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Endocrinologia Caroline Siza Hipotireoidismo Fisiologia da tireoide Tipos celulares: Células foliculares: síntese dos hormônios da tireoide. Células endoteliais: revestem os capilares responsáveis pelo suprimento sanguíneo dos folículos. Células parafoliculares (C): síntese da calcitonina, um hormônio que atua no metabolismo do cálcio. Fibroblastos, linfócitos e adipócitos. A síntese desses hormônios envolve as seguintes etapas: Transporte ativo do iodeto (I-) para o interior da célula tireoidiana. Oxidação do I- e ligação e resíduos tirosil da tireoglobulina (Tg), formando a monoiodotirosina (MIT) e a di- iodotirosina (DIT) Acoplamento de duas moléculas de DIT para formar o T4, e MIT + DIT para gerar o T3. Proteólise da Tg, com liberação dos hormônios livres na circulação. A oxidação do iodo e a reação de acoplamento são catalisadas pela peroxidase tireoidiana (TPO). A tireoide normal produz todo o T4 circulante e cerca de 20% do T3 circulante. 80% restantes do T3 circulante provêm da deiodinação periférica do T4, por meio da ação das deiodinases tipo 1 e 2. A maior parte da atividade biológica dos HT provém dos efeitos celulares do T3, que tem maior afinidade pelo receptor do hormônio tireoidiano e é cerca de 4 a 10 vezes mais potente do que o T4. Deiodinase tipo 3 é responsável pela metabolização periférica do T4 em T3 reverso, metabolicamente inativo. Uma vez liberados na circulação, T e T se ligam, de maneira irreversível, a três proteínas plasmáticas: globulina ligadora de tiroxina (TBG), transtirretina (TTR) e albumina. Aproximadamente 70% do T e 80% do T são ligados à TBG, e o restante, por sua vez, liga-se à TTR e à albumina. Assim como nos outros hormônios, tem-se o eixo hipotálamo-hipófise-órgão alvo O hipotálamo vai produzir TRH A hipófise vai produzir o TSH TSH vai estimular à tireoide Tireoide produz t3 e t4 Os hormônios são regulados por feedback. Então se eu tenho um excesso de hormônio tireoidiano (t3 e t4) na periferia isso vai gerar uma resposta de feedback negativo pra diminuir a produção de TSH e de TRH. Ao mesmo tempo, se eu tenho uma diminuição desses hormônios da tireoide, tem-se a resposta de aumento na produção de TRH e TSH, para que haja um estímulo da tireoide. Definição O hipotireoidismo é uma síndrome clínica resultante da deficiente produção dos hormônios tireoidianos, com consequente alentecimento generalizado dos processos metabólicos de modo geral. Se há diminuição desses hormônios, consequentemente há diminuição dos processos metabólicos no geral. Primário: mau funcionamento da própria tireoide Secundário: causa hipofisária, por deficiência de tireotrofina ou TSH. Terciário: deficiência hipotalâmica do hormônio liberador da tireotrofina não TRH. Iodo + tirosina = MIT 2iodo + tirosina = DIT MIT + DIT = T3 DIT + DIT = T4 Endocrinologia Caroline Siza Epidemiologia Maioria é do tipo primário (doenças da glândula tireoide, com diminuição da produção de hormônios) Causas centrais <1% dos casos (hipotálamo ou hipófise) Primário Tireoidite de Hashimoto* Tireoidectomia por bócio ou CA Ablação com iodo radioativo Irradiação externa Tireoidite pós-parte Tireoidite subaguda Deficiência de iodo Tireoidite de Riedel Defeitos da síntese hormonal Estopia ou agnesia tireoidiana Hipotireoidismo neonatal transitório por anticorpos maternos Excesso de iodo Drogas antitireoidianas – p/ tto. de hipertireoidismo, por exemplo. Outras drogas: lítio, amiodarona, interferon, etc. Outras doenças que podem acometer a tireoide: sarcoidose, amiloidose, tumores. Secundário Adenoma e hipófise Hipofisectoia por tumor Irradiação craniana Doenças ifeccionas, granulomatosas ou infiltrativas da hipófise Trauma craniano – hipófise pode ser atingida. Síndrome de Sheehan Deficiência congênita de TSH Pan-hipopituitarismo idiopático – deficiência