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A adesão das Câmaras e a figura do imperador

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Revista Brasileira de História 
ISSN 0102-0188 versão impressa 
Rev. bras. Hist. v. 18 n. 36 São Paulo 1998 
doi: 10.1590/S0102-01881998000200015 
A adesão das Câmaras e a figura do imperador 
 
Iara Lis Carvalho Souza 
Universidade Estadual Paulista - Campus de Assis 
 
 
Resumo 
Este texto aborda a maneira pela qual as Câmaras de todo país aderiram à 
figura de D. Pedro I no início da década de 1820, celebrando assim um novo 
contrato social que fundava o Brasil como um corpo político autônomo. Tal 
adesão implicava tanto uma cena pública que explicitava a relação entre a 
localidade e o governante, quanto arregimentava as tropas e conferia uma 
importância à praça pública. 
Palavras-chave: Brasil, Câmara; Cultura; Política. 
Abstract 
In this article I intend to analyse links between D. Pedro I and the adhesion of 
the cities councils in Brazil, when one must establish another social contract. 
This question is concerned with Brazil's new condition as an autonomous 
political body. This adhesion requires special attention to armies and allows to 
discovery of the importance of the city square within the political culture at the 
beginning of 19th century. 
Key words: Brazil; Cities Councils; Political Culture. 
 
 
Uma das questões capitais da década de 1820, sobretudo dos anos de 
1820-1824, gravitava em torno da questão do contrato social. De um lado, 
debatia-se com afinco nas Cortes portuguesas os parâmetros do pacto que 
sustentaria e manteria unido o Império luso-brasileiro, ideado desde fins do 
século XVIII por D. Rodrigo de Souza Coutinho1. O deputado português Pereira 
do Carmo indicava a finalidade das Cortes: "[organizar] um novo pacto social, 
 2 
sobre o qual deveria se assentar a felicidade da geração presente, e das 
gerações vindouras", sendo que deste pacto, que funda a nação, nascem as 
leis2. Por outro lado, à medida em que as elites do eixo do sudeste e várias 
províncias viam sua autonomia ser sucessivamente ameaçada e tolhida pelas 
Cortes, passava-se a discutir intensamente o contrato social a ser instalado 
no Brasil que o tornasse e erigisse em um corpo político autônomo3. O 
problema consistia também em engendrar, no Brasil, uma figura política capaz 
de em si encarnar, sistematizar e ordenar-se enquanto a própria soberania, 
catalisando desejos sociais, investimentos políticos e que se conformasse 
como a autoridade pública reinante na jovem pátria brasileira. 
O debate a respeito do contrato social multifacetava-se, porque ia das 
Cortes, instaladas pelo movimento liberal vintista e que se considerava o fórum 
máximo e mais legítimo da ordem política, passando pelas Câmaras, Juntas 
Provisórias, eleições provinciais e locais, atingindo também uma vasta 
produção de panfletos, periódicos, folhetos que discorriam sobre o que 
compreendiam por constituição, representação, cidadão ativo e passivo, 
deputado, monarquia, enfim categorias que operavam e davam sentido ao 
campo do político, centrado, principalmente, no âmbito do constitucionalismo 
liberal4. 
Esta imensa produção discursiva, tão variada em suas proposições, 
interesses, aliados e que disputava a arena política, ora contra este ou aquele 
adversário, funcionava como um aprendizado político por parte das elites tanto 
quanto constituia-se em uma maneira de ir configurando uma série de 
conceitos políticos que cimentavam e instrumentalizavam uma interpretação 
liberal e/ou constitucional do contrato social. 
Gostaria de demarcar aqui um outro vetor político que acabou 
contribuindo para o estabelecimento de uma noção de contrato social que 
atava as Câmaras de todo o Brasil e a figura de D. Pedro, que foi se 
transformando, aos poucos e de modo conflituoso, na figura política capaz de 
sintetizar a soberania. Tal relação entre as Câmaras e D. Pedro não sobrepuja, 
contradiz, denega ou desmerece os enfrentamentos nas Cortes ou as diversas 
falas, alianças e ataques políticos que se encontram nos periódicos, panfletos, 
folhetos, antes se entremeiam e uma prática substancia a outra. Repor a 
importância desta adesão das Câmaras a D. Pedro pode nos fazer vislumbrar 
 3 
redes de poder que argamassaram a autoridade do primeiro imperador, à 
medida em que o processo de centralização monárquica implicava o poder 
local. 
 
A adesão das Câmaras 
No interior e a partir das Câmaras brasileiras, surgiu toda uma dinâmica 
que ao longo de 1822-1823 investiu a figura real de uma determinada 
soberania, porque estas declaravam a sua "adesão" a D. Pedro sob a condição 
de que ele se comprometesse e fizesse uma constituição brasileira. Este 
sistema de adesão ocorreu de modo desigual em todo o Brasil, pois as regiões 
sudeste-sul se alinharam mais rápida e francamente ao príncipe, enquanto, no 
norte-nordeste, a maior parte das províncias se reportava às Cortes ou então 
reclamava e lutava por sua autonomia frente a estes dois pólos centralizadores, 
como queria uma vertente política de Pernambuco5. 
A vantagem de recorrer à Câmara com o objetivo de instaurar uma 
soberania e, ao mesmo tempo, uma legitimidade em D. Pedro, vinha da sua 
antigüidade nas vilas desde o período colonial. Pois a Câmara era tanto um 
órgão administrativo quanto judiciário, que debatia e arbitrava, a nível local, o 
poder político, respondendo pela justiça, fazenda e milícia frente ao poder 
régio6. 
Além disso, mantinha uma ativa correspondência com o Conselho 
Ultramarino e o próprio rei português, defendendo as suas causas, postulando 
mudanças e melhorias, expondo suas mazelas e conflitos, através das petições 
e representações7. Em contrapartida, esta volumosa produção de petições e 
representações continha informações, solicitações e reclamações que 
ajudavam ao rei e ao Conselho Ultramarino a se situarem perante as questões, 
necessidades, rivalidades e tensões, avaliando sua extensão, veracidade, 
danos, responsáveis, possibilitando assim que se montasse uma espécie de 
perfil daquela localidade. De qualquer forma, havia uma prática corrente e 
reconhecida de que a Câmara se dirigia aberta e diretamente à autoridade real 
e esperava, em troca, ser ao menos ouvida ou atendida em seus pedidos e 
considerações. Neste sentido, a Câmara podia manter uma espécie de agente 
diplomático na corte portuguesa no intuito de verificar o andamento de um 
processo, responder rapidamente alguma dúvida ou proposta do poder 
 4 
metropolitano, ou até mesmo podiam fazer um lobby para concretizar um 
objetivo da vila. 
Vários estudos8 indicam a importância da configuração do poder central 
na figura do rei durante o Antigo Regime português, notadamente nos séculos 
XVII e XVIII, que enredava em si mesmo e em contraponto uma rede de 
poderes locais, através das Câmaras, da municipalidade. Tais estudos tentam 
nuançar mais os mecanismos de comunicação e controle existentes entre o 
poder local e o metropolitano, buscando entender seus funcionamentos, redes 
de interesse, força real e o tamanho da autonomia local. Nesta vertente, parece 
possível trabalhar com a seguinte hipótese: talvez, na esfera das práticas, 
possa se pensar que deste trâmite contínuo e tenso, entre a Câmara e o poder 
real-metropolitano - o que não significa que não existisse uma comunicação 
entre as Câmaras -, tenha nascido uma experiência de negociação e, em certa 
medida, uma noção bastante empírica de que uma relação de poder implica em 
um certo contrato. Ou seja, que das práticas cotidianas e institucionais e nas 
relações entre a colônia e a metrópole, pode ter se estabelecido uma cara 
noção de contrato ou, ao menos, de regatear algumas exigências entendidas, a 
partir das vivências sociais, como direitos. 
Por seu turno, a Câmara constituia-se em um elemento de estabilidade9 
para o Império português, visto que fôra instalada em toda a sua extensão 
como o modo de exercer o poder local, transmigrando uma instituição ibérica 
paratodos os continentes. A partir dela organizava-se uma hierarquia local10, 
designando quem podia ou não participar da sua administração local e/ou do 
uso da palavra numa esfera de poder reconhecida pela metrópole. 
Simultaneamente, tal hierarquia se atrelava àquela da corte. Do ponto de vista 
português, ela garantia estabilidade e hierarquia, além de atuar na 
comunicação entre o local e o metropolitano, como gestor de informações 
dentro de uma vila, o que não significa em desmerecer a força de outras 
instituições como a Igreja, as Casas de Misericórdia, as Confrarias. 
