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Jaime Antônio Scheffler Sardi ESTUDOS DE ADMINISTRAÇÃO GERAL Ouro Preto/MG, 2008 S244e Sardi, Jaime Antônio Scheffler. Estudos de administração geral / Jaime Antônio Scheffler Sardi. - Ouro Preto : UFOP, 2007. 85p., il. ISBN: 978-85-98601-11-3 1. Administração. 2. Taylorismo. I. Título. II. Universidade Federal de Ouro Preto. CDU: 658(09) PRESIDENTE DA REPÚBLICA Luiz Inácio Lula da Silva MINISTRO DA EDUCAÇÃO Fernando Haddad REITOR DA UFOP João Luiz Martins VICE-REITOR DA UFOP Antenor Rodrigues Barbosa Junior DIRETOR DO CEAD Jaime Antônio Scheffler Sardi VICE-DIRETORA DO CEAD Marger da Conceição Ventura Viana COORDENAÇÃO DA UAB/UFOP Tania Rossi Garbin Gláucia Maria dos Santos Jorge COORDENAÇÃO DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO A DISTÂNCIA Jaime Antônio Scheffler Sardi COORDENAÇÃO ADMINISTRATIVA DO CEAD Iracilene Carvalho Ferreira REVISÃO Elinor de Oliveira Carvalho Maria Teresa Guimarães CAPA E LAYOUT Danilo França do Nascimento DIAGRAMAÇÃO Alexandre Pereira de Vasconcellos Catalogação: Sisbin/UFOP Copyright © 2007. Todos os direitos desta edição pertencem ao Centro de Educação Aberta e a Distância da Universidade Federal de Ouro Preto (CEAD/UFOP). Reprodução permitida desde que citada a fonte. SUMÁRIO PRIMEIRO CAPÍTULO - Panorama da Administração 05 SEGUNDO CAPÍTULO - Escola de Administração Científica Americanismo: Taylorismo-Fordismo 17 TERCEIRO CAPÍTULO - Escola de Relações Humanas e a Dinâmica dos Grupos 35 QUARTO CAPÍTULO - Teoria Geral dos Sistemas 47 QUINTO CAPÍTULO - Administração Por Objetivos: APO 65 SEXTO CAPÍTULO - Toyotismo-Ohnismo: Modelo Japonês de Administração 77 APRESENTAÇÃO Caro Estudante, Este fascículo mostra fatos referentes ao surgimento da Administra-Este fascículo mostra fatos referentes ao surgimento da Administra- ção como uma ciência, com status próprio. Inicialmente a Administração é simples improvisação, conjunto de técnicas que são repetidas porque a ob- servação dos fatos assim recomenda (Empirismo). Mas é com Taylor (Ad- ministração Científica) e Fayol (Teoria Clássica), no começo do século XX, que a Administração se torna uma ciência social aplicada. Para se ter uma visão geral, é apresentada a cronologia. Depois se acompanha a evolução da Administração, com a Teoria das Relações Humanas, a Teoria Geral dos Sistemas, a Administração por Objetivos e por fim a Teoria do Modelo Japo- nês, atualmente a mais empregada, o Toytismo-Ohnismo. Neste fascículo ainda não se estabelece uma divisão entre a Adminis- tração geral e a Administração especificamente voltada para o setor público. Além disso, os assuntos abordados não estão exauridos e, por essa razão, não dispensam leituras de aprofundamento. Ao final de cada tema, há cita- ções bibliográficas para tais leituras. É aconselhável fazê-las sempre que possível. Os principais livros e manuais de Administração citados são facil- mente encontrados. PRIMEIRO CAPÍTULO Panorama da Administração Estudos de Administração Geral Panorama da Administração Página 6 Administração é uma palavra que vem do latim. Segundo o Dicio- nário Saraiva (1993, p. 28), admistratio (de administrare) significa ajuda, ministério, assistência, função. Já o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2001, p. 86), entre outros significados , apresen- ta estes para administração: 1. ato, processo ou efeito de administrar 2. ato de reger, governar ou gerir negócios públicos ou particulares 2.1. modo como se rege, governa, gere tais negócios 3. ADM a direção, a chefia no organograma de um estabe- lecimento público ou particular 4. ADM conjunto de nor- mas e funções cujo objetivo é disciplinar os elementos de produção e submeter a produtividade a um controle de qualidade, para a obtenção de um resultado eficaz. Classicamente se considera a administração como um processo constituído de cinco funções principais destinadas a operacionalizar o funcionamento das organizações sociais. São elas: Planejamento - visão de futuro com vistas a traçar um programa de ação. Organização - constituição combinada dos elementos materiais e humanos da empresa: agrupamento e estruturação das ativida- des. Direção - comando e orientação para que se execute o que foi planejado e organizado. Coordenação - ligação, união, harmonia dos atos e esforços coletivos. Controle - verificação de que os eventos transcorreram, ou não, de acordo com as ordens dadas e o planejamento. Observe que a palavra organização, neste trabalho, é empregada para designar uma função administrativa, uma etapa da administração entre outras quatro. Por outro lado, a palavra organização é empregada para designar uma interação social de pessoas com vistas a atingir certos objetivos, quando duas ou mais pessoas se reúnem para cumprir um propó- sito. Denota qualquer empreendimento humano moldado intencio- nalmente para atingir uma finalidade. Daí a igreja, os exércitos, os 1. 2. 3. 4. 5. Estudos de Administração Geral Panorama da Administração Página 7 hospitais, as universidades, as lojas, os bancos, o casamento serem denominados organizações (sociais). Sendo assim, a administração constitui a forma pela qual se operam as organizações sociais. Schein (1982, p.12 ), do MIT - Massachussets Institute of Technolo- gy, define: Uma organização é a coordenação planejada das ati- vidades de uma série de pessoas para consecução de algum propósito ou objetivo comum, explícito, através da divisão de trabalho e função e através de uma hie- rarquia de autoridade e responsabilidade. Organizações sociais existem desde os primórdios da humanida- de, desde quando os homens se reuniam para caçar, planejando o instante do ataque, distribuindo entre si tarefas e instrumentos, de- legando comando para uma única pessoa e depois verificando se o processo da caça ocorreu dentro do previsto. Os babilônios, fenícios, caldeus, persas, chineses, assírios, sumé- rios, hebreus, gregos e romanos possuíam suas organizações. No período das Grandes Navegações, mais precisamente no Arsenal de Veneza, constituíram-se as primeiras organizações de sociedade anônima, feitas com o somatório de recursos de vários investidores. Mas foi com a Primeira Revolução Industrial, no século XVII, que passou a haver a multiplicação de organizações pelo mundo afora, especialmente nos EUA. Até o final da Guerra de Secessão Americana (1865), não existia a figura do administrador profissional, cargo específico em tempo inte- gral. Os negócios eram pequenos e conduzidos por famílias proprie- tárias do empreendimento. Na América rural, o dirigente manejava as questões econômicas, administrativas, operacionais e diretivas do negócio. O presidente muitas vezes era também tesoureiro, fi- nancista, comprador, vendedor e contratador. A partir da Segunda Revolução Industrial, por volta de 1880, é que começaram a surgir as grandes corporações multidepartamentais. O engenheiro industrial americano Frederick Winslow Taylor e o en- genheiro de minas francês Henry Fayol são considerados fundadores da moderna administração, como técnica e ciência social aplicada, Estudos de Administração Geral Panorama da Administração Página � na seqüência da Segunda Revolução Industrial. Antes deles, Carl von Clausewitz (1780-1831), general prussiano, ao escrever sobre a administração dos exércitos, antecipou algumas idéias que um século depois tomaram corpo com Taylor e Fayol. E o inglês Charles Babbage (1792-1871) desenvolveu pioneiramente um computador digital, idéia que na época foi considerada uma loucura. Trabalhou 40 anos no empreendimento mal sucedido, quase gastan- do sua fortuna pessoal. Observação: Livrosde Administração apontam Taylor como funda- dor da Escola Científica e Fayol como fundador da Escola Clássica: o primeiro focalizou a oficina e a tarefa, enquanto o segundo focali- zou a administração de uma forma abrangente, incluindo as funções comerciais, financeiras, contábeis, técnicas, de segurança, além, é claro, das administrativas. É importante ler as aulas específicas. Tam- bém é importante ler História da Administração, de João Bosco Lodi. Preste atenção nos cinco verbos (planejar, organizar, coordenar, co- mandar, controlar) e especialmente no fato de que planejar vem em primeiro lugar enquanto controlar vem por último. Antes de Taylor e Fayol não havia Escolas de Administração com teo- rias sistematizadas. Por essa razão, citam-se duas cronologias, uma anterior aos dois e outra posterior. Segundo os autores, alguém será um bom administrador na medida em que souber planejar, organizar e coordenar atividades no trabalho e comandar e controlar o desem- penho de seus subordinados. Taylor, estudado melhor no capítulo seguinte, publicou Princípio de Administração Científica, em 1911, enquanto Fayol, em 1916, pu- blicou Administração Geral e Industrial. Fayol defende, na obra citada, que a Administração é uma ciência e não apenas uma improvisação derivada da simples observação em- pírica de acontecimentos. E que a Administração, como ciência, deve ser estudada metodicamente nas escolas, visando a formar melhores administradores e desenvolvendo qualidades e aptidões pessoais. Estudos de Administração Geral Panorama da Administração Página � Fayol estabeleceu os seguintes princípios gerais da Administração: Divisão do trabalho - especialização para aumentar a eficiência. Autoridade - direito de dar ordens e poder de esperar obediên- cia. Responsabilidade, decorrente da autoridade: prerrogativa de mandar e ser obedecido, requerendo ser responsável pela emis- são de ordens e suas conseqüências. Disciplina - aplicação, energia, comportamento e respeito aos acordos estabelecidos, dependendo da obediência. Unidade de comando - autoridade única, para que cada empre- gado receba ordens de apenas um superior. Unidade de direção - existência de um comando e um plano para cada grupo de atividades que tenham objetivo comum. Subordinação dos interesses individuais aos interesses ge- rais - preponderância dos interesses gerais sobre os interesses particulares. Remuneração do pessoal - satisfação justa e garantida para os empregados e para a organização em termos de retribuição. Centralização - concentração da autoridade no topo da hierar- quia da organização. Cadeia escalar - linha de autoridade que vai do escalão mais alto ao mais baixo, sendo o princípio do comando. Ordem - estabelecimento de um lugar para cada coisa e de cada coisa em seu lugar. Eqüidade - amabilidade e justiça para alcançar lealdade do pes- soal. Estabilidade e permanência do pessoal - redução da rotativida- de, que tem um impacto negativo sobre a eficiência da empresa, pois, quanto mais tempo uma pessoa permanecer num cargo, tanto melhor. Iniciativa - capacidade de visualizar um plano e garantir seu êxi- to. Espírito de equipe - harmonia e união entre as pessoas, como 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. �. �. 