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INTRODUÇÃO À ANÁLISE SENSORIAL Professora: Me. Bruna Yumi Yoshida Diretoria Executiva Pedagógica Janes Fidelis Tomelin Diretoria Operacional de Ensino Kátia Coelho Diretoria de Planejamento de Ensino Fabrício Lazilha Head de Projetos Educacionais Camilla Barreto Rodrigues Cochia Caetano Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho Gerência de Produção de Conteúdos Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo Projeto Gráfico Thayla Guimarães Designer Educacional Rossana Costa Giani Editoração Flávia Thaís Pedroso Ilustração Bruno Pardinho Qualidade Textual Produção de Materiais EAD DIREÇÃO Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná | unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site shutterstock.com C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; YOSHIDA, Bruna Yumi. Análise Sensorial de Alimentos. Bruna Yumi Yoshida. Maringá-Pr.: UniCesumar, 2017. 31 p. “Pós-graduação Universo - EaD”. 1.Análise 2. Alimento 3. EaD. I. Título. CDD - 22 ed. 664 CIP - NBR 12899 - AACR/2 01 02 03 04 sumário 06| CONCEITOS BÁSICOS E DEFINIÇÕES DE TERMOS EMPREGADOS NA ANÁLISE SENSORIAL 12| OBJETIVO E IMPORTÂNCIA DA ANÁLISE SENSORIAL 14| CAMPO DE APLICAÇÃO 16| FISIOLOGIA DOS ÓRGÃOS DOS SENTIDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Definir os principais conceitos e termos empregados em análise sensorial de alimentos. • Explicar os objetivos da análise sensorial de alimentos e sua importância. • Apresentar os campos de aplicação da análise sensorial. • Abordar como os cinco sentidos são utilizados na percepção do alimento. PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Conceitos básicos e definições de termos empregados na análise sensorial • Objetivo e importância da análise sensorial • Campo de aplicação • Fisiologia dos órgãos dos sentidos INTRODUÇÃO À ANÁLISE SENSORIAL INTRODUÇÃO introdução Você já ouviu falar em análise sensorial? A análise sensorial é considerada uma disciplina científica, a qual utiliza o homem como instrumento de medida, por meio de seus cinco sentidos: visão, olfato, tato, gosto e audição, para avaliar as características ou atributos de alimentos. Com o mercado cada vez mais competitivo, as indústrias e pesquisadores estão buscando atender aos anseios dos consumidores de alimentos e, por isso, a análise sensorial se tornou uma importante ferramenta para o mercado e a academia, contribuindo com o desenvolvimento, a inovação e a melhoria das características que se refletem na qualidade dos alimentos. A qualidade de um alimento implica diversas propriedades, mas, sem dúvidas, as qualidades sensoriais como o sabor, a textura e a aparência são um dos aspectos mais importantes na escolha de um alimento pelo seu consumidor. A manutenção da qualidade sensorial dos alimentos envolve o monitoramento de todas as etapas do processo de produção, desde a escolha da matéria-prima até sua elaboração e armazenamento. Para estudar e aplicar a análise sensorial, inicialmente, é necessário conhecer os fundamentos, estabelecer os conceitos, definir os termos usuais na área e estudar o instrumento dessa análise: o homem e seus cinco sentidos, olfato, tato, visão, gosto e audição. Por isso, iniciaremos nossos estudos dessa forma! Esperamos que você aproveite muito nossas aulas! Bons estudos! Pós-Universo 6 conceitos básicos e definições de termos empregados na análise sensorial Pós-Universo 7 Conceitos Básicos Conceitos de Análise Sensorial Você sabe o que é análise sensorial de alimentos? É uma disciplina científica utilizada para evocar, medir, analisar e interpretar as reações produzidas pelas características dos alimentos, as quais são percebidas pelos órgãos