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SÉRIE GESTÃO FERRAMENTAS DA QUALIDADE CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA – CNI Robson Braga de Andrade Presidente DIRETORIA DE EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA Rafael Esmeraldo Lucchesi Ramacciotti Diretor de Educação e Tecnologia Julio Sergio de Maya Pedrosa Moreira Diretor Adjunto de Educação e Tecnologia SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM INDUSTRIAL – SENAI Conselho Nacional Robson Braga de Andrade Presidente SENAI – DEPARTAMENTO NACIONAL Rafael Esmeraldo Lucchesi Ramacciotti Diretor Geral Julio Sergio de Maya Pedrosa Moreira Diretor Adjunto de Educação e Tecnologia Gustavo Leal Sales Filho Diretor de Operações SÉRIE GESTÃO FERRAMENTAS DA QUALIDADE SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial Departamento Nacional Sede Setor Bancário Norte • Quadra 1 • Bloco C • Edifício Roberto Simonsen • 70040-903 • Brasília – DF • Tel.: (0xx61) 3317- 9001 Fax: (0xx61) 3317-9190 • http://www.senai.br © 2015. SENAI – Departamento Nacional © 2015. SENAI – Departamento Regional de Santa Catarina A reprodução total ou parcial desta publicação por quaisquer meios, seja eletrônico, mecâ- nico, fotocópia, de gravação ou outros, somente será permitida com prévia autorização, por escrito, do SENAI. Esta publicação foi elaborada pela equipe do Núcleo de Educação a Distância do SENAI de Santa Catarina, com a coordenação do SENAI Departamento Nacional, para ser utilizada por todos os Departamentos Regionais do SENAI nos cursos presenciais e a distância. SENAI Departamento Nacional Unidade de Educação Profissional e Tecnológica – UNIEP SENAI Departamento Regional de Santa Catarina Gerência de Educação e Tecnologia – GEDUT FICHA CATALOGRÁFICA _____________________________________________________________________________ S491f Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial. Departamento Nacional. Ferramentas da qualidade / Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial. Departamento Nacional, Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial. Departamento Regional de Santa Catarina. Brasília : SENAI/DN, 2015. 107 p. : il. (Série Gestão). ISBN 978-85-7519-922-0 1. FMEA. 2. DMAIC. 3. Ferramentas da qualidade. 4.Controle de qualidade. 5. Gestão da qualidade total. I. Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial. Departamento Regional de Santa Catarina. II. Título. III. Série. CDU: 658.56 _____________________________________________________________________________ Lista de Ilustrações Figura 1 - Primeiro registro de uma atividade de controle da qualidade .....................................................12 Figura 2 - Dimensões da qualidade ............................................................................................................................20 Figura 3 - Ciclo PDCA .......................................................................................................................................................22 Figura 4 - Princípios básicos da administração japonesa ...................................................................................26 Figura 5 - Diagrama de Pareto ......................................................................................................................................33 Figura 6 - Diagrama de causa e efeito ........................................................................................................................34 Figura 7 - Histograma.......................................................................................................................................................35 Figura 8 - Diagrama de dispersão ................................................................................................................................37 Figura 9 - Estratificação ...................................................................................................................................................38 Figura 10 - Folha de verificação ....................................................................................................................................40 Figura 11 - PDCA ................................................................................................................................................................41 Figura 12 - Etapas do Ciclo PDCA ................................................................................................................................42 Figura 13 - Gráfico de controle .....................................................................................................................................47 Figura 14 - Significados dos 5S .....................................................................................................................................54 Figura 15 - Programa 5S ..................................................................................................................................................55 Figura 16 - Visão sistêmica dos 5S ...............................................................................................................................62 Figura 17 - Três bloqueios mentais comuns no processo de mudança .........................................................64 Figura 18 - Propostas de treinamento .......................................................................................................................68 Figura 19 - Etapas para um treinamento eficiente ................................................................................................68 Figura 20 - Exemplo de divulgação programa 5S ..................................................................................................69 Figura 21 - Etiquetas de identificação ........................................................................................................................72 Figura 22 - Fases da avaliação e acompanhamento do programa 5S ............................................................75 Figura 23 - Acompanhamento do programa 5S ....................................................................................................75 Figura 24 - Gráfico radar para resultados da auditoria 5S ...................................................................................78 Figura 25 - Processo de avaliação do programa 5S ...............................................................................................79 Figura 26 - Gestão de processos organizacionais ..................................................................................................90 Figura 27 - Diagrama de Ishikawa. ..............................................................................................................................95 Figura 28 - Passos da técnica 5W2H ...........................................................................................................................96 Figura 29 - Questionamentos para definição de problemas .............................................................................98 Figura 30 - Ciclo para atingir metas ......................................................................................................................... 101 Quadro 1 - As seis dimensões da qualidade ............................................................................................................18 Quadro 2 - Prioridades associadas às abordagens da qualidade.....................................................................19 Quadro 3 - Método 5W2H ..............................................................................................................................................45 Quadro 4 - Senso de organização ...............................................................................................................................58 Quadro 5 - Quadro plano de ação ...............................................................................................................................67Quadro 6 - Cronograma das atividades ....................................................................................................................71 Quadro 7 - Avaliação do programa 5S (frente da folha) ......................................................................................77 Quadro 8 - Avaliação do programa 5S (verso da folha) .......................................................................................77 Quadro 9 - Lista de verificação .....................................................................................................................................79 Quadro 10 - Exemplo de Checklist do programa 5S ..............................................................................................81 Quadro 11 - Pontuação avaliação do programa 5S ..............................................................................................83 Quadro 12 - Símbolos para composição de fluxogramas ...................................................................................92 Quadro 13 - Passos para a utilização do MAF ...................................................................................................... 101 Quadro 14 - Etapas do método MAF ....................................................................................................................... 102 Quadro 15 - Método REI ............................................................................................................................................... 104 Quadro 16 - Método GUT ............................................................................................................................................ 104 Quadro 17 - Análise de causas prováveis .............................................................................................................. 