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4ºAula
A sáude do trabalhador
Objetivos de aprendizagem
Ao término desta aula, vocês serão capazes de:
• conceituar saúde e patologia;
• estudar a saúde mental;
• refletir sobre as patologias laborais.
Nesta aula, vamos estudar as doenças mentais relacionadas 
ao trabalho ou psicopatologias laborais, é preciso, inicialmente, 
falar sobre o conceito de saúde para enfatizar que nesse conceito 
também se insere o de saúde mental. Ademais, a ênfase atual 
dos cuidados com a saúde está na prevenção e promoção da 
saúde, bem como no tratamento e diagnóstico dos transtornos 
da qual não se afasta a proteção dos trabalhadores quanto à 
saúde mental no âmbito laboral.
Bons estudos!
20Psicologia Organizacional
1 - Saúde e Patologia
2 - Saúde mental
3 - Patologias laborais
1 - Saúde e Patologia
Na defi nição da Organização Mundial de Saúde é o 
“estado de completo bem-estar físico, mental e social e não 
somente ausência de doença ou enfermidade” (LAROUSSE, 
1999, p. 814).
Segundo Mário de Magalhães Chaves (2012 p.13) citado 
por Sebastião Geraldo de Oliveira (2015, p. 135):
saúde é um estado em que o indivíduo tem o 
vigor físico para o desempenho das atividades 
normalmente esperadas dos indivíduos de sua 
idade, não apresenta alterações na estrutura e 
no funcionamento de seus subsistemas (órgãos 
e aparelhos) que causem dor ou desconforto 
ou possam ser origem de doença, e mantém 
harmonia e equilíbrio em suas funções mentais 
sufi cientes para uma vida normal de relações 
com seus semelhantes, dentro da cultura a que 
pertence.
Resta evidente pela transcrição desses conceitos que 
saúde não signifi ca simplesmente a ausência de doenças, pois 
nem todos os sujeitos sadios acham-se isentos de doença 
e nem todos os isentos de doença são sadios. Isso implica 
que indivíduos funcionais produtivos podem ser portadores 
de doenças, mostrando-se muitas vezes profusamente 
sintomáticos ou portadores de sequelas e incapacidades 
parciais.
Considere-se, ainda, que outros indivíduos podem 
apresentar comprometimentos, incapacitações, limitações 
e sofrimento sem qualquer evidência clínica de doença, 
além da mera presença ou ausência de patologia ou lesão 
e complicações resultantes, com repercussões acerca da 
qualidade de vida (e a alegria de viver) dos sujeitos.
Em uma perspectiva rigorosamente clínica, a saúde não 
é o oposto lógico da doença e, por isso, não poderá de modo 
algum ser defi nida como “ausência de doença” (ALMEIDA 
FILHO, 2000, p. 227). Esse estudo em referência trata 
da exploração epistemológica da expressão objeto Saúde, 
considerando-se a noção de “bem- estar” no plano individual, 
“qualidade de vida” no plano microssocial e “situação de 
saúde” no plano coletivo mais amplo.
O que importa ressaltar é que normas internacionais 
(OMS, Convenções da OIT) e normas nacionais federais 
(Lei 8.080/90) referem-se ao conceito de saúde sem dissociá-
lo da saúde mental. E isso porque o ser humano é um ser 
complexo e interligado em profundas relações de natureza 
biológica, psicológica e social que contém aspectos especiais 
e se diferenciam em termos de funcionamento, mas que são 
totalmente interdependentes. A dimensão biológica refere-
se às características constitucionais herdadas e congênitas, 
Seções de estudo
incluindo os diferentes órgãos e sistemas, inclusive a resistência 
e a vulnerabilidade do corpo. A dimensão psicológica 
corresponde aos processos afetivos, emocionais e intelectuais, 
conscientes ou inconscientes, caracterizando a personalidade, 
a vida mental, o afeto e o jeito de se relacionar com as pessoas 
e com o mundo que as rodeia. A dimensão social é relativa 
à incorporação e infl uências dos valores, das crenças e 
expectativas das pessoas com as quais se convive, dos grupos 
sociais e das diferenças comunidades com as quais entramos 
em contato durante a vida. Inclui também a infl uência do 
meio ambiente físico e as características ergonômicas dos 
objetos que utilizamos. Os valores, as crenças, o papel na 
família, no trabalho e em grupos e comunidades que cada 
pessoa participa (LIMONGI FRANÇA; AVELINO, 2007, 
p. 22, 23; TAMAYO, 2004, p.13)
Tanto é assim que determinado trabalhador que sofre 
acidente do trabalho e corta a mão tem afetado, inicialmente, 
apenas um aspecto biológico, mas, se for de natureza grave, 
necessitará de atendimento especializado e dependerá de 
outras pessoas para sua recuperação, restando mobilizado seu 
aspecto social. Além do mais, esse trabalhador certamente 
fi cará preocupado, ou talvez, deprimido, mobilizando, 
então, sua dimensão psicológica (LIMONGI FRANÇA; 
AVELINO, 2003, p. 23; CARMARGO, 2000; NEVES, p. 
