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CIRROSE HEPÁTICA - Cirrose: não apenas surgimento de fibrose hepática - Profundo remodelamento da citoarquitetura do parênquima + extensa fibrose tecidual - HISTOLOGIA E RELAÇÕES FUNCIONAIS - Sinusoides: sangue das circulações porta e sistêmica (veia porta e artéria hepática) para veia centrolobular (sistema cava) - Substâncias captadas pelos hepatócitos para metabolização: diferentes demais capilares – (1) altamente fenestrados + (2) desprovidos de membrana basal (facilita saída de macromoléculas) - Espaço de Disse: entre sinusoide e hepatócito = interstício lobular; contém células estreladas/de Ito (mais importantes na gênese da cirrose) #Células estreladas - Normalmente quiescentes, função primordial de armazenar vitamina A - Certos estímulos (p. ex. atividade necroinflamatória crônica do parênquima): altamente capazes de sintetizar MEC – colágeno tipo I e III - Transformação por efeitos parácrinos de citocinas inflamatórias: células de Kupffer ativadas e outras células do sistema imunológico - Deposição colágeno espaço de Disse >> capilarização dos sinusoides: obliteração fenestras, impedimento contato entre hepatócitos e substâncias - Comprometimento progressivo da capacidade de metabolização e secreção hepática - Redução do calibre também pela capilarização: aumento resistência vascular intra-hepática (gênese hipertensão porta) - Células estreladas: capacidade contrátil com a transformação patogênica >> maior redução espaço sinusoidal - Deposição de fibras colágenas e capilarização sinusoides + segmentos de necrose hepatocitária: fibrose em ponte (porta-centro - Sangue circula dentro de traves fibrótica sem entrar em contato com as placas de hepatócitos: “shunt” intra-hepático (espaço porta direto para veias centro-lobulares) - Doença hepática crônica: atividade necroinflamatória persistente >> ciclos de necrose, fibrose e regeneração celular se alternam >> regeneração restrita aos espaços entre as traves (nódulos de regeneração) #Nódulos de regeneração - Lóbulos hepáticos normais: placas de hepatócitos e rede de sinusoides rigorosamente coordenados – sangue em direção à VCL - Nódulos de regeneração: massa de hepatócitos sem funcionalidade (sem relação com VCL) - Tentativa frustrada de reestabelecimento da citoarquitetura funcional - Desarranjo estrutural: por qualquer doença hepática crônica, irreversível uma vez estabelecido #Conceito de cirrose - Processo patológico irreversível do parênquima hepático - 2 componentes: fibrose hepática em ponte (shunts vasculares) + rearranjo da arquitetura lobular em nódulos de regeneração - Resposta comum do parênquima a qualquer estímulo lesivo persistente (inflamação e necrose hepatocitária) - Encontro dessa combinação: confirma diagnóstico - Biópsia: padrão-ouro, porém não necessária na maioria dos casos para DIAGNÓSTICO, reservada para dúvida DX persistente e situações específicas (acompanhamento hepatites virais crônicas, avaliar indicação de tratamento, estimar prognóstico) - Diagnóstico: análise conjunta QC + laboratorial + radiológico #Macroscopia - Superfície micro ou macronodular - Tamanho a depender do grau de cirrose: casos mais avançados redução e atrofia como um todo - Dado semiológico patognomônico: redução do lobo hepático direito (< 7 cm) à hepatimetria à percussão + lobo esquerdo aumentado, palpável abaixo do gradil costal com superfície nodular e consistência endurecida - MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - Decorrentes de 2 problemas principais: hipertensão porta e insuficiência hepatocelular #Sinais do complexo “hiperestrogenismo-hipoandrogenismo” (já nas fases iniciais da cirrose) - Eritema palmar - Telangiectasias (“aranhas vasculares”) - Ginecomastia - Atrofia