da visão, do olfato, do gosto, do tato e da audição, ou seja, é uma ferramenta que utiliza o ser humano como instrumento (avaliador) de medida, por meio dos cinco sentidos (figura 1), que abordaremos nos próximos estudos (IFT, 1975). Alimento é toda substância ou mistura de substâncias, no estado líquido, sólido ou pastoso, ou qualquer outra forma adequada, destinada a fornecer ao organismo humano os elementos normais, essenciais à sua formação, manutenção e desenvolvimento (BRASIL, 1969). Portanto, o termo alimento se refere às bebidas também, e não apenas a alimentos no estado sólido, como muitas pessoas consideram. Fonte: Brasil (1969). atenção Figura 1: Os cinco sentidos Pós-Universo 8 Quando você prova ou degusta um alimento, é comum avaliar sua aparência (cor, brilho, tamanho, forma), odor, gosto e textura, não é mesmo? Isto ocorre porque o homem, desde a infância, possui a habilidade de avaliar alimentos, sendo capaz de comparar, diferenciar e quantificar as características dos alimentos por meio dos cinco sentidos. A análise sensorial aplicada ocorre quando utilizamos essa habilidade do homem, juntamente com técnicas desenvolvidas e fundamentais para percepção psicológica e fisiológica, seguida de análises estatísticas adequadas. Por meio dessa análise, é possível determinar a aceitabilidade e qualidade dos alimentos. Sua execução envolve, basicamente, quatro etapas (DUTCOSKY, 2011): 1. Evocar uma característica do alimento: procedimentos ou guias para preparar e servir os alimentos sob condições controladas, a fim de minimizar possíveis tendências ou interferências; 2. Medir: a análise sensorial é uma ciência quantitativa, portanto para medir a relação entre as características do produto e a percepção humana, dados numéricos são coletados; 3. Analisar: utilizam-se métodos estatísticos para a análise dos dados coletados; 4. Interpretar: após a avaliação sensorial e a obtenção dos dados, é necessário interpretá-los a partir de hipóteses e, assim, concluir os resultados. Antes de continuarmos a estudar sobre análise sensorial, é importante compreendermos o conceito de “qualidade sensorial” de um alimento. Quando o proferimos, não podemos dizer que é uma característica própria do alimento, mas o resultado entre a interação homem-alimento. A qualidade sensorial é função dos estímulos provenientes dos alimentos, bem como das condições fisiológicas, psicológicas e sociológicas do indivíduo ou grupo que o avalia (DUTCOSKY, 2011; DELLA LUCIA; MINIM; CARNEIRO, 2013). Ela pode ser estabelecida a partir da consideração de diversos fatores: características do alimento, aparência, sabor, textura, forma, método de preparo e custo; como também do indivíduo: idade, sexo, educação, renda, habilidades na cozinha, dentre outros, além do contexto ambiental em que se localiza ou que está inserido o indivíduo, como o grau de urbanização, o ambiente de trabalho e a própria estação do ano (DUTCOSKY, 2011; DELLA LUCIA; MINIM; CARNEIRO, 2013). Pós-Universo 9 Por exemplo: alimentos consumidos por indivíduos de diferentes faixas etárias podem requerer diferentes formulações, uma vez que consumidores de alimentos e bebidas de faixa etária mais avançada, normalmente, preferem sabores mais intensos do que consumidores mais jovens. Nesse mesmo sentido, o desenvolvimento de produtos para consumidores de uma região do país pode não ser o mesmo para outra (ex. região sul x norte brasileiro) (DELLA LUCIA; MINIM; CARNEIRO, 2013). Portanto, você percebeu que a qualidade sensorial de um alimento varia de pessoa para pessoa? É uma resposta individual, de consumidor para consumidor, que é dependente de suasexperiências e expectativas, de seu emocional, do grupo étnico a que pertence e