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AULA 1 ANÁLISE DE CRÉDITO E RISCOS Prof. Pedro Salanek Filho 2 CONVERSA INICIAL O objetivo principal desta nossa primeira aula é, basicamente, apresentar o conceito de crédito na gestão financeira dos negócios. Para que esse objetivo seja atingindo, além do conceito, será fundamental correlacionarmos o fator crédito com as atividades produtivas de um negócio; com as instituições financeiras; e com as principais modalidades/mecanismos de crédito. O crédito possui um papel fundamental nas relações financeiras entre os negócios e é direcionado para estimular a compra e a venda de produtos e serviços a prazo. Dessa forma, quando a movimentação financeira (pagamento) não ocorre apenas no momento da compra e da venda, ou seja, na famosa, mas também cada vez mais rara, “compra à vista”, começa a ser estabelecida uma relação de confiança para pagamentos posteriores. Nesse momento, as políticas de concessão de crédito começam a ser estabelecidas. A utilização do crédito também permite a uma empresa ampliar o volume produzido, expandir as estruturas e, principalmente, atender demandas de mercado. Esse processo de expansão envolve um planejamento financeiro, que começa na programação orçamentária, passa pelo fluxo de caixa no controle de prazo e é finalizado nas avaliações de resultados, geralmente por meio das peças contábeis. De forma geral, podemos afirmar que o crédito cumpre com um fundamental papel na gestão financeira no momento da gestão do fluxo de caixa dos negócios por meio de negociações junto aos seus fornecedores e clientes, bem como nas suas relações de investimentos e captação de recursos junto ao sistema financeiro. CONTEXTUALIZANDO Para iniciar essa contextualização, é importante uma reflexão na conexão direta que existe entre o “acesso ao crédito” e o “grau de endividamento”. Reflita alguns instantes sobre essa questão antes de continuar a leitura. Geralmente, quando uma operação de crédito começa a ser aplicada, a parte que está tomando o crédito gera diretamente um compromisso (obrigação de pagamento) com a parte que concedeu os recursos, ou seja, um endividamento está sendo constituído. Vale lembrar que, além do recurso financeiro (setor 3 financeiro), existem outros tipos de recursos, como matéria-prima e mão de obra, que também estão sujeitos a concessão de crédito (junto aos fornecedores). Na relação comercial descrita acima, o tomador do recurso vai gerar uma capacidade de liquidação futura para esse crédito, criando, inclusive, uma expectativa para o lado (que concedeu o referido recurso) receber por ele. Durante o período pactuado entre as duas partes, o tomador geralmente vai trabalhar com esse recurso para também conseguir gerar resultados (lucros) para honrar os seus compromissos. À medida que essas concessões vão sendo realizadas e as liquidações, sendo efetivadas, vai se criando um “processo cíclico” entre as duas partes, permitindo uma evolução no grau de confiança entre elas. O interessante desse processo todo (e ao mesmo tempo complicado) é que vai se desencadeando uma série de concessões de crédito ao longo de uma atividade, evolvendo, muitas vezes, várias empresas até chegar ao consumidor final. Todas as partes envolvidas dependem sempre de gerar liquidez e capacidade de pagamento para conseguir cumprir com as condições estabelecidas na concessão de crédito. Quando uma dessas partes não honra com os seus compromissos, vai, diretamente, influenciar na capacidade da outra parte de honrar com os seus pagamentos, podendo, assim, impactar significativamente uma cadeia produtiva e de consumo, gerando uma inadimplência sistêmica. Salienta-se que, muitas vezes, a dificuldades de liquidez concentra-se no consumidor final, influenciando de forma inversa toda a liquidez da cadeia produtiva. Podemos deduzir, diante do exposto no parágrafo anterior, que a expansão dos mercados, o planejamento estratégico e as definições orçamentárias dos negócios passam, obrigatoriamente, pela avaliação do volume de crédito a ser contratado e, também, pelo volume de crédito a ser concedido. O crédito é uma importante ferramenta que possibilita o crescimento organizacional. Ao mesmo tempo que o crédito pode promover o desenvolvimento de um negócio, por outro lado coloca-o em risco devido ao volume de crédito envolvido. Apesar de esta primeira aula ter por finalidade conceituar o crédito e a relação entre as partes envolvidas, é praticamente impossível não relatar os problemas diretos que geralmente ocorrem quando condições pactuadas não são cumpridas. 