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Artigo cientifico Direto Civil - Julio Cesar Moreira

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FACULDADE INTERNACIONAL SIGNORELLI - FISIG
CURSO DE DIREITO CIVIL
JÚLIO CÉSAR MOREIRA
ADOÇÃO INTERNACIONAL: 
ASPECTOS JURÍDICOS E SOCIOCULTURAIS
Belo Horizonte-MG
2016
JÚLIO CÉSAR MOREIRA
ADOÇÃO INTERNACIONAL: 
ASPECTOS JURÍDICOS E SOCIOCULTURAIS
TCC apresentado ao curso de Pós Graduação em Direto Civil da Faculdade Internacional Signorelli, como requisito para obtenção de título de especialista, sob orientação do Prof. Juvenal Bacellar Neto.
Belo Horizonte-MG
2016
RESUMO
Objetivou-se verificar a eficácia do ordenamento jurídico relativo a adoção internacional, mormente de menores brasileiros adotados por residentes fora do país. Foi analisada a Convenção de Haia Relativa à Proteção das Crianças e à Cooperação em Matéria de Adoção Internacional, com vistas a verificar se a aplicação do acordo, no Brasil, trouxe melhorias para os processos de adoção. Foram analisadas as demais leis que regem a adoção internacional no Brasil, especialmente a lei 12010/09 – a lei nacional da adoção – ressaltando suas virtudes e suas falhas, bem como os reflexos nos processos de adoção. Foram verificadas, também, as questões socioculturais observadas no Brasil e no exterior e que permeiam as decisões das pessoas que se encontram na fila para adotar um menor e como estas questões influenciam no tempo de permanência dos menores nos abrigos brasileiros. Os resultados obtidos na presente pesquisa demonstram que o ordenamento jurídico brasileiro que rege a adoção internacional precisa ser revisto e aperfeiçoado. 
Palavras-chave: Adoção internacional. Convenção de Haia de1993. Lei 12010/09. Questões socioculturais.
 ABSTRACT
This study aimed to verify the effectiveness of the law on international adoption, especially Brazilians smaller adopted by residents outside the country. The Hague Convention on the Protection of Children and Cooperation in Respect of Intercountry Adoption was analyzed in order to verify the implementation of the Agreement, in Brazil, has brought improvements to the adoption processes. Other laws were analyzed governing international adoption in Brazil, especially the Law 12010/09 - the national law of adoption - underscoring its virtues and its flaws, and the reflections in the adoption process. Also were found sociocultural issues observed in Brazil and abroad and that permeate the decisions of those who are in line to adopt a minor and how these issues influence the smaller the length of stay in the Brazilian shelters. The results obtained in this study demonstrate that the Brazilian legal system governing international adoption needs to be reviewed and improved.
Keywords: Intercountry adoption. Hague Convention of 1993. Law 12010/09. Sociocultural issues.
SUMÁRIO
Página
INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 05
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.................................................................................... 08
O PROBLEMA A INVESTIGAR................................................................................. 10
METODOLOGIA DE PESQUISA............................................................................ 12
BUSCA E ANÁLISE DOS RESULTADOS................................................................13
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS...........................................................................14
CONSIDERAÇÕES...................................................................................................18
INTRODUÇÃO
O instituto da adoção é um dos mais antigos de que se tem notícia. Sua origem tem forte relação com questões religiosas. De fato, havia a crença de que era imprescindível aos casais terem filhos sob pena de extinguir o culto doméstico, considerado a base da família. Desta forma, o objetivo principal da adoção era contemplar aqueles que não podiam ter filhos com a possibilidade de continuar com sua linhagem. O Código de Hamurabi, datado de 1700 a.c.,é considerado a mais antiga codificação jurídica a tratar do instituto da adoção. As regras e conceitos acerca do tema foram sendo aperfeiçoadas ao longo dos anos, nas mais diversas culturas existentes. 
