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DigeBook Resumão Doença do Refluxo Gastresofágico Henrique Waltrick de Albuquerque Médico – Uniplac Cirurgião Geral – HSVP/Passo Fundo R4 Cirurgia do Aparelho Digestivo – HCPA/Porto Alegre @DigEstudando @digestudando Doença do Refluxo Gastroesofágico Introdução A doença do refluxo gastresofágico (DRGE) é uma afecção muito comum na rotina do médico, tanto no atendimento primário quanto em serviços de especialidades cirúrgicas como a Cirurgia do Aparelho Digestivo. É de suma importância ter conhecimento da definição, quadro clínico, formas de diagnóstico e tratamento, destinados para cada perfil de paciente atendido. Com a compreensão da DRGE, se consegue delinear o início de manejo mais adequado, sabendo o que se tem de mais indicado para o paciente, bem como saber se o paciente possui indicação de intervenção cirúrgica e encaminhamento para o cirurgião. Sua alta prevalência (com evidência de aumento gradativo com o passar dos anos), variedade de apresentações clínicas, morbidades pouco reconhecidas, traz um impacto econômico significativo. São pacientes que eventualmente precisam de tratamento crônico com medicações “neutralizadoras” de ácido (antiácidos, bloqueadores de receptores H2, inibidores de bombas de prótons ou procinéticos) e uma parcela significativa, apresenta recorrências dos sintomas mesmo em vigência de tratamento (por vezes não otimizado), o que afeta sua produtividade e qualidade de vida. Além disso, há também os riscos relacionados às complicações atreladas a DRGE. Definição/Epidemiologia De acordo com o Consenso de Montreal, a DRGE é definida pelo refluxo de conteúdo gástrico gerando sintomas incomodativos ou complicações. Pode-se ainda classificar a DRGE, conforme os achados endoscópicos da mucosa: Esofagite Erosiva quebras da mucosa esofágica distal visíveis por endoscopia, havendo ou não sintomas de DRGE. Esofagite Não Erosiva pacientes com sintomas de DRGE, porém sem achados endoscópicos de comprometimento da mucosa esofágica. De forma sucinta, nada mais é do que a passagem do conteúdo gástrico e/ou duodenal para dentro do esôfago, podendo ou não ocasionar lesão do tecido local, gerando uma gama de sintomas e complicações nos pacientes acometidos. Lembrando que o conteúdo refluído, pode ser tanto ácido quanto alcalino (bile - proveniente do duodeno). Mas toda forma de refluxo, vai ser “patogênica”? Não... porque um certo grau de refluxo tende a ser fisiológico. Que ocorre principalmente após as refeições, raramente durante o sono e o mais importante, dura pouco, é assintomático e não gera alterações histológicas da mucosa esofágica. Alguns dados americanos apontam que 40% da população americana tem pirose uma vez ao mês, 14% semanalmente, e 7% diariamente. Outros estudos demonstraram a prevalência de DRGE sendo de 10-20% no mundo ocidental e <5% na Ásia. Quadro Clínico Os sintomas apresentados podem ser variados, mas os mais comuns são pirose (azia) e regurgitação (percepção de retorno/fluxo de conteúdo gástrico na boca ou hipofaringe). A pirose está presente em > 60% dos casos. Quanto a regurgitação, é importante diferenciar dos vômitos, uma vez que não há náusea ou contração abdominal quando ocorre. Outros possíveis sintomas: Disfagia: definido como a dificuldade na passagem do alimento até o estômago. Podendo estar relacionado a um estreitamento esofágico, mas também a própria dismotilidade esofágica. Sendo encontrado principalmente em pacientes com queixa de longa data e esofagite de refluxo. o A Odinofagia é infrequente e, quando presente, pode ser indicativa de úlcera esofágica. Dor torácica: alguns pacientes podem apresentar como um dos sintomas. Podendo até mimetizar dor de origem anginosa. Hipersalivação: outro achado incomum. Paciente queixa-se de muita saliva na boca, devido regurgitação. Globus: sensação de um “caroço” na garganta, independente da deglutição. Também pouco comum. Sintomas atípicos (sintomas extra-esofágicos): tosse crônica, rouquidão, broncoespasmo, infecções respiratórias de repetição. Não