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DIREITO CIVIL

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Eduardo Defaveri 
 
 353 
“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles) 
 
filho. 
O genitor aliena o filho contra o outro cônjuge. 
A Lei 12.318 diz em seu art. 2º que se considera alienação parental a interferência na 
formação psicológica na criança ou adolescente que é promovida ou induzida por um dos 
genitores, pelos avós ou por quem detenha a criança ou adolescente sob sua autoridade, a fim de 
que essa criança ou adolescente repudie o genitor, causando prejuízos à manutenção de vínculos 
com ele. Há o processo de destruição da imagem do genitor. 
A alienação parental é um ato ilícito, podendo gerar responsabilidade civil do alienador, 
pois no seu direito de guarda e poder familiar exerceu de forma abusiva. 
Ficando caracterizada a alienação parental, o juiz poderá: 
• declarar a ocorrência de alienação parental e advertir o alienador 
• para compensar isso, poderá aumentar o regime de convivência familiar com genitor que sofreu 
os efeitos decorrentes da alienação parental 
• estipular uma multa ao alienador 
• determinar o acompanhamento psicológico ou biopsicossocial da criança, do genitor alienador e 
do genitor alienado. 
• Alteração da guarda 
• Declarar a suspensão da autoridade parental do genitor 
Por fim, o fato do pai ou da mãe contrair novas núpcias, ou estabelecer nova união estável, 
não faz com que o pai ou mãe perca o poder familiar. 
Posse 
1. Posse 
I. Natureza jurídica da posse 
Moreira Alves aponta duas correntes. 
1ªC: entende que posse é fato. 
Eduardo Defaveri 
 
 354 
“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles) 
 
2ªC: entende que posse é direito. É a prevalente. 
Se posse é direito, é preciso saber se se trata de direito real ou de direito pessoal. Aqui há 
entendimento para todos os lados. 
Orlando Gomes defende que se trata de direito real de direito de posse. 
Flávio Tartuce diz que o direito real é de natureza especial. Especial porque a posse é o 
domínio fático que a pessoa exerce sobre uma coisa. Se direito é fato, valor e norma, a posse é o 
componente jurídico do direito. A posse nasce de um fato que é valorado e encontra respaldo 
normativo. Por isso teria a natureza especial, por conta desse nascedouro fático. 
Atente-se que há duas correntes que procuram justificar a posse como categoria jurídica. 
1ª Teoria Subjetivista (Savigny): dá relevância ao aspecto subjetivo da posse. Aqui a posse 
possui dois elementos: 
c) Corpus: é o elemento objetivo, material, que é a disponibilidade sobre a coisa. 
• Animus domini: é o elemento subjetivo, que é a intenção de ter a coisa para si. 
Perceba que se for adotada a teoria subjetiva, não seriam possuidores o locatário, 
comodatário, depositário, etc., pois não teriam animus domini. 
Por isso, dizem-se que foi adotada a teoria objetivista. 
2ª Teoria Objetiva (Ihering): para constituição da posse basta que o sujeito disponha 
fisicamente da coisa. Na verdade, para o Ihering, o corpus é formado pela atitude externa do 
possuidor em relação à coisa. O possuidor passa a agir, em relação à coisa, com intuito de explorá-
la, inclusive economicamente. Para a teoria objetiva, dentro do corpus há uma intenção de 
explorar a coisa para fins econômicos. 
Essa teoria foi a adotada no Código Civil, basta ler o art. 1.196, o qual diz que se considera 
possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes 
à propriedade. Portanto, posse é quem exerce ou tem de fato o exercício de um dos exercícios 
inerentes à propriedade. 
Corpus é o elemento físico dotado de uma intenção de uma exploração econômica, 
Eduardo Defaveri 
 
 355 
“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles) 
 
diferente de Savigny, que diz que é necessário o domínio físico (corpus), somado à vontade 
subjetiva (animus). 
Pelo conceito objetivo, consegue-se perceber que a posse pode ser desdobrada, podendo 
haver a posse direta e a posse indireta. O locador é possuidor indireto, pois exerce um dos 
poderes inerentes à propriedade, pois o proprietário goza da propriedade. O locatário usa a coisa, 
ou seja, exerce um dos atributos da propriedade, sendo possuidor direto. 
II. Diferenças entre posse e detenção 
• Posse: é exercida em nome próprio. 
• Detenção (ou fâmulo da posse): é exercida em nome alheio. 
O art. 1.198 diz que se considera detentor aquele que, achando-se em relação de 
dependência para com outro, conserva a posse em nome desta outra pessoa e em cumprimento 
de ordens ou instruções suas. O parágrafo único afirma que, aquele que começou a comportar-
se do modo como prescreve este artigo, em relação ao bem e à outra pessoa, presume-se 
detentor, até que prove o contrário. 
Exemplo do fâmulo da posse é o caseiro. Outro também é o manobrista, exercendo sobre 
o bem uma posse sobre outra pessoa. Veja, o manobrista exerce detenção em relação à empresa, 
a qual é possuidora do carro no momento da condução. 
Outro exemplo ainda é o caso da ocupação irregular de área pública. O STJ entende que 
a ocupação irregular de área pública não induz posse e sim mera detenção. Por isso, será 
considerado mero detentor. 
É possível que o mero detentor se torne possuidor? SIM. É possível a conversão da 
detenção em posse, quando há a quebra do vínculo de subordinação (Enunciado 301 do CJF). E 
isso poderá ocorrer de forma justa ou injusta. 
III. Principais classificações da posse 
a) Quanto ao desdobramento 
Quanto ao desdobramento, a posse se classifica em: 
Eduardo Defaveri 
 
 356 
“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles) 
 
• Posse direta: exercida por quem tem o poder físico sobre a coisa (ex.: locatário). 
• Posse indireta: exercido por meio de outra pessoa, como um exercício de direito (ex.: locador). 
O Enunciado 76 do CJF diz que o possuidor direto tem direito de defender sua posse 
contra o possuidor indireto, e o possuidor indireto tem direito de defender sua posse contra o 
possuidor direto. 
b) Quanto aos vícios objetivos 
Quanto à presença de vícios objetivos: 
• Posse justa: é a posse não violenta, não clandestina ou não precária. 
• Posse injusta: é a posse violenta, clandestina ou precária. 
A posse violenta é aquela obtida por meio de esbulho, violência física ou moral, como a 
ameaça. 
A posse clandestina é a posse obtida às escuras, às escondidas. 
A posse precária é a posse obtida com abuso de confiança ou abuso de direito. Ex.: o 
sujeito para de pagar o aluguel e não devolve o imóvel. 
A posse, mesmo injusta, é posse. Isso significa que é possível defender essa posse injusta 
em face de terceiros, inclusive se valer de ações possessórias em caso de esbulho e turbação. 
Isso porque a posse é viciada somente sobre uma determinada pessoa, e não em relação a todo 
mundo. 
O art. 1.208, segunda parte, vai dizer que posses injustas por meio de violência ou 
clandestinidade podem ser convalidadas. No entanto, as posses precárias não podem ser 
convalidadas. Segundo o dispositivo, não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância 
assim como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de 
cessar a violência ou a clandestinidade. 
Portanto, uma posse que nasce violenta ou clandestina poderá ser convalidada caso cesse 
a violência ou a clandestinidade. Este é o entendimento que prevalece na doutrina. 
Após 1 ano e 1 dia do ato de violência ou da clandestinidade, a posse é convalidada, 
Eduardo Defaveri 
 
 357 
“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles) 
 
deixando de ser injusta e passa a ser justa. A posse precária, no entanto, continuará sendo injusta. 
c) Quanto à boa-fé subjetiva 
Quanto à boa-fé subjetiva,classifica-se a posse em: 
• Posse de boa-fé: é a posse que ignora a existência de um vício que impede a aquisição da coisa. 
• Posse de má-fé: é a posse em que há conhecimento do vício que acomete a coisa. Por isso, do 
ponto de vista subjetivo, pois está na cabeça do sujeito. 
É possível falar em posse de boa-fé injusta? 
SIM. Nada impede alguém ter uma posse injusta e de boa-fé. Basta pensar naquele que 
adquire a posse de outrem sem saber que aquela posse é injusta. Houve a violência, e na semana 
seguinte houve a transferência da posse, pois não houve a ultrapassagem do prazo de 1 ano e 1 
dia, a fim de se tornar justa. 
É possível haver posse justa e de má-fé? 
SIM. Posse justa é uma posse não violenta, não clandestina e não precária. Mas é possível 
que essa posse contenha algum vício. Nesse caso, haverá uma posse justa e de má-fé. 
d) Quanto à presença de um título 
A posse poderá ser: 
• Posse com título: há uma causa representativa da transmissão da posse. Há documento escrito. 
• Posse sem título: não há essa causa representativa da posse, não há documento escrito. 
No caso do achado de tesouro, a doutrina fala em ato-fato jurídico, pois o indivíduo não 
teria a vontade juridicamente relevante para que o ato jurídico produza efeitos. Mas concorda-se 
que há a posse daquela pessoa, mas uma posse sem título. 
Com base nessa ideia, surgem as expressões: 
• Ius possidendi: é o direito à posse que decorre da propriedade. Há uma posse com título, pois 
decorre da propriedade, do direito explicitado. 
• Ius possessionis: é o direito que decorre exclusivamente da posse. Há uma posse sem título, que 
Eduardo Defaveri 
 
