b) o cargo, comando, chefia ou direção dos referidos órgãos, como, p. ex., o Secretário da Receita Federal ou Comandante da 1ª Região Militar; c) os próprios órgãos, como a Secretaria da Receita ou o Comando da 1ª Região Militar; d) a organização civil ou militar, como, p. ex., Recebedoria da Receita ou 1ª Região Militar; e e) a entidade com personalidade jurídica (pessoa jurídica),como, p. ex., a União, o Estado, o Município, a autarquia, o Distrito Federal. 
Quando se fala em autoridade coatora tem-se em vista aquela, em razão da qual, a pessoa que, eventualmente, o detenha praticou o ato abusivo ou ilegal. Não se refere propriamente à pessoa do funcionário, servidor, agente ou empregado que, investido de autoridade, agiu contra a lei ou de modo abusivo, mas à autoridade em virtude da qual ou em nome da qual veio a praticar o ato. Refere-se, pois, indiferentemente, às letras “b”, “c”, e “d” supra, como exclusão da letra “a”, de modo que, embora o ocupante do cargo seja outro, prevalece a citação.”[footnoteRef:5] [5: Op cit. p. 252.] 
O mais indicado, contudo, é que o Mandado de Segurança seja dirigido contra o “Prefeito Municipal de...”, que é a autoridade coatora (fosse dirigido contra a pessoa física que ocupa o cargo, faltaria o requisito “autoridade”).
3.4. Competência
Sobre a competência para julgar e processar o Mandado de Segurança, a grande discussão que se apresenta diz com a competência da Justiça Federal, em detrimento da Justiça Comum.
	Ocorre que muitos atos são proferidos por autoridades municipais e estaduais, que agem por delegação de autoridades federais. Sendo assim, a competência para processamento do writ é da Justiça Federal.
TRF1-075944) PROCESSUAL CIVIL. FGTS. MANDADO DE SEGURANÇA IMPETRADO CONTRA ATO DE JUIZ DE DIREITO. COMPETÊNCIA DO TRF - 1ª REGIÃO RECONHECIDA. NULIDADE DA SENTENÇA DE 1º GRAU.
Em se tratando de Mandado de Segurança interposto contra ato praticado por Juiz de Direito (supostamente no exercício de competência delegada da Justiça Federal) competente para o processamento e o julgamento do mandamus é o Tribunal Regional Federal a que está vinculado o Juízo, afigurando-se nula a sentença proferida pelo Juiz singular.
Competência do TRF/1ª Região reconhecida. Apelação da CEF Provida. Sentença anulada.
Decisão:
A Turma decide, por unanimidade, dar provimento à apelação da CEF, anulando-se a sentença recorrida e reconhecendo-se a competência do TRF - 1ª Região, para processar e julgar o feito.
(Apelação em Mandado de Segurança nº 1999.380.00.37530-0/MG, 6ª Turma do TRF da 1ª Região, Rel. Juiz Souza Prudente, j. 05.11.2001, Publ. DJ 04.02.2002 p. 183)
E se o ato é praticado por autoridade que exerce função delegada pelo poder público estadual ou municipal, a competência é da Justiça Estadual:
STJ-054708) CONFLITO DE COMPETÊNCIA. MANDADO DE SEGURANÇA. RENOVAÇÃO DE MATRÍCULA. ENSINO MÉDIO.
1. Tratando-se de Mandado de Segurnça, a competência é definida, normalmente, em função da autoridade coatora.
2. No presente caso, a autoridade coatora é o diretor de instituição de ensino privada, que condicionou a renovação de matrícula da estudante ao pagamento das mensalidades atrasadas relativas ao ano letivo anterior. Não se trata de simples cobrança de mensalidades atrasadas, configurando o ato coator, na presente hipótese, negativa de acesso ao ensino. Cuida-se de atuação delegada do Poder Público, a quem compete oferecer ensino público ou autorizar o funcionamento de estabelecimentos particulares. Inaplicável, portanto, o teor da Súmula nº 34/STJ.
3. Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394/96, art. 17, III, as instituições de ensino fundamental e médio criadas e mantidas pela iniciativa privada estão compreendidas no Sistema de Ensino dos Estados e do Distrito Federal e não no Sistema Federal de Ensino. Conclui-se que a autoridade coatora, ao negar a renovação de matrícula referente a ensino médio, agiu no exercício de função delegada pelo poder público estadual, sendo o Juízo de Direito do Estado o competente para apreciar o Mandado de Segurança.
4. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo de Direito da 5ª Vara Cível de Santos/SP.
Decisão:
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Senhores Ministros da 2ª Seção do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do conflito e declarar competente a 5ª Vara Cível de Santos-SP. Votaram com o Relator os Senhores Ministros Aldir Passarinho Júnior, Antônio de Pádua Ribeiro, Eduardo Ribeiro, Waldemar Zveiter, Barros Monteiro, Cesar Asfor Rocha, Ruy Rosado de Aguiar e Ari Pargendler.
(Conflito de Competência nº 21663/SP, 2ª Seção do STJ, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito. j. 28.06.2000, Publ. DJU 04.09.2000 p. 117)
3.5. Concessão Liminar da Segurança
Para quando o socorro é urgentíssimo e não apenas urgente.
A concessão de liminares é outro tema que mereceu grandes debates nos tribunais, especialmente a partir da edição da Lei 8.437/92, restringindo a concessão de liminares em ações movidas contra o Poder Público, especialmente em cautelares, toda vez que a medida não pudesse ser concedida em mandado de segurança, por proibição legal.
É oportuno lembrar que ainda na Lei 4.348/64 existe a vedação para concessão de liminares de mandados de segurança visando à reclassificação ou equiparação de servidores públicos, ou à concessão de aumento ou extensão de vantagens.
	Assim, os tribunais têm decisões similares às seguintes:
TRF1-054035) ADMINISTRATIVO - MANDADO DE SEGURANÇA - SERVIDOR PÚBLICO - PARCELAS INCORPORADAS ("QUINTOS") - VANTAGENS PECUNIÁRIAS - PAGAMENTO - LIMINAR - IMPOSSIBILIDADE - LEI Nº 4.348/64, ART. 5º - LEI 5.021/66, ART. 1º E § 4º - LEI Nº 8.437/92, ART. 1º.
1 - Existente vedação legal expressa, a liminar em Mandado de Segurança não pode ser concedida ao seu autor. (Lei nº 4.348/64, art. 5º; Lei nº 5.021/66, art. 1º e § 4º; Lei nº 8.437/92, art. 1º).
2 - Agravo de Instrumento rejeitado.
3 - Decisão confirmada.
(Agravo de Instrumento nº 1999.010.00.08660-5/DF (00083167), 1ª Turma do TRF da 1ª Região, Rel. Juiz Catão Alves. j. 03.08.1999, Publ. DJ 06.09.1999 p. 48).
TRF4-067466) PROCESSO CIVIL. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. AÇÃO IMPUGNANDO ATO DA PRESIDÊNCIA DO TRIBUNAL. PROIBIÇÃO DE LIMINAR EM PRIMEIRO GRAU.
Não se concede antecipação de tutela sem demonstração dos requisitos do art. 273 do CPC. Ademais, é vedada a concessão, no Juízo de primeiro grau, de medidas antecipatórias em demandas em que se impugna ato de autoridade sujeita, na via do mandado de segurança, à competência originária do Tribunal (Lei 8.437, de 30.06.92, art. 1º, § 2º, combinado com o art. 1º da Lei 9.494, de 10.09.97). É o caso: o ato impugnado, de suspender o pagamento do "auxílio-alimentação" durante o período em que o agravante estiver em licença para curso no exterior, é ato da Presidência do Tribunal, e, portanto, está sujeito a controle por mandado de segurança da competência originária dessa Corte (art. 108, I, c, da Constituição).
(Agravo de Instrumento nº 2000.04.01.007976-2/SC (00076255), 3ª Turma do TRF da 4ª Região, Rel. Juiz Teori Albino Zavascki. j. 11.05.2000, Publ. DJU 19.07.2000 p. 217).
Posteriormente, foram editadas a Medida Provisória 375/93, que foi declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal e, ainda, a Medida Provisória 1.798/99 que, em especial, cuidam da restrição da concessão de liminares contra a Fazenda Pública.
