Prévia do material em texto
1 ISSN 2317-661X Vol. 14 – Num. 01 – Fevereiro 2018 www.revistascire.com.br DIÁLOGOS ACERCA DO CICLO FINAL DE ALFABETIZAÇÃO Angélica Castro Roque1; Joselma de Cássia Macêdo Bernardo1; Maria Valdira Imperiano de Oliveira Lins1; Isabelle de Araújo Pires2 1 Alunas do Curso de Licenciatura em Pedagogia da UVA/UNAVIDA. 2 Orientadora. Professora. Professora de Letras - Língua Portuguesa da UVA/UNAVIDA. issapires@hotmail.com RESUMO: Este trabalho tem como objetivo, investigar o processo de alfabetização em seu ciclo final, ponderando as áreas de leitura e escrita, nossa pesquisa foi desenvolvida a parti das experiências docentes, em duas salas de aula de diferentes escolas pública na cidade de Campina Grande - PB e com alunos em conclusão do ciclo final de alfabetização, no intuito de investigar se haviam crianças com dificuldades de aquisição da escrita, que saem do ciclo alfabetizador sem saber ler escrever e quais seriam as maiores causas desse resultado. Nossa pesquisa tem natureza qualitativa, bibliográfica, descritiva e exploratória. Está alicerçada em Soares e Soares (1998,2003,2004,2016), Val (2006), Perez (2002), Cagliari (1999), Freire(1996), dentre outros, e foi dividida em duas etapas - aplicação de questionário semiestruturado direcionado a alunos e professores e na segunda etapa - análise do desempenho dos alunos ao final da aplicação da atividade de sondagem. Identificamos que grande parte dos alunos de ambas as escolas ainda não dominavam a leitura e a escrita, apresentando muitas dificuldades de aprendizagem nessas áreas, por meio da análise dos materiais coletados na investigação e observamos diversos fatores que contribuíram para esse resultado, dentre eles, uma falta de metodologia adequada para tratar da aprendizagem de modo dinâmico e contextual. Palavra-Chave: Alfabetização. Leitura. Escrita. ABSTRACT: This work aims to investigate the literacy process in its final cycle, pondering the areas of reading and writing. Our research was developed based on teaching experiences, in two classrooms of different public schools in the city of Campina Grande – PB with students at the conclusion of the final cycle of literacy. In order to investigate if there were children with difficulties of acquiring writing, who leave the literacy cycle without knowing how to read and what would be the main causes of this result. Our research has a qualitative, bibliographic, descriptive and exploratory nature. It is based on Soares and Soares (1998,2003,2004,2016), Val (2006), Perez (2002), Cagliari (1999), Freire (1996), among others and was divided into two stages - structured study aimed at students and teachers and in the second stage - analysis of student performance at the end of the application of the survey activity. We identified that a large part of the students of both schools still did not master reading and writing, they presented many learning difficulties in these areas. Through the analysis of the materials collected in the investigation, we observed several factors that contributed to this result, among them, a lack of adequate methodology to deal with learning in a dynamic and contextual way. Keywords: Literacy. Reading. Writing. 1. INTRODUÇÃO A educação no Brasil sempre vivenciou questionamentos, acerca do fracasso na alfabetização, e ainda continua evidenciando tais indagações, por esse motivo, discorreremos na investigação do ciclo final da alfabetização e seus entraves no que tange os campos da leitura e da escrita. Pesquisando os documentos oficiais e alguns programas tais como, os PCNS, (Parâmetros Curriculares Nacionais) LDB (Lei de Diretrizes e Base da Educação) a (ANA) 2 ISSN 2317-661X Vol. 14 – Num. 01 – Fevereiro 2018 www.revistascire.com.br Avaliação Nacional da Alfabetização, Prova Brasil, o PNE, (Plano Nacional de Educação) do PNAIC. (Plano Nacional Pela a Alfabetização na Idade Certa), entre outros, direcionados à alfabetização. Percebemos que são propostas e conteúdos riquíssimos, então nossa pesquisa parte inicialmente do seguinte questionamento - Porque não vem dando certo o ciclo da alfabetização, e, em particular, o ciclo final desse processo? Estes levam a outros mais restritos - Será que são os métodos para a alfabetização ou a ausência deles? Ou será a falta de capacitação dos docentes? Ou quem sabe o contexto social, familiar em que os sujeitos estão expostos? Sabemos que todos os contextos citados anteriormente, são fatores essenciais para que o desenvolvimento seja efetivado pelos alunos nesse processo e isso se tornou evidente ao desenvolvermos nossa investigação nas duas escolas públicas do município de Campina Grande-PB. Nossa pesquisa tem natureza qualitativa, bibliográfica, descritiva e exploratória. Está alicerçada em Soares e Soares (1998, 2003, 2004, 2016), Val (2006), Perez (2002), Cagliari (1999), Freire (1996), dentre outros. Ela foi dividida em duas etapas - aplicação de questionário semiestruturado direcionado a alunos e professores e na segunda etapa - análise do desempenho dos alunos ao final da aplicação da atividade de sondagem. O Desenvolvimento do trabalho se deu a partir dos seguintes tópicos - Acepção entre Letramento e Alfabetização; Ciclo Final da Alfabetização - O que dizem os Documentos Oficiais? Métodos e Níveis de Alfabetização, seguido dos resultados da análise dos dados e sugestões para sala de aula. Identificamos com a análise dos dados que grande parte dos alunos de ambas as escolas ainda não dominavam a leitura e a escrita, apresentando muitas dificuldades de aprendizagem nessas áreas, observamos diversos fatores que contribuíram para esse resultado, dentre eles, uma falta de metodologia adequada para tratar da aprendizagem de modo dinâmico e contextual. Observamos ainda, que é necessária uma integração maior por parte do pedagogo em termos teóricos, adotar metodologias relevantes para realizar seu trabalho com excelência, de modo que os alunos participem ativamente, considerando as particularidades de cada um. 3 ISSN 2317-661X Vol. 14 – Num. 01 – Fevereiro 2018 www.revistascire.com.br 2. DESENVOLVIMENTO O tema alfabetização no Brasil ainda gera