No Brasil, a Câmara possuía uma autonomia maior que as suas gêmeas 
portuguesas11, conseguida ao longo dos anos, pela distância, num embate 
constante marcado por regras do falar, etiquetas, mesuras e privilégios, numa 
conformação também do que era um súdito que experenciava o "viver em 
colônia", como diria Vilhena. Havia, por outro lado, uma tradição da Câmara 
 5 
mediar a figura real na localidade à medida em que também estava 
encarregada de celebrá-lo através da liturgia real, do acender luminárias, da 
organização de procissões ou arrecadação de contribuições que custeassem 
as datas da realeza. Isso sem contar as festas católicas, considerando que 
assiduamente a Igreja e a Câmara agiam em conjunto, apesar das disputas de 
uma querer abrilhantar mais a festa do que a outra. Desta forma, a Câmara 
concorria para a mística da realeza e atuava nas festas religiosas, investindo-
se de um potente significado simbólico. Na localidade, ela funcionava como 
uma espécie de continuidade do rei e não desperdiçava a oportunidade de se 
fazer presente e de tentar comandar um tempo lúdico e de comemorações. 
Logo, a população local sentia mais a incidência da Câmara nas suas vivências 
do que um distante monarca no além-mar. 
Nesta perspectiva, a opção pela Câmara enquanto lugar e canal que 
expressasse sua adesão a D. Pedro significava, por parte das elites, recorrer 
às maneiras estabelecidas e cristalizadas de reconhecer e entender o poder 
local, evitando o surgimento de alguma outra instituição ou modo de 
representação que dilatassem o sentido da legitimidade e, no limite, da 
liberdade. Em decorrência disto, a Câmara assegurava à elite local a 
manutenção da sua força e a erigia à condição de um interlocutor capital para 
os interesses dos grupos de Minas-Rio-São Paulo, capitaneados pela corte 
carioca. 
De sua parte, os grupos políticos cariocas de Ledo e Bonifácio remetiam 
às Câmaras as propostas e os conteúdos de uma monarquia constitucional 
centrada em D. Pedro, divulgava a figura do príncipe, acertava o envio ou ação 
das tropas e dos oficiais e ia definindo os ganhos da separação entre Brasil e 
Portugal. 
Cabe enfatizar que a prática das Câmaras consistia, justamente, em se 
relacionar com o poder real nos moldes criados no Antigo Regime. Daí esta 
"continuidade" por sua importância, com a vantagem de tornar o Brasil 
independente e garantir a força e a participação destes homens na esfera 
política e pública, a medida em que exigiam uma assembléia constituinte e uma 
constituição que atendessem aos interesses brasileiros, descartando qualquer 
intervenção portuguesa. Valendo-se de antigas práticas e apostando na 
semelhança de (se revestir com) uma permanência, as Câmaras 
 6 
redimensionavam a sua importância porque se tornavam o contratante que 
celebrava com o príncipe um pacto moldado pela monarquia constitucional, 
engendrando aí um novo contrato social. Observe-se, contudo, que apostando 
e recuperando práticas e representações do passado, as Câmaras e o príncipe 
celebraram um contrato completamente novo calcado num pacto liberal, 
instaurando, assim, uma "descontinuidade" frente às relações de poder 
anteriormente vigentes entre o rei e a Câmara. 
Deve-se, igualmente, ressaltar que, com a instalação das Cortes, houve 
uma ampla reorganização da rede de poder que atingiu todo o Império 
português e afetou o papel das Câmaras. As Cortes promoveram a eleição das 
Juntas Provisórias a partir das Câmaras e no âmbito de cada localidade. As 
Juntas passavam a exercer o poder executivo com todas as suas atribuições12. 
De acordo com o liberalismo vintista, estas Juntas desfrutariam de maior 
legitimidade por resultarem de uma eleição e, conseguiriam governar com 
maior tranqüilidade à medida em que nascessem de uma escolha local. No 
Brasil, desde o começo de 1821, organizavam-se governos provisórios nas 
províncias sem se articularem ou se submeterem, obrigatoriamente, a um 
comando do Rio de Janeiro, experimentando aí uma autonomia na sua forma 
de governar13. 
As Cortes aproveitaram esta reformulação do poder provincial no Brasil, 
através das Juntas, e transformaram-nas em parte do seu projeto de 
reorganização do poder político-institucional, vinculando, assim, as províncias 
ao governo lisboeta e, ao mesmo tempo, atenuando os elos entre as províncias 
e/ou abrindo um outro modo destas relacionarem-se com o Rio de Janeiro, que 
lutava para manter seu estatuto de Corte. 
O outro expediente reformulador da autoridade local, instalado pelas 
Cortes, residia na criação do cargo de governador de armas, encarregado do 
serviço militar e da segurança pública na província, pautado em um poder 
constitucional, não absoluto, preparado para repreender àqueles que se 
opusessem à novas leis e ao vintismo. Este militar era tão somente nomeado 
pelas Cortes14. Desta maneira, abolia-se a autoridade do capitão-general que 
existira durante o período colonial e concentrava em si a autoridade executiva e 
militar, tendo poder inclusive para destituir qualquer outra autoridade local 
quando julgasse necessário. Com a introdução do governador de armas e das 
 7 
Juntas, cindia-se, pela primeira vez no Brasil, o poder executivo e militar e, 
simultaneamente, redimensionava-se o sentido da autonomia local. 
Esta reordenação da autoridade pública no Império investia as Câmaras 
de uma importância capital, visto que as eleições que escolheriam as Juntas 
passavam-se dentro ou a partir dela, à medida que se organizavam a partir das 
eleições nas freguesias. A Câmara servia ainda como um lugar de aprendizado 
político e espaço de negociação dos interesses diversos, habilitando um 
representante a concorrer a um cargo nas Juntas. Assim, no começo da 
década de 1820, as Câmaras estavam em evidência tanto em cada província, 
quanto perante as Cortes, ou ainda frente ao Rio de Janeiro. Por outro lado, as 
Cortes contavam, em cada localidade, com a autoridade do governador de 
armas que, a princípio, ser-lhe-ia fiel. 
Na correspondência15 enviada pelas Câmaras ao Rio de Janeiro, entre 
1822-1824, o termo "adesão" era maciçamente usado no intuito de declarar a 
sua voluntária ligação com o príncipe, elegendo-o seu governante, jurando 
fidelidade e advogando as suas disposições. Tal termo, por si só e nestas 
bases, já evidencia um vinco contratualista. A Vila das Alagoas explicitou o 
significado da adesão: 
Sendo incontestável, que o livre, e unânime consentimento, e vontade 
dos povos é a única legítima origem do poder, e autoridade dos Monarcas, e 
que não há um título mais honesto e glorioso do que aquele que é fundado na 
livre unanimidade da vontade dos mesmo povos, é vossa Majestade Imperial 
sem contradição alguma o mais legítimo e glorioso dos Monarcas, porque foi 
elevado a esse grau pela geral, e espontânea aclamação dos Brasileiros, e em 
cujos corações têm Vossa Majestade Imperial assentado as bases do seu 
vasto Império16. 
Afirmações semelhantes multiplicavam-se abundantemente, num efeito 
de repetição, a ponto de adquirirem um caráter normativo nas relações entre as 
Câmaras e o príncipe que passava à condição de imperador ao "manter o 
poder real, executar as leis fundamentais, o código da nação, sustentar uma 
constituição liberal e a posse, circulação de bens e a sua preferência pelo 
Brasil"em detrimento de Portugal, para recorrer ao palavreado desta 
documentação. Sendo comum esta série documental revelar a ênfase na 
 8 
relação Câmara-príncipe, sem no entanto desprezar ou silenciar sobre as suas 
ligações com as Câmaras vizinhas. 
Para expressar e concretizar tal adesão, a Câmara recorria a diversos 
expedientes, podendo valer-se de um só mecanismo ou lançar mão de vários 
deles. Ela podia enviar uma correspondência oficial à corte firmando a lealdade 
a D. Pedro, onde freqüentemente reivindicava uma constituição, ou então 
nomear um representante da Câmara que fosse ao Rio de Janeiro jurar tal 
fidelidade e explicar os interesses daquela vila. Outro expediente consistia em 
obter, na localidade, uma longa lista de assinaturas dos moradores que eram, 
então, remetidas à capital para demonstrar a adesão de cada um e da 
comunidade como um todo. Poderiam ainda remeter uma detalhada descrição 
do ato de aclamação de D. Pedro como autoridade suprema no Brasil que 
ocorria, na praça central, na frente da Câmara e sob sua batuta. 