	Esses dispositivos legais podem ser invocados pelo Município. Todavia, a tendência que parece ser majoritária nos tribunais é a que proclama a inconstitucionalidade de tais normas, exatamente pela sua anteposição à Constituição Federal e alegação de violação aos direitos fundamentais do acesso à justiça e devido processo legal.
3.6. Direito líquido e certo
Um dos pressupostos para a concessão do mandado de segurança é a existência do direito líquido e certo. Em princípio, significa que esse direito possa ser demonstrado de plano, a partir dos documentos juntados, em confronto com as normas do ordenamento.
	Embora existam autores que sustentem que o direito possa ser líquido e certo, embora não possa ser provado desde logo, a doutrina inclina-se em especial pelo entendimento de que esse direito deva ser demonstrado de plano e, portanto, o mandado de segurança prescinda dilação probatória.
	Nesse sentido, Hely Lopes Meirellesafirma:
“Quando a lei alude a direito líquido e certo, está exigindo que esse direito se apresente com todos os requisitos para seu reconhecimento e exercício no momento da impetração. Em última análise, direito líquido e certo é direito comprovado de plano. Se depender de comprovação posterior, não é líquido nem certo, para fins de segurança. Evidentemente, o conceito de liquidez e certeza adotado pelo legislador em mandado de segurança não é o mesmo do legislador civil (CC, art. 1.533). É um conceito impróprio – e mal expresso – alusivo à precisão e comprovação do direito quando deveria aludir a precisão e comprovação dos fatos e situações que ensejam o exercício desse direito”. [footnoteRef:6] [6: MEIRELLES, Hely Lopes. Mandado de Segurança. 19. ed. São Paulo: Malheiros. 1998. p. 35.] 
A partir desse conceito – que tem sido o aceito pacificamente na jurisprudência – o cabimento do mandado de segurança restringe-se às situações em que é possível demonstrar de plano a violação ao direito líquido e certo. Daí, decorre a não admissão da instrução probatória nas ações da espécie, resumindo-se apenas à existência de dilação para acolhimento das informações prestadas pelo impetrado. Com a oportuna manifestação do Ministério Público, segue-se a sentença.
3.7. Sentença e Coisa julgada:
A sentença é mandamental, contendo nítida ordem para que o Impetrado faça ou abstenha-se de fazer alguma coisa. Também de sua natureza, advém a feição executiva, já que seu comando é daqueles que se realizam independentemente da propositura de processo específico.
	A extinção sem julgamento do mérito é bastante comum nos mandados de segurança, especialmente pelo reconhecimento de que a via eleita não é apropriada ou em face da inexistência dos pressupostos necessários à concessão da segurança. Nesse sentido:
TRF4-066096) MANDADO DE SEGURANÇA - INDEFERIMENTO DA INICIAL, POR ILEGITIMIDADE DO IMPETRADO, APÓS AS INFORMAÇÕES - FALTA DE MANIFESTAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO - NULIDADE.
1 - No mandado de segurança, é essencial a oitiva do Ministério Público antes da sentença, sob pena de nulidade. O indeferimento de plano da inicial, na forma do art. 8º da Lei 1.533/51, só pode ocorrer quando o Rel. Juiz puder verificar, só pelo seu exame, que não é caso de mandado de segurança ou que lhe falta algum dos requisitos legais. Se só foi possível aferir a ilegitimidade passiva após as informações, já não é caso de aplicação do art. 8º, sendo de rigor a manifestação do Ministério Público, inclusive sobre a questão da legitimidade de partes.
2 - Sentença anulada para que seja cumprida aquela formalidade, antes de nova decisão.
3 - Apelação prejudicada.
(Apelação em Mandado de Segurança nº 96.04.64938-8/PR (00076867), 4ª Turma do TRF da 4ª Região, Rel. Juiz A. A. Ramos de Oliveira. j. 20.06.2000, Publ. DJU 09.08.2000, p. 258).
Um aspecto que merece destaque refere-se à coisa julgada, que não se faz quando o writ é indeferido, por exemplo, porque não preenchidos os pressupostos para seu cabimento ou por decisões denegatórias da segurança. 
