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Aula 1 - micologia

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Micologia 
AULA 1 – PARTE 1 (04/11/19) 
INTRODUÇÃO: DO AMBIENTE À DOENÇA 
Os fungos foram situados geneticamente no meio entre as plantas e os animais, pois possuem 
características dos dois reinos. 
CARACTERÍSTICAS RELEVANTES: 
- São seres eucariontes (mais evoluídos que as bactérias. Membrana plasmática, núcleo...). 
- São heterotróficos (Não fazem fotossíntese. Adquirem os nutrientes do meio externo). 
- Não têm clorofila. 
- Parede celular que vai protege-lo contra agentes externos (sol, chuva..) composta por glucanas e 
quitina (cada tipo de fungo possui uma composição de parede celular formada de açúcares muito 
complexos). 
*É importante saber isso, pois, a parede celular é uma das partes mais externas do fungo que vai 
entrar em contato com a pele humana. Entretanto, como essa parede é formada por açúcares, 
não vai ativar o sistema imunitário humano. 
**Como cada fungo possui uma parede celular com composições diferentes é difícil criar drogas 
antifúngicas, pois, elas, além de burlar o sistema imunológico, precisam atravessar essas paredes 
de diferentes composições. Isso torna os fungos altamente resistentes. 
- Não possuem colesterol e sim um fosfolipídio denominado ERGOSTEROL exclusivamente 
presente na membrana plasmática dos fungos (um dos fármacos quimioterápicos mais 
importantes porque atinge exclusivamente o fungo e não é tóxico pro ser humano). 
*A desvantagem é que, por estar localizado na membrana plasmática, primeiro a droga precisa 
atravessar a parede celular. Por isso, geralmente é administrada com outra droga que quebra a 
parede celular, se não o antifúngico não penetra. 
 
MORFOLOGIA DOS FUNGOS 
- Unicelulares: leveduras (Bebida alcoólica, pão, bolo). Não podem ser identificadas pelo 
microscópio, só por muitos testes bioquímicos. 
- Filamentosos: pluricelulares (vulgarmente chamados de mofo). Olhando a estrutura consegue se 
identificar o fungo. 
- Reprodução: Conídios são esporos dos fungos (reprodução assexuada). Quando caem em um 
ambiente com nutrientes, eles começam a germinar e aparecem estruturas denominadas hifas 
(estruturas usadas para se nutrir. No corpo humano são responsáveis por disseminar o fungo de 
um tecido para o outro). As hifas amadurecem e formam outra estrutura reprodutiva chamada de 
corpo de frutificação. O corpo de frutificação é a estrutura que vamos olhar para identificar o 
fungo. O ciclo recomeça. 
- DIMORFISMO: fungos que apresentam duas formas: leveduras unicelulares e filamentosos 
pluricelulares. Conseguem fazer a transição entre as formas dependendo da mudança de 
temperatura. Por exemplo, um fungo que está no ambiente (28°) e entra no hospedeiro humano 
através da respiração, para que haja a reprodução, é necessário que ele se adapte à nova 
temperatura (36°). Existem 5 fungos dimórficos. 
Importância de estudar micologia: os fungos agem na decomposição de matéria orgânica, na 
fermentação de bebidas e alimentos, compostos farmacêuticos, combustíveis (bioetanol a partir 
de cana). 
Para o fungo causar alguma infecção ou doença, ele precisa, necessariamente, causar um dano ao 
ser humano. 
 
OS FUNGOS SÃO CAPAZES DE CAUSAR: 
- Sensibilidade (causam alergia). Algumas pessoas possuem hipersensibilidade ao fungo e seu 
sistema imunológico atua a fim de eliminar ele mesmo que não cause danos, só por estar ali. 
- Intoxicações 2 tipos: 
1. Micetismo (fungo macroscópico, cogumelos). Intoxicação que acontece rapidamente, por 
ingestão de fungos que inclusive podem ser letais. Alguns são alucinógenos. 
2. Micotoxicoses (microscópico). Intoxicação que ocorre a longo prazo, geralmente 
relacionada a toxinas liberadas por esses fungos que, muitas vezes, não são visíveis a olho nu. 
Algumas toxinas se acumulam no fígado e a longo prazo, podem causar câncer hepático causado 
por esse acúmulo. 
Micologia não é considerada parasitismo porque o fungo NÃO é um parasita obrigatório, ou seja, 
ele não necessita obrigatoriamente de um hospedeiro para fechar o ciclo. Os fungos são parasitas 
facultativos. 
Saprofíticos – conseguem sobreviver degradando matéria orgânica do ambiente, sem 
necessariamente parasitar um hospedeiro humano. 
No organismo humano: podem fazer parte da microbiota natural (pele ou mucosas) ou causar 
dano verdadeiro. 
O mesmo fungo pode não fazer absolutamente nada, mas também pode levar o paciente à óbito. 
Depende de como o indivíduo se encontra, por exemplo, em uma UTI neonatal ou um CTI com 
pacientes terminais, o risco de complicações é muito alto quando comparado a um indivíduo 
saudável. A situação imunológica interfere muito. 
 