105 Sumário 1 Introdução ..........................................................................................................................................................................9 2 Histórico ............................................................................................................................................................................11 2.1 Histórico da qualidade ..............................................................................................................................12 2.2 Conceitos e origens da qualidade .........................................................................................................16 2.2.1 Evolução das abordagens da qualidade ...........................................................................21 2.2.2 Auditoria dos sistemas de gestão da qualidade ............................................................24 2.2.3 Modelo japonês de administração .....................................................................................25 3 Ferramentas da Qualidade .........................................................................................................................................31 3.1 Ferramentas clássicas da qualidade .....................................................................................................32 3.1.1 Diagrama de Pareto .................................................................................................................32 3.1.2 Diagrama de causa e efeito ...................................................................................................34 3.1.3 Histograma ..................................................................................................................................35 3.1.4 Diagrama de dispersão ...........................................................................................................36 3.1.5 Estratificação ...............................................................................................................................38 3.1.6 Folha de verificação .................................................................................................................39 3.1.7 Ciclo PDCA ...................................................................................................................................41 3.1.8 Brainstorming .............................................................................................................................43 3.1.9 Método 5W1H (3Q1POC) .......................................................................................................45 3.1.10 O fluxograma ...........................................................................................................................46 3.1.11 Gráfico de controle ................................................................................................................47 4 Programa 5S .....................................................................................................................................................................51 4.1 Desenvolvimento do programa 5S .......................................................................................................52 4.2 Origem e finalidade do Seiri, Seiton, Seisou, Seiketsu e Shitsuke ................................................53 4.3 Planejamento para aplicação dos conceitos do 5S .........................................................................55 4.4 Desenvolvimento de Qualidade com 5S ............................................................................................63 4.4.1 Instruções para preenchimento do plano de ação .......................................................66 4.4.2 Comprometimento da alta administração quando da implantação do programa 5S ..........................................................................................................................................67 4.4.3 Forma de treinamento ............................................................................................................67 4.4.4 Divulgação do programa 5S .................................................................................................69 4.4.5 Registro da realidade dos locais de trabalho ..................................................................70 4.4.6 Cronograma de implantação do programa 5S...............................................................70 4.4.7 Lançamento do programa 5S ...............................................................................................71 4.4.8 O Dia 5S ........................................................................................................................................71 4.5 Planejamento de auditoria de 5S ..........................................................................................................73 4.5.1 Manutenção e melhoria do programa 5S ........................................................................74 4.5.2 Checklist do programa 5S .......................................................................................................79 5 Escolha da Ferramenta Adequada ...........................................................................................................................87 5.1 Processos nas organizações ....................................................................................................................88 5.2 Tipos de processos ......................................................................................................................................89 5.3 Usando a gestão por processos .............................................................................................................90 5.4 Etapas da gestão dos processos ............................................................................................................90 5.4.1 Modelar os processos ..............................................................................................................91 5.4.2 Padronizar e executar ..............................................................................................................945.4.3 Analisar .........................................................................................................................................94 5.4.4 Implementar ações corretivas ..............................................................................................96 Referências ........................................................................................................................................................................ 109 Minicurrículo da Autora ............................................................................................................................................... 113 Índice .................................................................................................................................................................................. 115 1 Introdução Prezado estudante, seja muito bem-vindo à Unidade Curricular Ferramentas da qualidade! As Ferramentas da Qualidade são utilizadas pelos sistemas de gestão visando a definir, mensurar, analisar e propor soluções para problemas encontrados dentro dos processos de trabalho quando se refere à melhoria de produtos, serviços e processos. Quando se fala de qualidade dentro das organizações, tem-se de um lado a satisfação do cliente ao encontrar produtos que atendam a sua necessidade e de outro as organizações que buscam a excelência em seu ramo de atuação, por meio das melhorias de processos, redução de custos, obtendo como resultado um produto eficiente e sustentável. Nesta Unidade Curricular, você estudará a Origem; os Conceitos e Definições de qualidade, e terá uma visão geral das principais ferramentas tais como: Brainstorming; Fluxograma; PDCA (Planejar, Executar, Checar e Agir); Lista de Verificação checklist; Lista de Estratificação; Gráfico de Pareto; Histograma; Diagrama de Causa e Efeito; Diagrama de Dispersão; Cinco Porquês 5W1H e 5W2H, além de conhecer melhor sobre a Implementação do Sistema 5S. Se ao final dos seus estudos você compreender a importância das ferramentas da qualidade e conseguir utilizar os conhecimentos apreendidos sobre elas dentro da organização em que trabalha, o objetivo desta Unidade Curricular terá sido alcançado. Bons estudos! 