É o artigo 16, da Lei 1.533/51 que prevê expressamente essa possibilidade. Nesse sentido, a Súmula nº 304, do Supremo Tribunal Federal: “Decisão denegatória de mandado de segurança, não fazendo coisa julgada contra o impetrante, não impede o uso da ação própria”.
É claro que, se a decisão denegatória enfrentar o mérito, produz-se a coisa julgada material, impedindo a reapreciação da matéria pelo Judiciário, em processo distinto.
		
3.8. Recursos em Mandado de Segurança
A sentença que conceder ou denegar o mandado, cabe apelação. Se o mandado de segurança foi impetrado no Tribunal (por competência originária), o ataque à decisão que concede ou denega a ordem se faz pela via do recurso ordinário, já que as sentenças são restritas às sentenças dos juízes de primeiro grau.
De acordo com o parágrafo único do artigo 12, da Lei 1.533/51, a sentença que conceder o mandado está sujeita ao reexame necessário:
TJRS-160763) MANDADO DE SEGURANÇA - REEXAME NECESSÁRIO.
Observância das formalidades legais - peculiaridades do caso concreto que justificam a concessão do mandamus. Sentença confirmada.
(Reexame Necessário nº 70003731189, 4ª Câmara Cível do TJRS, Santa Cruz do Sul, Rel. Des. João Carlos Branco Cardoso. j. 20.03.2002)
As decisões interlocutórias – inclusive aquela que defere ou indefere o pedido de concessão de liminar – desafiam agravo de instrumento.
A discussão acerca do cabimento dos Embargos Infringentes restou resolvida pela edição da Súmula 597, do Supremo Tribunal Federal, que não admite o recurso no mandado de segurança.
O recurso ordinário para o STF ou STJ é cabível nos mandados de segurança de competência originária dos tribunais regionais ou do STJ, quando denegatória a decisão. Por decisão “denegatória” deve-se entender aquela que, conhecendo do mandado e enfrentando o mérito, julga-o improcedente.
Se a decisão for concessiva da segurança, em mandados de competência originária dos tribunais regionais ou STJ, caberá agravo regimental ou, então, recurso especial ou extraordinário, se for o caso.
4 . A defesa do impetrado no Mandado de Segurança
Afora o debate acerca das questões de mérito, o Impetrado, ao prestar suas informações – peça que registra feição híbrida de defesa – deverá analisar as questões processuais, ou preliminares de mérito, que podem impedir a concessão da segurança.
Dentre os aspectos de ordem processual, a questão da competência e o debate sobre a legitimação, ativa e passiva.
Ainda, convém analisar detalhadamente a possibilidade de caracterização da decadência – instituto material que impede a concessão da segurança.
	Bastante comum é o equívoco na contagem dos prazos decadenciais, especialmente quando existente defesa ou recurso administrativo – capaz de interromper o prazo decadencial. 
	Também, nos casos de atos abusivos omissivos, facilmente acontece a caracterização da decadência, não percebida pelo Impetrante. Nesse sentido:
TJRS-160801) REEXAME NECESSÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. FEDERAÇÃO DOS SINDICATOS DE SERVIDORES MUNICIPAIS. CONTRIBUIÇÃO SINDICAL. PREFACIAL DE DECADÊNCIA SUSCITADA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO. OCORRÊNCIA.
É de ser acolhida a prefacial de decadência, tendo transcorrido o prazo de 120 dias fixado no art. 18 da Lei 1.531/51 para o ajuizamento do mandado de segurança. O ajuizamento da demanda justifica-se uma vez configurada a omissão da autoridade. E essa tem início após o transcurso do prazo fixado em lei para o desconto em folha de pagamento (art. 582 da CLT) preliminar de decadência acolhida. Prejudicado o reexame.
(Reexame Necessário nº 70003890936, 1ª Câmara Cível do TJRS, Nonoai, Rel. Des. Henrique Osvaldo Poeta Roenick. j. 15.05.2002)
Por último, são oportunas algumas considerações relativas à técnica jurídica, que auxiliam nas defesas do Impetrado.