No Brasil, o Código Civil de 1916 foi o primeiro diploma legal a tratar do instituto da adoção. Após, em 1957, foi promulgada a lei 3133 que trouxe mudanças significativas ao tema como a redução da idade mínima do adotante de 50 para 30 anos, a redução da diferença de idade entre adotantes e adotado de 18 para 16 anos e, finalmente, a possibilidade de casais com filhos poderem adotar. A partir desta lei, o legislador começou a dar ao tema um caráter mais assistencial, eis que buscava proporcionar ao adotado o acolhimento pleno de uma família, mudando assim a ideia inicial de privilégio aos adotantes. Essa mudança de escopo foi reforçada com as alterações trazidas pelas leis 4655/65, 6697/79 denominada Código de Menores, que trazia avanços importantes na proteção dos direitos da criança e do adolescente, o ECA de 1990 que substituiu o Código anteriormente mencionado e, por fim, a lei 12010/09, denominada Lei Nacional da Adoção.
Neste ponto, cabe ressaltar as importantes mudanças trazidas pela lei 12010/09 que substituiu os dispositivos contidos no ECA referentes ao instituto da adoção. De fato, a chamada lei do direito à convivência familiar dispõe, já no seu artigo primeiro, que a intervenção estatal na família, base da sociedade segundo a Constituição Federal de 1988, dar-se-á de maneira a priorizar a permanência da criança e do adolescente no seio da família natural. Somente em casos de impossibilidade de a família natural manter a criança ou o adolescente é que o menor deverá ser encaminhado para adoção, com base em decisão judicial fundamentada. As controvérsias acerca do diploma legal então se iniciam e dividem opiniões até o último artigo. Há quem defenda que a lei proporcionou um aumento no número de adoções além de tornar mais ágil a tramitação judicial. Em contrapartida, fala-se em dificuldades colocadas ao processo de adoção que prejudica pretensos adotantes, brasileiros ou estrangeiros e, principalmente, aos adotandos. 
Ao se dedicar à Adoção Internacional, não se pode deixar de abordar a Convenção de Haia, ocorrida em 1993 e que começou a vigorar no Brasil em 1995. A  Convenção de Haia é um tratado multilateral que envolve cerca de 75 países  e estabelece procedimentos para proteger os interesses das crianças e adolescentes aptos a serem adotados, além de resguardar os direitos dos pais biológicos e dos pais adotivos. Trata-se de um acordo que busca oferecer maior segurança nos processos de adoção na medida em que se propõe a reduzir o tráfico internacional de menores. 
Também merecem destaque a Convenção das Nações Unidas sobre Direito das Crianças, de 20 de novembro de 1989, a Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988, que confere prioridade absoluta aos direitos das crianças e dos adolescentes, a Lei n° 8.069/1990, de 13 de julho de 1990, que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências, o Decreto n° 3.174/1999, de 16 de setembro de 1999 , que designa as autoridades centrais encarregadas de dar cumprimento às obrigações previstas na Convenção de Haia, institui o Programa Nacional de Cooperação em Adoção Internacional e cria o Conselho das Autoridades Centrais Administrativas e Decreto nº 5.491/2005, de 18 de julho de 2005, que regulamenta a atuação de organismos estrangeiros e nacionais de adoção internacional.
Com relação às questões socioculturais que envolvem a adoção, percebemos o drama vivido por milhares de crianças e adolescentes inscritos no cadastro nacional pertinente e que vivem em abrigos país afora. As barreiras criadas pela idade, cor, sexo e outras características pessoais podem, infelizmente, condenar o adotando à falta de oportunidade de receber o carinho de uma família substituta. A possibilidade de o menor ser adotado por estrangeirosé menor se comparada com a adoção dentro do Brasil, isto porque o legislador entendeu que os laços com o país de origem só devem ser desfeitos em último caso. Há que se destacar que a maioria dos pretendentes estrangeiros a adoção se declaram indiferentes com relação a cor da pele, além de estarem mais dispostos, se comparados com brasileiros, a adotar negros.
Considerando a divergência existente entre defensores e críticos da adoção internacional, a pesquisa pretende ser criteriosa e responsável no levantamento das informações a fim de verificar se essa modalidade de adoção vem contribuindo para a redução do número de crianças em abrigos país afora ou se a burocracia e insensibilidade dos redatores e operadores das leis estão privando diversos menores do carinho e acolhimento se uma família.