 358 
“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles) 
 
decorre de um exercício fático. É a posse que decorre da posse. 
Alguns autores falam da posse natural, que é a posse sem título (ius possessionis), e posse 
civil ou jurídica, que é o ius possidendi (posse com título). 
Quando há título presume-se a boa-fé. 
e) Quanto ao tempo 
A posse pode ser classificada em: 
• Posse nova: a posse conta até 1 ano, ou seja, com menos de 1 ano e 1 dia. 
• Posse velha: a posse conta com pelo menos 1 ano e 1 dia. 
A importância está na seara processual civil, a fim de verificar o cabimento das ações 
possessórias. 
f) Quanto aos efeitos 
A posse se classifica em: 
• Posse ad interdicta: a posse pode ser defendida inclusive por meio das ações possessórias 
diretas. Essa posse não conduz à usucapião. É a posse fundada em contrato de locação, 
comodato, depósito, etc. 
• Posse ad usucapionem: há admissão da aquisição da propriedade por meio da usucapião. Deve 
ser mansa, pacífica, duradoura, ininterrupta e deve ter a intenção de ser dono. Aqui não há 
contrato, mas se houver, será como justo título, ajudando a presumir a boa-fé. 
Perceba que quando se fala em posse ad usucapionem adota-se a teoria de Savigny, 
levando em conta que a posse seria um exercício fático com animus domini. 
Via de regra, há adoção da teoria objetiva de Ihering, mas também se adota, no caso da 
posse ad usucapionem, a teoria de Savigny. 
IV. Efeitos materiais e processuais da posse 
a) Efeitos quanto aos frutos 
O art. 1.214 diz que o possuidor de boa-fé tem direito, enquanto a boa-fé durar, aos frutos 
Eduardo Defaveri 
 
 359 
“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles) 
 
percebidos. 
O parágrafo único vai dizer que os frutos pendentes ao tempo em que cessar a boa-fé 
devem ser restituídos, mas apenas depois de serem deduzidas as despesas da produção e 
custeio daquele fruto. Devem ser também restituídos os frutos colhidos com antecipação, pois 
não eram para estar percebidos. 
A lei distingue a boa-fé da má-fé com repercussão naquilo que tem ou não direito. 
O art. 1.215 diz ainda que os frutos naturais e industriais reputam-se colhidos e percebidos 
logo que são separados. No entanto, os frutos civis reputam-se percebidos dia por dia (juros). 
Lembre-se que frutos não implicam a diminuição da coisa. O produto gera a diminuição 
da coisa. 
O art. 1.216 trata do possuidor de má-fé, estabelecendo que o possuidor de má-fé 
responde por todos os frutos colhidos e percebidos, bem como pelos frutos que, por culpa sua, 
deixou de perceber, desde o momento em que se constituiu de má-fé. O possuidor de má-fé tem 
direito às despesas da produção e custeio. 
O possuidor de boa-fé só responde pelos frutos pendentes, pois os que já colheu e já 
percebeu são dele. 
Em relação ao produto, que implica diminuição da substância da coisa, há um dever de 
restituição, ainda que o possuidor seja de boa-fé. Isso porque, quando se retira um produto, se 
está desfalcando a coisa, pois ela passa a ser menor do que era anteriormente. E para vedar o 
enriquecimento sem causa, deve ser devolvida a coisa completa e não incompleta. 
Quando se fala em fruto, devolve-se a coisa completa, mas no produto, para se falar em 
devolver a coisa completa, deve ser devolvida a coisa completa naquele período. 
b) Efeitos da posse em relação às benfeitorias 
Benfeitorias são bens acessórios, que serão introduzidos, a fim de conservar, melhorar a 
sua utilidade, classificando-se em necessária (conservar a coisa), útil (melhora a utilidade da 
coisa) e voluptuária (de mero deleite). 
Eduardo Defaveri 
 
 360 
“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles) 
 
O art. 1.219 diz que o possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias 
necessárias e úteis. Quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, terá ele o direito de levantá-
las, quando o puder sem detrimento da coisa principal, e terá o possuidor de boa-fé o direito de 
retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis. 
Em relação à locação de imóvel urbano, há uma regulamentação específica a respeito do 
possuidor de boa-fé e de má-fé quanto às benfeitorias. 
Essa lei vai dizer que, salvo disposição contratual em sentido diverso, as benfeitorias 
necessárias, introduzidas pelo locatário, mesmo que não tenham sido autorizadas pelo locador, 
gerará o direito de indenização ao locatário. As benfeitorias úteis, no entanto, se tiverem sido 
autorizadas pelo locador, também deverão ser indenizadas. 
Neste caso, permitirão tanto a necessária, ainda que sem autorização, quanto a útil, com 
autorização do locador, o direito de retenção. Em relação às voluptuárias, poderão ser 
levantadas, desde que não gerem dano à coisa. 
Veja, as partes de um contrato paritário de locação poderão dispor de modo diferente, 
como é o caso em que não há nenhum direito de indenização por benfeitorias necessárias, úteis 
ou voluptuárias, ou ainda que terá direito a qualquer benfeitoria. 
Em relação às benfeitorias, o art. 1.220 vai dizer que ao possuidor de má-fé serão 
ressarcidas somente as benfeitorias necessárias, não tendo o direito de retenção pela 
importância destas, nem o de levantar as voluptuárias. 
Já o art. 1.222 diz que o reivindicante da coisa é obrigado a indenizar as benfeitorias ao 
possuidor de má-fé, sendo essas benfeitorias necessárias. Nesse caso, sendo possuidor de má-fé, 
o reivindicante poderá optar em pagar o valor atual da coisa ou o valor do custo da coisa para o 
possuidor de má-fé, segundo mais interessante ao reivindicante. 
No entanto, se o reivindicante reivindica a coisa de um possuidor de boa-fé, deverá o 
reivindicante pagar pelo valor atual da coisa, e não pelo seu preço de custo. 
É uma forma de punir a posse de má-fé. 
V. Posse e responsabilidades 
Eduardo Defaveri 
 
 361 
“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles) 
 
O art. 1.217 diz que o possuidor de boa-fé não responde pela perda ou deterioração da 
coisa, a que não der causa. Veja, o dispositivo diz que o possuidor de boa-fétem 
responsabilidade subjetiva. 
Já o art. 1.218. O possuidor de má-fé responde pela perda, ou deterioração da coisa, 
ainda que acidentais, salvo se provar que de igual modo se teriam dado, estando ela na posse 
do reivindicante. Em outras palavras, a responsabilidade do possuidor de má-fé é objetiva. Só 
vai se eximir se comprovar que a deterioração da coisa ocorresse de qualquer modo. 
O art. 1.221 diz que as benfeitorias compensam-se com os danos, e só obrigam ao 
ressarcimento se ao tempo da evicção ainda existirem. Há aqui uma hipótese de compensação 
legal. 
VI. Posse e processo civil 
Três são as situações que possibilitam 3 ações respectivas: 
• Ameaça à posse: promove-se uma ação de interdito proibitório. 
• Turbação da posse: promove-se uma ação de manutenção de posse. 
• Esbulho da posse: promove-se uma ação de reintegração de posse. 
O art. 1.210 do CC vai dizer que o possuidor tem direito a ser mantido na posse no caso de 
turbação, de ser restituído na posse no caso de esbulho e de ser segurado na posse no caso de 
uma violência iminente em que precise dessa segurança. 
Há no art. 554 do NCPC a consagração total do princípio da fungibilidade das ações 
possessórias. Segundo este dispositivo, a propositura de uma ação possessória em vez de outra 
não obstará a que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela 
cujos pressupostos estejam provados. 
Se está diante de uma amaça, turbação ou esbulho novo, que são aqueles com menos de 
1 ano e 1 dia, caberá uma ação de força nova, que seguirá o rito especial previsto no NCPC, 
cabendo a medida liminar inaudita altera pars. 
Por outro lado, se houver uma ameaça, turbação ou esbulho velho, com mais de 1 ano e 
1 dia, haverá uma ação de força velha, observando-se o procedimento comum. 
Eduardo Defaveri 
 
 362 
“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles) 
 
Em 2016, o STJ entendeu que particulares podem ajuizar ação possessória para 
resguardar o livre exercício do uso de via municipal (bem público de uso comum do povo) 
instituída como servidão de passagem. Ex: a empresa construiu uma indústria e invadiu a via de 
acesso (rua) que liga a avenida a uma comunidade de moradores locais. Os moradores tem 
legitimidade para ajuizar ação de reintegração de posse contra a empresa alegando que a rua que 
está sendo invadida representa uma servidão de passagem. 
Atente-se que o ordenamento jurídico não permite a proteção possessória em caso de 
particular que ocupe bens públicos dominicais, sendo esta situação caracterizada como mera 
detenção. No entanto, é possível que particulares exerçam proteção possessória para garantir seu 
direito de utilizar bens de uso comum do povo, como é o caso, por exemplo, da tutela possessória 
para assegurar o direito de uso de uma via pública. 
a) Principais aspectos processuais 
É necessário analisar o art. 555 do NCPC. 
Segundo este dispositivo, é lícito ao autor cumular ao pedido possessório o de: 
• condenação em perdas e danos; 
• indenização dos frutos. 
Poderá cumular sem haver a desnaturação do rito possessório. 
O parágrafo único diz que pode o autor requerer, ainda, imposição de medida necessária 
e adequada para: 
• evitar nova turbação ou esbulho; 
• cumprir-se a tutela provisória ou final. 
O que este dispositivo autoriza é a de que, além de condenação em perdas e danos e 
indenização dos frutos, é possível fixar uma multa inibitória para que o réu não faça novamente. 
Lembre-se que a ação possessória tem caráter dúplice, sendo possível que o réu, na 
contestação da ação possessória, poderá alegar que ele é o ofendido, devendo ele ser indenizado 
pelo autor. Trata-se do pedido contraposto (art. 556). 
Eduardo Defaveri 
 