testicular - Perda da libido, disfunção erétil - Rarefação de pelos (no homem os pelos assumem “padrão feminino”) #Sinais de hipertensão portal - Ascite - Varizes de esôfago e fundo gástrico – sangramento digestivo - Esplenomegalia congestiva – hiperesplenismo – trombocitopenia, leucopenia, anemia (pancitopenia) - Circulação porta visível no abdome (“cabeça de medusa”) - Síndrome de hipertensão portopulmonar #Sinais de insuficiência hepatocelular descompensada (estágio muito avançado) - Icterícia - Encefalopatia hepática - Coagulopatia - Hipoalbuminemia – anasarca - Desnutrição - Imunodepressão - Síndromes hepatorrenal e hepatopulmonar - DIAGNÓSTICO #Anamnese e exame físico - Apresentação: HDA/HDB, ascite, hepato e/ou esplenomegalia, estigmas periféricos de insuficiência hepatocelular crônica, assintomático (DX acidental por alteração laboratoriais/radiológicas sugestivas), sinais incipientes ou manifestos de encefalopatia hepática, sinais e sintomas sugestivos de CHC - Achados clínicos de cirrose não são específicos de nenhuma etiologia - Sinais sugestivos de etiologia alcoólica: intumescimento de parótidas, contratura palmar de Dupuytren, neuropatia e associação com pancreatite crônica #Exames laboratoriais 1) Aminotransferases - Cirrose inativa (sem atividade inflamatória): podem estar normais - Sem acurácia suficiente para estimar gravidade da doença hepática - Aumento sugere atividade inflamatória no parênquima - Pista diagnóstica: hepatopatia sem cirrose ALT > AST (ALT/AST > 1), exceto DHA (ALT/AST < 1 mesmo pré-cirrose) - Instalação de cirrose: inversão, ALT/AST < 1 2) Fosfatase alcalina e gama-glutamil transferase - Maior elevação nas hepatopatias colestática, menor nas predominantemente hepatocelulares - Níveis elevados: cirrose biliar primária ou colangite esclerosante 3) Bilirrubinas - Hiperbilirrubinemia = fator de mal prognóstico na cirrose hepática - Principalmente à custa de BD - Cirrose biliar primária: BT > 10 = indicação de transplante ortotópico de fígado 4) Hipoalbuminemia - Representa insuficiência crônica da síntese hepatocelular - Geralmente associado a desnutrição proteicocalórica (comum cirrótico): piora da hipoalbuminemia - Particularmente frequente nos etilistas crônicos com cirrose alcoólica 5) Alargamento TAP TTPA - Fígado = principal sede síntese de fatores de coagulação, incluindo K-dependentes (II, VII, IX, X) - Redução significativa da função hepatica: coagulopatia (tendência hemorrágica) 6) Hipergamaglobulinemia - Tendência aumentada de translocação intestinal bacteriana: menor clearance hepático de bactérias no sangue + fuga pelos shunts portassistêmicos - Hiperestimulação do braço humoral do sistema imunológico: hipergamaglobulinemia policlonal na cirrose avançada e hipertensão portal grave - DHA: típico aumento da fração IgA - Cirrose biliar primária: típico aumento da fração IgM - Hepatite autoimune: elevação IgG 7) Sódio sérico - Hiponatremia = marcador de péssimo prognóstico na cirrose avançada com ascite - Por incapacidade de excretar água livre: excesso de ADH devido redução do volume circulante efetivo (secreção “não osmótica” de ADH) 8) Pancitopenia - Cirrose avançada complicada com HP: esplenomagalia com hiperesplenismo >> redução nº de plaquetas circulantes (mais precoce), hematimetria e contagem de leucócitos (mais tardios) - Anemia multifatorial: hiperesplenismo, desnutrição, sangramento digestivo crônico, supressão medular pelo álcool ou por vírus, anemia de doença crônica secundária à doença de base - Hepatite C: plaquetopenia mesmo na ausência de hiperesplenismo #Exames de imagem - Avaliar as alterações morfológicas da doença - Avaliar a vascularização hepática e extra-hepática - Detectar e estimar efeitos da hipertensão portal - Identificar tumores hepáticos: diferenciar CHC de outros tipos - USG convencional, USG com Doppler, TC, RMN, AngioRMN, arteriografia com/sem lipiodol - Fases iniciais: todos podem ser normais - Fases mais avançadas: USG, TC, RMN com alterações sugestivas - Papel da radiologia: corroborar com forte suspeita clínica de cirrose - Nodularidade da superfície hepática, heterogeneidade do parênquima hepático, alargamento da porta hepatis e da fissura interlobar - Redução volumétrica do lobo hepático D e do segmento médio do lobo E - Aumento volumétrico do lobo caudado e do segmento lateral do loboE - Identificação de nódulos regenerativos: RMN superior aos demais - Detecção precoce de CHC: ressecção curativa ou transplante - USG: rastreamento semestral de CHC com pacientes sabidamente cirróticos + dosagem AFP - Dúvida diagnóstica: AG com lipiodol (alta especificidade para CHC), particularmente útil se nódulo parenquimatoso com características intermediárias entre CHC e nódulo regenerativo - AG, USG Doppler e AngioRMN: estudo sistema porta e identificação de possíveis shunts porto-sistêmicos secundários à hipertensão portal #Biópsia - Histopatologia = padrão-ouro para diagnóstico de cirrose: septos fibrosos porta-centro e porta-porta espessos e completos delimitando nódulos (desorganização da arquitetura lobular e vascular) - Desnecessária se dados clínicos, laboratoriais e radiológicos extremamente sugestivos - Pistas sobre etiologia: métodos imuno-histoquímicos - Biópsia PC contraindicada se: atividade de protrombina < 50% ou INR > 1,30 ou plaquetas < 80 mil (se estritamente necessária, corrigir coagulopatia antes) - Obtenção de tecido via transjugular #Classificação funcional - Presença individual de complicações não é capaz de predizer acuradamente sobrevida - ETIOLOGIA 1) Vírus hepatotrópicos 2) Álcool 3) Drogas 4) Hepatopatias autoimunes 5) Doenças metabólicas 6) Hepatopatias colestática 7) Doenças da infância 8) Cirrose criptogênica (idiopática) - Dados nacionais: 43% dos casos relatados associados a hepatite crônica por hepatite C isolada ou associada a hepatite B/DHA - 37% com história de etilismo com ou sem associação a hepatites virais - Hepatite C + DHA: 80% dos casos de cirrose no Brasil #Criptogênica - Cerca de 10-15%: sem etiologia definida a despeito da investigação propedêutica - Anos 60: até 1/3, redução após descrição da EHNA - Atualmente: parcela considerável portadora de hepatite autoimune (HAI) em estágios muito avançados? - Sem características histológicas sugestivas e sem AC circulantes identificáveis: diagnóstico de HAI impossível nessa fase - DNA vírus B no soro/tecido hepático em até 1/3 desses pacientes - Muitos secundários à HBV por vírus mutante - TRATAMENTO - Condição irreversível: tratamento para manejo de complicações (encefalopatia, hipertensão portal, ascite) - Estratégias complementares: aumentar sobrevida e melhorar qualidade de vida - Divisão em 5 pontos: terapia antifibrótica, nutricional, específico da causa, das complicações e transplante hepático - Fibrose = base fisiopatogênica: estratégias para retardá-la ou revertê-la - Colchicina, propiltiouracil, interferon, lectina poli-insaturada e S-adenosil-metionina (SAME) - Colchicina: uma das mais usadas, sobretudo na cirrose alcoólica e na cirrose biliar primária, pode melhorar bioquímica, mas sem evidências consistentes de redução de fibrose, aumento de sobrevida ou redução de necessidade transplante - Tendem a ser hipercatabólicos e desnutridos - Desnutrição agrava com a intensidade da disfunção hepática - Melhor abordagem nutricional e seleção de pacientes para a terapia a longo prazo: controversas - Suplementos nutricionais padrão: tão efetivos quanto formulações especiais (AA de cadeia ramificada), mais baratos - Sem indicação de restrição proteica - Sem necessidade de reduzir ingestão de gorduras, mesmo em colestáticos (pode ser útil uso de triglicérides de cadeia média) - Recomendações comportamentais: refeições frequentes para manter balanço nitrogenado adequado - Recomendações Colégio Americano de Gastroenterologia: conteúdo proteico de 1 a 1,5 g/kg/dia, conteúdo calórico mínimo 30 kcal/kg/dia (50-55% carboidratos, preferencialmente complexos, e 30-35% lipídios, sobretudo insaturados com quantidades adequadas de AGE) - Correção de deficiências vitamínicas (complexos K, A, D, E e B): sobretudo alcoólica e com componente colestático significativo - Portadores de hemocromatose: não receber vitamina C nem sais de ferro (agravam dano hepático por incremento do acúmulo de ferro) - Usuários de diuréticos: reposição de oligoelementos – câimbras em MMII por deficiência de Mg - Evitar ingestão de frutos do mão: risco de potencial sepse grave e morte por infecção por Vibrio vulnificus e Yersinia sp - Evitar novos insultos hepáticos: avaliar status sorológico para hepatite A e B – vacinar se suscetível DOENÇA HEPÁTICA ALCOÓLICA - Consumo de etanol: uma das principais etiologias de cirrose hepática no mundo (1ª nos EUA) - Álcool: 3 tipos de lesão hepática – esteatose assintomática, esteto-hepatite aguda e cirrose alcoólica (de Laennec) - Maioria dos alcoolistas: esteatose, pequena fração evolui para hepatite alcoólica (se persistente/recorrente >> cirrose) - 90 a 100% evolui para esteatose: daí 10 a 35% evoluem para hepatite alcoólica e 8 a 20% da esteatose para cirrose - PATOGÊNESE - Principal determinante = quantidade de álcool ingerida - Homens: formas mais graves quando consumo > 80 g/dia por mais de 10 anos - Mulheres: > 30-40 g/dia por mais de 10 anos – maior suscetibilidade por menor concentração de álcool desidrogenase na mucosa gástrica (maiores níveis séricos após mesma dose) - Principais amplificadores de risco para DHA: hepatites virais crônicas, obesidade e outras hepatopatias (hemocromatose) - Desnutrição também potencializa o dano hepático alcoólico: mecanismos pouco compreendidos - Fatores genéticos: polimorfismos nos genes do PNPLA-3 (palatin-like phospholipase domain-containing protein 3), TNF-alfa, citocromo P450 e glutation S-transferase – exacerbação do risco (DHA em faixas de consumo menores) - Sem fatores adjuvantes: apenas 5% evoluem com cirrose mesmo com alta ingesta - Maioria que desenvolve DHA: um ou mais fatores adicionais de agressão hepática - Quanto maior a ingestão etílica diária, maior o risco e mais rápida a evolução da doença - Excesso de etanol absorvido pela circulação porta: metalização região centrolobular do lóbulo (maior [álcool-desidrogenase]) - Consumo de O2 no processo: hipóxia centrolobular – prejudica funcionamento mitocondrial (bloqueio oxidação AG, acúmulo interior das células como gotículas de gordura – esteatose) - Principal metabólito = acetaldeído: logo após formada se liga a proteínas teciduais (neoAg) - NeoAg induzem resposta autoimune: processo necroinflamatório do parênquima hepático (hepatite) - Acetaldeído: efeito tóxico direto por peroxidação das membranas celulares e necrose hepatocitária - Aumento permeabilidade mucosa intestinal: efeito direto do álcool, aumento absorção de toxinas bacterianas como LPS - Translocação LPS via veia porta: estímulo céls. Kupffer produção de citocinas como TNF-alfa (amplificação demais processos de lesão hepática) - Persistência/recorrência desses insultos: fibrose e desestruturação do parênquima se ativação e produção de colágeno pelas células estreladas - PATOLOGIA - 3 estágios na evolução: esteatose, esteato-hepatite e cirrose - Histologia: predomínio central (zona 3) – DD outras hepatopatias crônicas (hepatites virais em região periportal – zona 1) #Esteatose