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Queimaduras Reanimação inicial adequada reduz morbimortalidade (evita evolução do grau da queimadura; infecções, etc) Atendimento inicial - Avaliar VA, buscando comprometimento por inalação - Identificar lesões associadas (outros traumas) - Manter hemodinâmica e normotermia Epidemiologia BR - 1 mi acidentes/ano (considerar subnotificação) 2.500 mortes/ano 2/3 dos acidentes são domiciliares! 10.000 atendimentos hospitalares População mais atingida: Adultos jovens do sexo masculino; idosos e menores de 15 anos Prognóstico Principal parâmetro: superfície corpórea queimada (melhor preditor de sobrevida, em especial a partir de segundo grau) Idade, abuso de álcool, obesidade, doenças cardíaca, hepática e pulmonar pré-existentes Alterações neurológicas (inalação de cianeto, CO2... lesão inalatória aumenta em 7x a mortalidade) Traumas associados (ex: queimadura + TCE) Fisiopatologia Lesão de pele e partes moles com repercussão sistêmica, que vai desencadear resposta inflamatória com efeitos sistêmicos: - alterações hemodinâmicas - maior permeabilidade capilar (extravasa líquido pro terceiro espaço, choque hipovolêmico) - imunossupressão - hipermetabolismo (ativação celular para reparo tecidual) - edema (pode haver síndrome compartimental) - menor fluxo sanguíneo renal (hipovolemia pode causar IRA) Local de queimadura -> ocorre necrose de coagulação A profundidade depende da queimadura, tempo de exposição e calor específico do agente lesivo Zonas de lesão - Zona de coagulação - necrose (irreversível) Zona de estase - hipoperfusão (reversível) - mediadores químicos estimulam vasodilatação arteriolar compensatória Zona de hiperemia - vasodilatação (viável) O tratamento adequado impede que a zona de estase se torne uma zona de coagulação, e a queimadura aumente em extensão e profundidade Temperatura vs. Tempo de contato <44º C - destruição térmica ocorre em exposição prolongada 44 a 69º C - a taxa de destruição dobra a cada aumento de 1o. C >70º C - destruição celular instantânea (necrose coagulativa é imediata) Cura 1o. grau - lesão atinge só epiderme. A regeneração ocorre a partir da própria epiderme, em 3 a 6 dias. Regeneração completa 2o. grau - restauração a partir dos anexos remanescentes. Reepitelização + cicatrização Superficial - 10 a 14 dias / Profunda - 25 a 35 dias A queimadura pode ser superficial ou profunda, dependendo da altura da derme atingida. 3o. grau - cicatrização. O manejo inclui escarotomia. Após a escarotomia, ocorre cicatrização por segunda intenção, ou a necessidade de se fazer enxerto ou retalho. A reepitelização ocorre pelas bordas da ferida e por anexos cutâneos. Portanto, há áreas da pele que regeneram mais facilmente. Classificação por causa Gás Química Contato Frio Escaldadura Chama direta Elétrica Classificação por profundidade 1º grau - limitada à epiderme. Hiperemia por aumento da vascularização, dor pelo estímulo inflamatório. Regenera por completo 2º grau superficial - atinge até a derme superficial (papilar - entre epiderme e derme). Há BOLHAS (flictenas). Ao desbridar a flictena, há diferença entre segundo grau superficial e profunda - Na queimadura de segundo grau superficial, o leito é esbranquiçado. Hiperemia e dor 2º grau profundo - atinge derme reticular, quase no subcutâneo Também conta com flictenas (quando remove a bolha, há leito com vaso sanguíneo.) Em geral coexistem áreas com queimadura de 2 grau superficial e profunda Hiperemia e dor 3º grau - atinge espessura total da pele Lesão completa da epiderme e derme, expondo subcutâneo Indolor em região de escara Seca e endurecida, semelhante a couro. Aspecto mosqueado ou marmóreo 4º grau - atinge até fáscia, músculo, osso e órgãos. Há perda funcional relevante. Em geral ocorre em queimadura elétrica de alta voltagem e térmicas com alta temperatura e alto tempo de