 363 
“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles) 
 
Já o art. 557 afirma que na pendência de ação possessória é vedado, tanto ao autor 
quanto ao réu, propor ação de reconhecimento do domínio, exceto se a ação de reconhecimento 
de domínio for deduzida em face de terceira pessoa. Aqui há uma mudança, pois não havia esta 
previsão. 
O parágrafo único diz que não obsta à manutenção ou à reintegração de posse a alegação 
de propriedade ou de outro direito sobre a coisa. 
Se o réu prova que o autor provisoriamente mantido ou reintegrado na posse carece de 
idoneidade financeira para, caso perca, responder por perdas e danos, o juiz fixará o prazo de 5 
dias para que fixe caução, podendo ser real ou fidejussória, sob pena de a coisa ser depositada 
em juízo. 
Essa caução é dispensada quando se está lidando com partes economicamente 
hipossuficientes, havendo uma interpretação voltada para a função social e dignidade da pessoa 
humana. 
O art. 562 diz que, estando a petição inicial devidamente instruída, o juiz deferirá, sem 
ouvir o réu, a expedição do mandado liminar de manutenção ou de reintegração da posse. Caso 
não esteja devidamente instruída, determinará que o autor justifique previamente o alegado, 
antes da expedição do mandado de manutenção ou reintegração da posse, citando-se o réu para 
comparecer à audiência que for designada. 
O parágrafo único vai dizer que, contra as pessoas jurídicas de direito público, não será 
deferida a manutenção ou a reintegração liminar sem prévia audiência dos respectivos 
representantes judiciais. Este dispositivo traz uma exceção. 
O art. 563 vai dizer que, se considerar suficiente a justificação apresentada pelo autor, o 
juiz fará logo expedir mandado de manutenção ou de reintegração. 
O art. 565 vai dizer que, no litígio coletivo pela posse de imóvel, quando o esbulho ou a 
turbação do imóvel tiver ocorrido há mais de 1 ano e 1 dia, o juiz, antes de apreciar o pedido de 
concessão da medida liminar, deverá designar audiência de mediação, a realizar-se em até 30 
dias. Lembrando que na mediação o mediador não propõe a solução às partes, mas fomenta um 
contato entre elas. 
Eduardo Defaveri 
 
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles) 
 
Se passou de 1 ano e 1 dia, em regra, a lei não permite a liminar, pois voltaria para o 
procedimento comum. Todavia, o próprio NCPC traz uma exceção, por conta da necessidade de 
audiência de mediação no prazo de 30 dias. 
No caso de litígio coletivo pela posse de imóvel, caso tenha sido concedida a liminar, e se 
essa não for executada no prazo de 1 ano, a contar da data de distribuição, caberá ao juiz designar 
audiência de mediação. 
Lembrando que o Ministério Público será intimado para comparecer à audiência, e a 
Defensoria Pública será intimada sempre que houver parte beneficiária de gratuidade da justiça. 
O juiz poderá comparecer à área objeto do litígio quando sua presença se fizer necessária à 
efetivação da tutela jurisdicional. 
Os órgãos responsáveis pela política agrária e pela política urbana da União, de Estado ou 
do Distrito Federal e de Município onde se situe a área objeto do litígio poderão ser intimados 
para a audiência, a fim de se manifestarem sobre seu interesse no processo e sobre a existência 
de possibilidade de solução para o conflito possessório. Aplica-se o disposto neste artigo ao litígio 
sobre propriedade de imóvel. 
Segundo o art. 1.211 do CC, quando mais de uma pessoa se disser possuidora, manter-se-
á provisoriamente a que tiver a coisa, se não estiver manifesto que essa pessoa obteve a posse 
de modo viciado. Portanto, ficará mantida na posse aquela pessoa que já se encontra na posse. 
Esse dispositivo trata do chamado possuidor aparente. 
O art. 1.212 diz que o possuidor pode intentar a ação de esbulho, ou a de indenização, 
contra o terceiro, que recebeu a coisa esbulhada sabendo que era esbulhada. 
Este dispositivo diz que aquele que sofreu esbulho pode propor uma ação de reintegração 
de posse em face de um terceirode má-fé, que adquiriu a posse por quem sabia que adquiriu por 
ser esbulhada. 
VII. A legítima defesa da posse e o desforço imediato 
O art. 1.210, §1º, diz que o possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou 
restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo. Portanto, os atos devem ser 
imediatos. E além disso, os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável 
Eduardo Defaveri 
 
 365 
“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles) 
 
à manutenção, ou restituição da posse. 
Há aqui uma previsão de uma autotutela, sendo requisitos: 
• defesa seja imediata 
• possuidor tome o cuidado para que as medidas não possam ir além do indispensável para a 
recuperação da posse, sob pena de abuso do direito. 
A legítima defesa é antes do esbulho, ocorrendo na turbação da posse. 
O desforço imediato ocorre após o esbulho, pois já foi perdida a posse. 
VIII. Forma de aquisição, transmissão e perda da posse 
O art. 1.204 afirma que a posse é adquirida desde o momento em que se torna possível 
o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade. 
Dessa forma, há a aquisição da posse de diferentes maneiras, como: 
• Aquisição originária: contato direto entre a pessoa e a coisa. 
• Aquisição derivada: há uma intermediação pessoal. 
Quando se encontra uma coisa abandonada e é pega para si, há uma forma de aquisição 
originária. Mas quando alguém vende um bem é forma de aquisição derivada. 
Como forma derivada mais importante há a tradição, que é a entrega de bem móvel. 
Professor Washington de Barros Monteiro classifica a tradição da seguinte forma: 
• Tradição real: há a entrega efetiva da coisa. 
• Tradição simbólica: não há a entrega efetiva da coisa, mas algo que simboliza a entrega. Ex.: 
entrega da chave do apartamento. É o que ocorre na traditio longa manu, em que a coisa a ser 
entregue é colocada à disposição da outra parte. 
• Tradição ficta: é a tradição que se dá por presunção, como ocorre na traditio brevi manu. 
O art. 1.206 diz que a posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do possuidor com 
os mesmos caracteres. É o princípio da continuidade do caráter da posse, pois é uma forma 
derivada da aquisição da posse, em que as características é passada aos herdeiros e legatários. 
Eduardo Defaveri 
 
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles) 
 
O art. 1.207 vai dizer que o sucessor universal continua de direito a posse do seu 
antecessor. Já ao sucessor singular é facultado unir sua posse à do antecessor, para os efeitos 
legais. 
Sucessor universal é o caso de herança e legítima. Sucessor singular é o caso de compra e 
venda, sucessão e legado. 
Então, nos casos de herança há simplesmente uma sucessão. Portanto, nos casos de 
herança, em que há a sucessão universal, há continuidade da posse do atual com o antecessor. 
No caso de sucessão singular (compra e venda), o possuidor atual poderá unir a sua posse 
atual com o seu antecessor. 
Isto é importante para fins de usucapião futuramente. 
O art. 1.209 diz que a posse do imóvel faz presumir, até prova contrária, a das coisas 
móveis que nele estiverem, de forma que havendo a transmissão da posse do imóvel haverá 
também transmissão da posse dos bens móveis que guarnecem o bem imóvel, já que esses bens 
são acessórios. Há aplicação do princípio da gravitação jurídica. 
O art. 1.223 diz que a posse será perdida quando ela cessa, embora contra a vontade do 
possuidor. Será considerada cessada a posse quando ele perde o poder sobre o bem, ou seja, 
quando cessa os atributos inerentes ao direito de propriedade. 
O art. 1.224 diz que só se considera perdida a posse para quem não presenciou o esbulho, 
quando, tendo notícia dele, se abstém de retornar a coisa, ou, tentando recuperá-la, é 
violentamente repelido. 
Isso significa dizer que, tomada a notícia de que o imóvel foi esbulhado, poderá o possuidor 
se dirigir até o local e retirar as pessoas de lá no ato, visto que não se considera que a posse foi 
perdida, somente se considerando que no outro dia foi perdida a posse. 
IX. Composse 
Composse é posse conjunta. 
É uma situação na qual duas ou mais pessoas exercerão poderes possessórios sobre a 
Eduardo Defaveri 
 
 367 
“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles) 
 
mesma coisa. Há um condomínio de posses. 
O art. 1.199 vai dizer que, se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada 
uma exercer sobre ela atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros 
compossuidores. 
Se ele excluir um compossuidor do exercício de posse, haverá possibilidade de ação 
possessória do compossuidor excluído. A conclusão que se chega é de que é possível que um 
compossuidor ingresse com ação possessória contra outro compossuidor. Há inclusive decisão 
do STJ nesse sentido. 
A composse pode ser classificada em: 
• Composse pro indiviso (indivisível): há compossuidores, com fração ideal das posses, mas não 
se consegue determinar, no plano fático, qual é a parte de cada um. Ex.: dois irmão com a posse 
de uma fazenda, que plantam soja conjuntamente. 
• Composse pro diviso (divisível): cada compossuidor sabe qual é a sua parte, pois é determinável 
no plano fático e real. Ex.: os dois irmãos têm um terreno, mas há uma cerca dividindo metade 
do local. 
 