2 Histórico A preocupação com a qualidade de bens e serviços não é recente. Desde a década de 20, até os dias de hoje, vários modelos de gestão pela qualidade foram concebidos e utilizados pela maioria das organizações. Cada modelo gerou consideráveis melhorias nas formas de ge- renciamento das organizações. O certo é que, atualmente, em qualquer atividade humana, a qualidade tornou-se consenso. Os primeiros movimentos em busca da qualidade surgiram e foram consolidados no Japão depois do fim da II Guerra Mundial, sendo difundida nos países ocidentais, a partir da década de 70. O Japão, logo após a Segunda Guerra Mundial, apresenta-se ao mundo literalmente des- truído, e precisando iniciar seu processo de reconstrução. William Edwards Deming, um estatís- tico norte americano,foi convidado pela Japanese Union of Scientists and Engineers (JUSE) para proferir palestras e capacitar empresários e industriais sobre controle estatístico de processo e sobre gestão da qualidade. O Japão inicia, então, sua revolução gerencial que proporcionou ao país o sucesso de que desfruta até hoje como potência mundial. Ao final do estudo deste capítulo, você estará apto a: a) definir o que é Qualidade; b) compreender o funcionamento da Gestão da Qualidade; c) conhecer metodologias e ferramentas aplicáveis na gestão da Qualidade. Você irá iniciar seus estudos conhecendo o histórico da qualidade. Acompanhe! FERRAMENTAS DA QUALIDADE12 2.1 HISTÓRICO DA QUALIDADE Para dar início aos estudos sobre Ferramentas da Qualidade, você precisa em primeiro lugar fazer um breve passeio pela história da qualidade, para aprimorar os seus conhecimentos sobre os conceitos, ori- gens, e definições de qualidade e suas ferramentas. A preocupação com aspectos relacionados com a qualidade confunde-se com a própria história da humanidade. O registro mais antigo de uma atividade de controle da qualidade data de 1450 A.C. Trata-se de um painel mostrando uma figura humana medindo as dimensões de uma peça, conforme figura a seguir: M an ua l W eg (1 99 0) Figura 1 - Primeiro registro de uma atividade de controle da qualidade Fonte: Manual Weg (1990) Portanto, a história da qualidade é algo que se perde no tempo, podendo-se dizer que os antigos arte- sões, por serem responsáveis por todas as fases que fazem parte do ciclo produtivo (identificação das ne- cessidades do cliente, projeto do produto, seleção das matérias primas, produção, verificação da qualidade do produto acabado etc.), desempenhavam e controlavam a qualidade dos seus produtos. A ampliação do volume de produção favoreceu a existência da divisão de tarefas em pequenos grupos, nascendo assim a divisão do trabalho, sendo cada trabalhador responsável pela realização de trabalhos específicos, impossibilitando-os de compartilharem a confecção e conhecerem os procedimentos do pro- duto por inteiro. Dessa forma, apareceu, a figura do inspetor da qualidade que coordenava e inter-relacio- nava os procedimentos e controles entre as várias tarefas, com o objetivo de garantir a conformidade do produto acabado. 2 HISTÓRICO 13 Em meados de 1900, o controle da qualidade era sinônimo de inspeção que era o ato de separar os bons dos maus produtos. O interesse fundamental do homem era, então, diagnosticar, por meio de métodos comparativos e ajustes, os problemas que aconteciam decorrentes da falta de uniformidade na matéria prima, no produto ou em um serviço. CURIOSIDADES Você sabia que a visão de qualidade pelos profissionais da área de inspeção era de algo que devia ser inspecionado? Com o surgimento das pesquisas de Taylor, ou seja, com a crença de que havia “uma maneira melhor de fazer as coisas” (‘The Best Way”), os estudiosos da produtividade industrial constataram que esta atitude de inspecionar poderia ser melhorada, e ter custos reduzidos, considerando que esta atividade exigia grande esforço, consumindo tempo e dinheiro. Portanto, os princípios da Qualidade Total estão fundamentados na Administração Científica de Frederick Taylor. O aparecimento de grandes conjuntos de pessoas, aumen- to da oferta e diversificação de produtos, induziu a produção em escala, especializando o trabalho ainda mais, passando o trabalhador agora a responsabilizar-se por parcelas ainda menores na elaboração de um produto. Surge, neste contexto, a figura do supervisor de qualidade que coordenava as atividades de controle de qualidade. Nascia então, a necessidade de unir formalmente controle de qualidade com inspe- ção. A partir disso, distingui-se controle de qualidade (Taylor), do controle da qualidade (Radford) que não falava de um controle que tinha qualidade, e sim, de um controle “DA” qualidade como independente, e com responsabilidade gerencial definida. Radford legitimou a função do inspetor tendo a responsabilida- de pela Qualidade dos produtos. SAIBA MAIS Para conhecer mais sobre a forma de administrar de Frederick W Taylor pesquise seu famoso livro Princípios da Administração Científica. Resumidamente, poder-se-ia dizer que, desde que a atividade produtiva assumiu um caráter sistemati- zado, o controle da qualidade foi considerado como um aspecto inerente ao sistema. O controle da qualidade, assim como no passado, tem, ainda hoje, como atribuição básica garantir que um produto seja preparado corretamente. Além disso, também deve medir o grau de correção em relação ao que foi especificado. A maneira de avaliar a qualidade de um produto sofreu, entretanto, profundas transformações respondendo à evolução do setor produtivo. Quando o produto era preparado somente por um artesão, este inspecionava todos os parâmetros que faziam parte do produto e, por fim, todas as unidades elaboradas. Concretizava assim o que se chamava de inspeção100%. Com o aumento do volume de produção, a inspeção 100% torna-se irrealizável, passando- -se a adotar a modalidade de inspeção por amostragem. FERRAMENTAS DA QUALIDADE14 m oo db oa rd ([ 20 -- ?] ) É importante destacar que mesmo a inspeção 100% não garante que o conjunto dos itens não confor- mes seja identificado, e isto se deve principalmente ao: • cansaço do operário em uma atividade geralmente repetitiva e monótona; • desregulagem do equipamento de medição. Acredita-se que a eficiência da inspeção 100% seja de aproximadamente 85% a 95%. Além disto, a necessidade de ensaios que causam danos ao produto inspecionado (ensaios destrutivos) inviabiliza, ob- viamente, a inspeção 100%. Em 1931, W. A. Shewart, um dos integrantes do Centro Cativo de Pesquisa e Desenvolvimento Bell Te- lephone (USA), escreveu o livro clássico: “Controle Econômico da Qualidade do Produto Manufaturado”. A forma de abordar o assunto estava sendo modificada, da ênfase nas tarefas (Taylor) para ênfase na estru- tura (Fayol, Weber e outros). Shewart foi um dos primeiros a perceber que a variabilidade era fenômeno intrínseco ao processo, decorrendo de causas normais e anormais de variação, que podiam ser detectadas e compreendidas uti- lizando-se princípios de estatística e probabilidade. Estabeleceram-se, assim, as bases do controle estatís- tico, utilizando os gráficos (ou cartas) de controle. Entretanto, foi outro americano, Deming, quem mais se projetou por aplicar esta ferramenta de controle estatístico. CURIOSIDADES Você sabia que a 2ª Guerra Mundial influenciou nos padrões da área da qualidade? 2 HISTÓRICO 15 Com a chegada da 2ª Guerra Mundial, as indústrias de todo o mundo empregaram seus recursos pro- dutivos na confecção de artefatos bélicos, o que ocasionou, ao final da guerra, uma demanda de bens de consumo muito grande que não podia ser atendida. Aliado a esse fato, houve também um grande aumen- to do poder aquisitivo, o que originou a necessidade da organização do setor produtivo quanto o volume de produção e o atendimento dos prazos de entrega. No transcorrer da referida guerra, a necessidade de intercambiar peças ou itens bélicos entre os países aliados acelerou a publicação dos primeiros padrões na área da qualidade. Por outro lado, o Japão encontrava-se, após a 2ª Guerra Mundial, numa situação de caos total, e, assim como as indústrias ocidentais, tinha que transformar a produção de armamentos em produção de bens de consumo civis, a única opção de reconstrução era disponibilizar seus produtos no mercado internacional. Entretanto, ressalta-se que esses produtos eram reconhecidos internacionalmente pela sua péssima qua- lidade. Buccelli (1991) explica que, com o intuito de conhecer como os outros países obtinham altos níveis de qualidade, várias equipes japonesas foram enviadas em missões a países e empresas ocidentais. Vários especialistas em qualidade, em particular o Dr. Joseph M. Juran, de 1954 a 1964, e Deming, em 1951, introduziram no Japão os conceitos de controle estatístico do processo. Dessa forma, com o reco- nhecimento em âmbito internacional na década de 60 e 70, os produtos japoneses aumentaram expressi- vamente sua participação no mercado internacional, especialmente, no mercado americano. Portanto, a adoção da abordagem da qualidade proposta por Deming, sobre controle estatístico da qualidade, juntamente com a ação da JUSE (entidade que congrega engenheiros japoneses) foram de importância vital para o sucesso japonês. Por sua vez, Juran, com seu enfoque de qualidade como um fator gerencial, e não uma atividade res- trita ao chão de fábrica, também revolucionou o gerenciamento, primeiro no Japão, e depois em todo o mundo. Dessa forma, a influência do gerenciamento da qualidade passa a ser uma condição para que se alcancem melhorias da qualidade. Surge assim o Total Quality Control (TQC), que institui quais procedimentos, voltados para alcançar e manter altos níveis de qualidade devem nortear a organização analisada globalmente. Tudo isto gerou o que se conhece, hoje, como Garantia da Qualidade. A Norma ISO Série 9000 (1990, p. 2) define garantia da qualidade como: “Todas as ações planejadas e sistemáticas necessárias para prover confiança adequada de que um produto ou serviço atenda aos requi- sitos definidos da qualidade”. Agora que você já conheceu o histórico da qualidade, na sequência você vai conhecer os conceitos e origens da qualidade. Confira! FERRAMENTAS DA QUALIDADE16 2.2 CONCEITOS E ORIGENS DA QUALIDADE A etimologia da palavra “qualidade” tem origem em “qualitas” ou “qualitatem” do latim, que significa propriedade ou condição natural das pessoas ou coisas pela qual se distinguem de outras, que constitui a sua essência, a maneira de ser. Portanto, essa origem nos remete à característica de genuinidade, de diferenciação, de virtude e pro- priedade que em seu nível mais elevado nos conduz a excelência. (GUARAGNA, 2014). Uma definição bastante usual de qualidade é obtida de acordo com as especificações de um produto ou serviço. Mas, quem define as especificações? Quais são as características de um produto ou serviço que lhe conferem qualidade? Você acha que é a cor ou a agilidade no atendimento de um serviço ou a entrega no prazo estabelecido? _b a_ ([ 20 -- ?] ) Pode-se perceber com base nas questões levantadas que existem vários critérios para definir confor- midade às especificações, cada um aplicável a determinados contextos. Ou seja, qualidade é um conceito multidimensional, pois são os clientes que definem os requisitos de qualidade e os níveis de satisfação dos serviços e produtos por eles adquiridos. CURIOSIDADES Você sabia que um produto ou serviço de qualidade é aquele que atende de forma confiável, acessível, segura e no tempo certo as necessidades do cliente? (CAMPOS, 1999). 