 	
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Os debates e as divergências que permeiam os critérios utilizados nos processos de adoção, em especial a adoção internacional, estão presentes no meio acadêmico e em alguns setores da sociedade. Nos meios acadêmico e científico surgem trabalhos que enriquecem as discussões e proporcionam uma análise crítica da contribuição da adoção internacional e de como os aspectos jurídicos e socioculturais influenciam na modalidade. Pretende-se apresentar aqui três conceitos, como destaque, além de outras referências, na sequência do trabalho, de autores que contribuem de maneira importante para o debate.
Ocupante de cadeira na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como professora titular de Direito Civil, a iminente jurista Maria Helena Diniz afirma, no volume 5 de sua série “Curso de Direito Civil”, o equívoco do legislador ao elaborar medidas que visam proteger menores da ação de bandidos no que se refere ao tráfico internacional de crianças. Segue um trecho que merece destaque: 
[...]Como a adoção internacional, em si mesma, não é um bem ou um mal, seria mais conveniente, então, que se estabelecessem medidas eficazes para punir corruptos e traficantes, em vez de criar exigências para sua efetivação, visto que o estrangeiro está mais preparado psicológica e economicamente para assumir uma adoção, não fazendo discriminações atinentes à raça, ao sexo, à idade ou até mesmo à doença ou defeito físico que o menor possa ter; ao passo que o brasileiro é mais seletivo, pois, em regra, procura, para adotar, recém nascido branco e sadio, surgindo, assim, em nosso país, problemas de rejeição social. (DINIZ, 2004, p.16)
	Vale ressaltar que inúmeras restrições relativas à adoção internacional dizem respeito ao perigo de se expor as crianças e adolescentes, em especial no Brasil, às ações de traficantes e de toda sorte de bandidos. Entretanto, também se pondera e relega ao último plano esta modalidade de adoção por entender que se deve tentar evitar ao máximo que o menor perca suas raízes com o país de origem.
	Argumentando acerca do melhor interesse do menor, nos processos de adoção, destaca-se opinião do professor, escritor e desembargador aposentado, Carlos Roberto Gonçalves, que defende uma maior abertura aos postulantes estrangeiros interessados em adotar crianças brasileiras. O autor destaca que se deve combater a xenofobia manifestada por alguns e regulamentar devidamente a adoção internacional com vistas a coibir excessos e não permitir que a existência de adoções com finalidades criminosas interfiram negativamente a ponto de obstaculizar o sincero interesse de pessoas estrangeiras em dar amor e carinho aos menores que esperam ansiosos por isto. (GONÇALVES, 2006).
Conforme já mencionado, a adoção internacional é objeto de constantes debates. Há os que defendam a atual regulamentação dessa modalidade de adoção e não visualizam pontos a serem alterados. Como exemplo, podemos citar a especialista em Direito Educacional e doutoranda em Direito Civil, Adriana Pereira Dantas Carvalho que considera que a lei 12010/2009 trouxe diversos benefícios ao processo de adoção, especialmente no que se refere à adoção internacional. Segundo a jurista, a adoção internacional deve ser concedida em caráter excepcional, cercando-se de todos os cuidados para se coibir o tráfico.
Ao revisar o que já foi escrito acerca do tema da pesquisa, deparamo-nos com críticas bem fundamentadas contrárias a determinadas regras impostas à adoção internacional, emitidas por profundos estudiosos do direito. De fato, as dificuldades observadas na efetivação de adoções internacionais de menores abrigados no Brasil sinalizam para a necessidade de maior flexibilização das regras pertinentes e para um debate amplo com a sociedade brasileira no sentido de incentivar a adoção de menores diferentes do perfil preferido/exigido.
O PROBLEMA A INVESTIGAR
Os motivos que levam crianças e adolescentes a perderem o contato e os cuidados da família natural são diversos. Acidentes, falta de estrutura psicológica e material dos pais biológicos e episódios de violência são alguns exemplos que contribuem para a continuidade desta triste realidade. Infelizmente, o abandono e a consequente institucionalização destes desafortunados seres-humanos ocorrem, com maior frequência, em países pobres. A injusta distribuição de renda que leva milhões de pessoas a precárias condições de vida alimenta a má sorte destas crianças e adolescentes.
Não se deve esperar que a adoção de menores, feita por brasileiros ou estrangeiros, seja a solução para parte das mazelas sociais. Entretanto, não se deve negar que a implementação de regras e instrumentos que facilitem o processo do encontro de um menor com uma família acolhedora seja fundamental para a aplicação deste remédio subsidiário.