4 Diante disso, qual é a sua opinião para uma empresa realizar o seu planejamento financeiro e, ao mesmo tempo, gerenciar (em dosagem adequada) a captação e a concessão de crédito para o seu negócio? Saiba mais Assista ao vídeo Entenda o que é crédito em dois minutos para conhecer mais sobre o assunto. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=uRRUSl0d5N0>. Acesso em: 20 jun. 2018. TEMA 1 – CONCEITO E FINALIDADE DO CRÉDITO De forma geral, podemos conceituar o termo crédito como uma movimentação comercial na qual o cliente recebe um bem, produto ou serviço e efetuará os pagamentos no futuro, geralmente de forma parcelada. Para Rodrigues (2012, p. 22), “é uma ferramenta pela qual as empresas alicerçam suas vendas, a partir do instante em que tenham confiança na liquidação da dívida assumida pelos clientes”. Nessa mesma linha, Arai (2015, p. 59) considera o conceito de crédito “quando alguém se dispõe a fornecer algo, que pode ser um bem ou um valor em dinheiro, para outra pessoa, que se compromete a pagar determinada quantia no tempo combinado entre ambas as partes”. No momento em que o crédito é concedido, é como se a parte que o concede efetuasse uma “transferência de propriedade” de um determinado bem ou recurso. Durante o período de contratação, o tomador deverá efetuar os respectivos pagamentos para consolidar a propriedade de respectivo recurso. Nas condições pactuadas, geralmente formalizadas em contrato, estão destacadas as condições gerais e a determinação de juros e multas. Os juros podem ser definidos como o aluguel do dinheiro, fato muito comum na relação entre empresas e entidades financeiras. Já a multa é aplicada quando uma condição expressa no contrato não é cumprida, como o não pagamento na data correspondente, ou seja, um atraso. Para Rodrigues (2012, p. 24), “é o preço que o cliente terá que pagar pelo benefício de comprar produtos e serviços a prazo. Este preço será maior quanto pior for a avaliação de crédito (riscos) desse cliente”. Na linha de abordagem da finalidade do crédito para as empresas comerciais, a autora Tavares (2014, p. 7) traz as seguintes considerações: 5 As operações de crédito estão presentes no cotidiano das pessoas e das organizações. Empresas não financeiras, por exemplo, têm como um dos seus principais focos a decisão de crédito, seja porque são tomadoras de empréstimos ou financiamentos, seja porque deve financiar suas vendas e estabelecer limites para recebimentos a prazo de seus clientes. O crédito é fundamental para o desenvolvimento da atividade operacional do negócio. A relação que existe na negociação com fornecedores demonstra claramente a necessidade do crédito. Para que a empresa possa ter tempo para produzir e/ou movimentar seus produtos, é necessário negociar prazos de pagamentos junto aos fornecedores. Por outro lado, um efeito semelhante acontece na negociação com os clientes, ou seja, para que as empresas consigam atingir seus volumes de vendas, é fundamental que sejam realizadas, também, vendas a prazo (com crédito), o que torna possível aumentar o faturamento e atingir suas metas. TEMA 2 – AS POLÍTICAS DE CRÉDITO PARA O AUMENTO DO CONSUMO Destacaremos, agora, a importância do crédito para os fatores econômicos. A suadisponibilização provoca ampliação ou retração de consumo, principalmente em situações que envolvem o macroambiente econômico, gerando impactos positivos ou negativos consideráveis. Dentro dessa linha de raciocínio, Arai (2015, p. 60) destaca que “a relevância do crédito para a sociedade é grande, pois ele facilita e estimula o consumo, valorizando a moeda”. Em se tratando de Brasil, o Governo, principalmente o federal, procura adequar as políticas econômicas para estimular o consumo e gerar crescimento e desenvolvimento. Quando existe expectativa de aumento do consumo, trabalha- se também para aumentar os investimentos no setor produtivo, fato esse que denota necessidade de crédito, até para que essa demanda de consumo seja atendida. As empresas, investindo em suas estruturas, possivelmente vão gerar mais empregos e, consequentemente, maior renda para pessoas/funcionários, que também passam a consumir mais, o que acaba gerando crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), o principal indicador de evolução econômica. Todo esse processo gera um ciclo econômico com expectativas de crescimento contínuo. É oportuno sempre considerar que não é possível efetuar todo o volume de investimentos ou mesmo de consumo com disponibilidade financeira (poupança). É necessário que linhas de crédito sejam disponibilizadas. 