hepática - Hipóxia pela metabolização do etanol: sem oxidação dos AG pelas mitocôndrias >> acúmulo no citoplasma dos hepatócitos (gotículas de gordura) - Esteatose DHA costuma ser macrovesicular, mas pode ser microvesicular ou mista - Não é patognomônica - Prontamente reversível com cessação do etilismo #Esteato-hepatite - Esteatose hepática complicada por quadro de hepatite alcoólica quando todas na biópsia: necrose hepatocitária + infiltrado neutrofílico + distribuição central do infiltrado + corpúsculos de Mallory (CM) - Alguns argumentam que os CM não são obrigatórios: raramente vistos na prática - Corpúsculos de Mallory: acúmulos intracitoplasmáticos de material eosinofílico, sem papel direto no dado hepático, apenas consequência da lesão induzida pelo etanol - Diagnóstico: esteatose + necrose hepatocitária e infiltração leucocitária do parênquima - Infiltração por neutrófilos (PMN): um dos grandes marcos da EHA – TNF alfa das céls. Kupffer os recruta estimula (hepatites virais é LMN) - Também potencialmente reversível com abstenção doetilismo #Cirrose hepática - Deposição de colágeno no parênquima hepático mediada pelas células estreladas perissinusoidais (de Ito – fisiologicamente armazenadoras de vitamina A) - Insultos necroinflamatório persistente/repetitivos ao fígado: ativação das células estreladas, conduzem cirrotização - Inicia-se centrolobular, pode tornar-se panlobular - No começo é potencialmente reversível - Manutenção de ingesta etílica elevada: evolução para fibrose panlobular é normalmente definitiva - MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - Esteatose hepática “pura”: assintomática, apenas hepatomegalia ao EF - Desconforto QSD se muito intensa (+ náuseas e discreta icterícia) - EHA: ampla gama de sinais e sintomas - Síndrome clássica de apresentação: anorexia, hepatomegalia dolorosa, febre e icterícia acentuada - Também pode ser assintomática: reconhecimento apenas por alterações laboratoriais características em paciente com etilismo importante - Ascite e HDA por varizes: complicam até 30% das hepatites alcoólicas agudas mesmo sem cirrose (hipertensão porta transitória por edema hepatocelular difuso) - Casos graves: maior propensão a infecção bacterianas recorrentes (PNM, ITU, bacteremia) - Falência hepática fulminante pode ser a 1ª manifestação em alguns - Cirrose alcoólica: manifestações inerentes a qualquer quadro de cirrose - Síndrome de falência hepatocelular: icterícia, encefalopatia, hipoalbuminemia, coagulopatia, ginecomastia, aranhas vasculares - Hipertensão porta: esplenomegalia, ascite, varizes esofagogástricas - Contratura palmar de Dupuytren: independente do dano hepático, clássica do alcoolismo (altamente sugestiva de etiologia alcoólica) - LABORATÓRIO - Esteatose “pura”: aumentos inespecífico e flutuantes de aminotransferases, resto do hepatograma normal ou levemente tocado - EHA: elevação aminotransferases é regra, com AST/ALT SEMPRE > 2, AST raramente > 300 - Aumento FA e GGT: raramente > 3x LSN - 60-90% com hiperbilirrubinemia: > 10 mg/dl indica hepatite alcoólica grave - Prolongamento TAP (> 5 seg controle) e hipoalbuminemia severa (< 2,5 g/dl) mesmo sem cirrose: gravidade - Até 75% com hipergamaglobulinemia policlonal - HMG: leucocitose com desvio a esquerda, às vezes como “reação leucemoide” (leucocitose neutrofílica extrema) - Plaquetopenia: 10%, efeito mielotóxico álcool e/ou hiperesplenismo (hipertensão porta transitória) - Anemia macrocítica: mielotoxicidade do álcool, com ousem carência de folato associada - Cirrose alcoólica: alterações indistinguíveis daquelas observadas em outras causas de cirrose - BIÓPSIA HEPÁTICA - Não é obrigatório para estabelecer diagnóstico de DHA em nenhuma de suas formas - História + EF e achados laboratoriais