24/25).
Há, portanto, nítida interação entre os aspectos físico, 
psicológico e social, ou seja, o ser humano é um ser bio-
psico-social. Aliás, esse relacionamento já foi reconhecido 
pela Medicina desde 1818, sendo que em 1932 foi fundado 
um comitê para estudos em Psicossomática (LIMONGI 
FRANÇA; AVELINO, 2007, p.84) e a ciência, no geral, tem 
se afastado do sistema cartesiano para adotar a teoria holística 
da realidade, reconhecendo que os fenômenos biológicos, 
psicológicos, sociais e ambientais são todos interdependentes 
(CAPRA, 2002, p. 14). A divisão, hoje superada pela ciência, 
entre corpo e mente levou os médicos a se concentrarem na 
máquina corporal e a negligenciarem os aspectos psicológicos, 
sociais e ambientais (aqui também incluso o ambiente de 
trabalho) da doença (CAPRA, 2002, p. 116-155; MAGNÓLIA 
MENDES e CRUZ, 2004, p. 40).
Se isso não bastasse, os afetos psíquicos (angústia, 
emoção) possuem representações somáticas, tais como: 
palpitações, hipertensão arterial, tremores, suores, 
hiperglicemia, dentre outras (DEJOURS, 2007, p. 29) e as 
manifestações de desgaste mental também são marcadas por 
cansaço, dor, alta irritabilidade, desânimo e sono perturbado, 
caracterizando a fadiga patológica e podendo levar a crises 
mentais agudas (CRUZ, 2005, p. 222). Assim, para análise de 
uma doença do trabalho não se pode considerar apenas os 
aspectos psicológicos ou apenas os aspectos físicos para se 
fi xar ou afastar a existência de nexo de causalidade entre as 
atividades e a atividades exercidas pelo trabalhador doente, 
pois os trabalhadores não somente padecem fi sicamente o 
desgaste do trabalho, como também manifestam sofrimento 
mental que podem causar as psicopatologias laborais (CRUZ, 
2005, p.208; KAPLAN, p. 494).
Não se pode negar que as manifestações de doenças 
variarão de caso para caso, de sintomas quase puramente 
psicológicos para outros quase exclusivamente físicos. 
21
Quando os aspectos psicológicos predominam, a doença é 
usualmente denominada “doença mental” e que afeta a saúde 
do trabalhar em seu aspecto psicológico.
2 - Saúde mental
Como se viu acima, para que se considere que 
determinado indivíduo tem saúde é necessário que também 
se considere o seu aspecto psíquico. É imprescindível que a 
pessoa tenha harmonia e equilíbrio em suas funções mentais, 
sufi cientes para uma vida normal de relações com seus 
semelhantes e esteja em um estado de bem-estar mental que 
lhe permita enfrentar os desafi os inerentes à vida humana.
Ademais, para que fi que bem claro, é importante registrar 
que, falar-se em saúde mental é um paradoxo que se justifi ca 
apenas para se ressaltar o aspecto mental da saúde que é 
indissociável dos demais aspectos (físico e social). O termo 
saúde é um termo que já subentende totalidade (CAPRA, 
2002, p.321).
Mas o que seria esse estado de completo bem-estar 
mental? Segundo Sebastião Geraldo de Oliveira, baseado em 
Christophe Dejours e colaboradores (OLIVEIRA, p. 118): 
seria melhor considerar o completo bem-estar mais como 
um ideal, ou mesmo uma fi cção, do que uma realidade. Nesta 
perspectiva, a saúde não seria um estado, mas um objetivo 
que se remaneja sem cessar. Não é alguma coisa que se tem 
ou não se tem, mas que se tenta conquistar sempre e que se 
defende, como a liberdade.
René Mendes (1997, p. 48), com base no Dicionáriode 
termos técnicos de medicina e saúde, entende que saúde é 
uma condição em que um indivíduo ou 
grupo de indivíduos é capaz de realizar suas 
aspirações, satisfazer suas necessidades e 
mudar ou enfrentar o ambiente. A saúde é um 
recurso para a vida diária, e não um objetivo 
de vida; é um conceito positivo, enfatizando 
recursos sociais e pessoais, tanto quanto as 
aptidões físicas. É um estado caracterizado 
pela integridade anatômica, fi siológica e 
psicológica; pela capacidade de desempenhar 
pessoalmente funções familiares, profi ssionais 
e sociais; pela habilidade para tratar com tensões 
físicas, biológicas, psicológicas ou sociais; com 
um sentimento de bem-estar e livre do risco 
de doença ou morte extemporânea. É um 
estado de equilíbrio entre os seres humanos 
e o meio físico, biológico e social, compatível 
com plena atividade funcional.
