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Pancreatite Aguda 1- Introdução C O N C E I T O : Inflamação aguda do pâncreas --> acometimento variável das estruturas peripancreáticas e orgãos à distância. Autodigestão tecidual --> enzimas pancreáticas; OBS¹: Grave --> multissistêmico, alta letalidade e leva à SIRS; OBS²: Não deixa sequelas pancreáticas; E P I D E M I O L O G I A : PANCREATITE AGUDA EDEMATOSA/LEVE/ INTERSTICIAL: 80 a 90%, edema do orgão, autolimitada (3-7 dias), congestão pancreática, sem necrose, sem complicações, letalidade de 1%; PANCREATITE AGUDA NECROSANTE/ GRAVE/ NECRO-HEMORRÁGICA: 10-20%, extensa necrose parenquimatosa, hemorragia retroperitoneal, quadro sistêmico grave, evolução de 3 a 6 semanas, letalidade de 30-60%; 1. 2. 2- Patogênese e etiologia Reação inflamatória aguda e difusa; Necrose gordurosa (marco da doença): parênquima do orgão e tecidos peripancreáticos, mesentério e omento; Processo inflamatório: lesão das células acinares --> enzimas pancreáticas ativas para o interstício; GRAVE: necrose glandular, ruptura vascular e hemorragia. Lesão enzima- induzida: fosfolipase A e lipase -> autodigestão da gordura. Assim: ácidos graxos + cálcio: saponificação -> hipocalcemia. OBS: estímulo lesivo --> fusão: grânulos de zimogênio + vesículas lisossomais (catepsina B -> ativar zimogênios no interstício do orgão --> processo autodigestivo. 1. elastase: lesão do interstício e ruptura vascular. 2. Cascata de fatores: ativação do sistema de cininas, coagulação (microtrombos e necrose), complemento (mediadores inflamatórios). Dano à microcirculação; Translocação bacteriana: cólon tranverso OBS: infecção -> LETALIDADE Causas mais comuns: a) litíase biliar: pequenos cálculos que causam obstrução transitória/ edema, aumento da pressão intraductal e ativação enzimática; ou refluxo biliar para o ducto pancreático. Sexo feminino, obesos e 50-70 anos. b) álcool: 5- 10 % dos alcoolistas ( > 25g etanol/ dia e > 100g/dia há pelo menos uns 5 anos, com média de 15 anos); Episódios recorrentes de pancreatite aguda; Ocorre lesão tóxica acinar e formação de cilindros proteináceos; OUTRAS: Hipertrigliceridemia (> 1000 mg/dl), hipercalcemia (hiperparatireoidismo 1a), pós cirurgias, fármacos (imunossupressores, HIV, antibióticos, diuréticos, anticonvulsivantes, antiinflamatórios, anti-hipertensivos, ca+, estrógenos). 3- Manifestações Clínicas Tríade: DOR ABDOMINAL (andar superior), NÁUSEAS e VÔMITOS (incoercíveis) Dor: contínua, lancinante, variável (localização e irradiação) Alívio da dor: posição genupeitoral Derrame pleural à esquerda é comum -> dispneia. Abdome: varia -> dor leve à palpação até sinais de irritação peritoneal (Blumberg +), distensão ("íleo paralítico"). Progressão rápida mas não abrupta com intensidade de 10 a 20 min; Pode se manter por dias; Alcoólica: após 1 ou 3 dias da libação OBS: disposição em barra e irradiação para o dorso EXAME FÍSICO: achados sistêmicos variam: febre, sinais de desidratação, taquicardia. GRAVE: mau estado geral, toxêmico, pálido, hipotenso, taquicárdico, taquipneico, febril (38,5º a 39ºC) e sensório deprimido (confusão mental, torpor e coma). Icterícia (leve) Sinal de Grey- Turner: equimose dos flancos; Sinal de Cullen: equimose periumbilical; Sinal de Fox: equimose na base do pênis; Paniculite: necrose gordurosa subcutânea; ATENÇÃO: não necessariamente indica pancreatite aguda biliar; Incomum: mau prognóstico 1. 2. 3. 4. nódulos subcutâneos dolorosos de 0,5 a 2 cm e eritema da pele. Retinopatia de Purtscher: raro, escotomas e perda súbita da visão. Exsudatos algodonosos e hemorragias na mácula e papilas ópticas. Atelectasia (pela dor ou obesidade) SDRA (hipoxemia refratária à administração de altos fluxos de O2, infiltrado pulmonar bilateral assimétrico) Choque: Hipovolêmico: 6-10L Vasodilatação sistêmica (choque distributivo/sirético --> SIRS) Insuficiência renal: grave; azotemia (ureia e creatinina): Pré-renal Necrose tubular aguda --> síndrome urêmica e distúrbios hidroeletrolíticos e ácidobásicos. 1. 2. 1. 2. 