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2020.1 Patologia especial dos animais domésticos Marina Morena mmorenacg@gmail.com 1 Sumário Sistema cardiovascular 3 Insuficiência cardíaca 3 Alterações congênitas 4 Endocárdio 4 Miocárdio 5 Pericárdio 6 Vasos sanguíneos 6 Sistema hemolinfático 7 Alterações degenerativas da medula óssea 7 Alterações inflamatórias e proliferativas 8 Distúrbios mieloproliferativos 8 Distúrbios linfoproliferativos 9 Timo 9 Baço 10 Linfonodos 11 Sistema digestório 12 Cavidade oral 12 Glândulas salivares 13 Esôfago 13 Pré-estômagos 13 Estômago e Abomaso 15 Intestino 18 Peritônio 21 Sistema tegumentar 22 Dermatites infecciosas 24 Dermatites não infecciosas 25 Neoplasias cutâneas 25 Sistema urinário 26 Trato urinário superior 27 Trato urinário inferior 30 Sistema musculoesquelético 32 Ossos 32 Articulações 34 Músculos 35 Sistema respiratório 37 Cavidade nasal e seio frontal 37 Bolsa gutural 39 Laringe 39 Taqueia 39 Brônquios 39 Pulmão 40 Pleura 44 Sistema endócrino 45 Gl. tireoide 46 Gl. paratireoide 47 Gl. adrenal 49 Hipófise 50 Pâncreas 51 Sistema reprodutor da fêmea 52 Ovário 52 Útero 54 Vagina e vulva 56 Glândula mamária 57 Sistema reprodutor do macho 58 Testículos 58 Epidídimo e cordão espermático 60 Pênis 61 Próstata 62 Distúrbios do desenvolvimento sexual 62 Sistema nervoso 63 Alterações congênitas 63 Alterações adquiridas 65 2 Alterações circulatórias 65 Alterações infecciosas 66 Alterações por toxinas 69 Alterações traumáticas 70 Neoplasias 71 Doenças sistêmicas 72 Sistema hepatobiliar e pâncreas exócrino 72 Fígado 72 Vias biliares 77 Pâncreas exócrino 77 Marina Morena 3 Sistema cardiovascular Grande circulação: leva o sangue arterial do VE pela artéria aorta a todos os tecidos, retornando com sangue venoso pelas veias cavas superiores e inferiores ao átrio direito. Pequena circulação: leva o sangue venoso do ventrículo direito pela artéria pulmonar aos pulmões, retornando como sangue arterial pelas veias pulmonares ao átrio esquerdo. Insuficiência cardíaca É a perda da capacidade de distribuir sangue de forma normal/eficiente. Em casos agudos pode levar à choque e óbito, enquanto em casos crônicos é mais comum desencadear uma insuficiência cardíaca congestiva (ICC). Na ICC o bombeamento sanguíneo é prejudicado e à uma diminuição da ejeção, que tem como consequência o impedimento do retorno venoso. Desse modo, à um aumento de pressão e volume das câmaras, perda de musculatura, hipocontratilidade. Como resultado, pode- se ter uma hipertrofia ou dilatação do órgão. A hipertrofia do miocárdio ocorre em resposta ao aumento da sobrecarga de pressão ou volume sanguíneo, acarretando uma dificuldade de esvaziamento. Quando ocorre no lado direito, nota-se a base do coração ampliada, enquanto no lado esquerdo o coração se apresenta mais alongado. Essa hipertrofia pode ser de dois tipos, concêntrica ou excêntrica. A concêntrica é um crescimento de células de fora para dentro como resultado de uma sobrecarga da pressão (sistólica). Neste caso o coração aparenta normalidade externamente, enquanto internamente há a diminuição da luz da câmara. Na excêntrica, o aumento do miocárdio ocorre de dentro para fora como uma sobrecarga do volume (carga diastólica). Desse modo, como resultado ocorre o espessamento da parede com a ampliação da luz da câmara. Por sua vez, a dilatação cardíaca ocorre em resposta ao alongamento das fibras cardíacas, aumento da frequência cardíaca e do volume sanguíneo. Quando ocorre no lado direito pode desencadear uma congestão generalizada, hidrotrórax, hidropericárdio e/ou ascite/anasarca, estruturas anteriores ao lado direito. Pode ser causado por lesão do miocárdio, lesão valvular (tricúspide e pulmonar) ou por hipertensão pulmonar (“cor pulmonale” – qualquer aumento de pressão pulmonar causa IC no lado direito). O último órgão que o sangue passa antes de chegar ao coração direito é o fígado, portanto em casos de IC direita, uma das principais consequências é a congestão hepática. Essa congestão, sendo crônica, o fígado substitui o seu parênquima por tecido fibroso (cicatricial) como resposta à necrose, dando um aspecto de noz moscada Em contrapartida, quando há uma dilatação do lado esquerdo, o responsável pela circulação pulmonar, como consequência pode haver congestão ou edema pulmonar. Essa dilatação pode ser consequência de uma miocardite, necrose do miocárdio, endocardite da válvula mitral (esta passa a não fechar corretamente e acarreta sobro cardíaco) ou estenose da válvula aórtica (diminuição da luz). Obs: exemplo – Um animal com um problema na válvula mitral, como consequência desenvolveu uma congestão pulmonar e subsequentemente uma insuficiência direita. Obs2: necropsia – pulmão normal: parênquima pouco brilhante e de coloração rosa clara. Em casos de edema/congestão pulmonar: parênquima Marina Morena 4 brilhante e avermelhado. Outro achado em necropsia é a traqueia com espuma, assim como narinas e boca. Em um animal com edema/congestão pulmonar o líquido se mistura com a substância surfactante do pulmão, formando uma espuma. Alguns mecanismos compensatórios da ICC são desencadeados, como a redução do débito cardíaco, com consequente redução da pressão arterial; ativação do sistema simpático, com vasoconstrição e taquicardia; redução da perfusão renal, afetando o sistema renina-angiotensina- aldosterona; aumento da perfusão vascular para manter a circulação nos órgãos vitais; e a hiperfunção miocárdica. Além disso, em cães pode ocorrer o aumento da concentração de norepinefrina. Alterações congênitas Persistência do ducto arterioso Alteração congênita mais comum, principalmente em cães (cães, gatos e cavalos). O ducto arterioso é uma conexão entre as artérias aorta e pulmonar presente nos fetos. Esta conexão deve ser fechada após o nascimento, entretanto em alguns casos isso não acontece, levando a um desvio de sangue do lado esquerdo para o direito. A correção é cirúrgica, com o fechamento do canal persistente, e o diagnóstico é confirmado pela ultrassonografia com doppler. Persistência do forame oval O forame oval é uma conexão entre os átrios direito e esquerdo presente nos fetos. As consequências são similares que em casos de persistência de ducto arterioso, especialmente um coração dilatado e ICC. Visto especialmente em pequenos ruminantes, suínos e bovinos. Tetralogia de Fallot Ocorre simultaneamente quatro anomalias distintas do coração: dextroposição da aorta (posicionada mais à direita que o normal), defeito no septo interventricular, estenose da artéria pulmonar e hipertrofia ventricular direita (consequência do defeito no septo interventricular). A intensidade de cada lesão que compõe a tetralogia determina a gravidade, entretanto o defeito é quase sempre letal, ocorrendo morte logo após o nascimento. Endocárdio Endocardiose Degeneração valvular, comum em cães idosos (ICC), de origem idiopática. Observa-se um espessamento nodular difuso de consistência firme localizado nas bordas livres das válvulas. Endocardite Processo inflamatório do endocárdio, causado predominantemente por infecção bacteriana (endocardite valvular – fixação nas dobras). Costuma ser um foco secundário de infecção, onde as bactérias chegam ao coração através da circulação. Pode também ser causada por outros patógenos, como a larva de Strongylus vulgaris em equinos (endocardite mural). Nesses casos entra em ação a tríade de Virchow (hipercoagulabilidade, lesão endotelial e fluxo anormal); se há um acúmulo de bactéria, é desencadeada uma inflamação e um turbilhonamento de Marina Morena 5 sangue, levando à coagulação e, portanto, um trombo (levando à tromboembolia) Além disso, em casos de uma deficiênciarenal, a endocardite pode ser asséptica como consequência do aumento da uréia (endocardite asséptica uremica). Miocárdio A necrose é uma alteração no miocárdio que pode ser desencadeada por hipóxia, embora seja muito menos comum do que em humanos, ou também por deficiência de vitamina E e selênio, visto especialmente em animais de produção onde o pasto é pobre em vitaminas. A doença do músculo branco ocorre em qualquer musculatura estriada, seja esquelética ou cardíaca, e é uma deficiência dessas vitaminas. Nos filhotes que se amamentam a partir desse leite gerado de um pasto deficiente, causa uma alteração de necrose de coagulação das fibras cardíacas e, consequentemente, calcificação. Cardiomiopatia dilatada Secundária à insuficiência cardíaca congestiva, pode-se observar um coração grande (cardiomegalia) com paredes delgadas e cavidades amplas. Os cães, especialmente raças grandes, são os mais acometidos (Doberman, Dalma, São Bernado, Afghan Hound, Pastor Alemão e Boxer). Em gatos pode ser associada à deficiência de taurina e carnitina. Cardiomiopatia hipertrófica Hipertrofia do miocárdio sem que ocorra uma doença primária. Alguns estudos também associam com a deficiência de taurina e carnitina em gatos machos adultos, mas ainda não é esclarecido. É uma doença que acomete muito mais gato macho adulto do que fêmeas e cães. Essa hipertrofia pode ser simétrica ou assimétrica, sendo característica a dilatação/espessamento do septo interventricular. Nesses casos há a diminuição considerável das câmaras cardíacas. Como consequência, pode ocorrer a insuficiência cardíaca congestiva. Dilatada Hipertrófica Secundária Primária Cardiomegalia Espessamento do septo interventricular Cães > gatos e bovinos Gatos machos adultos > fêmeas e cães Gatos – deficiência de taurina e carnitina Miocardite Majoritariamente causada por vírus, embora também possa ser causada por bactérias, fungos ou parasitas. Um coração acometido por miocardite, especialmente viral (muito comum na febre aftosa), é um