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TCC - PÓS TRABALHO FINAL

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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
Camilla Corguinha Quintella
LIMBO JURÍDICO PREVIDENCIÁRIO-TRABALHISTA
NOVA FRIBURGO
2019
 UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
Camilla Corguinha Quintella
LIMBO JURÍDICO PREVIDENCIÁRIO-TRABALHISTA
Trabalho de conclusão de Curso apresentado à obtenção do título de pós-graduação em Direito e Processo do Trabalho e Previdenciário da Universidade Estácio de Sá, unidade Nova Friburgo.
Professor Orientador: Nivea Corcino Locatelli Braga
NOVA FRIBURGO
2019
LIMBO JURÍDICO PREVIDENCIÁRIO-TRABALHISTA
Camilla Corguinha Quintella[footnoteRef:1] [1: Aluno concludente do curso de Pós Graduação em Direito e Processo do Trabalho e Previdenciário da Universidade Estácio de Sá.] 
Nivea Corcino Locatelli Braga[footnoteRef:2] [2: Professor Orientador do artigo da Universidade Estácio de Sá.] 
RESUMO
Destaca-se no presente trabalho o limbo jurídico Previdenciário-Trabalhista e a relação entre empregado, empregador e Previdência Social, quando o empregado tem seu benefício de auxílio doença cessado pela seguridade social com alta médica e o empregador, através do medico patronal conclui inaptidão ao exercício regular do trabalho que antes o funcionário exercia, ficando, neste caso, o empregado em posição de vulnerabilidade econômica, uma vez que, o empregador ao constatar a inaptidão do empregado ao retorno das suas funções normais, terá, além da ausência da mão de obra, efetuar o pagamento dos valores devidos, já que a decisão do INSS é superior a do médico do trabalho. O objetivo é identificar quando surge o desamparo do empregado e o início do limbo, quais as consequências que trouxeram para que cada vez mais empregados se encontrassem na situação retratada. Com isso foi usada uma vasta pesquisa em doutrinas para que se pudesse analisar de forma justa e coesa a importância de se proteger o empregado, este, que está cada vez mais prejudicado com advento da reforma da Previdência e algumas medidas antecipadas, pois está se utilizando através de institutos para que possa cessar cada vez mais benefícios, encontrando o ex-auxiliado em posição de surpresa, já que não está se avisando quando haverá novas perícias e ou suspensões de benefícios, trazendo insegurança e desamparo, deixando cada vez mais o empregado em posição precária, não só econômica, mas de auxílio, uma vez que é de conhecimento geral a dificuldade que se encontra para a renovação do benefício. Importante salientar o dever e a obrigação da Função Social da empresa e não só isso, principalmente ao que se trata de da condição de pessoa e não apenas mão de obra e sim um ser humano com necessidades básicas para sobrevivência sua e de sua família. Traz-se também, a possibilidade da empresa em ingressar com uma ação contra o INSS requerendo a revisão da suspensão do benefício e a ação de regresso em casos de que o empregador tenha que arcar com o valor do salário ao empregado que seria devido pela Seguridade Social.
Palavras-chave: Limbo Jurídico Previdenciário-Trabalhista. Auxílio doença. Reforma da Previdência. Direito Previdenciário. Direito do Trabalho. Dignidade da pessoa humana. Contrato de Trabalho. Salário. Remuneração. Seguridade Social. Ação de regresso. 
1 INTRODUÇÃO
 O presente artigo tem o foco principal e seu objetivo apresentar a importância de um contrato de trabalho entre empregado e empregador, o qual se consolida uma relação bilateral no qual um lado se tem a prestação de serviço e do outro lado à prestação paga em pecúnia pelo trabalho oferecido.
O estudo dele permite observar que ambos possuem obrigações e deveres provenientes daquele contrato, seja ele como for tácito ou expresso, terá ambos os contratantes a função de cumprir tais requisitos exigíveis e legais.
Neste cenário, existem situações as quais esse contrato encontra-se suspenso, que é o caso do auxílio doença. Nessa situação em especial, o empregador, em razão da necessidade do funcionário em se ausentar do trabalho, seja em casos de acidente ou uma enfermidade, por um período superior a quinze dias, fica desobrigado de efetuar essa contraprestação, sendo de obrigatoriedade da Previdência Social.