10. 11. 12. 13. 14. Estudos de Administração Geral Panorama da Administração Página 10 grandes forças para a organização. Henry Fayol (1841-1925) nasceu em Constantinopla (na atual Tur- quia) e formou-se em Engenharia de Minas aos 19 anos, entrando depois em uma empresa metalúrgica e carbonífera, onde fez sua carreira, a Compagnie Commantry Fourchambault et Decazeville. Aos 25 anos foi gerente das minas e aos 47 anos tornou-se gerente geral. Em 1918 entregou a empresa ao sucessor, depois de tirá-la de um quadro pré-falimentar. A mais conhecida contribuição de Fayol é a proposição das seis fun- ções essenciais da empresa, citadas a seguir. Funções técnicas: ações relacionadas com a produção de bens ou serviços da empresa. Funções comerciais: compra, venda, permuta. Funções financeiras: busca de capitais e a sua gerência. Funções de segurança: proteção e preservação dos bens mate- riais e das pessoas. Funções contábeis: ações que dizem respeito a registros, inven- tários, balanços, custos e estatísticas. Funções administrativas: relacionadas com a integração, na cúpula, das outras cinco funções, coordenando-as e sincronizan- do-as. Dirigir é assegurar a marcha dessas seis funções essenciais, porém as administrativas estão acima das demais e englobam os cinco ele- mentos do ato de administrar, que, segundo o próprio Fayol, (1960, p. 72), são: Prever: visualizar o futuro e traçar programas de ação. Organizar: combinar o duplo lado, material e social, da empresa. Comandar: dirigir e orientar o pessoal. Coordenar: ligar, unir, harmonizar todos os atos e esforços coleti- vos. Controlar: verificar se tudo ocorre de acordo com o estabelecido. 1. 2. 3. 4. 5. 6. 1. 2. 3. 4. 5. Estudos de Administração Geral Panorama da Administração Página 11 É possível entender melhor as funções essenciais da empresa e o ato de administrar por esta figura: Prever Organizar Funções administrativas Comandar Funções técnicas Coordenar Funções comerciais Controlar Funções financeiras Funções contábeis Funções de segurança Figura 1. Apresentação das Funções e dos Elementos do Ato de Administrar, se- gundo Fayol. Apresentado por Chiavenato (1983, p. 72). Para melhor compreensão do surgimento histórico da Administração, leia os quadros que se seguem: Estudos de Administração Geral Panorama da Administração Página 12 1. PRIMÓRDIOS DA ADMINISTRAÇÃO: DOS EGÍPCIOS ATÉ TAYLOR E FAYOL ÉPOCA PROTAGONIS-TAS EVENTOS 6000 a. C. Egípcios Reconhecimento da necessidade de planejar, organizar, controlar. 2600 a. C. Egípcios Descentralização na organização. 2000 a. C. Egípcios Ordens escritas, consultorias de gestão. 1800 a. C. Hamurabi (Babi-lônia) Uso de controle escrito e testemunhal, estabelecimento de salário míni- no, reconhecimento de que a responsabilidade não pode ser transferida. 1491 a. C. Hebreus Conceitos de organização, princípio escalar, princípio da exceção. 600 a. C. Nabucodonosor Controle de produção e incentivos salariais. 500 a. C. Mencius (China) Reconhecimento da necessidade de sistemas e padrões. 400 a. C. Sócrates (Grécia) Enunciado da universalidade da administração. 400 a. C. Ciro (Pérsia) Reconhecimento da necessidade de relações humanas, uso do estudo de movimentos, arranjo físico e manuseio de materiais. 400 a. C. Platão (Grécia) Enunciado do princípio da especialização. 175 a. C. Cato (Roma) Uso de descrições de funções. 20 Jesus (Judéia) Unidade de comando, regulamentos, relações humanas. 284 Dioclécio (Roma) Delegação de autoridade. 1436 Arsenal de Veneza Contabilidade de custos, verificações e balanços para controle, numera- ção de inventários, utilização da técnica da linha de montagem, empre- go da Administração de Pessoal, padronização. 1525 Maquiavel (Itália) Princípio do consenso de massa, da coesão na organização, enunciado das qualidades de liderança, descrição de táticas políticas. 1767 James Stuart (Inglaterra) Teoria da fonte da autoridade, impacto da automação, diferenciação entre gerentes e trabalhadores baseada nas vantagens da especializa- ção. 1776 Adam Smith (Inglaterra) Aplicação do princípio de especialização, controle. 1779 Eli Whitney (EUA) Método científico, contabilidade de custos, controle de qualidade, administração ampliada. 1800 James Watt e Mathew Boulton (Inglaterra) Procedimentos padronizados de operação, tempo-padrão, gratificação natalina, seguro mútuo e auditoria. 1810 Robert Owen (Inglaterra) Gerência de pessoal,treinamento, moradia operária. 1832 Charles Babbage (Inglaterra) Ênfase na abordagem científica e na especialização, divisão do traba- lho, estudo de tempos e movimentos, contabilidade de custos, efeitos da cor na eficiência do operário. 1856 Daniel McCallum (EUA) Uso de organogramas para representar a estrutura da organização, aplicação da administração sistemática em ferrovias. 1881 Joseph Wharton (EUA) Criação dos primeiros cursos de nível colegial para o estudo da admi- nistração. 1886 Hery Metcalfe (EUA) Administração como arte e como ciência. 1900 Taylor (EUA) Fundação da Primeira Escola de Administração Científica. Quadro 1. Principais Eventos dos Primórdios da Administração apresentado por Estudos de Administração Geral Panorama da Administração Página 13 Chiovenato (1983, p. 19), com adaptação. 2. CRONOLOGIA DAS ESCOLAS DE ADMINISTRAÇÃO - SÉCULO XX NOME ÊNFASE ANO FUNDADORES ENFOQUE Escola de Administração Científica Nas tarefas 1903 Taylor e Gilbreth - EUA Racionalização do tra- balho no mundo opera- cional Teoria da Burocracia Na estrutura da organiza- ção 1909 Max Weber - Alema-nha Organização formal bu- rocrática Teoria Clássica Na estrutura 1916 Henry Fayol - França Funções do administra-dor Escola das Relações Hu- manas Nas pessoas 1932 Elton Mayo e Kurt Lewin – EUA Organização informal, dinâmica de grupo, co- municação Teoria das Decisões Nas pessoas 1947 Simon - EUA Tomada de decisões Teoria dos Sistemas No ambiente 1951 Bertalanffy– Alema- nha Kast e Rosenzweig & Katz e Kahn -EUA Abordagem de sistema aberto Teoria dos Sistemas Sociotécnicos Nas pessoas e na tecno- logia 1953 Emery e Trist Integração homem-tec-nologia Teoria Neoclássica ou Administração por Obje- tivos – APO No ecletis- mo: tarefas, pessoas e estrutura 1954 Peter Drucker, Koontz e O’Donnell, Newman – EUA Objetivos Escola Comportamental ou Behaviorista Nas pessoas 1957 McGregor, Likert, Argyris – EUA Motivação humana Escola do Desenvolvi- mento Organizacional Nas pessoas 1962 Bennis, Beckhard, Schein – EUA Mudança organizacional Teoria da contingência Na tecno-logia 1972 Woodward, Lawrence, Lorsch – EUA Imperativo tecnológico Teoria Z – Ohnismo-Toyotismo Nas pessoas 1973 Eiji Toyoda, Taiichi Ohno William Ouchi Just-in-time, produção enxuta Quadro 2. Cronologia das Escolas de Administração. 3. PRINCÍPIOS ORGANIZACIONAIS O administrador deve considerar certas normas para desempenhar, de forma satisfatória, as funções de planejar, organizar, dirigir e con- trolar. Com base na Idéia de Normas e Regras, surgem os Princípios da Administração descritos a seguir: Estudos de Administração Geral Panorama da Administração Página 14 1º. - Princípio da Especialização: A divisão do trabalho e a espe- cialização da pessoas incrementam a quantidade e qualidade do trabalho 2º. - Princípio da Definição Funcional: O trabalho de cada pessoa, a atividade de cada órgão e as relações de autoridade e responsabili- dade devem ser claramente definidas por escrito. 3º. - Princípio da Autoridade e Responsabilidade: Deve haver equilíbrio entre a autoridade e a responsabilidade atribuídas a cada cargo ou órgão na empresa. Autoridade é o poder, decorrente do car- go ocupado, de dar ordens e exigir obediência. Responsabilidade é o dever de prestar contas das decisões tomadas e suas conseqüências. 4. AS CINCO VARIÁVEIS QUE DESAFIAM O ADMINISTRADOR Na sua realidade cotidiana o administrador terá que lidar com estas variáveis, que são interdependentes: ORGANIZAÇÃO (Empresa) Tarefas Estrutura Ambiente Tecnologia Pessoas Figura 2. Representação das cinco variáveis báscias da Teoria Geral da Adminis- tração apresentada por Chiavenato (1987, p. 13). 