padrão tigrado do tecido devido ao infiltrado inflamatório entre as fibras cardíacas. Espécie Vírus Bactérias Cão Herpesvírus; Parvovírus; Cinomose Bordetella spp. Suíno Encefalomiocardite; pseudoraiva Acninobacillus spp. Bovino Aftosa; febre catarral maligna Mycobacterium spp; Listeria spp; Clostridium spp. Caprino e Ovino Língua azul Corynebacterium pseudoturberculosis Obs: em equinos pode haver Acninobacillus spp.; em gatos também pode ser causada por Bordetella spp. Em miocardites causadas parasitas, pode ser causada tanto por metazoário quanto por protozoário. Como exemplos de metazoários tempos o Cisticercus em bovinos, ovinos e suínos, e o Trichinella spiralis em cão gato e suíno. No caso de protozoários, podemos ver o Sarcocystis em Bovinos; Neospora canium e Trypanosoma cruzi em cães; e Toxoplasma gondii e Dirofilaria immitis em cães e gatos. Neoplasias Neoplasias primárias no miocárdio são raras, com exceção dos hemangiossarcomas em cães e Marina Morena 6 neurofibroma nos bovinos. Casos de metástases são mais comuns, principalmente de linfomas e carcinomas. Alterações degenerativas Pode ocorrer por plantas cardiotóxicas, como a Tetrapterys multiglandulosa e a Ateleia glazioviana. Em condições de pasto pobre, o animal pode ingerir como última opção. Outra causa pode ser também alguma substância cardiotóxica, como a Monensina para equinos ou o Gossipol (pigmento presente no algodão). Pericárdio Alterações não inflamatórias, acarretadas pelo acúmulo de líquido no coração, estão associadas às causas de edema, como: IC, congestão ou hipoalbuminemia (baixa ingestão proteica ou doença hepática). Em casos de hemopericárdio (acúmulo de sangue no pericárdio), o mais comum é encontrar o sangue coagulado em necropsia. É comum em situações de trauma. A atrofia gelatinosa da gordura pericárdica pode ser desencadeada após períodos de anorexia ou caquexia prolongada. A gordura do pericárdio é utilizada como fonte de energia para o corpo, levando a um processo de atrofia e consequente inflamação. Em aves pode haver um acúmulo de líquido altamente proteico, chamado de gota úrica. As aves processam muito ácido úrico e o acúmulo pode causar a pericardite. Em pericardites serosas é classificada como uma inflamação clara/límpida, composta por um líquido rico em fibrina, porém pobre em célula troco. Não é muito comum. Em pericardites é mais comum observar as do tipo fibrinosa, que pode ocorrer por infecção de origem hematógena, linfática ou tecidos adjacentes (pleuropneuponia fibrinosa). Uma vez que o agente etiológico se instala dentro do pericárdio, seja um protozoário, bactéria ou vírus, inicia-se um processo fibrinoso. A fibrina tem potencial de aderência, levando um tamponamento cardíaco (o coração contrai e não consegue descontrair depois) – pericardite constritiva. Por fim, outro tipo de pericardite que se pode observar, principalmente em bovinos, é a do tipo purulenta/supurativa. É comum em bovinos por não possuir uma alimentação muito seletiva, correndo o risco de ingerir algum corpo estranho, que uma vez retido no boi, pode perfurar o retículo, o diafragma e o pericárdio. Assim, a microbiota ruminal é levada para o pericárdio. Obs: pericardite fibrinosa x purulenta – via hematógina x reticuloperitonite traumática ou piotórax (lesão infecciosa no tórax). Vasos sanguíneos No geral, a inflamação de vasos sanguíneos é chamada de vasculite, podendo ser uma arterite, flebite ou linfangite. As causas podem ser infecciosas, imunomediadas ou tóxicas de origem hematogênica ou extensões locais de processos adjacentes. É comum em acessos venosos por tempos prolongados e formação de biofilme. Como consequência pode haver a deposição interna de fibrina e a tríade de Virchow é ativada. Em cavalo o parasita Strongylus vulgaris é um importante causador de arterite. Outro parasita de importância em arterites é o Spirocerca lupi, que é um parasita de cães que forma nodulações esofágicas. A proximidade anatômica do esôfago com a artéria aorta torna uma esofagite por Spirocerca lupi, um possível foco de arterite. Além disso, esse parasita pode desencadear um processo de carcinogênese tanto em esôfago como na aorta, levando a um fibrossarcoma, uma neoplasia maligna. Marina Morena 7 As flebites são frequentemente complicadas por trombose (tromboflebite), onde a onfaloflebite é uma ocorrência muito comum em animais de produção, devido ao manejo sanitário incorreto do cordão umbilical. A veia umbilical ainda possui um contato direto com o fígado, portanto é comum o desenvolvimento de uma hepatite e septicemia. Dentre as neoplasias de vasos, o hemangioma é uma neoplasia benigna. É importante diferenciá-la do processo, comum em bovinos e cães, de angiomatose. A angiomatose é uma hiperproliferação de vasos sanguíneos não neoplásica, não metastática e não encapsulada. A neoplasia maligna é o hemangiossarcoma, que consiste em uma proliferação maciça de vasos sanguíneos de maneira maligna. Pode possuir duas apresentações: a sólida, onde há uma grande proliferação das células da parede do vaso, mas sem que haja muito sangue; e a cavernosa, que possui leitos vasculares amplos. Em casos de hemangiossarcoma a citologia é limitante. Em cães é comum hemangiossarcoma em baço, pele, coração e fígado. Em gatos pode ocorrer em baço e intestino. Enquanto em equinos é comum o hemangiossarcoma ocular ou cutâneo. Em todas as espécies pode-se observar o multicêntrico, ou seja, disseminado. Em vasos linfáticos podemos ter o linfangioma ou o linfangiossarcoma. Sistema hemolinfático O sistema hemolinfático é composto por todas as células sanguíneas, seus precursores presentes na medula óssea (linhagens mieloide e linfoide), órgãos linfoides sólidos (comotipo, baço, linfonodos e tonsilas) e tecido linfoide associado a mucosa (MALT). Algumas alterações apresentadas nesse sistema não possuem significado clínico efetivo, como a coagulação da medula óssea, a distribuição irregular de sangue no baço, defeitos da cápsula esplênica, extrusão da polpa vermelha e pseudoinfartos esplênicos. Poucos minutos após o óbito do animal a medula óssea passa do estado líquido para o sólido, pois ocorre a coagulação das proteínas presentes. Dessa maneira, uma medula óssea sólida na necrópsia constitui uma alteração post mortem, ainda que seja normal. Alterações degenerativas da medula óssea Lesões comumente diagnosticadas na rotina clínica e anatomopatológica, incluindo: aplasia medular, hipoplasia medular e mieloptise. Aplasia medular Condição que consiste na parada de maturação dos precursores hematopoiéticos afetando todos os componentes (mieloide/leucócitos, eritoide/hemácias e megacariocítico/plaquetas), acarretando uma pancitopenia. Causas hereditárias são raras em animais, ocorrendo principalmente por questões adquiridas, como o uso de radioterápicos e quimioterápicos, hiperestrogenismo, reação a determinados fármacos, ingestão de samambaia e doenças infecciosas como parvovirose, panleucopenia, erliquiose, FIV e FeLV. O exame citopatologico e histopatológico de um animal com aplasia medular revela uma alta concentração de gordura/estroma e a falta ou diminuição das células precursoras (<10%). É Marina Morena 8 importante destacar que a coleta para diagnóstico deve ser realizada na epífise do osso. Hipoplasia medular Em contraste com a aplasia medular, em casos de hipoplasia há o crescimento incompleto de uma linhagem específica, podendo ser mieloide, eritroide ou megacariocítica. A singularidade de afetar apenas uma das linhagens faz com que também seja denominada de “aplasia pura”. A hipoplasia é considerada quando há menos de 70% da presença de determinada linhagem. Histologicamente pode haver sinal de regeneração tanto na medula quanto no sangue. Mieloptise Distúrbio em que há substituição dos espaços virtuais ocupados pelas células que compõem os compartimentos hematopoiéticos da medula óssea. Essa substituição pode ser decorrente da proliferação neoplásica ou displásica de um tipo celular da própria medula (leucemia ou mielodisplasia, respectivamente), substituição das células hematopoéticas por colágeno (mielofibrose), invasão óssea adjacente (osteopetrose – não cancerígeno), distúrbio metabólico sistêmico (doenças de depósito lisossomal – restos celulares), inflamação ou proliferação neoplásica metastática. A principal causa de mieloptise é a neoplasia primária da medula, a leucemia. Alterações inflamatórias e proliferativas Mielite Doença inflamatória, de origem tóxica ou infecciosa, que afeta a medula óssea. Pode ser granulomatosa, macrófagos – causada por fungo ou micobacteriose; ou aguda, neutrofílica – típica em infecções bacterianas e imunomediadas. Hiperplasia medular Ainda que seja muito frequente, é pouco observada, uma vez que pode ser identificada através de outros exames que não a histopatologia. A medula se encontra extremamente vermelha. Pode ocorrer como regeneração seguida de casos de anemias, leucopenias, trombocitopenias ou em resposta a uma infecção ou inflamação sistêmica. Distúrbios mieloproliferativos A leucemia é uma neoplasia maligna de célula hematopoiética originada no interior da medula, podendo ser uma leucemia mieloide aguda (LMA) ou leucemia mieloide crônica (LMC). Além disso, outro distúrbio mieloproliferativo é a Síndrome mielodisplásica (SMD), que abrange tanto células jovens como maduras. A principal diferença entre a LMA e a LMC é a celularidade, onde em casos agudos observa-se majoritariamente blastos, enquanto na crônica há mais células maduras. LMA LMC Início Agudo Insidioso Curso clínico Semanas Pode levar anos Idade Todas Adultos Leucometria N, ↑ ou ↓ ↑ Celularidade Blastos Maduras Neutropenia Presente Ausente Anemia Presente Presente