Insta salientar que, só terá direito a esse benefício o empregado que tenha contribuído regularmente com o INSS.
Nestes termos, a Previdência Social, poderá atestar que este empregado está apto a retornar ao seu labor normalmente, porém, não é o que ocorre. Muitos dos casos, a Previdência Social suspende ou cessa o benefício mesmo com o empregado ainda sem condições de um retorno completo ao seu trabalho.
Visto isso, o empregado tem a obrigatoriedade em comparecer, dia após a suspensão do benefício, ao emprego. Ao realizar tal obrigação legal, o médico laboral constata que o referido encontra-se inapto à realização de suas atividades, não estando neste caso apto a participar das obrigações contratuais, tais quais é a habitualidade e pessoalidade de forma plena e capaz, surge ai o início do limbo jurídico previdenciário-trabalhista.
O objetivo do estudo tem o empregado que se encontra totalmente desamparado economicamente e, além disso, dos suportes necessários a sua manutenção mínima de sobrevivência. Pois não estará recebendo mais o valor do benefício e não estará recebendo seu salário devido, já que ocorreu neste caso a suspensão do contrato de trabalho.
No entanto, cabe ao empregador realizar tal pagamento e, ajuizar uma ação contra o INSS com o intuito de provar a inaptidão do seu empregado, uma vez que, o empregado neste caso está em total posição de vulnerabilidade. 
Junto ao INSS, o empregador estará munido de documentos que comprovem a inviabilidade do retorno do empregado as suas atividades habituais, sendo um deles o Atentado de Saúde Ocupacional (ASO), que constará todas as informações do laudo do médico do trabalho.
A posição majoritária dos tribunais é em favor do empregado, em razão da hipossuficiência apresentada por ele, no qual a legislação trabalhista traz sempre, principalmente com relação à vulnerabilidade.
Sabe-se que, além dos documentos comprobatórios se vale também neste caso do princípio da primazia da realidade, fazendo com que, o que está de fato ocorrendo, já que como vimos a Seguridade Social suspende benefícios mesmo de pessoas inaptas.
No mais, apesar da obrigatoriedade do empregador em arcar com os valores de salário devido ao empregado durante esse limbo, em caso de constatar que ele estava inapto, o empregador poderá ingressar como uma ação de regresso, exigindo do INSS o pagamento dessas verbas que deveriam ser pagas por ele.
E o mais importante são nestes termos que o presente estudo tem como base, a dignidade da pessoa humana.
2 A FUNÇÃO SOCIAL DA EMPRESA E A IMPORTÂNCIA DO CONTRATO DE TRABALHO
A função social da empresa nada mais é que suas obrigatoriedades legais mediante os deveres que, em sua constituição, são aceitas a fim de dar prosseguimento as suas atividades empresariais, logo, em razão disso ao contratar um empregado, o vínculo pelo qual se estabelece com este se faz necessário observar as normas legais estabelecidas provenientes deste contrato. 
O contrato de trabalho tem suma importância em toda e qualquer relação laboral, é ele que garante deveres e direitos de ambos, tanto do empregado, quanto do empregador. Trata-se de um contrato individual de trabalho, sendo de forma tácita ou expressa, conforme conceitua o caput do art. 442 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) que corresponde a relação de emprego, apesar disso tal conceito está incompleto, o que se faz necessário uma análise mais detalhada da doutrina sobre o assunto.
Segundo Orlando Gomes (1995, p. 118):
O contrato de trabalho, é a convenção pela qual um ou vários empregados, mediante certa remuneração e em caráter não eventual, prestam trabalho pessoal em proveito e sob direção de empregador. 
Logo, para Délio Maranhão (1993, p. 46): 
É o negócio jurídico de direito privado pela qual uma pessoafísica (empregado) se obriga à prestação pessoal, subordinada e não eventual de serviço, colocando sua força de trabalho à disposição de outra pessoa, física ou jurídica, que assume os riscos de um empreendimento econômico (empregador) ou de quem é a este, legalmente equiparado, e se obriga a uma contraprestação (salário). 
Assim, se nota que ambos os conceitos se complementam entre si, enquanto o Orlando Gomes traz um modelo de contrato em equipe, Délio Maranhão aponta uma narrativa mais detalhista com relação ao contrato individual. 