muitas discussões e divergências entre educadores, já que a mesma versa sobre várias linhas de pensamentos. Cabe o bom senso dos educadores, agregarem a teoria e a prática que mais tenha aproveitamento em sua vida docente, não afirmaremos que os pensadores A e B são melhores, que B e C, pois em certos momentos a junção de ambos faz a diferença na vida do educando. Em busca de melhoramento no âmbito da alfabetização, o MEC promulga essa nova Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014, cujas Diretrizes estabelecem que os três anos iniciais devam assegurar a alfabetização e o letramento das crianças até os oito anos de idade, e a meta 5 do PNE reafirma que é preciso alfabetizar todas as crianças, no máximo, até o final do terceiro ano do Ensino Fundamental. A alfabetização no Brasil vem se caracterizando pelo os programas que visam medir o nível de proficiência nessa fase, como por exemplo, a Provinha Brasil, uma avaliação diagnóstica que visa investigar as habilidades desenvolvidas pelas as crianças matriculadas no 2° ano do ensino fundamental das escolas públicas brasileiras. Mais adiante, no 3° ano do ensino fundamental vem sendo aplicada a (ANA) Avaliação Nacional da Alfabetização, onde são averiguados e usados instrumentos variados, cujo objetivo maior é aferir o nível de alfabetização e letramento em Língua Portuguesa e Matemática. Com o novo olhar a partir do PNE tem-se procurado novos programas em conformidade e união dos governos Federais, Estaduais e Municipais assumindo compromisso de assegurar a todas as crianças a até os oitos anos no final do 3° ano do ensino fundamentalestar devidamente alfabetizadas como é o caso do PNAIC. (Plano Nacional Pela a Alfabetização na Idade Certa). 2.1. Acepção entre Letramento e Alfabetização Segundo Magda Soares (2004), a alfabetização é o domínio do código da escrita e da leitura, e essa alfabetização se faz com a apropriação de uma técnica, que engloba o reconhecimento das letras, a codificação e decodificação entre, fonemas e grafemas, as crianças necessitam compreender a função social da escrita partindo das unidades menores como, (palavras, sílabas e letras). 4 ISSN 2317-661X Vol. 14 – Num. 01 – Fevereiro 2018 www.revistascire.com.br Já o termo “letramento” é a utilização desta tecnologia em práticas sociais de leitura e de escrita. Como diz Soares (2003), não adianta aprender uma técnica e não saber usá-la. Retomemos a grande diferença entre alfabetização e letramento e entre alfabetizado e letrado: [...] um indivíduo alfabetizado não é necessariamente um indivíduo letrado; alfabetizado é aquele indivíduo que saber ler e escrever, já o indivíduo Letrado, indivíduo que vive em estado de letramento, é não só aquele que sabe ler e escrever, mas aquele que usa socialmente a leitura e a escrita, pratica a leitura e a escrita, responde adequadamente às demandas sociais de leitura e de escrita (SOARES 1998, p.39,40). Assim, de acordo com Soares (2003), O “letramento” é de uso ainda recente e significa o processo de relação das pessoas com a cultura escrita. De tal modo, não é correto dizer que uma pessoa é iletrada, pois todas as pessoas estão em contato com o mundo escrito. Mas, se reconhece que existem diferentes níveis de letramento, que podem variar conforme a realidade cultural. Para Val (2006), definir alfabetização como o processo específico e indispensável de apropriação do sistema de escrita, a conquista dos princípios alfabético e ortográfico que possibilitem ao aluno ler e escrever com autonomia. Noutras palavras, alfabetização diz respeito à compreensão e ao domínio do chamado “código” escrito, que se organiza em torno de relações entre a pauta sonora da fala e as letras (e outras convenções) usadas para representá-la, a pauta, na escrita. Letramento, nesse sentido, pode ser definido como o processo de inserção e participação na cultura escrita. Trata-se de um processo que tem início quando a criança começa a conviver com as diferentes manifestações da escrita na sociedade (placas, rótulos, embalagens comerciais, revistas, etc.) e se prolonga por toda a vida, com a crescente possibilidade de participação nas práticas sociais que envolvem a língua escrita, como a leitura e redação de contratos, de livros científicos, de obras literárias, por exemplo. De acordo com Perez (2002) a alfabetização é um processo que, ainda que se inicie formalmente na escola, começa de fato, antes de a criança chegar à escola, através das diversas leituras que vai fazendo do mundo que a cerca, desde o momento em que nasce e, apesar de se consolidar nas quatro primeiras séries, continua pela vida afora. Este processo continua apesar da escola, fora da escola paralelamente à escola. 5 ISSN 2317-661X Vol. 14 – Num. 01 – Fevereiro 2018 www.revistascire.com.br 2.2. O Ciclo Final da Alfabetização - O que dizem os Documentos Oficiais? Os documentos oficiais nos mostram que, teoricamente, tem-se tido uma preocupação nas salas de alfabetização no Brasil, voltando-se a elas com vigor para que de fato as crianças tenham acesso à alfabetização, bem como seja devidamente alfabetizada na idade correta. Isso vem sendo descrito na Lei 9.394 de Dezembro de 1996, Lei de Diretrizes e Base da Educação LDB,1996, ARTIGO 32. Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com duração de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade, terá por objetivo a formação básica do cidadão, conforme está exposto em seu incisos – o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo; II – a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade; III – o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores; IV – o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana de tolerância recíproca em que se assenta a vida social.§1º É facultado aos sistemas de ensino desdobrar o ensino fundamental em ciclos.§2º Os estabelecimentos que utilizam progressão regular por série podem adotar no ensino fundamental o regime de progressão continuada, sem prejuízo da avaliação do processo de ensino-aprendizagem, observadas as normas do respectivo sistema de ensino.§3º O ensino fundamental regular será ministrado em língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem.§4º O ensino fundamental será presencial, sendo o ensino a distância utilizado com complementação da aprendizagem ou em situações emergenciais (LDB,1996, ARTIGO 32). Assim, fica expressa essa preocupação no Plano Nacional de Educação (PNE) em suas metas 2 e 5, as especificidades no âmbito da alfabetização, dando diretrizes para as escolas e corpo docente buscarem de modo efetivo a permanência e progressão de seus educandos. Em nossa concepção, os materiais para alfabetizadores, disponibilizados pelo MEC como livros, cadernos de aperfeiçoamento, programas de capacitação continuadas, temos visto que de fato, são excelentes guia para todo profissional engajado e comprometido em desempenhar com excelência seu trabalho. A meta 2, do PNE traz um dado importante, que é o compromisso em propagar o ensino de nove anos para indivíduos de 6 a 14 anos, garantindo que pelos menos 95% dos alunos concluam esse ciclo na idade recomendada, constituindo meios de políticas educacionais voltadas a melhoria da qualidade dos processos de escolarização. Com relação à meta 2, há uma discussão acerca da universalização do ensino fundamental de 9 (nove) anos para toda a população de 6 (seis) a 14 (quatorze) anos e da 6 ISSN 2317-661X Vol. 14 – Num. 01 – Fevereiro 2018 www.revistascire.com.br garantia de que pelo menos 95% (noventa e cinco por cento) dos alunos concluam essa etapa na idade recomendada, até o último ano de vigência deste PNE. Dessa maneira, compreendemos que a dinâmica desenvolvida no Plano Nacional de Educação, se levada a sério e em conformidade com que está exposto nele, terá extrema contribuição no desenvolvimento e continuidade da carreira escolar do alunado. O PNE contempla em sua meta 5, uma pesquisa com base no senso demográfico de 2010 aponta que 15,2% das crianças brasileiras com 8 anos de idade que estavam cursando o ensino fundamental eram analfabetas. Na tentativa de sanar tais dificuldades nas turmas de alfabetização, o PNE traz em seu texto aspectos que visam melhoras, colocando em evidência alguns de seu posicionamento para avanço nas turmas de 1º ao 3º ano do ensino fundamental, em compromisso com os governos federais, estaduais e municipais. É evidente o interesse com que o MEC vem dando suporte aos educadores, oferecendo ricos materiais e formações continuadas de alto padrão, para que de fato, tenhamos uma “educação de qualidade”, o que nos faz refletir que a educação é efetivada em redes, cabe a cada participante, tais como professores, alunos, gestores, coordenadores, pais, porteiros, merendeiras, secretários de educação, entre outros, desempenharem o seu papel. É inadmissível enquanto sujeitos atuantes na educação, vivermos alheios às problemáticas que surgem em nossa jornada docente, como, a falta de interesse dos alunos, dificuldadesde aprendizagem, desestímulos, repetência, evasão escolar, é bem mais cômodo buscarmos culpados, por que não, nos colocarmos tão quanto responsáveis, nesse processo, ao invés de tentarmos responsabilizarmos outros e atentar que esses problemas citados acima são também nossos, e com isso, buscarmos soluções para dirimir tais entraves, pensando, sobretudo, no progresso de nossos alunos. A princípio, como estratégias de cumprimento nas Diretrizes e do PNE, foi estabelecido o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (ANA), que tem como objetivo avaliar o nível de alfabetização dos educandos no 3º ano do ensino fundamental. A partir daí, temos um diagnóstico para possíveis reparações e intervenções. 2.3 Métodos e Níveis de Alfabetização É importante discutir sobre os métodos e níveis de alfabetização na busca de esclarecer sua importância no processo da leitura e da escrita. Dessa forma, segundo Magda 7 ISSN 2317-661X Vol. 14 – Num. 01 – Fevereiro 2018 www.revistascire.com.br Soares (2016), os métodos de alfabetização é um conjunto de procedimentos que, fundamentadas em teorias e princípios, orientam a aprendizagem inicial da leitura e da escrita, no que se refere á faceta linguística dessa aprendizagem. Nesse contexto, cabe questionar que método deve usar para alfabetizar meus alunos e quais os mais eficazes. Esses são questionamentos que perduram até os dias hodiernos que, na nossa concepção, continuará a existir, pois as instituições escolares bem como toda a rede de educação precisam urgentemente mudar o foco, deixarem de colocar em ascensão os métodos tradicionais, a fim de pensar na aprendizagem efetiva de nossos educandos, ponderando suas particularidades nas aprendizagens que acontecem de formas e meios diferentes. Entretanto, não estamos condenando, método X nem Y, pois sabemos que em suas bases, agregam algo significante e que nos ajudarão em nossa docência, no entanto, utilizaremos o que cada um tem de significativo para ecoar na aprendizagem de nossos alunos, como atesta Soares (2016), Na perspectiva associacionista, o método é fator essencial do processo de aprendizagem da língua escrita, porque é considerado determinante dessa aprendizagem; comprovação disso é que, ao longo dos anos, a presença significativa da questão do método na produção acadêmica e científica sobre alfabetização é contemporânea de uma presença também significativa do associacionismo, como referencial teórico de análise da alfabetização (SOARES, 2016, p.88). Nesse sentido, compreendemos que nessa linha de pensamento, o método é imprescindível no processo de aprendizagem da língua escrita, pois ele é fator determinante para que os alunos cheguem à aprendizagem, e isso vem se confirmando ao longo dos anos nas academias e estudos científicos sobre alfabetização. Segundo a autora uma concepção associacionista do processo de aquisição da escrita considera o método fator determinante da aprendizagem, já que seria por intermédio da exercitação de habilidades hierarquicamente ordenadas que a criança aprende a ler e escrever. Para trazer discussão acerca dos métodos e níveis de alfabetização, Araújo (1996), delineia a história da alfabetização, dividindo-a em três grandes períodos, são eles: o primeiro, que se destaca na antiguidade e a idade média, o método de soletração; o