característicos: permitem DX essencialmente clínico, sobretudo se puderem ser afastadas outra etiologias - Indicações: dúvida diagnóstica, necessidade de descartar coexistência de outros processos patológicos e avaliação acurada do prognóstico - TRATAMENTO #Medidas gerais - Principal = abstinência ao álcool - Medicamentos que auxiliam (redução da fissura): naltrexona, acamprosato e baclofeno - Abstinência reverte esteatose, esteato-hepatite e pode reverter cirrose em fases iniciais - DHA grave (hepatite/cirrose): suporte nutricional imprescindível, maioria com desnutrição - Adequado aporte calórico: 40 kcal/kg/dia – evitar complicações potencialmente fatais (hipoglicemia, cetoacidose alcoólica e catabolismo muscular esquelético acelerado) - Reposição proteica vigorosa: 1,5 a 2 g/kg/dia - Reposição micronutrientes (ácido fólico, tiamina, zinco etc.) conforme a necessidade - Terapia nutricional: melhora alterações hepáticas (clínicas, laboratoriais e histopatológicas), sem comprovação de melhora da sobrevida #Tratamento específico – Hepatite Alcoólica Aguda - Portadores de HAA com encefalopatia e/ou índice de função discriminante de Maddrey (IFD) ≥ 32: corticoterapia por 1 mês (prednisolona 32 mg/dia VO) - Prednisolona: prednisona requer conversão hepática em prednisolona, que pode estar comprometida na hepatite alcoólica grave - IFD: probabilidade de óbito na hepatite alcoólica, ≥ 32 risco de morte supera o de tratamento - IFD = 4,6 x (TAP do paciente - TAP do controle) + bilirrubina total - CI ao corticoide: pentoxifilina (400 mg VO 3x dia por 1 mês), reduz mortalidade curto prazo – redução síndrome hepatorrenal - Associação sem benefícios, contraindicada #Tratamento específico – Cirrose Alcoólica - Colchicina antes usada por supostamente bloquear/reverter fibrose: sem evidências consistentes - Semelhante ao tratamento genérico de outras formas de cirrose hepática - Controle da complicações - Transplante ortotópico sempre que possível quando dano funcional significativo (Child B) ou franca descompensação basal (Child C) - Pré-requisito transplante: abstinência alcoólica ≥ 6 meses - PROGNÓSTICO - Curto prazo: hepatite alcoólica 32% em poucos meses (20% no 1º mês) - Principais fatores de mau prognóstico: idade avançada, bilirrubina > 10, coagulopatia, encefalopatia, azoteia, grau de leucocitose, infecção/sepse, não responsividade ao corticoide, escassez de esteatose à biópsia, reversão do fluxo portal no Doppler - Falta de resposta após 7 dias com corticoide: péssimo prognóstico - IRA em paciente com hepatite alcoólica: melhor preditor isolado de chance de óbito em 90 dias - Longo prazo: após recuperação, chance de óbito em 3 anos 10x maior que população da mesma idade - Após 5 anos: mortalidade de até 85% - Chance de CHC aumentada: maior se extensos depósitos de ferro na biópsia hepática - Risco neoplasias extra-hepéticas após transplante ortotópico: maior em alcoolistas – álcool também lesa outros órgãos + frequente concomitância de tabagismo - RASTREIO PROBLEMAS RELACIONADOS AO USO DO ÁLCOOL - Questionário CAGE (acrônimo em português = DICA, Diminuir, Incômodo, Culpa e Abrir os olhos) - COMPLICAÇÕES NEUROPSIQUIÁTRICAS DOENÇA HEPÁTICA GORDUROSA NÃO ALCOÓLICA - Esteato-hepatite não alcoólica (EHNA ou NASH) é uma das manifestações clínicas no espectro da DHGNA: entre esteatose hepática simples (sem atividade necroinflamatória) e cirrose hepática - EPIDEMIOLOGIA - DHGNA: hepatopatia crônica mais comum no mundo - 20-45% da população norte-americana acometida - Somente 3-5% desenvolve EHNA - Cirrose hepática em 1-3% dos portadores de DHGNA - Aparente maior incidência em hispânicos (> brancos > negros) - Mesma incidência entre sexos - Faixa etária preferencial: 40-60 anos - Enzimas aumentada sem evidências de