6 Dessa forma, os investimentos e o consumo andam de “mãos dadas” com as linhas de crédito disponibilizadas. Investimentos somente serão realizados se as linhas de crédito, nas peculiaridades de prazo e juros, forem atrativas. Caso isso não ocorra, as empresas freiam seus investimentos e aguardam momentos de retomadas em que a viabilidade seja confirmada. Os pontos mencionados dizem muito respeito aos investimentos para as empresas, porém, se pensarmos como pessoas físicas, não existem muitas diferenças. No consumo para a pessoa física, as condições de empréstimos e financiamentos seguem a mesma lógica na questão de prazos e juros. O que gera maior preocupação no mercado doméstico do crédito é que, na maioria das vezes, as pessoas não realizam as devidas análises do compromisso financeiro que estão assumindo. Além disso, é necessário possuir capacidade de pagamento com geração de renda de outra fonte, visto que boa parte dos bens adquiridos pelas pessoas não geram renda diretamente, pois são bens de consumo. Estamos percebendo que o acesso ao crédito fomenta e movimenta a economia de um país. Quando as políticas governamentais desejam aquecer a economia, geralmente ocorrem alterações em taxas de juros, em benefícios para determinado segmento e provavelmente na facilidade para acessar os mecanismos de crédito. No Brasil, ainda vale uma menção da taxa SELIC (taxa de referência para o sistema financeiro), que é um dos fatores governamentais que influenciam na liberação (ou na contenção) do crédito no país. Essa taxa, em patamares mais baixos, estimula o uso do crédito e promove maior consumo; por outro lado, uma taxa mais alta dificulta o acesso ao crédito e, consequentemente, o aumento do consumo. Temos, ainda, que considerar o crédito na amplitude social. Apesar de seu vínculo ser diretamente econômico, o acesso a crédito também contribui indiretamente para fatores sociais. As entidades financeiras procuram trabalhar o conceito de “crédito certo” para evitar abusos e desequilíbrios financeiros nas pessoas e nas empresas, os quais podem levar a condições insustentáveis de capacidade de pagamento. Nesta linha, o alto custo financeiro de contratação de crédito, principalmente no Brasil, levará a dívida a um patamar de “impagável”. Entidades locais que fomentam a liberação do crédito com o desenvolvimento de uma atividade produtiva trabalham também o fator social de algumas comunidades. No Brasil, as cooperativas de crédito possuem um papel fundamental nesse processo, pois nelas a liberação do crédito possui uma relação 7 de desenvolvimento da localidade. Os resultados gerados por aquele grupo de participantes da cooperativa (cooperados) será distribuído nessa mesma localidade. Esse modelo cooperativista tem uma forte identidade local e está conectado ao desenvolvimento sustentável da comunidade. Diferentemente dos bancos privados, nos quais o resultado gerado na localidade é distribuído para os acionistas, no modelo cooperativista, a distribuição dos resultados é mais democrática. O modelo cooperativista trabalha a distribuição da renda gerada, enquanto o modelo bancário trabalha na concentração da renda gerada. Outra entidade que também atua para o desenvolvimento local, porém dentro da esfera pública, é o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Essa entidade promove o desenvolvimento principalmente com linhas de crédito mais acessíveis, visando estimular a produção de bens e serviços de origem nacional. Para finalizar, vale uma reflexão na combinação da esfera social com os interesses políticos quando o assunto é consumo e acesso ao uso do crédito. Pode-se perceber a relevância da combinação estratégica e governamental do consumo com outros interesses sociais. Para Cortez (2009 p. 35), “o consumo está presente nas diversas esferas da vida social, econômica, cultural e política. Nesse processo, os serviços públicos, as relações sociais, a natureza, o tempo e o próprio corpo humano transformam-se em mercadorias”. Fonseca e Haines (2012, p 1054) descrevem os riscos e os impactos das políticas públicas combinadas entre a economia e o consumo: A política econômica, em um primeiro momento, centra-se na expansão da demanda agregada, geralmente alavancada pelo consumo. O ‘ciclo populista’ configura-se porque, como resultado da ‘vontade política’, em um primeiro momento, a economia