4- Laboratório INESPECÍFICO; Graves: Hiperglicemia Hipocalcemia ATENÇÃO: O aumento das aminotransferases pode sugerir o diagnóstico etiológico da pancreatite. Leucocitose --> 30.000/mm³ e aumento de PCR: inflamação sistêmica; Aumento das escórias nitrogenadas; Alteração nas provas de coagulação (AUMENTO de TAP e PTTa) EX: TGP(ALT) > 150 U/L tem especificidade de 96% para pancreatite biliar 5- Diagnóstico diferencial Doença péptica/ Úlcera perfurada Colelitíase, coledocolitíase, Colecistite aguda Isquemia mesentérica Obstrução intestinal aguda IAM inferior/ Dissecção aórtica abdominal Gravidez ectópica OBS: Laparotomia exploradora --> dúvida! 6- Diagnóstico Quadro clínico típico + dosagem sérica de amilase e lipase Exames de imagem: não são obrigatórios a) Amilase sérica: 2-12h, mantendo-se alta por 3-5 dias; especificidade aumenta > 500 U/L, principalmente 1000 U/L. (Normal: 160 U/L) b) Lipase sérica: 7-10 dias; > 450U/L; mais específica. (Normal: 140 U/L) c) Amilase + lipase séricas: altamente específicas se forem > 3x LSN; d) TC contrastada: complicações locorregionais; em pacientes graves. Achados -> aumento focal ou difuso do pâncreas, borramento da gordura peripancreática, pseudocistos e áreas de necrose. Mais indicado --> TC helicoidal; Após o 3º dia do início do quadro. e) USG: baixa sensibilidade; Portanto na litíase biliar é o método de escolha. e) Radiografia simples: - Tórax: derrame pleural (esquerda) ou atelectasia em bases pulmonares; Graves: infiltrado bilateral (SDRA). - Abdome: I) Alça sentinela (íleo localizado); II) Sinal do cólon amputado ou do "cut off" (imagem) III) Dilatação das alças (íleo paralítico inflamatório) IV) Aumento da curvatura duodenal (aumento da cabeça do pâncreas); V) Irregularidades nas haustrações do transverso, devido ao espasmo di- fuso. f) RNM: vantagens: (1) pancreatite biliar -> colangiorresonância; (2) IRA no paciente grave (evita contraste); Superior a TC: coleções líquidas --> diferenciação: pseudocisto, abscessos, necrose. Guiar a conduta terapêutica; Escores para estratificar o prognóstico; a) Critérios de Ranson: 11 itens 7- Prognóstico b) APACHE-II: 14 parâmetros, online e 24h da admissão; Grave: 8 ou mais; c) "BISAP": beira do leito, 5 parâmetros: - Ureia> 44 mg/ml - Alteração do estado mental - SIRS - Idade> 60 anos - Derrame pleural. d) Escore de Atlanta: foi modificado em 2012; e) TC CONTRASTADA: padrão-ouro na necrose pancreática - Sensibilidade: 4º e 10º dia do início da doença; - Coleções líquidas agudas (inferior a 4 semanas) - Extensão do processo inflamatório ("fleimão pancreático") - Escore > ou = 6: mau prognóstico Outros: Marcadores sorológicos (PCR, IL-6), SOFA, escala de Marshall modificada; HAPS (avaliar o bom prognóstico); Inicialmente: LEVE: não indica internação em UTI, realimentação oral (3 - 5 dias -> melhora da dor, retorno da peristalse, ausência de vômito e desejo de alimentar-se a) Reposição volêmica, analgesia, dieta zero; b) Definir: leve ou grave --> após 48h; c) Grave: orientar pela TC contrastada; d) Complicações; e) Recomeçar dieta enteral no momento adequado. * TTO de suporte: Analgesia (meperidina ou outros opiáceos, pode: morfina), hidratação venosa, controle eletrolítico e ácido-básico. 8- Tratamento GRAVE: Atenção para as complicações orgânicas sistêmicas -> Pode precisar: intubação traqueal com VM e a monitorização hemodinâmica completa. Analgesia: opiáceos (meperidina, OBS: efeitos colaterais); Hidratação venosa vigorosa (1° 24h: 6L -> Ringer lactato ou soro fisiológico) Suportenutricional: nas 1°'s 48h: Aminas vasopressoras: choque refratário a reposição volêmica; Cateter nasogástrico em sifonagem:vômitos incoercíveis e distensão abdominal (íleo paralítico) Antibiótico profilático: não tem benefício, somente em necrose infectada. # nutrição enteral jejunal: rica em proteínas e pobre em lipídeos. TTO da necrose pancreática infectada: a infecção ocorre após 10 dias da pancreatite. CPRE e papilotomia: nas 1º's 72h da pancreatite aguda biliar, colangite e/ou icterícia progressiva moderada a grave (ex: bilirrubina total> 5mg/dL) Colecistectomia semieletiva: em todos com pancreatite aguda biliar antes da alta hospitalar, porém após a resolução do quadro clínico agudo. # TC: sinal da bolha de sabão (gás) -> indicativo de infecção; Ou: punção do tecido necrótico guiada por TC. OBS: qualquer coleção de líquido deve ser puncionada. Germes mais comuns: Gram negativos entéricos (E.coli, Klebsiella sp.), S. aureus, anaeróbios e Candida sp. OBS: Necrose -> Necrosectomia: se possível após os 12 dias.
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