segundo, que se inicia entre os séculos XVI e XVIII, estendendo-se até a década de 1960 e se caracterizou com a criação dos métodos sintéticos e analíticos, que delinearemos mais adiante. E, por fim, o terceiro estágio, marcado por indagações e refutação da necessidade de comparar os sinais gráficos da escrita aos sons da fala para aprender a ler, começando com a 8 ISSN 2317-661X Vol. 14 – Num. 01 – Fevereiro 2018 www.revistascire.com.br divulgação da teoria da psicogênese da língua escrita, divulgada por Ferreiro e Teberosky, que parte da concepção em que a criança se apropria do conhecimento baseado na interação do sujeito com o objeto de conhecimento, trazendo em foco que as crianças ao chegarem à escola, trazem ideias e fazem hipóteses sobre o código escrito, percorrendo os estágios linguísticos que se constroem até a aquisição da leitura e da escrita. Para ilustrar essa breve abordagem histórica dos métodos, segue o quadro1 abaixo de Casasanta(ApudAraújo,1996, p.16): TABELA I: Sinopse das fases dos métodos FASES MÉTODOS Métodos Soletração Fônico Silábico Palavração Sentenciação Contos da experiência infantil 1° Fase Alfabeto: Letra, Nome e Forma Letras Som e Forma Letras: Consoantes E Vogais Palavras Sentença Conto ou Texto 2° Fase Sílabas Sílabas Sílabas Sílabas Palavras Sentenças 3° Fase Palavras Palavras Palavras Letras Sílabas Palavras 4° Fase Sentenças Sentenças Sentenças Sentenças Letras Sílabas 5°Fase Contos ou Textos Contos ou Textos Contos ou Textos Conto ou Textos Contos ou Textos Letras 1Tabela retirada do livro “ALFABETIZAÇÃO método sociolinguístico, consciência social, silábica e alfabética em Paulo Freire; página 25 para sistematizar a abordagem histórica dos métodos do quadro ilustrativo proposto por Casasanta (apudAraújo,1996:16). 9 ISSN 2317-661X Vol. 14 – Num. 01 – Fevereiro 2018 www.revistascire.com.br A fim de ilustrarmos melhor, sistematizaremos cada um dos métodos citados acima. Iniciaremos com os sintéticos, que são subdivididos em: métodos alfabéticos, fônico e silábico. Já o alfabético é conhecido como o método de soletração tem como objetivo a combinação entre a letra e o som como ilustra a música “Abc do sertão” de Luiz Gonzaga2. Ex: O jota é ji, o éle é lê O ésse é si, mas o érre Tem nome de rê Até o ypsilon lá é pissilone O eme é mê, i o ene é nê O efe é fê, o gê chama-se guê Na escola é engraçado ouvir-se tanto ê A, bê, cê, dê Fê, guê, lê, mê Nê, pê, quê, rê Tê vê e zê O Método fônico, a criança aprende a ler e escrever conhecendo o som de cada letra. _______ ______ ______ ______ _______ O método silábico é uma junção da consoante com a vogal para formar a silaba como unidade principal. 2 Essa música foi composta no ano de 1953, o grande Luiz Gonzaga, na década de 50, fingindo uma crítica, compôs a música “ABC do sertão”, em cuja letra expressa o som autêntico do abecedário usado pelo o povo nordestino. 10 ISSN 2317-661X Vol. 14 – Num. 01 – Fevereiro 2018 www.revistascire.com.br EX: B+A = BA O método analítico se dá por um processo inverso, partimos das unidades maiores da língua para as unidades menores, que se divide em método da palavração que analisa a palavra. EX: BANANA E o método de sentenciação inicia-se o aprendizado por frases inteiras. EX: O MACACO LEVOU A MALA O método global tem como finalidade partir de um contexto e de algo que tenha a proximidade com a realidade da criança. Pontuaremos também o método de alfabetização mais antigo, divulgado como método da cartilha. Nesse método destaca-se João de Barros, criador da primeira cartilha intitulada por “A cartilha de aprender a ler”, publicada em Lisboa no ano de 1539. No Brasil, esse método teve ascensão no ano de 1870 até 1890, iniciando-se nas escolas primárias no Estado do Paraná. Em seguida, tomando como referência a cartilha de João de Deus, Antônio Feliciano de Castilho, criou em 1850, o método Castilho para o ensino rápido de material impresso, manuscrito enumeração de escrever, onde era composto de abecedário, silabário e textos de leitura. No ano de 1876 foi publicada a cartilha do Maternal, do poeta João de Deus. Em sua 15° edição da cartilha João de Deus destaca: ‘Este sistema funda-se na língua viva: não apresenta os seis ou oito Abecedário do costume, senão um, do tipo mais frequente, e não todo, mas por partes, indo logo combinado esses elementos conhecidos em palavras que se digam que se ouçam que se entendam, que se expliquem; de modo que, em vez de o principiante apurar a paciência numa repetição néscia, se familiarize com as letras e os seus valores na leitura animada das palavras inteligíveis.(...) Esses longos exercício de pura intuição visual constituem uma violência, uma amputação moral, contrária á natureza: seis meses, um ano, e mais, de vozes sem sentido, basta para imprimir num espírito nascente o selo do idiotismo’.(DEUS,2005apud MENDONÇA,2009,p.27.) 11 ISSN 2317-661X Vol. 14 – Num. 01 – Fevereiro 2018 www.revistascire.com.br Em conformidade com o que estudamos sobre os métodos de alfabetização, concordamos com o parecer do autor Cagliari (1999) quando diz que o método da cartilha sobre os aspectos da fala, esta não é contemplada, pois ao o aluno não é dado o direito de falar, não há espaço para a fala; se analisarmos sobre o ponto de vista da escrita, vemos que tal atividade se reduz a cópias e não há espaço para produções espontâneas. Assim, o aluno não tem liberdade para expressar o que pensa. No aspecto da leitura, o método das cartilhas tem os piores modelos de textos, atividades que poderiam e deveriam ocupar espaços privilegiados na educação, promovendo a inclusão social da criança, mas antes se reduz a inibir o gosto pela leitura. Chegamos à reflexão que um bom professor necessita ter formação linguística adequada para reconhecer as limitações e falhas de qualquer método que lhe seja apresentado, sabendo adaptá-lo, transformando os conhecimentos que já tinham em metodologias e estratégias que ajudarão o aluno a superar suas dificuldades no processo de aquisição da leitura e da escrita. Decorrendo pelos níveis de alfabetização, dialogaremos sobre o que se reporta Emília Ferreiro3em sua pesquisa, onde caracteriza quatro níveis de evolução da escrita, em dado momento pode considerar que a criança obteve capacidade em interpretar (LER) e reproduzir (ESCREVER) símbolos gráficos. Os níveis de evolução da escrita são divididos em níveis: Pré-silábico, Nível silábico, Nível silábico-Alfabético e Nível Alfabético. O nível pré-silábico a criança não entende que a escrita representa no papel os sons da fala. EX: CASA –RIBS BALA –MLRO No nível silábico ela tem a hipótese que a escrita é representada por partes sonoras da fala, em sua concepção cada letra vale por uma sílaba. EX: BOLA-AO DEDO-EO No nível silábico- alfabético a criança começa a perceber que uma letra para cada sílaba não é suficiente e então começa a agregar mais letras na sua escrita. 