se deve relacionar a intensidade dos sintomas com a gravidade da DRGE. Fisiopatologia A patogênese é multifatorial, mas de forma geral, é uma desordem decorrente do funcionamento inadequado/ineficaz do esfíncter esofágico inferior (EEI). Antes de expor o que ocorre de errado nos mecanismos contra o refluxo, é importante compreender como é a função adequada do mesmo. O ato de deglutir é complexo e envolve vários momentos que, de forma geral, são divididos em 3 fases principais: fase oral, faríngea e esofágica. A fase oral se dá de forma voluntária, diferentes das duas subsequentes. Vamos nos ater a fase esofágica, que ocorre após a passagem do bolus alimentar pela hipofaringe. Ocorre o relaxamento transitório do esfíncter esofágico superior, chegando ao esôfago proximal. O bolus continua seu trajeto até o estômago através da gravidade e da peristalse esofágica. Em relação a DRGE, nossa atenção está voltada para o EEI. Que representa o limite mais inferior do tubo esofágico. A melhor forma de ser identificado é através da manometria esofágica, que posteriormente será abordada. A função principal do EEI é o fechamento do reservatório gástrico, evitando assim o refluxo do seu conteúdo para o esôfago. O seu funcionamento não pode ser somente uma via (passagem de líquido e alimento), porque ainda deve permitir a passagem seletiva e retrógrada de ar do estômago e eventualmente a passagem de conteúdo gástrico em situações de náusea e vômito. O EEI é formado por fibras musculares provenientes do esôfago e estômago. Elas formam diversos feixes de fibras musculares, que criam essa zona de alta pressão. No corpo esofágico, temos uma camada muscular dupla – longitudinal e circular, e na junção esofagogástrica (JEG), encontramos à direita, em direção a pequena curvatura, uma musculatura semicircular e no lado esquerdo da cardia, no ângulo de His, fibras musculares gástricas formam a parte final da JEG, sendo a porção esquerda dessa zona de alta pressão. O diafragma e a crura diafragmática, o arco diafragmático e a membrana frenoesofágica (faz a fixação distal do esôfago logo na abertura hiatal), são as segundas estruturas anatômicas de importância para o funcionamento do EEI, por fazer com que se mantenha bem posicionado. Uma vez que frouxidão dessas estruturas, permite o deslocamento do EEI, predispondo às hérnia de hiato. Baseado nesses achados e nos estudos realizados, para o adequado funcionamento do EEI, ele precisa estar bem localizado e com a musculatura funcionado adequadamente, sem enfraquecimento, que tende a ocorrer com o passar dos anos, principalmente em pacientes com fatores predisponentes – tossidores crônicos, obesos... – que acabam gerando uma pressão intra- abdominal mais elevada, contra a qual o esfíncter precisa contra-balancear de forma mais constante. Outros achados pertinentes, que corroboram para a fisiopatologia da DRGE, são os relaxamentos transitórios do EEI, que geralmente ocorrem de maneira fisiológica, predominantemente no período pós-prandial. Com as alterações ao decorrer dos anos, esse refluxo tende a se tornar mais frequente e prolongado, gerando a sintomatologia do refluxo gastresofágico. Faz com que a mucosa esofágica e do EEI, que é predominantemente escamosa, acabe ficando em contato com o conteúdo ácido do estômago. Isso gera lesões locais, inflamação e progressivamente a diminuição da funcionalidade do EEI. De forma resumida, temos as barreiras protetoras contra o refluxo, que envolvem o EEI e um adequado funcionamento da motilidade esofágica que, respectivamente, visam evitar o refluxo do conteúdo gástrico através da criação de uma zona de pressão mais elevada, adequada propulsão e passagem do bolus alimentar e eventualmente esvaziamentode conteúdo refluxogênico na porção distal do esôfago (conhecido como clearance esofágico). Como a maior parte das estruturas em nosso organismo, várias funções se dão por diferença de pressão. No caso da DRGE, temos duas cavidades distintas – tórax e abdômen, em que o esôfago se situa. Ao inspirar, o tórax inicia a ventilação