Plaquetas Diminuídas N ou ↑ Organomegalia Discreta Grave Obs: organomegalia é o aumento de outros órgãos e leucometria número de leucócitos no sangue. Obs2: É comum ocorrer metástase em baço, fígado e medula dos linfonodos devido ao tipo de vascularização dos órgãos, que é sinusoide. Para o diagnóstico conclusivo, a análise da medula óssea é crucial. O hemograma Marina Morena 9 pode apresentar blastos com cromatina frouxa, porém não é um exame conclusivo, apenas sugestivo. A expressão LMA abrange um grande grupo de neoplasias hematopoiéticas que têm em comum o fato de se originarem de precursores mieloide e de serem rapidamente progressivas. Assim, podem ser englobadas oito tipos principais: leucemia mieloide aguda sem maturação (LMA-M1), leucemia mieloide aguda com maturação (LMA-M2), leucemia promielocítica aguda (LMA-M3), leucemia mielomonocítica aguda (LMA-M4), leucemia monoblástica/monocítica aguda (LMA-M5), eritroleucemia aguda/etritoleucemia aguda com predominância eritroide (LMA-M6/LMA- M6Er), leucemia megacarioblástica aguda (LMA-M7) e leucemia com mínima diferenciação mieloide (LMA-M0). Distúrbios linfoproliferativos Um dos aspectos mais confusos no que se refere ao diagnóstico desse importante tipo de câncer é a distinção entre linfoma metastático e leucemia linfoide. A leucemia linfoide é uma forma de apresentação do distúrbio linfoproloferativo em que as células neoplásicas se originam da medula óssea. Em contrapartida, o linfoma (linfossarcoma) é um distúrbio linfoproliferativo em que o tumor se origina em órgãos hematopoéticos sólidos, como linfonodo, baço, fígado e MALT, ou seja, fora da medula óssea. De maneira geral, clinicamente não é possível diferenciar um linfoma metastático de uma leucemia linfoide, de modo a descobrir quem foi a patologia originária. O principal distúrbio linfoproliferativo é a leucemia linfoblástica aguda (LLA). Já foi descrita em equinos, bovinos, mamíferos selvagens, hamsters, cães e gatos. Embora seja considerada uma neoplasia rara em todas as espécies animais, nos gatos 60- 80% dos casos são relacionados ao FeLV. A LLA possui um padrão semelhante à LMA em metástase, portanto podendo atingir baço, fígado e linfonodos. Acomete igualmente os linfócitos B e T. Além disso, pode acarretar síndromes paraneoplásicas, como hipercalcemia e dermatopatia esfoliativa, pois secretam um análogo ao paratormônio (PTH). Em contrapartida, a leucemia linfocítica crônica (LLC), está mais relacionada aos cachorros e menos em gatos (FeLV-) e bovinos. A sintomatologia costuma ser discreta (organomegalia) e o diagnóstico histopatológico é difícil. Por fim, o mieloma é uma neoplasia de plasmócito (linfócito B) que quando é localizado em apenas um osso, denomina- se plasmocitoma ósseo solitário. Por sua vez, quando a medula de diversosossos é afetada, sincronicamente ou sequencialmente, essas neoplasias são denominadas de mieloma múltiplo. Por envolver mais de um órgão, nesse segundo caso é considerada uma síndrome. O plasmocitoma extramedular é uma neoplasia localizada, originária de plasmócitos presentes em qualquer tecido mole, mas principalmente na pele (orelha e dígitos), baço, cavidade oral e no trato digestório. Macroscopicamente o mieloma múltiplo apresenta um infiltrado ósseo gelatinoso, pela fragilidade óssea. Os plasmócitos alterados são grandes, com grânulos e com o núcleo próximo a parede da célula, podendo ou não ocorrer binucleação. Por fim, o aumento no número de plasmócito leva a um pico proteico de -globulinas (Ig), acarretando gamopatia monoclonal. Timo O tipo é um órgão hematopoético primário, abundante no animal jovem e involuído no animal adulto (exceto aves). Marina Morena 10 Entre as poucas lesões descritas para o tipo, destacam-se as anomaliasdo desenvolvimento e as alterações proliferativas. A aplasia tímica é uma condição rara em que o filhote não costuma evoluir para adulto. A atrofia linfoide tímica é um processo degenerativo associado a uma infecção intrauterina. O feto ou filhote sobrevive apenas alguns dias. Potros com Herpes vírus tipo 1 desenvolvem uma necrose linfoide, que acarreta atrofia linfoide tímica. Outras infecções podem levar a uma atrofia tímica, como gatos com panleucopenia e FeLV, peste suína clássica, cães com cinomose e diarreia viral bovina. Nessa condição os lóbulos tornam-se colapsados e angulados. Por sua vez, a timite é uma inflamação do timo, considerada pouco comum. Suínos com o circovírus 2 podem apresentar essa condição, bem como equinos com Herpes vírus, gatos com FeLV e bovinos com diarreia viral ou até em casos de aborto enzoótico bovino. Um dos distúrbios neoplásicos do timo que podemos encontrar é o linfoma tímico, envolvendo células linfoides. É comum em felinos, pois possuem mais linfonodos mediastínicos e pode haver associação com FeLV. Além disso, já foi descrito em bovinos e em cães (raro – 6 meses a 2 anos). Em contraponto, o timoma é uma neoplasia de células reticuloendotelial, ou seja, sem origem linfoide. Incomumente descrito em cão, gato, ovelha, cabra e coelho, é raro em outros animais. Pode ser tanto maligno (ocorre metástase) como benigno. Como consequência pode-se observar miastenia gravis (dano ao nervo que leva a flacidez muscular), hipercalcemia, polimiosite e dermatite esfoliativa. Baço Anomalias de desenvolvimento do baço são raras, e exceções a isso são os baços acessórios, a agenesia (animais que nascem sem o baço) e baços duplos. Em bovinos e ovinos o baço duplo está relacionado com a síndrome dos defeitos viscerais múltiplos. Baços duplos também podem ocorrer como consequência de ruptura/trauma. O termo esplenomegalia é utilizado para se referir ao baço que se encontra aumentado, podendo apresentar-se de quatro aspectos: → Uniforme com consistência sanguinolenta – baço sanguinolento: ocorre por congestão derivada de anestésicos (barbitúricos), analgésicos ou torção gástrica; em casos de hiperemia, congestão inflamatória/septicemia; ou em anemia hemolítica aguda, tanto de origem autoimune quanto parasitária (erliquiose, AIE). → Uniforme com consistência firme – baço carnoso: observado como consequência de degenerações e amiloidose (doença do depósito lisossomal); estimulação antigênica crônica, que leva a um acumulo de detritos, agentes exógenos e fagocitose de células; além de proliferação e infiltração de células em doenças infecciosas crônicas (histoplasmose, leishmaniose, micobacteriose, brucelose), hematopoese extramedular, neoplasias primárias e hiperplasia linfoide. → Nodular com consistência sanguinolenta: ocorre em casos de neoplasias vasculares ou hematomas, seja por nódulos hiperplásico ou trauma. → Nodular com consistência firme: consequência de hiperplasia nodular Marina Morena 11 (hiperplasia da polpa branca – inespecífica, comum em cães idosos), granulomas, abscessos e neoplasias (primárias ou metastáticas). A periesplenite consiste em uma inflamação aguda no peritônio ao redor do baço, que pode ocorrer como consequência de uma complicação pós- cirúrgica, reticuloperitonite traumática em bovinos e peritonite infecciosa felina (PIF). Oposto à esplenomegalia, em alguns casos o baço encontra-se pequeno, podendo apresentar dois aspectos: pequeno, firme e vermelho pálido, como consequência de uma hipoplasia linfoide ou imunodeficiência combinada grave em potros árabes (ausência de células B e/ou T); ou pequeno e flácido com a cápsula enrugada e sem sangue ao corte, chamado de baço exangue, sendo apenas um achado e não considerado necessariamente uma alteração patológica. O baço exangue ocorre por consequência de uma compressão aguda para a liberação de hemácias. Por fim, em casos de traumas em que ocorre a ruptura esplênica (total ou parcial), o animal pode sofrer um choque hipovolêmico, que acarreta morte, ou também passar a ter um baço duplo, pois uma vez cicatrizado, o baço passa a ficar dividido sendo separado por uma cicatriz fibrosa capsulada (“filhas do baço”). Linfonodos Os linfonodos são responsáveis por drenar a região e proteger. Dadas as características morfofisiológicas dos linfonodos, os distúrbios mais comuns incluem principalmente as alterações inflamatórias, proliferativas e circulatórias. Um exemplo de alteração circulatória é o edema nodal, decorrente da drenagem de determinada área do corpo (líquido intersticial). Outra alteração circulatória é a hemorragia nodal. Ainda que incomum, são vistas em associação com certas doenças que cursam com vasculite e CID, como a peste suína clássica e africana, além de hepatite infecciosa canina e migração errática de Strongylus spp. em equinos. A linfoadenite é uma alteração inflamatória, podendo ser inespecífica ou específica. É a reação a uma inflamação ou infecção de uma região próxima. Assim, as inespecíficas podem ser tanto relacionadas a infecção ou em casos tóxicos (linfadenopetia reacional), enquanto as específicas são correlacionadas a infecções por bactérias, fungos ou protozoários e estão associadas a sinas sistêmicos. Em ovinos vale ressaltar a linfadenite caseosa, ou pseudotuberculose, causada pela bactéria Corynebacterium pseudotuberculosis. Neoplasias O linfoma/linfossarcoma é uma neoplasia maligna com origem em órgãos hematopoéticos, como os linfonodos. Em muitos casos está associada com vírus, como em gatos (FeLV – 70%), bovinos (BLV – vírus da leucemia bovina; leucose enzoótica bovina), ovinos (BLV) e hamsters (poliomavirus e herpesvirus). Em cães a causa é desconhecida. O linfoma multicêntrico acomete os linfonodos superficiais e profundos, além do baço, fígado, tonsilas e medula óssea. É o tipo mais comum em cães (80%). Nesse tipo de linfoma há perda de arquitetura tecidual. Por sua vez, o linfoma alimentar é definido pela