3(Programa Escola Ativa, 2010,2°ed.p.08.) 12 ISSN 2317-661X Vol. 14 – Num. 01 – Fevereiro 2018 www.revistascire.com.br EX: PATA-PTA MACACA-MCACA Já no nível alfabético a criança começa o processo de alfabetização, ela consegue fazer a relação sonora dos fonemas das palavras que se escreve. EX: GIRAFA- GIRAFA GIRAFA-JIRAFA Dessa maneira, entendemos que a evolução no nível de alfabetização, depende das proposições conceituais em que os educandos se encontram. Cabe aos educadores, em especial aos alfabetizadores, identificar em que estágio os alunos estão buscando estabelecer caminhos de construção do sistema de escrita, intervindo e levando-os a refletir sobre suas hipóteses de modo a progredirem em seus estudos. 3. ANÁLISE E RESULTADOS- PROPONDO NOVOS OLHARES Nossa pesquisa é de cunho qualitativo, bibliográfico, descritivo e exploratório, gerada a partir de uma inquietação: porque as crianças saem do ciclo de alfabetização sem saber ler e escreve? Iniciamos a pesquisa usando como ferramenta de avaliação uma atividade de sondagem de leitura e escrita direcionada aos educandos sujeitos da pesquisa e um questionário para os professores pesquisados, com objetivo de entender tal problemática. Primordialmente, iremos apostilar o que percebemos nas falas e atitudes das educadoras de ambas as escolas avaliadas. A princípio sentimos que elas antes de tudo, aspiravam desabafar e foi então que começaram os relatos antecedendo a aplicação das atividades e questionários. A professora A, é graduada em pedagogia e especialista em orientação e supervisão escolar, tem perfil melancólico e logo que adentramos à sua sala, nos relatou oralmente algumas dificuldades vivenciadas por ela naquela turma. Vejamos: 13 ISSN 2317-661X Vol. 14 – Num. 01 – Fevereiro 2018 www.revistascire.com.br Os níveis que vocês irão encontrar é baixíssimo, essa turma é muito fraca, tenho alunos que não estão nem no nível de pré-escola, Não tenho ajuda dos pais, são a minoria que se preocupa com o desenvolvimento e progressão de seus filhos, sendo assim não têm responsabilidade com as tarefas extraclasse, bem como quando percebemos que a criança apresenta algum tipo de dificuldade de aprendizagem necessitando ser avaliados por outros profissionais para que venha progredir em seus estudos, isso é ignorado, teve um caso que, observando uma criança juntamente com a equipe pedagógica, conjecturamos que ela necessitava fazer uma avaliação no Papel Machê, conseguimos agendá-la, o que não é fácil, mesmo assim, sua mãe disse que não teria condição de levá-la, pois não tinha dinheiro para se deslocar até aquela instituição. Não pensei duas vezes, dei-lhe o dinheiro da passagem e do lanche e disse-lhe ‘vai com Deus’. Infelizmente são essas situações que enfrentamos, sem contar que já solicitei vários pedidos de ajuda à Secretaria de Educação do município, que no início do ano, ficou acordado que eu ficando com essa turma, eles me mandariam um auxiliar, já que eram sabedores do desempenho dessas crianças nas séries anteriores. Se meu orçamento desse, pagaria a alguém para me ajudar, dando reforço a esses alunos mais fracos. Outra problemática é o número alarmante de falta de alguns educandos, ficando confusos na sequência dos conteúdos e essa questão, percebo que é de cunho cultural nessa localidade, os pais acham que os filhos não podem ser reprovados, então por qualquer indisposição, não os mandam à escola. Não sei o que faço mais para salvar essa turma, tudo que faço parece não surtir efeitos, chego até a me questionar: será que não sei mais dar aula? (Pedagoga da escola A). A fala da pedagoga acima traz um tom de angústia e desalento, pois se sente sobrecarregada, alegando a falta de parceria dos pais e da Secretaria de Educação do Município. Realmente identificamos crianças em níveis desproporcionais para a série que cursam o que é preocupante, pois estão no segundo semestre. A atividade de sondagem aponta esse resultado. Em conformidade, com o que nos relatou a educadora sobre os níveis de sua turma, realmente identificamos crianças em início de pré-escola - o gráfico abaixo confirma isso, pois os níveis que encontramos na turma da referida professora condiz com seu relato, pois nos deparamos com crianças sem se quer conhecer as letras do alfabeto. Já a apreciação das respostas do questionário, direcionado às educadoras A e B, consideramos um tanto quanto “engessadas”, sem clareza e objetividade, nos levando a crer que ambas encontram-se desnorteadas em suas práticas docentes, não sabendo sequer diferenciar, método de metodologia, isso fica bastante nítido em suasrespostas a seguir: Quais os métodos que você utiliza para alfabetizar? Resposta da docente A: Auto ditado, cruzadinha, roda de leitura, leitura deleite, jogos educativos, chamadinha, ilustração de histórias, vídeos, quebra-cabeça de palavras, bingo de palavras, passa a bola utilizado a leitura, alfabeto móvel, treino ortográfico, dinâmica, tudo possa ajudar na leitura e escrita. Resposta da docente B: Rodas de leitura, reconto escrito e ilustrado, intercambio com outras salas com a maleta de leitura, escrita de lista, ditado, produções textuais e a escrita espontânea. 