em pressões mais negativas, consequentemente a pressão do esôfago intratorácico, também fica reduzida. Enquanto as pressões abdominais, tendem a ser mais positivas, criando assim um gradiente que propicia o refluxo. Aí entra um fator protetor importante, atrelado a “mecânica” do EEI. Temos duas porções do EEI (que mede cerca de 5cm), uma torácica e outra abdominal, a porção do EEI que se encontra dentro do abdômen, atua como um mecanismo protetor ao refluxo. Com a progressão da DRGE e consequente redução gradativa do EEI intra-abdominal, mais propenso o paciente fica aos episódios de refluxo durante os períodos que ocorram elevação da pressão intra-abdominal (refeições mais copiosas, tosse, esforço físico). Na vigência de alterações nesses mecanismos protetores há maior propensão ao refluxo do conteúdo gástrico. Outro fator contribuinte que altera diretamente o funcionamento do EEI, pela mudança de sua localização anatômica, é a hérnia de hiato, principalmente a tipo I (deslizante), que faz com que ocorra a migração do EEI (esfíncter esofágico inferior) e a JEG (junção esofagogástrica) para dentro do tórax. Predispondo assim a ocorrência de refluxo gastresofágico. A imagem ao lado, representa a progressão da distensão gástrica e as alterações que ocorrem próximo a região do EEI. Com o aumento da pressão intragástrica, progressivamente o EEI vai encurtando de comprimento, reduzindo sua pressão e predispondo a refluxo do conteúdo gástrico. Além disso, nota-se que a mucosa escamosa esofágica (linha vermelha), acaba ficando exposta ao suco gástrico, sofrendo com inflamação local. Com o passar do tempo, progressivamente essa mucosa local, pode sofrer uma mudança de tecido escamoso para colunar, podendo também haver a presença de metaplasia intestinal, sendo definido como esôfago de Barrett. Além disso, outras complicações podem ser encontradas – esofagite grave, ulceração esofágica e estenoses. Isso ocorre principalmente nos pacientes que fazem refeições copiosas. Diagnóstico e Avaliação O diagnóstico nos pacientes com sintomas clássicos pode ser feito apenas com achados clínicos. Com o advento dos IBPs (Inibidores de bomba de prótons), houve um período em que o fato do paciente apresentar boa resposta ao tratamento medicamentoso, serviria como diagnóstico. Mas com o decorrer dos anos, foi identificado a baixa acurácia desse método. Como mencionado mais à frente. Por mais sugestivo que o quadro clínico do paciente pareça ser, a associação com exames complementares, torna mais fidedigno a avaliação e diagnóstico realizados. Na maioria das vezes, deve-se tentar associar os achados clínicos, com achados endoscópicos, radiológicos e fisiológicos, bem como exames que consigam relacionar as queixas do paciente com o momento de refluxo. Cerca de 40 a 90% dos pacientes com sintomas sugestivos de DRGE, apresentam melhora do quadro após uso de IBP. Porém não se deve considerar isso como um critério diagnóstico para DRGE. Alguns estudos demonstraram não haver uma correlação adequada entre essa resposta favorável e achados objetivos na pHmetria. Outros casos que podem apresentar certa dificuldade e também demora diagnóstica, são os relacionados a sintomas atípicos/extra-esofágicos que, muitas vezes, são avaliados com enfoque nas suas queixas principais – tosse, asma, pneumonias, rouquidão – e apenas após descartado outras afecções, são diagnosticados com DRGE. A avaliação adicional se dá tanto para o diagnóstico adequado de DRGE, mas também para se descartar outras etiologias e avaliar para possibilidade de complicações (Barrett, estenose, úlcera...). A endoscopia digestiva alta (EDA) é um exame de grande importância. Pois consegue identificar e quantificar os graus de lesão esofágica. Porém, 40-50% dos pacientes com sintomas de DRGE não apresentam alterações na mucosa, durante a EDA. Uma das classificações mais utilizadas durante a EDA, é a de Los Angeles, que divide os achados em: Grau A: uma ou mais erosões, sendo menor ou igual a 5mm de comprimento Grau B: pelo menos uma erosão maior do que 5mm de