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flebografia tenha sido usada na seleção de pacientes para cirurgia, não foram informados outros detalhes das indicações pré-operatórias. Esses investigadores documentaram que 34 de 50 enxertos permaneceram patentes em longo prazo, conforme avaliado por flebografia pós-operatória. Eles acreditavam que os melhores resultados clínicos eram alcançados com o alívio da dor na panturrilha após exercícios, mas tinham a impressão de que um enxerto patente também diminuía a progressão da lipoesclerose distal e controlava a recidiva das úlceras. Nenhuma prova disso foi dada nesse relato. A história do uso dos procedimentos de derivação para obstrução venosa é fascinante. No entanto, o advento das técnicas endovasculares tornou essas operações quase obsoletas.25 A interrupção de perfurantes, associada ao tratamento da insuficiência no sistema superficial, tem sido efetiva no controle da ulceração venosa em 75-85 dos pacientes. Entretanto, a ênfase nas falhas dessa técnica levou a importante avanço na reconstrução venosa direta com valvuloplastia de Masuda e Kistner,26 em 1968, e ao reconhecimento geral desse procedimento após 1975. Avaliações finais de reconstrução valvar direta indicaram resultados bons ou excelentes em longo prazo, em mais de 80 dos pacientes.27 É impossível superestimar as contribuições de Kistner. A técnica de direcionamento do fluxo venoso incompetente, através de uma válvula proximal competente com a transferência de um segmento venoso, foi sua conquista seguinte. Após as contribuições de Kistner, os cirurgiões foram providos de um arsenal que incluiu a derivação venosa de Palma, a valvuloplastia direta (Kistner) e a transferência de segmento venoso (Kistner). Além disso, a reconstrução valvular externa, como realizado por várias técnicas, incluindo aquela acompanhamento por endoscopia, levou ao interesse renovado por essa forma de tratamento da insuficiência venosa. O autotransplante axilar para poplítea de segmentos venosos contendo válvulas foi considerado desde as primeiras observações de Taheri et al.28 Contudo, a verificação de alguns resultados preliminares excelentes a longo prazo não foi consumada. Trombose venosa profunda Trombose Venosa Profunda dos Membros Inferiores A trombose venosa profunda (TVP) aguda é uma grande causa de morbidade e mortalidade nos pacientes hospitalizados, particularmente no paciente cirúrgico. A tríade de estase venosa, lesão endotelial e hipercoagulabilidade, descrita pela primeira vez por Virchow, em 1856, mantém-se verdadeira um século e meio depois. A TVP aguda causa vários riscos e tem consequências mórbidas significativas. O processo trombótico iniciado em um segmento venoso pode, na ausência de anticoagulação ou na presença de anticoagulação inadequada, propagar-se envolvendo segmentos mais proximais do sistema venoso profundo, resultando em edema, dor e imobilidade. A complicação mais temida da TVP aguda é embolia pulmonar, uma condição com consequências potencialmente letais. A complicação tardia da TVP, particularmente das veias iliofemorais, pode ser IVC decorrente de disfunção valvular na presença de obstrução luminal. Por essas razões, a compreensão da fisiopatologia, a padronização de protocolos para prevenção ou a redução da TVP, além da instituição imediata de tratamento correto, são essenciais na diminuição da incidência de morbidade dessa condição infelizmente comum. Causas A tríade estase venosa, lesão endotelial e hipercoagulabilidade está presente na maioria dos pacientes cirúrgicos. Está claro, também, que o aumento da idade coloca o paciente sob risco mais acentuado, sendo os pacientes com mais de 65 anos de idade os representantes da população de grande risco. Além disso, muitos estudos epidemiológicos têm revisto os fatores adicionais que colocam pacientes em risco para o desenvolvimento do trombo venoso profundo, incluindo malignidade, maior índice de massa corporal (IMC), aumento da idade (especialmente >60 anos), gravidez, imobilização prolongada, uso de tabaco e trombo profundo prévio da veia.29 Estase Estudos com fibrinogênio marcado em pacientes, assim como estudos de necropsias, têm demonstrado, de maneira bastante convincente, que os seios soleares são os locais mais comuns para o início da trombose venosa. A estase pode contribuir com o contato da camada celular endotelial, com plaquetas ativadas e fatores procoagulantes, levando, portanto, à TVP. A estase, por si só, nunca foi demonstrada como sendo um fator causal de TVP. Estado de Hipercoagulabilidade Nosso conhecimento das condições de hipercoagulabilidade continua aumentando, mas ainda está em seus estádios iniciais. Os exames selecionados para a pesquisa da hipercoagulabilidade estão listados no Quadro 65-2. Tendo alguma das condições identificada, é instituído um regime terapêutico de anticoagulação por toda a vida, a menos que existam contraindicações específicas. Geralmente é observado que o paciente no pós-operatório de cirugia de grande porte fica predisposto à formação de TVP. Após operações de grande porte, grande quantidade de fator tecidual pode ser liberada dentro da corrente sanguínea, proveniente dos tecidos lesionados. O fator tecidual é um potente procoagulante expresso na superfície celular dos leucócitos, como também sua forma solúvel na corrente sanguínea. Aumento na contagem de plaquetas e na adesividade, alterações na cascata da coagulação e atividade fibrinolítica endógena resultam do estresse fisiológico das grandes operações e traumatismo, e têm sido associados ao aumento do risco de trombose. Quad r o 65 - 2 Estado s de Hiperco agulabi l idade Mutação do fator V de Leiden Mutação do gene da protrombina Deficiência de proteína C Deficiência de proteína S Deficiência de antitrombina III Homocisteinemia Síndrome antifosfolipídica Anticorpo lúpus Anticorpo anticardiolipina Lesão Venosa Foi claramente estabelecido que a trombose venosa ocorre em veias distantes do local da operação; por outro lado, é também sabido que pacientes submetidos a implante de prótese total de quadril frequentemente desenvolvem TVP no membro contralateral. Em um grupo de experimentos, as operações abdominais e de prótese total de quadril, em modelos animais, foram usadas para estudar a possibilidade de dano no endotélio venoso a distância do sítio da operação. Nesses experimentos, veias jugulares foram excisadas após os animais terem a perfusão estabelecida. Assim, demonstrou-se que o dano endotelial ocorrera após operações abdominais e era muito mais grave após operações no quadril. Ocorreram múltiplas microlacerações percebidas dentro das cúspides valvulares, que resultaram na exposição da matriz subendotelial. Os mecanismos exatos pelos quais ocorre essa lesão em local distante, e quais mediadores, celulares ou humorais, são responsáveis, não são claramente compreendidos, mas, por meio desses e de outros estudos, ficou evidente a ocorrência da lesão. Considerações Diagnósticas Incidência O tromboembolismo venoso ocorre, pela primeira vez, em aproximadamente 100 pessoas por 100.000 a cada ano, nos Estados Unidos. A incidência cresce com o aumento da idade, sendo de 0,5 em 100.000 aos 80 anos de idade. Mais de dois terços desses pacientes só têm TVP, e os demais têm evidência de embolia pulmonar. A taxa de recidiva com anticoagulação tem sido observada em 6-7 nos seis meses subsequentes. Nos Estados Unidos, a embolia pulmonar causa 50.000-200.000 mortes por ano. Tem sido observada taxa de mortalidade de 9,4 no 28.