exposição. Superfície Corpórea queimada Método de Wallace (regra dos 9) Cabeça e pescoço - 9% MMSS - 9% Tronco - 18% de cada lado(anterior e posterior) MMII - 18% cada Genitália e períneo - 1% Criança - proporção muda. A cabeça é mais relevante, representando 18%; e o MMII diminui, estimando 14% Regra da palma da mão DO PACIENTE: Palma da mão - cerca de 1% de superfície queimada Diagrama de Lund e Browder Mais preciso e específico. Presente em aplicativos! Varia de acordo com a idade para cabeça, coxa e perna. Considera alterações que ocorrem ao longo do crescimento do indivíduo. Manejo Cirurgião plástico: fim da linha, após fase aguda. Faz desbridamento, enxertia parcial ou total; retalhos Reabilitação Tratamento de sequelas: contraturas, bridas e superfícies inestésicas. Acompanhamento com enfermagem (troca constante de curativos); TO... Atendimento do paciente queimado Paciente grande queimado é considerado politraumatizado -> Considerar ATLS Atendimento inicial 1. Remover da cena 2. Interromper processo lesivo (ex: paciente com roupas pegando fogo, remover roupa) 3. Suspeitar de lesão por inalação (IOT + VM) 4. Iniciar reposição volêmica no pré-hospitalar 5. Colar cervical + prancha rígida 6. Aquecer o pcte (risco de hipotermia) 7. Se possível, água a temperatura ambiente na lesão nos primeiros 15 minutos (refriar a lesão, para evitar a ação lesiva da temperatura) Protocolo ATLS = Politraumatizado Avaliação primária + reanimação Airway Manter colar cervical, avaliar lesão inalatória (queimadura de VA superior ou inalação de gás tóxico/fuligem -> risco de alveolite, pulmão de SARA) Queimadura causa edema de mucosa, pode fechar VA Queimadura em face e pescoço; chamuscamento de cílios e vibrissas nasais; depósito de carbono na boca e nariz (fazer oroscopia); rouquidão História de confinamento (calor do vapor do gás piora situação); alteração neurológica, explosão com queimadura, caboxihemoglobina>10 % Proteger VA -> VA definitiva com IOT na suspeita de acometimento de VA! Proteger contra edema de mucosa de VA superior Oxigênio suplementar: 15L/min Sedação usada só quando necessário, evitar bloqueador neuromuscular por risco de aumento de hipercalemia (K+ já aumentado pelo trauma) Breathing Preocupação com hipóxia, inalação de CO e fuligem Lesão inalatória = IOT + ventilação mecânica (15 L/min) Se suspeita de intoxicação por CO = FiO2 + suporte ventilatório invasivo Circulation Circulação com controle da hemorragia Grande queimado perde muito líquido pro ambiente e 3° espaço! 2 acessos venosos calibrosos - 14G ou 16G Reposição com cristaloide (Ringer Lactato) aquecido. Evitar coloide nas primeiras 24 horas! O coloide pode extravasar pro terceiro espaço, piorando o edema Ringer Lactato = 2 mL/kg/%SCQ (Fórmula de Brooke modificada). Só válido para queimaduras de segundo grau. Essa fórmula evita risco de hipervolemia e consequente piora do edema. Infundir 50% nas primeiras 8h e 50% nas 16 horas seguintes. Reavaliar resposta à ressuscitação volêmica pela diurese (>0,5 ml/kg/h - sonda) Avaliar sangramentos externo e interno (paciente queimado pode ter outros traumas) Monitorização cardíaca para avaliar arritmias, principalmente em queimados elétricos Avaliação laboratorial - análise bioquímica, hematológica, beta-HCG, tipagem sanguínea, prova cruzada e gasometria arterial Disability (Disfunção Neurológica) Avaliação neurológica rápida Nível de Consciência pela Escala de Coma de Glasgow Avaliar tamanho e reatividade daspupilas Avaliar sinais de lateralização e o nível de lesão medular Environment Exposição e controle do ambiente Despir o paciente EF geral rápido Avaliar coluna vertebral e traumas associados Determinar %SCQ e profundidade das lesões. Avaliar sinais de isquemia em extremidades Queimadura de 3° grau -> escarotomia A queimadura pode ser circular, e comprimir a perfusão distal Escarotomia pode