comprimento, mas sem ser contínua entre os ápices de duas pregas esofágicas Grau C: erosões contínuas (ou convergentes) entre os ápices de pelo menos duas pregas, envolvendo menos de 75% do órgão Grau D: erosão que envolve pelo menos ¾ da circunferência da luz esofágica Achados endoscópicos de lesões da mucosa esofágica compatíveis com Los Angeles Graus C e D, biópsia compatível com esôfago de Barrett e estenose péptica benigna já são suficientes para diagnóstico de DRGE, sem necessidade de pHmetria. Outros achados endoscópicos úlcera esofágica, estenoses esofágicas, esôfago de Barrett, hérnia hiatal, anel de Schatzki, carcinoma de esôfago. A esofagografia baritada (ou Raio X de Esôfago / REED / esofagograma) faz parte da avaliação. Podendo definir porções esofágicas com estreitamento ou presença de hérnia hiatal volumosa. Outro achado importante é o comprimento esofágico, pois o encurtamento esofágico é um sinal de doença mais avançada, bem como pior prognóstico para realização e resposta favorável a cirurgia. pHmetria de 24 horas pode fechar o diagnóstico de DRGE. Com ela se consegue analisar: frequência dos episódios de refluxo, duração da exposição da mucosa ao ácido, capacidade esofágica de eliminar o refluxato (clearance). Após a coleta dos dados, consegue-se estipular um escore, conhecido como escore de DeMeester, onde um índice > 14,7, é compatível com refluxo gastresofágico patológico. A pHmetria é realizada durante um período de 24 horas. O paciente após realizar a manometria, para identificação da altura do EEI (esfíncter esofágico inferior), recebe um cateter colocado via narina, de calibre fino, que possui em sua porção mais distal, um probe que faz a análise do conteúdo refluído do estômago para o esôfago. A ponta desse cateter, fica 5cm acima da borda superior do EEI. Esse cateter fica acoplado a um receptor, que permanece com o paciente por todo o período. Sendo através de botões presentes nesse receptor que o paciente vai avisar quando sentir sintomas, quando estiver comendo, deitado, em pé. Posteriormente, coloca-se todas a informações no software, fazendo-se a análise do exame. Outra opção mais atual é a pHmetria wireless (BRAVO), que acaba sendo um exame mais confortável, por se tratar de um probe instalado na mesma região da mucosa esofágica que o convencional, porém emitindo todas as informações via wi-fi para o aparelho. Sistema Clássico Sistema BRAVO Cápsula BRAVO Uma forma mais completa na avaliação desses pacientes, é através da impedanciometria. Que permite avaliar, de forma mais ampla, as características do refluxo. Geralmente associada a manometria e/ou pHmetria esofágica. Permitindo a mensuração não só do refluxo ácido, mas também do alcalino. Baseia-se na condução de corrente elétrica entre anéis metálicos que ficam em contato com a mucosa esofágica (eletrocondutibilidade). O que vai permitir analisar o movimento do bolo intraesofágico. Dependendo a que exame estiver associado, vai avaliar o componente funcional do trânsito do bolo alimentar, no caso da manometria e a presença de refluxo independente da natureza ácida ou alcalina, no caso da pHmetria. Podendo ser considerado o padrão ouro na avaliação da DRGE. A manometria não vai trazer informações com vistas a diagnóstico da DRGE, mas sim para tratamento do paciente, além de conseguirdescartar a presença de outras patologias esofágicas – acalásia, esclerodermia... Através de uma sonda com múltiplos sensores de pressão, colocada dentro do esôfago, é possível localizar o EEI, analisar a motilidade esofágica (pelas ondas de pressão), pressões ao longo do esôfago, principalmente do EEI. Sendo assim, é um exame que vai nos informar o status do esfíncter esofágico inferior e do corpo esofágico. Onde alterações deste último, podem alterar a escolha na terapêutica cirúrgica. Para fins de conhecimento, existem dois tipos de manometria, a convencional, que possui de 3 a 8 sensores com 3-5 cm de distância entre si e a Manometria Esofágica de Alta Resolução, com cerca de 36 sensores de pressão, distando 1cm entre si. Este