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FACULDADE DOM ALBERTO FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS E SOCIOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO SANTA CRUZ DO SUL – RS 11 EDUCAÇÃO COMO SISTEMA CULTURAL A Idade Moderna é um período marcado por grandes transformações. Estas transformações e o desenvolvimento da ciência moderna levaram o homem a questionar os critérios e os métodos usados para aquisição do conhecimento verdadeiro da realidade. Como podemos conhecer? Quais os fundamentos do conhecimento? O que é conhecer? Essas questões são essenciais pra a ciência, a ética e epistemologia. A Filosofia Moderna vai enfrentar o prestígio que o pensamento de Aristóteles tinha e a supremacia da doutrina da Igreja, na Idade Média, e inaugurou um modo novo de conceber e compreender o conhecimento. O século XVII viu nascer o método experimental e a possibilidade de explicação mecânica e matemática do Universo, que deu origem à ciência moderna. A partir desses questionamentos, duas novas perspectivas para o saber, às vezes complementares, às vezes antagônica. Surgem o racionalismo e o empirismo. O racionalismo e o empirismo constituem novos paradigmas da filosofia moderna para conhecer a realidade.O que é a razão? Existem vários sentidos de razão no nosso dia a dia. A Filosofia se define como conhecimento racional da realidade natural e cultural, das coisas e dos seres humanos. A razão é a organização e ordenação de ideias, para assim poder sistematizá-las. A razão é atividade intelectual de conhecimento da realidade natural, social, psicológica, histórica. Possui um ideal de clareza, de ordenação e de rigor e precisão dos pensamentos e de palavras. A razão, em sua origem, é a capacidade intelectual de pensar e exprimir-se correta e claramente, de modo a organizar e ordenar a realidade, os seres, os fatos e as ideias.Desde o começo da Filosofia, a origem da palavra razão fez com que ela fosse considerada oposta a quatro outras atitudes mentais: • Ao conhecimento ilusório • Às emoções, aos sentimentos, às paixões, • À crença religiosa, em que a verdade nos é dada pela fé numa revelação divina Aulas de 21 a 30 • Ao êxtase místico A Filosofia Moderna foi o período em que mais se confiou nos poderes da razão para conhecer e conquistar a realidade e o homem – por isso foi chamado de Grande Racionalismo Clássico. O marco dessa forma de pensamento é René Descarte, matemático e filósofo, inventor da geometria analítica. O método escolhido é o matemático, por ser o exemplo de conhecimento integral racional. 11.1 Do senso comum ao senso crítico O objetivo principal da Filosofia é despertar no aluno a percepção que a análise, reflexão e crítica da realidade, fundamentadas pelo pensamento filosófico e norteadas por princípios e valores éticos, levam a uma maior compreensão do mundo, propiciam escolhas conscientes e um atuar justo tanto no cotidiano quanto no exercício profissional, tornando-o consciente de sua importância como indivíduo e cidadão. O pensamento filosófico aproxima o homem do mundo, proporciona uma maior compreensão da realidade e a descoberta de novos significados para a existência, tornando o ser humano capaz de ajustar suas escolhas e ações no convívio com o outro, com o mundo e em sua experiência profissional. Conhecer os temas, as ideias, os conceitos e a história da Filosofia amplia a nossa experiência de compreensão do mundo e nos permite ser donos de nosso próprio pensar, falar e agir. A Filosofia é um modo de pensar que acompanha o homem em sua tarefa de compreender o mundo e agir sobre ele. A todo o momento estamos diante de crenças, julgamentos e regras de comportamento. Muitas dessas crenças são silenciosas, muitos desses comportamentos são aceitos como óbvios e naturais. Toda nossa conduta se baseia em valores morais, religiosos, políticos, artísticos e estéticos. Em nosso cotidiano, as opiniões e os preconceitos orientam nossas conversas e ações, é o chamado senso comum. O que caracteriza o senso comum não é sua verdade ou falsidade, mas a sua falta de fundamentação coerente, precisa e sistemática. A maioria das pessoas não questiona suas crenças, seu valores, seus propósitos, seus sonhos e seu pensar. Essa atitude leva o indivíduo a se distanciar da realidade e a agir sem responsabilidade, pois ele já não é dono de seu próprio pensar, portanto não é dono de sua fala e suas ações. É importante que o homem passe a analisar, refletir e criticar, tornando-se capaz de compreender o mundo, o outro