de suas preferências individuais. Veja na figura 2 o mapeamento das características que influenciam na qualidade sensorial de um alimento. Figura 2: Características que influenciam na qualidade sensorial de um alimento Fonte: DELLA LUCIA, MINIM; CARNEIRO (2013). Pós-Universo 10 Você sabia que as formas de determinação da qualidade sensorial dos alimentos foram modificadas de acordo com o estágio de evolução tecnológica da indústria? Podemos dividir seu desenvolvimento em quatro fases: • 1ª fase (antes de 1940): fase artesanal da indústria de alimentos. A qualidade sensorial do produto era definida pelo proprietário ou encarregado da empresa. • 2ª fase (1940-1950): expansão da indústria de alimentos. Houve a incorporação de pessoal técnico e introdução dos conceitos de produção e processo. No entanto, apenas os métodos químicos e instrumentais eram utilizados, e não os sensoriais. • 3ª fase (1950-1970): desenvolvimento de métodos sensoriais tendo o homem como instrumento de medida. Ainda ocorriam discussões quanto a melhor maneira de medir a qualidade a sensorial: por meio de métodos instrumentais ou sensoriais? • 4ª fase (a partir de 1970): determinou-se que a qualidade sensorial de um alimento é o resultado da interação entre o alimento e o homem, e não uma característica própria do alimento. Ademais, foi reconhecido que essa qualidade é função dos estímulos provenientes dos alimentos e das condições fisiológicas, psicológicas e sociológicas do avaliador (julgador). Foi compreendido que as medidas instrumentais são relevantes apenas quando apresentam boa correlação com as medidas sensoriais. No entanto, é importante você saber que, atualmente, nem todas as indústrias brasileiras se encontram nesse estágio de evolução (4º estágio); elas podem ser incluídas em qualquer uma das quatro fases, existindo, ainda, indústrias enquadradas na primeira fase. Fonte: DUTCOSKY (2011) e MININ (2013). saiba mais Definições de Termos Empregados na Análise Sensorial Para continuarmos o nosso aprendizado, existem alguns termos, definidos pela Associação brasileira de normas técnicas (ABNT) (1993), que você precisa conhecer: Pós-Universo 11 Tabela 1:Definição de termos empregados na análise sensorial Termo Definição Aceitabilidade grau de aceitação de um produto favoravelmente recebido por um determinado indivíduo ou população, em termos de propriedades sensoriais Aceitação ato de um determinado indivíduo ou população de ser favorável ao consumo de um produto Atributo característica perceptível Consumidor indivíduo que utiliza o produto Degustação Avaliação sensorial de um produto alimentício na cavidade oral Degustador indivíduo que executa a degustação Discriminação diferenciação qualitativa e/ou quantitativa entre dois ou mais estímulos Equipe selecionada grupo de julgadores selecionados Hedônico relativo a gostar ou desgostar Julgador ou provador* indivíduo que participa do teste sensorial Julgador selecionado indivíduo escolhido por sua acuidade em realizar um teste sensorial Julgador treinado indivíduo selecionado e submetido a treinamento para determinado teste e produto Painel** (equipe) equipe de julgadores que realizam teste sensorial Perito ou especialista (expert) julgador que possui grande experiência com o produto, sendo capaz de realizar individualmente a avaliação sensorial deste Preferência expressão do estado emocional ou reação afetiva de um indivíduo que o leva à escolha de um produto sobre outro(s) Sensação reação fisiológica de um indivíduo resultante de uma estimulação sensorial Sensorial relativo ao uso dos órgãos dos sentidos Triagem processo preliminar de seleção * este termo ainda pode se estender para “avaliador”. ** atualmente, é um termo pouco