2 HISTÓRICO 17 Existem outros conceitos sobre qualidade além dos que foram estudados até agora. A seguir, serão apresentados mais alguns conceitos de qualidade segundo os estudiosos da área. Acompanhe! • Qualidade é a inspeção por plano de amostragem, com o uso de Cartas de Controle. Shewart (1931) é considerado o pai do Controle Estatístico da Qualidade. • Qualidade é uma determinação do consumidor e não do engenheiro, da área comercial ou da admi- nistração de uma empresa. É um conjunto de características do produto ou serviço em uso, as quais satisfazem as expectativas do cliente. (FEIGENBAUM, 2003 apud MAY 2013). • Qualidade é a adequação ao uso; qualidade é a ausência de falhas. (JURAN,1992). • Os níveis da variação da qualidade podem ser reduzidos se geridos por meio do controle estatístico. (DEMING, 1985). • Qualidade deve fazer parte de toda a empresa: qualidade do serviço; qualidade do trabalho; qualidade da informação; qualidade do processo; qualidade do departamento, qualidade do operário, qualida- de do engenheiro, qualidade do administrador; qualidade das pessoas; qualidade da própria empre- sa, de sua diretriz. Qualidade coloca o consumidor em 1º lugar. (ISHIKAWA, 1987). • Qualidade é a conformidade com as especificações. Esta definição é voltada inteiramente para o clien- te, enfatizando que a qualidade é tangível, gerenciável podendo ser medida. (CROSBY, 1996). • Nas Normas Técnicas International Standard Organization (ISO), a definição de qualidade resume-se especificamente a cliente, produto e processo. Segundo a referida norma ISO 8402 (1995), qualidade é o conjunto das características de uma entidade que lhe atribui a habilidade de satisfazer as necessidades explícitas e implícitas. Isto deve ser entendi- do genericamente como a conformidade com as exigências ou satisfação do cliente. Outras formulações descrevem somente algumas facetas desse conceito. A qualidade não é um valor em si: as características da qualidade especificadas ou exatamente definidas por pré-requisitos devem ser atendidas dentro dos valores e limite estabelecidos. Para Campos (1999), um produto ou serviço dequalidade é aquele que vai ao encontro das necessida- des e expectativas dos clientes, de forma confiável, acessível, segura e no tempo determinado. Isso justifica porque o termo “qualidade total” tem em seu conceito, seis dimensões básicas que lhe conferem características de totalidade, como observa Campos (1999), que são: qualidade intrínseca, custo, atendimento, moral, segurança e ética, todas descritas a seguir: FERRAMENTAS DA QUALIDADE18 DIMENSÃO DESCRIÇÃO Qualidade intrínseca É a capacidade do produto ou serviço de cumprir o objetivo ao qual se destina. Custo A dimensão custo tem, em si, dois focos: custo para a organização do serviço prestado e o seu preço para o cliente. Atendimento É uma dimensão que contém vários parâmetros: local, prazo, presteza, tempo de espera, cordialida- de, que por si só demonstram a sua importância na produção de bens e na prestação de serviços de excelência. Segurança Em um sentido restrito, tem a ver com a segurança física dos clientes e, em um sentido mais amplo, com o impacto sobre o meio ambiente. Moral É a dimensão que trata da motivação dos funcionários, responsáveis pela execução do serviço ou fabricação do produto. Ética É representada pelos códigos ou regras de conduta e valores que têm que permear todas as pessoas e todos os processos das organizações. Quadro 1 - As seis dimensões da qualidade Fonte: Adaptado de Campos (1999) Cada dimensão demonstra uma característica da qualidade e, por isso, o termo qualidade representa a busca da satisfação, não só do cliente, mas de todos os grupos de relações ou partes interessadas, que de alguma forma são significativas na existência da organização. Abrange o gerenciamento do grau de eficá- cia e de eficiência em todos os elementos internos e externos à empresa, impactados pela sua existência, incluindo os serviços de atendimento pós-venda e as políticas de responsabilidade socioambientais defen- didas e adotadas pela organização. Vale lembrar que, eficácia e eficiência são conceitos relacionados, pois enquanto eficácia é fazer bem feito a coisa certa, realizar aquilo que dever ser feito ou selecionar e executar a melhor opção; a eficiência diz respeito a fazer essas atividades minimizando os recursos utilizados e evitando perdas e/ou desperdí- cios, nas quantidades certas e no tempo previsto. Eficácia trata do O QUE fazer: selecionar as melhores estratégias, as melhores decisões, as melhores ações. Eficiência trata de COMO fazer: fazer aquilo que se propõe a fazer sem erros, ou produzir mais com menos recursos. Para Garvin (1992) da Harvard Business School, as definições de qualidade estão fundamentadas nas seguintes classificações: • transcendentais: qualidade é aquilo que é entendido por intuição, mas que é difícil de ser comunica- do, como beleza e amor; 2 HISTÓRICO 19 • baseadas no produto: qualidade é baseada nos atributos ou componentes do produto; • baseadas no consumidor: qualidade é baseada na satisfação do consumidor. Se ele esta satisfeito, então o produto tem qualidade; • baseadas na manufatura: se o produto está dentro das normas e especificações da produção, então o produto tem qualidade; • baseadas no valor: se o produto é percebido como bom para o preço, então tem boa qualidade. ABORDAGEM A QUEM PRIORIZA O QUE PRIORIZA O QUE NÃO PRIORIZA Transcendental Público rico Status Excelente marca. Custo Produto Público tecnicamente esclarecido Utilidade do produto. Atendimento das necessidades. Supérfluos Usuário Público majoritário Apelo do produto. Conhecimento do mercado. Custo. O que escapa à visão majoritária Produção Mercado em geral Engenharia. Processo. Conformidade. Conhecimento de mercado Valor Público economicamente esclarecido Itens que valorizam sem onerar. Supérfluos Quadro 2 - Prioridades associadas às abordagens da qualidade Fonte: Adaptado de Costa Neto; Canuto (2010) Alguns autores separam qualidade considerando 2 (dois) aspectos: qualidade técnica e qualidade hu- mana. A qualidade técnica está em satisfazer exigências e expectativas concretas (padrões, tempo, custos, taxa de defeitos, funcionalidade, durabilidade, segurança e garantia). A qualidade humana diz respeito à satisfação de expectativas e desejos emocionais. Estes podem ser classificados em: atitude, comprometi- mento, atenção, credibilidade, consistência e lealdade. Além disso, a qualidade pode ser classificada em cinco tipos: pessoal, departamental, de produtos, de serviços e da empresa. Outros, em vez de conceituar qualidade, preferem medir a qualidade de produtos ou serviços por meio de indicadores que refletem as cinco dimensões da qualidade. FERRAMENTAS DA QUALIDADE20 Dimensões da qualidade Atendimento ou entrega Sobrevivência da empresa Necessidade das pessoas Qualidade intrínseca Custo Entrega ou atendimento Segurança Moral / motivação Qualidade total O que é Qualidade? “Um produto ou serviço de “qualidade” é aquele que atende perfeitamente, de forma conável, de forma acessível, de modo seguro e no tempo certo às necessidades dos clientes” (Campos, 1992). Qualidade intrínseca Motivação Custo Segurança D ie go F er na nd es (2 01 5) Figura 2 - Dimensões da qualidade Fonte: Adaptado de Campos (1992) • Qualidade intrínseca: é medida por meio das características da qualidade dos produtos ou serviços finais ou ainda intermediários da Organização. A qualidade intrínseca é um processo amplo, de res- ponsabilidade de todos na organização. • Custo: é medido segundo todos os custos incorporados no produto ou serviço (custos finais e inter- mediários). Busca-se um custo que o cliente possa pagar. • Moral: esta é uma dimensão que mede o nível médio de satisfação de um grupo de pessoas, envolvi- das no processo de elaboração do produto ou serviço. • Segurança: sob esta dimensão avalia-se a segurança dos funcionários e a segurança dos usuários do produto ou serviço, levando segurança ao cliente. • Prazo/entrega: sob esta dimensão da Qualidade Total são medidas as condições de entrega dos pro- dutos ou serviços finais e intermediários. • Atendimento: sob esta dimensão avalia-se a postura, cortesia e clareza de informações repassadas aos clientes. 