 
 
 
 
 
Direito das coisas. 
3. Propriedade 
I. Conceito 
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles) 
 
Propriedade é o direito que alguém possui em relação a algum determinado bem ou coisa. É o 
domínio que a pessoa tem sobre a coisa. 
Direito de propriedade é consagrado como direito fundamental (art. 5º, XXII, CF). A propriedade não 
é direito absoluto, motivo pelo qual deve haver o cumprimento da função social. 
A propriedade está relacionada a 4 atributos (art. 1.228): 
• Faculdade de usar: corresponde à faculdade de se pôr o bem a serviço do proprietário, sem 
modificar a sua substancia. O Estatuto da Cidade coloca limitação ao direito de usar a coisa. 
• Faculdade de gozar (fruir): é a faculdade de retirar os frutos da coisa. 
• Faculdade de dispor: poder de consumir o bem, de aliená-lo ou gravá-lo, ou de submetê-lo ao 
serviço de terceira pessoa, ou de desfrutá-lo. Pode se dar por ato inter vivos ou mortis causa 
(testamento). 
• Faculdade de reaver: é exercido por meio de uma ação petitória, fundada no direito de 
propriedade. Isso se dá pela ação reivindicatória. 
Se determinada pessoa tiver os 4 atributos da propriedade, haverá a propriedade plena da coisa. Se 
não houver um dos atributos a propriedade será limitada. 
Quando a propriedade for resolúvel, também há uma propriedade limitada, pois alguns dos 
atributos da propriedade passam a ser de outra pessoa. O proprietário, que reúne todos os poderes (ou 
atributos) da propriedade (GRUD), é titular da propriedade plena ou alodial. 
Quando limitada ou restrita, a propriedade pode dividir-se em: 
• Nua propriedade: é a titularidade do domínio, sem os atributos de uso e fruição. A pessoa é o 
nu-proprietário, senhorio direto. 
• Domínio útil: corresponde aos atributos de usar, gozar, dispor da coisa. A pessoa é o 
superficiário, usufrutuário, usuário, habitante, promitente comprador etc. É a utilização efetiva 
da coisa, que corresponde aos atributos de usar, gozar e dispor da coisa. 
A depender dos atributos que possui, a pessoa que detenha o direito de propriedade recebe uma 
denominação diferente, como superficiário, usufrutuário, usuário, habitante, promitente comprador, etc. 
Por exemplo, no usufruto percebe-se que o nu proprietário tem o direito de dispor e reaver a coisa, 
mas quem tem o domínio útil (usufrutuário) tem os atributos degozar e usar da coisa. 
II. Principais características do direito de propriedade 
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles) 
 
São características do direito de propriedade: 
• Direito absoluto: tem caráter erga omnes, oponível a todos. Mas hoje há muitas limitações ao 
direito de propriedade, como a função social e socioambiental da propriedade. 
• Direito exclusivo: via de regra, não pode pertencer a coisa a mais de uma pessoa, salvo no caso 
de condomínio. 
• Direito perpétuo: o direito não se perde, como regra, pelo seu não exercício. 
• Direito elástico: Orlando Gomes diz que a propriedade pode ser distendida ou contraída, de 
acordo com o seu exercício. Ora o sujeito tem os 4 atributos, estando estendida, ora ele tem 
menos atributos, contraindo o direito de propriedade. 
III. Função social e socioambiental da propriedade 
O §1º do art. 1.228 vai dizer que o direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as 
suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o 
estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio 
histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas. 
Esse dispositivo confere uma finalidade ao exercício do direito de propriedade. É necessário que a 
propriedade cumpra essa função. 
A função social e socioambiental da propriedade está prevista no CC e no art. 225 da CF, dispositivo 
que protege o meio ambiente como um bem difuso e que visa à sadia qualidade de vida das pessoas e futuras 
gerações (assegura direitos intergeracionais). 
A função social da propriedade tem uma dupla intervenção: 
• Faceta limitadora: veda a degradação do meio ambiente. 
• Faceta impulsionadora: fomenta a exploração da propriedade. 
A CF traz vários preceitos que seguem a linha da faceta impulsionadora da função social da 
propriedade. O art. 186 da CF vai dizer que há função social da propriedade quando há o aproveitamento 
racional e adequado da propriedade. É preciso aproveitar a propriedade para que se exerça a função social. 
É preciso observar, como o art. 186 continua, as relações do trabalho, exigindo relação de emprego. 
A norma geral civil vai consagrar uma função socioambiental da propriedade, devendo respeitar a 
fauna, flora, patrimônio histórico e artístico, etc. Esse dispositivo traz uma especial preocupação com o 
ambiente, seja natural, artificial ou cultural, mas há a preocupação ambiental. 
Eduardo Defaveri 
 
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles) 
 
Exemplo disso se extrai do STJ, quando passou a decidir que o novo proprietário de um imóvel é 
obrigado a fazer a reparação ambiental, mesmo que não tenha sido ele o causador do dano ambiental . Ou 
seja, a obrigação de reparação ambiental é ambulatória e, portanto, propter rem. 
É imperioso anotar que o art. 2º, §2º, do Código Florestal diz que as obrigações previstas no Código 
Florestal têm natureza real e são transmitidas ao sucessor, de qualquer natureza, no caso de transferência 
de domínio ou posse do imóvel rural. É o direito de sequela objetivo, em que a obrigação persegue a coisa 
sobre a qual ela recai. 
O art. 1.228, §2º, diz que são proibidos os atos que não trazem ao proprietário qualquer 
comodidade ou utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar outrem. Na verdade, o que há aqui 
é a vedação do exercício irregular do direito de propriedade. É a vedação ao ato emulativo. 
Portanto, se prendermos à literalidade, bastaria que o sujeito tivesse alguma utilidade ou 
comodidade ao direito de propriedade para não se falar em ato emulativo. A verdade é que o ato ilícito pode 
ser praticado a partir do exercício irregular do direito de propriedade, ainda que o sujeito tenha alguma 
comodidade. 
É necessário então fazer uma leitura sistemática do art. 1.228, §2º, do CC, mas terá que lembrar do 
art. 187 do CC, que diz que também comete ato ilícito aquele que abusa do direito. 
O Enunciado 49 do CJF diz que a regra do art. 1.228, §2º, deve ser interpretada restritivamente, 
prevalecendo a regra do art. 187 do CC. Para efeitos de ato emulativo, é preciso considerar que a 
responsabilidade tem caráter objetivo, e não subjetivo. 
O §3º do art. 1.228 trata da desapropriação por necessidade ou por utilidade pública, e da 
desapropriação por interesse social, além de tratar do ato de requisição em caso de perigo público 
iminente. Segundo o dispositivo, o proprietário pode ser privado da coisa, nos casos de desapropriação, por 
necessidade ou utilidade pública ou interesse social, bem como no de requisição, em caso de perigo público 
iminente. 
Flávio Tartuce diz que esse dispositivo fala de direito administrativo. 
O art. 1.229 diz que a propriedade do solo abrange a do espaço aéreo e subsolo correspondentes, 
em altura e profundidade úteis ao seu exercício, não podendo o proprietário opor-se a atividades que sejam 
realizadas, por terceiros, a uma altura ou profundidade tais, que não tenha ele interesse legítimo em impedi-
las. Esse dispositivo trata da extensão vertical da propriedade. Esse artigo vai se amparar no critério de 
utilidade pelo seu proprietário. 
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles) 
 
Segundo o art. 1.230, a propriedade do solo não abrange as jazidas, minas e demais recursos 
minerais, os potenciais de energia hidráulica, os monumentos arqueológicos e outros bens referidos por 
leis especiais. Isso se dá, porque a CF diz que tais bens pertences à União. 
O que fica garantido ao concessionário é o produto da lavra, mas o bem pertence à União. 
O parágrafo único estabelece que o proprietário do solo tem o direito de explorar os recursos 
minerais de emprego imediato na construção civil, desde que esses produtos não sejam submetidos a 
transformação industrial. 
Exemplo disso é a areia. O sujeito que compra uma propriedade e contém areia, poderá vender a 
uma construtora, pois a areia não necessita de transformação industrial. 
O art. 1.231 diz que a propriedade presume-se plena e exclusiva, até prova em contrário. 
IV. Desapropriação judicial privada por posse-trabalho 
Segundo o §4º do art. 1.228, o proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel 
reivindicado consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de 5 anos, de 
considerável número de pessoas, e estas nela houverem realizado, em conjunto ou separadamente, obras 
e serviços considerados pelo juiz de interesse social e econômico relevante. 
Essa é a denominada desapropriação judicial privada por posse-trabalho. 
Esse dispositivo diz que o proprietário poderá perder a área se: 
• Se tratar de uma área extensa 
• Várias pessoas estiverem morando lá 
• Essa pessoas estão de boa-fé 
• Estão lá a mais de 5 anos ininterruptamente 
• Estão exercendo trabalho e moradia no lugar 
• Realizaram serviços e obras considerados relevantes pelo juiz de interesse social e econômico 
Neste caso, o juiz irá fixar uma justa indenização ao proprietário, pagando-se o preço a ele, situação 
na qual a sentença poderá ser registrada no Registro de Imóveis, em nome daqueles que se encontram na 
área. 
Atente-se que isto não se trata de usucapião. Isso porque na usucapião há uma forma originária de 
aquisição da propriedade, motivo pelo qual não há pagamento por isso. Neste caso da desapropriação judicial 
Eduardo Defaveri 
 