Por vezes, uma vila aclamava o príncipe porque a notícia chegava de 
várias maneiras: sob a coerção das tropas, com o alarido das festas, em 
resposta às notícias de Lisboa e do Rio de Janeiro, ou na presença e mando 
do rico proprietário da região. Caso a aclamação fosse boicotada por um 
comandante de tropas ou se reparasse a sua ausência, isto poderia motivar um 
processo de investigação como enfrentou o sargento-mor Gaspar Manoel de 
Figueiroa na Vila de São Mateus no Espírito Santo17. 
A adesão pressupunha que os povos sob os auspícios da Câmara 
inauguravam um novo contrato, onde declaravam sua vontade dele participar e 
o seu consentimento em serem regidos por aquele soberano, enfatizando que 
a origem do poder residia no povo que o depositava em D. Pedro, tornando-o, 
ao mesmo tempo, legítimo e soberano. Neste sentido, a Vila de Santa Maria de 
Baependi, em Minas, começava a sua correspondência explicando o 
nascimento contrato entre os homens que se passava num tempo ficcional, a-
histórico, mas que numa dada lógica abarcava a todos que viviam em 
sociedade. Ela afirmava: 
Quando os primeiros homens se uniram em Sociedade Civil, não foi 
senão para poderem gozar pacíficos da tranqüilidade, e sossego, que não 
encontravam nos bosques: por esta razão elegeram desde logo um dentre si, 
que os governasse, e defendesse, em cujas mãos depositaram uma partícula 
de sua liberdade natural para que a outra lhes ficasse salva, e a coberto ou da 
 9 
malignidade, ou da força dos mais destemidos, e poderosos. Isto era 
necessário: despiram-se de alguns Direitos para poderem conservar os 
outros18. 
Nesta correspondência, as Câmaras denunciavam o passado colonial, 
acusado de ser abusivo, despótico, e considerava que a autoridade 
metropolitana/portuguesa impedia a marcha da civilização no Brasil. Refutavam 
este passado e descortinavam, em D. Pedro, uma chance de um futuro melhor 
e mais justo, sem os grilhões do antigo pacto colonial e sem o risco de cair 
numa guerra civil, na anarquia social ou ficar sob o jugo de uma outra 
autoridade despótica. 
A Câmara de Vitória explicitava que tal soberania depositada em D. 
Pedro aplacava e continha o risco da desordem social: 
Todos somos obrigados pela Suprema Luz Natural a buscar o nosso 
maior bem, ou o nosso menor mal. Ainda quando o Sistema atual Europeu 
fosse vantajoso ao Brasil; é sem controvérsia muito mais vantajoso ao mesmo 
Brasil o ter em si os recursos da Soberania, e do poder executivo que aplaque 
com prontidão os tumultos populares, reúna os partidos, proveja aos interesses 
particulares, e públicos, em uma palavra sirva de foco fixo donde dimanem os 
raios da Ordem Social19. 
A necessidade de uma soberania brasileira que articulasse todas as 
províncias, esquivando-se de uma quebra da unidade territorial do brasileira, tal 
qual ocorria com a América Espanhola, fazia com que a Junta Provisória do 
Mato Grosso assim se pronunciasse ao reiterar sua adesão ao príncipe e, 
irremediavelmente, a São Paulo-Minas-Rio: 
Eram os nossos sentimentos idênticos aos desta Província do Rio de 
Janeiro, de São Paulo, de Minas Gerais: sabíamos que a Sociedade não é 
Sociedade, senão enquanto ligada por um interesse comum e uniforme: 
queríamos sustentar os nossos inauferíveis direitos; tínhamos a Vossa 
Majestade Imperial conosco(...)20. 
A constituição da soberania em D. Pedro portava consigo uma 
concepção de ordem social, que almejava evitar a revolta popular, arrefecer ou 
minimizar os outros quereres sociais que se confrontavam em meio à escolha 
por D. Pedro, tal como se vê na extremada do Maranhão, Pará, Pernambuco e 
 10 
Bahia em que se temia, no limite, um levante de negros/escravos, uma espécie 
haitinização do país21. 
 
D. Pedro e o espelho da ordem 
Em São Luiz, após a eleição da Junta Provisória de Governo, os 
seguintes oficiais se opuseram a esta escolha: brigadeiro inspetor das tropas 
do Maranhão Manoel José Xavier Palmerim, major José Loureiro Mesquita, 
capitão do regimento de infantaria de linha José dos Santos Monteiro, tenente 
coronel do extinto regimento de índios José Joaquim de Aragão, coronel 
Honório José Teixeira. Foram então acusados pela Junta eleita e seus aliados 
de organizar uma sublevação e instrumentalizar os escravos para este fim22. 
No começo de abril de 1821, alguns pasquins publicados na cidade prometiam 
aos escravos a sua liberdade, caso aderissem ao movimento destes oficiais 
descontentes: 
Às Armas Pretos ou à vossa liberdade. 
Viva Loureiro, e morrão os brancos, e cá fica o Dinheiro23. 
A Junta acusou os réus por não manifestarem sua discordância no 
momento apropriado da eleição, entre seus pares na Câmara, ferindo assim a 
escolha realizada. E por reagirem com um pérfido contragolpe ao mobilizar os 
escravos e prometer-lhes a liberdade. Os inimigos da Junta eram considerados 
aliados dos escravos e, por isso, prontos a empreender qualquer anarquia, o 
que aumentava o repúdio pela sua investida. 
Além disso, algumas testemunhas afirmavam que os réus tentaram 
persuadir e subornar as tropas ao proporem o seu levante e apoio em troca da 
distribuição de 12 contos24. Ora, no entender da Junta, tais oficiais procuravam 
se aliar com uma gente vista como de alto risco, pela sua vadiagem, preguiça e 
desordem: os escravos, negros e praças. 
Logo depois que os pasquins foram pregados pela cidade, alguns atos 
do cotidiano de alguns escravos foram interpretados como um perigo iminente. 
Numa loja, dois pretos tocavam viola e um deles teria afirmado, em alto e bom 
som: 
Deixa estar parceiro que amanhã e o ultimo dia25. 
Na interpretação geral desses depoentes, os escravos anteviam um final 
para a sua condição e datavam o início da sublevação. Este comentário 
 11 
espalhou-se pela cidade, fazendo crescer a preocupação com uma possível 
revolta escrava. Por estes mesmos dias, dois escravos foram flagrados com 
facas amoladas escondidas entre as roupas. Foram espancados por um 
soldado e um comerciante, em reprimenda, e a faca acabou sendo comprada 
por José Affonso Vianna, um lavrador português que passava por ali. 
Disseminava-se, assim, um certo temor em meio às elites de que uma 
nova São Domingos se repetisse - comparação aliás que despontava nas falas 
das próprias testemunhas da devassa. O tenente coronel Manuel de Souza 
Pinto, de 26 anos, contou que ouvira que uns pretos de Antonio José de Souza 
andavam falando, naqueles dias, de São Domingos. Ao serem inquiridos pelo 
senhor, responderam ambigüamente que tratavam de um amigo chamado 
Domingos. Por causa disso, foram presos e castigados. Ainda nesta devassa, 
ao se defender das acusações de que armava os escravos, Honório José 
Teixeira revelou que, em 1811, lera no Investigador Português "notícias 
circunstanciadas" sobre São Domingos. Contou que prontamente escreveu aojornal, sugerindo que não abordassem tal tema, colocando-o no silêncio, "sem 
vulgarizá-las frente aos negros"26. Desta forma, o acusado buscava evidenciar 
o seu horror perante uma sublevação de negros e se desvencilhar das 
acusações. 
No Pará27, a situação tornou-se mais drástica com o crescimento dos 
mocambos desde fins do século XVIII e as constantes fugas que engrossavam 
a sua população. Os mocambos se concentravam na ilha do Mosqueiro, das 
Onças, rio Guamá e Capim, distrito de Barbacena e nos arredores da capital. 
Aí, os desertores das tropas e tais negros se uniram, intensificando a tensão 
social e desenhando um perigo social que parecia um espelho invertido - e 
pervertido - da ordem que D. Pedro em si potencializava. No ano de 1820, em 
Cametá, estes aquilombados e os desertores atacaram as áreas vizinhas e as 
embarcações que passavam. O governo reagiu através do uso das tropas, 
prendendo cerca de 500 escravos. 
No interior dos debates políticos institucionais e a fim de ocupar o poder 
público, o religioso Felipe Patroni chegou a propor um Plano publicado no 
jornal Indagador Constitucional de Lisboa, onde propunha que o escravo 
pudesse usufruir da capacidade de representação ao participar das eleições. 