de todos os hormônios hipofisários, que não foi possível identificar a causa. Terciário Disfunção hipotalâmica o Cirurgia, irradiação ou alguma outra doença hipotalâmica que vai chegar ao hipotireoidismo terciário. Quadrooclínico Sintomas em adultos: Fadiga, sonolência Intolerância ao frio Perda de memória Menorragia e infertilidade Dificuldade de concentração Mialgia, artralgia, câimbras, cefaléia Raciocínio lentificado Obstipação intestinal Depressão Discreto ganho de peso (3-5kg) Sinais em adultos: Edema fixo (mixedema) Disfonia, fala lenta Pele amarelada Hipotermia Alopecia Macroglossia Unhas frágeis Sd. do túnel do carpo Bradicardia Ins. Cardíaca Hipertensão diastólica Derrames (pleral, pericárdico, ascite) Xerodermia Lentificação psicomotora O metabolismo com um todo, deixa a pessoa lentificada. Muitos sintomas e muitos inespecíficos. Não há sinal/sintoma patognomônico Hipotireoidismo não leva ninguém a obesidade, o aumento de peso é no Endocrinologia Caroline Siza máximo de 5 kg e resultante de edema, retenção de líquido. PA sistólica do paciente geralmente não é atingida. Sinais são vistos mais frequentemente em pacientes que estão bem descontrolados. Fácies mixedematosa: inchaço, palidez, edema periorbital e rarefação do terço distal das sobrancelhas (madarose) Hipotireoidismo primário antes (A) e depois de quatro meses de terapia com L- tiroxina (B). Notar a completa reversão das alterações fisionômicas induzidas pela doença. Rastreamento Condições clínicas a serem consideradas para avaliação tireoidiana: Mulheres na idade fértil ou mais idosas, especialmente acima de 60 anos. Mulheres grávidas o Hipotireoidismo na gestação pode levar a malformação fetal e a hipotireoidismo neonatal -> malformação do sistema nervoso central, feto pode ter demência. Faz parte do acompanhamento neonatal. Tratamento anterior de radiação da tireoide (iodo radioativo ou radiação terapêutica externa, como de CA de cabeça e pescoço que pode afetar a tireoide) Cirurgia tireoidiana ou disfunção tireoidiana prévia. Diabetes mellitus tipo 1. História pessoal de doença autoimune (vitiligo, síndrome de Sjögren, lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatoide) o Lembrar que uma doença autoimune acompanha a outra. Síndrome de Down Síndrome de Turner História familiar de doença tireoidiana Presença de bócio e/ou positividade para ATPO Sintomas clínicos de hipotireoidismo Uso de drogas tais como: lítio, amiodarona, interferon alfa, sunitinib e sorafenib Hiperprolactinemia Dislipidemia Anemia Insuficiência cardíaca. Diagnóstico A partir dos sintomas clínicos ou outra indicação de rastreamento (na ordem): 1. Dosagem de TSH 2. Confirmação do TSH e T4l 3. Complemento: anti-TPO, USG TSH e T4l: Hipotireoidismo primário Aumento no estímulo a tireoide (TSH) para que haja produção de T3 e T4 diagnóstico de hipotireoidismo primário. TSH e T4l normal: hipotireoidismo subclínico Acontece quando a tireoide já não funciona de forma normal, o nível normal de T4 se dá à custa de aumento de TSH acontece antes do hipotireoidismo primário. TSH normal ou e T4l: hipotireoidismo central (causa hipofisária ou hipotalâmica) Não há resposta de feedback. Para a população em geral, o valor tradicional da variação normal do TSH (0,45-4,5 um/L). Endocrinologia Caroline Siza Níveis de corte mais elevados de TSH devem ser considerados para pacientes idosos. Fisiologicamente os pacientes mais idosos tem o metabolismo mais lento, o corpo não necessita tanto de T3 e T4 como os pacientes mais jovens. Tireoidite de Hashimoto Tireoidite linfocítica crônica autoimune Forma mais comum de tireoidite e a causa mais frequente de hipotireoidismo Mais frequente em mulheres, após30- 40 anos de idade. Pode ter associação com outras doenças auto-imunes. Destruição citotóxica das células foliculares tireoidianas. Pode cursar com bócio leve a