presença de neoplasia no TGI (estômago e intestino). É o segundo mais comum em cães e gatos. Na necropsia, um aumento do volume acentuado dos linfonodos mesentéricos é visto na maior parte dos casos. O padrão da lesão nesses linfonodos é idêntico ao que ocorre no linfoma multicêntrico. Marina Morena 12 Além desses, outras formas de linfoma são o nodal, tímico, esplênico, leucêmico e extranodal/cutâneo (importante diferenciar de uma doença infecciosa). Sistema digestório O sistema digestório é composto de uma série de órgãos tubulares e glândulas associadas que têm como função básica decompor o alimento ingerido em unidades menores, que possam ser absorvidas e utilizadas para a manutenção do organismo. Há um padrão estrutural geral para todos os órgãos tubulares do sistema. Existem quatro camadas, sendo a primeira, mais próxima do lúmen, a túnica mucosa, seguida pela submucosa, muscular e, por fim, a túnica serosa ou adventícia. Cavidade oral Alterações congênitas comuns ao trato respiratório e digestório, como queilosquise (lábio leporino) e a palatosquise (fenda palatina), estão associadas especialmente a suínos e bovinos de rebanhos endogâmicos. Outras possíveis alterações são: braquignatia, que é quando o maxilar ou a mandíbula são subdesenvolvidos; prognatia consiste no excesso de desenvolvimento da mandíbula ou do maxilar; e, por fim, a agnatia, que seria o não desenvolvimento desses ossos, portanto, o animal não possui nem dente. Além das alterações congênitas, os animais costumam apresentar outras alterações, como por exemplo, o cálculo dentário (“tártaro”) e a cárie. O cálculo consiste em uma massa dentária polimerizada e mineralizada que abriga uma comunidade bacteriana (biofilme). Por sua vez, a cárie consiste em uma hipoplasia/hipomineralização concomitante com acúmulo de bactérias, podendoacarretar descalcificação dentaria e necrose infundibular do dente em equinos. Com relação às alterações inflamatórias da cavidade oral, a estomatite é o nome dado quando acomete a cavidade oral como um todo, podendo ser uma gengivite, glossite, palatite, faringinte ou tonsilite. As estomatites são diferenciadas de acordo com as camadas teciduais atingidas em superficial ou profunda. A estomatite superficial envolve apenas o epitélio e a submucosa, comumente associado a traumas físicos ou químicos, como irritantes químicos, tóxicos, queimaduras (elétricas e térmicas), corpos estranhos e alimentos fibrosos. Pode estar associada a uma infecção secundária oportunista gerada a partir de uma abertura do epitélio/submucosa. Outro tipo de estomatite é a catarral, caracterizada pela produção de muco. Esse tipo está associado principalmente a filhotes e pode ocorrer por infecção por Candida sp. ou agentes irritantes. Por sua vez, a estomatite vesicular é quando há formação de bolhas/vesículas na submucosa. A etiologia mais comum é a viral, especialmente a febre aftosa em animais de casco fendido, ou imunomediada, como o pênfigo. Além disso, pode estar associada à diarreia viral bovina, febre catarral maligna, exantema vesicular suíno e calicivirose felina. Quando essas vesículas se rompem dá início a estomatite erosiva ou ulcerativa, que possui a mesma causa da estomatite vesicular. Algumas situações acometem diretamente a estomatite erosiva sem que haja a vesicular, como em casos de uremia, o vírus da rinotraqueíte felina e a úlcera indolente (úlcera eosinofílica) em felinos. Obs: a úlcera indolente faz parte do complexo de granuloma eosinofílico de origem idiopática em que os felinos apresentam uma perda da mucosa com exposição da submucosa. Obs2: cavalos podem apresentar estomatite erosiva de origem neurogênica, onde o animal Marina Morena 13 entediado e sem estímulo começa a roer as estacas de madeira do estábulo, causando lesões. Por fim, a estomatite profunda é causada por uma infecção bacteriana, seja pelo Fusobacterium necropharum, que é comum em bezerros, leitões e cordeiros (necrobacilose); pelo Actinobacillus lignierensis, comum em bovinos adultos (actinobacilose); ou pelo Actinomyces bovis, que em casos graves à lesão tecidual até o osso da mandíbula e o deixa sensível a fraturas (actinomicose). As alterações proliferativas da cavidade oral podem ser não neoplásicas ou neoplásicas. Como exemplo das não neoplásicas temos: hiperplasia gengival; o épulis/epúlides, que se diferencia da hiperplasia gengival por ser focal; e o papiloma oral, que embora seja neoplásica, é desencadeada por um vírus e é autolimitante. As neoplásicas são: fibrossarcoma, que tem origem mesenquimal; plasmocitoma; oesteossarcoma, que possui um péssimo prognóstico; e o melanoma, que é sempre maligno e é considerada a pior neoplasia oral, com um prognóstico terrível. Glândulas salivares As alterações comuns em glândulas salivares são as obstruções dos ductos (rânula) levando a uma distensão cística. Quando essa distensão/obstrução extravasa e acomete porções adjacentes (mucocele ou sialocele), pode desenvolver uma inflamação (sialoadenite). Por fim, a sialolitíase é quando há formação de cálculos pela deposição de minerais, especialmente o cálcio. Esôfago O megaesôfago é uma alteração funcional frequente em animais de raças grandes (pastor alemão, dogue alemão, etc) de origem idiopática, por questões autoimunes, como na miastenia granis, ou outros (LES, hipotireoidismo, etc). Nesses casos há uma atonia, flacidez e dilatação do esôfago, levando ao acúmulo de alimentos, obstrução, estenose, inflamação, miosites e persistência do arco aórtico. As estenoses, obstruções e perfurações também são achados comuns, especialmente em animais que tem como questão comportamental comer objetos. Alguns pontos, como sob a laringe, na entrada do tórax, na base do coração e imediatamente anterior à cárdia, são comuns que haja obstrução. As alterações inflamatórias, esofagites, são comuns em animais que apresentam vômito recorrente ou refluxo gástrico, devido ao pH ácido dos líquidos vindos do estômago. Além disso, outras causas comuns de esofagites são os agentes virais, químicos e a Candida albicans. Em equinos também pode ser causada pela larva da mosca Gasterophilus sp. Em ovinos e caninos alguns parasitas também podem levar a alterações esofágicas, como a sarcocistose (ovinos – Sarcocystis gigantea) e a espirocercose (caninos – Spirocerca lupi). Lembrando que a presença do Spirocerca lupi pode ter como consequência o fibrossarcoma esofágico e da artéria aorta. Por fim, as neoplasias comuns do esôfago são os papilomas, fibrossarcomas, osteossarcomas e os carcinomas de células escamosas. Essa última está associada especialmente a caprinos e bovinos pela ingesta da planta samambaia, que é tóxica e causa hematúria enzoótica. Pré-estômagos Uma das principais patologias que acometem os ruminantes é o timpanismo, Marina Morena 14 que consiste na distensão dos pré- estômagos por acúmulo excessivo de gases. O timpanismo é classificado em primário e secundário. O timpanismo primário, também conhecido como espumoso, é essencialmente nutricional, onde a ingesta de alimentos com substâncias tensioativas (como trevos e leguminosas). Nesses casos a alta tensão superficial da bolha gasosa deixa o líquido ruminal com um aspecto espumoso. Em contraponto, o timpanismo secundário é quando o gás não está preso nas bolhas, porém está retido no rúmen. Neste caso, o timpanismo pode ser acarretado por atonia ruminal ou obstruções físicas e funcionais (papilomas, fibromas ou corpos estranhos). Independentemente do tipo de timpanismo, a morte, quando ocorre, é por anoxia. Com a dilatação dos pré- estômagos, há aumento da pressão intra- abdominal, compressão do diafragma, inibição dos movimentos respiratórios e desvio de grande volume de sangue para fora das vísceras abdominais. Além disso, ocorre também acentuado comprometimento da hemodinâmica das vísceras abdominais, compressão da veia cava caudal e redirecionamento do fluxo sanguíneo para as áreas craniais do animal (linha timpânica). Rúmen As alterações inflamatórias do rúmen, ruminites, podem ter diferentes etiologias. A ruminite metabólica, também chamada de acidose láctica ou acidose ruminal, é quando há uma ingesta excessiva de carboidratos. Quando o ruminante ingere muito carboidrato, há uma fermentação excessiva, acidificando o meio e favorecendo a proliferação de bactérias como o Streptococcus bovis e os Lactobacillus sp., que por sua vez, acidifica mais o meio. Com a queda do pH, ocorre atonia ruminal, resultando em um timpanismo secundário, parada reflexa de salivação e cessando o tamponamento do rúmen, pela falta do bicarbonato proveniente da secreção salivar. Além disso, com o aumento da acidez, ocorre um aumento da pressão osmótica e passagem de líquido do sangue e dos tecidos para o rúmen, resultando em uma hemoconcentração e desidratação. Essa é a fase crítica da doença, pois com a redução do volume plasmático, ocorre anúria, podendo resultar em uremia e colapso circulatório. Como resultado o animal sofre um choque hipovolêmico e morre. As ruminites infecciosas podem ser de origem bacteriana (necrobacilar pela bactéria Fusobacterium necropharum), viral (pelos papilomavírus e doenças vesiculares) ou fúngicas (sacundárias, associadas a antibióticos e traumas). Além disso, em bezerros ou filhotes de ruminantes que mamam em baldes podem apresentar ruminite, uma vez que essa posição impede o reflexo para o fechamento da goteira esofágica e o leite vai para o rúmen. O leite no rúmen sofre uma fermentação extrema. Retículo Alterações reticulares estão comumente associadas a corpos estranhos como tricobezoares (pelo), fitobezoares (plantas) oureticulite traumática (reticulopericardite e reticuloperitonite). Neoplasias ruminais