outra causa: principal hipótese = DHGNA - ETIOLOGIA - Nem todos devido síndrome metabólica - Até 3% da população não obesa desenvolve: alguns com formas incomuns de resistência insulínica ou outros fatores que alteram metabolismo lipídico - Desnutrição proteicocalórica (Kwashiorkor): mobilização reserva lipídica pelo tecido adiposo por estímulo do déficit calórico, reduzindo quantidade de lipoproteínas secretadas – AG se acumulam no fígado (lesão de hepatócitos) - Cirurgias bariátricas mal-absortivas puras: abandonadas, alta incidência de complicações (falência hepática por HAA) – intoxicação hepática por LPS, exclusão de longo segmento intestinal favorece supercrescimento da microbiota - Perda ponderal rápida: dietas com < 600 kcal/dia induzem lipólise exagera, fígado não consegue metabolizar tanto AG (limite perda 1,5 kg/sem em obesos) - Nutrição parenteral total: grande quantidade de gorduras infundida na veia pode ultrapassar capacidade hepática de metabolização - Drogas: por interferência no metabolismo lipídico – corticoide, ARV, nifedipina, cloroquina, tetraciclina, AINEs, tamoxifeno, estrogênios, metotrexate, ácido valproico, amiodarona, diltiazem, etc. - Outras: intoxicação por exposição ocupacional a certas toxinas, gravidez (3º trimestre, mais fetos masculinos), síndrome dos vômitos da Jamaica (frutas comuns contaminadas pela hipoglicina A), infecções (genótipo 3 do HCV), Hipotireoidismo, síndrome de Cushing, diverticulose do delgado com supercrescimento bacteriano, doença inflamatória intestinal, doença de Wilson, etc. - PATOGÊNESEPOR SÍND. METABÓLICA #Critérios diagnósticos Síndrome Metabólica - 3 ou mais dos seguintes: - GJ > 100 ou tratamento hipoglicemiante - HDL < 40 em homens ou < 50 em mulheres - Triglicerídeos > 150 ou tratamento para hipertrigliceridemia - Obesidade central: CA > 102 cm para homens ou > 88 cm para mulheres - PA > 130 x 85 mmHg ou tratamento para HAS #Resistência insulínica - Problema fundamental da síndrome metabólica - Estado de resposta subnormal da glicemia aos níveis séricos de insulina - Tecido adiposo: proliferação exagerada (obesidade) gera aumento da secreção de TNF alfa e diminuição da de adiponectina - Descontrole glicêmico - Alterações cutâneas (acantose nigricans), musculoesqueléticas (cãibras), hiperandrogenismo e anovulação (ovários policísticos) e esteatose hepática #Esteato-hepatite não alcoólica - 2 etapas: acúmulo de gordura dentro da célula + desenvolvimento de inflamação - Esteatose: desequilíbrio entre entrada e saída de lipídios no fígado (entrada > saída) - Predomínio entrada poderia ser explicado só pela resistência insulínica: aumenta lipólise periférica, captação hepática de lipídios e biossíntese de TG + diminui betaoxidação mitocondrial - Entrada: importação + biossíntese de lipídios - Saída: exportação + betaoxidação de lipídios - Grande causa de RI: desequilíbrio entre TNF alfa e adiponectina (TNF > adiponectina) também capaz de atuar sobre o fígado (aumento captação + diminuição betaoxidação) - Ciclo vicioso: causa (desbalanço TNF alfa/adiponectina) e consequência (RI) concorrem para acúmulo HC de lipídios - AG em excesso = toxinas: sobrecarga citoplasmática ativa sistemas enzimáticos - Via da IKK-beta (Inhibitor Kappa-Kinase beta): fosforila e ativa fator de transcrição NFkB >> síntese de TNF alfa e IL6 - Excesso prévio de TNF alfa: esteatose em ponto crítico >> próprio tecido hepático como fonte - Hepatócito com esteatose: age como tecido adiposo secretando fatores que promovem RI - Altos níveis intra-hepáticos de TNF-alfa: efeitos locais – disfunção mitocondrial (peroxidação ao invés de betaoxidação) gerando EROs e consequente estresse oxidativo - EROs atingem genoma mitocondrial (sem núcleo): interferência na cadeia de fosforilação