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Discurso direto e indireto no texto acadêmico Universidade Federal do Rio Grande do Sul Disciplina: Produção de Textos Profa. Dra. Silvana Silva De acordo com Koch (1997), podemos ouvir, em um mesmo texto, diversas vozes. Essas vozes podem ser mobilizadas de formas diversas. Essas “vozes” que ouvimos no texto são discursos de outras pessoas que não a do autor. Quando utilizamos o discurso de um outro alguém em nossos textos podemos dizer que estamos fazendo o recurso à citação. Há dois tipos básicos de citações: Citações que causam o efeito de tentar reproduzir fielmente as palavras que foram ditas. É o discurso direto. Citações que se propõem a traduzir, não o que foi dito exatamente, mas o conteúdo do dito. É o discurso indireto. Exemplos de discurso A) Discurso Direto: Pedro perguntou a seu amigo: “Qual é a sua cor favorita?” B) Discurso Indireto: Pedro perguntou ao amigo qual era a sua cor favorita. Observe a transposição do verbo interno à fala do presente para o pretérito imperfeito. Verbos introdutores do discurso do outro No exemplo anterior, perguntar foi o verbo utilizado para introduzir o discurso do outro. Observe a diferença de significado dos verbos abaixo: Afirmar Refutar Sugerir Anunciar Declarar Gritar Alegar Concluir Proclamar Argumentar Assegurar Constatar Confirmar Garantir Responder Explicar Verbos dicendi e a subjetividade no discurso Os discursos direto e indireto revelam a interpretação do autor do texto (sua leitura pessoal), a partir de algumas ‘marcas’ ou ‘pistas’ que ele deixa ao tentar ‘reproduzir’ a ideia do outro. Uma das marcas principais é o verbo dicendi, isto é, o verbo que introduz o discurso do outro. O autor pode escolher o verbo dicendi que quiser. É nessa escolha que o conteúdo do verbo influencia a interpretação do segmento textual subsequente. Exemplos com verbos dicendi Saussure (1916) concluiu que a língua é um sistema de signos. Saussure (1916) argumentou que a língua é um sistema de signos. Saussure (1916) sugeriu que a língua é um sistema de signos. Marcadores de conformidade Além dos verbos introdutores do discurso do outro, podemos utilizar os seguintes marcadores: Conforme Consoante Para De acordo com Segundo Exemplos com marcadores de conformidade • De acordo com Saussure, a língua é um sistema de signos. • Para Saussure, a língua é um sistema de signos. A estrutura resultante é: conectivo + autor = citação Funções das citações nos artigos científicos 1. complementação como marca de novidade; 2. confirmação e concordância; 3. diálogo com o consenso científico; 4. referenciação bibliográfica em enunciados com apagamento dos limites entre os diferentes discursos. (Sanches, 2009) Citação: diferenças em gêneros científicos A citação do discurso do outro atende a diferentes propósitos, seja sua presença marcada em textos de gênero científico – artigos científicos e resenhas acadêmicas. O tipo de informação que acompanha o nome da pessoa citada bem como a sua forma são diferentes. Citação nos gêneros acadêmicos A citação nos gêneros acadêmicos é o processo de distinguir o trabalho de pesquisa de outra pessoa e o meu trabalho de pesquisa. No artigo científico e na resenha, a citação ao trabalho do outro deve ser repetida a cada vez que se fizer menção ao trabalho do outro, a cada parágrafo. Artigo científico A pessoa citada é vista como autor de publicação escrita, logo, apresentamos o sobrenome do autor, ano de publicação e página da citação. As informações são colocadas entre parênteses ao lado do nome do autor. a) Saussure (1916, p. 14) afirma que a língua é um sistema de signos. b) Saussure (1916, p. 14) afirma: “ a língua é um sistema de signos”. Resenha acadêmica Quando tivermos apenas um autor ao qual nos referimos, não é necessária a menção à data de publicação, apenas ao sobrenome, ou à página, quando for citação direta. Exemplo: (a) Saussure afirma que a língua é um sistema de signos. O autor diz ainda... (b) Saussure (p.14) afirma que: “a língua é um sistema de signos.” Crítica ao uso das citações diretas “É, pois, o texto acadêmico-científico que se tece com remendos de excesso de citações, e principalmente de citações diretas, que mais incomoda a qualquer leitor mais exigente. Incomoda, sobretudo, pelo fato de se entender que o uso de citações deve favorecer o reforço, o esclarecimento, a explicação de ideias expressas pelo autor do texto, funcionando como “suporte à construção dos argumentos no corpo do trabalho” (NUNES, 1986, apud. SANTOS, 2000, p. 93) e não como ideias principais, ditando as tramas do tecido textual.” (José Bessa, A citação no texto acadêmico- científico, 2011) O uso das citações em diversas áreas do conhecimento Ferreira (2016) analisa 3 artigos de três áreas (Psicologia, Enfermagem e Linguística) e observa que há variação no uso das citações. Considerando as categorias reformulação do discurso do outro (discurso direto) e fidelidade ao discurso do outro (discurso indireto), observam que a Linguística apresenta 58 ocorrências de fidelidade em comparação a 5 ocorrências nas áreas de Enfermagem e Psicologia. Já em relação à reformulação, a Psicologia apresenta 112 ocorrências em comparação com 28 da Linguística e 5 da Enfermagem. Exercício 1 1. Selecione 3 artigos científicos sobre o mesmo tema. 2. Analise a utilização de citações. 3. Responda: 1. Utiliza-se mais citações diretas ou indiretas? Que motivos você atribui para esse resultado? 4. Quais os verbos dicendi utilizados para a citação indireta? Como eles influenciam a argumentação do texto? 5. Qual a função das citações diretas nos artigos analisados? Há diferença de sentido entre os textos? Exercício 2 1. Selecione 3 resenhas sobre o mesmo tema. 2. Analise a utilização de citações. 3. Responda: 1. Utiliza-se mais citações diretas ou indiretas? Que motivos você atribui para esse resultado? 4. Quais os verbos dicendi utilizados para a citação indireta? Como eles influenciam a argumentação do texto? 5. Quais os verbos dicendi utilizados para a citação indireta? Como eles influenciam a argumentação do texto? Referências FERREIRA, Nara Gleisia. A construção argumentativa no gênero artigo científico em diferentes áreas do conhecimento. Cadernos Cespuc, Belo Horizonte, n. 26, 2015, p. 50-69. SANCHES, Karina Penariol. Interdiscursividade em artigos científicos. IN: GARCIA, Bianca Rigamonti Valeiro; SILVA, Cleide Lúcia da Cunha Rizério e; PIRIS, Eduardo Lopes; FERRAZ, Flávia Sílvia Machado; GONÇALVES SEGUNDO, Paulo Roberto (Orgs.). Análises do Discurso: o diálogo entre as várias tendências na USP. São Paulo, Palistana Editora: 2009.
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