trazendo informações mais completas, pois conseguem fazer uma análise contínua da pressão ao longo de todo esôfago. Tratamento Clínico É baseado na associação entre medidas farmacológicas e não farmacológicas (medidas comportamentais e dietéticas). DigeDrops! Diagnóstico apenas clínico da DRGE não tem uma grande acurácia. Não é por haver melhora dos sintomas com IBP, que o paciente tem DRGE. EDA consegue diagnosticar DRGE sem necessidade de pHmetria, desde que haja evidência de esofagite (Los Angeles C e D), esôfago de Barret em biópsia ou estreitamento péptico benigno. Impedancio-pHmetria é o padrão ouro para diagnóstico de DRGE, principalmente em pacientes sem evidência de esofagite e com sintomas atípicos. Medidas Comportamentais Elevação da cabeceira da cama (~15cm), principalmente para pacientes com sintomas noturnos. Evitar ingesta de alimentos gatilhos para os sintomas. Não deitar antes de 2 horas após as refeições Cessar tabagismo e etilismo Perda ponderal As medicações visam a neutralização do ácido. O que pode ser obtido com o uso de bloqueadores de receptores de H2, IBPs (Inibidores de bomba de prótons), antiácidos. Importante lembrar que o uso dessas medicações não vai impedir o refluxo do estômago para o esôfago, vai apenas alterar o pH do conteúdo gástrico, tornando-o mais elevado. Melhorando os sintomas e reduzindo o dano causado ao esôfago pela acidez. De forma geral, para todos os pacientes, vai haver indicação de mudanças comportamentais e de seus hábitos de vida. Pacientes com obesidade já apresentam um fator predisponente para o refluxo, a elevação da pressão intra-abdominal, principalmente os pacientes com obesidade mais central. Além de haver relatos de maiores riscos para esôfago de Barrett em pacientes com quantidades maiores de gordura visceral devido ao estado pró-inflamatório. Por isso a orientação de melhora nutricional e perda ponderal, com a realização de exercícios físicos, se mostrou benéfica nos casos de DRGE, apresentando melhora da sintomatologia. Para aqueles pacientes com sintomas predominantemente noturnos ou sintomas laríngeos (tosse, rouquidão, pigarro...), procurar elevar a cabeceira da cama, em cerca de 15cm. Evitar deitar no mínimo 2 horas após a refeição. Após a ingesta alimentar, ocorre um aumento da pressão intragástrica e do seu volume, e isso acarreta numa maior facilidade de o refluxo ocorrer. Porque há uma redução da extensão do EEI intra-abdominal, fazendo com que fique com seu funcionamento seja menos eficaz (vale a pena olhar novamente a imagem da página 4). Com o passar dos anos, o paciente começa a notar os alimentos que não lhe fazem bem. Por isso orientar que alimentos “gatilhos” sejam evitados. Evitar o uso de cigarro e bebidas alcoólicas, porque ambos reduzem a pressão do EEI. Quando tivermos pacientes com sintomas leves e intermitentes, aqueles que apresentam sintomas de DRGE uma vez por semana, pode-se tentar o uso de antiácidos para o alívio dos sintomas, na forma “on demand”. Outras medicações possíveis são os agentes de superfície, como o sucralfato. Ele adere na superfície da mucosa, protegendo contra lesões pépticas e permitindo a cicatrização. O problema é seu tempo de ação, que é curto, e tem uma eficácia inferior aos IBPs. Seu uso fica mais limitado para as gestantes. Em alguns casos de pacientes refratários ao uso de IBP, pode-se associar o antiácido como medida terapêutica. Outras opções, são os bloqueadores de receptores H2, que em relação aos antiácidos apresentam uma eficácia maior, com melhora da severidade e frequência dos sintomas da DRGE. O problema do seu uso a longo prazo decorre da taquifilaxia, geralmente 2-6 semanas do início da medicação. Para casos de esofagite erosiva mais severa não são tão efetivos. Posteriormente com as mudanças orientadas, as medicações vão sendo reduzidas gradativamente e retiradas, sendo reavaliado a resposta clínica do paciente. Casos de maior gravidade com sintomas severos e frequentes (2 ou + episódios por semana) ou com esofagite erosiva, se inicia o tratamento com IBPs em dose