permitir expansibilidade torácica! Síndrome compartimental: causada por restrição da expansibilidade da musculatura por meio da fáscia muscular. Deve ser feita a fasciotomia (incisão da fáscia, liberando pressão sobre o feixe vasculonervoso) Se não fizer fasciotomia, haverá isquemia. Dor à movimentação, parestesia, edema, pulsos fracos e ausentes são sinais de síndrome compartimental. Síndrome compartimental abdominal, risco aumentado pela reposição volêmica agressiva. Atentar para sinais clínicos de compressão de víscera. Tratamento com escarotomia de abdome ou peritoneostomia Cuidados Aquecer o paciente, com cobertor ou dispositivos externos Controlar a temperatura da sala de atendimento Avaliação secundária + reanimação ... com paciente estável! História e EF completo SAMPLA História e mecanismo do trauma - onde, tempo de exposição, mecanismos associados, confinamento. Fazer documentação e fotos! Medidas auxiliares - sondagem vesical de demora para avaliar perfusão tecidual. Adulto >0,5 ml/kg/h. Criança> 1 ml/kg/h Sondagem nasogástrica: descomprime o estômago e evita vômitos e risco de broncoaspiração Imunização antitetânica se necessário RX - coluna cervical, tórax e pelve. Avaliar IOT Avaliar necessidade de broncoscopia (lesão inalatória?), TC (trauma associado), EDA Deixar paciente em jejum! Porque pode precisar de cirurgia e balneoterapia Calcular reposição volêmica, pode colocar soro com glicose Não usar ATB sistêmico. Fazer tratamento com ATB tópico. Paciente não está infectado ainda. Apenas colonizado. Só usar ATB sistêmico com infecção já documentada com cultura ou claros sinais clínicos. Ex: ferida encostou no mato! não interessa. ATB Sistêmico causa seleção de microbiota, e a área queimada pode ser meio de cultura. Fora que paciente ficará internado muito tempo Analgesia EV - cuidado com narcóticos (opioide), risco de rebaixamento e instabilidade hemodinâmica Protetor gástrico - inibe bomba de próton. Evitar úlcera de Curling (lesão aguda de mucosa gástrica - causa risco de HDA) Tratamento inicial das feridas - Lavagem com SF 0,9% e degermante (descontaminar a ferida) - Debridar tecidos desvitalizados (inclusive flictenas) - Curativo estéril Evitar perdas hidroeletrolíticas Proteger contra infecção Evitar perda de calor Evitar dor Curativo - 4 camadas - Agente tópico: queimadura superficial: ácido graxo p/ hidratar > 20% de sup. queimada -> pomada de ATB = sulfadiazina de prata, nitrato de cério - Camada antiaderente - Rayon. Inibe que a gaze grude na ferida - Camada absortiva - gaze e algodão - Camada protetora - atadura e faixa -Curativos biológicos - pele de cadáver (banco de tecidos) pele de porco, rã ou peixe sintéticos: integra, alloderm A pele de cadáver pode ser colocada de 7-14 dias, enquanto paciente melhora o suficiente para intervenção posterior com cirurgia plástica Curativo - pele de tilápia. Estudo brasileiro! Armadilhas - não identificar lesão inalatória - reposição volêmica insuficiente (choque) - não reconhecer síndrome compartimental ou restrição torácica (podendo impedir o drive respiratório ou necrose de extremidade) - não identificar intoxicação por CO - analgesia inadequada. Fazer reavaliação constante! Quando transferir? Contato com equipe especializada Encaminhar documentos Só transferir paciente estável! Critérios de transferência para internação em centro de queimados - espessura parcial > 10% SQC - queimadura em áreas nobres - face, mãos, pés, genitália, períneo, articulações - qualquer queimadura de espessura total - como ocorre em queimaduras elétricas ou químicas - lesão inalatória - pacientes com comorbidades - crianças - trauma concomitante - necessidade de intervenção social e reabilitação de longo prazo. Medidas auxiliares Necessidade de transferência para centro de estabilidade Tratamento definitivo
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