Desta maneira, a presença negra/escrava extravasava a esfera dos 
 12 
mocambos, das fugas, das atitudes cotidianas e adentrava, pela porta da 
frente, o jogo político, através do debate sobre a legitimidade e representação. 
Ao denunciar Patroni, José Ribeiro Guimarães asseverava: 
(...) [ele] deu um grande choque nos escravos, que conceberam 
idéias de liberdade(...) e começaram a encarar Patrone como o seu 
libertador28. 
No ano de 1823 em Belém, saques atingiam principalmente o comércio 
dos portugueses, desde aqueles ligados à antiga Companhia do Grão-Pará e 
Maranhão até aqueles vinculados às feiras, tendas, boticas, açougues, 
comércio de víveres. Os esforços militares de Greffel - enviado pelo eixo do 
sudeste e por Cochrane - em conjunto com parte das tropas locais perseguiram 
e prenderam os desertores e promotores do saques, sendo levados debaixo de 
uma candente repressão que resultou em execuções públicas e num motim no 
navio Palhaço, onde os prisioneiros estavam encerrados, que foi violentamente 
reprimido. Restaram 252 corpos, vários mutilados. 
A pior perspectiva de um levante conjugava, no ideário destas elites, 
desertores e negros/escravos colocando em cheque a produção e circulação 
de riqueza, a segurança dos proprietários, exigindo uma forte ação do Estado, 
fosse na perseguição aos mocambos, aos desertores, fosse dentro da capital 
ao evitar os saques e abater os "infratores". 
Pode-se assinalar que estes escravos, negros, mulatos, pobres, livres, 
libertos, fugidos, desertores, vislumbraram novas chances de vida e uma 
mudança na sua condição social a partir destas alterações da esfera política, 
inclusive na composição da Junta de Governo, o que dilatava a sua 
participação neste processo de autonomização do Brasil, ainda que não 
visassem, em última instância e deliberadamente, a independência. 
Procuravam muito mais (re)significar suas vidas, porém o problema da 
reordenação dos poderes públicos reverberava para além dos ditames e 
controles estritos desta elite. Mas - vale dizer - no âmbito destas elites temia-
se, "no limite", que tais reformulações do poder institucional abrissem brechas 
para a participação ou expressão escrava/negra ou, então, que estes viessem 
a forçar tal situação. Temia-se uma presentificação de São Domingos, numa 
espécie de potente antítese à figura de D. Pedro. Tal temor também servia, 
estrategicamente, para identificar e detratar o adversário político do momento, 
como se viu em São Luís. 
 13 
Talvez não seja exagerado apontar que houve um instante - diverso em 
cada localidade e vivido de modos variados - de basculamento das tensões 
sociais, dos anseios dos protagonistas sociais, que concorria para a fundação 
deste Brasil, enquanto corpo político autônomo. Neste instante vicejaram 
multifacetados desejos sociais e podia-se vislumbrar uma existência melhor29 e 
aí os riscos e fraturas sócio-políticas poderiam afetar os bens e poderiam se 
efetivar. Houve um momento em que a presentificação de São Domingos e a 
figura de D. Pedro rivalizavam-se, quando a configuração da ordem e sua 
perversão corriam juntos. Neste instante, apostar na ordem pode ter sido 
capital e, simultaneamente, tal basculamento ritmava o acontecer das 
mudanças. O próprio governador Madeira de Mello, na Bahia, denunciava 
preocupado ao Conselho Ultramarino: 
Parece que este Paiz se esforça, para buscar a sua destruição; elle está 
sendo o theatro das operações de diversos partidos, que são agitados por 
oppstos interesses, e seo partido Constitucional não for levado ao estado de 
poder obstar por meio da força ao progressivo desenvolvimento dos outros, em 
breve se verá separar-se este Reino da May Patria; e chocarem-se os diversos 
elementos de sua população, repetindo-se talvez as funestas scenas da Ilha de 
São Domingos(...).Os Negros tanto fora como na Cidade, tem dado 
demonstrações de quererem levantar-se30. 
Ora, ao escolher a independência, optava-se pelo escravismo e pela 
monarquia constitucional corporificada em D. Pedro, sendo que existia uma 
interpretação também vinda debaixo, popular, que vislumbrava no rei a cabeça 
do corpo social31. A solução encontrada, no âmbito das Câmaras e nos círculos 
do sudeste a fim de garantir a ordem, imbricava uma à outra. Tal monarquia 
casava, intrinsecamente, o rei e a constituição, a Vila Nova da Rainha do Caeté 
expunha essa relação: 
(...) se entende uma Constituição liberal, na qual o Imperador tenha 
todo o poder e esplendor compatível com a liberdade; que 
detestavam todas as formas democráticas em que o Corpo 
Legislativo é tudo e o Rei é nada; e que por conclusão desejando 
ardentemente a instalação da nossa Assembléia Constituinte e 
Legislativa para obrar de acordo com o Chefe da Sociedade na 
confecção das Leis; que hão de obrigá-lo, e aos seus súditos(...)32. 
A par deste vínculo contratual e racional, deliberado pelo livre-arbítrio, 
havia uma economia das paixões, uma relação sentimental, que unia o 
 14 
governante e o governado. No bojo desta adesão, celebrava-se o laço entre o 
imperador e o cidadão-súdito por intermédio da recorrência à metáfora do 
"coração". Em D. Pedro, pulsava o coração deste novo contrato regido pela 
promessa de regras constitucionais, criando uma correlação e aproximação 
entre o imperador e o Brasil. Sob esta mesma figura do coração, fundava-se 
um elo de obediência, bondade, ternura, justiça e fidelidade entre o príncipe e o 
súdito. Numa Proclamação de fevereiro de 1822, D. Pedro recomendava aos 
brasileiros obediência e, em troca, se comprometia com a ordem. Tal 
compromisso era selado sob a imagem do coração: 
(...) praticai as virtudes sociais que requer o sistema Constitucional: e 
confiai que assim como Me vistes incansavel e constante no 
proposito de afastar para longe os germens da discórdia civil, sem o 
sacrifício de vossas Vidas, a que o Meu Coração não podia 
acomodar, sempre tereis em Mim o guarda vigilante de vossos 
sagrados Direitos e o Protetor zeloso de vossas justas 
representações e interesses33. 
Esta recorrência ao coração mediando sentimentalmente e de maneira 
irreversível o imperador e o súdito também se deve à noção de que guiado pelo 
coração e pela boa educação, o governante seria justo. Esta figura criava uma 
intimidade entre os contratantes que passavam a pertencer a um mesmo 
corpo, a tal ponto que a renúncia a este elo carnal, sangüíneo e tão orgânico, 
suscitaria uma dor terrível ao próprio corpo, que o levaria à morte. 
Por parte do cidadão-súdito, evocava-se tanto uma amorosidade para 
com o Brasil, quanto fidelidade e obediência para com o governante. Ambos 
eram recontados, inúmeras vezes, naevocação do amor ou ternura paternal. 
Esta dupla ligação do coração com o país e o governante não excluía uma à 
outra, antes reforçavam-se mutuamente. Neste sentido, a tentativa de criar 
uma autoridade coesa em D. Pedro se amalgamava a um antigo tributo do rei: 
a paternal ternura, a atenção de um pai que sabe castigar e recompensar seus 
filhos queridos nas horas certas. 
 
A aclamação na praça pública 
A origem de D. Pedro, portanto, na qualidade de imperador não advinha 
apenas de sua condição dinástica, mas também desta espécie sistemática de 
"eleição" que ocorreu em muitas vilas brasileiras a partir de junho de 1822. A 
Vila Nova de Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira na Bahia - que 
 15 
capitaneou a adesão baiana à independência contra as forças de Salvador - 
explicava os procedimentos desta eleição: 
(...) logo pelo mencionado Procurador o capitão Manuel Teixeira de 
Freitas, foi dito, que havendo-se consultado a vontade dos Cidadãos, 
e homens bons do termo desta Vila sobre a Aclamação do 
Sereníssimo príncipe o Senhor Dom Pedro de Alcântara, por 
Imperador Constitucional do Brasil em a Vereação do dia vinte e oito 
do mês de dezembro do ano próximo passado, como consta do 
competente termo, e sendo declarado por todos os sobreditos 
Cidadãos, e homens bons, que era sua livre vontade, e que sem 
constrangimento algum queriam levantar, e reconhecer por seu 
Imperador Constitucional ao Excelso Príncipe(...)34. 