5. AS TRÊS HABILIDADES DO ADMINISTRADOR Habilidade Técnica: É instrumental, ferramental. Consiste em ser capaz de utilizar métodos, equipamentos, conhecimentos e técnicas aprendidas na escola ou em experiências pessoais. Habilidade Humana: É a capacidade de compreender as motiva- ções, atitudes, valores, crenças e ideologia das pessoas, para exer- Estudos de Administração Geral Panorama da Administração Página 15 cer liderança sobre elas, motivando-as para o trabalho organizacio- nal, que é sempre coletivo. Habilidade Conceitual: É a mais crucial das habilidades. Consiste na capacidade de diagnosticar situações, propor combinações mais adequadas de pessoas e tecnologia, pensar soluções eficazes e ajustar os objetivos organizacionais com os objetivos pessoais. É importante, pois, analisar este quadro: CONCEITUAISHUMANAS TÉCNICAS Habilidades necessáriasNíveis administrativos Alta direção Administração de nível intermediário Administração de nível de supervisão Figura 3. Habilidades Administrativas Necessárias em Vários Níveis da Organiza- ção Comercial ou Industrial, adaptado de Chiavenato (1987, p. 13). Atividades Quais os argumentos que Henry Fayol apresentava para justificar a importância de se ensinar administração em todos os níveis de en- sino? Quais as características que diferenciam as capacidades técnicas das capacidades administrativas, segundo Fayol? Por que a obra de Fayol Administração Industrial e Geral é considera- da uma “escola de chefes”? Pesquise no livro Administração Industrial e Geral, de Fayol. Estudos de Administração Geral Panorama da Administração Página 16 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CHIAVENATO, Idalberto. Teoria Geral da Administração. 3 ed. São Paulo: McGraw-Fill, 1987. CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à Teoria Geral da Administração. S. Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1983. FAYOL, Henry. Administração Geral e Industrial. S. Paulo: Atlas, 1960. HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. Khandwalla, Prandip N. The Design of Administration. New York : Harcourt Brace Jonanovick, 1977. LODI, João Bosco. História da Administração. S. Paulo: Pioneira, 1973. MINTZBERG,Henry. Criando Organizações Eficazes: Estruturas em Cinco Configurações. São Paulo: Atlas, 2003. OUCHI, William. Teoria Z: como as empresas podem enfrentar o de- safio japonês. S. Paulo: Nobel, 1987. RICHERS, Raimary. O que é Empresa. S. Paulo: Círculo do Livro, s.d. SCHEIN, Edgar H. Psicologia Organizacional. Rio de Janeiro: Prenti- ce-Hall do Brasil, 1982. TAYLOR, Winslow F. Princípios de Administração Científica. S. Paulo: Atlas, 1960. THORSTEIN, Veblen. Teoria da Empresa Industrial. Rio de Janeiro: Globo, 1966. WOODWARD, Joan. Industrial Organization: Theory and Practice. London: Oxford University Press, 1968. SEGUNDO CAPÍTULO Escola de Administração Científica Americanismo: Taylorismo-Fordismo APRESENTAÇÃO Este capítulo trata dos fatos e acontecimentos relativos à Segunda Revolução Industrial, na América do Norte, quando o engenheiro Frederick Taylor e o empresário Henry Ford deram início à especialização no trabalho e à produção em massa, permitindo à humanidade multiplicar em algumas vezes a sua capacidade de produzir bens e serviços. Em vista disso, considera que a Administração se consolida como ci- ência a partir desses acontecimentos. Estudos de Administração Geral Escola de Adminis- tração Científica Americanismo: Taylorismo-Fordismo Página 1� O tema é, em geral, caracterizado como Escola de Administração Científica, considerada a primeira escola ou conjunto de conhecimen- tos sistematizados sobre Administração. Ela, cujos principais protago- nistas são Taylor e Ford, surgiu no contexto da Segunda Revolução Industrial, nos Estados Unidos da América do Norte. É por isso que este capítulo também pode ser chamado de “Americanismo: Tayloris- mo-Fordismo”. Este capítulo aborda: Ideologiae formação dos EUA, Taylorismo e Fordismo. Ideologia e Formação dos EUA A seguir apresentam-se, em ordem cronológica, fatos e pessoas que devem ser lembrados: 1. A Nova Inglaterra teve ocupação tardia. A pobreza da região em matéria de minerais não despertou interesse. A Coroa Inglesa prefe- ria ilhotas no Caribe onde fosse possível produzir açúcar, razão pela qual o território da América do Norte ficou à própria sorte. Poucos se interessaram em povoá-lo. Em 1585, Walter Raleigh, preposto da rainha Elisabete I, fundou a colônia de Virgínia, com uma companhia comercial aurífera. Como o ouro não foi encontrado, a colônia ficou relegada ao abandono. 2. Em 1620, a bordo do navio Mayflower, puritanos calvinistas ingle- ses, fugidos de perseguição religiosa, depois de uma temporada na Holanda, chegaram, em 11 de novembro, para fundar uma nova pá- tria, onde pudessem trabalhar e adorar o seu Deus em paz e liberda- de, em Cabo Cod, Plymouth, Massachusetts. Conta a História Ameri- cana que indescritíveis dificuldades não desanimaram os peregrinos, Pilgrims: tinham vindo para fazer a América, para nunca mais voltar. Eram indesejados no Velho Mundo, vieram ser gente na América. Fundaram a Nova Inglaterra, Nova Terra Prometida, no emblemático sentido bíblico, que reuniu Treze Colônias da Costa Leste. 3. O sociólogo alemão Max Weber diz que a força do capitalismo na América do Norte está baseada nas inúmeras seitas religiosas pro- testantes que ali se estabeleceram e pulularam. Disciplina religiosa, fraternidade e purificação pelo trabalho, condenação aos prazeres da carne e ao luxo, ascetismo, poupança, moral sexual rígida e riqueza Estudos de Administração Geral Escola de Adminis- tração Científica Americanismo: Taylorismo-Fordismo Página 20 como um fim em si mesmo, de fato, estão presentes na cultura ame- ricana até hoje. 4. Ao Sul, Companhias de Exploração Agrícola, na Região da Geór- gia, importaram negros para o trabalho escravo nas plantations de tabaco, amendoim, algodão e cana-de-açúcar. Uma mistura de cân- ticos religiosos protestantes ensinados aos negros, os spirituals, com os ritmos africanos, denominados blues, derivaram no jazz e no rock, hoje marcas da cultura americana. 5. A Independência das Treze Colônias da Nova Inglaterra, embrião dos EUA, veio em 1776, numa revolta contra a metrópole,que que- ria repassar aos colonos os custos da Guerra dos Sete Anos (Ingla- terra contra França). O pretexto foi a Lei do Selo, que fez afundar um carregamento de chá em Boston. 6. Na época, idéias iluministas (como as de Voltaire e outros) se dis- seminavam, defendendo que a Ciência salvaria a Humanidade das suas dificuldades. 7. A Guerra de Independência foi liderada pelo proprietário rural George Washington. Em 04 de julho de 1776, Thomas Jefferson, terceiro presidente, em Filadélfia, apresentou a Declaração de Inde- pendência, por ele redigida. Embora hoje o texto pareça palavreado comum, diz respeito ao surgimento das primeiras instituições de governos eleitos que permanecem. Até hoje os EUA se consideram guardiões da democracia (burguesa evidentemente) e da liberdade no mundo moderno, atribuindo-se o direito de intervir em outros paí- ses. Diz o texto da Declaração: Todos os homens nascem iguais; o Criador os dotou de certos direitos inalienáveis, entre os quais a vida, a liberdade e a procura da felicidade. (...) Para garantir esses direitos os homens instituem entre si governos, cujo justo poder emana do consentimento dos governa- dos. (...) Se um governo, seja qual for a sua forma, não reconhecer esses fins o povo tem o direito de modificá- lo ou de aboli-lo e de instituir um novo governo... 8. Os EUA, pelo Tratado de Versalhes de 1783, foram reconhecidos como Estado pela França, que mandou apoio aos colonos. Estudos de Administração Geral Escola de Adminis- tração Científica Americanismo: Taylorismo-Fordismo Página 21 9. Para o historiador francês Fernad Braudel, oportunidade, junto com o pensamento individualista e competitivo, forma a base do ide- ário americano. (Cáceres, 1992, p.88) 10. No filme “E o Vento Levou”, considerado o mais visto de todos os tempos e baseado no romance de Margareth Mitchell, o territó- rio vasto e a ausência de projetos, que ultrapassam o pragmatismo do imediato, é a marca da civilização americana. A personagem do filme, Scarlett O’Hara, faminta, maltrapilha e despenteada na terra desolada pela Guerra de Secessão, depois de assistir à morte, por exaustão, de seu cavalo, dá uma dentada num tubérculo que arran- ca do chão. Em seguida soluça, tosse e jura que nunca mais passará fome, nem que para isso tenha que “mentir, roubar, matar”. O outro protagonista é Rhet Buttler, que se aproveita da guerra para ficar milionário. (Folha de São Paulo, 1995, p.33) 11. O sociólogo Max Weber, em A Ética protestante e o Espírito do Capitalismo, (1993,p.30) analisa o pragmatismo utilitarista num texto de Benjamim Franklin (1706-90), outro herói da Independência Americana: Lembra-te que tempo é dinheiro (...) Crédito é dinheiro (....) o bom pagador é dono da bolsa alheia (....) é de natureza prolífica, procriativa (...) aquele que paga em dia seus compromissos, pode a qualquer momento, levantar tanto dinheiro quanto seus amigos possam dis- por (...) O som do teu martelo às cinco da manhã, ou às oito da noite, ouvido por um credor o fará conceder-te seis meses a mais de crédito (...) ele procurará por seu dinheiro no dia seguinte, se te vir numa mesa de bilhar ou numa taverna. 