° dia após o primeiro episódio de TVP e de 15,1 após o primeiro episódio de tromboembolismo pulmonar. Ao lado da embolia pulmonar, a IVC secundária (resultante de TVP) é significativa em termos de custo, morbidade e limitação do estilo de vida. Para que as consequências da TVP, com relação à embolia pulmonar e ao IVC, sejam prevenidas, deve- se otimizar a profilaxia, o diagnóstico e o tratamento da TVP. Diagnóstico Clínico O diagnóstico de TVP requer alto índice de suspeita. A maioria é familiarizada com o sinal de Homans, que se refereà dor na panturrilha quando se faz dorsiflexão do pé. Embora a ausência desse sinal não seja um indicador confiável da ausência do trombo venoso, a descoberta do sinal de Homan positivo deve ser um aviso para buscar confirmação do diagnóstico. Certamente, a extensão da trombose venosa em membro inferior é um importante fator na manifestação dos sintomas. Por outro lado, a maioria dos trombos na panturrilha pode ser assintomática, a menos que haja propagação proximal. Essa é uma razão pela qual o teste de fibrinogênio radiomarcado demonstra maior incidência de TVP que estudos usando modalidades de imagens. Somente 40 dos pacientes com trombose venosa têm algumas manifestações clínicas dessa condição. Uma grande trombose venosa envolvendo o sistema venoso iliofemoral resulta em edema com cacifo na perna edemaciada (Fig. 65-12), dor e palidez — condição conhecida como phlegmasia alba dolens. Com a progressão adicional da doença, pode haver comprometimento do fluxo arterial pelo grande edema. Essa condição resulta em perna azulada e muito dolorida, chamada de phlegmasia cerulea dolens. Com essa evolução da doença, a menos que o fluxo seja restabelecido, pode haver desenvolvimento de gangrena venosa. FIGURA65-12 Edema. Observe a perda de definição do tornozelo. A síndrome pós-trombótica (SPT) é uma manifestação indesejável e comum de trombose venosa profunda. Ocorre em 20-50 dos pacientes após um episódio documentado de TVP. A apresentação clínica inclui edema crônico, dor e claudicação venosa. Podem ocorrer ulcerações venosas. Fatores de risco para o desenvolvimento de SPT incluem sintomas na perna que persistem por meses após o episódio agudo de TVP anatomicamente extensa envolvendo o sistema iliofemoral, TVPs ipsilaterais recorrentes e tratamento subterapêutico prolongado de anticoagulação de TVP. Infelizmente, o tratamento de SPT permanece apenas como suporte no qual a terapia de compressão continua sendo a principal no tratamento para SPT. Alguns pesquisadores têm defendido o uso precoce de trombólise para prevenir SPT, mas isso ainda não foi comprovado consistentemente. Estudos de Imagem e Testes Laboratoriais Venografia Injeção de material de contraste no sistema venoso é o método mais preciso para confirmar TVP e sua localização. O sistema venoso superficial é ocluído com torniquete, e o contraste é injetado nas veias do pé, para visualização do sistema venoso profundo. Apesar de ser um bom exame para evidenciar trombos oclusivos e não oclusivos, é invasivo, sujeito aos riscos do contraste e requer interpretação com índice de erro de 5-10 . Pletismografia por Impedância A pletismografia por impedância mede a alteração na capacitância venosa e o índice de esvaziamento do volume venoso na oclusão temporária e na liberação do sistema venoso. Um manguito é inflado ao redor da coxa proximal até o sinal elétrico atingir seu platô. Uma vez esvaziado o manguito, deve haver rápido refluxo e redução do volume. Com uma trombose venosa, nota-se o prolongamento da curva de refluxo. Não é muito usada clinicamente para detecção de trombose venosa na panturrilha e em pacientes com trombose venosa prévia. Fibrina e Dosagens de Fibrinogênio Os níveis de fibrina e fibrinogênio podem ser determinados medindo-se a degradação da fibrina intravascular. O teste de D-dímero mede os produtos de degradação da fibrina, que é um substituto da atividade da plasmina na fibrina. Em combinação com a avaliação clínica, a sensibilidade excede 90-95 . O valor preditivo negativo é de 99,3 para avaliação proximal e 98,6 para avaliação distal. No paciente em pós-operatório, o D-dímero está elevado pela operação e como tal não é usado para avaliação de TVP. Entretanto, um teste de D-dímero negativo, em pacientes com suspeita de TVP, tem alto valor preditivo negativo, variando de 97-99 .30 Ecocolor Doppler O atual teste diagnóstico de escolha