e reticulares As neoplasias pré-estomacais possuem uma etiologia viral (papilomas e fibropapilomas) ou pela ingestão de samambaia (carcinomas de células escamosas – hematúria enzoótica). Marina Morena 15 Estômago e Abomaso Dilatação, deslocamento e torção Uma alteração comumente vista em estômago de cachorros de raças grandes e gigantes, bem como suínos e equinos, é a dilatação e deslocamento gástrico. A dilatação gástrica pode ser primária ou secundária, onde a primária é de origem nutricional e, na maioria das vezes, relacionada com a ingestão de alimentos facilmente fermentáveis. Normalmente, é aguda e, nos suínos e equinos, tem patogenia similar à da acidose láctica dos ruminantes. Nessas duas espécies, a porção anterior do estômago possibilita fermentação microbiana. A dilatação gástrica secundária é causada por um impedimento físico ou funcional do esvaziamento do estômago, podendo ser aguda ou crônica. Ocorre nas obstruções físicas (corpos estranhos, neoplasias, constrições etc.) e funcionais, devido à estenose pilórica; na atonia por distensão da parede do estômago (aerofagia, diminuição d transito causado por alimento grosseiro e pouco digestível), na atonia “nervosa” (paralisia vagal); na obstrução do intestino delgado; e, ainda, pode ser reflexa à distensão do cecocolo. Nos casos da dilatação primária com acidose láctica, ocorre passagem concomitante de líquido do sangue e dos tecidos para o lúmen estomacal, causando hemoconcentração, anúria e desidratação, levando a uma ruptura gástrica, peritonite e choque. Os equinos que sobrevivem algum tempo podem apresentar laminite, em decorrência da falha circulatória. A primeira consequência da dilatação gástrica secundária é a atonia, devido à distensão mecânica da parede, a qual agrava a dilatação e provoca deslocamento variável do órgão dentro da cavidade abdominal, podendo culminar com torção ou vólvulo, especialmente em cães. Em outras espécies, particularmente o cavalo, a dilatação progride para a ruptura, causando uma peritonite e, por fim, choque. Mesmo não havendo essas consequências drásticas (torção e ruptura), a morte do animal ocorre rapidamente pelos distúrbios metabólicos desencadeados com a retenção das secreções no estomago, pela dificuldade do retorno venoso na cavidade abdominal e pelas interferências na circulação sistêmica. A torção gástrica é uma doença onde há uma dilatação excessiva e torção do estômago. Essa dilatação se deve a presença de gases, fluidos e/ou alimentos em excesso, onde a aerofagia e a fermentação do conteúdo alimentar Carboidratos Dilatação e Acidose láctica Ruptura gástrica Peritonite e choque Falha circulatórica periférica Laminite Interrupção do conteúdo - refluxo Obstrução Atonia Dilatação Ruptura gástrica •Peritonite/choque Marina Morena 16 contribuem para formação e acúmulo de gases. É uma patologia de origem ainda desconhecida. Os cães de porte grande ou gigante tem maior predisposição de ter DVG, ocorrendo raramente em cães pequenos ou gatos. Acredita-se que os riscos aumentam quando o animal come apenas uma vez ao dia, ingerindo uma grande quantidade de alimento muito rapidamente. Animais abaixo do peso, com idade avançada e com dieta com alimentos secos e gordurosos também são mais propensos. Sabe-se que envolve motilidade gástrica anormal e parece estar relacionada com a conformação torácica, por exemplo, de cães com tórax mais profundos em relação à largura e ainda uma predisposição hereditária. Esta condição pode levar à síndrome dilatação vólvulo gástrico, uma série de manifestações sistêmicas e metabólicas secundárias ao DVG. Com grande índice de mortalidade, observam-se alterações severas na fisiologia renal, gastrointestinal, respiratória e cardiovascular, como hipovolemia, endotoxemia, choque e coagulação intravascular disseminada. A torção pode ser em sentido horário (mais comum) ou anti-horário e parcial ou completa. O grau de torção influencia na gravidade do caso: pode haver obstrução do fluxo gástrico, distendendo progressivamente o estômago, formando ainda mais gases e levando à alterações físicas como aumento abdominal e timpanismo, reflexo de vômito improdutivo, arritmia e pulso rápido e fraco. Pode também gerar uma congestão/compressão de baço e de omento maior. Há o risco de agravamento com uma possível obstrução de veia porta e veia cava caudal, levando à congestão mesentérica, necrose de parede gástrica, insuficiência cardíaca congestiva e choque. Nesses casos, o baço apresenta-se sanguinolento. O deslocamento do abomaso é um problema clínico comum em vacas leiteiras de alta produção, particularmente no final da gestação ou logo após o parto. Parece que o afluxo de grande quantidade de ácidos graxos voláteis do rúmen para o abomaso (advindos de amis concentrados na dieta) e a hipocalcemia desencadeiam atonia e aumento na produção de gás, que acarretam deslocamento. O abomaso pode ter deslocamento esquerdo ou direito. O esquerdo é menos grave, mais comum e assintomático. Entretanto, o deslocamento direito, mais raro, normalmente se complica com a torção do abomaso e sobre sua curvatura menor, com envolvimento do omaso, levando o animal à morte em poucas horas. Esquerdo (80%) Direito (20%) Sem consequências graves Grave Pode ser imperceptível na necrose ou causar aderência em serosa Gira, levando o omaso, retículo e duodeno para frente; retenção de ar; alcalose metabólica; necrose e ruptura da parede do abomaso Corpos estranhos Uma grande variedade de corpos estranhos pode ser encontrada no estômago de monogástricos e, mais raramente, no abomaso. Muitos são acidentais e desencadeiam discreta gastrite aguda ou crônica e, ocasionalmente, ulceração. Corpos estranhos endógenos, formados por pelos https://www.infoescola.com/medicina-veterinaria/timpanismo/ Marina Morena 17 ou vegetais, tricobezoares e fitobezoares, respectivamente, podem ser encontrados em animais domésticos. Principalmente os tricobezoares podem ser encontrados no estômago de gatos, bezerros e matrizes suínas. A obstrução do piloro pode ter como consequência a perfuração gástrica e peritonite. Impacção gástrica Acometem equinos e ruminantes; a impacção gástrica é provocada por conteúdo que se condensa, como resultado de restrição hídrica, alimentos fibrosos e grosseiros e grãos moídos finamente, que empastam com facilidade (principalmente no caso de trigo, cevada, arroz e milho) ou decorrentes de estenose pilórica, física ou funcional; esta última é mais comum em geral e é resultante da indigestão vagal ou paralisia vagal. Bovinos com impacção por paralisia vagal apresentam intenso acúmulo de ingesta no abomaso e omaso, com aspecto semelhante ao do conteúdo ruminal ou mais ressecado, devido à intensa distensão do omaso e abomaso. Gastrites e abomasites As gastrites e abomasites são termos usados para definir a inflamação do estômago e do abomaso, respectivamente. Em cães e gatos, a gastrite pode ser de origem mecânica, pela ingestão de corpos estranhos ou pela formação de bola de pelo em gatos, ou de origem química, por utilização de drogas anti-inflamatórias (esteroidais e não esteroidais). A gastrite típica, no que se refere à infiltração de células inflamatórias, ocorre comumente em cães e gatos com alergia alimentar ou de maneira idiopática, como na doença inflamatória idiopática do intestino em cães. Gastrites causadas por agentes infecciosos em pequenos animais são menos comumente descritas, em comparação àquelas de origem química, mecânica ou idiopática. As gastrites podem ser divididas em crônicas ou agudas. As gastrites/abomasites agudas estão associadas a ingestão de corpos estranhos, como tricobezoares; ou de origemquímica, que pode desencadear uma ulceração (destruição da mucosa com exposição da submucosa). Por fim, as gastrites crônicas podem ser hipertróficas ou metaplásicas. A gastrite hipertrófica crônica é de origem idiopática. Os sinais clínicos são perda de peso, vômito e diarreia. Macroscopicamente, há marcada hipertrofia da região fúndica, com rugas mais largas e elevadas, que assumem aspecto cerebriforme. A gastrite metaplásica crônica é frequente nos animais com parasaitas gástricos, principalmente ostertagiose e na tricostrongilose dos ruminantes. Acompanha-se de acloridria, diarreia e perda de proteína plasmática para o lúmen intestinal. As abomasites por Clostridium spp. são pouco frequentes no Brasil, uma vez que estão associadas a climas frios. Além disso, as gastrites podem ter origens parasitárias, especialmente envolvendo Physaloptera preputialis, em felinos; Habronema muscae e Habronema megastoma, em equinos; Gasterophilus nasalis e Gasterophilus intestinalis, em dudodeno e estômago de equino, respectivamente; e Haemonchus spp., em bovinos, ovinos e caprinos, destacando o Haemonchus contortus que é muito comum em ovinos. Úlceras gástricas É quando ocorre uma destruição da mucosa com exposição da submucosa. A hipersecreção de ácido ou a falha na integridade da mucosa são consideradas fatores patogenéticos gerais. Alguns Marina Morena 18 fatores que estão associados com a hipersecreção gástrica são: gastrinomas, que são neoplasias do pâncreas secretoras de gastrina; e aumento dos níveis de histamina, associado a mastocitomas ou mastocitose. Por sua vez, os fatores relacionados com a diminuição da resistência da mucosa são: agentes anti-inflamatórios não esteroidais, pois impedem a síntese de prostaglandinas, que tem efeito protetor da mucosa gástrica (estimula a produção de bicarbonato, aumenta a síntese de mucina e promove vasodilatação); o refluxo duodenal, que lesiona a membrana lipoproteica da célula, tornando a mucosa permeável ao ácido; e os glicocorticoides e o estresse, que apresentam ação