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Caso Clínico 01: L18: Miocárdio – normal, atrófico e hipertrófico Professora Alice Carol Esli Seixas da Silva RESUMO CLÍNICO: Paciente (A) com 54 anos, hipertensão de 18x10 há 10 anos e com tratamento irregular. Faleceu por hemorragia cerebral. Paciente (B) de 34 anos, falecido em consequência de traumatismo abdominal em acidente automobilístico. Paciente (C) de sexo masculino, com 93 anos, apresentou enterocolite e faleceu por distúrbios hidroeletrolíticos. Macroscopia: O coração do paciente (A) pesava 650 gramas (N=280-340g) apresentando miocárdio do V.E. com 2,8 cm de espessura e com áreas focais irregulares esbranquiçadas, e os músculos papilares eram proeminentes. O coração do paciente (B) pesava 300 gramas sem anormalidades. O coração do paciente (C) pesava 210 gramas, tinha as coronárias tortuosas e o miocárdio de cor marrom-havana, com espessura de 1,0 cm do miocárdio do V.E (espessura do VE normal=1,5cm). Microscopia: Os fragmentos de miocárdio na lâmina mostram: O fragmento maior é do coração hipertrófico do paciente (A). O do meio é normal e o menor fragmento é do coração do paciente (C). A diferença fundamental entre o miocárdio normal e o hipertrófico é o aumento do diâmetro das fibras, dispostas de forma irregular, com leve fibrose instersticial. Os núcleos de muitas fibras são maiores, irregulares, às vezes em forma de chifre de veado. Ao contrário, o miocárdio atrófico tem o diâmetro menor das fibras e de modo geral apresenta um pigmento acastanhado em torno do núcleo. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Paciente (A): Hipertensão Sistêmica; Cardiopatia isquêmica; Cardiomiopatia dilatada; Estenose aórtica; Doença das valvar: valvas estenóticas ou regurgitantes; Fibrose Miocárdica; Doença de Chagas; Doença genética que leva à hipertrofia cardíaca. Paciente (C): Aterosclerose coronariana; Embolia coronariana; Compressão dos vasos coronarianos por um tumor; Neuropatia diabética; Enterocolite - má nutrição. FAIXA ETÁRIA PREDISPONENTE PARA A OCORRÊNCIA DA DOENÇA Paciente (A): prevalência da hipertensão em indivíduos acima dos 60 anos. [2] Paciente (C): a aterosclerose é prevalente em pacientes com 65 anos ou mais. [3] PREDISPOSIÇÃO QUANTO AO SEXO DO INDIVÍDUO Paciente (A): mulheres são mais atingidas pela hipertensão do que homens (26,9% contra 21,3%). [2] Paciente (C): a aterosclerose é predominante em homens. [3] CAUSA MAIS PROVÁVEL QUE LEVOU O INDIVÍDUO A DESENVOLVER A PATOLOGIA EM QUESTÃO Paciente (A): O histórico de hipertensão arterial sistêmica provavelmente levou ao aumento da pressão de trabalho no ventrículo esquerdo e, consequentemente, esse sofreu hipertrofia compensatória. Com o passar do tempo, a hipertrofia excessiva prejudicou a irrigação do próprio miocárdio e diminuiu a capacidade de sangue que o VE podia receber, prejudicando o enchimento diastólico e favorecendo a isquemia de outros tecidos. Paciente (C): A idade avançada provavelmente está relacionada com ao declínio do metabolismo cardíaco ou à incidência de aterosclerose, levando à isquemia cardíaca (atrofia miocárdica). Também, o quadro de enterocolite pode ter levado a uma deficiência no suprimento nutricional para o coração e o restante do corpo, provocando os distúrbios hidroeletrolíticos e a atrofia do miocárdio. SINTOMAS CLÍNICOS APRESENTADOS PELO INDIVÍDUO E CORRELAÇÃO COM OS PROCESSOS PATOLÓGICOS Paciente (A): Sintomas relacionados à hipertensão – dores no peito, tontura, fadiga, desmaio, arritmias. Por conta da hipertensão, ocorre a hipertrofia do ventrículo esquerdo acompanhada de fibrose