plena por um período de 8 semanas, associado as mudanças comportamentais. Reavaliando o paciente após esse período. O uso de IBP, ficou muito mais difundido, por sua eficácia no tratamento. Apresentou melhora importante dos sintomas e cicatrização da esofagite em cerca de 86% dos pacientes com esofagite erosiva. Para os pacientes com endoscopia evidenciando esofagite graus C e D de Los Angeles, está indicado a realização de uma nova endoscopia digestiva alta após 2 meses de tratamento para reavaliação da cicatrização da mucosa esofágica. Pacientes que falharam ao tratamento inicial com IBP são considerados como tendo DRGE refratária. E são pacientes que, muitas vezes, precisarão realizar novos exames de imagem, principalmente se acompanhados de sinais e sintomas de alarme. Otimização terapêutica, com maiores doses de IBP, associação com antiácidos e/ou bloqueadores dos receptores de H2 e eventualmente associar o uso de Baclofeno (que auxiliaria no funcionamento do EEI). E, conforme avaliação, são pacientes com indicação de cirurgia. Por quanto tempo eu devo manter o tratamento com IBPs nos pacientes que obtiveram uma resposta adequada? Vai depender dos achados endoscópicos e da clínica do paciente. Pacientes com esofagite severa ou esôfago de Barrett (explicação mais abaixo), geralmente requerem doses contínuas de manutenção com IBP, por apresentarem um risco maior de recorrências dos sintomas e complicações se não fizerem uso da medicação. Já pacientes sem esofagite erosiva e esôfago de Barrett, são pacientes em que se procura a redução gradual dos IBPs, até sua retirada, desde que paciente se mantenha assintomático. DigeDrops! Mudar hábitos de vida! Perder peso... Perder peso... Perder peso... Iniciar medicação conforme clínica do paciente. o Leve? Começo com antiácidos e bloqueador H2 (Ranitidina...) o Mais severo? Complicações na EDA? Já inicio com IBP, reavaliando em 8 semanas. o Nos casos mais severos, geralmente preciso manter uso de IBP por períodos mais longos. Fora do Mercado. Pode ser IBP. Quando vou encaminhar para o Cirurgião? Pacientes com falha terapêutica aos IBPs em dose plena o Vale a tentativa de otimizar o manejo com dose dobrada (ex.: Omeprazol 80mg dia – 40mg de manhã e 40mg à noite) Pacientes que não toleram o uso de IBPs Pacientes que não querem manter o uso crônico de IBPs Tratamento Cirúrgico O tratamento cirúrgico se mostrou efetivo para a melhora da qualidade de vida dos pacientes com DRGE, desde que bem indicado. Antes de indicarmos a cirurgia, é importante ter o diagnóstico da DRGE, avaliar se o paciente tem condições clínicas para a cirurgia. Os pacientes com melhores perspectivas de boa resposta ao tratamento cirúrgicos, são os que apresentam sintomas típicos, evidência de esofagite, boa resposta ao tratamento com IBP, mais jovens, uma vez que se evita a necessidade de uso prolongado defármacos. Pacientes mais idosos, de maior risco e com obesidade, têm uma indicação mais restrita à cirurgia. Quem tem indicação de cirurgia? Como citado acima, os pacientes com DRGE e hérnia de hiato associada, são pacientes que também se beneficiam da cirurgia. Vale relembrarmos a classificação das hérnias de hiato: Deslizante ou Tipo I: ocorre a migração da JEG (junção esofagogástrica) em direção ao tórax (pelo hiato esofágico) Paraesofágica ou Tipo II: o fundo gástrico é herniado para dentro do tórax, sem alterar o posicionamento da JEG. Mista ou Tipo III: Tipo I + Tipo II Tipo IV: presença de outras estruturas além do estômago no conteúdo herniado. Os pacientes obesos, ou seja, IMC > 30, na maioria das vezes, apresentam um maior risco de insucesso com a cirurgia. Alguns estudos defendem a cirurgia em pacientes com IMC ~30. Em pacientes obesos e com indicação de cirurgia bariátrica, estudos demonstraram a eficácia da cirurgia bariátrica (by-pass gástrico) na redução de peso e melhora dos sintomas da DRGE. Pacientes com sintomas típicos, com boa resposta ao IBP Pacientes com persistência dos sintomas, sem melhora após medicação e/ou surgimento de complicações (esofagites graus