12. Ferdinand Kurnberger, em Retrato da Cultura Americana, fala da confissão de fé do yankee centrada numa filosofia da avareza em que o aumento do capital é um fim em si mesmo. “Eles arrancam sebo do gado e dinheiro dos homens”. (Weber, 1993, p.30) 13. Os EUA multiplicaram algumas vezes o território inicial da Nova Inglaterra por compras à Espanha, ao México, à França,à Rússia ou mesmo pelas armas. A Guerra de Secessão resultou numa unificação pelas armas. Estudos de Administração Geral Escola de Adminis- tração Científica Americanismo: Taylorismo-Fordismo Página 22 14. É comum ouvir que os pilgrims - peregrinos puritanos calvinistas que vieram fundar os EUA - deixaram importantíssimos legados à sociedade contemporânea, como a moderna Democracia e a Esco- la Pública Gratuita, Universal e Obrigatória. De fato os peregrinos - que vieram de monarquias européias - na nova terra estabelece- ram governos eleitos entre eles mesmos e obrigaram, sob pena de prisão, os pais a matricular os filhos em escolas públicas. O Colégio de Harvard, hoje Universidade de Harvard, por exemplo, foi a primei- ra escola obrigatória. Por outro lado, as duas principais economias do planeta depois dos Estados Unidos - Japão e Alemanha Federal - completamente arruinadas pela Segunda Guerra Mundial, tiveram constituições redigidas sob inspiração americana. 15. O pensador marxista italiano Gramsci (1984, p. 381) diz que a prosperidade da América vem do fato de que começou como um país de trabalhadores, livre das amarras do tradicionalismo estanque e dos privilégios de castas existentes no Velho Mundo. Até os milioná- rios foram trabalhadores. A não-existência dessas sedimentações parasitárias, deixadas pelos períodos históricos passados, permitiu uma base sadia para a indústria, e especialmente para o comércio, e permite cada vez mais a redução da fun- ção econômica representada pelos transportes e pelo comércio a uma real atividade subalterna de produção, ou melhor, a tentativa de incorporar estas atividades à própria atividade produtiva. O Contexto da Administração Científica e a Segunda Revolução Industrial A Segunda Revolução Industrial é marcada pelo início do uso do aço (1856), do dínamo (1873), do motor de combustão interna deDaim- ler-Benz (1873), do telefone (1876), e da substituição do vapor por eletricidade e petróleo. A Segunda Revolução Industrial é contemporânea das grandes migrações da Europa para os EUA. Entre 1870 e 1915 chegaram à América do Norte mais de 45 milhões de trabalhadores desqualifi- cados ou pouco profissionalizados. É também contemporânea da consolidação, nos EUA, da vitória do Norte - industrial e abolicionista Estudos de Administração Geral Escola de Adminis- tração Científica Americanismo: Taylorismo-Fordismo Página 23 - sobre o Sul - agrário e escravagista. O fato produziu, entre outras conseqüências, a liberação da mão-de-obra escrava para o trabalho assalariado. Havia, portanto, uma grande massa de mão-de-obra disponível: oriunda da Europa e do fim da escravidão. O desafio era conseguir absorver tantos trabalhadores na indústria. Taylor e Ford conseguiram habilitar tais trabalhadores desqualifica- dos para a indústria, conforme será visto. Durante a Segunda Revolução Industrial, colonialismo, significando repartição de mercados mundiais de matéria-prima e consumo, era considerado legítimo, moralmente aceitável. Tal fato colaborou para a proliferação de empresas de caráter mundial. Houve também explosão na produção agrícola graças à mecaniza- ção. Exemplos: Surgimento da primeira irrigação em grande escala no Ocidente, operada pelos mórmons nas terras áridas de Utah, liderados pelo reverendo Brigham Young; Aprovação da Lei Morril de concessão das terras devolutas da União Federal para que os Estados constituíssem universidades, preferencialmente para faculdades agrícolas e de pecuária. Criação da Colhedeira McCormick, ampliando sobremaneira a produção. Por outro lado, ocorreu a construção de estradas-de-ferro e de roda- gem em ritmo veloz, sem precedentes na História, permitindo residir longe das localidades onde os alimentos eram produzidos (surgimen- to das cidades industriais). Na época, defenderam-se postulados do liberalismo, laissez-faire, e do darwinismo social. Trata-se de ideologia que valoriza a iniciativa e o empreendimento privados, portanto do papel do empresário. Liberalismo quer dizer liberdade dos particulares, para empreender e lucrar, com o mínimo possível de controle do Estado. Laissez-faire quer dizer, literalmente, deixa fazer, ou seja, deixar passar, deixar que os particulares contratem e lucrem. Já darwinismo social é uma • • • Estudos de Administração Geral Escola de Adminis- tração Científica Americanismo: Taylorismo-Fordismo Página 24 alusão de prestígio a quem é mais esperto, mais ousado, mais com- petente para ganhar dinheiro. Daí surgirem as grandes e legendárias fortunas americanas, como Rockfeller e a Standard Oil, consideradas símbolo máximo de rique- za. No setor financeiro apareceram Morgan, Baker, Stillman, Schiff, Warburg, Guggenheim, Ryan. A Segunda Revolução Industrial foi marcada pelo surgimento das grandes cidades industriais, caracterizadas por: 1º. possibilidade de residir longe do lugar onde os alimentos eram produzidos (graças às facilidades dos transportes incrementados pelo surgimento do petró- leo e aço); 2º. aglomeração da mão-de-obra; 3º. produção em massa de automóveis, que conformaram o traçado das cidades; 4º. constru- ção de prédios verticais como resposta à crescente valorização de terrenos (graças ao aço); 5º. surgimento de artefatos domésticos em profusão (a comercialização da primeira geladeira doméstica, por exemplo, ocorreu em 1913, em Chicago). Atividades Prezado aluno: Após a leitura da síntese apresentada, pesquise, co- mente, explique: Símbolos Marcantes da Civilização Norte-Americana: The Pilgrims, May- flower, self-made-man, WASP, Filadelfia Freedom, Tio Patinhas, Rock, fast-food, puritanismo, cowboy, pie, Hollywood, racismo versus pluralismo, Route 66, forte presença do judaismo, Liberty Statue, Woodstock, 68 Lost Generation, Empire State Building, The Twin Towers, NASA, The Penta- gon, The White House, Dollar-Bretton-Woods, Harvard University, MIT, BIRD, IMF, Disney World, B52, Enola-Gay, James Dean, Gone by the Wind, Microsoft, Palo Alto-Silicon Valley, as Cias. de Atlanta, GA, Coca- Cola , CNN, Green-Card, Clinton, Bush. Taylorismo Frederick Winslow Taylor (1856-1915) é descendente de uma família tradicional, da qual alguns membros chegaram à América no legen- dário Mayflower. Era puritano, portanto considerava que o sucesso profissional é uma demonstração da graça divina, sinal de eleição, que o homem se purifica pelo trabalho, que a caridade e o amor ao Estudos de Administração Geral Escola de Adminis- tração Científica Americanismo: Taylorismo-Fordismo Página 25 próximo se dão pelo trabalho, que Deus deseja o progresso material dos homens, que a riqueza é uma forma de antecipar as delícias do paraíso eterno. Considera-se que certas idéias se materializam quando é chegado o tempo. Assim, Taylor pode ser considerado o homem que converteu idéias em palavras e estas em ações, condensando o ideário de sua época em matéria de engenharia de produção. Nasceu Quaker (cuja dieta alimentar é baseada na aveia), em Germantown, Filadélfia, em 20 de março de 1856, de família próspera. Mas começou por baixo, self-made-man (homem que se constrói com esforço pessoal), se- guindo a tradição segundo a qual todo trabalho é digno. Como aprendiz na Midvale Steel Works, foi maquinista, torneiro, con- tramestre e depois chefe dos tornos. Formou-se em engenharia pelo Stevens Institute em 1885. Dobrou a produtividade da Midvale, estu- dando sistematicamente tempos e movimentos. Registrou cinqüenta patentes de inventos: máquinas, ferramentas e processos de traba- lho. Entretanto não se tornou advogado por um problema nos olhos. As primeiras apresentações de trabalhos de Taylor foram feitas à American Society of Mechanical Engineers, em que ingressou em 1895, e intitulavam-se A Note on Belting e A Piece State System, (respectivamente Funcionamento das Correias e Sistema de Pro- dução por Peça). Em 1896, Taylor entrou para a Bethlehem Steel Works. Reorganizou- a completamente e alcançou grande êxito e notoriedade. Com ape- nas 140 homens, logrou executar o trabalho que antes necessitava de 600. Na referida empresa, certa feita, quando o esgoto, sob o galpão prin- cipal da fábrica, ficou entupido, o próprio Taylor, já chefe, entrou para desentupi-lo. O presidente do Conselho de Administração surpreen- deu-se com a história e contou-a aos demais conselheiros. Em 1903, tendo recebido participação por seus inventos, deixou de trabalhar com remuneração: “Já não posso permitir-me trabalhar por dinheiro”. Em 1906, foi eleito presidente da American Association of Mechanical Engineers e, no mesmo ano, publicou The Art of Cutting Metals (A Arte de Cortar Metais). Estudos de Administração Geral Escola de Adminis- tração Científica Americanismo: Taylorismo-Fordismo Página 26 Publicou, em 1911, a obra clássica Principles of Scientific Mana- gement (Princípios de Administração Científica), tornando-se renomado no mundo da administração. O primeiro parágrafo diz o seguinte: “O presidente Roosevelt, dirigindo-se aos governadores na Casa Branca, observou profeticamente que a conservação de nossos recursos naturais é apenas uma fase preliminar do problema mais amplo da eficiência nacional”. Pode-se sintetizar o legado de Taylor em: Decomposição, simpli- ficação e sistematização do trabalho. Utilização do saber fazer dos operários, colocando-o à disposição da gerência ou direção da empresa. Propósito de eliminar desperdícios, elevando níveis de produtividade pela aplicação de métodos e técnicas de en- genharia industrial ou de produção. Portanto a palavra- chave é eficiência. Certos autores, como Harry Braverman, em Trabalho e CapitalMo- nopolista, todavia, consideram Taylor um neurótico: Em sua constituição