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles) 
 
privada por posse-trabalho há o pagamento, então é uma forma de desapropriação, visto que há 
indenização. 
Há 4 diferenças básicas entre a desapropriação judicial privada por posse-trabalhoe a usucapião 
coletiva do Estatuto da Cidade: 
• Na usucapião coletiva urbana, os ocupantes devem ser de baixa renda. Na desapropriação 
judicial privada por posse-trabalho não há essa exigência. 
• Na usucapião coletiva urbana, a área deve ter no mínimo 250m², enquanto na desapropriação 
judicial privada por posse-trabalho exige apenas uma extensa área. 
• Na usucapião coletiva urbana, só há aplicação para imóveis urbanos, enquanto a desapropriação 
judicial privada por posse-trabalho pode ser por imóveis urbanos ou rurais. 
• Na usucapião coletiva urbana, não há indenização, enquanto na desapropriação judicial privada 
por posse-trabalho há uma indenização justa. 
Esse conceito representa a efetivação da função social da propriedade, pois é a posse que está sendo 
exercido sobre a área, e o desempenho da atividade positiva sobre o imóvel faz com que a posse faça nascer 
o direito à propriedade daquele imóvel, desde que paga uma justa indenização. 
A boa-fé da posse e daqueles que ocupam o terreno na desapropriação não é uma boa-fé objetiva. 
A boa-fé aqui é subjetiva, estando relacionada à conduta dos envolvidos, verificando-se se empregam uma 
forma adequada da exploração da propriedade. 
A desapropriação judicial privada por posse-trabalho pode ser alegada inclusive como matéria de 
defesa, bem como por ação autônoma. 
V. Diferença entre propriedade resolúvel e propriedade fiduciária 
a) Propriedade resolúvel 
A propriedade resolúvel é uma propriedade que pode ser resolvida. Pode ser extinta pelo advento 
de uma condição ou de um termo, ou mesmo por uma causa superveniente, que venha a destituir a relação 
jurídica. Exemplo disso é a chamada compra e venda com cláusula de retrovenda. Durante esse período de 
até 3 anos a propriedade do comprador é uma propriedade resolúvel, podendo ser extinta a qualquer 
momento. 
O art. 1.359 vai dizer que, resolvida a propriedade pelo implemento da condição ou pelo advento 
do termo (causa anterior), entendem-se também resolvidos os direitos reais concedidos na sua pendência 
Eduardo Defaveri 
 
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles) 
 
(retorna ao status a quo), e o proprietário, em cujo favor se opera a resolução, pode reivindicar a coisa do 
poder de quem a possua ou detenha. 
Já o art. 1.360 afirma que, se a propriedade se resolver por outra causa superveniente, o possuidor, 
que a tiver adquirido por título anterior à sua resolução, será considerado proprietário perfeito, restando à 
pessoa, em cujo benefício houve a resolução, que ela proponha uma ação contra aquele cuja propriedade se 
resolveu para haver a própria coisa ou o seu valor. 
Exemplo de causa superveniente é a ingratidão do donatário, que pode gerar revogação da doação. 
Se pode gerar a revogação, há uma causa superveniente, a qual pode destituir a relação jurídica. Se antes 
dessa causa superveniente, o donatário aliena o bem que foi a ele doado. Neste caso, em regra, o terceiro 
será de boa-fé, ficando perfeita a propriedade. Caberá apenas ao doador ingressar com uma ação contra o 
donatário a fim de que este o indenize. 
b) Propriedade fiduciária 
A propriedade fiduciária é uma propriedade baseada na confiança (fidúcia). Aqui há uma 
propriedade resolúvel. 
O art. 1.361 vai considerar fiduciária a propriedade resolúvel de coisa móvel infungível que o devedor 
tenha, com escopo de garantia, transferido ao credor. 
Basicamente, na propriedade fiduciária há este movimento: Pedro devedor compra da 
concessionária um carro. Para tanto, Pedro vai ao banco e pede 50 mil reais, comprando o bem da 
concessionária. No entanto, a concessionária transfere a Pedro que transfere a propriedade ao banco. O 
dono do carro, em verdade, é o banco. Essa transferência de Pedro ao banco é como forma de garantia de 
que irá pagar o empréstimo. Quando terminar de pagar as prestações, aquele bem passa a ser de Pedro. 
Portanto a propriedade do banco é resolúvel. 
A Lei 9.514/97 vai regular a alienação fiduciária em garantia de bens imóveis. O art. 22 da Lei vai dizer 
que a alienação fiduciária regulada por esta Lei é o negócio jurídico pelo qual o devedor, ou fiduciante, com 
o escopo de garantia, contrata a transferência ao credor, ou fiduciário, da propriedade resolúvel de coisa 
imóvel. 
VI. Formas de aquisição da propriedade imóvel 
Existem formas originárias de aquisição de propriedade e formas derivadas. 
• Formas originárias: basicamente há acessões e a usucapião. Acessões são ilhas, aluvião, avulsão, 
álveo abandonado, plantações, construções. A outra é a usucapião. 
Eduardo Defaveri 
 
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles) 
 
• Formas derivadas: o registro imobiliário é uma forma e a sucessão hereditária (saisine). 
a) Formas originárias de aquisição da propriedade imóvel 
O que há aqui é uma propriedade que inicia do zero, entre a pessoa e a coisa, nenhum vício anterior 
subsiste. 
Agora veremos as acessões naturais e das acessões artificiais. 
i. Acessões naturais 
O art. 1.248 diz que as acessões constituem um modo de aquisição originário da propriedade, através 
do qual passa a pertencer ao proprietário tudo aquilo que foi incorporado natural ou artificial na sua 
propriedade. 
São acessões naturais a formação de ilhas, aluvião, avulsão ou abandono de álveo. 
São acessões artificiais as plantações ou construções. 
→ Formação de ilhas: 
A ilha é uma faixa de terra que é cercada por água em todos os lados. Importante é perceber que há 
um acúmulo paulatino de areia, cascalho, materiais que vão sendo levados pela correnteza até que ultrapasse 
o limite da água. 
Pode acontecer também de haver o rebaixamento da água, descobrindo uma parte de terra. 
O que interessa no direito civil apenas as ilhas formadas em rios não navegáveis, ou seja, particulares, 
pois, do contrário, será ilhas públicas. 
O código vai dizer que no caso das ilhas particulares, elas irão pertencer aos proprietários ribeirinhos 
que fazem fronteiras ali (fronteiros). 
As regras são simples: 
• as ilhas que se formarem no meio do rio: consideram-se acréscimos sobrevindos aos terrenos 
ribeirinhos fronteiros de ambas as margens, na proporção de suas testadas, até a linha que dividir 
o álveo em duas partes iguais; 
• as ilhas que se formarem entre a referida linha e uma das margens: consideram-se acréscimos 
aos terrenos ribeirinhos fronteiros desse mesmo lado; 
Eduardo Defaveri 
 
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles) 
 
• as ilhas que se formarem pelo desdobramento de um novo braço do rio continuam a pertencer 
aos proprietários dos terrenos à custa dos quais se constituíram: se a ilha é produto de um 
braço do rio que abriu sobre o terreno de alguém, a ilha será deste. 
→ Aluvião 
Aluvião é a forma de aquisição da propriedade imóvel em que os acréscimos formados, sucessiva e 
imperceptivelmente, por depósitos e aterros naturais ao longo das margens das correntes, ou pelo desvio 
das águas destas, pertencem aos donos dos terrenos marginais, sem indenização. 
É um processo lento. 
O terreno aluvial, que se formar em frente de prédios de proprietários diferentes, dividir-se-á entre 
eles, na proporção da testada de cada um sobre a antiga margem. 
Perceba-se que há dois tipos de aluvião: 
• Aluvião própria: é o acréscimo natural que vai sendo levado pelas águas do rio, até que surja 
uma terra. 
• Aluvião imprópria: se dá quando as águas se afastam, formando um terreno descoberto e 
acréscimo de terra. 
→ Avulsão 
Segundo o art. 1.251, a avulsão se dá quando, por força natural violenta, uma porção de terra se 
destacar de um prédio e se juntar a outro, o dono deste adquirirá a propriedade do acréscimo, se indenizar 
o dono do primeiro ou, sem indenização, se, em 1 ano, ninguémhouver reclamado. 
O parágrafo único vai dizer que, recusando-se ao pagamento de indenização, o dono do prédio a que 
se juntou a porção de terra deverá aquiescer a que se remova a parte acrescida. 
→ Álveo abandonado 
Álveo é a superfície que as águas cobrem, sem transbordar para o solo natural. 
Álveo abandona é a parte que secou do rio. É o rio que seca, que desaparece. 
Conforme o art. 1.252, o álveo abandonado de corrente pertence aos proprietários ribeirinhos das 
duas margens, sem que tenham indenização os donos dos terrenos por onde as águas abrirem novo curso, 
entendendo-se que os prédios marginais se estendem até o meio do álveo. 
ii. Acessões artificiais 
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles) 
 