C e D, estenose, úlceras ou Barrett) Intolerância ou o não desejo em manter uso prolongado de medicação Sintomas atípicos, com pHmetria comprovando refluxo patológico. DRGE associada a hérnia hiatal grande (> 5cm), refratária ao tratamento medicamentoso ou hérnia paraesofágica. Havendo a indicação de cirurgia, existem algumas opções cirúrgicas (existem outras opções, mas vamos nos ater às três citadas abaixo): Fundoplicatura de Nissen (válvula 360°) Fundoplicatura de Toupet (válvula 240° - 270°) Esfíncter Magnético Fundoplicatura de Nissen: é o procedimento mais utilizado para o tratamento da DRGE. Cria-se uma válvula de 360°, com envolvimento completo do esôfago terminal, pela parede posterior do fundo gástrico. Uma plicatura (fechamento) dos pilares diafragmáticos, também é realizada. Nos casos com hérnia de hiato associada, a correção é realizada durante o transoperatório. Na maioria das vezes apenas com a redução do conteúdo herniário. O uso de telas no hiato diafragmático ainda é discutível. Em alguns casos, de hérnias muito volumosas, opta- se pela gastropexia do estômago na parede abdominal ou, eventualmente, a realização de uma gastrostomia, procurando evitar e reduzir os riscos de migração do estômago para dentro do hiato novamente. Fundoplicatura de Toupet: o procedimento é muito semelhante à fundoplicatura de Nissen, exceto pela confecção da válvula antirrefluxo. Que neste caso é denominada parcial, pois ao invés de 360° essa válvula posterior envolve de 240° - 270°. Tem sido empregada principalmente nos pacientes com DRGE e que apresentem também um grau significativo de dismotilidade esofágica. Com a confecção dessa válvula parcial, procura-se evitar que ocorra disfagia nesses pacientes. Isso ainda é algo discutível, uma vez que alguns estudos demonstraram que o uso de fundoplicatura à Nissen, mesmo em pacientes com dismotilidade, apresentou boas respostas, havendo até mesmo melhora do grau de dismotilidade esofágica desses pacientes. O uso do esfíncter magnético apresentou ser seguro e com uma boa eficácia como opção no tratamento da DRGE. O que limita muito seu uso é o custo elevado do material. Através da videolaparoscopia, o dispositivo é colocado na JEG. O que permite a criação de uma área de pressão intermitente nessa região, que se reduz com a passagem do alimento e em seguida volta a manter uma pressão, evitando assim o refluxo. Dessa forma, reproduz de uma forma mais fisiológica a função do EEI. DigeDrops! Esôfago de Barrett Considerado um estágio avançado da DRGE Sua definição se dá pela presença de mucosa colunar no esôfago distal (previamente escamosa), que na biópsia demonstra metaplasia intestinal especializada. o Obs.: em alguns países, não é necessária a presença da metaplasia para ser considerado Barrett Na EDA (Endoscopia Digestiva Alta) aparece como prolongamentos de mucosa de aspecto gástrico. Dividido em Barrett curto (<3cm) ou longo (≥3cm) De acordo com os achados anatomopatológicos pode alterar o curso terapêutico dos pacientes. De forma geral, o Barrett já traz maiores risco de progressão para neoplasia de esôfago (Adenocarcinoma). o Sem Displasia indica-se EDA cada 2-3 anos, após 2 EDA anuais sem progressão. o Displasia de baixo grau está indicado EDAs com maior frequência (6 em 6 meses primeiro ano, não havendo progressão, uma vez por ano nos anos seguintes). Antes deve-se confirmar com nova biópsia e sendo confirmado, repetir EDA após 3 meses de tratamento intensivo. o Displasia de alto grau precisa ser confirmada por dois patologistas, pois havendo presença de alto grau, a diferenciação entre Adenocarcinoma é difícil, nesses casos há indicação de tratamento endoscópico e, na maioria dos casos, esofagectomia. Referências FASS, R. Approach to refractory gastroesophageal reflux disease in adults. Post TW, ed. UpToDate. Waltham, MA: UpToDate Inc. https://www.uptodate.com (Accessed on April 26, 2020). KAHRILAS, P. Medical management of gastroesophageal reflux disease in adults. Post TW, ed. UpToDate. 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