psíquica, Taylor era um exemplo exagerado de personalidade obsessivo-compulsiva: desde a mocidade ele contava seus passos, media o tempo de suas várias atividades e analisava seus movi- mentos à procura de ‘eficiência’. Mesmo depois de ficar importante e famoso tinha algo de engraçado no aspec- to, e quando aparecia na oficina despertava sorrisos. O retrato de sua personalidade, que surge de um estudo recente feito por Sudhir Kakar, justifica chamá-lo, no mínimo, de maníaco neurótico. Esses traços ajustam- se a ele perfeitamente por seu papel como profeta da moderna gerência capitalista, visto que o que é neuróti- co no indivíduo, no capitalismo é normal e socialmente desejável para o funcionamento da sociedade. (1980, p.87) As principais idéias de Taylor: 1. Conceito de Homo Economicus: o homem trabalha por necessida- de de ganhar dinheiro já que tem medo de passar fome, e, natural- mente preguiçoso, precisa de punição e recompensa para se motivar. Estudos de Administração Geral Escola de Adminis- tração Científica Americanismo: Taylorismo-Fordismo Página 27 2. Trabalho e Capital em convergência com os seus interesses: enquanto um faz baixar os custos de produção, o outro faz sempre aumentar os salários. Afirma o autor: “O principal objetivo da adminis- tração é assegurar o máximo de prosperidade ao patrão e, ao mes- mo tempo, o máximo de prosperidade ao empregado”. Essa idéia favorece o sindicalismo conciliatório (pelego). 3. Sistematização e aplicabilidade funcional da idéia de que, quanto mais dividido o trabalho, maior a sua eficiência: há que se estudar o trabalho dos operários, decompô-lo em seus movimentos simples e cronometrá-lo, para, após uma análise cuidadosa, eliminar os movimentos inúteis e aperfeiçoar os movimentos úteis. (Motion time Study - Estudo de Tempos e Movimentos1). 4. Crença na produção padrão: há sempre uma única maneira certa de encaminhar certa execução. 5. Controle e supervisão cerradas sobre os operários: o homem é naturalmente preguiçoso e tem que ser controlado. 6. Defesa da supervisão funcional: obediência a três chefias simulta- neamente, de manutenção, de produção e de qualidade. 7. Teorização da Lei da Fadiga: existe uma relação inversa entre a carga levantada e o tempo em que é suportada. 8. Defesa deste princípio: há o homem certo para o lugar certo (hoje é uma visão superada já que as pessoas não são vistas como algo estático, mas então sempre se modificando, aprendendo). Assim, procurava na empresa o operário padrão, de melhor desempenho entre todos, e estabelecia seu rendimento como o mínimo exigido de quem fosse contratado dali em diante. Ex. O homem-boi Schmidt. Quanto à seleção científica dos homens, é fato que nessa turma de 75 carregadores apenas cerca de um homem em oito era fisicamente capaz de manejar 47,5 toneladas por dia (...) não era em sentido algum supe- rior aos demais que trabalhavam na turma. Aconteceu apenas que ele era do tipo do boi – espécime que não é tão raro na humanidade, nem tão difícil de encon- trar que seja demasiado caro. Pelo contrário, era um homem tão imbecil que não se prestava à maioria dos 1. TAYLOR, Frederick Winslow. TAYLOR, Frederick Winslow. Princípios de Administração Científica, 7ª ed. São Paulo: Atlas, 1982. Estudos de Administração Geral Escola de Adminis- tração Científica Americanismo: Taylorismo-Fordismo Página 2� tipos de trabalho. (TAYLOR, Frederick Winslow, 1982, p. 68). 9. Defesa do desenho de cargos e tarefas: fica delineada a rotina do trabalho, ou seja, Análise e Descrição de Cargos, portanto seleção científica dos homens. Análise-perfil exigido do candidato; Descrição- enumeração minuciosa das tarefas. 10. Padronização de ferramentas e instrumentos com vistas a torná- los mais eficientes. 11. Incentivos salariais e prêmios por produção: além de alcançar o tempo-padrão mínimo estabelecido pela gerência, o operário deve suplantá-lo, pelo que recebe como adicionais. O que é chamado de Taylorismo teve alcance mundial, até na União Soviética, onde Lenin declarou tratar-se da libertação do homem do reino da necessidade para o reino da liberdade. Na Alemanha nazis- ta, o Taylorismo entrou sob a campanha Schoenheit der Albeit, embe- lezamento do trabalho, limpeza do descontentamento. Na Itália, pelo dopolavoro, ou trabalho depois, com atividades recreativas organiza- das pela empresa. Mussolini: “A Itália é uma nação operária. Somos todos soldados do trabalho.” Caro aluno, você pode refletir em que medida a taylorização, iniciada no mundo do trabalho, passou para a escola (disciplinas), a socieda- de, e até mesmo para o tempo livre, tempo do não-trabalho. Um importante seguidor de Taylor, que aperfeiçoou suas teses, foi Frank Gilbreth. Inventou os Therbligs, adaptando o nome de trás para frente, que consistia nos dezessete movimentos elementares encon- tráveis em qualquer tarefa: 1. Procurar; 2. Escolher; 3. Pegar; 4. Transportar vazio; 5. Transpor- tar cheio; 6. Posicionar; 7. Pré-posicionar; 8. Unir ou amontoar; 9. Separar; 10. Utiliza; 11. Soltar a carga; 12. Inspecionar; 13. Segurar; 14. Esperar inevitavelmente; 15. Espe- rar quando inevitável; 16. Repousar; 17. Planejar. Estudos de Administração Geral Escola de Adminis- tração Científica Americanismo: Taylorismo-Fordismo Página 2� Críticas ao Taylorismo O homem é apêndice da máquina: a super-especialização robotiza o operário. O trabalhador perde o controle sobre o ritmo e processos do trabalho. O saber fazer é confiscado, expropriado, exclusivamente em favor do capital. (Coriat, 1�76, p.�4) É dada ênfase às tarefas, ao nível operacional, à oficina, ignorando-se o sistema organizacional como um todo. Aborda-se o sistema fechado, desprezando as influências do meio am- biente sobre as organizações. Verifica-se abordagem prescritiva e normativa ao invés de explicação do funcionamento da organização. Apresentam-se receitas prontas para outras situações e circunstâncias de trabalho. • • • • • Fordismo Henry Ford (1863-1947) começou a vida como mecânico e se tornou engenheiro chefe de fábrica. Idealizou e projetou um modelo de carro autopropelido, em linha de montagem. Fundou a Ford Motor Company, em Detroit, com financiamentos. Foi pioneiro em baratear o custo de fabricação do automóvel, com o Modelo T. Em 1926, tinha 88 unidades de produção, empregava 150 mil pessoas, tendo fabricado, no mesmo ano, cerca de 2 milhões de automóveis. É considerado pai do marketing, por ter em vista que, para haver produção de massa, tem que haver consumo de massa. Ergueu uma das maiores fortunas da América, na tradição self-made-man. Ford fez algumas revoluções na sua época: 1ª - Fabricou um modelo popular de automóvel, inaugurando o consumo de massa para o segmento. 2ª - Criou estratégias de marketing, financiamentos diretos ao consumidor final e redes de assistência técnica. 3ª- Passou a remunerar os empregados com USD 5,00 por dia de oito horas, enquanto o mercado pagava USD 2,00. 4ª - Dividiu com os empregados, em 1914, parte do controle acionário da empresa. 5ª - Adotou a verticalização (grupo de empresas subordinadas entre si). Dizia que a condição-chave para se produzir em massa é ter um mercado consumidor de massa. Altos salários ajudam no consumo. A sociedade de vida frugal, baseada na poupança, graças a estratégias mercadológicas cada vez mais refinadas, faz do consumo seu Estudos de Administração Geral Escola de Adminis- tração Científica Americanismo: Taylorismo-Fordismo Página 30 principal hobbie. Ford adotou três princípios gerais: 1. Intensificação - diminuição do tempo de produção, colocando o produto no mercado imediatamente. 2. Economicidade- redução ao mínimo do estoque de matéria- prima. Por exemplo: Conseguiu fazer com que os automóveis e os tratores fossem vendidos antes de vencer o prazo para pagar a matéria-prima e os salários. (“O minério sai da mina no sábado e é entregue sob a forma de um carro ao consumidor na terça-feira à tarde”). 3. Produtividade - especialização do trabalhador ao máximo, levando-o a ganhar mais e, por outro lado, fazendo o empresário aumentar a produção. Ford pagava altos salários, mas controlava a vida dos operários tanto dentro quanto fora da fábrica. Exigia de cada um deles: ser limpo, não beber, não fumar, ser reservado, não jogar, não freqüentar bares, não ser promíscuo, etc. Em 1917 contava com 144 Conselheiros da Moral encarregados de coletar, em fichas, dados sobre a moralidade, disciplina sexual, respeitabilidade, monogamia, opiniões e hábitos dos operários. O alto salário fazia com que os operários aceitassem tais ingerências na sua vida extra-fábrica. Isso porque o tempo livre do trabalhador virava tempo do não-trabalho, já que era empregado com dupla finalidade: consumir (gerando mais encomendas) e revigorar as forças neuromusculares. Estudos de Administração Geral Escola de Adminis- tração Científica Americanismo: Taylorismo-Fordismo Página 31 Comentários Gerais É inegável que, com Taylor e Ford, o mundo, começando pela América do Norte, passou a experimentar uma multiplicação na capacidade de produzir bens e serviços. De uma certa maneira, essas atitudes de colocar o trabalho como centro da vida, de exercer disciplina férrea sobre si mesmo, de retornar a poupança em investimento (ações), de não dissipar, de viver frugalmente, de ver o patrimônio como um fim em si mesmo (ex: Tio Patinhas) são próprias do ideário protestante, puritano e calvinista, cerne a partir do qual ocorreu a consolidação dos EUA. Trata-se de uma ideologia que perpassa globalmente a sociedade e é reforçada até pelo Estado. A moral puritana de sempre condenar o prazer visceral