	Embora os atos processuais em geral não dependam de forma, vigorando no Processo Civil o princípio da finalidade (artigo 244, do CPC), convém observar alguns aspectos da técnica jurídica, específicos em relação ao Mandado de Segurança.
	Assim, Impetrante e Impetrado são as formas usuais pelas quais se designam as partes desse processo. O Impetrado, por vezes, também é referido como “Autoridade Coatora” ou, simplesmente, “Coator”.
Relativamente à prestação de informações, pela autoridade coatora, é comum encontrar-se o profissional em situação intermédia, entre a simples “prestação de informações” e a efetiva “contestação” do pedido formulado pelo Impetrante.
Efetivamente, a autoridade coatora não é citada para contestar. Apenas se lhe oportuniza a prestação de informações. Isso encorajou alguns autores, até mesmo, a afirmar que se trata de ação sem réu. No entanto, essa não é a posição majoritária na doutrina e, embora as peculiaridades do Mandado de Segurança, é prevalente o entendimento de que a prestação de informações também tem caráter de defesa.
Enfim, o descabimento de honorários advocatícios nos mandados de segurança é matéria que merece ser debatida, tambémna prestação de informações pela autoridade coatora.
5 . O Mandado de Segurança e os tribunais
Ao longo dos quase setenta anos em que inserido no ordenamento brasileiro, o Mandado de Segurança foi objeto de inúmeras discussões judiciais, sendo as seguintes as decisões sumuladas dos principais tribunais, acerca da matéria:
5.1. Súmulas do Supremo Tribunal Federal
SÚMULA Nº 101
O mandado de segurança não substitui a ação popular.
SÚMULA Nº 248
É competente, originariamente, o Supremo Tribunal Federal para mandado de segurança contra ato do Tribunal de Contas da União.
SÚMULA Nº 266
Não cabe mandado de segurança contra lei em tese.
SÚMULA Nº 267
Não cabe mandado de segurança contra ato judicial passivel de recurso ou correição.
SÚMULA Nº 268
Não cabe mandado de segurança contra decisão judicial com trânsito em julgado.
SÚMULA Nº 269
O mandado de segurança não é substitutivo de ação de cobrança.
SÚMULA Nº 270
Não cabe mandado de segurança para impugnar enquadramento da Lei 3.780, de 12.07.60, que envolva exame de prova ou de situação funcional complexa.
SÚMULA Nº 271
Concessão de mandado de segurança não produz efeitos patrimoniais em relação a período pretérito, os quais devem ser reclamados administrativamente ou pela via judicial própria.
SÚMULA Nº 272
Não se admite como ordinário recurso extraordinário de decisão denegatória de mandado de segurança.
SÚMULA Nº 294
São inadmissíveis embargos infringentes contra decisão do Supremo Tribunal Federal em mandado de segurança.
SÚMULA Nº 299
O recurso ordinário e o extraordinário interpostos no mesmo processo de mandado de segurança, ou de habeas-corpus, serão julgados conjuntamente pelo Tribunal Pleno.
SÚMULA Nº 304
Decisão denegatória de mandado de segurança, não fazendo coisa julgada contra o impetrante, não impede o uso da ação própria.
SÚMULA Nº 319
O prazo do recurso ordinário para o Supremo Tribunal Federal, em habeas corpus ou mandado de segurança, é de cinco dias.
SÚMULA Nº 330
O Supremo Tribunal Federal não é competente para conhecer de mandado de segurança contra atos dos Tribunais de Justiça dos Estados.
SÚMULA Nº 392
O prazo para recorrer de acórdão concessivo de segurança conta-se da publicação oficial de suas conclusões, e não da anterior ciência à autoridade para cumprimento da decisão.
SÚMULA Nº 405
Denegado o mandado de segurança pela sentença, ou no julgamento do agravo, dela interposto, fica sem efeito a liminar concedida, retroagindo os efeitos da decisão contrária.
SÚMULA Nº 429
A existência de recurso administrativo com efeito suspensivo não impede o uso do mandado de segurança contra omissão da autoridade.
SÚMULA Nº 430
Pedido de reconsideração na via administrativa não interrompe o prazo para o mandado de segurança.