cresce, gerando até uma euforia, mas em certo tempo começam a aparecer os gargalos. Via de regra, o desfecho é desastroso com uma fase final de recessão, desemprego, inflação e crise. Nesta linha, começamos observando que políticas governamentais de ideologias mais concentradas no cunho social tenderão a fomentar o acesso ao crédito para gerar, efetivamente, maior consumo à população, aquecendo a economia pelo consumo; incentivando a população a gastar mais; e mantendo altos índices de aprovação popular pela adoção desse modelo governamental. Esse modelo é ótimo para resultados de curto prazo, mas não é sustentável em longos períodos. Parece tudo muito positivo pelo lado social, porém poderá levar a impactos econômicos catastróficos em período de desemprego, retração 8 econômica, aumento da inflação e descontrole nas contas públicas, fatores potencializados com uma corrupção alastrada nos diversos setores públicos e nas empresas estatais, nos fornecedores de empresas privadas do Governo por meio de licitações ou contratações públicas. Essa conexão entre interesses políticos e consumo, com facilitação do uso do crédito, gera uma tendência muito forte em direcionar a economia toda do país para o consumo, passando uma impressão falsa de desenvolvimento sustentável. TEMA 3 – O CRÉDITO E AS EMPRESAS Nesta etapa da nossa aula, voltaremos a debater a importância do crédito para o desenvolvimento financeiro dos negócios. Dentro da dinâmica financeira que os negócios vivem atualmente, seria praticamente impossível a sobrevivência e o desenvolvimento da empresa sem o acesso ao crédito para efetuar as compras dos produtos/serviços, bem como oferecer crédito aos clientes para efetuar a venda para, futuramente, obter o recebimento do valor no fluxo de caixa. Todo esse processo de acesso, liberação e crédito deve ser bem planejado, e é necessário estabelecer uma política de crédito para o negócio, visando um planejamento financeiro adequado à realidade da empresa. A política de crédito contempla um conjunto de regras e critérios de avaliação de cadastro para liberação dos fatoresrelacionados ao crédito. Cada empresa deve estabelecer limites/medidas de crédito para os clientes que desejam efetuar suas compras a prazo. Já foi destacado anteriormente que quando uma empresa visa a expansão de mercado, terá como um dos fatores estratégicos para isso o crescimento das vendas. Nesse processo de crescimento das vendas, ampliando o faturamento da empresa, geralmente ocorre uma parcela (normalmente significativa) de vendas a prazo. O aumento das vendas sem um critério adequado para avaliar cadastro, perfil e capacidade do cliente pode gerar um índice de inadimplência alto, o que pode comprometer a liquidez da empresa que efetuou a venda. Uma das formas de minimizar esse impacto é a busca de mecanismo de limites de crédito e implantação de um sistema que estabeleça garantias para a venda. Vale ressaltar que as informações de cadastro, a verificação de perfil e a capacidade de pagamento variam de negócio para negócio. Todas essas situações dizem mais 9 respeito aos créditos entre empresas (fornecedores) e seus respectivos clientes (em muitos casos, pessoas físicas). Esse exemplo também contempla a questão do endividamento ou da alavancagem operacional, quando o acesso a crédito não teve como fonte de recurso o dinheiro, mas sim um produto ou mesmo um serviço. Devido a nossa disciplina focar a questão da gestão de crédito e riscos na amplitude empresarial, não aprofundaremos demasiadamente as questões relacionadas a pessoa física. Trataremos algo nesse sentido apenas sobre a relação da pessoa física como cliente da empresa, não ela na relação com o sistema financeiro. Seguindo na linha do acesso ao recurso financeiro, vamos falar agora do endividamento junto às entidades financeiras com a caracterização do endividamento financeiro, também chamado de alavancagem financeira. O universo de acesso a crédito financeiro vale para todo tamanho de empresa, desde a MEI (microempresário individual) até os grandes conglomerados de empresas, geralmente na constituição jurídica de S/A (sociedade anônima). Os volumes e as modalidades dessas empresas obviamente serão diferentes. Negócios menores terão linhas de crédito mais restritas e de baixo volume financeiro, até pela restrição de garantias que o negócio possui. Geralmente esses pequenos negócios, aos critérios das entidades financeiras, possuem maiores riscos para volumes maiores de recursos, pois possuem baixa