Nas Câmaras, as elites locais elegeram D. Pedro entre muitos embates, 
afirmando constantemente de que se valiam do seu "direito natural" de 
escolher o governante e a forma de governo. Tinham, contudo, encontrado 
uma maneira de perpetuar sua importância local à medida em que o votante só 
se fazia ouvir e representar por meio das próprias Câmaras. Por isso, causou 
muito inquietação e celeuma no Recife, quando em janeiro de 1822, em meio a 
um motim de "cabras, pretos, milicianos, paisanos", pobres, soldados, praças, 
oficiais, "três insignificantes homens de cor forjicaram (sic) uma representação 
com 600 assinaturas, dirigida à junta provincial", reivindicando a expulsão das 
tropas portuguesas e a proibição do desembarque de outras. O problema, no 
entender da Junta, residia na legitimidade da representação e o significado de 
acatá-la e tratá-la enquanto obra de um cidadão35. 
Ato contínuo a esta eleição, precisava-se tornar visível e pública a 
escolha por D. Pedro, o que se dava pelo auto de aclamação e por uma festa, 
organizada pela Câmara, com procissão, pálio, estandarte imperial, bênçãos, 
sermões, solicitação de retratos de D. Pedro para serem reverenciados. Dito de 
outro modo: a festa de aclamação consubstanciava o contrato perante toda a 
localidade. A Câmara da Vila de Baependi ressaltava: 
(...) que queriam mostrar com maior aferro, e adesão à Causa Luso-
Brasileira, e que para o fazerem publicamente, queriam fazer 
celebrar uma Missa Solene ao Espírito Santo, um discurso análogo 
às circunstâncias, um `Te Deum Laudamus', e alguns espetáculos 
públicos, que coubessem na urgência do tempo(...)36. 
Este ato público não se comportava como uma outra coisa ou um outro 
momento da figura de D. Pedro, antes entremeava-se à sua constituição 
contratual e, de imediato, dotava o Brasil de uma aura sagrada. Neste sentido, 
cada vila que exaltou D. Pedro numa aclamação, de algum jeito, instaurava um 
 16 
acontecimento imbuído de um duplo significado: tanto enaltecia a 
independência do Brasil, quanto aderia ao novo soberano; fundando, portanto, 
um corpo político autônomo no qual seus participantes, em tese, se 
reconheceriam. Daí, a importância de enviar a descrição da aclamação ao Rio, 
documentando a adesão. 
Mesmo ao subjugar pelas armas os inimigos - chamados de "europeus, 
facciosos, portugueses, promotores da comoção popular" -, os comandantes 
militares contratados pelos eixo do sudeste, Labatut e Cochrane, exigiam o ato 
da aclamação por parte da Câmara a fim de concretizar a adesão local à 
independência e ao novo governante. Em dezembro de 1822, Labatut 
ameaçava à Junta de um Piauí conflituoso de marchar para lá com batalhões 
de cariocas, mineiros, paulistas, depois que conquistasse a Bahia e, para evitar 
tal mal, exigia 
(...) Vossas Excelências aclamem imediatamente o Imperador: não é 
uma efêmera facção quem lhes persuade, é o Brasil, unido em 
massa, é a nossa honra, é a divisa que honrosamente tomamos, e 
que a temos nos nossos braços transcrita, e fielmente copiada dos 
nossos corações; e se houver algum malvado que nessa Província 
se oponha à Aclamação do Imperador, conte com não existir, eu farei 
marchar tropas; e as baionetas, qual fluido elétrico, espalharão o 
calor do patriotismo e honra brasileira37. 
 
D. Pedro, a Câmara e o povo em armas 
Quem, então, nas Câmaras assinava tal "adesão"? Como as 
personagens se auto nomeavam neste processo de escolha? As longas listas 
de adesão, contando com milhares de assinaturas, no cômputo geral das 
muitas vilas, revelam basicamente uma proliferada e insistente presença 
militar, ao lado daqueles que se identificavam como vereadores, isto é, homens 
da Câmara. Ao declarar a sua condição social, a maioria dos eleitores destas 
Câmaras designava sua atividade junto às tropas ou nas milícias, 
desvencilhando-se da necessidade de nomear sua posição de proprietários, 
negociantes, lavradores, enfim, de explicitar sua condição de senhores ou de 
protagonistas que viviam do seu comércio em retalho, dos serviços prestados 
nas ruas, das tavernas, dos que trabalhavam a jornal ou recebiam soldos. 
Igualmente ao montar as listas com oficiais, soldados e praças, apagava-se a 
heterogeneidade social da população pobre livre, negra, mulata, crioula, liberta 
e escrava. Escolhia-se e construía-se, desta forma, uma clave capaz de 
 17 
abarcar personagens sociais tão distintas sob uma mesma hierarquia, numa 
linha de continuidade, sob a expressão verbal e física das tropas e sob uma 
disciplina ditada pelo Estado. 
Convém, contudo, assinalar que houve uma série de alterações dentro 
das elites locais neste início da década de 1820. O expediente da mudança da 
estrutura de poder e autoridade com a instalação das Juntas, o aparecimento 
do governador de armas a par de um intenso debate acerca de quem 
simpatizava com a causa do Brasil - isto é, quem tinha seus interesses 
vinculados à autonomização do Brasil, sobretudo com as rotas de comércio, a 
organização dos negócios, a propriedade da terra e a sua exploração, o tráfico 
de almas, a mercantilização da terra e do trabalho - opondo-se aos que se 
perfilavam a Portugal, criaram brechas para que grupos arraigados ao Brasil 
ganhassem força política e ampliassem sua presença e importância na 
burocracia, no comando das tropas, em prestígio social. 
Em vários lugares, houve uma espécie de dança das cadeiras na 
ocupação dos cargos públicos, pois ao acusar um português de não aderir e/ou 
demonstrar devidamente a sua fidelidade à causa brasílica, podia-se alijá-lo de 
algum serviço na burocracia em prol de alguém que lhe era favorável. Assim, 
antigas rixas passavam a ser acertadas por conta deste embate em torno da 
autonomização do Brasil, como se via no caso de Pernambuco, onde 
revanches e disputas evocavam o movimento de 181738. De modo geral, abriu-
se um espaço para uma reordenação das elites, mas que nunca chegou - em 
função dela - a ameaçar a ordem pública; apesar da violência verbal e física 
com que muitas vezes se chocaram. 
Ao assinalar sua posição de comandantes, oficiais, alferes, tais homens 
da elite evidenciavam uma profunda ligação com D. Pedro à medida em que 
este se comportava como o comandante militar maior do Brasil. Se de um lado, 
este papel militar ou das milícias se coadunava ao imperador; por outro, 
reiterava a ordem hierárquica dentro da vila, onde em geral todos os homens 
livres, forros e mulatos tinham umlugar no corpo das tropas e/ou das milícias. 
Os recenseamentos do final do setecentos destacavam o elevado número de 
mulatos e negros em forças coloniais no Terço de Henriques39, havendo casos 
de guerra em que se convocava o escravo para atuar como um soldado como 
nas guerras de independência baianas. 
 18 
O posto de oficial militar reforçava uma continuidade entre o local e a 
própria figura de D. Pedro, ao mediá-la. Porque uma ordem e/ou um 
comportamento aprovados de como as tropas e milícias deveriam proceder em 
nome da "causa do Brasil" para tramitar do Rio a um roceiro distante, um 
escravo baiano, precisava passar por um senhor que ocupava um cargo de 
oficial, funcionando como um elo de comunicação. Em contrapartida, o oficial 
podia valer-se da relação de favores estabelecida, ao longo dos anos e/ou no 
trato cotidiano, com os soldados, praças, e outros oficiais, a fim de que 
participassem mais ativamente ou não desta adesão política. 
É bom lembrar que os corpos dos regimentos auxiliares eram formados 
e financiados pelos mais abastados fazendeiros, proprietários e negociantes 
locais que arregimentavam, quando necessário, os homens livres, pobres, 
remediados, que atuavam como soldados encarregados da ordem interna e 
custeados em soldos, alimentação e uniformes por estes senhores. Tal 
dinâmica modelava relações pessoais e de favores, de parentescos e 
amizades, enredadas no cotidiano. Por outro lado, os comandantes locais 
poderiam indicar, em determinadas ocasiões, os nomes de outros oficiais, 
alimentando a troca de favores e as dependências entre estes homens. Em 
1803, D. João mandava os coronéis de Pernambuco escolherem os indivíduos 
para preencher os cargos de oficiais em aberto, abarcando aí tenentes, 
sargentos-mor, ajudantes de regimentos. Eles só seriam efetivamente 
incorporados depois de um decreto real, no entanto a indicação vinha do 
comandante local40. Convém mencionar que o corpo do oficiais não se 
restringia unicamente aos senhores e comandantes da carreira militar, sendo 
que os mulatos e negros livres tinham uma brecha para galgar um posto de 
capitão41. 