 
 
 
 FATORES DE VIRULÊNCIA: 
Característica de um fungo que é obrigatoriamente necessária para que ele cause algum dano. 
- TERMORESISTÊNCIA – capaz de crescer a 37°C. Os fungos que não conseguem se desenvolver 
nessa temperatura não podem parasitar o homem. 
- DIMORFISMO – na forma saprofítica na natureza são fungos filamentosos, em contato com o ser 
humano, em sua forma parasítica, vão se converter para a forma leveduriforme. 
- ESPORULAÇÃO ATRAVÉS DO VENTO – reprodução. 
- MELANINA – tem a função de proteger a nossa pele contra radiações. Os fungos suportam até 3 
mil vezes mais radiação que os humanos, pois produzem muita melanina. São fungos do dia a dia, 
como os que estão presentes em lentes de contato. Contra esses fungos o sistema imunológico 
não tem nenhum fator de proteção. 
O aquecimento global está habituando os fungos a temperaturas mais altas, tornando patológicos 
os que antes eram inofensivos. Fungos multirresistentes. 
Por que o avanço da medicina foi um passo atrás no tratamento das micoses? 
O uso de terapias imunossupressoras (corticoterapia, antibiótico...) torna os hospedeiros cada vez 
mais frágeis. O uso indiscriminado desses medicamentos induz formas multirresistentes. 
A doença vai depender de 3 fatores muito importantes: 
1- O ambiente onde o fungo se encontra; 
2- O tipo do hospedeiro que o fungo faça a infecção (imunossuprimido ou 
imunocompetente); 
3- O patógeno. 
 
Patógeno verdadeiro – atua em qualquer tipo de indivíduo, independente de sua imunidade. 
Patógenos oportunistas – atuam em indivíduos doentes, imunossuprimidos. 
 
AULA 1 – PARTE 2 (04/11/19) 
MICOSES SUPERFICIAIS E CUTÂNEAS 
São fungos que precisam de queratina. O dano vai acometer a pele, pelos, cabelo e unhas. 
Micoses superficiais – não têm um mecanismo de degradação muito potente. Se alimentam, 
geralmente, das células descamativas da pele e do cabelo. 
*Remover a pele morta não retira os fungos, pois eles possuem mecanismos de reprodução muito 
desenvolvidos, ou seja, não adianta ser muito limpo e tomar muitos banhos por dia porque os 
fungos não serão eliminados. 
Micoses cutâneas – os fungos não se alimentam apenas de células mortas, mas tudo o que tenha 
queratina. O cabelo será degradado porque eles irão se alimentar dos folículos pilosos, haverá 
lesão verdadeira na pele, entre outros. 
MICOSES SUPERFICIAIS 
Não causam danos verdadeiros, não causa prurido, dor, infecção... só algum tipo de incômodo 
estético. 
Se a presença do fungo causa vergonha ou incômodo pode ser considerado doença, pois gera 
dano psicológico e doença não envolve só dano físico. 
 
MICOSES SUPERFICIAIS QUE SERÃO ESTUDADAS: 
Piedra branca - Causadas pelo fungo Thricosporum sp. 
Piedra negra – causada pelo fungo Piedraia hortae 
Pitiríase versicolor (pano branco) – causada pelo Malassesia sp. 
 
 PIEDRAS – são micoses de cabelo. São chamadas de Piedra branca ou Piedra Negra porque, 
quando crescem, podem ou não ser pigmentadas, mas estão relacionadas à mesma patologia. São 
incrustrações no fio do cabelo. A transmissão se dá pelo contato entre cabelo e a terra, jardim. 
Produz estruturas de reprodução muito rápido. Liberação de ARTROCONÍDEOS - são células 
reprodutivas de fungos filamentosos que crescem muito rapidamente em contato com o 
hospedeiro para se manternesse hospedeiro (cadeias de conídios quadradinhos. Imagem quase 
sempre cai na prova). 
Piedra branca – o fungo é cosmopolita, ou seja, consegue existir em qualquer solo e em qualquer 
lugar do planeta. 
Piedra negra – característica de solos da Amazônia. 
*Não tem relação com higiene. Depois da contaminação o indivíduo pode lavar a cabeça infinitas 
vezes e o fungo não será eliminado. 
**Geralmente é confundido com lêndeas. 
Tratamento – raspar a cabeça de todas as pessoas da casa, mas isso dificilmente ocorre. Tratar 
com shampoo antifúngico (remédio de manipulação, custo elevado). O tratamento geralmente 
envolve 2 meses de utilização desse shampoo, mas as pessoas param de usar antes, então tem um 
alto índice de reincidência do fungo. 
Todos os pertences da pessoa ficam contaminados (escova, boné, toalha, lençol...) e precisam ser 
fervidos ou jogados fora. Contamina a máquina de lavar, precisa de muitos cuidados especiais. 
*Em pacientes sistêmicos, o fungo entra na corrente sanguínea e esses precisam ser tratados com 
medicação oral. Essa contaminação ocorre, geralmente, por meio de agentes da saúde que levam 
os fungos para dentro do hospital (por meio de cabelo solto, uso de jaleco na rua). Estes entram 
em contato com indivíduos imunossuprimidos, contaminando-os. 
 
