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Victor Turner (1920 – 1983) Biografia ¤ Nasceu em Glasgow, na Escócia. ¤ Graduou-se em antropologia pela Universidade de Manchester, onde foi orientado por Max Gluckman; ¤ Trabalhou como oficial de pesquisa no Rhodes- Livingstone Institute – quando teve a possibilidade de estudar os Ndembu, da Zâmbia. Aspectos gerais de sua obra ¤ Assim como outros antropólogos de Manchester, o conflito era uma preocupação presente em sua obra. ¤ Deslocamento dos marcos conceituais do estrutural- funcionalismo rumo à análise simbólica e à abordagem processualista; ¤ Encontrou acolhimento no ambiente norte-americano, permeado pela contracultura. Se tornou professor da Universidade de Chicago (onde trabalhou com Geertz). ¤ Antropologia simbólica e interpretativa. Obra ¤ Cisma e Continuidade em uma Sociedade Africana (Schism and Continuity in an African Society) ¤ Estudo mais clássico sobre organização social ¤ Um grupo centro-africano = princípios estruturais da sociedade e canal de reparação de conflitos sociais(entre matrilinearidade e virilocalidade) ¤ Primeiro emprego da ideia de Dramas sociais Conceitos gerais: Dramas Sociais ¤ Os Ndembu ¤ Noroeste da Zâmbia (antiga Rodésia) ¤ População com alta mobilidade social ¤ Susbsistência: plantio de mandioca e caça ¤ Princípios estruturais contraditórios: matrilinearidade e virilocalidade Conceitos gerais: Dramas Sociais ¤ Os Ndembu e os ritos ¤ Fissão e micropolítica ¤ “Rituais de iniciação” e “rituais de aflição” Drama Social Dramas Sociais ¤ Microssociologia diacrônica que complementaria a análise sincrônica da estrutura das aldeias Ndembu. ¤ Análise que considera o caráter dinâmico das relações sociais, em que a forma deve ser lida no processo e no tempo social. ¤ Forma dramática (metáfora de Turner para pensar a sociedade X metáfora de organismos e máquinas). Dramas Sociais ¤ Eventos aleatórios, nos quais podiam ser observados processos de ruptura, crise, reparação e reintegração. ¤ O Drama possui início, meio e fim. ¤ É um modelo agonístico de análise. ¤ Grupos e personagens conflitantes tentam afirmar seus próprios paradigmas e esvaziar os seus oponentes Dramas sociais Tempo histórico: sociedade A A sociedade se organiza segundo princípios dinâmicos Dimensão do fluxo temporal = dimensão fundamental da experiência social Dramas sociais Tempo histórico: sociedade A Drama social Drama social Drama social • Unidades isoláveis do processo social • O drama social se torna visível no fluxo processual Dramas sociais Tempo histórico: sociedade A Drama social Dramas sociais Ruptura Crise Ação Corretiva Reintegração Cada fase tem suas propriedades específicas, suas metáforas e seus modelos Dramas e conflitos – fases sequenciais – uma moldura analítica e descritiva da dinâmica do sistema de relações sociais. Dramas sociais Tempo histórico: sociedade A Tempo histórico: sociedade B Dramas sociais Dramas sociais Dramas sociais Dramas sociais ¤ Após o drama social, mudam os fatores de legitimidade. ¤ Mesmo com a mudança, alguma ordem se mantém Dramas sociais e metáforas rituais ¤ Estrutura do drama social = modelos e metáforas que os atores carregam em suas cabeças = símbolos, signos, sinais, marcas verbais e não verbais Dramas sociais e metáforas rituais ¤ Radcliffe-Brown => símbolos rituais refletem estrutura social e promovem integração da sociedade = comportamento simbólico e ações simbólicas são tratadas como um EPIFENÔMENO ¤ Turner => o simbólico tem um status ONTOLÓGICO – dimensão transformadora da experiência Dramas sociais e metáforas rituais ¤ Os rituais são bons para agir ¤ Porque seus símbolos são polissêmicos e multivocais. ¤ podem ser interpretados de várias maneiras pelos sujeitos em diferentes posições ¤ Condensam várias referências em um único campo afetivo e cognitivo (dimensão subjetiva dos fenômenos). Dramas sociais e