2 HISTÓRICO 21 A conclusão que se chega com base nas questões aqui levantadas é que existem vários critérios para definir conformidade às especificações, cada um aplicável a determinados contextos. Qualidade é um conceito multidimensional, pois são os clientes que definem os requisitos de qualidade e os níveis de sa- tisfação dos serviços e produtos por eles adquiridos. Como disse Feigenbaum (2003), qualidade é aquilo que o cliente diz que é. 2.2.1 EVOLUÇÃO DAS ABORDAGENS DA QUALIDADE Segundo Maximiano (2007), a escola da qualidade surgiu em meados do século XX, juntou-se a ou- tras ideias e tornou-se uma disciplina de envergadura sistêmica. Assim, ao mesmo tempo em que há uma evolução do seu conceito, há concomitante o surgimento dos métodos e técnicas para consolidá-la como prática de gestão, como você verá a seguir. No início do século XX, devido à produção em massa, muitas peças, como por exemplo os parafusos, eram fabricados de acordo com as especificações dos técnicos. Para evitar que peças defeituosas fossem disponibilizadas ao mercado, a qualidade era controlada por meio da inspeção dos produtos. Assim, como observa Maximiano (2007), a qualidade estava atrelada às técnicas de inspeção do produto final realizada pelos supervisores, não produzindo assim qualidade, apenas encontrando produtos defeituosos na razão direta da intensidade da inspeção. Como era impossível inspecionar milhões de peças produzidas, devido a vários motivos técnicos, eco- nômicos, de prazos ou mesmo quantitativos, aplicou-se o controle estatístico desenvolvido por Walter A. Shewhart, traduzindo-se na introdução de técnicas de amostragem e de outros procedimentos de base estatística, como recurso de controle de qualidade. O uso de técnicas de amostragem propiciou um grande avançonos processos de qualidade, uma vez que, a realização de inspeções completas em todos os produtos fabricados era impraticável. Assim, a amostragem passou a ser utilizada, tornando-se um método confiável quando da aplicação de conceitos estatísticos, e em outros procedimentos associados. Em termos organizacionais, surgiu o setor de controle de qualidade. ABORDAGEM GERENCIAL DE DEMING Segundo Paladini (1995), a partir da década de 50, a abordagem da qualidade foi ampliada. Era por volta do ano de 1950 quando Edwards Deming, especialista americano em qualidade, foi ao Japão, a convite da JUSE, proferir palestras para líderes industriais, considerando o foco de reconstruir aquele país destruído na Segunda Guerra Mundial. Era preciso conquistar novos mercados e melhorar a reputação dos produtos japoneses. Para descrever sua filosofia pela qualidade, Deming definiu 14 pontos principais, dando ênfase em aspectos como: • comprometimento da liderança como promotora da qualidade; • envolvimento das pessoas, eliminando o medo e as represálias aos trabalhadores e criando condições de trabalho a fim de otimizar os esforços das equipes; FERRAMENTAS DA QUALIDADE22 • foco no atendimento das necessidades e expectativas dos clientes; • foco na prevenção dos problemas. Deming aplicou nas empresas japonesas o Ciclo PDCA (Plan/Planejar, Do/Executar, Check/Checar e Ac- tion/Agir), método essencial da gestão da qualidade, que ficou conhecido como Ciclo Deming da Quali- dade, apesar do método ter sido desenvolvido pelo estatístico norte-americano Walter A. Shewhart, na década de 20. Como pode ser visto na figura a seguir, o PDCA é uma técnica de gestão que ocorre por meio de um ciclo iniciado por um plano, sendo que o mesmo deverá orientar a execução que, por sua vez, requer ações de controle e monitoramento que determinam as ações corretivas. As ações corretivas devem ser planeja- das e assim o ciclo continua. Vericar os resultados da tarefa executada A (Action) P (Plan) D (Do) C (Check) Atuar corretivamente Denir as metas Denir os métodos que permitirão atingir as metas propostas Educar e treinar Executar a tarefa (coletar dados) D ie go F er na nd es (2 01 5) Figura 3 - Ciclo PDCA Fonte: Adaptada de Campos (1994) ABORDAGEM DA QUALIDADE TOTAL DE FEIGENBAUM A abordagem de qualidade de Deming aperfeiçoa e amplia o foco de atuação. Segundo Maximiano (2007), o foco passa ser a Gestão da Qualidade Total (GQT) - inicialmente concebida como Controle de Qualidade Total (CQT) - uma abordagem gerencial mais ampla, desenvolvida por Feigenbaum. O seu argumento é em favor de uma abordagem sistêmica ou total da qualidade, requerendo o envol- vimento de todas as funções no processo da qualidade, e não simplesmente na atividade de fabricação. A ideia é que a gestão da qualidade exista em todas as áreas de negócio, do projeto às vendas, incluindo os 2 HISTÓRICO 23 fornecedores. Por extensão, outros fatores relacionados ao processo produtivo, como retrabalho, refugo, devoluções, manutenção, vendas imagem, passaram a ser considerados. A Gestão da Qualidade Total (GQT) tem como pontos básicos: • foco no cliente; • trabalho em equipe permeando toda a organização; • decisões baseadas em fatos e dados; • a busca da prevenção e solução de problemas e diminuição de erros; • valorização do ser humano; • melhoria dos processos; • gestão participativa. É uma nova filosofia gerencial que exige mudanças de atitudes e de comportamento, visando o com- prometimento com o desempenho por todas as pessoas envolvidas com um processo de trabalho. ABORDAGEM DA GARANTIA DA QUALIDADE DE ISHIKAWA A abordagem da garantia da qualidade, consolidada por volta da década de 70, tem em Ishikawa um dos seus principais proponentes e visa prover confiança no atendimento aos requisitos da qualidade,por meio de sistemas integrados de gestão da qualidade e outras técnicas (PALADINI, 1995). A garantia da qualidade é a própria essência do controle de qualidade. Preocupado com a garantia da qualidade, Ishikawa (1997) propõe ferramentas gráficas de controle de processos, dentre elas a que mais se destaca é o Diagrama de Causa e Efeito, também conhecido como Espinha de Peixe. O diagrama permite estruturar hierarquicamente as causas de determinado problema, bem como, seus efeitos sobre a qualidade dos produtos e/ou serviços. As possíveis causas podem ser analisadas com a uti- lização de Folhas de Verificação¹, e quantificadas em um Gráfico de Pareto, para um entendimento em qual delas deve-se atuar primeiro. Folhas de Verificação e Diagrama de Pareto², ambas são ferramentas de con- trole de qualidade criadas por Ishikawa. Ishikawa (1997) também foi o criador dos Círculos de Controle de Qualidade (CCQ). Maximiano (2007) explica que, os CCQs consistem em um grupo voluntário de funcionários, pertencentes ou não à mesma área de trabalho, treinados na mesma filosofia e com os mesmos objetivos: melhorar o desempenho, re- duzir os custos, aumentar a eficiência, especialmente no que se refere à qualidade dos seus produtos ou de seu trabalho. 1 É uma ferramenta da qualidade, constituída de uma planilha para a coleta de dados, visando a facilitar a coleta de informa- ções pertinentes às causas de um problema. 2 É outra ferramenta da qualidade, constituída de um diagrama de barra que ordena as ocorrências das causas da maior para a menor, visando priorizar as mais vitais. FERRAMENTAS DA QUALIDADE24 2.2.2 AUDITORIA DOS SISTEMAS DE GESTÃO DA QUALIDADE Segundo Paladini (1995), foi na década de 70 que, além dos conceitos de controle de qualidade, toda a empresa baseada nos padrões Ishikawa e Feigenbaum pretendia proporcionar confiança aos seus clientes, fazendo com que os fabricantes realizassem ações de diagnóstico de seus sistemas da qualidade por meio de auditorias, enfatizando o envolvimento dos trabalhadores da empresa no esforço pela qualidade. CURIOSIDADES Você sabia que atualmente, muitas organizações buscam alcançar padrões estáveis e aceitáveis de qualidade conforme as diretrizes internacionais, por meio da implantação de sistemas de gestão da qualidade? As certificações e premiações de qualidade segundo normas internacionais, têm a finalida- de de fidelizar clientes e garantir a competitividade no mercado. As normas ISO 9000 e ISO 14000 formam os principais conjuntos de diretrizes internacionais para siste- mas de gestão da qualidade. As normalizações, principais componentes dos sistemas da qualidade, contri- buem para assegurar que qualquer pessoa dentro da organização, não esteja apenas fazendo seu trabalho segundo suas próprias ideias e, que exista um mínimo de ordem na forma como a organização opera. SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE O sistema de gestão da qualidade é o conjunto de princípios, diretrizes, métodos e normas que fornece à organização um modelo para seguir visando preparar e operar o seu sistema de gestão com a finalidade de conquistar certificações (MELLO et al, 2002). O objetivo final, além de fidelizar seus clientes e as partes interessadas, é ganhar credibilidade nos seus processos, serviços e produtos, assegurando sua competiti- vidade no mercado. No Brasil, a Fundação Nacional da Qualidade (FNQ) é um órgão que realiza anualmente o ciclo de avalia- ção do Prêmio Nacional da Qualidade® (PNQ), o qual reconhece as organizações que praticam a excelência em gestão. No Brasil, o Prêmio Nacional da Qualidade® (PNQ) reconhece empresas de classe mundial. As avaliações são realizadas com base em critérios definidos pela própria instituição. O PNQ tem como referência o Modelo de Excelência da Gestão (MEG), que apresenta uma caracterís- tica importante que é a de ser um modelo sistêmico; ou seja, busca a estruturação e o alinhamento dos componentes da gestão das organizações com a visão de um sistema. Tem por missão disseminar os fun- damentos da Excelência em Gestão,visando o aumento da competitividade das organizações e do Brasil. SAIBA MAIS Para saber mais sobre a Fundação Nacional da Qualidade (FNQ), acesse o site <www.fnq.org.br>. 2 HISTÓRICO 25 A seguir você irá conhecer o modelo japonês de administração. Confira! 