moderado, consistência firme e títulos aumentados de autoanticorpos contra tireoide (mais comum anti-TPO). Deficiênciaodeoiodo. Ainda é causa comum de hipotireoidismo nos países pobres, onde não há iodação do sal de cozinha de forma obrigatória. Pode cursas com bócio de grande volume e retardo mental. Não há mais no Brasil por conta de iodação de sal. Alteraçõeso metabólicaso eo hormonais no hipotireoidismo Alterações metabólicas: Colesterol total Aumento LDL – colesterol Aumento HDL-2-colesterol Aumento modesto HDL-3-colesterol Nenhuma alteração Triglicerídeos Nenhuma alteração ou aumento modesto Transaminases, CPK, DHL e CEA Aumento PCR ultrassensível Aumento Homocisteína Aumento Lipoproteína(s) Aumento Sódio sérico diminuição Alterações hormonais: Resposta do GH aos Diminuição testes de estímulo IGF-1 e IGFBP3 Diminuição Tratamento Em todos os tipos de hipotireoidismo, o tratamento será o mesmo. Levotiroxina sódica (1ª escolha) – T4 o No Brasil é o único medicamento disponível para o tratamento. Dose média de 1,5mcg/kd/dia em adultos Iniciar com doses baixas em idosos (>60 anos) ou cardiopatas: 12,5 a 25mcg/dia, com aumentos graduais a cada 4-8 semanas. Tomar medicação pela manhã, em jejum. Sem nenhum alimento ou outra medicação, pois pode interferência na absorção. o Aguardar 30-40min para se alimentar ou tomar outra medicação. o Tomar todos os dias no mesmo horário. Para evitar variações de bioequivalência entre as diferentes marcas, sugere-se evitar mudanças na preparação da levotiroxina durante todo o tratamento. Em casos de mudança, os níveis de TSH E T4 livre devem ser sempre verificados após 2 meses. o Paciente deve também tomar cuidado com os tipos de sal, idealmente deve ser o mesmo. Alvo – normalização dos níveis de TSH, tolerando níveis mais elevados em idosos. Metas na reposição da L=T4 de acordo com a faixa etária: Faixa de idade (anos) Níveis de TSH (mUI/ℓ) 20 a 60 0,5 a 2,5 60 a 70 2 a 6 70 a 80 2 a 8 >80 Até 10 Monitoramento do TSH a cada 4-8 semanas após qualquer alteração da dose de levotiroxina Quando o eutiroidismo é alcançado, monitoramento ao logo da vida a cada seis meses ou anualmente. Endocrinologia Caroline Siza Como abordar pacientes com hipotireoidismo, com persistência dos níveis elevados de TSH, apesar de altas doses de reposição com levotiroxina? Descartar a má adesão e ingesta incorreta. o Dar a opção de o paciente tomar antes de dormir, caso tenha dificuldade de tomar pela manhã, com um intervalo de pelo menos 4 horas sem se alimentar. Considerar possíveis interações com alimentos (café expresso, proteína de soja, fibras dietéticas) e medicamentos (ferro, cálcio, agentes sequestradores de ácidos biliares, sucralfato, hidróxido de alumínio e os inibidores da tirosina- quiase, rifampicina) Síndromes de má absorção que podem alterar a absorção de L-T4 (doença celíaca, gastrite crônica, infecção por H. pylori e Giardia) Situações que aumentam a necessidade: Diminuição da absorção intestinal da L- T4 o Doenças intestinais inflamatórias: Crohn, retocolite ulcerativa, doença celíaca,etc. o Giardíase crônica; outras parasitoses intestinais. o Cirurgias: derivação gástrica em Y de Roux; jejunostomia, etc. o Enteropatia diabética o Intolerância à lactose. o Gastrite atrófica; infecção pelo H. pylori. o Síndrome do intestino curto. o Fármacos: sulfato ferroso, carbonato de cálcio, inibidores da bomba de prótons (uso crônico), colestiramina, colesevelan, sucralfato, hidróxido de alumínio ou magnésio, raloxifeno (?), orlistat (?) o Hábitos nutricionais: dieta rica em fibras ou proteína de soja; café; suco de toranja; frutas cítricas, etc. Aumento do metabolismo hepático da L-T4 (estímulo do CYP3A4) o Fármacos: rifampicina, fenobarbital, estrogênio, carbamazepina, fenitoína, sertralina, etc. Diminuição da conversão de T4 em T3 o Fármacos: amiodarona, glicocorticoides (dexametasona ≥4mg/dia) betabloqueadores (propranolol >160mg/dia), etc. Inibição da secreção dos hormônios tireoidianos o Fármacos: amiodarona, lítio, iodeto, contrastes radiológicos contendo iodo, sulfonamidas, etc. Bloqueio da síntese de deiodinases o Defici~encia de selênio, cirrose Aumento da TGB o Fármacos: estrogênio, tamoxifeno, mitotano, heroína/metadona Deiodinação do T4 + aumento da TGB o Gravidez Mecanismos desconhecidos ou complexos: o Agentes antidiabéticos: metformina, meglitinidas, sulfonilureias, glitazonas, insulina o Antidepressivos: tricíclicos (amitriptilina), SSRI (sertralina) o Anticoagulantes orais: derivados da cumarina ou da indadiona. o Citoquinas: interferon-alfa, interleucina-2 o Inibidores da tirosinoquinase: sunitinibe, sorafenibe o Outros: diazepam, etioinamida, diuréticos tiazídicos, hrGH, simpaticomiméticos. Necessidade diminuída Envelhecimento (>65 anos) Terapia androgênica em mulheres. Endocrinologia Caroline Siza Como abordar pacientes com sintomas persistentes de hipotireoidismo? Se persistirem os sintomas de hipotireoidismo apesar do tratamento adequado, outras comorbidades devem ser descartadas. O aumento da dose de levotiroxina ou a terapia de combinação com triiodotironina não são recomendados Hipotireoidismo subclínico Elevação persistente do TSH sérico (>4,5 e <20 mU/l) em vigência de t4l normal, níveis alterados por pelo menos 6 meses. Elevação transitória do TSH é observada a fase de recuperação das tireoidites (subaguda, silenciosa e pós- parto), após iodoterapia no tratamento do hipertireoidismo de Graves, em pacientes hospitalizados gravemente enfermos (síndrome do eutireoideo doente) Anti TPO e USG de tireoide podem ajudar a prever um maior risco de progressão para hipotireoidismo clínico. TSH ≥ 10mU/l está associado a um aumento do risco de eventos coronarianos e mortalidade por DAC. Tratar todos os pacientes com TSH persistentemente >10 mU/l – maior probabilidade de progressão para a doença manifesta, e um maior risco de insuficiência cardíaca congestiva, doença cardiovascular e mortalidade. Se aumento discreto o TSH (4,5-10mU/l), o tratamento deve ser considerado para pacientes <65 anos que apresentam um aumento do risco cardiovascular (doença cardiovascular prévia, diabetes, dislipidemia, hipertensão, síndrome metabólica), especialmente quando o nível de TSH é persistentemente >7 mU/l. O tratamento pode ser considerado para pacientes com aumento leve e persistente dos níveis de TSH com ATPO positivo e achados ultrassonográficos típicos de tireoidite autoimune. Verificar fluxograma ao final. Síndromeodooeutireoideoodoente Doenças sistêmicas graves e cirurgias de grande porte em geral levam a alterações na função tireoidiana. Não é o momento ideal para investigação de hipotireoidismo por conta do estado dessa doença grave. O pedido de exame par investigação só é oportuno se o paciente já tivesse alguns sinais clínicos de hipotireoidismo. Redução do T3 sérico, por redução da conversão periférica de T4 em T3, com aumento concomitante do T3 reverso. Os níveis do T4 total variam bastante. Em casos eventuais estão elevados, mas na maioria das vezes estão normais. Entretanto, com o progredir da doença de base ou nos casos mais graves, tendem a cair e podem se mostrar muito baixos (<1 ou 2 g/dl) O TSH sérico com frequência encontra-se normal, mas pode estar diminuído nos casos mais graves. Durante a fase de recuperação, os níveis de T3 e T4 normalizam-se, e o TSH se eleva por algum tempo e pode alcançar 20mUI/l. Os estudos com reposição de T4 ou T3, na sua maioria, não demonstrarammelhora da sobrevida dos pacientes com a SED. Extra i. Se for escolher somente um exame para fazer rastreio, deve ser o TSH, se estiver alterado confirma-se com uma nova dosagem e T4 livre. Endocrinologia Caroline Siza
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