utilizado por pesquisadores, mas as indústrias ainda o utilizam. Fonte: ABNT (1993). Pós-Universo 12 objetivo e importância da análise sensorial Pós-Universo 13 A análise sensorial tornou-se uma importante ferramenta para identificar e atender os interesses dos consumidores em relação a seus produtos, uma vez que é uma ciência que objetiva estudar as percepções, sensações e reações do consumidor sobre as características dos produtos, incluindo sua aceitação ou rejeição (DELLA LUCIA; MINIM; CARNEIRO, 2013). A qualidade de um alimento envolve três aspectos fundamentais: qualidade sensorial, qualidade nutricional e qualidade microbiológica. Sem dúvidas, a qualidade sensorial está mais intimamente ligada à escolha de um produto pelo seu consumidor, pois de nada adianta para o consumidor o produto possuir características químicas, físicas e microbiológicas satisfatórias, ou seja, ser considerado um produto de excelente qualidade, se a característica sensorial não atingir as necessidades e anseios do consumidor (DUTCOSKY, 2011; DELLA LUCIA; MINIM; CARNEIRO, 2013). Portanto, as características de qualidade sensorial, como sabor, textura e aparência, precisam ser avaliadas em todas as etapas da produção ou elaboração de um alimento, desde o desenvolvimento de um novo produto até sua padronização e a avaliação do seu nível de qualidade (DUTCOSKY, 2011). Pós-Universo 14 campo de aplicação Figura 3: Avaliação sensorial do vinho (parte 1) Fonte: WINELAND (2016). Pós-Universo 15 Agora você deve estar se perguntando, onde a análise sensorial pode ser aplicada, não é mesmo? Além da área de alimentos, ela ocupa uma importante posição na área de cosméticos e perfumarias. Essa ciência é útil não somente aos cientistas, tecnólogos ou engenheiros, como também aos profissionais envolvidos em pesquisa, desenvolvimento e inovação, à indústria, à academia e aos órgãos governamentais (DUTCOSKY, 2011; DELLA LUCIA; MINIM; CARNEIRO, 2013). A seguir, você poderá conhecer algumas situações em que a análise sensorial é trabalhada: • nas etapas de desenvolvimento de novos produtos; • quando as matérias-primas, utilizadas para a elaboração de um alimento, são alteradas; • quando ocorre a alteração no processamento tecnológico; • na redução de custos: modificação por ingredientes de menor preço, produção em um local diferente, etc.; • no controle do efeito da embalagem sobre produtos acabados; • no controle de qualidade; • no estudo da estabilidade do alimento durante o armazenamento: vida de prateleira; • na avaliação do nível de qualidade do produto; • em testes de mercado de um novo produto ou produto reformulado. Portanto, a análise sensorial é empregada para estudarmos a aceitação, a preferência de um produto em relação a outro, se existe diferença perceptível entre um produto novo e outro convencional similar e, ainda, para descobrirmos pontos mais minuciosos dos alimentos, determinando os principais pontos de diferença, ou quais as qualidades sensoriais estão presentes e quais as suas intensidades. Para cada objetivo da investigação existe um método adequado da análise sensorial, o que discutiremos em estudos futuros. Pós-Universo 16 fisiologia dos órgãos dos sentidos Pós-Universo 17 Percepção Sensorial A análise sensorial utiliza técnicas baseadas na fisiologia e na psicologia da percepção. Você sabe o que é e como ocorre a percepção? O sistema sensorial é dotado de células especiais, chamadas de receptores. Através dos receptores, o observador (indivíduo) capta estímulos e informações dos objetos presentes em um ambiente. Na forma de impulsos elétricos, os estímulos são transmitidos até o sistema nervoso central, que processa as informações, traduzindo-as em uma resposta fisiológica, uma