Todavia, como se atentou previamente, o contrato de trabalho se trata de um contrato bilateral, ou seja, direitos e obrigações recíprocas os quais ambos os contratantes (empregado e empregador) apresentam-se na função de cumprir de forma legal o que está em previsão antecipada.
Para Vóila Bomfim Cassar (2018, p. 519):
O contrato de trabalho constitui espécie de negócio jurídico, de natureza bilateral, pois é acordo de vontades que, na conformidade da ordem jurídica, estabelece uma regulamentação de interesse entre as partes, com o objetivo de criar, modificar ou extinguir relações jurídicas de natureza patrimonial. 
Com isso, há a presença de requisitos ou elementos essenciais na constituição de um contrato para que seja válido, os quais se subdividem em extrínsecos e intrínsecos, o qual os extrínsecos existem mesmo que não aja relação de emprego, contudo, os intrínsecos são provenientes da relação de empregatícia.
Com a ausência de algum desses elementos essenciais poderá se comprometer a existência ou a validade do contrato, dessa forma traz o art. 166 do Código Civil (CC): 
É nulo o negócio jurídico quando:
 I – celebrando por pessoa absolutamente incapaz; 
II – for ilícito, impossível ou indeterminável a seu objetivo;
III – o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito;
IV – não revestir a forma prescrita em lei;
V – for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade;
VI – tiver por objetivo fraudar a lei imperativa;
VII – a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção.
Portanto, em razão dos conceitos e aplicações estudadas sobre a importância do contrato de trabalho e o preenchimento dos requisitos essenciais para sua constituição, se verifica a posição fundamental deste e dos seus efeitos jurídicos na relação laboral entre empregado e empregador e, que sua manutenção se faz necessária através de deveres e direitos pré-estabelecidos, para que assim não haja prejuízos para ambas às partes dessa relação contratual. 
Por finalmente assim traz Mauricio Godinho Delgado (2015, p. 659): 
O contrato de trabalho é ato jurídico de conteúdo complexo, hábil a provocar larga multiplicidade de direitos e obrigações entre as partes pactuantes. Há efeitos obrigacionais incidentes sobre a figura do empregador, assim como incidentes sobre a figura do empregado. 
2.1 Controvertidas situações de interrupção e suspensão do contrato de trabalho 
Um dos princípios essenciais que caracterizam o contrato de trabalho é a habitualidade ou não eventualidade, ou seja, para que se mantenha um contrato ativo se sem nenhum vicio que possibilite sua nulidade, o empregado deverá cumprir sua carga horária designada logo então que contraiu o aceite voluntariamente ao contrato de trabalho. 
A CLT então trouxe em seu art. 3º o seguinte: “Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador (...)”, ou seja, a não eventualidade seria uma forma de permanência na prestação do serviço pelo empregado. 
Outro principio que se faz necessário mencionar para compreensão é o da pessoalidade que tem como critério, além da habitualidade, a necessidade que seja executada pela mesma pessoa a um mesmo empregador o serviço que está sendo prestado.
Logo, em razão do que foi apresentado, há casos excepcionais de suspensão e interrupção do contrato de trabalho o qual ocorrem situação em que o empregado está impossibilitado de alguma maneira exercer plenamente sua função na empresa e que ambas podem ser tratadas conjuntamente. No mais, como designa Sergio Pinto Martins (2015, p.121):
Ocorre a suspensão do contrato de trabalho, para a maioria dos autores, quando a empresa não deve pagar salários, nem contar o tempo que de serviço que o empregado ficou afastado. Na interrupção há necessidade do pagamento dos salários no afastamento do trabalhador e, também, da contagem do tempo de serviço.
Porém, o presente trabalho vem trazer a questão excepcional de suspensão e interrupção mais controversa do ordenamento jurídico: afastamento por doença ou acidente. Neste caso, há a presença de interrupção do contrato de trabalho nos primeiros quinze dias de afastamento nos termos do art. 75 do Decreto n. 3.048/99 que vem trazendo: “Durante os primeiros quinze dias consecutivos de afastamento da atividade por motivo de doença, incumbe à empresa pagar ao segurado empregado o seu salário”.