A adoção transnacional constitui-se em uma modalidade que é deixada, em nossa legislação, como última opção para as milhares de crianças e adolescentes que lotam abrigos em todo Brasil. O legislador brasileiro, ao se debruçar sobre o assunto, demonstrou toda sua preocupação com o destino que os menores aptos a serem adotados por estrangeiros possam ter. O entendimento dos aspectos jurídico e socioculturais que envolvem a adoção internacional é fundamental para confrontar o posicionamento do legislador e a repercussão relativa ao princípio do melhor interesse do menor. 
 Há que se destacar que os cuidados tomados nos processos de adoção nos quais o menor vai morar em um país diferente são importantes para preservar seu bem estar. Entretanto, deve-se cuidar para que a burocracia não acabe com as possibilidades de uma vida melhor para esses menores. Infelizmente, é sabido que o judiciário brasileiro sofre com problemas estruturais que torna lentos os processos de toda natureza. Nos casos de adoção não é diferente. 
	Além dos aspectos jurídicos que envolvem a adoção internacional, o arranjo sociocultural a que estamos submetidos tem impacto sobre o sucesso dos processos. Vivemos em um país onde a distribuição de renda é mal realizada e o preconceito racial é uma realidade. De fato, há casos de pessoas que não conseguem se habilitar para adoção por falta de estrutura financeira. Além disso, as restrições que diversos adotantes impõem chega a ser surpreendente. 
O presente trabalho tem como finalidade verificar a eficácia das leis vigentes no Brasil e que tratam de adoção internacional, além de contextualizar o arranjo sociocultural brasileiro e sua relação com o instituto da adoção. Temas como princípio da excepcionalidade da adoção internacional serão abordados a fim de trazer à baila discussões importantes que contribuam para o amadurecimento de toda a sociedade, cada vez mais crítica e engajada em nosso país.
 
METODOLOGIA DE PESQUISA
De início, cabe informar que a pesquisa realizada no presente trabalho é do tipo bibliográfica eis que foram utilizados livros, textos legais, materiais disponibilizados na internet e teses científicas. A pesquisa é de natureza aplicada, na medida em que se pretende gerar conhecimento para a aplicação prática dirigido a solução de problema específico. Pretendeu-se realizar a análise das leis que regulamentama adoção em nosso ordenamento jurídico, especialmente a lei 12010/09, a fim de se verificar sua eficácia quanto ao princípio do melhor interesse do menor. Além disso, pretendeu-se verificar o cumprimento do disposto na Convenção de Haia 1993 e, para tanto, o método fenomenológico foi aplicado. 
BUSCA E ANÁLISE DOS RESULTADOS
Após detida análise da legislação que rege a adoção internacional de menores brasileiros, em especial a lei 12010/09 e a Convenção de Haia, bem como pesquisa de estatísticas referentes ao quantitativo de menores adotados por pessoas residentes fora do Brasil, de acordo com o que foi estabelecido pela legislação pertinente, passamos a apresentar os resultados obtidos e analisá-los brevemente:
 – Possibilidade de adoção por pessoas residentes fora do Brasil somente após esgotadas todas as possibilidades de inserção em família substituta brasileira.
Neste item verificou-se que os menores aptos a adoção, abrigados em instituições em todo Brasil, são prejudicados pelas exigências contidas na legislação. Para cumprir as regras estabelecidas pela Convenção de Haia e pela lei 12010/09 é preciso, antes, estruturar a atuação dos atores envolvidos, proporcionando condições para que os trâmites dos processos de adoção sejam mais céleres. Isso evitaria a longa permanência de menores nos cadastros de adoção que, não raramente, são rejeitados pelos brasileiros e, só depois, ficam disponíveis para encontrar uma família estrangeira.
 – Dados estatísticos referentes às preferências dos interessados brasileiros e estrangeiros quando decidem adotar um menor. 
 Percebe-se que os candidatos brasileiros são muito mais exigentes que os estrangeiros no que se refere à cor da pele, idade, às condições de saúde dos adotandos e se o adotando tem irmãos. Esses dados guardam relação com as questões socioculturais observadas nos países.
	 – Dados estatísticos referentes à adoção internacional de menores brasileiros.