sensação, que por sua vez é função das características inatas dos objetos. A percepção ocorre quando o observador se torna ciente da sensação (STONE; SIDEL, 2004; IAL, 2008; DUTCOSKY, 2011). Observe o fluxograma (figura 4) a seguir: Figura 4: Fluxograma da percepção e resposta sensorial Fonte:o autor. Pós-Universo 18 É desta forma que enxergamos o que está a nossa volta, percebemos que a água do banho está fria e sentimos o gosto dos alimentos. O homem guarda as percepções, que são modificadas continuamente por outras novas percepções. Essas alterações são as que chamamos de impressões. Existe diferença entre “percepção” e “sensação”, e podemos correlacioná-la com a diferença entre “olhar e ver” e “escutar e ouvir”. Cinco Sentidos Os receptores, também chamados de cinco sentidos (visão, olfato, tato, audição e gosto), são utilizados na percepção dos alimentos e serão abordados nesta aula. Visão É o primeiro sentido que intervém na avaliação sensorial de um alimento. O sentido da visão nos informa sobre a aparência geral do alimento: estado, tamanho, forma, textura e cor. O aspecto visual é importante no controle de qualidade da matéria-prima, pois através dele podemos inferir, por exemplo, o frescor de uma fruta ou de um peixe, ou mesmo durante o processamento dos alimentos, como quando se estima o grau de torrefação do café pela cor (DUTCOSKY, 2011). O receptor, neste caso, é a retina, provida de células chamadas cones e bastonetes. Os cones são responsáveis pela detecção da cor e os bastonetes pela visualização da forma e da cor escura. A luz é responsável pelo estímulo dessas células, quando ocorre a percepção (RODRIGUES, 2010; DUTCOSKY, 2011). As cores podem ser classificadas quanto à saturação (profundidade, pureza da cor), tonalidade (cor em si, vermelho, azul, etc.) e intensidade (brilhoso; fosco). É importante ressaltar que, com exclusão da ilusão óptica e das características individuais, como o daltonismo, o olho é sempre o instrumento mais efetivo para avaliar e distinguir as cores e formas. Pós-Universo 19 Olfato Antes de iniciarmos a discussão deste tópico, é necessário esclarecer alguns termos: aqui, no sentido do olfato, daremos preferência ao termo “odor” ao invés de “cheiro”, sendo mais adequado para alimentos, certo? Você sabia, ainda, que existe diferença entre os termos “odor” e “aroma”? Denominamos “odor” o aroma volátil percebido nas narinas, através da inalação ou aspiração dos compostos voláteis dos alimentos, antes de o ingerirmos (chamamos de olfato ortonasal). Já o “aroma” é a percepção dos componentes voláteis do alimento já na boca, durante a mastigação ou após a deglutição (olfato retronasal) (DUTCOSKY, 2011). Agora que você conhece esses termos (figura 5), podemos iniciar a discussão. O sentido do olfato é estimulado por energia química. Como você pode observar na imagem abaixo, os odores, uma das propriedades sensoriais mais complexas, formados por misturas de moléculas voláteis, entram pela via nasal, passando até o epitélio olfatório, que contém receptores, as células olfativas. Estas, por sua vez, possuem cílios sensoriais que captam as moléculas voláteis. A presença dessas moléculas ocasiona estímulos nervosos, que são conduzidos até o sistema nervoso central, sendo traduzidos em sensações (RODRIGUES, 2010; DUTCOSKY, 2011). Figura 5: A ciência por trás do FoodPairing Fonte: adaptado de Food Pairing (2017). Pós-Universo 20 Dentre as técnicas de aspiração, o avaliador sensorial pode realizar, de boca fechada, aspirações rápidas, apenas o tempo necessário para definir o aroma que sentiu, evitando inalações profundas e longas e consequentes confusões e perda de sensibilidade. A avaliação do odor está sujeita, principalmente, a