2.2.3 MODELO JAPONÊS DE ADMINISTRAÇÃO Maximiano (2007) observa que, o modelo japonês de administração (também conhecido como Sistema Toyota de Produção, ou produção enxuta) se confunde com a história da qualidade total. Isso porque o pri- meiro é uma combinação dos princípios do segundo, e ambos originam-se da administração científica e da teoria clássica da administração, tendo alguns pontos em comum, principalmente a oposição ao modelo de produção americano como você verá a seguir. Como você viu anteriormente, no tópico Histórico da Qualidade, o sistema de administração japonês, tal como é estruturado atualmente, surgiu depois da Segunda Guerra Mundial e consolidou-se notavel- mente na fábrica dos automóveis Toyota. Naquela época, a indústria japonesa tinha uma produtividade muito baixa e sofria com a falta de recursos, o que a impedia de adotar o modelo da produção em massa, modelo este que fundamentou as teorias de Taylor e Fayol no início do século XX. Conforme Chiavenato (2011), a escola clássica de administração cujas bases estavam ancoradas na pro- dução em massa, defendia a redução dos custos unitários dos produtos pela produção em larga escala, es- pecialização e divisão do trabalho. Entretanto, o modelo americano tratava-se de um sistema que operava com estoques e lotes de produção elevados, condições impossíveis ao Japão. Todavia no Japão pós-guerra, e especificamente na empresa Toyota, os lotes de produção eram peque- nos, os trabalhadores multifuncionais, e a base do trabalho era a eliminação do desperdício e preocupação com a qualidade, muito embora os estudos de tempos e movimentos iniciados por Taylor estejam mais presentes do que nunca. Nesse sentido, desenvolveram seu próprio sistema, com base nos princípios da qualidade e, até hoje, os pilares necessários à sustentação do sistema japonês são diversas técnicas simples, porém eficientes. Ferreira, Reis e Pereira (2002) citam algumas delas. • Just-in-time - sincronização do fluxo de produção com fornecedores para produzir somente em fun- ção da demanda. É um sistema que procura manter somente os materiais, equipamentos e pessoas necessários a cada tarefa. • Kanban - sistema de informação visual, originalmente realizado por meio de cartões, que aciona e controla produção. • Kaizen - busca de melhoramento contínuo. • Poka-Yoke - é um dispositivo a prova de erros, visando evitar a ocorrência de defeitos em processos de fabricação e/ou na utilização de produtos, pela paralisação do processo até que a condição causa- dora do defeito tenha sido corrigida. FERRAMENTAS DA QUALIDADE26 FIQUE ALERTA Essa não pretende ser uma lista exaustiva das técnicas japonesas, muitas outras foram criadas e são adotadas. Estão sendo destacadas somente algumas para fins explicativos do contexto socioeconômico e cultural japonês. Segundo Maximiano (2007), os resultados alcançados pela indústria japonesa a partir de 1970, prin- cipalmente por empresas como Toyota, Honda, Nissan, Sony, Mitsubishi, intensificaram o interesse das empresas ocidentais nas práticas japonesas de gestão. Segundo esse autor, a administração japonesa é baseada em três princípios básicos: Fabricação com qualidade Administração participativa Eliminação de desperdício D ie go F er na nd es (2 01 5) Figura 4 - Princípios básicos da administração japonesa Fonte: Da autora (2015) A eliminação do desperdício foi conquistada pela racionalização da força de trabalho, pela diminuição dos estoques com o processo just in time e com a introdução da produção flexível para a melhor distribui- ção do tempo. A fabricação com qualidade visava a corrigir e eliminar os defeitos e os desperdícios. Para atingir este objetivo, criaram-se técnicas de correção de erros, de fazer certo da primeira vez, de atribuição de maior au- tonomia aos operários, responsabilizando-os pelo próprio trabalho e, ainda, de criação de círculos da qua- lidade, no qual os operários e gerentes se reuniam para analisarem o conjunto de tarefas que realizavam. E, por fim, a administração participativa criou as condições para que os trabalhadores japoneses se tor- nassem afetivamente ligados e comprometidos com a organização na qual trabalhavam. Qualidade é um “método” que deve ser estudado, entendido, treinado, aplicado e aperfeiçoado sempre, com foco e respeitando as características de cada organização. 2 HISTÓRICO 27 Acompanhe no Casos e Relatos que segue, o case da empresa CCM Montagens Industriais. CASOS E RELATOS CCM Montagens Industriais A CCM, Fundada em 1997, é uma empresa especializada em montagens eletromecânicas e ma- nutenção industrial tanto em reformas e ampliações de plantas industriais quanto em empreen- dimentos inteiramente novos. Sua trajetória tem sido marcada por ações fundamentadas em sua grande capacidade de inovação, comprometimento e garra para o enfrentamento de novos desa- fios, sempre de forma ética e profissional, buscando a transparência em todas suas ações. Em 2001, a CCM foi incluída no projeto PDF (Programa de Desenvolvimento de Fornecedores) do grupo Gerdau. Esse convite desafiava a alta direção a propor e implementar melhorias em seu modelo de gestão. A grande questão interna foi: “De que forma podemos enfrentar este desafio de forma a não só atender ao convite de um de nossos principais clientes, satisfazendo suas necessidades, mas também nos tornarmos a melhor referência de desempenho, entre todas as organizações envolvidas?”. A solução encontrada foi a adequação do atual sistema de gestão da qualidade da organização aos requisitos da Norma ISO9001:2000. Para isso, buscaram uma consultoria para mapear os pro- cessos e atividades, propor padronização e adequação, quando aplicável, e implementar novos processos e práticas para atender a requisitos normativos. Com essas medidas, o objetivo de satisfazer as necessidades do cliente e obter a certificação pelo sistema de gestão da qualidade de acordo com os requisitos da Norma ISO9001:2000, como forma de melhorar o modelo de gestão da organização e tornar-se referência no programa PDF da Ger- dau, foi atingido. No recapitulando a seguir, você poderá relembrar os principais assuntos que foram estudados neste capítulo. Confira! FERRAMENTAS DA QUALIDADE28 RECAPITULANDO Neste capítulo você estudou os fundamentos básicos da qualidade e a busca do homem por apri- morar suas competências, conhecimentos, habilidades e atitudes que lhe permitam melhorar suas práticas de gestão nas empresas e na vida pessoal. Conheceu também as principais metodologias e ferramentas aplicáveis na gestão da qualidade adotadas pelas organizações, tal como as competências requeridas dos gestores para dar conta dessas práticas. Aliás, elas mudam constantemente, pois o ser humano está sempre buscando me- lhores formas de compreender e atuar sobre a realidade. A seguir você vai conhecer mais sobre a implantação de uma metodologia de gerenciamento de processos que precisa ser suportada por ferramentas, sem as quais a organização pode não conse- guir realizar a etapa da metodologia com a qualidade necessária. 2 HISTÓRICO 29 Anotações: 3 Ferramentas da Qualidade Neste capítulo você estudará os principais modelos de gestão que têm como objetivo a qualidade e a busca de certificações das melhores práticas de gestão. Tais práticas são adotadas em todo o mundo, porém receberam considerável influência da administração japonesa. Você poderá observar como cada modelo ainda hoje continua promovendo significativas melhorias nas formas de gerenciamento das organizações. Conhecerá também detalhadamente as ferramentas da qualidade, para que você possa ter um conjunto de métodos e técnicas objetivando auxiliar a solução de problemase a aplicação dos diversos “métodos e técnicas de qualidade” que são divulgados como únicos e verdadeiros pelos consultores. Ao final deste capítulo, você terá subsídios para: a) compreender a importância do uso das ferramentas da qualidade no contexto das orga- nizações; b) conhecer metodologias e instrumentos aplicáveis às ferramentas da qualidade; c) identificar quais os tipos de ferramentas ajudam a empresa na implantação da gestão da qualidade. Você irá iniciar seus estudos conhecendo as ferramentas clássicas da qualidade. Acompa- nhe! FERRAMENTAS DA QUALIDADE32 3.1 FERRAMENTAS CLÁSSICAS DA QUALIDADE Existem diferentes tipos de ferramentas da qualidade que auxiliam as organizações na identificação e resolução de problemas. O grande problema que se coloca é: Como obter os dados que permitirão a identificação dos problemas? E como tratar os dados de forma a obter deles informações precisas e de fácil entendimento? CURIOSIDADES “Um dos melhores caminhos para resolver problemas é quando se têm da- dos, e a maioria dos problemas que acontece nas áreas produtivas cai nesta categoria.” (ISHIKAWA 1990, p.137). As ferramentas estatísticas propostas se constituem em uma forma bastante eficiente de levantar, tratar e analisar dados buscando a solução de problemas. Confira cada uma dessas ferramentas na sequência. 3.1.1 DIAGRAMA DE PARETO O Diagrama de Pareto é um gráfico de barras que demonstra os problemas em ordem decrescente de importância, ao mesmo tempo em que recomenda a participação percentual acumulada. O referido diagrama recebeu o nome em homenagem ao seu criador, o sociólogo e economista Vilfredo Pareto, em 1897. Existem diferentes usos de um gráfico de Pareto, como, por exemplo: • para identificar os problemas mais importantes por meio do uso de diferentes escalas de medidas, dentre elas, frequência e custo; • para analisar grupos de dados, dentre eles, por produto, por máquina, por turno; • para medir o impacto de mudanças feitas no processo, como: comparação antes e depois; • para demolir causas grandes em partes mais específicas. Os problemas que acontecem com maior incidência não são fundamentalmente aqueles que trazem custos mais elevados. Portanto, a principal característica do gráfico de Pareto, é exatamente, priorizar os problemas de maior incidência, permitindo a concentração de esforços nestes. 