	A Secretaria Especial de Direitos Humanos, vinculada ao Ministério da Justiça e o Conselho Nacional de Justiça disponibilizam dados que mostram a queda vertiginosa do número de crianças adotadas por estrangeiros, após a promulgação da Lei 12010/99 e a promulgação da Convenção de Haia no país. 
	DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Os resultados obtidos na pesquisa que ora se apresenta permitem concluir que o ordenamento jurídico utilizado no Brasil, referente aos processos de adoção, carece de revisão e adequações. Na tentativa de resguardar os direitos dos menores inseridos no cadastro de adoção e impedir que eles sejam vítimas de crimes e tratados como mercadorias estabeleceram-se regras que dificultam sobremaneira o encontro de adotantes estrangeiros e adotandos brasileiros.
A Convenção de Haia de 1993 afetou o número de menores adotados por estrangeiros não só no Brasil. É possível verificar a diminuição de adoções envolvendo países que assinaram o acordo. Nos ricos que normalmente procuram crianças para adotar e nos pobres que fornecem menores para adoção. Cabe ressaltar que o objetivo do acordo discutido e ratificado pelos países signatários, qual seja, evitar o tráfico de menores e impedir situações de desrespeito à dignidade do ser humano, é louvável e até mesmo necessário de ser buscado. Infelizmente, as exigências contidas no documento demandam estruturas institucionais que não se encontra em países pobres.
Ainda sobre a Convenção de Haia, merece destaque a priorização da permanência dos menores nos países de origem, devendo os mesmos serem encaminhados para adoção internacional somente nos casos em que foram esgotadas todas as tentativas (artigo 4, alínea “b”). Ocorre que os pretendentes brasileiros dificilmente adotarão crianças com determinados perfis. Entretanto, os menores devem estar disponíveis para os exigentes brasileiros e, via de regra, são preteridos. Enquanto isso casais estrangeiros, que são bem mais flexíveis, devem esperar que os brasileiros “descartem” os menores para entrarem na fila. Isso causa prejuízos aos adotantes e, principalmente, aos adotandos. 
Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça, atualmente existem no Brasil cerca de 34 mil pretendentes à adoção e 5,6 mil crianças e adolescentes cadastrados e aptos a serem adotados. O principal problema para quem quer adotar uma criança ou um adolescente continua sendo a burocracia e a falta de estrutura nas varas da infância e da adolescência para atender as demandas. Somado a isso, as exigências dos pretendentes contribuem para a incoerência observada neste números. Os empecilhos colocados aos estrangeiros interessados em adotar, neste contexto, deveria ser revisto para o bem de todos os envolvidos. 
Outros dados apresentados pelo Conselho Nacional de Justiça mostram que 62% dos brasileiros querem meninas e 22% aceitaria somente crianças brancas. Ainda, apenas um em cada quatro pretendentes brasileiros (25,63%) admite adotar crianças com quatro anos ou mais, enquanto apenas 4,1% dos que estão no cadastro do CNJ à espera de uma família têm menos de 4 anos. Por isso, cada dia que uma criança passa no abrigo torna mais difícil sua chance de encontrar um novo lar. Outro número preocupante: existe menos de 1% de brasileiros interessados em adotar adolescentes (acima de 11 anos), que por sua vez respondem por dois terços do total de cadastrados pelo CNJ. Além disso, 17,51% dos brasileiros não se interessam em mais de uma criança ao mesmo tempo para adotar. Entretanto 76,87% possuem irmãos e que também estão à espera de uma família na listagem nacional. Como os Juízes dificilmente decidem pela separação de irmãos que foram destituídos das famílias biológicas, as chances de um menor nesta situação ser adotado por brasileiros é ínfima.
Em se tratando de interessados estrangeiros, 84% não consideram a cor da pele relevante, 92% são indiferentes ao sexo da crianças, 62% não se importam com o histórico médico dos menores e se a criança a ser adotada tiver um irmão, melhor ainda ( 64% dos pretendentes estrangeiros levarão os dois). Além disso, no quesito idade, quase todas as adoções por estrangeiros envolvem crianças com mais de seis anos de idade. Estes números demonstram as características socioculturais existentes no Brasil e em outros países que dificilmente serão alteradas. Apesar de ter havido alguns avanços, o Brasil ainda é um país racista e preconceituoso.