duas variáveis importantes: fadiga e adaptação. A fadiga ocorre quando aspiramos alimentos seguidamente, ao ponto de não conseguirmos mais diferenciá-los. Isso ocorre devido à estimulação contínua, que suprime a transmissão do impulso. Já a adaptação pode ocorrer, por exemplo, quando aspiramos um alimento com odor pronunciante, e após certo tempo, a intensidade de percepção desse odor é reduzida rapidamente. No entanto, esse efeito é temporário, logo o indivíduo retorna a sua sensibilidade inicial (PROCOPIO; CURI; FERNANDES, 2005; DUTCOSKY, 2011). Cabe ressaltar que todo esse contexto envolve indivíduos fisiologicamente saudáveis. A sensibilidade pode variar de indivíduo para indivíduo e ser prejudicada, ou seja, reduzir, com a idade. Há ainda a anosmia, perda total do olfato, dentre outras patologias. Tato Forma, peso, temperatura, consistência e, principalmente, textura são características dos alimentos percebidas pelo tato, seja por meio da boca ou pelas mãos. A textura, mais facilmente avaliada pelo tato do que a visão e audição (discorremos ainda nessa aula), pode ser considerada como o grau de dureza de um alimento, a força requerida para romper uma substância entre os dentes molares (para alimentos sólidos) ou entre a língua e o palato (alimentos semissólidos) (IAL, 2008). Os receptores do tato são extremamente sensíveis e estão localizados na mão e na boca, lábios, bochechas, gengivas, língua e palato (figura 6). Os dentes também são importantes para avaliação sensorial: as ramificações do nervo dental são sensíveis às pressões, portanto, colaboram para percepção da textura. Pós-Universo 21 Figura 6: A boca Fonte: adaptado de Alan Machado/GES A textura é um importante atributo físico dos alimentos, influenciando fortemente na aceitação dos mesmos. Diferentes denominações podem ser dadas quando se avalia a textura dos alimentos, conforme tabela 2, a seguir: Tabela 2: Diferentes denominações para textura dos alimentos Termo Tipo de alimento Corpo ou viscosidade Líquidos homogêneos Consistência ou firmeza Semissólidos ou líquidos heterogêneos Textura Sólidos ou semissólidos Fonte: MEILGAARD; CIVILLE; CARR (1999) e DUTCOSKY (2011). Pós-Universo 22 Você já percebeu que a ostra não é um alimento muito bem aceito? Muita gente não gosta devido ao seu aspecto viscoso. Esse é um exemplo de alimento em que a textura influencia muito sobre sua aceitação, o que também ocorre com as gelatinas e geleias, pois em decorrência de seu aspecto vivo e da sensação escorregadia, há pessoas que apreciam esses alimentos e outras não. Fonte: Dutcosky (2011). reflita Audição Ao morder ou mastigar um alimento, você espera um som característico, devido à uma experiência prévia com o seu consumo. Por exemplo, a dureza do pé de moleque ou a efervescência de uma bebida carbonatada são esperadas, não é mesmo? Esses e outros diversos sons, provocados pela mastigação ou mordida dos alimentos, completam a percepção da textura (tato). O ouvido interno é o receptor, capaz de reconhecer diferentes ruídos (IAL, 2008; DUTCOSKY, 2011). Gosto Somos capazes de reconhecer cinco gostos, que chamamos de “gostos básicos”: doce, salgado, ácido, amargo e umami (do japonês que significa “agradável”, “gostoso”). Embora, por muito tempo, tenha-se acreditado que existiam regiões específicas na língua para se sentir os gostos dos alimentos, atualmente sabemos que isso não é verdade; a percepção do gosto ocorre pelas células receptores presentes no palato, bochechas, esôfago e na parte frontal, lateral e no final da língua, sendo que a sensibilidade de cada gosto é similar em todas as regiões do órgão muscular (DUTCOSKY, 2011). Pós-Universo 23 Figura 7: Conceito antigo dos gostos básicos Fonte: adaptado de EVELEEN (2017). Os compostos, em solução de diferentes concentrações, utilizados como referência para gostos básicos são sacarose (doce), ácido cítrico (ácido), cafeína (amargo), glutamato de sódio (umami) e cloreto de sódio (sal). A temperatura influencia na sensibilidade dos gostos, sendo maior entre 20 e 30 °C. Como você já deve imaginar, devido às discussões realizadas até aqui, a sensibilidade aos gostos pode variar entre os indivíduos. As anomalias existentes relacionadas ao gosto são ageusia, perda de percepção de um gosto, hipoaugesia, menor percepção de um gosto e disgeusia, distorção do gosto (IAL, 2008; DUTCOSKY, 2011). Vale ressaltarmos aqui, a diferençaentre “gosto” e “sabor”, frequentemente tratados com o mesmo significado. Também chamado de “flavor”, “sabor” se refere a uma sensação mista, gosto + olfato, mas unitária. Envolve, ainda, as sensações de irritações químicas (temperatura, pressão, adstringência, etc.), as quais se referem ao estímulo das terminações do nervo trigêmeo (localizado na córnea e cavidade nasal e oral) (IAL, 2008; DUTCOSKY, 2011). Veja a figura 8, a seguir: Figura 8: Neuralgia do trigêmeo Fonte: HONG (2017). Pós-Universo 24 Ainda nesse espectro, associadas às propriedades físicas e químicas dos alimentos, temos as sensações bucais, podendo ser exemplificadas como: • adstringência: sensação de “amarrar na boca”, provocada pelos taninos, encontrados em frutas verdes, como a banana e uva; • pungência: sensação de irritação nas mucosas bucal e nasal, provocada, por exemplo, por mostarda e vinagre; • metálica: sensação de metal na boca. Portanto, podemos resumir a definição de sabor, por meio da figura 9, a seguir: Figura 9: Formação do sabor Fonte: o autor. atividades de estudo 1. Sobre a análise sensorial, é correto afirmar que: a) É uma disciplina científica que utiliza instrumentos laboratoriais para medir a qualidade dos alimentos. b) É utilizada para avaliar somente a aceitação dos alimentos. c) É utilizada para avaliar somente a preferência de um alimento em relação a outro. d) Utiliza técnicas baseadas na fisiologia e psicologia da percepção. e) Utiliza o homem como instrumento de medidas, por meio dos três sentidos existentes, visão, tato e gosto. 2. A execução da análise sensorial envolve, basicamente, quatro etapas. Relacione a primeira parte com a segunda. Primeira parte: (1) Evocar (2) Medir (3) Analisar (4) Interpretar Segunda parte: )( utilização de métodos estatísticos para a análise dos dados coletados. )( interpretar os dados obtidos, a partir de hipóteses e, em seguida, concluir os resultados. )( procedimentos ou guias para preparar e servir os alimentos sob condições controladas. )( coleta de dados numéricos. Marque a alternativa correta: a) 3, 4, 1, 2. b) 2, 1, 4, 3. c) 1, 2, 3, 4. d) 4, 3, 2, 1. e) 1, 4, 3, 2. atividades de estudo 3. Indique falso (F) ou verdadeiro (V) para as sentenças abaixo: )( o primeiro sentido que intervém na avaliação sensorial de um alimento é o gosto; )( as cores de um alimento podem ser classificadas quanto à saturação (brilhoso; fosco), tonalidade (cor em si, vermelho, azul, etc.) e intensidade (profundidade, pureza da cor); )( em relação à textura, para alimentos líquidos homogêneos pode ser utilizada a denominação “corpo” ou viscosidade; )( existem regiões específicas na língua para se sentir os gostos dos alimentos, ácido, amargo, salgado e doce; )( “metálico” é um tipo de gosto: gosto metálico; )( “sabor” é o resultado do somatório de gosto + olfato + sensações bucais. Marque a alternativa correta: a) F, F, V, F, V, F. b) F, F, V, F, F, V. c) F, F, F, F, F, F. d) V, V, F, V, V, F. e) F, F, V, V, V, V. resumo Neste estudo, foram introduzidos os conceitos básicos