14 ISSN 2317-661X Vol. 14 – Num. 01 – Fevereiro 2018 www.revistascire.com.br Confirmando o que dissemos acima, fica evidente nas respostas das educadoras, que elas confundem-se em diferenciar método de metodologia. Freire (1996) discute acerca dessa relação estreita e interdependente entre ensino e pesquisa: Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses quefazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade (FREIRE, 1996, p, 29.) Achamos que, provavelmente, seja essa falha, em associar pesquisa e ensino que faltam nas educadoras em evidência. É necessário compreender que ambas são indissociáveis, daí os profissionais do ensino estarem em constante busca de novos apontamentos para constatar, intervir, conhecer, comunicar e impregnar adiante o que foi descoberto, mas para isso reafirmamos, precisamos estar em constante formação. Segue em destaque o questionário oferecido às docentes A e B, bem como algumas de suas respostas, as quais consideramos mais pertinentes para tratar aqui, de acordo com o nosso objeto de estudo. 15 ISSN 2317-661X Vol. 14 – Num. 01 – Fevereiro 2018 www.revistascire.com.br Respostas da professora da escola A: Essa resposta um tanto quanto confusa, deixando-nos a visível impressão que ela não tem esclarecido em seu íntimo o que é alfabetizar na perspectiva de letramento e alfabetização. A docente foge totalmente da pergunta, não apresenta nenhuma metodologia para que se aproprie da escrita. 16 ISSN 2317-661X Vol. 14 – Num. 01 – Fevereiro 2018 www.revistascire.com.br Ela não nos apresentou nenhum método, como já expomos acima a mesma não sabe distinguir método de metodologia. Claramente a resposta em questão não corresponde ao que lhe foi perguntado, a educadora se contradiz no que seja método e metodologia Respostas da professora da escola B: Achamos a resposta, insuficiente e mecanizada, percebemos uma certa confusão na fala da investigada. Sua resposta apresenta coerência com a pergunta, pois sua afirmação explica corretamente alguns métodos utilizados no processo da aquisição da escrita. 17 ISSN 2317-661X Vol. 14 – Num. 01 – Fevereiro 2018 www.revistascire.com.br Em sua resposta não nos foi apresentado nenhum método, sendo assim supomos que esta educadora, desconhece o que seja método. Como percebemos na resposta anterior, isto fica afirmado aqui, que a docente continua alheia sobre a questão dos métodos. A professora B, aparentemente calma, não possui curso de graduação, demostrou-se um tanto desmotivada, em especial quando nos relatou em conversa informal o comportamento de um garotinho: “dizendo, esse aí, não quer nada com a vida, não faz absolutamente nada, diz coisa com coisa” (fala da professora b). Após isso, conversando com ela, com o intuito de entender sua prática, percebemos um ar de descaso com algumas situações de seus alunos inclusive a do garoto em questão. Depois de termos observado e aplicado nossa atividade de sondagem, dando bastante suporte àquele garoto “que não diz coisa com coisa”, mencionado pela professora, questionamos o modo como ele se comportava, encontrando-se disperso o tempo inteiro, bem como dando-nos respostas sem nexo, se não seria patológico, que precisasse ser investigado por outros profissionais, e, nos deixando perplexas, ela reiterou que não tinha mais o que fazer, que o que podia ter feito fez, que comunicou a família, que não manifestou interesse em ajudá-lo, ela o deixa a seu modo, sem nenhum acompanhamento. Para aclarar a afirmação do garotinho, em dar-nos respostas sem nexo, como relatamos acima, segue abaixo a reprodução da atividade de produção de texto elencada na sondagem e sua intrigante resposta: 18 ISSN 2317-661X Vol. 14 – Num. 01 – Fevereiro 2018 www.revistascire.com.br Continue a história ... Cris e Duda estudam na mesma escola, logo que começa o recreio saem da sala de aula e vão para o pátio brincar. Um dia, quando saíram da sala de aula elas... Resposta do aluno: “Foram para o conselho tutelar, porque bagunçaram na escola. ” Como é percebível, a produção do aluno em questão, aparentemente desvia-se do que lhe foi proposto. No entanto, a resposta tem coerência se entendermos em que contexto esse aluno está inserido e que motivações o levam a tornar a história proposta na atividade em algo que lhe representa. Ao contrário do que a professora B afirmou acerca da incoerência discursiva do aluno, sobre não organizar seu pensamento na fala, e na escrita, aqui não se confirma, portanto, é incongruente. O aluno fez o que a atividade ao seu modo e dentro de suas perspectivas e vivência, mesmo apontando a resposta de modo oralizado. Isso assinala que ele entendeu a proposta e foi rápido em concluir. Falar e compreender são habilidades distintas, assim como escrever e ler. Quando diz que duas colegas da escola, ao saírem da sala em horário de recreio foram ao Conselho Tutelar porque bagunçaram na escola está dentro de uma lógica, inclusive de criatividade. E se as meninas fizeram algo nesse ínterim entre a sala de aula e o pátio da escola? Se fosse algo tão sério que as levassem para um órgão que atende a crianças com algumas questões delicadas? Apesar de ser uma situação hipotética, não poderíamos dizer, que ao nível da literatura é improvável. O texto proposto era um conto, e, sendo ficção, o aluno fica livre para produzir o que desejar se ele decidisse escrever o que falou. Ainda, esse dado traz à luz outras questões mais sérias – se essa criança menciona esse órgão específico é porque faz parte de sua vivência e está associado, na mente dela, à punição, castigo. Possivelmente esse aluno sofre ameaças ou pressão psicológica com relação ao seu próprio comportamento e ele reproduziu uma cena em que pode ter sido o personagem. Isso 19 ISSN 2317-661X Vol. 14 – Num. 01 – Fevereiro 2018 www.revistascire.com.br devia ser um alerta à professora e não uma declaração de falência e condenação dessa criança. Lamentável. Precisamos estar atentas aos sinais que as crianças nos dão e ter sensibilidade para oportunizá-las a falar e se expressarem de modo peculiar. Assim, vamos criar vínculos com nossos alunos na tentativa de achar caminhos e alternativas para alcançar uma aprendizagem significativa. Fizemos a coleta de dados em duas escolas da rede municipal de ensino na cidade de Campina Grande, Paraíba. As escolas “A” e “B” localizadas no Bairro das Cidades. É importante frisar que a comunidade na qual as