Assim o empregador fica responsável pelo pagamento do salário referente ao tempo, se tratando de uma interrupção neste caso. No entanto, caso haja necessidade do prolongamento do afastamento a partir do 16ª dia, deverá o empregado submeter-se a perícia médica realizada pela Previdência Social e, caso seja constato a necessidade de afastamento, o pagamento do salário fica a cargo do órgão previdenciário, deixando o empregador desonerado da obrigação e efetuar o pagamento do salário correspondente, neste caso, se trata de uma suspensão do contrato de trabalho.
Porém, apesar de se tratar de uma suspensão, alguns dos efeitos do contrato são mantidos tais como: contagem do tempo de serviço; cômputo do período de afastamento e obrigatoriedade do depósito do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).
Verifica-se mais uma vez que neste caso o contrato de trabalho é uma importante ferramenta na relação laboral, uma vez que, sem ele o empregado e o empregador ficam desamparados.
2.2 Salário e remuneração 
É sabido que o salário tem caráter alimentício, ou seja, todo e qualquer empregado que através do contrato de trabalho, de forma não eventual e personalíssima exerce uma função em determinada empresa, recebe em razão das atividades prestadas ao empregador, este, que tem a obrigação de efetuar o pagamento do referido. 
Conceitua Vólia Bomfim (2018, p. 750):
Salário é toda contraprestação ou vantagem em pecúnia ou em utilidade devida e paga diretamente pelo empregador ao empregado, em virtude de contrato de trabalho. É o pagamento direto feito pelo empregador ao empregado pelos serviços prestados, pelo tempo à disposição ou quando a lei assim determinar (aviso não trabalhado, 15 primeiros dias de doença etc.).
A remuneração é o gênero, em que o salário se é espécie e se caracteriza pela soma de verbas recebidas pelo empregado em razão da contraprestação de um serviço prestado que pode ser paga tanto pelo empregador como por terceiros a exemplo das gorjetas.
Assim, estabelece em seu livro de Direito do Trabalho, Sergio Pinto Martins (2003, p. 238), como remuneração sendo:
(...) o conjunto de prestações recebidas habitualmente pelo empregado pela prestação de serviço, seja em dinheiro ou utilidades, provenientes do empregador ou de terceiros, mas decorrentes do contrato de trabalho, de modo a satisfazer suas necessidades básicas e de sua família. 
Logo, com a definição que traz o conceituado autor, podemos entender que em ambos os institutos tanto de salário quanto de remuneração, são provenientes de um contrato de trabalho ativo que se é pago através da contraprestação de um serviço realizado pelo empregado de maneira habitual e personalíssima, o qual reforçar a ideia em que casos excepcionais essa configuração pode sofrer alterações, como é o caso do nosso objeto de estudo. 
3 A RELAÇÃO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL COM O LIMBO JURÍDICO
3.1 A origem da Previdência Social
Atualmente, se considera o início da Previdência Social com o advento da Lei Eloy Chaves (Decreto Legislativo n 4.682, de 24/01/1923) o qual instituiuas Caixas de Aposentadoria e Pensões (CAPs) aos então ferroviários.
A Previdência Social é um ramo da Seguridade Social, que também possui além dela, a Assistência Social e a Saúde. No entanto, para que se possa ter direito aos serviços prestados pela Previdência Social será necessário a contraprestação de caráter contributivo e compulsório o que não ocorre com a Assistência Social e a Saúde, ao qual esta é um direito de todos sendo dessa forma um dever do Estado e aquela é para quem a necessitar.
O caráter contributivo da Previdência Social é proveniente do art. 201 da Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB) o qual diz: “Os planos de previdência social, mediante contribuição, atenderão, nos termos da lei, a:”. 
A carta Magna não define Previdência Social exatamente, porém, informa sobre a sua importância que é um direito social, conjuntamente da mesma forma do direito à saúde, ao trabalho, à educação dentre outros. Visto isso, o modo mais comum de se ter proteção previdenciária é através da relação laboral na qual o empregado tem com seu empregador por meio de contrato de trabalho, o qual assegura através de contribuição os direitos que lhe asseguram.
Em razão disto, Milton Vasques Thibau de Almeida (2006, p. 102):
No sistema da Previdência Social as prestações consistem, precipuamente, em benefícios, que são rendas mensais cuja natureza jurídica de “substitutivo de salário”, ou seja, toda vez que o trabalhador se afasta do trabalho por fatores alheios à sua vontade, por ter sido acometido por infortúnio, é privado da renda que lhe garante a subsistência, razão pela qual os benefícios previdenciários substituem essa renda da qual o segurado foi privado.