intersticial. Em consequência disso, ocorre uma diminuição do volume e da contratilidade ventricular, reduzindo o volume de sangue ejetado e comprometendo a circulação sistêmica. Paciente (C): Sintomas de obstrução dos vasos cardíacos – angina, hipóxia, tontura, desmaio, fraqueza. A atrofia do ventrículo esquerdo é resultado da diminuição do metabolismo e hipoperfusão causados pelo envelhecimento celular e aterosclerose decorrentes da idade avançada do paciente. CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS MICROSCÓPICAS E MACROSCÓPICAS DO TECIDO AFETADO Paciente (A) – hipertrofia: Microscopicamente, os miócitos hipertróficos apresentam os núcleos aumentados e os novos sarcômeros estão predominantemente depositados em paralelo aos eixos longos das células. A hipertrofia também é frequentemente acompanhada de deposição de tecido fibroso (fibrose intersticial). Figura 1 - https://slideplayer.com.br/slide/13336729/ Macroscopicamente, comparado ao coração normal, apresenta massa aumentada e espessamento da parede do ventrículo esquerdo. Além disso, também apresenta áreas esbranquiçadas por conta da dificuldade de irrigação da região hipertrofiada. Figura 2 - http://lamoreabio2.blogspot.com/2014/04/consequencias-da-hipertensao.html Paciente (C) – atrofia: Microscopicamente, os miócitos atrofiados são menores, com núcleos menores e apresentam acúmulo do pigmento lipofuscina (que está presente em células que não se multiplicam muito e têm vida longa, sendo um marcador do tempo de vida celular) acastanhado ao redor do núcleo. Figura 3 - http://www.fmv.ulisboa.pt/atlas/cardiovascular/paginas_pt/cardio_025.htm Macroscopicamente, apresenta diminuição do diâmetro do miocárdio, cor acastanhada devido ao acúmulo do pigmento lipofuscina e tortuosidade das coronárias devido à diminuição do tamanho do coração. Figura 4 - https://docplayer.com.br/23253333-Patologia-geral-imagens-para-aula-pratica.html MECANISMO DE COMO O PROCESSO PATOLÓGICO FOI FORMADO Paciente (A): A hipertrofia do miocárdio esquerdo, resultado da sobrecarga de trabalho causada pela hipertensão arterial sistêmica, requer o aumento da síntese proteica. Em resposta a essa pressão de trabalho, ocorre o aumento da atividade dos miócitos, que passam a produzir mais miofilamentos, mitocôndrias e até mesmo tecido fibroso. Assim, a espessura da parede do ventrículo esquerdo aumenta, enquanto sua luz diminui. Como não há significativo aumento da quantidade de capilares no miocárdio hipertrófico, ocorre comprometimento do suprimento sanguíneo na região afetada, o que justifica as áreas esbranquiçadas (isquêmicas) no ventrículo esquerdo. Paciente (C): A atrofia se dá pela diminuição da síntese proteica e aumento da degradação proteica nas células. Em idosos, a diminuição do fluxo sanguíneo (isquemia), ocasionada, provavelmente, por aterosclerose, leva à diminuição do suprimento de oxigênio e nutrientes. Em consequência da isquemia, os miócitos vão perdendo seus componentes citoplasmáticos – mitocôndrias, ribossomos, miofilamentos, retículo endoplasmático – por meio da degradação proteica, feita pelos vacúolos autofágicos. A digestão incompleta dos restos celulares leva a formação e acúmulo do pigmento lipofuscina, resultando numa coloração acastanhada do miocárdio. Referências: 1. ROBINS & CONTRAN. Patologia – Bases Patológicas das Doenças. 9ª Edição. Rio de Janeiro: Editora Elsevier, 2016. 2. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL), 2017. 3. MOTA, LILIANA DO AMPARO SOUSA. Doença carotídea aterosclerótica: revisão casuística de 2002 a 2007 prevalência e associação com factores de risco vascular, 2011.