escolas estão situadas atende a crianças carentes. O contexto social vivenciado por elas em ambas as escolas é de bastante criminalidade e uso de entorpecentes, ficando perceptível em suas vivências o reflexo de tais práticas. Daí, entendemoso posicionamento do garotinho anteriormente mencionado. Elucubrando sobre o relato feito pela as professoras, em termos gerais, percebemos a falta de ajuda e compromisso dos familiares com as atividades extraclasses e entendemos que essa negligência acontece, na maioria dos casos, por falta de conhecimento e incentivo dos pais por serem analfabetos, desse modo, há uma sobrecarga para os professores dificultando de forma considerável, os planejamentos, bem como a sistematização dos conteúdos. A escola “A” é considerada a maior do município em termos físico, sua estrutura é composta por 15 salas de aulas, cozinha, refeitório, pátio, quadra, biblioteca, sala de professores, diretoria, secretaria, almoxarifado, parquinho, 6 banheiros e uma horta. Atende há 962 alunos, a escola funciona nos três turnos (manhã, tarde e noite) que se inicia com a pré-escola, ensino fundamental II e o EJA, o quadro de funcionários é formado por diretora, adjunta, supervisora, assistente social, orientadora, 1 secretária, 44 professores, 3 cuidadoras, 2 merendeiras, 4 vigilantes e 12 funcionários de serviços gerais. Iniciaremos analisando a escola A, considerada a maior do município citado, em termos físicos. Aplicamos uma atividade de sondagem de leitura e escrita, com os alunos do 3° ano do ciclo final de alfabetização, bem como utilizamos de um questionário direcionado à professora para verificarmos se a teoria e a prática exercida por ela condiz com a realidade de seus educandos. A sala de aula é composta por 32 alunos, no entanto, no dia da pesquisa estavam presentes 22 crianças no momento da aplicação da atividade. Diante dessa sondagem, foi 20 ISSN 2317-661X Vol. 14 – Num. 01 – Fevereiro 2018 www.revistascire.com.br notória a pluralidade de níveis existentes naquele ambiente, confirmando-se após analisarmos os dados, como indica o gráfico abaixo: GRÁFICO I – caracterização dos níveis de alfabetização da Escola A O gráfico acima apresenta os níveis de alfabetização que encontramos na escola mencionada, com a sala de 3° ano na qual aplicamos uma atividade de pesquisa (aludida no tópico anterior) com o objetivo de explicitar as informações contidas no gráfico, faremos a exposição dos níveis em destaque na forma de porcentagem. Aqui, encontramos 18% dos alunos em nível pré- silábico 50% deles em nível silábico e 32% em nível alfabético. A princípio, verificamos um alto índice de alunos não alfabetizados e isso nos levou a refletir onde estariam as falhas, as lacunas para esse maciço resultado. Para avaliar, consideramos os métodos, prática pedagógica e metodologia utilizada pela educadora. Também consideramos a falta do compromisso da família em relação à vida escolar de seus filhos e o contexto social no qual a escola está inserida. Diante disso, percebemos a necessidade de os professores alfabetizadores estarem em constante reciclagem engajados em formações continuadas. Observemos a fala da pesquisadora Magda Soares (2016): [...] finalmente, tudo o que foi dito nos permite concluir que a formação do alfabetizador que ainda não se tem feito sistematicamente no Brasil tem uma grande especificidade, e exige uma preparação do professor que o leve a compreender todas as facetas (psicológica, psicolinguística, sociolinguística e linguística) e todos os condicionantes (sociais,culturaispolíticos) do processo de alfabetização, que o leve a saber operacionalizar essas diversas facetas (sem desprezar seus condicionantes) em métodos e procedimentos de preparação para a alfabetização e em métodos e procedimentos de alfabetização, em elaboração e uso adequados de materiais didáticos, e, sobretudo, que o leve a assumir uma postura política diante das implicações ideológicas do significado e do papel atribuído à alfabetização (SOARES,2016,p.24). 21 ISSN 2317-661X Vol. 14 – Num. 01 – Fevereiro 2018 www.revistascire.com.br Indubitavelmente, não devemos responsabilizar apenas os educadores pelo fracasso no processo de alfabetização, mas deixar claro que, em nossa concepção, grande parte dessa progressão deve-se a suas intervenções e mediações em sala de aula, pois independentemente das problemáticas encontradas pelos professores, ele com compromisso e responsabilidade desempenhara seu papel de um verdadeiro educador, papel esse, fundamental na formação de sujeitos preparados e atuantes em sociedade. A escola “B” também localizada no município de Campina Grande, Paraíba em comparação a escola “A” seu espaço físico e bem inferior comportando 5 salas de aulas, 5 banheiros, secretaria, diretoria, sala de AEE, laboratório de informática, pátio, almoxarifado, cozinha, sala de professor, 12 professores, gestor, adjunta, supervisor, assistente social, apoio pedagógico, secretário. A escola “B” funciona no período dos três turnos, manhã e tarde recebe alunos do 1° ao 5º ano do Ensino Fundamental l, e a noite Educação de Jovens e Adultos sendo assistidos nos três turnos em média 250 alunos. Realizamos o mesmo procedimento de análise nesta escola, também na sala do 3° ano. No dia da observação estavam presentes 21 alunos dos quais também observamos dois níveis de alfabetização presentes na turma, foram eles: 7 crianças encontram-se em nível silábico e 14 em nível alfabético. Traduzindo em porcentagens, rematamos que, 33% da turma estão em nível silábico e 67% em nível alfabético. Com a finalidade de ilustrar os dados apurados nessa pesquisa segui o gráfico abaixo: GRÁFICO II – caracterização dos níveis de alfabetização da Escola B Ao observarmos esta turma, identificamos várias dificuldades no processo de ensino e aprendizagem, como o não reconhecimento das letras do alfabeto, a falta de diferenciação entre letra maiúscula e minúscula, a escrita de palavras simples, como monossílabas e dissílabas, a falta de coerência em suas produções textuais. Esse resultado torna-se mais 22 ISSN 2317-661X Vol. 14 – Num. 01 – Fevereiro 2018 www.revistascire.com.br alarmante