Sabemos que o tema é controverso, entretanto é preciso discutir se a priorização pela permanência dos adotandos no país de origem, em especial no Brasil, é, de fato, com vistas ao melhor interesse do menor. Não se trata de priorizar a ida destes menores para o exterior, mas de proporcionar ao estrangeiro que quer adotar e que demonstre estar apto para isto, condições iguais ao dos brasileiros. Talvez o envolvimento do menor em outra cultura, ao contrário do que sugere o legislador, seja uma oportunidade preciosa para quem tem a vida marcada por infortúnios.
Com relação à lei 12010/09, a intenção do legislador foi, dentre outras, a de adequar nossa legislação ao que fora estabelecido na Convenção de Haia de 1993. Referida lei trouxe nova redação ao ECA nos artigos referentes à adoção, buscando melhorias nos processos. Mudanças como a redução da idade mínima para estar apto a adotar, o direito de visita dos pais que perderam a guarda dos filhos e a obrigação, pelo estado, de proporcionar assistência psicológica às gestantes são avanços importantes. Outras, porém, não funcionam na prática. Como exemplo, podemos citar o tempo máximo de permanência de menores em abrigos que, segundo a lei, é de 02 anos. Entretanto, é comum a permanência de pessoas em abrigos por períodos muito superiores ao que deveria ser cumprido.
As dificuldades encontradas por pessoas estrangeiras interessadas em adotar crianças brasileiras é uma incoerência absurda. Infelizmente, a burocracia e a ineficácia dos atores envolvidos condenam várias crianças a viver sem uma família. Cabe aqui pontuar a exigência de os interessados estrangeiros passarem um período de convivência de, nomínimo, trinta dias com o adotando, no Brasil, conforme preconiza o artigo 46, § 4º da Lei 12010/09. É uma regra que pode ser entendida como necessária mas que poderia ser menos rígida. Exemplos como este contribuem para que o número de estrangeiros interessados em adotar crianças brasileiras venha caindo de maneira acentuada ao longo dos anos. Em 2009 foram 451 adoções, já em 2015 foram 115, segundo dados do CNJ. 
A situação dos milhares de menores abrigados país afora pode ser classificada como dramática. O sonho de ser acolhido por uma família, seja brasileira ou estrangeira, costuma não se realizar e o menor costuma ficar nos abrigos até completar a maioridade, quando são obrigadas a deixar a instituição e se virar por conta própria. Argumentando a favor de uma maior abertura aos postulantes estrangeiros interessados em adotar crianças brasileiras, Carlos Roberto Gonçalves afirma que se deve combater a xenofobia manifestada por alguns e regulamentar devidamente a adoção internacional. A boa intenção de residentes em outro país deve ser considerada e incentivada, com vistas a minimizar o sofrimento dos adotandos. (GONÇALVES, 2006).
Seguindo a mesma linha de raciocínio, Maria Helena Diniz defende que o crime de trafico de menores deve ser combatido com rigor. Entretanto, pondera que as regras criadas podem prejudicar as adoções, se mal utilizadas:
[...]Como a adoção internacional, em si mesma, não é um bem ou um mal, seria mais conveniente, então, que se estabelecessem medidas eficazes para punir corruptos e traficantes, em vez de criar exigências para sua efetivação, visto que o estrangeiro está mais preparado psicológica e economicamente para assumir uma adoção, não fazendo discriminações atinentes à raça, ao sexo, à idade ou até mesmo à doença ou defeito físico que o menor possa ter; ao passo que o brasileiro é mais seletivo, pois, em regra, procura, para adotar, recém nascido branco e sadio, surgindo, assim, em nosso país, problemas de rejeição social (DINIZ, 2004, p.16).
 Ante o exposto, percebe-se que as regras impostas pela legislação em vigor, referente à adoção internacional, apesar de terem sido criadas e outras modificadas com vistas a impedir que menores sejam tratados como mercadoria, apresenta seu lado extremamente negativo. Os números mostram que as adoções de menores brasileiros, por estrangeiros, vêm diminuindo drasticamente por conta, dentre outros motivos, da rigidez das regras e da ineficácia da Justiça. 