e a si próprio. A Filosofia proporciona a aproximação entre o homem e a realidade. A atividade filosófica é fundamentada na análise, reflexão e crítica da realidade e dos seres humanos, de como se pensa, fala e age. Filosofia é a decisão de não aceitar como naturais e evidentes as ideias, os fatos, as situações e os valores do cotidiano. A primeira coisa que surge ao estudarmos Filosofia são perguntas: - Para que serve a Filosofia? - O que é Filosofia? - Para que eu vou estudar isso? - O que isso traz de bom e útil para minha vida? - Como e onde praticar a Filosofia? Não há respostas definitivas, mas as perguntas são fundamentais na Filosofia. A Filosofia parte do desejo de conhecer a realidade, ir além das aparências. Filosofia tem a ver com pensar melhor a realidade, conhecer a realidade. Compreender a realidade para agir melhor. A Filosofia é importante para todas as áreas, não apenas no nível profissional, mas no pessoal, afetivo, familiar, ético. A Filosofia leva a ideia de PENSAR. Quando pensamos trabalhamos com a palavra, usamos a linguagem. Produzimos conhecimento, produzimos conceitos. Conceitos são ideias desenvolvidas ou elaboradas a respeito de um assunto. Antes de chegarmos ao conceito partimos de uma ideia inicial: o pré-conceito. O pré- conceito é uma ideia não elaborada, incompleta, parcial. O pré-conceito só se torna negativo se nos restringirmos a ele, sem desenvolvê-lo. O conceito é amplo e completo. São tarefas da Filosofia: • Desenvolver os pré-conceitos, torná-los conceitos elaborados e amplos. • Desenvolver a capacidade de pensar. • Desenvolver a capacidade de agir melhor, de formar valores e tornar assim o homem mais livre. 11.2 Adotar a atitude filosófica Adotamos uma atitude filosófica quando nos distanciamos da vida cotidiana por meio do pensar. Saímos da aparência e buscamos a essência das coisas. A Filosofia ou atitude filosófica inicia-se quando abandonamos nossas certezas cotidianas e queremos ir além – nos momentos de crise, que nos levam a transformação. A atitude filosófica pressupõe a atitude crítica. Sempre pensamos crítica como falar mal de algo ou alguém. Não é bem isso. Crítica significa ter a capacidade de julgar, discernir e decidir corretamente, saber examinar racionalmente as coisas sem preconceitos e julgamentos e, também, poder avaliar detalhadamente uma ideia, valor, costume, comportamento. Para sermos críticos precisamos nos afastar do que queremos analisar e analisar o fato, a ideia, como se nunca a tivéssemos visto. A primeira atitude filosófica é dizer não ao senso comum, em uma atitude negativa. A segunda atitude filosófica é perguntar, em uma atitude positiva. Filosofia é a decisão de não aceitar como naturais e evidentes as ideias, os fatos, as situações e os valores do cotidiano. A filosofia surge quando queremos provas racionais para nossas crenças. A atitude filosófica envolve um conjunto de habilidades a serem exercitadas: 1º. Questionar: significa ser curioso, perguntar sobre tudo que existe, pensar sobre as coisas, suspeitar do que é dito habitualmente, desconfiar dos pré-conceitos, do senso comum. 2º. Investigar: procurar respostas para os problemas, buscar conclusões melhores. _ formular hipóteses, analisar, comparar e buscar princípios _ examinar, formular e desenvolver razoese argumentos 3º. Ampliar horizontes _ considerar maneiras de novas de ver a realidade _ Pesquisar o já conhecido e se ela pode ainda ser útil _ Imaginar novas possibilidades e elaborar sínteses 11.3 O conhecimento filosófico O conhecimento filosófico vai ser resultado do exercício e do processo de filosofar, buscando a verdade sem querer possuí-la. O ser humano busca um sentido para sua existência e um sentido mais amplo da realidade. A questão central da filosofia: quem é o ser humano e qual é o sentido da vida, da realidade. Preocupa-se em conhecer a si próprio e com o destino da humanidade. As conclusões filosóficas são sempre parciais e as respostas levam sempre a novas perguntas. 