SÚMULA Nº 433
É competente o Tribunal Regional do Trabalho para julgar mandado de segurança contra ato de seu presidente em execução de sentença trabalhista.
SÚMULA Nº 474
Não há direito líquido e certo, amparado pelo mandado de segurança, quando se escuda em lei cujos efeitos foram anulados por outra, declarada constitucional pelo Supremo Tribunal Federal.
SÚMULA Nº 506
O agravo a que se refere o art. 4º da Lei 4.348, de 26.06.64, cabe, somente, do despacho do Presidente do Supremo Tribunal Federal que defere a suspensão da liminar, em mandado de segurança, não do que a denega.
SÚMULA Nº 510
Praticado o ato por autoridade, no exercício de competência delegada, contra ela cabe o mandado de segurança ou a medida judicial.
SÚMULA Nº 511
Compete à Justiça Federal, em ambas as instâncias, processar e julgar as causas entre autarquias federais e entidades públicas locais, inclusive mandados de segurânça, ressalvada a ação fiscal, nos termos da Constituição Federal de 1967, art. 119, § 3º.
SÚMULA Nº 512
Não cabe condenação em honorários de advogado na ação de mandado de segurança.
SÚMULA Nº 597
Não cabem embargos infringentes de acórdão que, em mandado de segurança, decidiu, por maioria de votos, a apelação.
5.2. Súmulas do Superior Tribunal de Justiça
SÚMULA Nº 41
O Superior Tribunal de Justiça não tem competência para processar e julgar, originariamente, mandado de segurança contra ato de outros tribunais ou de respectivos órgãos.
SÚMULA Nº 105
Na ação de mandado de segurança não se admite condenação em honorários advocatícios.
SÚMULA Nº 169
São inadmissíveis embargos infringentes no processo de mandado de segurança.
SÚMULA Nº 177
O Superior Tribunal de Justiça é incompetente para processar e julgar, originariamente, mandado de segurança contra ato de órgão colegiado presidido por Ministro de Estado.
SÚMULA Nº 213
O mandado de segurança constitui ação adequada para a declaração do direito à compensação tributária.
SÚMULA Nº 217
Não cabe agravo de decisão que indefere o pedido de suspensão da execução da liminar, ou da sentença em mandado de segurança. Republicada.
5.3. Súmulas do extinto Tribunal Federal de Recursos
SÚMULA 15
Compete à Justiça Federal julgar mandado de segurança contra ato que diga respeito ao ensino superior praticado por dirigente de estabelecimento particular.
SÚMULA 16
Compete à Justiça Estadual julgar mandado de segurança contra ato referente ao ensino de 1º e 2º graus e exames supletivos (Lei 5.692, de 1971), salvo se praticado por autoridades federais.
SÚMULA 60
Compete à Justiça Federal decidir da admissibilidade de mandado de segurança impetrado contra atos de dirigentes de pessoas jurídicas privadas, ao argumento de estarem agindo por delegação do Poder Público Federal.
6. Considerações Finais
A ação de mandado de segurança, de rito célere e sumário, não comporta dilação probatória e é destinada à proteção do direito líquido e certo, individual ou coletivo, violado ou ameaçado de violação por ato de autoridade.
Essa violação do direito pode ser comissiva ou omissiva. Nesses casos, o Impetrante deverá demonstrar a inércia da autoridade, que produz dita violação.
Ainda, é admissível o mandado de segurança para o fim de coibir a violação ao direito. É o caso de a ameaça de violação, onde deverá existir o justo receio, objetivo, de que o direito seja violado. Significa que, inexistente um caso concreto ou ameaça de prática de um ato abusivo, não caberá o mandado de segurança.
A Constituição Federal de 1988 ampliou o alcance do mandado de segurança, a partir da criação do mandado de segurança coletivo. Isso tem suporte na delimitação dos direitos difusos e coletivos, que mereceram especial proteção constitucional.
O Mandado de Segurança constitui-se num dos mais efetivos e importantes instrumentos de controle jurídico do poder político. Assim, o Município deverá dispensar especial cuidado a tais ações, inclusive pela representatividade que são portadoras.
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