metáforas rituais ¤ Os rituais são bons para agir ¤ Os símbolos são semanticamente abertos. ¤ Sociedade e cultura = símbolos ambíguos = níveis dinâmicos em perene processo de resolução. ¤ Símbolos = unidades dos rituais. Dramas sociais e metáforas rituais ¤ Um ritual que funciona ¤ Troca de qualidades entre pólos (efeito catártico) ¤ Pessoas induzidas a querer fazer o que é preciso (exigências da estrutura social) ¤ Tem uma função política integrativa Dramas sociais e metáforas rituais ¤ Nesse ambiente, impregnado de crenças e valores, os símbolos exercem sua eficácia plena como articuladores de percepções e de classificações, tornando-se fatores capazes de impelir e organizar a ação e a experiência humanas e de revelar os temas culturais subjacentes. ¤ Porém, com a ideia de símbolo, Turner busca também, no cerne da experiência ritual, o laço que liga o sujeito à sua própria experiência que, vivida coletivamente, é sempre também experimentada subjetivamente. ¤ Fonte: Castro, Maria Laura Viveiros de. Dramas sociais e metáforas rituais ¤ Metáfora ¤ Nos símbolos existe uma semelhança, metafórica e metonímica, entre a coisa significada e o significado. ¤ Ajuda a proceder do conhecido para o desconhecido. ¤ Qualidade de uma coisa aplicada à outra. ¤ Fusão de dois domínios da experiência em uma imagem – dois pensamentos, agindo em conjunto engendram outro pensamento ¤ A mudança começa com a metáfora e termina com a álgebra. Dramas sociais e metáforas rituais ¤ Metodologia de análise simbólica de Turner 1) Descrição da forma externa e concreta do símbolo, de sua materialidade; 2) Descrição da exegese nativa; 3) Análise dos contextos de uso observados pelo antropólogo, onde se situam a dimensão operacional – a maneira como se usa o símbolo no curso da ação; e aquela posicional – a relação de um símbolo com outros símbolos rituais. Dramas Sociais e metáforas rituais ¤ Podemos jogar luz sobre os símbolos rituais e políticos ao considerá-los não como sistemas abstratos e atemporais, mas em sua temporalidade plena, como instigadores e produtos de processos temporais socioculturais (Turner, 2008, p.141). Dramas sociais e metáforas rituais ¤ Os Ndembu e os ritos ¤ Rituais compensavam as deficiências de integração ¤ Rituais expressavam a coesão e imprimiam os valores da sociedade ¤ Meios para resolução dos conflitos – o ritual afirmava que, apesar do conflito, havia unidade e harmonia Dramas sociais e metáforas rituais ¤ Os Ndembu e os ritos ¤ Nos ritos de aflição, os símbolos evidenciados não enfatizavam a matrilinearidade, nem a ocupação comum em localidades, mais a aflição e a preocupação comum de todos Também, os símbolos dominantes no agregado de objetos e atividades simbólicos associados a cada ritual não refletem ou expressam os principais aspectos da estrutura social, mas antes os valores que todos os ndembus possuem em comum [...]. A unidade primordial dos ndembus se expressa na composição das assembleias rituais. (Turner, 1996, p. 290) Liminaridade e “Communitas” Liminaridade e Communitas ¤ O processo ritual: estrutura e antiestrutura (1969) ¤ Inspirado em Van Gennet (1909) ¤ Ritos de Passagem ¤ Ritos que acompanham toda mudança de lugar, estado, posição social de idade ¤ Fase Liminar dos ritos de passagem – estado de transição ¤ 3 fases dos ritos de passagem – separação, margem e agregação Liminaridade e Communitas ¤ Fases dos Ritos de Passagem ¤ Separação: afastamento do indivíduo de um grupo, de um ponto fixo na estrutura anterior ou de um conjunto de condições culturais (“um estado”) ¤ Margem, ou “limiar”: indivíduo com característica ambíguas ¤ Reagregação ou incorporação: consuma-se a passagem eo indivíduo se coloca num estado relativamente estável, com direitos e obrigações claramente definidas (que vinculam o indivíduo a uma posição social num sistema estrutural). Liminaridade e Communitas ¤ A dialética do