está por todos os lados e atravessa implacável a cultura norte-americana. Um exemplo é o episódio, surpreendente por ter virado escândalo mundial, no qual Presidente Bill Clinton quase perdeu o mandato por manter relações íntimas com a estagiária Lewinski. GRAMSCI (1984, p. 389), ao analisar o Fordismo-Americanismo, diz: O famoso alto salário é um elemento que serve para selecionar uma mão-de-obra adaptada ao sistema de produção e mantê-la estável. Tem dupla função: é necessário que o trabalhador despenda ‘racionalmente’ seu salário mais elevado a fim de manter, de renovar, e, se possível, de aumentar sua eficiência muscular e nervosa e não destruir ou diminuir. Outra crítica vem de Stephen Marglin (1974, p. 46), para quem o Taylorismo-Fordismo são complementares entre si, conforme foi visto: “Despoja o operário de qualquer controle e dá ao capitalista o poder de prescrever a natureza do trabalho e a quantidade a produzir. A partir daí, o operário já não é livre para decidir como e quanto quer trabalhar para produzir o que lhe é necessário.” O Taylorismo-Fordismo enfrentou grandes resistências sindicais, especialmente dos chamados oficiais (metier), congregados tanto na American Federation of Labor, sindicato de cúpula, quanto na International Workers of the World, sindicato de base. Nos meios de comunicação, Charles Chaplin notabilizou-se por Estudos de Administração Geral Escola de Adminis- tração Científica Americanismo: Taylorismo-Fordismo Página 32 criticar o mundo do trabalho taylorista-fordista, ironizando o homem apêndice da máquina, apertador de parafuso. Drucker ( 1993, p. 19), fundador da Escola conhecida como Administração por Objetivos, considerando que Taylor é injustiçado. afirma: “Darwin, Marx, Freud formam a trindade freqüentemente citada como os criadores do mundo moderno. Se houvesse alguma justiça no mundo, Marx deveria ser retirado e substituído por Taylor.” Prezado estudante, feita uma leitura atenta deste capítulo, pesquise e apresente respostas para estas perguntas: Atividades Por quais razões se pode até dizer que a obra “Administração In- dustrial e Geral”, de Fayol, é a certidão de nascimento da profissão de administrador, enquanto “Princípios de Administração Científi- ca”, de Taylor, é a certidão de nascimento da profissão de engenhei- ro de produção? Quais, na sua opinião, podem ser considerados aportes positivos do Taylorismo-Fordismo para a humanidade? Como se explica o círculo vicioso de produzir e consumir, de es- cravizar-se ao trabalho para conseguir consumir? Por que o Tio Patinhas pode ser considerado um símbolo da cul- tura americana? Por que a moderna democracia é considerada legado dos EUA? Por que os EUA se consideram aptos, moralmente, para intervir em outros países e estabelecer “democracia”? Em que medida e como as seitas protestantes deram vigor ao capitalismo americano? • • • • • • • REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALLEN, H. C. – História dos Estados Unidos da América. Rio de Janeiro: Forense, 1968. BRAVERMAN, Harry – Trabalho e Capital Monopolista: a degradação do trabalho no Século XX. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1980. CÁCERES, Florival – História da América. S. Paulo: Ed. Moderna, 1992. CHIAVENATO, Idalberto – Introdução à Teoria Geral da Administração. S. Paulo, McGrawHill do Brasil, 1983. CORIAT, Benjamin – Ciencia, tecnica y capital. Madri: Blume, 1976. Estudos de Administração Geral Escola de Adminis- tração Científica Americanismo: Taylorismo-Fordismo Página 33 DRUCKER, Peter – Sociedade Pós-Capitalista. S. Paulo: Pioneira, 1993. FOLHA DE S. PAULO – Folha conta 100 Anos de Cinema. S. Paulo: Imago, 1995. (Org. Amir Labaki) FORD, Henry – My Life and Work. New york, 1923. GILBRETH, F & GILBRETH Lillian – Applied Motion Study. New York: Sturgis & Walton, 1917. GRAMSCI, Antonio – Maquiavel, A Política e o Estado Moderno. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1984. MARGLIN, Stephen. Origem e Funções do Parcelamento das Tarefas. in: Divisão Social do Trabalho, Ciência, Técnica e Modo de Produção Capitalista. Porto: Editora Escorpião, 1974. MOTTA, Fernando C. Prestes – Teoria das Organizações: evolução e crítica. S. Paulo: Pioneira-Thomson Learning, 2001. NETO, B. R. Moraes – Marx, Taylor, Ford: As forças produtivas em discussão. S. Paulo: Brasiliense, 1989. TAYLOR, W. Frederick – Princípios de Administração Científica. S. Paulo: Atlas, 1982. TRAGTENBERG, Maurício – Ideologia e Burocracia. S. Paulo: Ática, 1974. WEBER, Max - A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. S. Paulo: Abril Cultural, 1980. TERCEIRO CAPÍTULO A Escola de Relações Humanas e da Dinâmica dos Grupos APRESENTAÇÃO Este capítulo apresenta o movimento que se contrapôs ao Tayloris- mo-Fordismo, ou seja, a Escola de Relações Humanas e da Dinâmica dos Grupos, que dava mais ênfase às pessoas que às tarefas executadas, che- gando a afirmar que o importante em uma organização, antes de tudo, é a satisfação daquele que nela trabalha. Estudos de Administração Geral A Escola de Rela- ções Humanas e da Dinâmica dos Grupos Página 37 A Escola de Relações Humanas e da Dinâmica dos Grupos (ERH), comumente designada como Humanismo Industrial e Administração Democrática, agrupa teorias administrativas focalizadas nas pessoas e não nas tarefas. É considerada uma reação à visão militarista e autoritária do Taylorismo-Fordismo, ao qual fez críticas, por este considerar o trabalhador apenas como uma ferramenta de produção. Surgiu nos EUA em 1930 e ganhou vigor graças ao desenvolvimento das Ciências Sociais, especialmente a Psicologia do Trabalho e a Psicossociologia. Trata-se de um enfoque que sai do princípio da adaptação do trabalhador ao trabalho para a adaptação do trabalhoao trabalhador. Neste capítulo, a Escola é tratada de forma abreviada, uma vez que suas principais reflexões voltam em outros fascículos, com profundidade. O psicólogo e industrial australiano George Elton Mayo (1880- 1949), professor da Harvard University, é considerado o fundador do Movimento de Relações Humanas ou da Sociologia Industrial. Entre 1927 e 1932, coordenou as famosas experiências da fábrica de componentes telefônicos da Western Electric Company, no bairro de Hawthorne de Cícero, em Chicago, destinadas a determinar a relação entre a intensidade da iluminação e a eficiência dos operários. O interesse inicial da pesquisa era investigar a fadiga dos trabalhadores, o turn-over (elevado índice de admissões e demissões), os acidentes e o efeito das condições físicas sobre a produtividade. Antes dessas experiências de Hawthorne, patrocinadas pela própria Academia Americana de Ciências, Mayo já havia investigado a alta rotatividade de pessoal no setor de fiação de uma empresa têxtil em Filadélfia. Essa investigação concluiu que os problemas dos trabalhadores estavam na mente e no corpo, sendo que o aborrecimento levava a pensamentos depressivos e a monotonia levava à deficiência da circulação e à fadiga (Mayo, 1968). As conclusões das experiências de Hawthorne e as idéias de Elton Mayo são: Estudos de Administração Geral A Escola de Rela- ções Humanas e da Dinâmica dos Grupos Página 3� 1. Dois grupos de operários que faziam o mesmo trabalho em condições idênticas foram submetidos ao teste. A finalidade era determinar o efeito da iluminação sobre o rendimento. O grupo de observação teve luz variável ao longo das jornadas e o grupo de controle trabalhou sob intensidade de luz constante. Observou-se que não havia relação direta entre luz e eficiência, mas que o rendimento estava atrelado a fatores psicológicos, nas suposições dos operários. Alguns achavam que tinham obrigação de produzir mais quando a luz aumentava. Comprovou-se que havia preponderância de fatores psicológicos sobre fatores fisiológicos. 2. Dois grupos de operárias foram comparados no processo de montagem de relés telefônicos. O grupo que, ao longo de meses, teve modificadas certas condições de trabalho (ambiente amistoso e sem pressão, com permissão de conversas entre as moças, supervisão camarada) melhorou a performance, tornou- se uma equipe, adotou objetivos comuns e desenvolveu liderança e altruísmo 3. A chave para o estudo do rendimento deveriam ser as relações humanas. As moças viam como humilhante e constrangedora a supervisão autoritária. A oportunidade de agir livremente favorecia o rendimento. Como o indivíduo é influenciado pelo comportamento e atitudes dos colegas de trabalho, quanto mais integrado ao grupo de trabalho estiver, maior será a disposição de produzir. 4. Constatou-se que o indivíduo não reage ou age isoladamente, mas como membro de grupos. Desenvolveu-se a partir disso, com muito vigor, na ERH, o estudo dos grupos informais, que se constituem de relacionamentos espontâneos, não sendo necessariamente coincidentes com a estrutura da organização. O conceito de organização informal é central na teoria da ERH. Os grupos informais produzem crenças, atitudes ou expectativas, desconsiderando a hierarquia da organização. O trabalho é uma atividade grupal. 5. O ser humano motiva -se estando em grupo, sendo reconhecido, convivendo. Estudos de Administração Geral A Escola de Rela- ções Humanas e da Dinâmica dos Grupos Página 3� 6. A administração deve ser constituída por chefes democráticos, persuasivos e simpáticos, capazes de entender a lógica dos trabalhadores. 7. A fábrica deve ser um novo lar, um local de compreensão e de segurança emocional. (Mayo não crê que é possível regulamentar a cooperação, mas que ela deve se dar espontaneamente.) 