para o diagnóstico de TVP é o ecocolor Doppler, uma modalidade que combina Doppler e imagem colorida de fluxo. Sua vantagem é ser não invasivo, abrangente e sem qualquer risco, ao contrário da flebografia. Esse teste também é altamente dependente do operador, o que é uma das suas desvantagens. O Doppler é baseado no princípio do impedimento de um sinal de fluxo acelerado devido a um trombo intraluminal. Uma investigação detalhada começa na panturrilha, com imagens das veias tibiais e, proximalmente, das veias poplítea e femoral. Um exame benfeito avalia o fluxo com compressão distal, que deve resultar em aumento do fluxo, e com compressão proximal, que deve interromper o mesmo. Se algum segmento do sistema venoso examinado apresentar incapacidade para demonstrar aumento à compressão, deve ser suspeito de trombose. A ultrassonografia modo B em tempo real, com imagem colorida de fluxo, tem melhorado a sensibilidade e a especificidade do exame ultrassônico. Com a dupla imagem, o fluxo sanguíneo pode ser mapeado na presença de oclusão trombótica parcial. O transdutor também é usado para comprimir a veia. Uma veia normal é facilmente comprimida enquanto, na presença de um trombo, há resistência à compressão. Adicionalmente, a cronicidade do trombo pode ser avaliada com base nas características da imagem, mais especificamente no aumento da ecogenicidade e da heterogeneidade. O ecocolor Doppler é significativamente mais sensível do que a avaliação fisiológica indireta. Imagem Venosa por Ressonância Magnética Com grandes avanços na tecnologia de imagem, o IVRM tornou-se um dos principais métodos para imagem de doenças venosas proximais. O custo e a questão da tolerância do paciente à claustrofobia limitam sua aplicação generalizada, mas isso tem mudado. É um teste útil para visualizar as veias ilíacas e a veia cava inferior (VCI), uma área onde o uso da ultrassonografia com Doppler é limitado. Profilaxia O paciente que sofreu cirurgia abdominal ou ortopédica, tem traumatismo importante ou imobilidade prolongada (>3 dias) representa um risco elevado para o desenvolvimento de tromboembolismo venoso. A análise dos fatores de risco específicos e os estudos epidemiológicos detalhando as causas do tromboembolismo venoso estão além dos objetivos deste capítulo. Há referências, para o leitor, para análises mais extensas desse problema.29 Os métodos de profilaxia podem ser mecânicos ou farmacológicos. O método mais simples para o paciente é poder andar. Aativação do mecanismo de bomba da panturrilha é um meio efetivo de profilaxia, como evidenciado pelo fato de que poucas pessoas sem fatores de risco subjacentes desenvolvem trombose venosa. Um paciente que se espera ser capaz de ficar de pé e andar em 24-48 horas tem baixo risco de desenvolver trombose venosa. A prática de passar o paciente “da cama para uma cadeira” é uma das posições mais trombogênicas para um paciente. Colocar o paciente sentado com as pernas pendentes causa represamento do sangue, que, durante as alterações pós-operatórias, pode ser facilmente um fator predisponente para o desenvolvimento do tromboembolismo. O método mais comum de profilaxia no universo cirúrgico tem recaído sobre os aparelhos de compressão intermitente, que comprimem periodicamente as panturrilhas e, essencialmente, replicam o mecanismo da musculatura da panturrilha. Isso tem reduzido a incidência de tromboembolismo venoso nos pacientes cirúrgicos. O mecanismo mais provável para a eficiência desse aparelho é, mais provavelmente, a prevenção da estase venosa. Alguns estudos sugeriram que a atividade fibrinolítica é reforçada sistemicamente por um dispositivo de compressão sequencial. No entanto, isso ainda não foi definitivamente estabelecido, porque um número considerável de estudos não demonstrou nenhum aumento da atividade fibrinolítica.31 Outro método tradicional de tromboprofilaxia é o uso de “minidoses” fixas de heparina. A dose tradicionalmente usada é de 5.000 unidades de heparina não