11.4 O pensar Há diferença entre pensar e ter pensamentos. O pensar é uma atividade: “O pensamento é o passeio da alma”, diz um filósofo grego desconhecido. Pensar é um movimento, uma atividade, uma ação. É uma atividade pela qual a inteligência coloca algo diante de si para atentamente considerar, avaliar, pesar, equilibrar, entender. Por meio do pensamento manifestamos nossa capacidade de elaborar regras, normas, leis e princípios. Nós pensamos e sabemos que pensamos. Essa capacidade de refletir sobre o nosso próprio pensamento nos permite encadear processos de abstração. São esses processos de abstração que nos levam a conhecer a realidade e atribuir significados a essa realidade. Isso é possível por que o homem é dotado de razão, da capacidade de raciocinar. O pensamento conta com seu mais poderoso invento: a palavra. É a palavra que confere ao homem essa capacidade de pensar. O pensamento nos familiariza com o mundo e nos leva a compreender o significado dos objetos, das pessoas e das relações entre uns e outros. Nem todos os pensamentos levam à verdade, ou seja, resultam de uma forma lógica correta. Para chegar ao conhecimento verdadeiro, o pensar deve ser movido pelo raciocínio, com uma lógica e argumentos válidos. O processo de pensar pode levar a uma realidade cada vez mais aprimorada. A abstração filosófica nos permite sair da aparência para a essência. Segundo diversas teorias, só é considerado livre o ser humano que é autônomo, capaz de pensar por si mesmo e dar respostas originais a si próprio e ao mundo. E acredita-se que isso é um aprendizado, ou seja, fruto de educação – é possível por meio da educação oferecer as condições de aprimorar sua capacidade de pensar.O mundo é feito de ideias. As ideias são frutos do pensamento. Um pensar pobre não produz ideias, gera um mundo pobre. Perguntas que devemos fazer: _ Minhas crenças correspondem a um saber verdadeiro a um conhecimento? A minha fala é coerente? _ O que orienta minha atitude? Qual o sentido de minha ação? 11.5 O pensamento, a linguagem e o conhecimento O pensamento é a fala internalizada, enquanto a linguagem é a expressão do pensamento. A linguagem permite a comunicação com o mundo, com os outros. O fazer humano deve ser resultado do conhecimento. E o conhecimento é resultado de um pensar correto. O fazer humano deve modificar a realidade exterior, formar os homens, aproximá-los entre si e enriquecer o mundo de valores. Existem várias formas de conhecer e interpretar a realidade, com diferentes enfoques e metodologias: _ O mito – imagens, símbolos e significados. História e narrativa. _ O senso comum – herança, tradição, experiências _ A ciência – estrutura seu saber pelo método científico _ A Filosofia – reflexão rigorosa, sistemática _ A religião – fé, transcendência da vida humana _ A arte - intuição e sensibilidade 12 ESCOLA ABERTA Filosofia é o conhecimento da nossa civilização ocidental, durante 2.500 anos. Uma herança valiosa que pertence a nós todos. A Filosofia gera as ferramentas para pensar, pesquisar e gerar conhecimento. O conhecimento não está inscrito no mundo, ele foi produzido pelo homem, em alguma época e lugar. O conhecimento é fruto do pensamento. Filosofar é interrogar principalmente sobre fato, problemas e dilemas que cercam o ser humano em seu contexto histórico.Por isso devemos entender esses conceitos: 12.1 Senso comum É o conhecimento recebido por tradição e que ajuda a nos situarmos no cotidiano, para compreendê-lo e agir sobre ele. É um conjunto de crenças, baseadas no conhecimento espontâneas e não-crítico, mas que revelam o esforço de buscar soluções para a nossa vida cotidiana. Essas noções podem esconder ideias falsas e preconceituosas. No entanto, não podemos desprezar o senso-comum, pois essa forma de conhecimento tão universal contém muita sabedoria essencial para o desenvolvimento e organização da humanidade (ex: a roda e o fogo). O que caracteriza o senso comum não é sua verdade ou falsidade, é a ausência de crítica, fundamentação e coerência dessas concepções. O senso comum é transmitido no cotidiano, por meio da cultura e hábitos, de pende de julgamento e de valores. Muitas vezes essas concepções do senso comum se transformam em ditados populares. O senso comum lida com opiniões e pré-conceitos, noções parciais e com julgamentos da realidade. 12.2 Ciência A ciência produz um conhecimento sistemático e empiricamente fundamentado, a partir de um método racional. A partir da observação rigorosa, a ciência busca conhecer explicar a realidade forma objetiva, sem interferência de valores e julgamentos. A ciência trabalha com conceitos, que são as noções elaboradas, testadas rigorosamente, comprovadas. Busca descobrir leis gerais que sejam válidas para várias situações particulares. 