O art. 1.253 vai dizer que toda construção ou plantação existente em um terreno presume-se feita 
pelo proprietário e à sua custa, até que se prove o contrário. 
Existem 6 regras específicas em relação ao tema (arts. 1.254 – 1.259): 
• Quem semeia, planta ou edifica em terreno próprio com sementes, plantas ou materiais 
alheios, adquire a propriedade destes materiais, sementes ou plantas, porém fica obrigado a 
pagar o valor desses materiais, além de responder por perdas e danos, se agiu de má-fé. Ex.: se 
o sujeito havia deixado sementes na fazenda do vizinho, mas no outro dia o vizinho havia 
plantado todas as sementes na área dele, agiu de má-fé, devendo pagar indenização por perdas 
e danos. 
• Quem semeia, planta ou edifica em terreno alheio perde, em proveito do proprietário, as 
sementes, plantas e construções. Se procedeu de boa-fé, terá direito a indenização. Se a 
construção ou a plantação exceder consideravelmente o valor do terreno, aquele que, de boa-
fé, plantou ou edificou, adquirirá a propriedade do solo (exceção ao princípio da gravitação 
jurídica), mediante pagamento da indenização fixada judicialmente, se não houver acordo. É o 
que a doutrina chama de acessão inversa ou invertida. 
• Se de ambas as partes houve má-fé, o proprietário adquirirá as sementes, plantas e 
construções, devendo ressarcir o valor das acessões. Aqui, o sujeito sabe que está plantando 
em terreno que não é seu e o proprietário sabe que alguém está plantando no seu terreno 
irregularmente. Em relação ao proprietário, presume-se a má-fé quando o trabalho de 
construção, ou lavoura, se fez em sua presença e sem impugnação sua. 
• Se a construção, feita parcialmente em solo próprio, invade solo alheio em proporção não 
superior à vigésima parte deste, o construtor adquire de boa-fé a propriedade da parte do solo 
invadido, se o valor da construção exceder o dessa parte invadida, e responde por indenização 
que cubra o valor da área perdida e a desvalorização da área remanescente. Essa indenização 
deve corresponder ao valor de 5% do terreno, mas também ao valor da desvalorização da área 
remanescente. 
• Pagando em 10 vezes as perdas e danos, o construtor de má-fé adquire a propriedade da parte 
do solo que invadiu, se em proporção à vigésima parte deste e o valor da construção exceder 
consideravelmente o dessa parte e não se puder demolir a porção invasora sem grave prejuízo 
para a construção. Aqui é o invasor de má-fé. Isso se não puder ser demolida a parte invasora 
sem grave prejuízo à construção como um todo. 
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• Se o construtor estiver de boa-fé, e a invasão do solo alheio for superior a 5% (vigésima parte) 
deste, adquire a propriedade da parte do solo invadido, e responde por perdas e danos que 
abranjam o valor que a invasão acrescer à construção, mais o da área perdida e o da 
desvalorização da área remanescente. Por outro lado, estando de má-fé, será obrigado a 
demolir o que nele construiu, pagando as perdas e danos apurados, que serão devidos em 
dobro. 
O STJ decidiu no sentido de que o construtor, proprietário dos materiais, poderá cobrar do 
proprietário do solo a indenização devida pela construção, quando não puder havê-la do contratante. Ex: 
a Empresa "A" contratou uma construtora (Empresa “C”) para fazer um centro comercial no terreno 
pertencente à empresa "B". A empresa "B", mesmo não tendo participado do contrato, poderá ser 
responsabilizada subsidiariamente caso a construção seja realizada e a construtora (Empresa “C”) não seja 
paga. Aplica-se, ao caso, o parágrafo único do art. 1.257: "O proprietário das sementes, plantas ou materiais 
poderá cobrar do proprietário do solo a indenização devida, quando não puder havê-la do plantador ou 
construtor (Inf. 593). 
ii. Usucapião de bens imóveis 
A usucapião é uma forma de aquisição originária da propriedade, em que há a aquisição de um 
domínio, ou de outro direito real (como usufruto), se dá através de uma posse prolongada. 
As principais características da posse ad usucapionem, que podem gerar a aquisição da propriedade: 
• Posse seja exercida com a intenção de dono (animus domini) 
• Posse deve ser mansa e pacífica (não pode ter sido contrariado por quem tinha o legítimo 
interesse). 
• Posse deve ser contínua e duradoura, e, em regra, há um determinado lapso temporal a ser 
cumprida. A exceção é o art. 1.243 que admite a soma de posses sucessivas. 
• Posse deve ser justa. Posse justa é a posse não violenta, não clandestina e não precária. Os vícios 
da violência e clandestinidade podem cessar. 
• Posse dever ser de boa-fé e com justo título, em regra (ordinária). A usucapião extraordinária 
não depende de boa-fé e justo título. 
O art. 1.243 vai dizer que o possuidor pode, para o fim de contar o tempo exigido, acrescentar à sua 
posse a dos seus antecessores, contanto que todas sejam contínuas, pacíficas e, com justo título e de boa-
fé. 
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O art. 1.244 estabelece que se estende ao possuidor o disposto quanto ao devedor acerca das 
causas que obstam, suspendem ou interrompem a prescrição, as quais também se aplicam à usucapião. 
Por isso muitos chamam a usucapião de prescrição aquisitiva. 
A prescrição poderá ser impedida ou suspensa, bem como ser interrompida. No caso de 
impedimento, o prazo prescricional não começa a correr, mas na suspensão o prazo, já iniciado, para de 
correr, voltando a correr de onde parou. Na interrupção, o prazo para e volta a correr do início. 
São hipóteses de impedimento e suspensão da prescrição: 
• Não corre a prescrição entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal; 
• Não corre a prescrição entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar; 
• Não corre a prescrição entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a 
tutela ou curatela; 
• Não corre a prescrição contra os absolutamente incapazes (menores de 16 anos); 
• Não corre a prescrição contra os ausentes do País em serviço público; 
• Não corre a prescrição contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo de 
guerra; 
• Não corre a prescrição pendendo condição suspensiva; 
• Não corre a prescrição não estando vencido o prazo; 
• Não corre a prescrição pendendo ação de evicção. 
• Não corre a prescrição antes da respectiva sentença definitiva, quando a ação se originar de 
fato que deva ser apurado no juízo criminal; 
O art. 201 diz que, suspensa a prescrição em favor de um dos credores solidários, esta suspensão só 
aproveita aos demais se a obrigação for indivisível. 
Com relação à interrupção da prescrição, percebe-se que há condutas do credor ou conduta do 
devedor, fazendo com que o prazo se interrompa e retorne ao seu início. A interrupção da prescrição 
(usucapião) somente ocorrerá uma única vez, sendo as hipóteses: 
• interrompe a prescrição o despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenara citação, se o 
interessado a promover no prazo e na forma da lei processual; 
• interrompe a prescrição o protesto judicial ou o protesto cambial; 
• interrompe a prescrição a apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em 
concurso de credores; 
• interrompe a prescrição qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor; 
Eduardo Defaveri 
 
 379 
“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles) 
 
• interrompe a prescrição qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe 
reconhecimento do direito pelo devedor. 
A prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que a interrompeu, ou do último ato do 
processo para a interromper. 
São modalidades de usucapião de bens imóveis: 
• Usucapião ordinária 
• Usucapião extraordinária 
• Usucapião constitucional (especial rural) 
• Usucapião constitucional (especial urbana) 
• Usucapião especial urbana por abandono do lar 
• Usucapião especial urbana coletiva 
• Usucapião especial indígena 
→ Usucapião ordinária (art. 1.242) 
Segundo o art. 1.242, adquire também a propriedade do imóvel aquele que, contínua e 
incontestadamente, com justo título e boa-fé, o possuir por 10 anos. 
Portanto, são requisitos: 
• posse contínua e duradoura, mansa e pacífica 
• justo título e boa-fé 
• lapso temporal de 10 anos. 
O parágrafo único reduz esse prazo para de 5 anos, se o imóvel houver sido adquirido, 
onerosamente, com base no registro constante do respectivo cartório, cancelada posteriormente, desde 
que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou realizado investimentos de interesse social 
e econômico. 
A doutrina faz uma crítica, pois o código exige um duplo requisito para reduzir: i) pagamento 
onerosamente e o registro no cartório; ii) nesse período em que estava registrado fez sua moradia e realizou 
investimentos de interesse social e econômico. 
→ Usucapião extraordinária (art. 1.238) 
Eduardo Defaveri 
 
 380 
“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles) 
 
Segundo o art. 1.238, aquele que, por 15 anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu 
um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e boa-fé, podendo requerer ao juiz que 
assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis. 
O prazo será reduzido para 10 anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia 
habitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo. 
O sujeito exerce a posse mansa, pacífica, duradoura e contínua pelo prazo de 15 anos, não 
dependendo de justo título ou boa-fé. Para reduzir, baste estabelecer a moradia habitual ou realizar obras 
ou serviços de caráter produtivo. 
→ Usucapião constitucional ou usucapião especial rural (art. 191 da CF) 
Segundo o art. 191, aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como 
seu, por 5 anos ininterruptos, sem oposição, área de terra, em zona rural, não superior a 50 hectares, 
tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a 
propriedade. 
O art. 191 é reproduzida literalmente pelo art. 1.239 do CC. Não há exigência de justo título e boa-
fé. Nesse caso, o registro será meramente declaratório da propriedade. 
É uma usucapião pro labore, gerada pelo trabalho. 
O Enunciado 594 diz que é possível adquirir uma propriedade de menor extensão do que ao do 
módulo rural estabelecida para a região, por meio da usucapião especial rural. 
→ Usucapião constitucional ou usucapião especial urbana ou usucapião pro misero (art. 183 da CF) 
O art. 183 vai dizer que, aquele que possuir como sua área urbana de até 250m², por 5 anos, 
ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o 
domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. 
O direito ao usucapião especial urbana não é reconhecido ao mesmo possuidor por mais de uma 
vez. Essa vedação não se vislumbra da usucapião especial rural. 
Destaque-se que o herdeiro legítimo continua de pleno direito à posse de seu sucessor, desde que já 
resida no imóvel por ocasião da abertura da sucessão. 
As somas das posses somente pode ser mortis causa, não podendo ser inter vivos. 
A usucapião especial urbana não exige justo título ou boa-fé. 
Eduardo Defaveri 
 