combinada sobre a mucosa e a secreção ácida, onde os glicocordicódides são responsáveis por promover o decréscimo da renovação do epitélio e a diminuição da disponibilidade de ácido araquidônico para a síntese de prostaglandinas, além de estimularem a produção de gastrina, que, por sua vez, estimula a secreção ácida. A perfuração das úlceras gástricas e duodenais desencadeia grave hemorragia e extravasamento do conteúdo gastroduodenal para a cavidade abdominal. Neoplasias gástricas Apesar de pouco frequentes, as neoplasias mais comuns no estômago são: adenocarcinoma, carcinoma de células escamosas e linfoma. O adenocarcinoma já foi descrito em várias espécies, mas é mais frequente em cães ou pequenos animais. Podem passar despercebidos, pois crescem para a luz ou se infiltram a parede gástrica. Formam placas ou massas que podem ulcerar. Por sua vez, os carcinomas de células escamosas são observados em equinos, suínos e ruminantes, envolvido com a parte não glandular do estômago. Por fim, o linfoma ocorre mais frequentemente em cães, gatos e bovinos. Nesta última espécie, nos casos de leucose enzoótica bovina, há extensa distribuição e infiltração de células neoplásicas, especialmente na parede do abomaso. Pode infiltrar outros órgãos e linfonodos regionais. Intestino Uma importante alteração congênita associada ao intestino é a atresia, que pode variar de acordo com o local (atresia de íleo, jejunal, colônica e anal) ou pelo tipo de segumento (atresia por membrana, em cordão ou em fundo cego). A atresia membranosa é quando forma uma membrana simples ou diafragma obstruindo o lúmen. Por sua vez, a atresia em cordão é quando as extremidades cegas do intestino estão unidas por um cordão de tecido conjuntivo. Por fim, a atresia em fundo cedo é quando há um segmento do intestino e seu mesentério ausentes, formando duas extremidades cegas. A atresia do íleo é a anomalia mais comum do intestino delgado, frequente em bezerros e raras em outras espécies. Já a atresia anal é o defeito congênito mais comum em todas as espécies, mais frequente em bezerros e leitos, sendo de natureza hereditária. É importante diferenciar as atrasias das estenoses, que são apenas diminuição da luz. As estenoses ocorrem especialmente por anomalias congênitas, retrações Marina Morena 19 cicatriciais (tecido fibroso), abscessos e neoplasias. Prolapso retal O prolapso retal ocorre com frequência em ruminantes, principalmente ovinos, e em suínos. As causas ou fatores predisponentes incluem: tenesmo, disúria, neuropatia, tosse crônica, diarreia, predisposição genética, esforço abdominal exagerado e frouxidão do esfíncter. Logo após o prolapso, a mucosa retal prolapsada torna-se congesta, podendo ocorrer hemorragia. Dependendo da duração do processo, podem ocorrer lesões isquêmicas e/ou traumáticas à mucosa retal. Alterações compressivas e obstrutivas As obstruções do lúmen intestinal podem ser provocadas por corpos estranhos de natureza diversa. Pequenos corpos estranhos arredondados ou pontiagudos podem passar pelo intestino nem nenhuma consequência. Alguns podem se manter no intestino sem produzir alteração, até atuarem como núcleo de formação para enterólitos. Corpo estranhos maiores, pontiagudos ou não, podem ter consequências imprevisíveis. A areia pode ficar sedimentada no cólon de equinos que pastam em solos arenosos, o que pode levar à colite crônica e obstrução, processo denominado sablose. Objetos que ficam impactados no lúmen podem provocar obstrução parcial ou total, dependendo do tamanho, além de provocar necrose, por compressão sobre a mucosa e, eventualmente, até perfuração intestinal. Corpos estranhos lineares, como cordões e linhas, provocam um efeito sanfona, especialmente no intestino delgado, bem como erosões e ulcerações na face mesentérica da parede intestinal, devido ao atrito contínuo proporcionado pelo peristaltismo. Peritonites sépticas são frequentemente observadas. Fecalólitos ou enterólitos (concentração mineral/calcificação) são comuns no cólon de equinos e se constituem de concreções com lâminas concêntricas em torno de um núcleo formado por corpo estranho ou partícula alimentar. Outras concreções de fibras (fitobezoares) e de pelos (tricobezoares) podem se alojar no intestino. A impacção do cólon por fezes (cães e gatos) e por digesta (cavalos) é comum e leva à obstrução intestinal. O intestino pode sofrer fechamento do lúmen por compressão causada por aumento de volume em órgãos vizinhos, como em casos de neoplasias pancreáticas, aumento inflamatório ou neoplásico de linfonodos e necrose da gordura abdominal. Hérnias São deslocamentos de vísceras, principalmente intestinos, dentro da própria cavidade abdominal (hérnia interna) ou para fora dela (evisceração); podendo ocorrer por um forame natural (hérnia verdadeira) ou adquirido (p. ex. em lesões, traumas ou pós-cirúrgico). Torção A torção (rotação ao redor do eixo maior das vísceras) e o vólvulo (torção do intestino sobre o seu eixo maior) são sempre causas de obstrução estrangulada. A torção do eixo maior do mesentério é comum em suínos e ruminantes lactantes e rara em equinos, cães e gatos. Em todas as espécies provoca morte rápida. No suíno, é provocada por excesso de produção de gás a partir de substratos altamente fermentáveis no cólon. Nessa espécie, é uma causa comum de morte súbita esporádica. O vólvulo ocorre em qualquer espécie, mas é mais frequente nos equinos, sendo causa comum de obstrução estrangulada. Marina Morena 20 O vólvulo em equinos ocorre com maior frequência no cólon maior esquerdo, devido à maior mobilidade da estrutura. Intussuscepção e aderência É o invaginamento de um segmento do intestino dentro de outro segmento. A causa é, às vezes, inaparente,mas pode ocorrer como consequência de corpos estranhos lineares, parasitismo intenso, cirurgia intestinal prévia, enterite e lesões intramurais (abscessos ou tumores). A extensão da intussuscepção é limitada pela tensão do mesentério. A compressão dos vasos mesentéricos provoca infarto venoso, inflamação e aderência das serosas em contato. A aderência torna a invaginação não redutível, e ocorrem necrose e gangrena do segmento invaginado. As invaginações agônicas ou post mortem diferem das verdadeiras invaginações pela ausência de alterações circulatórias e aderências. Obstrução nervosa É uma obstrução funcional e se enquandra melhor nas alterações macroscópicas observadas na obstrução simples, entretanto, sem que haja impedimento físico da progressão da ingesta. O exemplo típico é o íleo paralítico, também chamado de íleo adinâmico. É consequência de irritações peritoneais, como cirurgias abdominais, com manuseio das vísceras e exposição demorada destas ao meio ambiente, bem como nos casos de peritonite, devido à irritação do peritônio por toxinas. Essa alteração resulta de uma variedade de fatores e reflexos neurogênicos que interferem na inibição dos neurônios do plexo mioentérico. As descargas tônicas contínuas desses neurônios inibem a contração da camada circular de músculo liso, advindo a atonia e a obstrução simples. Os intestinos ficam distendidos, com uma mistura de gás e líquido, e a parede flácida. Alterações inflamatórias Genericamente chamadas de enterite, as inflamações do ceco, cólon e reto são especificadamente chamadas de tiflite, colite e proctite, respectivamente. Nos casos de envolvimento segmentar do intestino delgado são usados os termos duodenite, jejunite e ileíte. Nos processos inflamatórios difusos que envolvem também o estômago, utiliza-se o termo gastroenterite. Morfologicamente, existem quatro tipos básicos: catarral, hemorrágica, fibrinosa e necrótica/diftérica. A classificação morfológica é feita segundo a natureza da alteração predominante, e a associação de duas ou mais alterações dá origem a outros tipos, como fibrino- hemorrárica, fibrinonecrótica etc. Nos processos inflamatórios agudos, há sempre atrofia das vilosidades, seja por aumento da taxa de descamação ou por redução da proliferação. Nos dois casos, o intestino está hipotônico, dilatado e com paredes geralmente finas, a não ser que haja grave edema na lâmina própria e na submucosa. Em contrapartida, nos processos inflamatórios crônicos, há também atrofia das vilosidades, mas com hipertrofia das criptas. O intestino mantém seu tônus e apresenta parede espessa, por espessamento da mucosa. As enterites podem ser causadas por bactérias, como Clostridium perfinges, Escherichia coli e Salmonella spp.; parasitas, como ascarídeos, estrongiloides e estrongilídeos, onde neste último pode ocorrer migração larval levando à lesões vasculares dos ramos da artéria mesentérica, tromboarterites e aneurismas; protozoários, por exemplo Eimeria sp. (bovinos, ovinos, caprinos e Marina Morena 21 equinos), Isospora sp (caninos e felinos), Cryptosporidium sp (ruminantes, camundongos, suínos, felinos e caninos) e Giardia sp.; e vírus, como Parvovírus (panleucopenia felina, parvovírus canino tipo 2, parvovírus suíno e parvovírus bovino), Pestivirus (diarreia viral bovina – BVDs) e Coronavírus (PIF, gastroenterite transmissível suína, coronavirose bovina e canina). As enterites granulomatosas são vistas em ruminantes, ocasionadas pelas bactérias Mycobacterium bovis (tuberculosa) e M. paratuberculosis (paratuberculose). A doença de Johane é causada pela paratuberculose e possui uma morbidade significativa. Os sintomas ocasionados são: diarreia crônica, perda de peso e subprodução de leite. Além disso, as enterites podem possuir origem não infecciosa, como a enterite linfoplasmocítica e a eosinofílica em cães e gatos, ambas de etiologia desconhecida. Na primeira, os principais sintomas são vômitos crônicos e diarreia. Acredita-se que a