capacidade de gestão financeira, com pouco uso de ferramentas como planejamento financeiro, orçamento, fluxo de caixa e elaboração de balanço. Os grandes negócios possuem uma solidez maior no seu processo de gestão. Geralmente estas empresas são bem assessoradas por colaboradores capacitados ou mesmo consultores que desenvolvem estudos de mercado para expansão do negócio. Quando essas empresas vão até as instituições financeiras, conseguem comprovar a capacidade de pagamento com os planos de viabilidade e as análises de investimentos. TEMA 4 – O CRÉDITO E AS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS A conexão entre crédito e instituições financeiras também é muito forte. Apesar de ocorrer concessão de crédito entre empresas comerciais (conforme mencionado no tema anterior) para a compra e a venda de produtos e serviços e entre elas e o consumidor final, o envolvimento do setor financeiro é mais significativo quando envolve a liberação de recursos financeiros. 10 Para Rodrigues (2012, p.36), “podemos dizer que o papel do sistema financeiro é captar recursos daqueles que conseguem poupar e destiná-los para aqueles que não conseguem poupar ou que buscam recursos adicionais para suas atividades e/ou negócios”. Essas entidades passam a financiar as necessidades de consumo e de investimento no curto e no longo prazo. Portanto, o acesso ao crédito passa muito pelas instituições financeiras, e esse segmento precisa captar recursos e ofertar em concessão de crédito. Tais entidades realizam isso diretamente com os poupadores e com os captadores – pagam rendimentos aos poupadores que aplicaram recursos e cobraram juros daqueles que emprestarem junto às suas agências. Vale ainda destacar que, conforme determinação do BACEN (Banco Central do Brasil), uma parte dos valores captados deve ser direcionado para crédito imobiliário e crédito rural. Nessa mesma linha, Tavares (2014, p. 88) ainda complementa essas questões de poupadores e de tomadores com o fator spread bancário: As instituições financeiras captam recursos de entidades superavitárias, aplicadoras, e os transferem às empresas e às pessoas que necessitam desses recursos. A diferença entre a taxa de juro paga na captação dos recursos e a taxa cobrada nos empréstimos e financiamentos constitui o spread bancário. Ao emprestar recursos, a instituição financeira assume o risco de crédito, um dos principais riscos dos bancos. A movimentação entre tomadores e poupadores diz respeito a intermediação bancária. Os aplicadores são incentivados a direcionar seus recursos para produtos de investimentos, entre eles CDB, CDI, poupança, fundos de investimentos, enquanto aos tomadores são oferecidos empréstimos e financiamentos, por exemplo o cheque especial, o crédito direto ao consumidor (CDC), o desconto de recebíveis, entre outros. No Brasil, o crédito é concentrado em grandes bancos, tanto públicos como privados. Esse fato leva a uma condição de taxa de captação muito alta em relação a outros países. As maiores taxas são colocadas pelo sistema financeiro justificadas com os maiores riscos dos tomadores. No processo de análise para a concessão do crédito, cada tomador recebe uma classificação de risco, que envolve fatores relacionados ao seu cadastro, ao grau de endividamento junto a outras instituições (com prazos e modalidades). Essa classificação de risco ainda pode aumentar se o tomador ficar inadimplente com o seu empréstimo. Esses pontos começar a compor o grau de risco de crédito das instituições financeiras com o mercado. 11 O risco de crédito também pode ser entendido como a possibilidade de o credor incorrer em perdas, em razão de as obrigações assumidas pelo tomador não serem liquidadas nas condições pactuadas. Todas as operações de crédito estão de alguma forma expostas ao risco, cabendo à instituição a realização de uma eficiente gestão com intuito de “mitiga-lo”, adequando as exposições aos níveis aceitáveis pela administração. Para realização dessa gestão, devem ser controlados os seguintes fatores: Tamanho da exposição; Prazo da exposição; Probabilidade de inadimplência; Concentração em relação a um dado fator ou segmento. O risco de crédito também é visto como a perda potencial que pode ocorrer devido a mudanças na qualidade de crédito ou até mesmo falta de pagamento de um emissor. O risco de crédito é, sem dúvida, um dos mais importantes em qualquer tipo de instituição financeira (Vier, 2009). As instituições financeiras exercem papel fundamental no mercado e são responsáveis