por se tratar de turmas do ciclo final de alfabetização, cujas crianças deveriam dominar a competência de leitura e escrita correspondente ao que é proposto a esta fase. Em consonância com o que Soares (2003) diz em seu artigo “A reinvenção da Alfabetização” o fracasso da alfabetização não é novidade, sempre convivemos com essa problemática. No entanto, anteriormente a criança apenas repetia por inúmeras vezes a mesma série, como consequências, essa atitude, muitas vezes, os levavam a abandonar a escola. Hoje isso se torna mais agravante, elas chegam até o quarto ano analfabetas. Para mudarmos esse quadro, precisamos de educadores mais engajados com educação, deixando de lado os entraves, que certamente surgirão, em sua jornada docente, para isso contarmos com mestres que façam jus a sua profissão, que compreendam ou pelo menos tentem compreender os enfoques psicológicos, a psicolinguística, sociolinguística, linguística e todos os condicionantes (sociais, culturais e políticos) de seu público alvo, e para isso é preciso estar em constantes formações, não para acumular títulos, como é de praxe de alguns, mas aditarmos as teorias estudadas á nossa prática de modo significativo, pensando em nossos alunos como seres ímpares. Sendo assim, eles, aprendem, comportam-se, integra- se, socializam-se, interagem, compreendem, alfabetizam-se, de modo singular, o que para um tem sentido para outros nem interessa. A princípio devemos conhecer de fato quem são nossos alunos, que níveis de letramento se encontram, que contexto familiar e social vivenciam, e pensando em suas especificidades traçar estratégias para que cheguem de fato a uma aprendizagem efetiva. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS O desenvolvimento do presente estudo possibilitou a análise de como estão, nossas salasde aula, no que diz respeito ao ciclo final de alfabetização. Foi apresentada aos alunos uma atividade de interpretação textual, afim de estimar o grau de conhecimento de cada um deles e, ainda, observar a situação que se encontra o nível de capacidade de leitura e escrita de cada um. Para os docentes, organizamos um questionário com perguntas abertas, acerca do processo de alfabetização para compararmos com o que foi colhido de seus educandos, fazendo um paralelo, entre o que de fato, as crianças sabem e o que os seus professores enfatizam. 23 ISSN 2317-661X Vol. 14 – Num. 01 – Fevereiro 2018 www.revistascire.com.br Dessa forma, evidenciaram-se dois gráficos que representam os níveis de alfabetização das salas A e B, tornando-se necessário um olhar mais aguçado no que diz respeito ao aperfeiçoamento de nossa prática docente para trabalhar em leitura e escrita nas salas de alfabetização. Entendemos que no decorrer do ciclo final de alfabetização, as crianças deveriam estar alfabetizadas, já que tiveram dois ciclos anteriores, onde passaram por grandes transformações no que diz respeito ao processo cognitivo de aprendizagem e isso está atrelado ao que eles vivenciam em seu dia a dia. Almejamos que haja um despertamento a essa causa, para isso necessitamos de educadores comprometidos em desempenhar seu papel como infindáveis pesquisadores. Também façam uso de metodologias significativas, testem os métodos, façam diversas experiências de investimentos sem, todavia, culpar terceiros quando deveria gastar tempo em leitura e formações. Por fim, acrescentamos que, aspiramos ser, até o fim de nossa carreira docente, educadores em formação, que em nenhum momento desacreditemos na Educação, pois grande parte do sucesso dessa jornada está em nossa responsabilidade. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL, Lei de Diretrizes e B. Lei nº 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em: 20 de fevereiro de 2018. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. <http://www.portal.mec.gov.br/docman/junho-2010- pdf/5707-escola-ativa-alfabetizacao1-educador>. Acesso em: 20 de fevereiro de 2018. BRASIL. Plano Nacional de Educação - PNE/Ministério da Educação. Brasília, DF: INEP, 2014. CAGLIARE,L.C. Alfabetização e Linguística. São Paulo: Scipione,1989. DIOGO; Emilli Moreira; Gorette, Milena da Silva. Letramento e Alfabetização: Uma prática pedagógica de qualidade.in. EDURECE CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, novembro, 2011, Curitiba. Anais eletrônicos. Curitiba: universidade católica do paraná,2011. Disponível em:<http://educere.bruc.com.br/CD2011/pdf/5806_2767.pdf> Acesso em 08 de fevereiro, 2018. 24 ISSN 2317-661X Vol. 14 – Num. 01 – Fevereiro 2018 www.revistascire.com.br FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa.ed.35°, São Paulo: Paz e Terra,1996. GOMES, Ana Valeska Amaral. Alfabetização na Idade Certa: Garantir a Aprendizagem no Inicio do ensino fundamental. Consultoria Legislativa. Brasília-DF. 2013 Disponível em <http://bd.camara.gov.br/bd/handle/bdcamara/12235> Acesso em 18 de fevereiro de 2018. MARTINS, Edson; SPECHELA, Luana Cristine. A importância do letramento na alfabetização. Ensaios pedagógicos, ISSN 2175-1773, Julho de 2012. MENDONÇA, Onaide Schwart; Mendonça, Olympio Correa: Alfabetização Método Sociolinguístico: Consciência social, silábico e Alfabética em Paulo freire. 3.ed. São Paulo: Afiliada,2009. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/alf_moarisconcpmetodalf.pdf> Acesso em 18 de fevereiro de 2018. MOURA, Valdira Moraes Ferreira. O Orientador Pedagógico como mediador do processo de alfabetização. 2013. 51 f. Monografia de Especialização-Universidade Cândido Mendes, Brasil, 2013. Disponível em <https://www.avm.edu.br/docpdf/monografias_publicadas/posdistancia/51938.pdf.> Acesso em 14 de fevereiro de 2018. SILVEIRA, Cláudia da Silva. A prática docente e os métodos de alfabetização: desafios do ensino da leitura e da escrita para crianças. Disponível em: <http://noosfero.ucsal.br/articles/0003/1601/claudia-da-silva-silveira.pdf> Acesso em: 16 de fevereiro de 2018. SOARES, Magda. A Reinvenção da Alfabetização. Presença Pedagógica, v.9, jul.ago.2003. _______, Alfabetização a questão dos métodos. São Paulo: Contexto, 2016. _______, Alfabetização e Letramento. 6.ed. São Paulo: Contexto, 2016.