enterite eosinofílica possua relação com as reações de hipersensibilidade do tipo I. Neoplasias Dentre as neoplasias intestinais, podemos citar os adenomas, adenocarcinomas, leiomiomas, leiomiossarcomas e os linfomas relacionados com MALT/GALT, que compõe 20% dos linfomas em felinos. Os adenomas intestinais se localizam preferencialmente no reto de cães de meia-idade; enquanto os adenocarcinomas são raros em animais domésticos. Estes se projetam ligeiramente para o lúmen, ainda que seu comportamento infiltrativo seja para a parede intestinal, invadindo a mucosa, camada muscular e até a serosa. Os leiomiomas e leiomiossarcomas são neoplasias benignas e malignas de fibras musculares da camada muscular. O cão é a espécie mais frequentemente acometida. No caso dos leiomiossarcomas, há uma tendência de infiltração profunda na parede e na serosa intestinal. Por fim, os linfossarcomas acomentem particularmente o intestinl delgado, sendo gato a espécie mais frequentemente afetada. São originados de células linfoides da parede intestinal, podendo ter apresentação segmentar ou difusa. Os linfomas intestinais frequentemente causam estenoses e intussuscepção. Peritônio Entre as alterações da cavidade peritoneal, destaca-se o acúmulo de conteúdo anormal, que inclui excesso de líquido peritoneal, denominado ascite ou hidroperitônio; de sangue (hemoperitônio); de urina (uroperitônio); de gás (pneumoperitônio); e de conteúdo intestinal ou ingesta. O achado de ingesta na cavidade peritoneal é uma evidência de ruptura ou perfuração do TGI. Devido à abundância de bactérias no conteúdo intestinal, nesses casos ocorre um processo inflamatório agudo e séptico da cavidade peritoneal (peritonite séptica). A peritonite bacteriana também pode ser resultado de perfuração ou ruptura uteina e perfuração da parede da cavidade peritoneal. A peritonite pode ser local ou difusa, dependendo da espécie e etiologia da inflamação. A peritonite bacteriana é menos comum em cães em comparação a outras espécies, ao passo que, no gato, a principal causa específica de peritonite é a infecção pelo coronavírus da peritonite infecciosa felina (PIF), que pode resultar em reação efusiva ou não efusiva. Além disso, ainda que diversos parasitas façam migração pela cavidade peritoneal, apenas a forma adulta ou larvária de alguns parasitas reside nela. Marina Morena 22 A principal neoplasia primária da cavidade peritoneal é o mesotelioma. Não é comum, mas ocorre com uma maior frequência em bovinos e cães. Esses tumores são benignos e possuem pouca importância clínica. Neoplasias secundárias ou metastáticas também podem se disseminar pelo peritônio, sendo a mais comum a proliferação de carcinomas, caracterizando como carcinomatose. Carcinomas ovarianos têm grande propensão à disseminação por implantação na cavidade peritoneal. Sistema tegumentar A dermatopatologia emprega um vocabulário próprio e especializado. É necessário conhecer esses termos para poder descrever tanto uma lesão macroscopicamente quanto histopatologicamente. A pápula consiste em uma lesão elevada, firme, circunscrita e menor que 1cm. Algumas neoplasias e infecções podem se apresentar nesse tipo de lesão. Uma pápula pode crescer e passar de 1cm, tornando-se uma placa. Ambas as lesões não se exteriorizam, portanto, estão abaixo da epiderme. Pela superfície ser achatada é que se dar o nome de placa. Comumente visto em dermatopatias crônicas. Por sua vez, a pústula é um acúmulo superficial elevado de fluido purulento no interior da epiderme (≠ de abcesso que é no espaço subcutâneo). A vesícula e a bolha são muito semelhantes, sendo ambas elevadas, circunscritas e preenchidas com fluido (líquido/exsudato, não é pus). A diferença é que a vesícula possui menos que 1cm de diâmetro, enquanto a bolha possui mais de 1cm.As máculas são lesões onde há uma maior pigmentação de uma área menor que 1cm sem que haja elevação. Pode ser secundária a um processo inflamatório crônico. Nódulo é uma lesão grande, elevada, firme, circunscrita com um diâmetro de 1- 2cm. Quando passa de 2cm passa a ser chamado de massa. Ambas podem ser o mesmo processo patológico, mas pela diferença de tamanho, recebem nomes diferentes. É chamado de lesão primária é quando a lesão é oriunda do próprio processo patológico, ou seja, indicam a presença de uma patologia. Em contraponto, as lesões secundárias aparecem depois das lesões secundárias. Um exemplo são os colaretes epidérmicos desencadeados por processos como pústulas, vesículas ou bolhas rompidas, expondo a epiderme ou até a derme. O aspecto de um anel de escamações observado nos colaretes é originado pelo extravasamento do líquido. Outro exemplo são as crostas, lesões acima da epiderme. É um exsudato (líquido) exteriorizado e resseca sobre a superfície da pele. A escoriação (arranhão) é uma perda linear da epiderme resultante de auto-traumatismo. Embora seja mais comum ser apenas superficial, pode ser um pouco mais profundo. Comedo é um tampão de queratina e sebo no interior do folículo piloso, que impede o pelo de se exteriorização. É como um pelo encravado. A sarna demodécica, por exemplo, habita o folículo piloso, levando a um excesso de queratinização e de secreção de sebo, ocasionando esses tampões. A liquenificação é quando a epiderme se torna espessa, áspera e volumosa, evidenciando os sulcos cutâneos. É uma produção exacerbada de células em Bolha Pápula Placa Mácula Nódulo Marina Morena 23 resposta a um processo inflamatório crônico. É muito comum estar associado com uma hiperpigmentação, que consiste no aumento da produção de melanina ou do número de melanócitos. A hipopigmentação consiste na perda de pigmento, falha na produção ou falha de transferência do pigmento. É o que ocorre no vitiligo, que a hipopigmentação é resultado de uma alteração autoimune. Nos casos de cicatrizes também há hipopigmentação na região. Em animais de idade avançada, pode ocorrer hipopigmentação fisiológica pela senilidade do melanócito, que passa a ter dificuldade em transformar a tirosina em melanina (convertida pela tirosinase em DOPA e depois em melanina). A alopecia é uma lesão que pode ser primária, quando há uma alteração que afeta a produção do folículo piloso, ou secundária, como no caso de animal que se mutila. Como já citado, as cicatrizes são lesões secundárias também. O grau de comprometimento depende do processo, grau e profundidade da lesão. Em relação aos termos utilizados nas análises microscópicas. A hiperplasia (aumento do número de células) pode ser diferenciada em acantose, que é um aumento no número de células da camada espinhosa da epiderme (células que ainda possuem potencial mitótico). A acantose ocorre principalmente pelo processo inflamatório crônico. Em contrapartida, a hiperplasia pode também ser classificada como ortoceratose, que é quando há um espessamento do estrato córneo, ou seja, da queratina (células sem núcleo). Este quadro é comum em casos de ectoparasitoses e doenças alimentares, que a pele tenta compensar a agressão com uma produção maior de queratina. A paraceratose também é um espessamento do estrado córneo, porém é um processo em que as células não sofreram apoptose e, portanto, ainda possuem núcleo íntegros ou em picnose. A morte celular pode ocorrer de duas maneiras: necrose, associada sempre a uma causa patológica e apoptose, podendo ser de causa patológica ou fisiológica. Histologicamente, são observadas áreas com células mortas, sem núcleo, como em necrose de coagulação causado por inflamação, trombos e outros. A apoptose também é morte celular, porém, por ser um processo programado pela própria célula, não são encontradas células inflamatórias na região. Uma condição que costuma levar a apoptose é o lúpus, assim como outras doenças autoimunes. A disqueratose é uma queratinização defeituosa, no interior da pele. São formadas pérolas de queratina no interior da pele, acontecimento muito comum em carcinomas de células escamosas (CCE). A espongiose é um edema intercelular na epiderme, dando um aspecto de esponja na histologia. Entre as células são observados espaços com líquido, caracterizando o edema visto em lesões inflamatórias. Em contraponto temos a degeneração hidrópica, que também é caracterizado por um edema com aspecto esponjoso, porém o acúmulo de líquido é no interior das células, comum em estágios iniciais de morte celular. Acantólise é quando há perda da coesão entre as células da epiderme, gerando bolhas, vesículas ou fendas preenchidas pelo líquido intersticial (não inflamatório) que completa o espaço entre as células. Ocorre nas doenças autoimunes vesicopustulares, como as do complexo pênfigo, e algumas neoplasias. Os queratinócitos soltos localizados dentro da pústula ou na crosta são chamados de acantolíticos. Exocitose é o termo empregado quando ocorre migração de células inflamatórias Marina Morena 24 ou eritrócitos entre as células da epiderme e da derme. Os neutrófilos predominam no exsudato agudo. Os eosinófilos são vistos nas ectoparasitoses e nas dermatites alérgicas, principalmente, com maior intensidade, na espécie felina. Os linfócitos são vistos na enfermidade seborreica, malassezíase, doença atópica, ectoparasitismo, dermatoses imunomediadas (p. ex., lúpus eritematoso) e linfoma cutâneo epiteliotrópico. A exocitose de células inflamatórias é um achado comum e não específico para algumas doenças. A melanose é o reflexo microscópico da hiperpigmentação, portanto, há um excesso de deposição de melanina. Em oposição temos a hipomelanose, que é a diminuição do depósito de melanina nas camadas superficiais da epiderme. Dermatites infecciosas As dermatites bacterianas, como foliculite/furunculose, costumam desencadear pústulas. A