fracionada, a cada 12 horas. Entretanto, a análise de ensaios comparando placebo versus a dose de 5.000 unidades de heparina a cada 12 horas mostrou que ela não émais efetiva do que o placebo. Quando a heparina é usada a cada oito horas, em vez de 12 horas, existe uma redução no desenvolvimento do tromboembolismo venoso. Mais recentemente, grande número de estudos tem revelado a eficácia da heparina de baixo peso molecular fracionada (HBPM) para a profilaxia e o tratamento do tromboembolismo venoso. A HBPM inibe a atividade do fator Xa e IIA, com uma proporção de antifator Xa para o antifator IIA variando de 1:1 a 4:1. A HBPM tem meia-vida plasmática elevada e biodisponibilidade significativamente maior. A biodisponibilidade consistente e a depuração de HBPM não necessitam de monitoração dos níveis do fator Xa, que facilita a utilização pelo paciente. A dosagem é baseada meramente no peso do paciente. Há uma resposta anticoagulante mais previsível do que com a heparina não fracionada. Não é necessário acompanhamento laboratorial, porque o tempo de tromboplastina parcial (TTPa) não é afetado. Diversas análises, incluindo uma importante metanálise, mostraram que a HBPM resulta em eficácia equivalente, senão melhor, com significativamente menos complicações hemorrágicas. Primeiro foi pensado que a HBPM resulta em menos sangramento do que a heparina não fracionada, mas isso ainda não foi confirmado por nenhuma observação clínica. Essa propriedade pode ser mais uma função da dose do que da ação intrínseca da droga. Comparações da HBPM com medidas mecânicas demonstraram a superioridade da HBPM na redução do desenvolvimento de doença tromboembólica.32-34 Ensaios prospectivos avaliando a HBPM em pacientes com lesões cranianas e pacientes traumatizados têm provado sua segurança, pois não ocorreu aumento no sangramento intracraniano ou em outros locais.35 Adicionalmente, a HBPM demonstra redução no desenvolvimento do tromboembolismo quando comparada com outros métodos. Assim, a HBPM é considerada o método ideal de profilaxia para pacientes de risco moderado e alto. Mesmo a relutância tradicional em usar heparina em grupos de alto risco, como pacientes politraumatizados e com trauma cefálico, deve ser reexaminada, devido ao perfil eficaz e seguro da HBPM em múltiplos ensaios clínicos. Tratamento Uma vez estabelecido o diagnóstico de trombose venosa, é necessário instituir um plano de tratamento. As complicações da TVP na panturrilha incluem a propagação proximal do trombo em até um terço dos pacientes hospitalizados e SPT. Além disso, a TVP de membro inferior não tratada envolve taxa de recorrência de 30 . Qualquer tromboembolismo venoso envolvendo o sistema femoropoplíteo deve ser tratado com anticoagulação plena. Tradicionalmente, o tratamento da TVP tem sido centrado em torno do tratamento de heparina para manter o PTT em 60-80 segundos, seguido pela terapia com varfarina para obter uma relação normalizada internacional (INR) de 2,5-3,0. Se a heparina não fracionada for usada, é importante usar uma terapia de dosagem baseada em nomograma (gráfico). A incidência de tromboembolismo venoso recorrente aumenta se o tempo até a anticoagulação terapêutica demorar. Portanto, é importante alcançar níveis terapêuticos dentro de 24 horas. É administrado um bolus inicial de 80 U/kg ou 5.000 unidades IV, seguido por 18 U/kg/h. A taxa é dependente de um alvo PTT correspondente ao nível de antifator Xa de 0,3-0,7 unidade/mL.41 O PTT deve ser verificado seis horas após qualquer alteração na dosagem de heparina. A varfarina é iniciada no mesmo dia. Se ela for iniciada sem heparina, existe o risco de um estado de hipercoagulabilidade transitória, porque os níveis de proteínas C e S caem antes de os outros fatores da vitamina K dependentes serem depletados. Com o advento da HBPM, não é mais necessário submeter o paciente à terapia com heparina endovenosa. A prática de administrar HBPM em ambulatório agora é aceita como uma ponte para a