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CASO CONCRETO 02 Leia o caso concreto abaixo e responda às questões formuladas com base nas leituras indicadas no plano de aula e pelo seu professor. Ana Luiza, de 19 anos, grávida de 6 semanas de seu namorado Felipe, 20 anos e com a finalidade de praticar um aborto conversou com várias amigas até ser convidada para ingressar em um grupo secreto de WhatsApp que gerencia a prática de abortos clandestinos. Soube por meio do grupo a forma com a qual poderia adquirir o medicamento cytotec e solicitou ao namorado que o comprasse, pois não dispunha do valor cobrado. Felipe realizou o depósito bancário de R$1.000,00 e o medicamento foi entregue, via correio, na residência de Ana Luiza que resolveu ingeri-lo durante a madrugada no mesmo dia. Das fortes contrações sofridas e consequente hemorragia após a expulsão incompleta do feto e placenta, Ana Luiza necessitou ser socorrida de emergência para fins de realização de uma curetagem. Na clínica na qual foi atendida não havia médico de plantão, razão pela qual Ana Luiza foi socorrida por uma enfermeira que necessitou realizar as manobras abortivas das quais culminaram a ablação do útero. Ante o exposto, com base nos estudos realizados sobre os crimes contra a vida, responda de forma objetiva e fundamentada às questões: a) Qual a correta tipificação das condutas de Ana Luiza e Felipe? R- Ana incorre no crime de aborto contra si mesma como previsto no Artigo. 124 do código penal ´´art. 124 Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque`` decorrido do ingerimento da pílula abortiva e como podemos analisar na decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo TENTATIVA DE ABORTO PROVOCADO PELA GESTANTE OU COM O SEU CONSENTIMENTO. Recurso em sentido estrito defensivo contra pronúncia. Decisão bem exarada. Prova de materialidade e indícios suficientes de autoria a remeter o julgamento ao Tribunal do Júri. Despronúncia incabível. Improvimento. (TJ-SP 00004875220158260322 SP 0000487- 52.2015.8.26.0322, Relator: Eduardo Abdalla, Data de Julgamento: 04/04/2018, 7ª Câmara de Direito Criminal, Data de Publicação: 06/04/2018) Enquanto Felipe namorado que teve participação na compra da pílula abortiva tem sua conduta tipificada nos artigos 126 do código penal por colaborar com a compra da pílula que provocou o ato, e artigo 127 do mesmo código por apresenta uma qualificadora devido lesão corporal de natureza grave culminada na ablação do útero b) Com relação à ablação do útero em decorrência do procedimento abortivo, Felipe poderia ser responsabilizado pelo resultado mais gravoso? R- Sim, pois Felipe incorre na qualificadora prevista no artigo 127 Código Penal tendo sua pena amentada de um terço pois ele já se enquadrava no art. 126 por colaboração ao aborto Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em consequência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte. Podemos analisar na decisão tomada pelo Tribunal de Justiça do Maranhão PROCESSO PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL. CRIME DE PROVOCAR ABORTO COM CONSENTIMENTO DA GESTANTE. MORTE DA VÍTIMA. AUMENTO DE PENA DO ART. 127 DO CÓDIGO PENAL. PENA- BASE. CULPABILIDADE. NÃO DEMONSTRAÇÃO. CONDUTA SOCIAL NEGATIVA. REDIMENSIONAMENTO DA PENA. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. A culpabilidade que se refere o art. 59 do Código Penal deve ser analisada levando-se em consideração o grau de reprovabilidade da conduta do agente, no presente caso, não ficou demonstrado que a apelante praticava de forma reiterada a conduta criminosa. A valoração negativa da conduta social do acusado para agravar a pena-base, pelo fato de responder a ações penais em curso, apresenta-se insubsistente, pois viola a determinação jurisprudencial consubstanciada na Súmula 444 do Superior Tribunal de Justiça. Provimento. (TJ-MA - APL: 0425092013 MA 0023454- 41.2009.8.10.0001, Relator: MARIA DOS REMÉDIOS BUNA COSTA MAGALHÃES, Data de Julgamento: 29/07/2014, PRIMEIRA CÂMARA CRIMINAL, Data de Publicação: 06/08/2014) c) A conduta da enfermeira tem relevância jurídico-penal? R- Sim, a conduta da Enfermeira tem relevância pois ela tem sua conduta prevista no art. 128, inciso I do Código Penal por aborto necessário para salvar a vida da gestante. No entanto não a punibilidade de sua conduta como em Habeas Corpus proferido pelo Supremo Tribuna de Justiça HABEAS CORPUS. AUTORIZAÇÃO PARA INTERRUPÇÃO DE GRAVIDEZ. ABORTO NECESSÁRIO. NÃO COMPROVAÇÃO DE RISCO DE MORTE À GESTANTE. ABORTO HUMANITÁRIO. ATO INFRACIONAL ANÁLOGO A ESTUPRO DE VULNERÁVEL. OCORRÊNCIA. VÍTIMA MENOR DE QUATORZE ANOS. VIOLÊNCIA PRESUMIDA. VULNERABILIDADE. TEMPO DE GESTAÇÃO AVANÇADO. ORDEM DENEGADA. 1. O pedido de interrupção da gravidez está alicerçado nas complicações geradas à saúde da jovem e na configuração do ato infracional análogo ao estupro de vulnerável, dada a presunção absoluta de violência. 2. Conquanto haja a defesa comprovado a existência de determinados fatores acidentais na gravidez da jovem, não há documento assinado por profissional da saúde que demonstre o seu iminente risco de morte. Infirmar a conclusão alcançada pela Corte de origem demandaria necessária dilação probatória, iniciativa inviável no âmbito desta ação constitucional. 3. Em que pese o caráter limítrofe da situação apresentada - um casal de namorados, ela com 13 e ele com 14 anos de idade, que, em decorrência de ato sexual consentido, enfrenta o peso de uma gravidez não desejada -, a rigor, se trata de caso de ato análogo a estupro de vulnerável (art. 217-A do Código Penal). 4. Acerca da configuração do delito em situações como a dos autos (na espécie, ato infracional análogo), por força do recente julgamento do REsp repetitivo n. 1.480.881/PI, de minha relatoria, a Terceira Seção desta Corte Superior sedimentou a jurisprudência, então já dominante, pela presunção absoluta da violência em casos da prática de conjunção carnal ou ato libidinoso diverso com pessoa menor de 14 anos. 5. A vulnerabilidade da vítima é o elemento definidor para a caracterização do delito, de modo que o fato de ser o agente ainda um adolescente não exclui a ocorrência do ato infracional. Configurada a presunção de violência, houve ato infracional análogo ao caso de estupro de vulnerável (art. 217-A do Código Penal), circunstância que, por si só, permitiria a autorização do procedimento. 6. A gravidez encontra-se, aproximadamente, na trigésima primeira semana, de modo que, a esta altura, uma intervenção médica destinada à retirada do feto do útero materno pode representar riscos ainda maiores tanto à vida da paciente quanto à da criança em gestação. 7. Habeas corpus não conhecido. (STJ - HC: 359733 RS 2016/0157669-6, Relator: Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, Data de Julgamento: 23/08/2016, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJe 19/09/2016)