Ptiríase versicolor – conhecida vulgarmente como micose de praia. Todo mundo possui 
Malassesia sp. na pele, pois faz parte da microbiota natural dos humanos e de alguns outros 
mamíferos. 
Esse fungo é lipofílico, ou seja, se alimenta de gordura. Ele muda da forma saudável (saprofítica) 
para a forma parasitária quando há algum estímulo ou fator que mude a oleosidade da nossa pele 
ou que gere muito mais suor do que habitualmente. Então ele cresce, por exemplo, devido a 
fatores hormonais (puberdade, menopausa). 
Malassesia quando se reproduz, secreta uma série de ácidos que são precursores das nossas 
células, dos nossos melanócitos, e agem inibindo a nossa produção de melanina. Por isso os 
indivíduos ficam cheios de pintinhas brancas. 
As manchas “aparecerem” quando “vamos à praia” porque a área ao redor fica bronzeada, 
evidenciando o que já tinha, mas pode ser em qualquer lugar que tenha contato com o sol. Se 
retirar a oleosidade, as manchas somem, logo, não é um dano verdadeiro. 
Diagnóstico – exame clínico é importante porque essas manchas também podem indicar lesões 
neoplásicas. 
Tratamento – reduzir a oleosidade da pele, reduzir a quantidade de fungo. O hipossulfito de sódio 
e sulfeto de selênio são tóxicos e não costumam ser usados. São utilizados loções e cremes para 
diminuir a oleosidade. 
Não há contaminação por Malassesia porque não é uma infecção e sim um desbalanço da 
microbiota da nossa pele. 
 
MICOSES CUTÂNEAS 
Fungos dermatófitos – obrigatoriamente degradam QUERATINA (não confundir com melanina) 
São fungos cosmopolitas, vivem em todas as partes do mundo. 
TODOS são fungos filamentosos que se encontram em contato com o solo. Esses contaminam 
quando em contato com qualquer terra ou areia, inclusive a da praia. 
Para identificar o fungo é preciso realizar uma raspagem da lesão e enviar para o laboratório para 
crescer em meio de cultivo, pois, só assim aparecerão as estruturas que vão permitir a 
identificação do fungo. 
O que favorece ao fungo produzir uma dermatofitose? Qualquer coisa que o ajude a degradar 
queratina. 
1- Suor (a pele fica macerada, mole) 
2- Idade (idosos têm dificuldade de secar todas as partes do corpo) 
 
Transmissão: contato com o solo (geofilia), contato com pessoas (antropofilia) e/ou animais 
(zoofilia) contaminados. 
 
TIPOS DE MICOSES CUTÂNEAS: 
Tinha dos pés (pé de atleta) – contaminação em vestiários (pés descalços X calçados sujos de 
terra), calçado fechado com pés úmidos. 
Fissuras, pele macerada, prurido na região dos dedos que pode levar à formação de feridas (porta 
de entrada para infecções mais graves). 
Tinha da região inguinocrural – biquini úmido, calcinhas e cuecas de tecidos que não permitem a 
transpiração, fralda molhada. 
Lesões descamativas, eritema, prurido, sensação de queimação. 
*Obs.: muito parecido com candidíase, mas são diagnósticos distintos que só podem ser 
diferenciados a partir de investigação e exames. 
Tinha da pele glabra – herpes circinada. Borda elevada e pigmentada (pode ter muitos 
diagnósticos), regiões onde não existe pele. Muito relacionada a transmissão por animais. É 
tratável. 
Micoses de unha (onicomicose) – proliferação, escurecimento, espessamento e descolamento das 
unhas. O fungo sobrevive no esmalte. Se não tratar, a unha pode não crescer nunca mais. 
Tinha do couro cabeludo – perda de cabelo onde o fungo se desenvolve. Se não tratar, pode não 
nascer mais cabelo nunca mais. 
 
Tratamento: fluconazone (4-6 meses), griseofulvin (6-12 meses) e terbinafine (6-12 meses. É o 
mais forte e mais eficaz). Miconazol (unhas). 
*Os tratamentos são caros e muito prolongados. Quando as pessoas visualmente percebem 
melhora, interrompem o tratamento e isso gera reincidência do fungo.

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