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Caso concreto 2

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CASO CONCRETO 2
De acordo com o princípio da responsabilidade patrimonial do executado, devedor responde com seus bens presentes e futuros no cumprimento de suas obrigações, salvo as restrições previstas em lei (artigo 789 CPC), quando ele se desfaz de seus bens para não pagar a obrigação está praticando um ato ilícito, porque ele pode se tornar insolvente e não ter como pagar seus credores. Dessa forma, pode-se falar em dois tipos de fraude: fraude contra credores e fraude à execução.
A fraude à execução é um instituto do direito processual que está prevista no artigo 792 do CPC/2015, na qual o devedor aliena um bem para fugir ao pagamento de uma dívida, e sendo o objeto da demanda específico não é necessário que haja a insolvência (art. 792, I CPC).
 É um ato atentatório à dignidade da justiça, conforme o artigo 774, I do CPC/2015. A partir do momento que o devedor é citado no processo de execução ele já tem a consciência que não poderá vender o bem, pois a fraude à execução, neste caso, é quando ocorre a alienação após a citação do devedor (artigo 792, IV CPC). Também não poderá fazê-lo, ainda que não tenha sido citado, se o exequente tiver feito a averbação da execução nos registros públicos (artigo 799, IV, CPC). O juiz concede uma certidão ao credor que leva ao cartório onde está registrado o imóvel e pede a averbação à margem dos bens do devedor (artigo 792, II e III CPC). Se o devedor alienar o bem após essa averbação, a alienação torna-se ineficaz, ou seja, não produz efeitos, porque neste caso presume-se fraude à execução. 
É o entendimento de Gonçalves (4):
“A fraude à execução não se caracterizará pela alienação de um bem determinado, mas de qualquer bem do patrimônio do devedor, desde que disso resulte o estado de insolvência. Ela existirá se, no patrimônio do devedor, não forem encontrados bens suficientes para fazer frente ao débito, e ele não os indicar. Se iniciada a execução, eles não forem localizados ou identificados, presumir-se-á o seu estado de insolvência, e as alienações que tiverem ocorrido desde a citação na fase cognitiva serão declaradas em fraude à execução.”
O STJ determinou que o reconhecimento da fraude à execução depende do registro da penhora do bem alienado ou da prova de má-fé do terceiro adquirente. E é do credor o ônus de provar que o terceiro adquirente estava de má-fé quando adquiriu o bem (Resp 956.943-PR). 
A consequência do reconhecimento da fraude à execução é a ineficácia do ato perante o exequente.O bem continua no nome do terceiro adquirente, porém vai responder pela execução. De acordo com Thamay, o terceiro adquirente terá o ônus de provar que tomou as medidas necessárias para aquisição, no caso de bem que não tem registro, e terá a oportunidade de opor embargos de terceiros no prazo de 15 dias.
Assim ocorre no agravo de instrumento abaixo:
EMENTA
AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO FISCAL. CIÊNCIA DO REDIRECIONAMENTO. FRAUDE À EXECUÇÃO. OCORRÊNCIA.
Realizado negócio jurídico entre o sócio-gerente da empresa executada, já redirecionado, e terceiros, ainda que a citação tenha ocorrido após a perfectibilização da venda, estavam os adquirentes cientes da existência de certidão positiva em relação ao alienante. Fraude à execução reconhecida. (TRF-4 – AG: 50362469620164040000 5036246-96.2016.4.0000, Relator: Alexandre Gonçalves Lippel, data de julgamento: 04/12/2019, Primeira Turma).
	A fraude contra credores é instituto de direito material, vício do negócio jurídico, previsto no artigo 158 a 165 do CPC/2015, o executado aliena seu patrimônio, de forma maliciosa, tornando-se insolvente para cumprir com obrigações junto aos credores.
 Caracteriza-se pela insolvência do devedor com a alienação dos bens e pelo consilium fraudis que é a ciência pelo terceiro que foi beneficiado com a alienação. Porém, em se tratando de doação não é preciso levar em conta a ciência do donatário. Conforme afirma Humberto Dalla (1):
“Para a sua caracterização devem estar presentes os pressupostos objetivos e subjetivos, respectivamente: a existência de dano aos credores, isto é, a alienação ou oneração do bem ocasiona a insolvência do devedor e o propósito de fraudar os créditos por meio do negócio jurídico com a ciência do terceiro beneficiário (consilium fraudis).”
A anulação do ato fraudulento ocorre por meio da ação pauliana, na qual o autor tem o ônus de demonstrar a fraude, não se presumindo sua existência. No pólo passivo figura o devedor e o terceiro adquirente, devendo averiguar se havia ou não boa-fé. No caso de doação presume-se a má-fé, mas nos negócios onerosos a má-fé deve ser provada. 
	A consequência da fraude contra credores é a anulabilidade do negócio jurídico por meio da ação pauliana, com o bem voltando a integrar o patrimônio do devedor.
	Por fim, a fraude contra credores não se confunde com a fraude à execução, uma vez que esta última é um vício muito mais grave que não atinge apenas os interesses dos credores, afetando diretamente a autoridade do Estado. (Agravo de Instrumento nº 0017028-25.2013.8.19.0000).
	No caso em tela, como ainda não havia sentença, não poderia haver também a citação do devedor para a execução. Portanto, é cabível a fraude contra credores, a qual necessita de ação própria para o reconhecimento da fraude, a ação pauliana. 
Fontes:
1) DALLA, H. Direito Processual Civil IV. Rio de Janeiro: UNESA, 2017.
2) FRAUDE à execução. Disponível em: <WWW. JUSBRASIL.COM.BR>. Acesso em 04 de maio de 2020.
3) FRAUDE contra credores. Disponível em: <WWW. JUSBRASIL.COM.BR>. Acesso em 04 de maio de 2020.
4) Gonçalves, M. V. Direito Civil Esquematizado. São Paulo: Saraiva, 2018.
5) THAMAY, R.F.K. Manual de Direito Processual Civil. São Paulo: Saraiva, 2019.

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