Neste sentido, a Previdência Social assegura aqueles que se encontram incapacitados meios para que possam se sustentar através do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), o qual é proveniente o controle da concessão e cessação dos benefícios.
Os benefícios oferecidos terão a garantia do recebimento do mínimo, ou seja, todos aqueles que forem beneficiários terão assegurados o salário mínimo vigente a época do beneficio. Salvo beneficiários que recebem salário-família e o auxílio acidente. 
 3.2 A Reforma da Previdência e a consequência na relação empregatícia
É de amplo conhecimento sobre a temida reforma da previdência, a famigerada Proposta de Emenda Constitucional (PEC) n. 287/2016 que traz diversas mudanças no cenário já conhecido da pela população ao que se trata de seguridade social e regras de transição.
Apresenta-se a PEC como uma necessidade atual de reformulação no sistema de seguridade social por razões de possíveis crises neste e que o referido estaria causando prejuízo aos cofres público, se fazendo assim necessária urgência na elaboração e aprovação da PEC. 
Porém, se visualiza uma má gestão e o desvio de recursos públicos como possíveis fatores que contribuíram para que houvesse a defasagem do equilíbrio dentro da Seguridade Social.
Como expõe Ricardo Lodi Ribeiro (2017):
O esfacelamento da previdência social como hoje conhecemos, a partir da constatação de que não se trata de uma proposta que visa ao equilíbrio financeiro do regime previdenciário atual, cuja necessidade não se pode negar, mas à sua implosão, sem que se ofereça outro que atenda aos interesses dos trabalhadores que venha a substitui-lo. Explicando melhor: as regras propostas pelo Governo são tão draconianas para os segurados de qualquer outro destino que esses possam dar ao seu dinheiro é mais vantajoso do que o regime previdenciário oficial, caso a emenda seja aprovada.
Acentua-se no tema em estudo – o limbo previdenciário - a convocação em qualquer tempo, que também pode ser chamado de “pente-fino”, poderá produzir malefícios aqueles que forem convocados prematuramente, já que causa uma instabilidade na obtenção de documentos essenciais na entrevista para a reestabelecimento do benefício. 
Logo, é de conhecimento geral que a nova obtenção ao reestabelecimento da concessão do benefício é dificultosa. Com isso, verificamos uma ligação com a situação atual das mudanças que regulamentam o INSS e o limbo jurídico previdenciário-trabalhista. Pois mais uma vez vemos a presença de uma precariedade para população menos favorecida, aumentando exigências e estreitando a concessão de benefícios. 
Conclui-se que com o mínimo de consciência e respeito aos trabalhadores, mudanças seriam feitas de maneira adequada.
4 A CESSAÇÃO DO BENEFÍCIO E O ÍNICIO DO LIMBO JURÍDICO PREVIDÊNCIÁRIO-TRABALHISTA
Observa-se que, conforme tratado anteriormente, o INSS vem promovendo sucessivas ações para o famoso “pente-fino”, ou seja, é um método que o Regime Previdenciário encontrou com a finalidade de diminuir a concessão desses benefícios, principalmente ao que se trata do auxílio doença, este que é o de estudo em questão.
Porém, nem sempre os cortes são feitos de maneira devida o que vem causando um enorme problema este, que acaba se tornando o primeiro passo para o início do impasse observado.
A cessação do benefício de um lado, com o entendimento da Previdência Social de que o empregado estaria em condições de retonar ao trabalho e por outro lado o empregador, que em virtude da constatação através de exame no qual empregado não está apto ao retorno das suas atividades habituais ficando ele, neste caso, desamparado financeiramente. 
Encontrando-se o início do limbo no qual de um lado a Previdência entende a capacidade para labor deste funcionário que recebe nesse caso alta previdenciária, já por outro lado, o empregador constata através do médico patronal a inaptidão do retorno o trabalho.
