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Direito Processual Penal II UNIDADE I - Competência em Razão da Matéria A competência em razão da matéria (ratione material) é definida em razão da infração penal praticada e está prevista no art. 74 do CPP. “Art. 74. A competência pela natureza da infração será regulada pelas leis de organização judiciária, salvo a competência privativa do Tribunal do Júri. § 1º Compete ao Tribunal do Júri o julgamento dos crimes previstos nos arts. 121, §§ 1º e 2º, 122, parágrafo único, 123, 124, 125, 126 e 127 do Código Penal, consumados ou tentados. § 2o Se, iniciado o processo perante um juiz, houver desclassificação para infração da competência de outro, a este será remetido o processo, salvo se mais graduada for a jurisdição do primeiro, que, em tal caso, terá sua competência prorrogada. § 3o Se o juiz da pronúncia desclassificar a infração para outra atribuída à competência de juiz singular, observar-se-á o disposto no art. 410; mas, se a desclassificação for feita pelo próprio Tribunal do Júri, a seu presidente caberá proferir a sentença (art. 492, § 2o).” Portanto, é necessário observar a organização do Judiciário, que é dividido em justiça comum e especializada (eleitoral e militar). ● JUSTIÇA ESPECIALIZADA Eleitoral: é competente para julgar crimes eleitorais previstos na Lei nº 4.737/65, nos artigos 289 e seguintes; Militar: é competente para processar e julgar crimes militares definidos no Decreto Lei 1001/69. OBS: não compete à Justiça Militar processar e julgar: os crimes dolosos contra a vida praticados por militar contra civil; abuso de autoridade (competência comum) e acidente de trânsito envolvendo viatura (Justiça Comum). EXCEÇÕES: a) se o autor e a vítima forem militares no exercício da atividade; b) civil acusado de prática de crime contra as instituição militar estadual. ● JUSTIÇA COMUM (Federal e Estadual) Justiça Federal A competência da Justiça Federal está definida no art. 109, incisos IV, V, VI, VII, VII, IX, X e XI da Constituição Federal. “Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: (...) IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral; V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente; VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira; VII - os habeas corpus, em matéria criminal de sua competência ou quando o constrangimento provier de autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição; VIII - os mandados de segurança e os habeas data contra ato de autoridade federal, excetuados os casos de competência dos tribunais federais; IX - os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça Militar; X - os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta rogatória, após o "exequatur", e de sentença estrangeira, após a homologação, as causas referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização; XI - a disputa sobre direitos indígenas. (...)” EXCEÇÕES: não se incluem as contravenções penais e os crimes praticados contra Sociedade de Economia Mista. Justiça Estadual A justiça estadual tem competência residual, ou seja, se não competir à justiça especializada nem à justiça comum na esfera federal, a competência será da justiça comum estadual. UNIDADE II - Competência por Prerrogativa de Função É a competência em razão da pessoa (racione persona), gerando foro privilegiado, previsto no art. 84 do CPP: “Art. 84. A competência pela prerrogativa de função é do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça, dos Tribunais Regionais Federais e Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, relativamente às pessoas que devam responder perante eles por crimes comuns e de responsabilidade.” ● Competência do Supremo Tribunal Federal: presidente, vice presidente e ministros de Estado; membro do Congresso Nacional; Ministro do STF; Ministro de Tribunal Superior; e Procurador Geral da República; ● Competência do Supremo Tribunal de Justiça: governadores e desembargadores; ● Competência do Tribunal de Justiça: procurador geral da Justiça; prefeito; Juízes e membros do Ministério Público. OBS1: Vereador não tem prerrogativa de função; OBS2: Deputado Estadual depende da Constituição do Estado. UNIDADE III - Competência Territorial Determina-se em qual foro (qual lugar) deve ser ajuizada a ação penal. Da Competência Pelo Lugar da Infração (art. 70 e 71 do CPP) - REGRA GERAL A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que foi praticado o último ato de execução. EXCEÇÕES -> ECA e Lei 9.099/95: a competência é do local onde foi praticada a ação. -> Crimes a Distância (art. 70, §§ 1º e 2º do CPP): se a execução começou em território nacional e a infração se consumar no estrangeiro, a competência será determinada pelo lugar em que tiver sido praticado, no Brasil, o último ato de execução. No caso do último ato de execução ter sido praticado no estrangeiro, será competente o juiz do local, no Brasil, em que produziu ou deveria produzir o resultado. -> Limite territorial incerto entre duas jurisdições: competência fixada por prevenção. O art. 71 do CPP aborda que em caso de crime continuado* ou permanente**, praticado em território de duas ou mais jurisdições, a competência será fixada pela prevenção. *Crime Continuado: o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica mais de um crime da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, os subsequentes são considerados como meras continuações do primeiro. **Crime Permanente: é aquele cujo momento consumativo se prolonga no tempo de acordo com a vontade