ciclo de desenvolvimento ¤ a vida social é um tipo de processo dialético que abrange a experiência sucessiva do alto e do baixo, de communitas e estrutura, homogeneidade e diferenciação, igualdade e desigualdade; ¤ A experiência da vida de cada individuo o faz estar exposto alternadamente à estrutura e à communitas, a estados e transições. Liminaridade e Communitas Tempo histórico: sociedade A Drama social Drama social Drama social Estrutura (sistema de posições sociais) Anti-Estrutura (Communitas) Estrutura e Anti-Estrutura Sociedade B ator Liminaridade e Communitas Tempo histórico: sociedade A Estrutura Anti-Estrutura (Communitas) Liminaridade Liminaridade e Communitas ¤ Liminaridade ¤ É uma condição ou são pessoas ambíguas. ¤ Passagem = ausência de status ¤ Pessoas não possuem “status”, propriedade, papel social, posição etc. ¤ Símbolos que ritualizam as transições sociais e culturais – morte, útero, invisibilidade, escuridão, bissexualidade, regiões selvagens ¤ Liminaridade X sistemas de posições sociais ¤ Oposições e discriminações binárias – Estrutura e anti- estrutura Liminaridade e Communitas ¤ A liminaridade, a baixa condição social, e a “communitas” ¤ Pessoas ou princípios que se situam nos interstícios da estrutura social; ¤ Estão à margem dela; ¤ Ou ocupam os degraus mais baixos. Liminaridade e Communitas ¤ Exemplos de pessoas e condições liminares ¤ O bobo da corte (marginais, uma moral aberta) ¤ Os movimentos milenaristas ¤ “Geração beat” – “Hippies” ¤ A estrutura e a “communitas” nas sociedades baseadas no parentesco (Tallensi, Núer, Ashanti) Liminaridade e Communitas ¤ O perigo místico e os poderes dos fracos ¤ Por que são perigosos as situações e os papéis liminares? ¤ Para quem incumbe a estrutura, manifestações continuadas de communitas podem ameaçar e, por isso, são rodeadas de prescrições, proibições e condições Liminaridade e Communitas ¤ A estrutura e a “communitas” nas sociedades baseadas no parentesco ¤ Tallensi: communitas = ancestrais matrilinerais – mãe, feminino, invadem o sistema da estrutura político-legal – lado subjacente do parentesco (mais fraco, ou inferior) ¤ Núeres: chefe em pele de leopardo – irmão da mãe, um estrangeiro, um mediador que age em favor da comunidade inteira – não está vinculado a nenhum segmento político específico ¤ Ashantis Liminaridade e Communitas ¤ Communitas ¤ Sentimento com relação à humanidade ¤ A “communitas” surge onde não existe estrutura social ¤ Multidão de pessoas que não estão lado a lado, ou acima e abaixo, mas umas com as outras ¤ Natureza espontânea, imediata, concreta (em oposição à natureza governada por normas, abstrata, institucionalizada da estrutura social) ¤ Figura e fundo Liminaridade e Communitas ¤ Communitas ¤ Aspecto de potencialidade, está no modo subjuntivo (expressa dúvida, incerteza) ¤ A "communitas" irrompe nos interstícios da estrutura, na liminaridade; nas bordas da estrutura, na marginalidade; e por baixo da estrutura, na inferioridade. Liminaridade e Communitas ¤ Liminaridade de um rito de investidura ¤ Ndembos – Zâmbia ¤ Chefe mais velho (Kanongesha) ¤ Ápice da hierarquia político-legal estruturada ¤ Simbolicamente representa o território tribal e seus recursos Liminaridade e Communitas ¤ Exemplo do ritual de posse do chefe Kanongesha (humilhação antes de assumir o poder). ¤ As condições “liminares” e “inferiores” estão associadas a poderes rituais e à comunidade inteira, indiferenciada. ¤ Função profilática = autocontrole nos ritos = autodomínio diante das tentações do poder ¤ Despojamento dos atributos pré-liminares e pós-liminares (p.e.: ausência de sexualidade) ¤ Continência sexual = parentesco é um dos principais fatores da diferenciação estrutural ¤ Liminaridade = descontinuidade das relações sexuais e de uma marcada polaridade sexual Liminaridade e Communitas ¤ Os altos cargos providos pela estrutura são assim