3 FERRAMENTAS DA QUALIDADE 33 CURIOSIDADES Você sabia que no princípio do século XX, Vilfredo Pareto (1848-1923), um economista italiano realizou um estudo sobre a riqueza e a pobreza, resul- tando na descoberta que 20% da população controlava 80% da riqueza na Itália? No início dos anos 50 Juran percebeu evidências da regra 80-20, para um grande número de situações. Principalmente para problemas relacionados à qualidade. Portanto, a análise de Pareto é um método que separa os “poucos vitais” dos “muitos triviais” e o Gráfico de Pareto é utilizado para evidenciar (tor- nar óbvia) a regra 80 – 20. Diagrama de Pareto N úm er o de e rr os 140 120 100 80 60 40 20 0 Pouco vitais Muito triviais E B C F D A H I Tipos de erros 100% 81% 75% 50% 25% 0% Cliente Vendas Elemento Efeito 80% 20% D ie go F er na nd es (2 01 5) Figura 5 - Diagrama de Pareto Fonte: Adaptado de May (2014) Você conheceu neste tópico as características e em que circunstâncias é utilizado o Diagrama de Pareto. Na sequência, você irá conhecer outra ferramenta da qualidade, o diagrama de causa e efeito. Confira! FERRAMENTAS DA QUALIDADE34 3.1.2 DIAGRAMA DE CAUSA E EFEITO Neste diagrama buscam-se as causas que podem estar originando algum tipo de efeito. Para você entender melhor, essas causas são identificadas pesquisando-se os seguintes grupos: mão de obra, máquina, matéria-prima, método, meio ambiente, manutenção, medida, marketing, management e money. Este diagrama é também chamado de diagrama de Ishikawa ou espinha de peixe. O Diagrama de Causa e Efeito de Ishikawa (Espinha de Peixe) é uma ferramenta utilizada para expor a relação que existe entre o problema a ser solucionado (efeito) e os fatores (causas) do processo que podem influenciar na ocorrência do problema. A espinha de peixe além de tornar claras as possíveis causas do problema, também facilita a identificação da causa essencial da ocorrência do problema, admitindo que se possa fazer um plano de ação para eliminar a causa principal que induz ao efeito indesejável. Diagrama de causa e efeito – Espinha de peixe ou Ishikawa Medida Máquina Método Efeito Meio ambiente Mão de obra Matéria prima Causas Meios Métodos Dados Insumos Fim Meta Resultado Produto Diagrama de causa e efeito / Espinha de peixe / Ishikawa áreas administrativas = 4p Políticas Procedimentos Pessoal Planta (layout) Causas Meios Métodos Dados Insumos Fim Meta Resultado Produto Efeito D ie go F er na nd es (2 01 5) Figura 6 - Diagrama de causa e efeito Fonte: Adaptado de May (2014) O referido diagrama é formado por seis braços (seis M - método, mão de obra, matéria-prima, máquina, meio ambiente e medida) que servem para facilitar a busca das causas, não sendo necessário o preenchi- mento de todas as causas. Em serviços e processos transacionais, utilizam-se como categorias básicas: procedimentos, pessoas, ponto, políticas, medição e meio ambiente. CURIOSIDADES Essa ferramenta foi desenvolvida em 1943 por Ishikawa na Universidade de Tókio com objetivo de explicar para o grupo de engenheiros da Kawasaki Steel como vários fatores podem ser ordenados e relacionados. 3 FERRAMENTAS DA QUALIDADE 35 A seguir você vai conhecer o Histograma, outra ferramenta da qualidade. Acompanhe! 3.1.3 HISTOGRAMA Histograma é a distribuição de frequência para uma massa de dados analisada e colocada sob a forma de gráfico de barras. Duas medidas muito importantes estão associadas ao Histograma: a medida de posição (média, media- na e moda) e a medida de dispersão (amplitude e desvio padrão). Estas duas medidas aliadas ao histogra- ma são muito úteis para avaliar o grau de eficiência de uma medida corretiva - mostra o antes e o depois. A forma típica do Histograma também é muito útil quando se procura identificar o modelo de probabi- lidade descrito pela massa de dados. O Histograma é uma representação gráfica que nos permite visualizar a distribuição característica de um fenômeno ou processo. Desde então ele vem sendo utilizado para descrever os dados nas mais diver- sas áreas, visando obter uma visão geral do conjunto de dados. 12 10 8 6 4 2 0 1 2 3 4 5 6 7 8 Medida Frequência % de 0 a 2 3 7% 2 a 3,07 4 10% 3,07 a 4,14 7 17% 4,14 a 5,21 12 29% 5,21 a 6,28 7 17% 6,28 a 7,35 1 2% 7,35 a 8,42 6 14% Acima 8,42 2 5% Histograma D ie go F er na nd es (2 01 5) Figura 7 - Histograma Fonte: Adaptado de May (2014) Para construção do Histograma é preciso: coletar os dados; determinar a amplitude; determinar a clas- se; determinar o intervalo e o limite da classe; definir a média de cada classe; determinar a frequência e construir o gráfico. FERRAMENTAS DA QUALIDADE36 O Histograma é um gráfico de barras no qual o eixo horizontal, subdividido em vários pequenos inter- valos, apresenta os valores assumidos por uma variável de interesse. Para cada um destes intervalos é construída uma barra vertical, cuja área deve ser proporcional ao nú- mero de observações na amostra cujos valores pertencem ao intervalo correspondente. CURIOSIDADES Esta ferramenta foi pela primeira vez apresentada por A. M. Guerry, em 1883, para descrever análises estáticas sobre os crimes. Ela tem como base a ideia de que cada fenômeno tem seu jeito próprio de variar. Conheça na sequência o diagrama de dispersão, uma ferramenta da qualidade utilizada para avaliar a correlação entre duas variáveis. 3.1.4 DIAGRAMA DE DISPERSÃO O diagrama de dispersão é um método gráfico usado para avaliar se há correlação entre duas variáveis. Esta ferramenta permite a identificação do possívelrelacionamento entre variáveis consideradas em uma análise. Consiste num aglomerado de pontos, distribuídos sobre um plano estabelecido por um par de eixos ortogonais X e Y. O diagrama de dispersão é ideal quando há interesse em visualizar o relacionamento entre duas variáveis. 3 FERRAMENTAS DA QUALIDADE 37 140 120 100 80 60 40 20 0 0 2 4 6 8 10 12 Q ui lo gr am as p or m in ut o Quantidade de funcionários y y y y y x x x x x Legenda ( a ) – Elevada correlação positiva ( b ) – Moderada correlação positiva ( c ) – Ausência de correlação ( d ) – Moderada correlação negativa ( e ) – Elevada correlação negativa Digrama de Dispersão ou Correlação Possíveis Padrões para Diagramas de Dispersão. ( a ) ( b ) ( c ) ( d ) ( e ) Die go F er na nd es (2 01 5) Figura 8 - Diagrama de dispersão Fonte: Adaptado de May (2014) Na sequência você irá conhecer o método da estratificação. Confira! FERRAMENTAS DA QUALIDADE38 3.1.5 ESTRATIFICAÇÃO A Estratificação é um método usado, como o próprio nome diz, para estratificar, ou seja, classificar a massa de dados em categorias que ofereçam características semelhantes, sendo uma ferramenta de aná- lise na qual pretende-se buscar possíveis origens do problema. Também permite realizar a análise dos dados coletados a partir da busca das causas. Essa ferramenta consiste no agrupamento da informação (dados) sob vários pontos de vista, de modo a focalizar a ação. São exemplos de subgrupos: (a) tempo; (b) tipo; (c) local; (d) sintoma; (e) outros fatores. Para estratificar você precisa desdobrar em estratos mais específicos, o que facilita a identificação do problema, por que em escalas menores o erro se torna mais visível, facilitando a correção. Estraticação - Exemplo D ie go F er na nd es (2 01 5) Figura 9 - Estratificação Fonte: Adaptado de May (2014) A seguir, você irá conhecer outra ferramenta da qualidade, a Folha de Verificação, uma ferramenta uti- lizada para tornar mais fácil a coleta e análise dos dados. Acompanhe! 3 FERRAMENTAS DA QUALIDADE 39 3.1.6 FOLHA DE VERIFICAÇÃO Esta ferramenta é empregada para a apresentação dos dados de maneira clara e sucinta, o que é muito útil para diminuir erros e confusões na hora da coleta dos dados. Ela é bastante confiável para a tomada de decisões. As Folhas de Verificação podem ser divididas em 4 tipos: • para distribuição do processo de produto, com o objetivo de conhecer a variação nas dimensões da peça; • de itens defeituosos, para saber quais os defeitos mais frequentes, número de vezes e motivo; • para localização do defeito, visando a encontrar defeitos externos (tais como: manchas, riscos e ou- tros), importante ferramenta para análise do processo; • de causas de defeito, para investigar as causas do defeito, após a análise da estratificação ou do dia- grama de dispersão. O objetivo desta ferramenta é gerar um quadro com dados claros, que representem a realidade dos acontecimentos promovendo sua análise e o tratamento posterior. Estes dados precisam ser a base da discussão e das ações de projetos de melhoria, revelando assim, a importância de se planejar com muita atenção o tipo de formulário que deverá ser utilizado na coleta dos dados, devendo ser adaptado a cada situação. Para tanto, é necessário que os dados obtidos correspondam à necessidade da empresa, como por exemplo, a análise de um processo de corte. A coleta de dados não segue nenhum padrão preestabelecido e pode ser adaptada de acordo com as particularidades do processo fabril da sua própria empresa. É de suma importância que cada empresa desenvolva o seu formulário de registro de dados que per- mita, também que sejam registrados os responsáveis pelas medições e registros, quando e como estas medições ocorreram. FERRAMENTAS DA QUALIDADE40 Distribuição de frequência para o rendimento (%) de uma reação para produção de uma substância química Intervalo i Limites dos intervalos Ponto médio Frequência fi Frequência relativa ( )fi 1 2 3 4 5 69,5 72 74,5 77 79,5 72 74,5 77 79,5 82 70,75 73,25 75,75 78,25 80,75 2 2 4 16 20 0,025 0,025 0,05 0,2 0,25 Acetilcolina nos glóbulos vermelhos μmol/ml Frequência 6,8 – 8,0 8,0 – 10,0 10,0 – 12,0 12,0 – 14,0 14,0 – 16,0 16,0 – 18 Total 1 8 14 9 2 1 35 Folha de vericação Desvio Frequência Especic. Especic. Vericações -7 -6 -5 -4 -3 -2 -1 0 7 6 5 4 3 2 1 Total: 5 10 15 20 1 3 6 9 11 8 7 3 2 1 51 X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X8.300 D ie go F er na nd es (2 01 5) Figura 10 - Folha de verificação Fonte: Adaptado de May (2014) 3 FERRAMENTAS DA QUALIDADE 41 A seguir você vai conhecer umas das ferramentas gerenciais mais utilizadas para análise, planejamento e tomada de decisões, o Ciclo PDCA. 3.1.7 CICLO PDCA O Ciclo PDCA origina-se das palavras em inglês: Plan, Do, Check, Action, sendo uma das ferramentas gerenciais usadas para análise no planejamento e na tomada de decisões. Foi criado por Walter Shewhart como um ciclo de análise e melhoria, em meados da década de 20, e seu uso foi anunciado por Deming como uma sequência lógica de quatro etapas repetitivas utilizadas na melhoria e na aprendizagem contínuas (roda de Deming ou como a espiral contínua da melhoria). CURIOSIDADES Você sabia que o ciclo PDCA quer dizer: Planejamento, Execução das Tare- fas, Verificação, Atuação Corretiva, sendo um ciclo de ações que precisa ser seguido conscientemente para atingir com sucesso o objetivo proposto? Trata-se de um método gerencial de tomada de decisões visando a garantir o alcance dos objetivos definidos. Vericar os resultados A P D C Agir em função dos resultados Denir metas Denir métodos Educar e treinar Executar “Action” (agir) “Check” (vericar) “Plan” (planejar) “Do” (executar) D ie go F er na nd es (2 01 5) Figura 11 - PDCA Fonte: Adaptado de May (2014) FERRAMENTAS DA QUALIDADE42 Campos (1996), explica que o Ciclo PDCA (Plan, Do, Check, Action) tem as seguintes etapas: 1. Planejamento Estabelecer metas, estabelecer o método para atingir as metas. Educar e treinar as pessoas no método escolhido, executar o planejado e coletar dados para próxima etapa.2. Execução Comparar os resultados obtidos com as metas.3. Vericação 4. Atuação corretiva Se as metas foram alcançadas, adotar o método utilizado como padrão; se não foram atingidas as metas, agir sobre as causas do não atingimento das metas. D ie go F er na nd es (2 01 5) Figura 12 - Etapas do Ciclo PDCA Fonte: Da autora (2015) Para que você entenda melhor, o Ciclo PDCA é uma espiral contínua da melhoria, em cada aplicação (giro do PDCA), deve-se melhorar (evoluir), lembrando que se deve ter o cuidado de colocar sistemas “an- tirrecuo”, que irão prevenir a volta ao estado anterior, evoluindo assim como uma espiral ascendente. Um ponto muito importante sobre o PDCA é que o mesmo tem pontos de início diferentes conforme a situação apresentada. Quando se tem uma situação nova, o ciclo será o PDCA, que inicia pelo plane- jamento e a definição das metas e os objetivos a serem alcançados. Já, quando se está analisando um processo, ou rotina em execução, o ciclo será CAPD. Neste caso o ciclo deverá iniciar pela análise do que está acontecendo, o “C”, onde você irá verificar os resultados obtidos e com base nesses resultados, agir para padronizar os procedimentos se os resultados são os esperados. Deve-se agir corretivamente para implantar as modificações necessárias quando os resultados obtidos não são os esperados ou quando os mesmos devem ser melhorados. O PDCA é aplicado para alcançar resultados no contexto de um sistema de gestão e pode ser empre- gado em qualquer empresa de forma a garantir o sucesso nos negócios, independentemente da área de atuação. Já a previsibilidade dos resultados em uma organizaçãoacontece quando a sua rotina diária está sistematizada e gerenciada. Ressalta-se que para gerenciar a rotina aplica-se o SDCA. FIQUE ALERTA Campos (2007), costuma alertar as pessoas quando essas declaram que já conhecem o desenho do PDCA. Ele costuma dizer que as pessoas podem saber fazer o desenho, mas fazer uso dele no dia a dia é mais complexo. Ele destaca ainda que não dá para usar bem o PDCA (melhoria da operação) sem o SDCA (boa operação), pois é difícil melhorar o que é aleatório. Primeiramente as empresas precisam garantir a disciplina operacional ou a boa execução do trabalho padronizado, que somente é obtida pela padronização de processos e tarefas, por meio de um treinamen- to exaustivo e uma participação voluntária e alegre do operador. Campos (2007) ressalta que também é 3 FERRAMENTAS DA QUALIDADE 43 necessário monitorar os resultados para constatar a estabilidade dos resultados dos processos. Quem pre- cisa realizar a correção dos desvios é a própria equipe que desenvolve a atividade, atingir este resultado é o auge de um bom SDCA. CURIOSIDADES Você sabia que uma empresa com um bom SDCA é a verdadeira “Empresa que Aprende” (learning organization)? Uma adaptação que merece destaque do ciclo PDCA foi introduzida com a explicitação da visão de De- ming de aprendizado e melhoria empregando o Ciclo PDCA, assim o mesmo passa ser nominado de PDCL, em que o “L” vem de learning – aprendizado. Esta definição é utilizada no MEG (Modelo de Excelência de Gestão) da Fundação Nacional de Qualidade e nas mais recentes versões da Norma ISO 9000. SAIBA MAIS Durval Muniz de Castro (1994) em sua investigação do caráter humano da qualidade fez uma adaptação do Ciclo PDCA para o português, denominado de Ciclo de VIDA: visão, implementação, discernimento e ajuste. Castro afirma que o Ciclo da Qualidade não deve ser encarado somente como um instrumento de racionalidade e controle, e em seus estudos busca evidenciar sua relação com a criatividade e a motivação das pessoas. Você pode ler mais acessando o site: <www.rausp.usp.br/download.asp?file=2902032.pdf>. Você estudou neste último tópico o Ciclo PDCA. Na sequência você irá entender o que é o brainstor- ming. Acompanhe! 3.1.8 BRAINSTORMING Segundo a Sociedade Latino-americana para a Qualidade, a “chuva de ideias” ou Brainstorming foi cria- da em 1941, por Alex Osborne, como uma técnica de grupo para gerar ideias. O brainstorming é utilizado para: • expor e buscar ideias do grupo; • buscar novas ideias visando solução de problemas. Quando você tem uma grande ideia durante um brainstorming é necessário ter alguns cuidados. Con- fira a seguir alguns deles. FERRAMENTAS DA QUALIDADE44 et er na lc re at iv e ([2 0- -? ]) Não debata e não ridicularize as ideias; não admita monopólio de sugestões; permita que os chefes e líderes ou secretários, enfim quem estiver liderando o brainstorming, exponham suas ideias por último. Inicie sempre a solicitação de sugestões pela direita ou pela esquerda do chefe, de forma que ele seja o último a falar, pois isto permite que ele improvise uma análise de todas as ideias expostas antes de colocar suas próprias ideias, ao mesmo tempo em que não inibe os empregados em função do chefe já ter exposto sua visão do assunto. Defina um tempo limite para geração de ideias. Você deve escrever cada ideia como apresentada; registrar de modo visual a todos; consentir que cada pessoa exponha uma ideia de cada vez ou que as registre por escrito; circular a solicitação de ideias; redis- cutir com base nas ideias apresentadas. Existe 2 (duas) fases envolvidas no brainstorming segundo Banas (2004), a fase de geração e a fase de esclarecimento. Conheça cada uma delas a seguir. FASE DE GERAÇÃO Nesta fase, o facilitador repassa as diretrizes e o objetivo da sessão de brainstorming. Os membros da equipe organizam uma relação das ideias. O objetivo dessa fase é gerar o maior número possível de ideias para, em seguida, cada membro da equipe oferecer uma única ideia por vez. Nessa prática, as ideias não são criticadas, nem discutidas, mas sim, são registradas onde todos os membros da equipe possam vê-las. O processo continua até que não exista mais geração de ideias. 3 FERRAMENTAS DA QUALIDADE 45 FASE DE ESCLARECIMENTO Nesta fase, a equipe avalia a lista de ideias para assegurar que todos as tenham entendido. A avaliação das ideias será feita assim que terminar a sessão de brainstorming. Portanto, o brainstorming é um método que deve ser utilizado em conjunto com outros métodos, para provocar a iniciativa, a criatividade e a busca de causas dos problemas. A seguir, você vai estudar um método de análise de problemas visando a demonstrar o uso do brains- torming. 3.1.9 MÉTODO 5W1H (3Q1POC) O mais antigo registro deste método está no “Tratado sobre Oratória”, escrito por Quintilianus entre os anos 30 e 100 D.C. Trata-se de um tratado de obras discursivas, de crítica literária e ensinamentos morais, os quais para se obter a compreensão do público sobre qualquer tema era necessário o uso do hexágono de perguntas (e respostas): O QUE, QUEM, QUANDO, ONDE, POR QUÊ e COMO. O 5W1H se transforma em 5W2H, quando inclui-se o “quanto custa”, ou seja, how much. Dependendo do uso do 5W2H, é feito apenas um ajuste na forma de perguntar para que os problemas sejam primeiramente avaliados. Em seguida, devem ser propostas soluções. PERGUNTAS AVALIAR PROBLEMAS (ANALISAR) PROPOR SOLUÇÕES (PLANEJAR) What O quê é o problema? vai ser feito? qual a ação? Who Quem está envolvido? será o responsável? Where Onde ele se encontra? será implantada? When Quando ele ocorre? Ou, desde quando? será feito? Why Por quê ocorre ? foi definida esta solução? How Como surgiu o problema? vai ser implementada? How Much Quanto custa ter este problema? esta solução? Quadro 3 - Método 5W2H Fonte: Adaptado de Banas (2009) CURIOSIDADES O poeta e contista inglês Rudyard Kipling (1865-1936) compôs a seguinte trova: Seis fiéis colaboradores, ensinam-me tudo que demando. São eles: O Que, Quem, Onde, Quando, Por Quê e Como. Quando se acrescenta o item “quanto custa” (How Much) teremos o método 5W2H. FERRAMENTAS DA QUALIDADE46 O 5W2H é conhecido como “o sonho do subordinado” ou “a esperança do líder”. O empregado sempre sonhou em receber as ordens sob a forma de 5W2H: o que se deve fazer, quem é o responsável, onde deve realizar a tarefa, quando deve fazer, porque deve fazer, como deve realizar a tarefa e quanto custará. O líder sonha que os subordinados lhes tragam os problemas sob a forma de 5W2H: o que está aconte- cendo, quem pode resolver o problema, onde está o problema, quando ele pode ser solucionado, por que ele deve ser resolvido com urgência, como pode ser solucionado e quanto custará. FIQUE ALERTA Na aplicação do 5W2H A resposta do “Quem?” deve ser sempre um nome, um responsável; alguém que irá assumir a responsabilidade pela implantação da solução ou pela apresentação do problema. Nunca se deve usar expressões como: Grupo de trabalho, área “tal”, todos etc. Quando você necessitar referenciar uma área, deve citar o responsável e a área, exemplo: João, Divisão Compras. O “Quando?” precisará determinar um tempo preciso que torne claro a ocasião da ocorrência, o período ou o início do problema. Para uma solução ou plano de ação, o prazo final para conclusão será o início da implantação (dia/mês/ano). Não use nun- ca expressões como: semana que vem, imediatamente etc. Agora que você já conheceu os métodos 5W1H e 5W2H, confira a seguir outra importante ferramenta utilizada para o estudo de processos, o fluxograma. 3.1.10 O FLUXOGRAMA O fluxograma é uma das importantes ferramentas a se utilizar quando se quer estudar um de- terminado processo. É um diagrama sistemático que visa representar de uma forma bem simples, ordenada e de fácil compreensão as etapas de qualquer procedimento, processo de fabricação, funcionamento de sistemas ou equipamentos, dentre outros, bem
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