8. Romântico, Mayo acredita ser possível evitar o conflito entre os interesses organizacionais e os interesses pessoais dos empregados. Para tanto, recomenda uma administração humanizada e cooperativa. Para Mayo, o empregado motiva-se pela necessidade de estar junto, de ser reconhecido, pelo recebimento de uma boa comunicação. Assim, é considerado uma antítese de Taylor, que acredita nas punições e recompensas, uma espécie de lei do chicote. Enquanto Taylor começou como operário na empresa, Mayo era um sociólogo. As idéias de Mayo foram continuadas por Kurt Lewin, que realizou experiência sobre mudança de comportamento em grupo, dando origem ao que se conhece hoje como Dinâmica de Grupo. Pode-se dizer que a vida do operário, no mundo inteiro, melhorou depois das críticas e reflexões da ERH, que acabou originando os conhecidos Círculos de Controle de Qualidade (CCQ). Sobre a Dinâmica de Grupo Desde Platão, há notícias das preocupações dos homens sobre as melhores maneiras de organizar a vida coletiva. As assembléias das polis gregas almejavam fixar normas de bem viver em comunidade. Voltando ainda mais longe no tempo, quando havia apenas uma profissão entre os homens, a de coletor-caçador, não havia necessidade de articular relacionamentos no interior dos bandos, com vistas a atingir objetivos comuns: capturar uma presa de grande porte, ficar de sentinela à entrada da caverna protegendo a prole, fazer a coleta, transportá-la, armazená-la. Somente no século XX é que se buscou dar tratamento científico sistemático ao estudo da dinâmica dos grupos humanos. Estudos de Administração Geral A Escola de Rela- ções Humanas e da Dinâmica dos Grupos Página 40 Kurt Lewin (1890-1947), considerado o fundador da Psicologia Social, é que popularizou a expressão dinâmica de grupo. Lewin estava convencido da necessidade de haver um método científico para entender a dinâmica do comportamento grupal e, para tanto, fundou o pioneiro Centro de Pesquisas de Dinâmica de Grupo da Universidade de Michigan. Depois, a partir de 1944, dirigiu o Centro de Pesquisas para Dinâmica de Grupo do MIT – Massachusetts Institute of Technology. Lewin criou a chamada Teoria de Campo: O comportamento é o produto de um campo de determinantes interdependentes (conhecidos como “espaço de vida” ou “espaço social”). As características estruturais desse campo são representadas por conceitos extraídos da topologia e da teoria de conjuntos, e as características dinâmicas são representadas através de conceitos de forças psicológicas e sociais. (Cartwright & Zander, 1975) Lewin criou também o conceito de equilíbrio quase estacionário, por meio do qual explica os processos de auto-regulação e de manutenção do equilíbrio interno dos grupos. Segundo o autor, da mesma forma que um corpo pode, fisiologicamente, manter-se constante, por processos reguladores, um grupo pode compensar a ausência de um membro pela contribuição aumentada dos demais. Isso porque os processos grupais, que são atos sociais, são dinâmicos, vivos, resultantes de uma constelação de forças casuais. Para Lewin, existe a possibilidade de construir um conjunto coerente de conhecimentos empíricos a respeito da natureza da vida de qualquer grupo específico. Dessa maneira, é possível estudar grupos distintos, como família, equipes de trabalho, alunos da sala, comissões, unidades militares e comunidades. E é possível incluir no estudo problemas específicos, como modelo de liderança, status, comunicação, normas sociais, atmosfera coletiva e relações intergrupais. Estudos de Administração Geral A Escola de Rela- ções Humanas e da Dinâmica dos Grupos Página 41 Características do Grupo O que caracteriza um grupo é o fato de possuir um objetivo comum. A convergência de pessoas no tempo e espaço, assim como traços comuns, não são suficientes para constituir um grupo. Isso porque, além do objetivo comum,deve haver coesão interna, estrutura e organização dinâmica. Embora seja possível construir um grande número de tipos de grupos, por diferentes combinações de características, muitas vezes só se constroem dicotomias: formal – informal; primário – secundário; pequeno – grande; comunidade – sociedade; autônomo – dependente; temporário – permanente; consensual – simbiótico. A maioria dos estudos de dinâmica de grupo, todavia, orienta-se no sentido de analisar os grupos a partir de objetivos comuns ou ambientes. Daí haver grupos de trabalho, de terapia, grupos sociais, comitês, clubes, gangues, times, grupos religiosos e outros. Os professores de Psicologia Dorwin Cartwright e Alvin Zander, da Universidade de Michigan, em 1960, publicaram Group Dynamics: research and theor, obra na qual sistematizaram os estudos sobre Dinâmica de Grupo, reunindo os principais até então desenvolvidos. Essa obra foi publicado no Brasil pela Editora da Universidade de São Paulo, com dois volumes, em 1975, e vem sendo usada como referência. Para esses autores, as teorias de Dinâmica de Grupo têm uma proposição geral: o comportamento, as atitudes, as crenças e os valores do indivíduo baseiam-se firmemente nos grupos aos quais pertence. O grau de agressividade ou cooperação de uma pessoa, seu grau de autoconfiança, sua energia e produtividade no trabalho, suas aspirações, sua opinião sobre o que é verdadeiro e bom, seus amores ou ódios e suas crenças e preconceitos, todas essas características são determinadas em alto grau pelo grupo a que pertence. Essas características são próprias de grupos e de relações entre pessoas. (Cartwright & Zander, 1975). Estudos de Administração Geral A Escola de Rela- ções Humanas e da Dinâmica dos Grupos Página 42 Pressupostos Básicos Segundo Cartwright e Zander, a dinâmica de grupo pode ser resumida em quatro pressupostos básicos: 1. Os grupos são inevitáveis e onipresentes: Se um hipotético marciano pudesse observar os homens na Terra, provavelmente se surpreenderia com o tempo que estes despendem em fazer coisas, reunidos em grupos. Há grupos pequenos, como os que vivem na mesma casa, da mesma fonte de sustento: satisfazem suas necessidades fisiológicas fundamentais no interior do grupo, criam filhos juntos, e cuidam da saúde uns dos outros. Observaria que a educação e a socialização ocorrem em outros grupos, geralmente maiores, igrejas, escolas, por exemplo. Verificaria que grande parte do trabalho é executado em relações de interdependência no interior de associações relativamente duradouras. Observaria pessoas que se divertem em grupos. Poderia o marciano se entristecer ao ver grupos que se articulam para a guerra. Mas veria grupos que fomentam coragem, orgulho, unidade de sentimentos. Ficaria intrigado com os motivos que fazem tanta gente gastar tanto tempo reunida, planejando, conversando. Com certeza o marciano concluiria que, para compreender bem o que se passa na Terra, deveria examinar com muita atenção as maneiras pelas quais os grupos se formam, funcionam e desaparecem. 2. Os grupos mobilizam poderosas forças que têm influência decisiva nos indivíduos: Até a noção de identidade da pessoa é formada pelos grupos significativos para ela – a família, a escola, a igreja, a ocupação. A posição no grupo pode influir na maneira pela qual as pessoas se comportam , assim como favorece certas qualidades pessoais, como nível de aspiração e auto-estima. A participação no grupo pode ser um bem apreciado ou uma carga opressiva. A exclusão ou a participação forçada já produziram tragédias de grandes proporções. 3. Os grupos podem ter conseqüências positivas ou negativas: A opinião de que os grupos são exclusivamente bons ou exclusivamente maus baseia-se em convencimento. Seu defeito é a parcialidade. Uma focalização exclusiva nos defeitos ou nas qualidades gera quadros analíticos da realidade deformados. Estudos de Administração Geral A Escola de Rela- ções Humanas e da Dinâmica dos Grupos Página 43 4. Uma compreensão correta da dinâmica de grupo permite intensificar deliberadamente as conseqüências desejáveis: Conhecer bem a dinâmica do funcionamento dos grupos permite modificar comportamentos humanos e institucionais indesejáveis. Essa melhor compreensão permite planejar objetivos mais autênticos e legítimos, intensificar valores significativamente desejáveis e enriquecer os recursos pessoais dos participantes. Processos de mudança baseados no grupo podem ser feitos em pelo menos três perspectivas distintas: O grupo como instrumento de mudança: O grupo exerce influência modificadora sobre o indivíduo. O grupo como meta de mudança: Há necessidade de mudar o próprio grupo, seja por novos estilos de liderança, seja pela recriação de ambientes emocionais e afetivos, seja pela incorporação de novos padrões e valores, seja pela conscientização O grupo como agente de mudança: O grupo procura exercer influências no meio, articulando-se organicamente para isso. Fontes de Atração do Grupo 1. O grupo é objeto da necessidade. O motivo mais comum para participar é gostar das pessoas que o compõem ou entender que tem finalidades que interessam, como, por exemplo, acreditar numa causa preservacionista. 2. O grupo é um meio para satisfazer necessidades exteriores. Exemplos: Nas universidades americanas existem as irmandades sorority, que congregam as moças mais ricas, e as fraternity, equivalente masculina. Através delas se pode obter prestígio na comunidade universitária. Alguém pode querer participar do grupo do sindicato apenas com a finalidade de assegurar-se estabilidade no emprego ou maiores salários. O grupo, nesses dois exemplos, representa um auxílio, uma espécie de trampolim para lograr um propósito pessoal. 1. 2. 