relacionados à análise sensorial de alimentos. Foram definidos os termos usuais na área, que serão utilizados durante toda a disciplina. Dentre os aspectos que envolvem a qualidade de um alimento, a sensorial certamente está mais intimamente ligada à aceitação do alimento pelo consumidor. Dessa forma, a análise sensorial se tornou uma importante ferramenta para indústrias e campos de pesquisas, incluindo um extenso campo de aplicação, desde o aprimoramento e a redução de custos de matéria-prima e produção até o desenvolvimento e inovação de produtos. A análise sensorial utiliza o homem como instrumento de medida, empregando técnicas baseadas na fisiologia e psicologia da percepção. Os cinco sentidos, também chamados de receptores, são visão, olfato, tato, audição e gosto, os quais são utilizados na percepção dos alimentos. A visão é o primeiro sentido que intervém na avaliação sensorial de um alimento, possibilitando a observação de seu estado, tamanho, forma, textura e cor. O sentido do olfato é estimulado por energia química e o odor é um dos elementos mais complexos. A textura dos alimentos é a principal característica observada pelo tato, que por sua vez, possui receptores na mão e na boca, lábios, bochechas, gengivas, língua e palato. Por meio da audição, ao morder ou mastigar um alimento, é possível observar seu som. Somos capazes de reconhecer cinco gostos básicos: doce, salgado, ácido, amargo e umami. material complementar Análise Sensorial de Alimentos Autor: Silvia Deboni Dutcosky Editora: Champagnat Sinopse: devido à abrangência da análise sensorial como uma ferramenta em todas as etapas da tecnologia de alimentos, desde a concepção de um novo produto alimentício até a padronização e avaliação do nível de qualidade do produto, a proposta deste livro é fundamentar e descrever os princípios básicos para depois apresentar novas metodologias. Comentário: com 30 anos de experiência em análise sensorial de alimentos, Dutcosky escreveu a terceira edição do livro “Análise sensorial de alimentos”, o qual se tornou uma das referências nacionais mais relevantes da área. referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Análise sensorial dos alimentos e bebidas: terminologia. Rio de janeiro, 1993. BRASIL. Decreto nº 986, de 21 de outubro de 1969. Institui normas básicas sobre alimentos. Brasília: Diário oficial, 21 out. 1969. Capítulo 1. DELLA LUCIA, Suzana Maria; MINIM, Valéria Paula Rodrigues; CARNEIRO, João de Deus Souza. Análise sensorial de alimentos. In: MINIM, Valéria Paula Rodrigues. Análise sensorial: estudos com consumidores. 3. ed. Viçosa: Ed. UFV, 2013. p. 13-48. DUTCOSKY, Silvia Deboni. Análise sensorial de alimentos. 3. ed. Curitiba: Champagnat, 2011. INSTITUTO ADOLFO LUTZ. Métodos físico-químicos para análise de alimentos. 4. ed. São Paulo: Instituto Adolfo Lutz, 2008. INSTITUTE OF FOOD TECHNOLOGISTS. Minutes of Sensory Evaluation. Chicago,1975. MEILGAARD, Morten; CIVILLE, Gail Vance; CARR, Thomas. Sensory attributes and the way we perceive them. In: MEILGAARD, Morten; CIVILLE, Gail Vance; CARR, Thomas. Sensory evaluation techniques. 3. ed. Boca Raton: CRC Press, 1999. p. 7-21. PROCOPIO, Joaquim; CURI, Rui; FERNANDES, Luis Claudio. Praticando Fisiologia. Barueri: Manole, 2005. RODRIGUES, Felipe Viegas. Fisiologia sensorial. Revista da biologia, São Paulo, v. 5, p. 25-33, 2010. STONE, Herbert; SIDEL, Joel. Sensory evaluation practices. 3 ed. San Diego: Academic Press, 2004. resolução de exercícios 1. d) Utiliza técnicas baseadas na fisiologia e psicologia da percepção. 2. a) 3, 4, 1, 2. 3. b) F, F, V, F, F, V. conceitos básicos e definições de termos empregados na análise sensorial
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