terapia com varfarina, que também é monitorada em ambulatório. A duração recomendada da terapia anticoagulante continua a evoluir. O tempo mínimo de tratamento de três meses é defendido na maioria dos casos. A taxa de recorrência é a mesma com três ou seis meses de terapia com varfarina. Se, entretanto, o paciente tem estado conhecido de hipercoagulabilidade ou já teve episódios de trombose venosa, é necessária anticoagulação por toda a vida, na ausência de contraindicações. A faixa aceita para o INR é de 2,0-3,0; um estudo recente, randomizado duplo-cego, confirmou que o INR entre 2,0-3,0 foi mais efetivo na prevenção do tromboembolismo recorrente do que um regime de baixa intensidade com o INR de 1,0-1,9.36 Adicionalmente, o regime de baixa intensidade não reduz o risco de sangramento clinicamente importante. A anticoagulação oral é teratogênica; portanto, não pode ser usada durante a gravidez. No caso de gestante com trombose venosa, a HBPM é o tratamento de escolha, sendo realizada durante o parto, podendo continuar no pós-parto, se necessário. Trombólise O advento da trombólise resultou em aumento do interesse desta para a TVP. O benefício proposto é a preservação da função valvular, subsequentemente, com menor possibilidade de desenvolver IVC. Entretanto, houve poucos estudos convincentes definitivos para sustentar o uso da terapia trombolítica para TVP. Uma exceção é o paciente com flegmasia, no qual a trombólise é defendida para aliviar obstruções venosas significativas. Nessa condição, a terapia trombolítica provavelmente resulta em alívio maior dos sintomas e menos sequelas, a longo prazo, do que a anticoagulação com heparina isoladamente. A alternativa para essa condição é a trombectomia venosa cirúrgica. Independentemente de qual tratamento foi escolhido, a anticoagulação a longo prazo é indicada. A incidência de sangramento importante é maior com a terapia trombolítica.25 Reconstrução Endovascular Aoclusão venosa proximal crônica do sistema iliofemoral é um desafio clínico. Aapresentação é variável e não há nenhuma modalidade de diagnóstico confiável para medir a estenose venosa iliofemoral proximal e avaliar com precisão o fluxo de saída. A fisiopatologia é frequentemente uma combinação de insuficiência venosa primária e secundária. Portanto, a avaliação e o tratamento podem ser desafiadores. A reconstrução endovascular elimina a necessidade de ponte cirúrgica e tem sido usada com sucesso. Recanalização da veia ilíaca ocluída é realizada endovascularmente. É, então, realizada a dilatação com balão da lesão, e um stent é colocado através do segmento dilatado. Foram obtidos excelentes resultados, evitando, assim, um procedimento cirúrgico aberto. A terapia endovascular ilíaca evoluiu para tornar-se a terapia de primeira linha para oclusões ilíacas. Trombose Venosa Profunda de Membros Superiores ATVP de membro superior é bem menos comum que sua contrapartida de membro inferior, constituindo apenas 5 de todas as TVP documentadas. Embora não muito comum, é um problema grave; o embolismo pulmonar ocorre em até um terço de todos os pacientes portadores de TVP de membro superior. Esse tipo de TVP geralmente se refere à trombose das veias axilar ou subclávia. A síndrome pode ser dividida em duas categorias: idiopática primária e secundária. As causas primárias incluem a síndrome de Paget-Schroetter e a TVP idiopática de membro superior. Pacientes com a síndrome de Paget-Schroetter desenvolvem trombose de esforço do membro em virtude da compressão da veia subclávia, o componente venoso da síndrome do desfiladeiro torácico. O quadro clínico clássico envolve um jovem atleta que usa o membro superior em movimentos repetitivos como natação, que causa compressão extrínseca repetiviva da veia subclávia. Nesses pacientes, as anomalias anatômicas, como costela cervical ou faixas miofasciais, causam a compressão venosa. As radiografias simples são um dos primeiros testes diagnósticos utilizados para confirmar a síndrome