3. • • Estudos de Administração Geral A Escola de Rela- ções Humanas e da Dinâmica dos Grupos Página 44 3. Combinação das duas fontes de atração. Ao invés de excludentes, as fontes de atração podem ser inclusivas. Alguém pode optar por uma determinada república estudantil da UFOP, tanto porque considera valiosos os seus moradores, quanto porque precisa de uma habitação durante o tempo de permanência no curso. Os processos de psicodrama (um tipo de dinâmica de grupo envolvendo simulação) realizados com o propósito de selecionar empregados nas empresas, aperfeiçoaram-se em investigar as fontes de atração da pessoa para aquela determinada organização, assim como compromisso com o grupo, valores, flexibilidade, altruísmo, egocentrismo. Atividade Caso você fosse um diregente organizacional, aplicaria na sua em- presa as idéias da Escola de Relações Humanas e da Dinâmica dos Grupos? Estudos de Administração Geral A Escola de Rela- ções Humanas e da Dinâmica dos Grupos Página 45 Críticas à Escola de Relações Humanas 1. Crítica dos empresários: “Tudo isto é muito interessante, mas o que o psicólogo e teóricos em geral parecem esquecer é que tenho que obter lucro e produzir bens. O bem-estar é muito justo no devido lugar, mas é, no final das contas, um problema secundário na indústria e não a sua função principal”. (Motta;1987:26) Outra crítica dos empresários é que o ponto de vista da ERH valoriza o trabalhador em detrimento do consumidor 2. Do professor Maurício Tragtenberg, da Fundação Getúlio Vargas: A Escola de Relações Humanas representa a evitação e a negação – no sentido psicoanalítico – em nível institucional do conflito de classes, procurando alcançar a maior produtividade da empresa por intermédio de entrevistas de diagnóstico do candidato a trabalhador com os inevitáveis testes de personalidade, criando uma rede de serviços sociais na empresa, o sempre presente jornalzinho interno, aassistência personalizada de casos, mantendo cursos e cursilhos que impõem sub-repticiamente maneiras de pensar, sentir e agir através das quais é transmitida a ideologia dos donos da vida. (1985, p. 85) 3. Ingênuo e romântico, suas técnicas [de Mayo] de fato são usadas para “embalar” os trabalhadores, fazendo-os acreditar que são importantes e que participam das decisões. Kleber Nascimento diz que a ERH concentrou-se naquilo que chama de pseudo-solução dos conflitos do mundo do trabalho. Ela procurou tornar mais agradáveis e compensadoras para o trabalhador as atividades extrafuncionais (intervalos, refeições no restaurante da fábrica, associações de lazer, torneios esportivos, boletins de empregados, salões de jogos, colônias de férias, excursões, etc.). Fez do trabalho um sacrifício que valia a pena, compensado pela felicidade a ser gozada fora dele. (Chiavenato; 1983, p. 148) 4. Em termos caricaturais, o humorista Charles Chaplin notabilizou-se em combater o Taylorismo a partir de uma perspectiva da ERH. Estudos de Administração Geral A Escola de Rela- ções Humanas e da Dinâmica dos Grupos Página 46 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BALCÃO, Yolanda Ferreira & CORDEIRO, Laerte Leite (orgs.) – O comportamento Humano na Empresa: uma Antologia. Rio de Janeiro: FGV, 1967) CARTWRIGHT, Dorwin & ZANDER, Alvin - Dinâmica de Grupo, Pesquisa e Teoria. S. Paulo: EPU/EDUSP, 1975. CHIAVENATO, Idalberto – Introdução à Teoria Geral da Administração. S. Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1993.S. Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1993. MAYO, G. Elton - The Human Problems of an Industrial Civilization. New York: Viking Compass Edition, 1968. MOTTA, Fernando Claudio Prestes – Teoria Geral da Administração. São Paulo: Pioneira, 1987. NASCIMENTO, Kleber T. – A Revolução Conceptual da Administração: implicações para a formulação dos papéis e funções essenciais de um executivo. In: Revista de Administração Pública, vol.6, abril/junho de 1972. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas. ROETHLISBERGER, Fritz & DICKSON, William – A Organização e o Trabalhador. S. Paulo: Atlas, 1971. SILVINO, José Fritzen – Exercícios Práticos de Dinâmica de Grupo. Petrópolis-RJ: Vozes, 1993. 2 vols. TRAGTENBERG, Maurício – Burocracia e Ideologia. S. Paulo: Ática, 1985. QUARTO CAPÍTULO Teoria Geral dos Sistemas APRESENTAÇÃO Este capítulo trata da Teoria Geral dos Sistemas, que vê as organiza-Este capítulo trata da Teoria Geral dos Sistemas, que vê as organiza- ções com base em uma ótica semelhante àquela com que se vêem os or- ganismos biológicos, chamados de sistemas abertos. As organizações são sistemas abertos que se modificam em função das pressões do meio. Nelas as pessoas desempenham papéis, tendo cada qual uma função específi- ca. O assunto é tão vasto que este texto se tornou muito esquemático. Para fugir desse esquematismo, o aluno deve ler também a obra Psicologia Social das Organizações, de Katz e Kahn. Estudos de Administração Geral Teoria Geral dos Sistemas Página 4� A Teoria Geral dos Sistemas foi originalmente desenvolvida pelo biólogo alemão Ludwig von Bertalanffy, professor da Universidade de Alberta (Canadá) e do Centro de Biologia Teórica da Universidade Estadual de Nova Iorque, em Buffalo. Ele percebeu e estudou a inter-relação entre as ciências, idéia consolidada na obra Teoria Geral dos Sistemas, publicada em 1956, cujos princípios básicos são os seguintes: Os sistemas adaptam-se ao meio, princípio válido tanto para seres vivos quanto para organizações sociais. As coisas vivas são sistemas abertos com entradas e saídas em relação ao meio ambiente. Recebem e descarregam algo de um sistema e o direcionam para outros sistemas. Os sistemas existem em outros sistemas, subsistemas e supersistemas.(Exemplos: molécula, célula, tecido, órgão, organismo, colônia, cultura, organização social, sociedade, estado, planeta, Via Láctea, universo, etc) Sistema é, segundo Bertalanffy,“conjunto de unidades reciprocamente relacionadas”. Mas foram os professores Daniel Katz e Robert Kahn, da Michigan State University, em 1966, que tornaram tais idéias aplicáveis ao mundo administrativo, publicando Psicologia Social das Organizações. Nessa obra, no Capítulo 1, os autores fazem uma retrospectiva das teorias organizacionais existentes e propõem a abordagem de sistema aberto. No Capítulo 2, dizem que comumente as organizações são vistas e analisadas com base nas idéias dos fundadores, nas declarações dos dirigentes atuais, no conteúdo dos documentos de fundação (estatuto ou contrato), no nome que levam, etc. E concluem que essas maneiras de ver podem levar a muitos enganos. Exemplos: As idéias de Henry Gorceix, na fundação da Escola de Minas, não correspondem ao que atualmente ela faz ou é “chamada” a fazer pelos novos tempos, pois era uma Escola técnica voltada exclusivamente para a extração de minérios. • • • • 1. Estudos de Administração Geral Teoria Geral dos Sistemas Página 50 O PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), pelo menos nas décadas de 80 e 90, observando-se as votações no Congresso Nacional, não fez jus ao adjetivo trabalhista, que leva no nome. Há sindicatos que são clubes assistenciais, apesar do nome que levam. Há universidades cujos estatutos dizem que promovem a ciência e o desenvolvimento da sociedade, mas que existem para ganhar dinheiro com mensalidades, aspecto que é omitido no documento de fundação. Há hospitais que se dizem filantrópicos, mas atendem fundamentalmente pessoas ricas da sociedade. Se forem ouvidos dirigentes de uma organização, pode ocorrer que cada um apresente sua opinião sobre o papel que ela tem na sociedade, sendo difícil condensar uma idéia consistente. Katz e Kahn (1975, p. 30) dão o exemplo de uma universidade americana: o diretor pode descrever a finalidade de sua instituição como a de produzir líderes nacionais, o reitor acadêmico pode ver a missão como a de transmitir a herança cultural do passado, o vice-presidente acadêmico poderá julgar que a missão é capacitar os estudantes a progredirem em direção à auto-realização e desenvolvimento, o decano dos diplomados poderá pensar em treinamento dos jovens nas aptidões técnicas e profissionais para que estes possam ganhar a vida, e o editor do jornal estudantil poderá julgar que a missão da universidade é inculcar valores conservadores, que preservarão o status quo de uma sociedade capitalista anacrônica. Os referidos autores desenvolvem uma nova abordagem, propondo, pioneiramente, uma maneira de ver as organizações (qualquer sistema aberto) de forma dinâmica, como processos, da seguinte forma: 2. 3. 4. 5. 6. Estudos de Administração Geral Teoria Geral dos Sistemas Página 51 INPUT (Entrada) THROUGH-PUT (Processamento) OUTPUT (Saída) Recursos Materiais e Físicos Recursos Financeiros Recursos Humanos Recursos Mercadológicos Recursos Administrativos Trabalho Resultados, Produtos Desempenho, Inovação Satisfação do cliente Quadro 3. A Organização visualizada com um sistema de entradas e saídas. Eles também fizeram o inventário de nove características comuns aos sistemas abertos: 1ª. Importação de energia do meio ambiente (INPUT): know-how, insumos, matéria-prima, energia, mão-de-obra, tecnologia etc. Exemplos: A célula recebe oxigênio da corrente sangüínea. O corpo absorve oxigênio do ar e ingere alimento do mundo exterior. A personalidade é dependente do mundo exterior para obtenção de estímulos. As organizações precisam de suprimentos renovados de energia de outras instituições ou de pessoas ou do meio ambiente material. Um partido político e uma religião precisam do aporte de idéias e fatos que fortaleçam seus argumentos
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