principal bactéria associada é Staphylococcus sp., que leva o nome de impetigo. Colaretes epidérmicos também podem ser observados em dermatites bacterianos, uma vez que são originados de pústulas que se romperam. As dermatites fúngicas são comuns em dobras cutâneas, especialmente seborreicas. Os fungos Malassezia pachydermatis e Candida albicans são agentes comuns de dermatites fúngicas e podem ser diferenciadas em microscopias. Os fungos dermatóficos, caracterizados por hifas, causam dermatites secas e com áreas de alopecia. Em microscopia das lesões não são observadas as hifas e sim as estruturas de resistências dos fungos, que são as artrósporo. O fungo dermatófico mais comum é Microsporum canis. Outros exemplos são: Trichophyton mentagrophytes, Microsporum gyspseum e Microsporum persicolor. Outros fungos merecem destaque por causarem lesões dermatológicas. Um exemplo é Sporothrix schenckii que na região do Rio de Janeiro é endêmico, principalmente em felinos, equinos e caninos. Este fungo gera lesões ulcerativas nos animais e o principal deles, no cenário mundial, é o equino. No RJ/Brasil, especificamente, a espécie mais afetada é o felino. Para o diagnóstico, o recomendado é realizar imprinting em diversas lâminas, para que seja removido o exsudato nas primeiras e por volta da terceira ou quarta será obtido um material mais limpo. O Sporothrix fica profundo à pele e por isso que é necessário retirar o excesso de exsudato. O Sporothrix é um fungo dimórfico que em animais apresenta a forma de levedura com um formato de naveta ou fusiforme. Além disso, é um fungo resistente à fagocitose do macrófago. É importante lembrar que a proliferação da levedura no cão é melhor, diferentemente do gato, por isso em felinos é muito mais invasivo. Cryptococcus neoformans e Histoplasma capsulatum são fungos que, embora menos comumente, também podem serencontrados em lesões cutâneas. Entre eles, são diferenciados de acordo com o brotamento, sendo brotamento em base larga típico de Cryptococcus neoformans, ou base estreita em Histoplasma capsulatum. O tratamento para qualquer um deles é o mesmo. Em relação aos ectoparasitas, a principal sarna canina é a demodiciose, causada por Demodex canis, que habita normalmente a pele de caninos. Em caso de imunossupressão há uma proliferação excessiva e acarreta alopecia e outros sintomas. A demodiciose não causa prurido, portanto, quando o animal apresenta esse sintoma, o clínico suspeita da sarna sarcóptica (Sarcoptes scabiei), segunda mais comum em cães. Ambos Marina Morena 25 parasitas também pode ser encontrado em suínos, bovinos e caprinos, em menor quantidade equinos, felinos e ovinos. Por sua vez, o ácaro Notoedres cati atinge mais felinos, enquanto Psoroptes sp. acomete animais de produção (ruminantes e equinos), assim como Chorioptes sp. Vale ressaltar que apenas a demodiciose não é transmitida de animal para animal, todas as outras tanto passam de um animal para outro, como para o humano também (zoonoses). A leishmaniose é uma doença causada pelo protozoário do gênero Leishmania que causa lesões ulcerativas. Na lâmina de histologia são observadas células inflamatórias, não só os neutrófilos, como também macrófagos (infectados pelo protozoário) e outras. Nem a histopatologia nem a citologia conseguem fechar o diagnóstico de leishmaniose, são apenas testes de triagem. Dermatites não infecciosas Como exemplo de dermatite alérgica temos a urticária, atopia, DAPE (dermatite alérgica à picada de ectoparasitas) e hipersensibilidade alimentar. Todas são observadas na histopatologia com infiltrado predominantemente de eosinófilos. O chamado complexo do granuloma eosinofílico felino (CGEF) abrange basicamente três formas distintas na apresentação clínica. Esse grupo de enfermidades acomete a pele, as junções mucocutâneas ou a cavidade oral em diferentes combinações. A etiologia é incerta, mas o CGEF pode representar o estágio final de várias enfermidades alérgicas da pele. Tradicionalmente, as formas clínicas conhecidas são úlcera indolente, placa eosinofílica e granuloma eosinofílico. Neoplasias cutâneas As neoplasias da pele são muito variáveis quanto à sua histogênese, uma vez que, potencialmente, todos os diversos componentes tissulares da pele podem dar origem a diferentes processos neoplásicos; portanto, são muito frequentes as neoplasias cutâneas de origem epitelial, que têm origem não somente na epiderme, mas também nos anexos cutâneos. Ressalte-se que cada segmento do folículo piloso, por exemplo, pode originar diferentes processos neoplásicos. Além das neoplasias epiteliais, as neoplasias mesenquimais, melanocíticas e de células redondas são também muito comuns nos animais domésticos. Neoplasias cutâneas ocorrem em todas as espécies domésticas, mas, de maneira geral, é mais frequente no cão. Os papilomas/papilomatoses, neoplasias de revestimento, são mais comuns em bovinos e equinos. O papilomavírus causa o papiloma oral em cães, o papiloma cutâneo pelo papilomavírus bovino e equino é mais comum nestas espécies. As células basais também podem ser alvos de neoplasia, tendo diversas subclassifcações. Em contraponto, temos o carcinoma de células escamosas, que é a neoplasia das camadas mais superficiais e causa as pérolas de queratina, e está associado com a exposição solar. Os tumores de glândulas abrangem os adenomas e adenocarcinomas sebáceos, especialmente os adenomas em animais idosos. Em cães, a glândula hepatoide/perianal acomete o quarto posterior do corpo, especialmente na região perianal. Tanto o adenoma de glândula hepatoide, quanto o adenocarcinoma são relacionados com interferência hormonal. Assim, o adenoma, por ser benigno, regride em Marina Morena 26 casos de castração. A castração precoce é também um método de prevenção para ambos. Outra neoplasia glândular é o adenocarcinoma apócrino do saco anal, que não possui uma versão benigna. As células desse adenocarcinoma produzem uma molécula análoga do paratormônio (PTH), levando o animal a uma característica chamada de pseudo hiperparatireodismo. Os sintomas são os mesmos vistos no hiperparatireodismo. A neoplasia dos mastócitos, chamada de mastocitoma, é o principal tumor de células redondas, especialmente em cães. O aspecto macroscópico é bem variado, podendo ter lesões macias ou firmes, de papulosas a nodulares, sésseis a pedunculosas, dérmicas ou subcutâneas, bem ou mal circunscritas, alopécicas ou não etc. A ulceração e necrose são achados frequentes. O principal risco do mastocitoma é quando há a degranulação por estímulo externo nas lesões, podendo levar a gastrite, úlcera gástrica e, em casos de degranulação extrema, choque anafilático. Outra neoplasia que merece destaque é o histiocitoma cutâneo, comum em membros, pina e cabeça de cães filhotes (até 1-2 anos). Apresenta-se como um nódulo alopécico, sem dor e, se não tratado, pode ulcerar. É uma neoplasia benigna e comumente autolimitante, portanto, quando surge é combatido por linfócitos que destroem os histiócitos neoplásicos. A versão maligna é a histiocitose reacional. O melanoma, embora o nome não indique, é uma neoplasia maligna de melanócitos, especialmente os melanomas orais, de dígitos (acral) e ungueal. Em cães, o melanoma cutâneo, quando benigno, pode ser denominado de melanocitoma. Por sua vez, em equinos e suínos, a neoplasia de melanócitos é benigna, sendo, portanto, apenas melanocitoma. Por fim, a pele pode ser alvo de qualquer neoplasia de origem mesenquimal primária, podendo ocorrer fibroma/fibrossarcoma, sarcoide equino, sarcoma pós-vacinal, histiocitoma fibroso maligno, mixoma/mixossarcoma, tumores perivasculares e perineurais, lipoma/lipossarcoma e hamngioma/hemangiossarcoma. Neoplasias metastáticas são menos comuns, porém pode também ocorrer na pele. Sistema urinário O sistema urinário é dividido em trato superior, representado pelos rins, e em trato inferior, que compreende os ureteres, a bexiga urinária e a uretra. Os rins situam-se na região sublombar e apresentam consistência firme e forma variável entre os mamíferos. O parênquima renal se divide em córtex, localizado externamente, e região medular, localizada internamente. O rim é constituído por unidades funcionais, os néfrons. Cada néfron é constituído pelo corpúsculo renal e um longo túbulo, diferenciado em vários segmentos sucessivos (túbulo contorcido proximal, alça de Henle e túbulo contorcido distal). Cada corpúsculo renal é formado pelo glomérulo, que se constitui por um tufo de capilares ramificados e anastomosados, com uma região central denominada mesângio, envoltos pela cápsula de Bowman. Os glomérulos apresentam um polo vascular, pelo qual penetra a arteríola aferente e sai a arteríola eferente, e um polo urinário, em que se origina o túbulo contorcido proximal. A função primordial dos rins consiste na formação de urina. Para explicar a função do rim, deve-se considerar a função dos néfrons. Estes desempenham várias funções que ajudam a manter a integridade fisiológica do volume e dos Marina Morena 27 constituintes do líquido extracelular, como: conservação de água, cátions fixos, glicose e aminoácidos; eliminação dos produtos nitrogenados oriundos do metabolismo das proteínas (ureia, creatinina, ácido úrico e uratos); depuração do plasma dos excessos de íons sódio, potássio e cloreto; eliminação do excesso de íons hidrogênio para manutenção do pH dos líquidos corporais e eliminação de compostos orgânicos endógenos e exógenos. Além dessas funções, os rins secretam substâncias endócrinas, como: eritropoetina, renina, 1,25-di-hidroxicolecalciferol (forma ativa da vit. D) e prostaglandinas. Trato urinário superior O trato
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