Uma mesma vila compunha-se de uma série de tropas justapostas em 
suas funções e com variados comandos, uns nomeados pela coroa, outros 
indicados pela Câmara. 
As tropas de linha eram remuneradas por Portugal, com efetivos 
permanentes, formadas através do alistamento voluntário que, de fato, 
operava-se mais pelo recrutamento violento e compulsório. Havia um grande 
número de desertores, em função dos baixos e atrasados soldos, dos 
uniformes nunca entregues42, de uma disciplina férrea que se servia dos 
 19 
castigos corporais, além dos 06 anos exigidos, regular e continuamente, dos 
praças. Devido ao grande número e à recorrência das deserções, a Coroa, 
intermitentemente, adotava uma série de medidas onde perdoava a deserção, 
considerada um grave crime, desde que o praça, em recompensa, servisse por 
um tempo maior. Nesta política, o soldado sempre devia algo à Coroa, que só o 
seu trabalho prolongado recompensava. 
Por sua vez, as milícias auxiliavam estas tropas de linha, devendo estar 
sempre mobilizadas e fardadas. Seus soldados e alferes recebiam soldos, 
embora pudessem ter outros afazeres. Sua obrigação consistia na defesa 
externa e na vigilância da ordem interna, cabendo-lhe perseguir aquilombados, 
deslocar-se para outras capitanias e áreas de fronteira quando convocada. Os 
comandantes eram proprietários designados pela Coroa - reconhecidamente 
ricos, não sendo nomeados pelas Câmaras - com a incumbência de formar as 
milícias a partir da sua capacidade de arregimentação, atrelando uma gente 
armada à sua liderança que, a princípio, defenderia os bens e a segurança do 
Império. Tais comandantes convocavam homens de suas relações, 
dependentes, foreiros, rendeiros, comerciantes, pequenos proprietários, algum 
mestre escola, criando uma aliança armada em casos de precisão ou para 
defender interesses específicos de proprietários. Tais milícias desempenharam 
um papel fundamental no transcorrer deste processo de autonomização, 
porque participavam na praça pública do apoio ao príncipe, marchavam sobre 
as vilas hesitantes e as adversárias, uniram-se em torno das elites, dos ricos 
proprietários, solidarizando-se com o novo estatuto do Brasil, colaborando para 
a sua instauração. 
Note-se que a Câmara conjugava em si mais uma qualidade: permitir 
uma mobilização militar no Brasil, defensiva às tropas enviadas por Portugal e 
vigilante acerca dos perigos internos. Pois nas ordenanças ela se 
responsabilizava pela indicação dos nomes dos capitães, encarregando-se da 
convocação do serviço compulsório, gratuito e militar de um terço dos homens 
livres, artífices, comerciantes, lavradores, daquela vila, entre os 18 e 60 anos. 
Sua tarefa residia no combate a um inimigo externo e a manutenção da ordem 
interna, enfrentando os índios por exemplo. Convocados pela Câmara, eram 
treinados militarmente para os momentos de perigo de guerra e/ou tumulto, 
 20 
bem como podiam aparecer arregimentados na praça da cidade para enaltecer 
um acontecimento. 
Assim, ao asseverar sua adesão à corte carioca, a Câmara em seguida 
organizava e prosseguia a aclamação de D. Pedro e, logo depois ou num 
momento especial desta festa, reunia toda a tropa - milícias, ordenanças, 
regimentos auxiliares, tropas de linha, lideradas pelos seus comandantes - na 
praça da cidade com proclamações dirigidas aos Soldados e/ou Irmãos de 
Armas, com oficiais, praças, milícias, em uniformes, enfileirados em pé e os 
que podiam em seus cavalos, para dar vivas a D. Pedro. Assim, demostravam 
sua adesão não só numa correspondência oficial, mas também inscrevendo-a 
no corpo da vila - na praça - e, pretensamente, na sua história. 
É quase monótono - devido à quantidade e à repetição da sua 
morfologia - acompanhar a narrativa deste ato público da adesão que se 
espraiou por todo Brasil e consistia, em geral, numa iniciativa das Câmaras em 
ordenar esta parada militar, onde o povo em armas, disciplinadamente, tinha 
um lugar público apropriado e civil para saudar o seu imperador. 
Sinteticamente, a Câmara de Salvador descreveu este acontecimento: 
Depois de concluída a festa, seguiu-se no mesmo terreiro do Colégio a 
grande parada das tropas, que se achavam desde o princípio postadas naquela 
Praça, dando-se pelo Governo Civil, e Comandante da Parada os vivas 
análogos aos objetos, que nos são mais caros, e que foram correspondidos 
com o mais vivo entusiasmo por todo o Concurso, dando as tropas as 
descargas do costume, seguindo-se logo o cortejo em Palácio do Governo, 
para onde o mesmo Governo se havia dirigido com todo o ajuntamento, e com 
esta Câmara, vindo todo este ato a concluir-se às cinco horas da tarde pouco 
mais43. 
A argúcia de recorrer às tropas e milícias pelas Câmaras e os homens 
que a freqüentavam já impunha e delimitava uma certa noção de povo, na qual 
todos os homens que viviam na cidade e suas vizinhanças eram obrigados a 
participar, isto é., agregava dos proprietários, aos negociantes, pequenos 
roceiros, os comerciantes, homens de ofícios, foreiros, arrendatários, forros, 
mulatos livres. 
Este "povo", porém, seria marcado por uma disciplina prescrita pelos 
códigos militares e pela ordem do trabalho, que liberava o uso das armas 
 21 
dentro destas regras e com o novo objetivo de assegurar a monarquia 
constitucional. Igualmente, se entendia este povo na condição daquele que 
podia ser convocado para o famigerado trabalho compulsório a qualquer 
momento, quer para a manutenção da ordem pública ao caçar gentios e 
combater aquilombados, ao prestar serviços para a construção de estradas, 
chafarizes, ou consertar uma ponte, quer para combater aquilo se compreendia 
por vadiagem. 
É bom esclarecer esta ambigüidade e contradição do "povo". O discurso 
das Câmaras enfatizava enarrava que esta reunia militarmente na praça todo o 
povo da cidade, aí ele era definido numa categoria homogeneizadora e 
hierarquizada. De minha parte, tal chancela "povo" consistia num termo que 
abarcava diversas personagens sociais com suas várias intenções políticas, 
sociais, religiosas, cotidianas, de sobrevivência. Não creio que seja viável, aqui, 
preferir um ou outro ou, então, anular um deles, pois tal procedimento 
esvaziaria esta tensão latente que tal ocupação da praça pública possuía. 
Tampouco meu interesse consiste em palmilhar cada interesse em jogo ou 
desejo de cada personagem presente nesta praça, no entanto, procuro 
desmontar como esta recorrência à praça e às Câmaras ajudaram a forjar uma 
soberania na figura de D. Pedro. 
Configurado nas tropas e milícias, este povo participava do processo de 
autonomização do Brasil e eleição do imperador-contrato, ao marchar nas 
praças, vestir os uniformes de ocasião que lhe emprestavam uma certa 
solenidade, plasticidade, e homogeneizava visivelmente o universo social, ao 
apresentar armas, prender desertores ou combater com a própria vida os 
soldados portugueses e os contrários a este processo de autonomização do 
Brasil, ao gritar os vivas que referendavam a soberania do Brasil no corpo de 
D. Pedro. Desta maneira, demonstravam seu civismo e delineava-se um povo 
em armas e em ordem no espaço público. O que não significa negar ou 
subestimar que a reunião das tropas poderia funcionar como um estopim, uma 
ocasião especial, para expressar descontentamentos ou reivindicações. Bem 
como, era, por vezes, um lugar de rivalidades étnicas, sociais, de 
nacionalidades, opondo brasileiros e portugueses44. 
Na experiência cotidiana destas tropas, neste momento de 
autonomização do Brasil, aflorava uma carga dramática do que era participar 
 22 
deste processo político, à medida em que envolvia o seu deslocamento 
espacial, o abandono de seus afazeres e da família, o constrangimento das 
ordens oficiais, o perigo das batalhas, a pouca alimentação, os uniformes e 
soldos em atraso. No entanto, sua própria configuração, via de regra, já os 
metia e subordinava numa hierarquia e repunha as relações de favores e 
obediências com os seus comandantes. Em inúmeras praças de diversas vilas, 
as tropas aderiram ao imperador, também com a sua presença - nem sempre 
pacífica e obediente - deram ensejo à praça pública, da qual a figura de D. 