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles) 
 
→ Usucapião especial urbana por abandono do lar (art. 183 da CF) 
A Lei 12.424 incluiu a usucapião especial urbana por abandono do lar no sistema da usucapião 
especial urbana. 
O art. 1.240-A diz que, aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e sem oposição, 
posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m² cuja propriedade dividia com ex-
cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia ou de sua família, adquirir-
lhe-á o domínio integral, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. 
O direito da usucapião especial urbana por abandono do lar não é conhecida por mais de uma vez. 
Ressalte o entendimento no Enunciado 595 do CJF, estabelecendo que o requisito do abandono do 
lar deve ser interpretado na ótica do instituto da usucapião familiar como um abandono voluntário da 
posse do imóvel, somada à ausência da tutela da família. Não importa a culpa do fim do casamento ou da 
união estável. 
→ Usucapião especial urbana coletiva 
O art. 10 do Estatuto da Cidade (Lei 10.257) diz que as áreas urbanas com mais de 250m², ocupadas 
por população de baixa renda para sua moradia, por 5 anos, ininterruptamente e sem oposição, onde não 
for possível identificar os terrenos ocupados por cada possuidor, são susceptíveis de serem usucapidas 
coletivamente, desde que os possuidores não sejam proprietários de outro imóvel urbano ou rural. 
A usucapião especial coletiva de imóvel urbano é declarada por sentença, a qual servirá de título para 
registro no cartório de registro de imóveis. 
Na sentença, o juiz atribuirá igual fração ideal de terreno a cada possuidor, independentemente da 
dimensão do terreno que cada um ocupe, salvo hipótese de acordo escrito entre os condôminos, 
estabelecendo frações ideais diferenciadas. 
O possuidor pode, para o fim de contar o prazo exigido por este artigo, acrescentar sua posse à de 
seu antecessor, contanto que ambas sejam contínuas. 
A usucapião especial urbana coletiva estabelece um condomínio especial entre os usucapientes, o 
qual será indivisível, não sendo passível de extinção, salvo deliberação favorável tomada por, no mínimo, 
2/3 dos condôminos, no caso de execução de urbanização posterior à constituição do condomínio. 
As deliberações relativas à administração do condomínio especial serão tomadas por maioria de 
votos dos condôminos presentes, obrigando também os demais, discordantes ou ausentes. 
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles) 
 
→ Usucapião especial indígena 
Está prevista no Estatuto do Índio. 
Segundo o art. 33, o índio, integrado ou não, que ocupe como próprio, por 10 anos consecutivos, 
trecho de terra inferior a 50 hectares, adquirir-lhe-á a propriedade plena. 
Este artigo não se aplica às terras do domínio da União, ocupadas por grupos tribais, às áreas 
reservadas de que trata esta Lei, nem às terras de propriedade coletiva de grupo tribal. 
→ Observações 
Usucapião administrativa 
Além das modalidades judiciais, a Lei Minha Casa Minha Vida (Lei 11.977) instituiu a modalidade de 
usucapião administrativa, efetivada pelo cartório de registro de imóveis, a fim de que o poder público 
legitime a posse, sejam eles públicos ou particulares, a qual será concedidaaos moradores cadastrados pelo 
poder público, desde que esses não sejam concessionários, foreiros ou proprietários de um outro imóvel 
urbano ou rural, e desde que não sejam beneficiários de uma legitimação de posse concedida anteriormente. 
O detentor do título de legitimação de posse, depois de 5 anos com esse título, poderá requerer ao 
oficial de registro de imóveis que seja convertida a legitimação de posse em registro de propriedade. Nesse 
caso, desde que se trate de imóvel particular, pois bem público não haverá essa conversão. 
Usucapião extrajudicial 
O art. 1.071 do CPC incluiu a usucapião extrajudicial, em que se permite o reconhecimento da 
usucapião na esfera extrajudicial, sendo uma faculdade. 
Direito das coisas. 
iii. Usucapião imobiliária e a questão intertemporal 
O art. 2.029 diz que até dois 2 após a entrada em vigor do Novo Código Civil, os prazos estabelecidos 
no parágrafo único do art. 1.238 e no parágrafo único do art. 1.242, que tratam da usucapião ordinária e 
extraordinária com prazo reduzido em razão da posse trabalho ou moradia, serão acrescidos de 2 anos, 
qualquer que seja o tempo transcorrido na vigência do anterior, Lei no 3.071, de 1o de janeiro de 1916. 
A ideia é não pegar o sujeito de surpresa. Ex.: antes o prazo era de 15 anos e após o NCC é de 10 
anos. Se já tinha a posse do imóvel por 10 anos antes do CC, não é possível, com a entrada em vigor do novo 
Eduardo Defaveri 
 
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles) 
 
código, dizer que ele já se tornara proprietário. Para isso, caso tivesse 10 anos, teria ele de completar mais 2 
anos a fim de consumar a usucapião. 
Para os demais casos de usucapião, valerá a regra do art. 2.028, o qual estabelece que serão os da lei 
anterior os prazos, quando reduzidos por este Código, e se, na data de sua entrada em vigor, já houver 
transcorrido mais da metade do tempo estabelecido na lei revogada. 
Então se antes o prazo era de 20 anos para usucapião, e com a entrada em vigor do código civil já 
tivesse passado mais de 10 anos, continua sendo regulado pela lei anterior, caso o prazo tenha sido reduzido 
pelo código civil. 
Se o prazo de usucapião era de 20 anos, e ainda não tenha passado da metade do prazo, então, com 
a entrada do novo código civil, será considerado o novo prazo. 
O entendimento majoritário da doutrina e jurisprudência é de que, no caso de redução dos prazos 
de prescrição, transcorrido metade ou menos da metade do prazo anterior, o novo prazo será contado a 
partir do novo prazo do código civil. A doutrina diz que será considerado o novo prazo contado a partir da 
entrada do Código Civil. 
b) Formas de aquisição derivada da propriedade 
i. Registro público 
O registro do título aquisitivo é a principal maneira derivada de aquisição da propriedade imóvel . 
É o registro que implica transferência da propriedade. 
O art. 108 diz que os contratos constitutivos ou translativos de direitos reais sobre imóveis devem 
ser feitos por escritura pública, se o valor do imóvel for superior a 30 salários mínimos. Do contrário, basta 
que seja escrita. 
A escritura pública não transfere a propriedade. Esta é uma solenidade, ou seja, uma formalidade, 
estando no prazo de validade do contrato. Para que o contrato produza efeitos, é preciso que haja o registro 
imobiliário, situando-se no plano da eficácia do contrato. É ele que vai gerar a aquisição da propriedade. 
O art. 1.245 do CC vai dizer que a propriedade vai se transferir entre vivos através do registro. Ou 
seja, é forma derivada de aquisição. 
Segundo o art. 1.246, o registro é eficaz desde o momento em que se apresentar o título ao oficial 
do registro, e este o prenotar no protocolo. A partir desse momento, o registro é eficaz, ou seja, consagra-se 
o princípio da prioridade, tendo ela quem primeiro solicitou o registro ao registrador. 
Eduardo Defaveri 
 
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles) 
 
Se o teor do registro for falso, o interessado poderá requerer que o teor do registro seja retificado 
ou anulado (art. 1.247). Cancelado o registro, poderá o proprietário reivindicar o imóvel, independentemente 
da boa-fé ou do título do terceiro adquirente. 
ii. Sucessão hereditária de bens imóveis 
Na sucessão hereditária de bens imóveis, a propriedade se transfere com a morte. É uma forma de 
aquisição derivada da propriedade. 
O registro é feito apenas para fins de publicidade, visto que a transferência do imóvel se deu com a 
morte. 
Segundo o art. 1.784, aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos 
e testamentários. Este é o princípio da saisine. 
VII. Formas de aquisição da propriedade móvel 
a) Ocupação e achado do tesouro e estudo da descoberta 
→ Ocupação 
O art. 1.263 diz que aquele que se assenhorear de coisa sem dono desde logo lhe adquire a 
propriedade, não sendo essa ocupação defesa por lei. 
A ocupação é uma forma de aquisição originária da propriedade (res nullius – coisa de ninguém). 
Pode ser objeto de ocupação inclusive a coisa abandonada por outrem (res derelicta). 
→ Achado do tesouro 
O art. 1.264, em sua primeira parte, conceitua o tesouro como sendo o depósito antigo de coisas 
preciosas, oculto e de cujo dono não haja memória. 
Três são as regras que merecem destaque: 
• o tesouro será dividido por igual entre o proprietário do prédio e o que achar o tesouro 
casualmente, desde que tenha agido de boa-fé. 
• o tesouro pertencerá por inteiro ao proprietário do prédio, se for achado por ele, ou em 
pesquisa que o proprietário ordenou, ou se quem encontrou o tesouro foi terceiro não 
autorizado (agiu de má-fé). 
• sendo o tesouro encontrado em terreno aforado, o tesouro será dividido por igual entre o 
descobridor e o enfiteuta, ou será deste por inteiro quando ele mesmo seja o descobridor. 
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles) 
 