Traz-nos então, com a finalidade de esclarecer tal preceito às palavras de Marco Aurélio Marsiglia Treviso (2015, p. 80):
É muito comum o Poder Judiciário Trabalhista ser chamado a enfrentar s seguinte situação: determinado empregado encontra-se afastado de suas atividades, por força de um benefício acidentário (auxílio-doença comum ou acidentário), até o momento em que esta prestação é cancelada, pelo fato de que o INSS o considerou apto ao trabalho; o trabalhador, neste contexto, dirige-se à sede da empregadora para retomar as suas atividades profissionais, quando é comunicado pelo médico da empresa que, na verdade, ainda encontra-se inapto para o labor.
O limbo jurídico está baseado no valor social do trabalho e o respeito à dignidade da pessoa humana, já que é no “valor da dignidade da pessoa humana que a ordem jurídica encontra em seu próprio sentido, sendo seu ponto de partida e seu ponto de chegada” (ANGELIS, 2015).
Logo, para que se evitem maiores problemas, os tribunais vêm orientando os empregadores que estão nestas situações de ingressarem com uma ação contra o INSS, visto que, a decisão do proveniente da referida é superior ao que o empregador acredita e, neste caso, como o empregado é a parte hipossuficiente da relação laboral, deve o empregador garantir o mínimo de sua subsistência, assim como vimos quando tratamos da importância do salário e remuneração, estes que possuem natureza alimentar.
Neste sentido, traz o seguinte Agravo:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. ACÓRDÃO REGIONAL PUBLICADO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014. 1. PAGAMENTO DOS SALÁRIOS DURANTE O PERÍODO DE "LIMBO JURÍDICO PREVIDENCIÁRIO". I. O entendimento predominante no âmbito deste TST nos casos do denominado "limbo jurídico previdenciário", em que o INSS concede alta ao trabalhador ou nega-lhe a concessão de auxílio-doença e o empregador não permite que o empregado trabalhe por conta de avaliação do médico da empresa dissonante dos termos da perícia previdenciária, é no sentido de que a responsabilidade pelo pagamento dos salários durante o período no qual o obreiro não recebe nenhum benefício do Órgão Previdenciário, mas fica sem poder trabalhar por determinação patronal, é do empregador, tal qual decidiu o Tribunal Regional de origem. II. Inviável, pois, o prosseguimento do recurso de revista por divergência jurisprudencial, já que a decisão exarada pelo TRT está em consonância com aiterativa, notória e atual jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho, incidindo na hipótese a Súmula nº 333 desta Corte. 2. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO CONSIDERADOS PROCRASTINATÓRIOS PELO TRIBUNAL DE ORIGEM. VIOLAÇÃO DOS ARTIGOS 897-A DA CLT E 1.026, § 2º, DO CPC. INOCORRÊNCIA. Não há violação direta e literal dos artigos 897-A da CLT e 1.026, § 2º, do Código de Processo Civil em razão da condenação do Agravante ao pagamento da multa por embargos de declaração procrastinatórios, uma vez que tal penalização está lastreada no próprio § 2º do artigo 1.026 do CPC, sendo a aplicação ou não de referida penalidade matéria de natureza interpretativa, inserida no âmbito do poder discricionário do Órgão Julgador, que, na hipótese, convenceu-se do intuito protelatório da medida suscitada no Tribunal Regional de origem, sequer apontando o Agravante qual seria a omissão em que, supostamente, incorreu o Tribunal Regional, o que obsta a análise da pertinência ou não do manejo da medida aclaradora. IV. Agravo de instrumento de que se conhece e a que se nega provimento. (TST - AIRR: 10014677920135020383, Data de Julgamento: 09/05/2018, Data de Publicação: DEJT 11/05/2018)
Assim, caso for comprovada realmente sua inaptidão, cabe ao empregador o direito de ação de regresso em face do INSS com a finalidade de obter o valor que fora pago indevidamente ao empregado enquanto este estava aguardando a decisão.
Portanto, desta forma, dará ao empregado justo direito em obtenção do mínimo para sua subsistência e de sua família através da tutela jurisdicional, visto que, deve sempre se deve obervar à parte mais frágil da relação de emprego, que neste caso é sempre o empregado, tornando-se vulnerável na situação apresentada.
Nestes termos, conclui-se que o empregado independente do que venha a acontecer, sempre estará em posição de desamparo, logo, para que isso não ocorra, cabe ao empregador, em razão da função social da sua empresa, do contrato de trabalho e da natureza salarial, cumprir os devidos deveres em razão dos seus funcionários que se encontre em tal situação.