12.3 Dogmatismo Dogmas são conhecimentos inquestionáveis, são noções estabelecidas sem contestação e crítica. O dogmatismo é a nossa crença de que o mundo existe e é exatamente igual ao que percebemos, por isso não é necessário criticar e refletir sobre a realidade. A atitude dogmática é a aceitação natural e espontânea diante das coisas do mundo: acreditamos e percebemos o mundo pronto e conhecido. É uma atitude conservadora, ou seja, queremos conservar o mundo e as coisas como já são naturalmente. Criamos ideias preconcebidas e rígidas em defesa desse mundo. A Atitude filosófica é o oposto da atitude dogmática - A atitude filosófica pressupõe a dúvida e a crítica, não aceitar como naturais as coisas, os fatos, as ideias os comportamentos, os valores da nossa vida cotidiana. É preciso desconfiar das opiniões e crenças estabelecidas pela sociedade e cultura, e, também, desconfiar das próprias opiniões e crenças. É a atitude que nos leva a analise, reflexão e critica. Ir além da aparência e buscar a essência das coisas, dos fatos, dos valores, opiniões.Procurar saber o que é (significado), como é (estrutura) e por que é (causa) de algo. 13 RACIONALISMO O racionalismo sustenta que há um tipo de conhecimento que surge diretamente da razão. É baseado nos princípios da busca da certeza e da demonstração, sustentados por um conhecimento que não vêm da experiência e são elaborados somente pela razão. O racionalismo considera que o homem tem ideias inatas, ou seja, que não são derivadas da experiência, mas se encontram no indivíduo desde seu nascimento e desconfia das percepções sensoriais. Enquanto a ciência cristã e antiga constituía um corpo de verdades teóricas universais, de certezas definitivas, não admitindo erros, mudanças ou crítica, a ciência moderna e racional vai propor formular leis e princípios que expliquem o funcionamento da realidade. O pensamento racional ao introduzir a dúvida no processo do pensamento, introduz a crítica como parte do desenvolvimento do conhecimento científico. São esses princípios da ciência moderna que encontramos hoje. Principais pensadores: René Descartes (1596-1650), Pascal (1623-1662), Spinoza (1632-1677) e Leibniz (1646-1716), Friedrich Hegel (1770-1831). 14 RENÉ DESCARTES Nasceu na França, em 1596, em um momento deprofunda crise da sociedade e cultura europeia, passando por grandes transformações e ruptura com o mundo anterior. Foi um dos principais pensadores do racionalismo. Expôs suas ideias com cautela para evitar a condenação da igreja. É considerado um dos pais da filosofia moderna. O princípio básico de sua filosofia é a frase: “Penso, Logo existo”. A base de seu método é a dúvida de todas as nossas crenças e opiniões. Para ele, tudo deve ser rejeitado se houver qualquer possibilidade de dúvida. O pensamento é algo mais certo que a matéria. Ele valorizava a atividade do sujeito pensante em relação ao real a ser conhecido. Descarte acreditava que o método racional é caminho para garantir o conhecimento de uma teoria científica. 15 EMPIRISMO O Empirismo defende que o conhecimento humano provém da nossa percepção do mundo externo e da nossa capacidade mental, valorizando a experiência sensível e concreta como fonte do conhecimento e da investigação. Segundo os empiristas, o conhecimento da razão, da verdade e das ideias racionais é importante, mas desde que estejam ligados à experiência, pois as ideias são adquiridas ao longo da vida e mediante o exercício da experiência sensorial e da reflexão. O método empirista baseia-se na formulação de hipóteses, na observação, na verificação de hipóteses com base nos experimentos. O empirismo provoca uma revolução para a ciência. A partir da valorização da experiência, o conhecimento científico, que antes se contentava em contemplar a natureza, passa a querer dominá- la, buscando resultados práticos. Principais filósofos: Francis Bacon, John Locke, David Hume, Thomas Hobbes e Hohn Stuart Mill. 15.1 Francis Bacon Nasceu na Inglaterra criou o lema saber é poder, pois compreende que o desenvolvimento da pesquisa experimental aumenta o poder dos homens sobre a natureza. 15.2 John Locke Médico inglês, dizia que o mente humana é uma tábula rasa, um papel em branco sem nenhuma ideia previamente escrita e que todas as ideias são adquiridas ao longo da vida mediante o exercício da experiência sensorial e da reflexão. Defendeu que a experiência é a fonte das ideias. Desenvolveu uma corrente denominada Tabula Rasa, onde afirmou que as pessoas desconhecem tudo, mas que através de tentativas e erros aprendem e conquistam experiência. PARA LEMBRAR: O racionalismo e o empirismo são pensamentos distintos, embora exista um elemento em comum: a preocupação com o entendimento humano. Fonte: www.pt.slideshare.net.com
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