CONSIDERAÇÕES
Tendo em vista as constatações feitas, torna-se imprescindível nos conscientizarmos, cada vez mais, da importância de se buscar formas de promover o encontro dos milhares de menores abrigados nas diversas instituições existentes em nosso país com pessoas capazes de proporcionar-lhes os cuidados que merecem e precisam. A adoção internacional, como demonstrado ao longo do trabalho, apresenta-se como alternativa importante para a realização do sonho dos adotandos de encontrar carinho, respeito e a possibilidade de se tornar um cidadão de bem. Além disso, problemas sociais importantes começam a se resolver quando um menor encontra uma família. Infelizmente, as regras referentes a adoção de menores brasileiros por pessoas residentes fora do país carecem de melhorias. 
 De fato, apesar da boa intenção dos signatários da Convenção de Haia relativa ao tema bem como dos legisladores brasileiros quando elaboraram as leis que regem a adoção internacional, nota-se que as regras formuladas foram aprovadas com falhas e incoerências. O debate acerca do tema é fundamental para que sejam tomadas providências que objetivem o trâmite mais célere nos processos de adoção em nosso país.
REFERÊNCIAS
BRASIL, Lei 12010, de 03 de agosto de 2009. Dispõe sobre adoção; altera as Leis nos 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente, 8.560, de 29 de dezembro de 1992; revoga dispositivos da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil, e da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943; e dá outras providências. . Diário da República Federativa do Brasil, Poder Executivo. Brasília, DF.
BRASIL, Lei 3087, de 21 de junho de 1999. Promulga a Convenção Relativa à Proteção das Crianças e à Cooperação em Matéria de Adoção Internacional, concluída na Haia, em 29 de maio de 1993. Diário da República Federativa do Brasil, Poder Executivo. Brasília, DF.
GURGEL, Karina Machado Rocha. A realidade sobre a espera pela adoção. Disponível em: < http://www.tjdft.jus.br/cidadaos/infancia-e-juventude/textos-e-artigos/a-realidade-sobre-a-espera-pela-adocao-a-diferenca-entre-o-perfil-desejado-pelos-pais-adotantes-e-as-criancas-disponiveis-para-serem-adotadas> Acesso em 02 de maio de 2016.
Senado Federal. Realidade brasileira sobre adoção. Disponível em: < https://www.senado.gov.br/noticias/Jornal/emdiscussao/adocao/realidade-brasileira-sobre-adocao.aspx> Acesso em 20 de Maio de2016.
Senado Federal. Adoção Internacional no Brasil. Disponível em: < http://www.senado.gov.br/noticias/Jornal/emdiscussao/adocao/adocao-internacional/adocao-internacional-no-brasil.aspx> Acesso em 20 de Maio de 2016.
BBC BRASIL. Adoção por estrangeiros caem e tendem ao fim no Brasil. Disponível em: < http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2013/03/130324_adocoes_abre_rg> Acesso em 27 de Maio de 2016.
Missão Diplomática dos Estados Unidos Brasil. Adoção pela Convenção de Haia. Disponível em: < http://portuguese.brazil.usembassy.gov/pt/advantages.html> . Acesso em 20 de março de 2016.
PEREIRA, Robson. Cai o número de crianças adotadas por estrangeiros. Disponível em: < http://www.conjur.com.br/2011-mai-30/cai-numero-criancas-brasileiras-adotadas-estrangeiros2> Acesso em 02 de junho de 2016.
Senado Federal. História da adoção no mundo. Disponível em: < http://www.senado.gov.br/noticias/Jornal/emdiscussao/adocao/contexto-da-adocao-no-brasil/historia-da-adocao-no-mundo.aspx>. Acesso em 16 de março de 2016.
SOUSA, Walter Gomes de. A nova lei de adoção e seus efeitos. Disponível em: <http://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/artigos/2011/a-nova-lei-da-adocao-e-seus-efeitos-walter-gomes-de-sousa > Acesso em 17 de março de 2016.
SILVEIRA, Rachel Tiecher. Adoção internacional. Disponível em: < http://www3.pucrs.br/pucrs/files/uni/poa/direito/graduacao/tcc/tcc2/trabalhos2008_1/rachel_tiecher.pdf > Acesso em 18 de março de 2016.
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, V. 5. 19 ed. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 448-449.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, V. 6. 6 ed. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 353-354.
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