pela intermediação financeira. Elas captam recursos dos poupadores por uma taxa, denominada de taxa de captação, e emprestam esses recursos para aqueles que deles necessitam mediante a cobrança de juros. Nesse processo de financiamento de seus clientes (bancos) ou associados (cooperativas de crédito), as instituições estão sujeitas ao risco de crédito (Vier, 2009). Além do mercado de crédito no sistema financeiro, objeto de discussão neste tema, as entidades financeiras ainda atuam com outros produtos e serviços, como o mercado de capitais e o mercado cambial. Devido ao módulo ser específico para a questão “crédito”, não serão apresentados esses outros segmentos. TEMA 5 – AS MODALIDADES DE CONCESSÃO DE CRÉDITO Neste desfecho da nossa primeira aula, são abordados os principais produtos e serviços oferecidos pelo mercado financeiro. Serão apenas citados os tipos de serviçosoferecidos para pessoa física (para exemplificar) e nos aprofundaremos nos serviços oferecidos para as pessoas jurídicas. 12 Alguns serviços bancários são comuns tanto para pessoas físicas como jurídicas, como o cheque, o cartão de débito e as transferências bancárias por meio de DOC ou TED. Já na amplitude da pessoa física, alguns serviços são bem específicos, como os limites disponibilizados no rotativo (cheque especial e cartão de crédito); crédito consignado; crédito pessoal; crédito direto ao consumidor (CDC); crédito imobiliário; crédito para aquisição de veículos. Estes exemplos são os serviços mais comuns oferecidos para as pessoas físicas. Encontramos ainda algumas outras modalidades, como o crédito rural e o crédito educativo, que já são consideradas linhas mais específicas. Na linha do crédito para pessoas jurídicas, geralmente existe uma relação entre a liberação do crédito e a finalidade dentro da empresa. Essa conexão contribui de forma positiva tanto para a liberação do crédito como para as questões de taxas e prazos. As empresas buscam recursos financeiros juntos aos bancos geralmente para atender suas necessidades relacionadas ao fluxo de caixa (capital de giro), ou seja, no curto prazo, além dos recursos para investimentos (ativos imobilizados), ou seja, uso de longo prazo. A autora Tavares (2014, p. 145) traz reflexões sobre a questão de recursos de curto prazo para as pessoas jurídicas, na amplitude de fluxo de caixa e capital de giro: Os empréstimos para equilíbrio de fluxo de caixa são operações realizadas pelas instituições bancárias, que destinam á cobertura do fluxo de caixa das empresas em caso de descasamento gerado por despesas inesperadas ou receitas não realizadas. Em relação a outras linhas de financiamento, esses produtos de crédito têm alto custo financeiro e não devem ser utilizados por períodos muito longos. (...) Empréstimos para capital de giro são operações bancárias que se destinam ao financiamento do ciclo operacional das empresas, o que compreende a compra da matéria-prima, a estocagem, o processamento e a comercialização. Ou seja, são operações para o financiamento das necessidades da atividade, principalmente para manutenção dos estoques e financiamento a clientes. As operações financeiras para acesso ao crédito relacionadas a gestão do ciclo operacional do negócio são uma das mais comuns entre empresas e entidades financeiras, denominadas, inclusive, de operações para capital de giro. Geralmente, a necessidade de recursos ocorre pelo desequilíbrio entre prazos. A empresa precisa de recursos para financiar o tempo entre o processo de produção/estocagem e o período de recebimento (prazo negociado após a venda). Se a empresa conseguisse efetuar todos os seus pagamentos após o 13 recebimento da venda, não seria necessária a busca por recursos junto ao sistema financeiro. Os prazos entre o momento que o dinheiro sai do caixa da empresa e o momento que o dinheiro entra caracterizam-se como um ciclo (chamado de financeiro), que deverá ser financiado. Se a empresa possuir recursos disponíveis no caixa, podemos afirmar que ela tem capital de giro; se ela tiver que recorrer ao banco, estará buscando o capital de giro fora e, assim, financiando a sua atividade. Agora, abordaremos as questões relacionadas às operações de crédito que envolvem a movimentação de investimentos, os quais são operações financeiras atreladas a bens de produção, ou seja, algum tipo de relação com a estrutura do negócio. Diferentemente dos empréstimos, que não deixam os bens atrelados, os investimentos possuem um bem diretamente ligado, inclusive a