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclui-se ao final deste trabalho que a relação de emprego está intimamente ligada à Previdência Social e que, atos administrativos executados pela Seguridade Social interferem diretamente na relação laboral de empregado e empregador, uma vez que, se trata de uma obrigatoriedade da contraprestação no recolhimento mensal da contribuição previdenciária.
O ápice da questão principal com relação a questão central apresentada é a vacância do período em que o empregado tem seu benefício suspenso pela Seguridade Social, em razão de uma possível volta ao trabalho para que possa realizar suas atividades cotidianas normalmente e o fato de o médico patronal atestar o inverso do que fora afirmado em cessação do benefício pelo INSS.
Logo, se verifica que se verifica que esse empregado encontra-se impossibilitado do retorno as suas atividades habituais, forçar sua volta ao trabalho é um risco, mesmo que ele seja adaptado em outra função. Assim, verifica-se o limbo jurídico previdenciário-trabalhista. 
A alta dada pelo INSS e a não aptidão contatada em exame pelo médico do trabalho é questão de vulnerabilidade do empregado, uma vez que ele não receberá mais o benefício e, não terá mais como receber seu trabalho, pois para caracterizar o contrato de trabalho deverá haver uma habitualidade e pessoalidade na execução dos serviços.
Por esta razão, o empregador, mesmo com um atestado médico, deverá efetuar o pagamento do salário ao empregado em razão da sua hipossuficiência e a Função Social da empresa, pois o INSS tem superioridade em sua decisão em razão disto o empregador deverá ajuizar uma ação contra o órgão com o intuito de comprovar a inaptidão do empregado para o exercício daquela função e mesmo de outra adaptada que poderá prejudicar mais ainda o quadro pelo qual o empregado se encontra.
Todavia, não só é em razão da obrigatoriedade desse pagamento, é a dignidade da pessoa humana, uma vez que o empregado encontra-se de forma desamparada e sem condições de arcar com sua subsistência e de sua família, pois salário tem caráter alimentar. 
Viu-se também, que com a reforma previdenciária a Seguridade Social está cada vez mais realizando o chamado “pente-fino” e suspendendo benefícios a fim de minimizar a crise econômica que assola o país, sem realizar o veredicto para constatação da capacidade de retorno ao trabalho.
Logo, não se pode dizer que todo tipo de limbo jurídico previdenciário-trabalhista decorre de uma má fiscalização ou uma negligência do INSS em não realizar as devidas constatações.
Entretanto, a situação pela qual o empregado se encontra no limbo é desprotegida por ambos os lados, sujeito a problemas sociais. Por isso sempre será necessária à observação de cada caso concreto, para se analisar com cautela todas as questões presentes preservando a primazia da realidade e a questão pela qual o empregado se encontra, os preceitos constitucionais e trabalhistas.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Milton Vasques Thibau de. Fundamentos constitucionais da previdência social. Belo Horizonte: Fórum, 2006.
ANGELIS, Juliano de. O empregado e a situação de “limbo jurídico previdenciário”. Revista Juris Plenum Previdenciária: doutrina. Rio Grande do Sul Ano III, n. 12 (nov./jan. 2016). Editora Plenum, 2015.
BOMFIM, Vólia. Direito do Trabalho: de acordo com a Reforma Trabalhista e a MP 808/2017. 15. ed. rev. atual. e amp. São Paulo: Editora Método, 2018 
BRASIL. Código Civil Brasileiro. Lei nº 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm.
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DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 14. ed. São Paulo: LTr, 2015.
GOMES, Orlando; GOTTSCHALK, Élson. Curso de Direito do Trabalho, 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1995.
MARANHÃO, Délio; CARVALHO, Luiz Inácio Barbosa, Direito do Trabalho, 17. ed. Rio de Janeiro: Editora da FGV, 1993.
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 16. ed. São Paulo: Atlas, 2003.
MARTINS, Sérgio Pinto. Curso de Direito do Trabalho. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2015.
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TREVISO, Marco Aurélio Marsiglia. O limbo jurídico: o trabalhador que é considerado apto pelo INSS e inapto pelo empregador. Uma solução hermenêutica em prol da justiça do trabalho. São Paulo: LTr, 2015.

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