da saída torácica. Tratamento com trombólise inicial seguida de ressecção da primeira costela é o padrão de atendimento. A TPV idiopática do membro superior, às vezes, acaba sendo atribuída a uma malignidade oculta e, portanto,um diagnóstico desse tipo de TVP justifica a avaliação para malignidade não detectada. Causas secundárias de TVP de extremidade superior são mais comuns. Elas incluem cateter venoso central, marca-passo, trombofilia ou malignidade. Os achados clássicos no exame físico incluem edema unilateral, dor, desconforto da extremidade, eritema e cordão palpável. O diagnóstico é confirmado por ultrassonografia com Doppler. Uma vez que a clavícula obscurece a porção média da veia subclávia, a venografia ou a venografia por ressonância magnética pode ser necessária como modalidade de segunda linha de investigação por imagens. Tratamento O tratamento da TVP de membro superior envolve a terapia de anticoagulação. Os parâmetros de dosagem terapêutica são os mesmos que aqueles para TVP de membro inferior. Complicações de longo prazo da extremidade superior com TVP incluem recorrência e SPT. SPT é tratada com elevação da extremidade e compressão elástica graduada.37,38 Filtro na Veia Cava A complicação mais preocupante e potencialmente letal da TVP é a embolia pulmonar. Os sintomas de embolia pulmonar vão desde dispneia, dor torácica e hipóxia até cor pulmonale agudo, não sendo específicos e necessitando de boa vigilância para que o diagnóstico seja feito. O padrão-ouro é a angiografia pulmonar, mas, cada vez mais, as evidências colocam a angiotomografia computadorizada (ATC) como padrão-ouro. A anticoagulação adequada é usualmente efetiva em estabilizar a trombose venosa, mas se o paciente desenvolver embolia pulmonar na presença de anticoagulação adequada está indicado um filtro de veia cava. As indicações gerais para um filtro na veia cava estão listadas no Quadro 65-3. Filtros modernos são colocados percutaneamente sobre um fio-guia. O filtro de Greenfield, extensivamente utilizado e estudado, tem taxa de patência de 95 e taxa de embolia recorrente de 4 . Essa alta taxa de patência permite a colocação suprarrenal segura, caso haja comprometimento da veia cava inferior até acima das veias renais ou a colocação em gestante próxima do trabalho de parto. Quad r o 65 - 3 Indicações para Fil tro na Veia Cava Tromboembolismo recorrente apesar de anticoagulação adequada Trombose venosa profunda em paciente com contraindicação à anticoagulação Embolismo pulmonar crônico com hipertensão pulmonar resultante Complicações de anticoagulação Trombo venoso iliofemoral em propagação na vigência de anticoagulação Complicações relacionadas com o dispositivo são hematomas na ferida, migração do dispositivo para a artéria pulmonar e oclusão da veia cava causada pela retenção de um êmbolo grande. No caso de oclusão da veia cava, a drástica hipotensão que a oclusão causa pode ser confundida com embolia pulmonar maciça. A distinção entre hipovolemia da oclusão da veia cava e falência do coração direito, devido à embolia pulmonar, pode ser verificada através da mensuração da pressão de enchimento do lado direito do coração. O tratamento da oclusão da veia cava é a ressuscitação com volume. Filtros Recuperáveis de Veia Cava Embora geralmente seguros, os filtros de veia cava inferior envolvem risco e morbidade significativa. Portanto, a inserção permanente de um filtro, especialmente em paciente jovem que pode precisar só de proteção em curto prazo, não tem aceitação geral. Os filtros recuperáveis surgiram como solução em potencial para o paciente com indicações temporárias para profilaxia para êmbolo pulmonar. Existem três filtros VCI recuperáveis que têm licença da U.S. Food and Drug Administration (FDA): o filtro Recovery (Bard, Helsingborg, Suécia), o filtro OptEase (Cordis, Johnson Johnson Gateway, Piscataway, NJ) e o filtro Gunther Tulip (Cook Medical, Bloomington, Ind). Esses dispositivos variam ligeiramente em termos de forma