→ Descoberta 
Segundo o art. 1.233, quem quer que ache coisa alheia perdida deve restituir a coisa ao dono ou 
legítimo possuidor. 
A coisa perdida não é coisa sem dono! O dono apenas não está com a coisa porque a perdeu. 
Se o descobridor da coisa não conhecer o dono, deverá tomar todas as medidas necessárias para 
encontrá-lo. Caso não encontre a coisa, deverá entregar à autoridade competente (delegado de polícia ou 
juiz de direito). 
A autoridade competente dará conhecimento da descoberta através da imprensa e outros meios de 
informação, somente expedindo editais se o seu valor os comportar. 
Após 60 dias da divulgação, e ninguém tenha aparecido, a coisa será vendida em hasta pública, serão 
deduzidas as despesas da coisa, a recompensa do descobridor (que não pode ser inferior a 5%) e o restante 
pertencerá ao município. Se o valor da coisa for diminuto, o município poderá abandonar em favor de quem 
a achou. 
A recompensa não pode ser inferior a 5%, sendo ela denominado achádego. 
O art. 1.235 diz que o descobridor responde pelos prejuízos causados ao proprietário ou possuidor 
legítimo, quando tiver procedido com dolo. Não responderá por prejuízos que tenha causado com culpa. 
b) Usucapião de bens móveis 
É forma originária de aquisição da propriedade. 
Há aqui duas formas: 
• Usucapião ordinária 
• Usucapião extraordinária 
→ Usucapião ordinária 
Quem possui a coisa móvel como sua, de forma contínua e pacífica, durante 3 anos, desde que tenha 
justo título e boa-fé, vai adquirir a propriedade. 
→ Usucapião extraordinária 
Aqui, se a posse da coisa se prolongar por 5 anos, haverá usucapião, sendo dispensável a boa-fé e o 
justo título. 
Eduardo Defaveri 
 
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles) 
 
c) EspecificaçãoA especificação é uma forma derivada de aquisição da propriedade móvel. 
Especificar é concentrar uma coisa. Consiste na transformação de uma coisa numa nova espécie, 
através do trabalho de alguém (especificador). Tendo o especificador feito o seu trabalho, não é mais possível 
o retorno a sua forma anterior. 
Ex.: quando há uma escultura em relação a uma pedra. Se a pedra pertencia a alguém, mas tenha 
havido a especificação da pedra, por meio da escultura, feita pelo escultor. 
São regras da especificação: 
• A espécie nova (escultura) será de propriedade do especificador, se não for possível o retorno 
ao status anterior. Se o dono da pedra era outro, deverá o especificador indenizar o dono da 
coisa anterior. Mas o produto da especificação passa a ser do especificador. 
• Se toda a matéria for alheia, e não se puder retornar à forma anterior, e o especificador tiver 
agido de boa-fé, a espécie nova será dele. 
• Se for possível a redução ao estado anterior, ou quando for impraticável, mas a espécie nova se 
foi obtida de má-fé, pertencerá ao dono da matéria-prima. O art. 1.271 diz que o especificador 
de má-fé não tem direito sequer a indenização pelo trabalho. 
• Em qualquer caso, inclusive o da pintura em relação à tela, da escultura, escritura e outro 
qualquer trabalho gráfico em relação à matéria-prima, a espécie nova será do especificador, se 
o seu valor exceder consideravelmente o da matéria-prima. 
A regra é a de que a coisa especificada pertence ao especificador. Excepciona no caso de má-fé, em 
que a coisa retornará ao dono da matéria-prima, sem direito à indenização ao especificador. 
Ainda que o especificador tenha agido de má-fé, se a coisa especificada tiver valor consideravelmente 
superior ao valor da matéria-prima, continuará a coisa como dele. 
d) Confusão, comistão e adjunção 
Essas três categorias são formas derivadas de aquisição da propriedade móvel. 
Coisas pertencentes a coisas diversas e a pessoas diferentes se mistura, e de forma que é impossível 
o retorno ao status anterior, ou seja, é impossível separá-las. 
Eduardo Defaveri 
 
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles) 
 
• Confusão há mistura de coisas líquidas ou mesmo entre gases. Ex.: mistura de álcool com vinho; 
álcool com gasolina. Neste caso, não dá mais para separar. 
• Comistão é a mistura de coisas sólidas e secas, não sendo mais possível separar. Ex.: mistura de 
areia com cimento. 
• Adjunção é a justaposição, ou seja, é a sobreposição de uma coisa sobre a outra coisa, não tendo 
mais como separar. Ex.: tinta na parede não dá mais para separar. 
São regras fundamentais: 
• Se a coisa pertencer a diversos donos, e sendo elas confundidas, misturadas ou adjuntadas sem 
o consentimento deles, continuam pertencendo a esses donos diversos, desde que seja possível 
separá-las sem deterioração. 
• Não sendo possível a separação das coisas, ou exigindo dispêndio excessivo, vai se manter como 
indivisível o todo, cabendo a cada um dos donos quinhão proporcional ao valor da coisa com 
que entrou para a mistura ou agregado. Se uma das coisas puder considerar-se principal, será o 
dono do principal o dono do todo, indenizando os demais. 
• Se a confusão, comistão ou adjunção se operou de má-fé, à outra parte caberá escolher entre 
adquirir a propriedade do todo, pagando o que não for seu, abatida a indenização que lhe for 
devida, ou renunciar ao que lhe pertencer, caso em que será indenizado. Essa decisão entre 
comprar o que falta ou vender o que tem será tomada pelo condômino de boa-fé, e o de má-fé 
fica sujeita à decisão do condômino de boa-fé. 
• Se da união de matérias de natureza diversa se formar espécie nova, à confusão, comissão ou 
adjunção aplicam-se as normas da especificação. 
O Código fala em comissão, mas a doutrina aponta que o correto seria comistão. 
e) Tradição 
A tradição é a entrega da coisa ao adquirente. É uma transferência da propriedade móvel ou ao 
menos a posse. 
O art. 1.267 diz que a propriedade das coisas não se transfere pelos negócios jurídicos antes da 
tradição. Portanto, para transferir a propriedade, é necessário haver a tradição do bem móvel. 
A tradição pode ser real, simbólica, ficta, etc. 
• Tradição real: é a efetiva entrega da coisa a quem adquiriu a coisa. 
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles) 
 
• Tradição ficta: o parágrafo único afirma que há tradição quando o transmitente continua a 
possuir pelo constituto possessório. Ex.: Samer era o dono, mas vendeu a coisa para João, e em 
seguida pediu para que a coisa fosse alugada para ele. João aceitou alugar a coisa a Samer, 
continuando com a coisa consigo, sendo possuidor. Não houve a entrega efetiva, mas houve uma 
tradição ficta, pelo constituto possessório. Também haverá tradição ficta quando o adquirente 
já está na posse da coisa, por ocasião do negócio jurídico, passando a ser o dono da coisa. A isso 
se dá o nome de traditio brevi manu. 
• Tradição simbólica: por outro lado, quando o adquirente cede o direito à restituição da coisa, 
que se encontra em poder de terceiro, há uma tradição simbólica, sendo denominada de traditio 
longa manus. 
O art. 1.268 trata da alienação a non domino, ou seja, alienação por quem não era o dono. Nessas 
situações, a tradição não implicará transferência da propriedade, exceto se a coisa oferecida ao público, em 
leilão ou estabelecimento comercial, for transferida em circunstâncias tais que, ao adquirente de boa-fé, 
como a qualquer pessoa, poderia crer que o alienante se afiguraria dono da coisa. 
Se o adquirente estiver de boa-fé e o alienante adquirir depois a propriedade, considera-se realizada 
a transferência desde o momento em que ocorreu a tradição. 
O §2º diz que não transfere a propriedade a tradição, quando tiver por título um negócio jurídico 
nulo. 
f) Sucessão hereditária de bens móveis 
É a aplicação do princípio da saisine, que se dá com a abertura da sucessão. 
VIII. Perda da propriedade imóvel e móvel 
O art. 1.275 elenca outras hipóteses de perda da propriedade: 
• perda da propriedade por alienação; 
• perda da propriedade pela renúncia; 
• perda da propriedade por abandono; 
• perda da propriedade por perecimento da coisa; 
• perda da propriedade por desapropriação. 
O art. 1.276 diz que o imóvel urbano que o proprietário abandonar, com a intenção de não mais o 
conservar em seu patrimônio, e que se não encontrar na posse de outra pessoa, poderá ser arrecadado, 
Eduardo Defaveri 
 
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“Nós somos aquilo que repetidamente fazemos. Excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito” (Aristóteles) 
 
como bem vago, e passados, 3 anos depois, à propriedade do Município ou à do Distrito Federal, se se 
achar nas respectivas circunscrições. 
O imóvel rural, todavia, que tenha sido abandonado nas mesmas circunstâncias, poderá ser 
arrecadado, como bem vago, e passar, 3 anos depois, à propriedade da União, onde quer que ele se localize. 
O §2º cria uma presunção, muito criticada pela doutrina, afirmando que se presume de modo 
absoluto a intenção, quando, cessados os atos de posse, deixar o proprietário de satisfazer os ônus fiscais. 
A jurisprudência também tempera e modera essa aplicação do §2º. 
4. Direito de vizinhança 
I. Conceito 
O direito de vizinhança são limitações impostas para que exista uma boa convivência social. 
Paulo Lôbo diz que os direitos de vizinhança são um conjunto de normas de convivência entre 
titulares de direito de propriedade ou pelo menos de posse de imóveis que estejam próximo uns aos outros. 
As normas relativas aos direitos de vizinhança são claras limitações ao exercício da propriedade, 
existindo pelo simples fato de uma propriedade ser vizinha de outra propriedade. 
Essas obrigações estão na coisa, perseguindo a coisa. Ou seja, são obrigações

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