oxidativa (interrupção da respiração celular) - Consequente depleção de ATP: balonização por falência das bombas Na-K (entrada de Na + água) - Gradiente hepático de TNF alfa: quimiotaxia – atração e ativação de leucócitos para o parênquima - Mediadores de lesão (TNF, EROs, etc.) capazes de ativar células estreladas quiescentes: alguns indivíduos mais propensos a fibrose que outros - QUADRO CLÍNICO - Esteatose “pura” geralmente assintomática - Esteato-hepatite: queixas vagas e inespecíficas (fraqueza, mal-estar) - Fase cirrótica: frequentes sinais e sintomas inerentes à síndrome, estigmas ao EF - Exame físico: 75% hepatomegalia firme indolor - EXAMES LABORATORIAIS - Aminotransferases e GGT: se elevadas, < 4x LSN (se > 10x LSN considerar outros diagnósticos) - Hepatograma normal não descarta DHGNA - Ausência de alterações laboratoriais não descarta EHNA - Relação AST/ALT costuma ser normal (< 1): valores > 1 (sobretudo > 2) sugerem DHA - Evolução para cirrose: relação pode se inverter e ficar > 2 - Fosfatase alcalina: importante pois não sobe muito, máximo 2x LSN (mais que isso, 5-10x – doença biliar ou infiltração do parênquima/neo metastática) - Demais marcadores (Alb, TAP, bilirrubinas): estimar gravidade, não diagnóstico específico - Para firmar diagnóstico de DHGNA deve-se SEMPRE excluir outras etiologias - Alguns pacientes: autoAC em baixos títulos (< 1:80), como anti-músculo liso (marcador HAI) – dúvida solucionada apenas com biópsia - Esteatose macrovesicular + inflamação lobular + corpúsculos de Mallory: apenas DHA e DHGNA (HAI com “hepatite de interface) - Marcadores virais positivos: lesões de esteato-hepatite predominam em zona 3, hepatite viral crônica em zona 1 - Elevação ferritina e saturação de transferrina: também alterações genéticas que confirmam (gene HFE) hemocromatose para confirmar diagnóstico (ferritina pode elevar só pela EHNA) - EXAMES DE IMAGEM - Apenas detecção de esteatose, não EH - TC: método menos sensível, diferença entre os coeficientes de atenuação do fígado/baço (fígado absorve menos raios X, fica mais escuro) - USG: mais realizado, mais disponível, mais barato, boa especificidade, elastografia detecta e quantifica fibrose - RNM: mais acurado, menos disponível, mais caro, espectrometria identifica e quantifica fibrose - BIÓPSIA - Método de escolha para solucionar dúvidas diagnósticas, confirmar presença de EH e estratificar com precisão grau de cirrose - Muitos casos de cirrose criptogênica: EHNA despercebida - Estágios avançados: sem gordura no parênquima por estado hipercatabólico típico da cirrose hepática - Cirroses moderadas: pistas de EHNA – localização acúmulo inicial de colágeno, comprometimento predominante em regiões perivenulares (centrolobulares) - Principais indicações: > 45 anos (sobretudo se obesidade/DM), estigmas de cirrose e AST/ALT >1 - Confirma diagnóstico e fornece dados prognósticos - TRATAMENTO - Base terapêutica: remoção/eliminação dos fatores desencadeantes – perda de peso (dieta + atividades físicas regulares) - Esteatose: 3-5% do peso corporal já são capazes de normalizar Hepatograma - EH: pode ser preciso perda de até 10% do peso inicial - Drogas como orlistat (inibidor reversível da lipase presente no tubo digestivo): bem toleradas, podem auxiliar (principal EC é diarreia se elevada ingesta de gordura) - Portadores de obesidade mórbida: referenciados para cirurgia bariátrica - Inibidores do PPAR-gama (tiazolidinedionas): pioglitazona e rosiglitazona, melhoram exames de laboratório e revertem alterações histopatológicas – principal problema = ganho de peso - Vitamina E 800 UI/dia: ação sobre estresse oxidativo - Cirróticos: transplante ortotópico de fígado (3ª indicação mais comum nos EUA)
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