e de comprimento. Todos eles podem ser inseridos a partir da veia jugular interna ou da veia femoral e recuperados pela veia jugular direita (Gunther-Tulip e Recovery) ou pela veia femoral direita (OptEase). Antes da recuperação, executa-se um venograma para assegurar a ausência de trombo da veia cava inferior ou no filtro. Esses dispositivos podem ser inseridos em uma sala de angiografia ou ao lado do leito, com o uso de ultrassom intravascular. Uma grande vantagem dos filtros recuperáveis é que eles podem ser removidos quando o paciente já não requer proteção de embolia pulmonar ou pode ser submetido à anticoagulação. Esse tipo de filtro pode beneficiar grupos de pacientes como aqueles com traumas múltiplos ou os pacientes cirúrgicos de alto risco. As complicações de inserção informadas incluem perfuração da veia cava, migração do filtro e trombose venosa no sítio de inserção. As complicações de recuperação incluem falha na recuperação do filtro, embolização do trombo causada pelo filtro, trombo da veia no sítio de recuperação e hematoma na virilha. Entretanto, o papel desses filtros recuperáveis continua a representar um trabalho em andamento. Uma investigação mais aprofundada é necessária antes que diretrizes de prática definitivas possam ser estabelecidas (Quadro 65-4).39,40 Quad r o 65 - 4 Indicações para Inserção de Fi l tro Recuperável de Veia Cava Inferio r Inserção profilática em paciente com trauma de alto risco (pacientes ortopédicos ou de medula espinal) Curta duração, contraindicação de terapia de anticoagulação Proteção durante terapia venosa trombolítica Trombose iliocaval extensa Tromboflebite Superficial A tromboflebite superficial é um distúrbio comum, diagnosticado no hospital e ambulatório. Em pacientes hospitalizados, a tromboflebite superficial resulta, geralmente, de um cateter de demora. Na clínica, os pacientes com tromboflebite informam fatores de risco predisponentes comuns, como operação recente, parto recente, estase venosa, veias varicosas ou uso de drogas intravenosas. Os pacientes que negam qualquer um dos fatores mencionados podem ser classificados como portadores de tromboflebite idiopática. Nesses casos, deve-se assegurar que o paciente não tenha um estado oculto de hipercoagulação ou malignidade oculta. Na verdade, em 1876, Trousseau identificou o fenômeno da tromboflebite migratória e malignidade, envolvendo particularmente a cauda do pâncreas. A doença de Mondor envolve tromboflebite das veias superficiais da mama. O diagnóstico de tromboflebite superficial pode ser feito facilmente pelo exame físico de um cordão eritematoso palpável cursando ao longo de uma veia superficial, localizado mais frequentemente ao longo dos membros inferiores. A ultrassonografia dúplex é usada se houver suspeita de propagação proximal no sistema venoso profundo. Com esse diagnóstico de TVP, recomenda-se a anticoagulação. Se, porém, o trombo estiver próximo à junção safenofemoral, o tratamento desse quadro mais elusivo será motivo de controvérsia. Alguns autores recomendam o ultrassom em série; outros, a anticoagulação; uma outra alternativa é a ligadura cirúrgica dessa junção. O tratamento de tromboflebite localizada e não complicada envolve a terapia conservadora, que consiste em medicamentos anti-inflamatórios e meias elásticas de compressão. Quando a tromboflebite envolver tufos venosos, especialmente nos membros inferiores, recomenda-se a ressecção. A remoção seletiva de toda a veia ao longo de seu curso só é indicada no quadro raro de tromboflebite séptica supurativa, depois de excluídas todas as outras fontes de sepse. Conclusão O espectro da doença venosa é amplo e diversificado, fornecendo aos cirurgiões que conhecem totalmente a fisiologia peculiar de veias uma arena rica e recompensadora para investigações futuras. Leituras sugeridas Caggiati, A., Bergan, J. J., Gloviczki, P., et al. Nomenclature of the veins of the lower limbs: An
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