considerados como meios para o bem-estar público, e não como recursos de engrandecimento pessoal. ¤ O homem que se torna chefe continua sendo membro da comunidade inteira das pessoas e “ri junto com elas” ¤ O poder deriva parcialmente da imersão do chefe na humildade Liminaridade e Communitas ¤ Os atributos das entidades liminares ¤ Poderes rituais dos fracos ¤ Entidades em transição, não tem lugar ou posição ¤ Ficam em posição de submissão ou de silêncio Liminaridade e Communitas ¤ Os atributos das entidades liminares ¤ Submetem-se a autoridade da comunidade total (depositária dos valores da cultura, normas, atitudes, sentimentos e relações) – autoridade genérica da tradição ¤ O neófito na liminaridade deve ser uma tabula rasa, na qual se inscreve o conhecimento e a sabedoria do grupo, nos aspectos pertinentes ao novo "status". ¤ Ordálios e humilhações – preparação para novas responsabilidades; ¤ A forma lhes é impressa pela sociedade. Dramas, Campos e Metáforas Dramas, campos e metáforas ¤ Dramas ¤ Passagens ¤ Ação ¤ Processos ¤ Metáforas ¤ Paradigmas De que maneira as ações sociais adquirem forma por meio de metáforas e paradigmas? Como, em determinadas circunstâncias se produzem novos paradigmas e metáforas? Dramas, campos e metáforas ¤ ESTRUTURA PROCESSUAL DA AÇÃO SOCIAL ¤ Capacidade dos indivíduos ficarem fora dos modelos/ padrões/paradigmas comportamentos ¤ Os grupos sociais têm abertura para o futuro na variedade de suas metáforas (na disputa entre paradigmas) ¤ Processos liminares de ação simbólica – novas formas de interpretação sobre os processos socioculturais Dramas, campos e metáforas ¤ ESTRUTURA PROCESSUAL DA AÇÃO SOCIAL ¤ O que ontem era liminar, hoje está estabelecido ¤ O que hoje é periférico, torna-se central amanhã ¤ Mundo Social “in becoming” X “in being” (modelos estáticos só existem na cabeça dos indivíduos) Dramas, campos e metáforas ¤ ESTRUTURA X ANTI-ESTRUTURA ¤ Ritual, mito, comédia, tragédia – gêneros sérios da ação simbólica – visões cíclicas e repetitivas ¤ Artes, ciências modernas – maior potencial para mudança – prazer, liberdade Dramas, campos e metáforas ¤ CAMPOS ¤ Domínios culturais abstratos nos quais os paradigmas são formulados, estabelecidos e entram em conflito – conjunto de regras ¤ ARENAS ¤ Palcos concretos onde os paradigmas transformam-se em metáforas e símbolos com referência ao poder político Dramas sociais e metáforas rituais ¤ Análise processual ¤ Estrutura e Anti-estrutura – intrinsecamente relacionados ¤ Existem símbolos de estrutura e símbolos de anti-estrutura Dramas sociais e metáforas rituais ¤ Componentes da anti-estrutura ¤ Communitas e liminaridade = condição de produção das metáforas-radicais, dos arquétipos conceituais, paradigmas ¤ Imaginação criativa ¤ A liminaridade é um estado ¤ A “communitas” é uma modalidade social Dramas sociais e metáforas rituais ¤ O processo ritual evoca os aspectos sociais da liminaridade ¤ Os símbolos rituais são a origem e o sustentáculo de processos que envolvem mudanças temporais nas relações sociais Aspectos gerais de sua obra ¤ Emerge também o tema da revelação, elaborado em RD (Turner, 1975), no texto escrito em 1962, ao qual se liga a dimensão de intensidade da experiência subjetiva (a um só tempo cognitiva e emocional) propiciada no contexto ritual a partir do que se desdobrariam tanto o interesse metafísico e religioso de Turnerquanto seu grande interesse pela performance. ¤ “Eu espero estabelecer em um livro subsequente como, no curso de um ritual, símbolos e comportamento verbal são mani- pulados de modo a descarregar tensões nos sistemas sociais e a reintegrar os membros da assembleia ritual aos abalados grupos sociais ao qual perten- cem.” Dentro dos limites assumidos, ele chama atenção para a consistência da estrutura cultural com as suas funções sociais.
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