Pedro, agora, se assenhorava através de uma disseminada prática de festas, 
pelas adesões das Câmaras, em virtude da sua atuação no Rio e até em 
função dos debates políticos que buscavam designar o melhor modo de 
constituir uma esfera pública. 
Neste sentido, nas cidades do Brasil afora, forjou-se uma prática que 
encarnava nas tropas e milícias, dos oficiais aos praças, a configuração do 
povo correlato a este novo imperador. Remontava-se às paradas militares 
existentes anteriormente no período colonial, que ganhavam novos significados 
ao celebrarem a fundação de um novo contrato social, agora pautado em 
princípios liberais. Em si mesmas, as tropas e milícias adquiriam uma 
dimensão crucial, pois a sua ação humana dava ensejo, vitalidade e movimento 
a este processo de autonomização, pois estas marcharam contra os 
portugueses, bem como enfrentaram as rivalidades internas entre cidades que 
desejam a adesão e outras que a combatiam numa mesma província e nos 
seus arredores como ocorreu em Pernambuco ou, ainda, concorriam para a 
segurança pública como no caso do Pará. Ao marcharem de uma vila a outra, 
as tropas iam impondo, com a sua presença e coação, a dobradinha 
independência-monarquia constitucional. Uma solicitação de reconhecimento 
dos méritos - ou seja, um pedido de mercê - do capitão de pedestres João 
Ferreira de Couto pela Junta do Maranhão falava deste tipo de movimentação: 
O Capitão (...) foi dos primeiros, que dos sertões do Iguará, 
chamando a si alguma Tropa, que pôde reunir, marchou a incorporar-
se com as mais, que tinham posto em cerco esta Cidade [São Luís], 
para nela fazerem proclamar a Independência Brasílica, que o 
mesmo Capitão fez jurar por todos os Lugares, por onde transitou45. 
As elites e Câmaras locais não podiam dispensar esta ação humana, 
esta capacidade de luta num momento de perigo político, institucional e social, 
sobretudo uma ação humana que, por definição e um controle contínuo, 
 23 
embatia-se com a disciplina de um código militar. Enfim, à figura de D. Pedro 
correspondia uma noção de povo em armas, sob o molde das tropas e milícias. 
Por outro lado, essa conjunção entre as Câmaras e tropas/milícias numa 
dada cidade, no âmbito local, aderindo à monarquia constitucional, às 
"províncias coligadas" como se nomeava este eixo do sudeste, lutando contra 
os que se opunham à independência, fazendo avançar e aumentar a adesão 
entre as cidades vizinhas, acabava por delinear tanto quem tinha o direito 
legítimo de empreender tal contrato, quanto o seu modo de ocorrência, 
invalidando, num efeito especular, todo aquele movimento social que lhe fosse 
adverso. 
Em outras palavras: não era qualquer ato que se podia definir, na 
acepção das elites brasileiras, enquanto inaugural e celebrador deste contrato, 
tampouco podia-se permitir que um brado negro, escravo, uma movimentação 
de tropas sem oficiais, um rebuliço de desertores ou a sua marcha, fossem 
entendidos como um modo de declarar esta autonomia. O recurso em validar 
apenas a aclamação e a parada militar distribuída numa praça, de imediato, 
procurava anular a legitimidade das discordâncias, rebeliões, e resistências 
cotidianas e, simultaneamente, instaura-se um certo padrão legítimo, numa 
perspectiva liberal, de evidenciar uma mudança pública-política e fundar um 
outro pacto social. As posturas e expressões da população livre pobre, liberta, 
escrava, tendiam a ser tratadas sob o signo do tumulto, da desordem, 
esvaziando a sua legitimidade e as suas reivindicações. Desta maneira, 
emergia um modo de ocorrência normatizado pela tríade Câmara-tropa-praça, 
que favorecia as elites locais, para a fundação desse contrato social e, ao 
mesmo tempo, atava-se ao soberano. 
Todo este rol de documentos, estas petições, representações, ofícios, 
descrições das Câmaras reportavam-se à Corte, enviando sua documentação 
ao Senado da Câmara do Rio de Janeiro e ao Paço Real. Por seu turno, este 
Senado da Câmara do Rio de Janeiro tomou para si o encargo de proclamar 
que todo o Brasil, através das Câmaras, aderia ao príncipe. No dia da 
aclamação de D. Pedro, em pleno campo de Santana, no alto de um edifício 
construído na forma de uma varanda e perante a população da cidade, 
Clemente Pereira ressaltava em seu discurso, em nome da Câmara e dirigido 
ao novo imperador, este sistema de adesão: 
 24 
(...) era vontade universal do povo desta Província e de todas as 
outras, como se conhecia expressamente dos avisos de muitas 
Câmaras de (...), sustentar a Independência do Brasil, que o Mesmo 
Senhor, Conformando-Se com a opinião dominante tinha já 
declarado (...) Imperador Constitucional do Brasil e seu Defensor 
Perpétuo46. 
 
Notas 
1 LYRA, M. de L. V. A Utopia do Poderoso Império. Rio de Janeiro, Sette Letras, 1994. 
2 
Diário das Cortes, 31/01/1821, p. 09. 
3 A respeito da manutenção ou quebra da unidade entre Brasil e Portugal e a importância do 
movimento constitucional: ALEXANDRE, V. "O nacionalismo vintista e a questão brasileira: 
esboço de análise política". In PEREIRA, M. H., FERREIRA, S. M. e SERRA, J. B. O 
Liberalismo na Península Ibérica na Primeira Metade do Século XIX. Lisboa, Sá da Costa, 
1981; SILVA, M. B. N. da, Movimento Constitucional e Separatismo no Brasil, 1821-1823. 
Lisboa, Horizonte, 1988; BARMAN, R. Brazil: The forging of a Nation, 1798-1852. Stanford, 
Stanford University Press, 1988; RIBEIRO, G. S. A Liberdade em construção: identidade 
nacional e conflitos antilusitanosno Primeiro Reinado. Tese de Doutoramento, Campinas, 
UNICAMP, 1997. 
4 VERDELHO, T. dos S. As palavras e as Idéias na Revolução de 1820. Coimbra, INIC, 1981; 
OLIVEIRA, C. H. L. de S. "Na querela dos folhetos: o anonimato e a supressão de questões 
sociais". In Revista de História, USP, nº 116, 1984; NEVES, L. M. B. P. das. Corcundas, 
Constitucionais e Pés-de-Chumbo; a Cultura Política da Independência, 1820-1822. Tese de 
Doutoramento, São Paulo, USP, 1992. 
5 Sobre este descompasso da adesão, ver RAIOL, D. A. Motins Políticos ou História dos 
Acontecimentos Políticos da Província do Pará desde o ao de 1821 até 1835. Belém, 
Universidade Federal do Pará, 1970; AMARAL, B. do. História da Independência na Bahia. 
Salvador, Livraria Progresso Editora, 1957; TAVARES, L. H. D. A Independência do Brasil na 
Bahia. Rio de Janeiro/Brasília, Civilização Brasileira/INL, 1977; PEREIRA DA COSTA. Anais 
Pernambucanos, 1818-1823. Recife, Arquivo Público Estadual, vol. VIII. 1962; CARAVALHO, 
M. J. M. de. Hegemony and Rebellion in Pernambuco (Brazil), 1821-1835. University of Illinois, 
1989. 
6 BOXER, C. R. Portuguese Society in Tropics. The Municipal Councils of Goa, Macao, Bahia, 
and Luanda. Madison and Milwaukee, The University of Wisconsin, 1965; RUSSEL-WOOD, A. 
J. R. "Local Government in Portuguese America: A Study in Cultural Divergence". In 
Comparative Studies in Society and History. Cambridge University Press, vol. 16, nº 2, março 
1974. 
7 CARDIM, P., O. "Quadro Constitucional. Os Grandes Paradigmas de Organização Política: A 
Coroa e a Representação do Reino. As Cortes" In HESPANHA, A M. História de Portugal. O 
Antigo Regime (1620-1807), Lisboa, Editorial Estampa, vol. 04, 1993. 