do criminoso, de modo que o agente tem o domínio sobre o momento de consumação do crime. Da Competência Pelo Domicílio ou Residência do Réu (Art. 72 e 73 do CPP) A competência é fixada pelo domicílio do réu quando desconhecido o lugar da infração. Exemplo: caso do Goleiro Bruno. Se o réu tiver mais de uma residência, a competência será fixada por prevenção. (art. 72, § 1º, CPP) Se desconhecido o lugar da infração, bem como a residência do réu, será competente o juiz que primeiro tomar conhecimento do fato. (Art. 72, § 2º, CPP) No caso de ação penal privada, o querelante poderá escolher entre o foro de domicílio do réu ou onde foi praticada a infração. (Art. 73). MODIFICAÇÃO DE COMPETÊNCIA A continência e a conexão são regras de modificação de competência, ou seja, são causas legais de prorrogação de competência, por força das quais são modificadas as regras ordinárias para fixação da competência, acarretando a ampliação dacompetência de um juízo (chamado prevento) para o processo e julgamento de uma infração penal que originariamente não lhe incumbia. Portanto, são regras que tem o objetivo de reunir dois ou mais processos. Continência (art. 77 do CPP) É um único processo para julgar tudo e ocorre nos seguintes casos: a) Concurso Formal de Crimes: uma conduta do agente (ação ou omissão) gera vários resultados (dois ou mais). Assim é iniciado um só processo. b) “Aberratio Ictus” (erro na execução): o sujeito quer atingir uma pessoa, mas acaba errando o golpe e acerta além daquele que desejava atingir, outra pessoa. c) Concurso de Pessoas: havendo mais de um agente na conduta criminosa, haverá um único processo. Exemplo: Suzane Von Richtofen e Irmãos Cravinhos, que produziram vários resultados com apenas uma conduta entre eles. Conexão (art. 76, CPP) Na conexão há vários processos que serão submetidos ao mesmo julgador, nos seguintes casos: a) Agentes Reunidos (art. 76, I, CPP): dois ou mais crimes praticados ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas OU por várias pessoas em concurso, embora diverso o tempo e o lugar, OU por várias pessoas, umas contra as outras. Exemplo: no estádio de futebol, torcedores diversos praticam crimes diversos (lesão corporal, furto, homicídio e etc). b) Conexão Instrumental (art. 76, III do CPP): dá-se quando a prova de um crime interfere na prova de outro crime. Exemplo: fulano furta carro em uma cidade. Em outra cidade, esse mesmo carro é objeto de receptação. Em vez de ser um processo para o furto e outro para a receptação, instaura-se somente um processo porque a prova do primeiro crime interfere na prova do segundo. Nesse caso, a competência seria fixada por prevenção. c) Conexão material ou lógica (art. 76, II do CPP): dá-se quando o agente pratica um crime para poder consumar, ocultar, garantir a impunidade ou a vantagem de outro crime. Exemplo: sujeito mata a testemunha presencial de roubo anteriormente presenciado. REGRAS DE ATRAÇÃO DE COMPETÊNCIA a) Tribunal do Júri (art. 78, I do CPP): se um homicídio é praticado em conexão com outro crime, o Tribunal do Júri julgará o homicídio, mas também o crime a ele conexo. O júri atrai a competência. b) Justiça Eleitoral (art. 78, IV do CPP): igual ao Júri. c) Justiça Federal (art. 78, IV do CPP): se um crime de roubo ao Banco do Brasil é praticado e em sequência é praticado um crime de roubo a Caixa Econômica Federal, a competência para julgar os dois crimes será da Justiça Federal. d) Foro por Prerrogativa de Função: sua competência também se comunica aos co-autores e partícipes do crime praticado pelo detentor do cargo ou função que determina a competência por prerrogativa de função. e) Entre órgãos do mesmo grau ● Havendo mais de um juízo competente em uma esfera, prevalece a competência do local em que foi praticado o crime com pena mais grave (art. 78, II, “a”, CPP); ● Sendo crimes da mesma natureza com penas iguais, prevalece a competência do local em foram praticados mais crimes (art. 78, II, “b”, CPP); ● Sendo crimes de mesma gravidade ou em mesma quantidade nos diversos locais, a competência será definida pela prevenção (como no caso da Rayane), ou seja, será competente o juiz que decidir primeiro, ainda que na fase de Inquérito Policial. REGRAS DE SEPARAÇÃO OBRIGATÓRIA DA COMPETÊNCIA a) Justiça Comum x Justiça Militar (art. 79, I do CPP): na hipótese de crimes praticados com competência comum e militar, os processos serão separados; b) Crime x Ato Infracional (art. 79, II do CPP): havendo concurso de pessoas com menor envolvido, este será processado perante a Vara da Infância e Juventude, e os maiores de idade pela Vara Criminal Comum. c) Superveniência de Doença Mental (art. 79, § 1º do CPP): havendo pluralidade de réus em um processo em que um deles pretende sustentar que adveio alguma doença mental, que o torna inimputável ou semi-imputável, os processos obrigatoriamente serão separados. Para o réu que arguir insanidade, será instaurado um incidente de insanidade mental, que suspenderá o curso do processo crime em relação a ele; d) Citação por edital nos casos de concurso de pessoas em que o sujeito não comparece e nem constitui defensor (art. 79, § 2º): se em um processo há concurso de duas pessoas, um é citado pessoalmente e o outro por edital, e este último não se defender nem constituir advogado, o processo, em relação a ele, precisará ser suspenso, acarretando a separação obrigatória, pois não seria lógico suspender o processo também em relação ao que foi citado pessoalmente.
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