expectativa de pagamento deste financiamento está relacionada a geração líquida de resultados gerada pelo próprio bem. Desde o momento em que o bem começar a gerar caixa para a empresa após o pagamento dos demais gastos (geralmente custos de produção), podemos afirmar que o investimento já possui maturidade para honrar o financiamento que o gerou. Vale ressaltar que essas operações possuem um prazo de carência, visto que estão ligadas ao longo prazo. Existem outras denominações para os empréstimos e financiamentos para as operações com as empresas. No curto prazo, ainda encontramos: Hot money: operação de curtíssimo prazo, geralmente abaixo de 30 dias, que tem relação com a atividade operacional do negócio; Conta garantida: recurso disponível de curto prazo que é geralmente vinculado à conta-corrente da empresa e funciona como um crédito rotativo; Desconto de recebíveis: modalidade em que a empresa apresenta o volume de valores a receber para garantir o empréstimo. Funciona como uma espécie de antecipação das vendas; Vendor: operação em que o recebimento fica diretamente ligado à empresa cliente com o banco. A empresa cedente faz a venda e contrata esta modalidade (e recebe o dinheiro do banco); a empresa compradora efetua o pagamento diretamente no banco na data do vencimento. Existem outras operações de crédito de curto prazo, porém com condições mais específicas, como as operações de câmbio e as operações com mercado internacional. 14 Nas operações de investimentos, encontramos linhas de longo prazo que envolvem instituições como o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Uma das linhas mais conhecidas é o FINAME, que é um financiamento direcionado para a produção de máquinas e equipamentos de origem nacional. Saiba mais Acesse na nossa plataforma digital o livro Operações de crédito: produtos e serviços bancários, de Rosana Tavares, e pesquise entre as páginas 190 e 208 as diversas modalidades de financiamentos do BNDES. FINALIZANDO Nesta primeira aula, o objetivo foi apresentar os primeiros tópicos relacionados a gestão do crédito e seus riscos. A preocupação que o empresário deve ter em captar e conceder crédito tem relação direta com um bom planejamento financeiro, permitindo que a empresa cresça de maneira sustentável. Destacamos, também, a relação do crédito com o mercado consumidor da empresa (clientes) e a relação com o sistema financeiro, na tomada de recursos para empréstimos e financiamentos. Foi analisado, ainda, o “fator crédito” na amplitude da macroeconomia, no desenvolvimento social e nas suas relações com as políticas governamentais direcionadas (principalmente) para aquecer a economia e estimular o crescimento do PIB. Na parte final da aula, apresentamos as principais modalidades de crédito que as empresas acessam junto ao sistema financeiro, basicamente para atividades de curto prazo (capital de giro) ou de financiamentos para a estrutura e imobilização de ativos. LEITURA OBRIGATÓRIA Texto de abordagem teórica RODRIGUES, C. M. Análise de crédito e risco. Curitiba: InterSaberes, 2012. Leitura dos capítulos 1 e 2. 15 TAVARES, R. Operações de crédito: produtos e serviços bancários. Curitiba: InterSaberes, 2014. Leitura dos capítulos 4 e 5. Texto de abordagem prática Sobre gestão de capital de giro, consulte a obra a seguir. ZOUAIN, D. M. et al. Gestão de capital de giro: contribuição para as micro e pequenas empresas no Brasil. Rev. Adm. Pública, Rio de Janeiro, v. 45, n. 3, p. 863-884, jun. 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034- 76122011000300013&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 20 jun. 2018. 16 REFERÊNCIAS ARAI, C. Análise de crédito e risco. São Paulo: Pearson, 2015. CORTEZ, A. T. C., ORTIGOZA, S. A. G. (Org.). Da produção ao consumo: impactos socioambientais no espaço urbano. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2009. FONSECA, P. C. D.; HAINES, A. F. Desenvolvimentismo e política econômica: um cotejo entre Vargas e Perón. Economia e Sociedade, Campinas, v. 21, Número Especial, p. 1043-1074, dez. 2012. RODRIGUES, C. M. Análise de crédito e risco. Curitiba: InterSaberes,2012. TAVARES, R. Operações de crédito: produtos e serviços bancários. Curitiba: InterSaberes, 2014. VIER, M. G. Auditoria interna e gerenciamento de riscos em cooperativas de crédito. Revista de Negócios – Business Review, n. 7, mar. 2009. Disponível em: <http://livrozilla.com/doc/360977/auditoria-interna-e-o-gerenciamento-de-riscos- em-cooperativas>. Acesso em: 20 jun. 2018.