8 Para uma discussão da atuação das Câmaras: COELHO, M. H. da C. e MAGALHÃES, J. R. O 
Poder Concelhio. Das origens às Cortes Constituintes. Coimbra, ECEFA, 1986; HESPANHA, A 
 25 
M. As Vésperas do Leviathan. Instituições e Poder Político. Portugal. Século XVII. Coimbra, 
Livraria Almedina, 1994; MELLO, E. C. de. A Fronda dos Mazombos. Nobres contra mascates. 
Pernambuco, 1666-1715. São Paulo, Cia. das Letras, 1995; FIGUEIREDO, L. R. de A. 
Revoltas, Fiscalidade e Identidade Colonial na América portuguesa. Rio de Janeiro, Bahia e 
Minas Gerais, 1640-1761. Tese de Doutoramento, São Paulo, USP, 1996; BICALHO, M. F. B., 
A Cidade e o Império: o Rio de Janeiro na dinâmica colonial portuguesa. Séculos XVII e XVIII. 
Tese de Doutoramento, São Paulo, USP, 1997. 
9 BOXER, C. R., op. cit. 
10 RUSSEL-WOOD, op. cit. 
11 COELHO, M. H. da C. e MAGALHÃES J. R. op. cit., p. 37. 
12 
Diário das Cortes, 21/08/1821. 
13 Roderick Barman chamou este processo de "governo de pequenas pátrias". op. cit., p. 76. 
14 A lista destes governadores de armas para cada província do Brasil encontra-se no Arquivo 
Histórico Ultramarino (doravante AHU), Rio de Janeiro, Avulsos, Cx. 283, Doc. 72, 09/11/1821. 
15 Recorro, neste artigo, basicamente à documentação publicada: As Juntas Governativas e a 
Independência. Rio de Janeiro, Conselho Federal de Cultura/Arquivo Nacional, 1973; As 
Câmaras Municipais e a Independência, Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, Conselho Federal 
de Cultura, 1973. 
16 
As Juntas..., op. cit., vol. 01, p. 124. 
17 
Idem, vol. 03, pp. 1061-1069. 
18 
Idem, vol. 02, p. 09, em outubro de 1822. 
19 
Idem, vol. 01, p. 193, em setembro de 1822. 
20 
Idem, vol. 03, pp. 1312-1313. 
21 Ver CARVALHO, M. J. de op. cit.; REIS, J.J. e SILVA, E. "O Jogo Duro de Dois de Julho: O 
"Partido Negro" na Independência da Bahia". In REIS, J.J. e SILVA, E. Negociação e Conflito: 
A Resistência Negra no Brasil escravista. São Paulo, Cia. das Letras, 1989; GOMES, F. dos S. 
A Hidra e os Pântanos; Quilombos e mocambos no Brasil (Sécs. XVII-XIX). Tese de 
Doutoramento, Campinas, UNICAMP, 1997, especialmente parte I. 
22 Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Ministério dos Negócios Eclesiásticos e da Justiça, 
Maço 102, nº 1, Maranhão, Devassa acerca da sedição no Maranhão em 1821. 
23 
Idem. 
24 Conforme a trigésima nona testemunha. 
25 De acordo com o depoimento da nona testemunha, Caetano José da Cunha, e que foi 
reiterado pela trigésima quinta testemunha e um caixeiro de quitanda. 
26 Seu interrogatório e defesa se encontram no Appenço nº 4 desta Devassa. Sobre esta 
presença de São Domingos no vocabulário dos escravos/negros, ver MOTT, L., A. "Revolução 
dos Negros do Haiti e o Brasil". In História: Questões e Debates. vol. 03, nº 04, jun. 1982. 
27 Ver REIS, A. C. F. "O Processo de Independência no Norte". In MOTA, C. G. (org.). 1822: 
Dimensões. São Paulo, Perspectiva, 1972, pp. 187-204; COELHO, G. M. Ação e Reação na 
 26 
Província do Pará. O conflito político social de 1823. Dissertação de Mestrado, Rio de Janeiro, 
UFF, 1978. 
28 Apud: COELHO, G. M. op. cit., pp. 114-115. 
29 Magda de O. Ricci mostra quais as perspectivas de diversas personagens sociais em Itu 
quando da ocorrência e efetivação da independência, perscrutando as interpretações que os 
escravos criavam e punham em circulação. Nas fronteiras da Independência: um Estudo sobre 
os Significados da Liberdade na Região de Itu (1799-1822). Dissertação de Mestrado, 
Campinas, UNICAMP, 1993. 
30 AHU, Bahia, Cx. 257, Doc. 3, 02/04/1822. 
31 Sobre esta concepção do bom rei ver CAMPOS, F. A. de N. Príncipe Perfeito. Os Emblemas 
de D. João de Solórzano. Ed. Fac-similada do manuscrito da Biblioteca Nacional do Rio de 
Janeiro, Lisboa: Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, 1985, que serviu de guia ao próprio 
D. João VI; SOUZA, I. L. F. S. C. Pátria Coroada. O Brasil como corpo político autônomo, 1780-
1831. Dissertação de Mestrado, Campinas, UNICAMP, 1997. 
32 
As Câmaras..., op. cit., vol. 02, p. 68, fevereiro de 1823. 
33 
Gazeta do Rio de Janeiro. Suplemento ao nº 23, 21/02/1822. 
34 
As Câmaras..., op. cit., vol. 01, p. 135, datado de fevereiro de 1823. 
35 PEREIRA DA COSTA. op. cit., p. 203. 
36 
Idem, vol. 02, p. 13. 
37 
As Juntas...., op. cit., , vol. 01, p. 210-211. 
38 Ver, por exemplo, Diário das Cortes. 16/10/1821, pp. 2670-2671. 
39 O Terço de Henriques abarcava as tropas formadas por mulatos, mestiços e negros livres e 
libertados, tendo um uniforme próprio distinto dos outros terços, AHU, Códices 1510, 1515, 
1519,1521, 1525, sobre Figurinos Militares na Bahia, Pernambuco, Pará, Minas Gerais. Ver 
KLEIN, H. S. "Os Homens Livres de Cor na Sociedade Escravista". In Dados, Iuperj, Rio de 
Janeiro, nº 17, 1978, pp. 03-27. É possível perceber a organização militar em vários estudos: 
BOXER, C. R. O Império Marítimo Português, 1415-1825. Lisboa, Edições 70, 1977, 
especialmente cap. XIII; AUFDERHEIDE, P. A. Order and Violence: social deviance and control 
in Brasil. 1780-1840. University of Minnesota, 1976; CASTRO, J. B. de. A Milícia Cidadã: a 
Guarda Nacional de 1831 a 1850. Brasília/São Paulo, INL/Cia. Ed. Nacional, 1977; FLORY, T. 
"Race and Social Control in Independent Brazil". In Journal of Latin American Studies. vol. 09, 
nº 2, nov. 1977; PAULA, E. S. de. "A organização do exército brasileiro". In HOLLANDA, S. B. 
de. História Geral da Civilização Brasileira. São Paulo, DIFEL, t. II, vol. I, 1985. 
40 AHU, Pernambuco, Avulsos, Cx. 166, 1802, Relação da tropa paga - Regimento de Artilharia 
novamente criado em observancia do Plano assignado pelo Ilmo. Exmo. D. Rodrigo de Souza 
Coutinho no qual determina os soldos cf. as graduações das Companhias com data de 
25/10/1799. 
41 No Recife, durante setembro de 1822, o mulato e capitão Pedro Pedroso foi nomeado 
comandante do exército devido à sua popularidade junto à plebe da cidade, sendo conhecido 
por se confraternizar com negros e mulatos. CARVALHO, M. J. M. de. op. cit., p. 43. 
 27 
42 Em meio à penúria das camadas mais pobres, um enxoval completo de uniforme poderia 
representar agasalho, vestimenta, calçado e mesmo um certo status da pessoa. Um uniforme 
incluía: barretinas de solda completa,farda, calça, jaqueta, calção de brim, cordões, laços, 
penachos, barretes de polícia, camisa, par de meia, par de sapatos, par de solas, uniforme 
branco, pares de polaina e botões. Cito esta descrição baseada em AHU, Rio de Janeiro, 
Avulsos, Cx. 282, Doc. 54, 17/maio/1821. 
43 
As Câmaras municipais..., op. cit., vol. 01, p. 152. 
44 Quanto à oposição brasileiros e portugueses ver RIBEIRO, G. S. op. cit. 
45 
As Juntas..., op. cit., vol. 01, p. 129. 
46 "Ata da Aclamação do Sr. D. Pedro Imperador Constitucional do Brasil e seu Perpétuo 
Defensor" In Constituições do Brasil. Rio de Janeiro, Ed. Aurora, s/d, vol. 01, p. 23.