Esse desiderato deve ser atingido mediante ações que 
assegurem o bem-estar físico e também mental dos cidadãos, 
conforme se verifi ca no parágrafo único do artigo 3°, da 
Lei 8.080/90, anteriormente transcrito, que impõe ações 
destinadas a assegurar o bem-estar mental. Assim, “promover 
a saúde mental compreende combater os transtornos mentais 
e neutralizar os fatores que os favorecem” .
Segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria Clínica 
(1991), em nota divulgada por meio do folheto Você não 
está só, citado por Fiorelli e Malhadas Junior (p. 265 e 266), 
entende-se como indivíduo “mentalmente saudável” aquele 
que:
• compreende que não é perfeito;
• entende que não pode ser tudo para todos;
• vivencia uma vasta gama de emoções;
• enfrenta desafi os e mudanças da vida cotidiana;
• sabe procurar ajuda para lidar com traumas e 
transições importantes (isto é, não se considera 
onipotente).
Conforme os mesmos autores, esse funcionamento 
encontra-se comprometido quando:
• funções mentais superiores sofrem interferência, 
difi cultando ou afetando a atuação;
• atividades da vida diária, rotineiras, usualmente 
necessárias, sofrem comprometimento em algum 
grau.
Consideradas essas circunstâncias, o trabalhador se torna 
impossibilitado de atuar dentro dos padrões de normalidade 
e isto se torna perceptível para as pessoas relacionadas ao 
ambiente de trabalho, passando, então, a sofrer pressões 
psicológicas pela apresentação de comportamentos 
inadequados e inaceitáveis para os que com ele convivem 
(FIORELLI; MALHADAS, 1998, p. 266).
Com vistas a evitar essas circunstâncias originárias de 
sintomas patológicos é que deve o empregador preocupar-se 
com o ambiente laboral e sua cultura organizacional, buscar 
a prevenção de doenças e promoção da saúde, conforme 
normas nacionais e internacionais já elencadas anteriormente.
A proteção à saúde ocorre em evolução, inicialmente para 
afastar as agressões físicas dos acidentes de trabalho, depois 
para curar as doenças, em seguida as pesquisas ampliaram-se 
para a higiene industrial, mais tarde o questionamento avançou 
em busca do bem-estar físico, mental e social do trabalhador. 
Atualmente, pretende-se avançar além da saúde, buscando-se 
a integração do trabalhador com o homem – o ser humano 
dignifi cado e satisfeito com sua atividade, enfi m, busca- se a 
qualidade de vida no trabalho (OLIVEIRA, 2007, p. 79).
Esse renomado autor, em outras palavras, descreve que 
o trabalhador merece em seu ambiente de trabalho todo o 
respeito possível e, acima de tudo, ser tratado sob o prisma 
constitucional da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, 
visa a alterar o rumo da história e, logicamente, para melhor).
3 - Patologias laborais
Se a saúde é o completo bem-estar físico, mental e social 
e não somente a ausência de doença, ou enfermidade, impõe-
se identifi car e diagnosticar as patologias do trabalho para que 
ocorra sua prevenção e promoção da saúde.
O objeto da patologia do trabalho é o estudo (logos) 
do sofrimento, dano ou agravo (pathos) à saúde, causado, 
desencadeado, agravado pelo trabalho ou com ele relacionado. 
O sofrimento é a dor física, angústia, afl ição, amargura, 
infortúnio, desastre, agravo. Este possui a ideia de dano, de 
prejuízo. Dano, por sua vez, signifi ca estrago, deterioração, 
danifi cação. Podem ser classifi cadas em dois grupos básicos, 
segundo Mendes (2010, p. 50):
22Psicologia Organizacional
a. num primeiro grupo estão aquelas doenças 
diretamente causadas pela “nocividade da matéria 
manipulada”, de natureza relativamente específi ca, 
e que vieram dar origem às “doenças profi ssionais”, 
também conhecidas como “tecnopatias”;
b. num segundo grupo estão aquelas doenças 
produzidas pelas condições de trabalho: “posições 
forçadas e inadequadas”, “operários que passam o 
dia inteiro em pé, sentados, inclinados, encurvados 
etc.”. São as que mais tarde foram denominadas 
“doenças causadas pelas condições especiais em que o trabalho 
é realizado”, também conhecidas como mesopatias.
Esse é o critério adotado pela nossa legislação brasileira, 
por meio do art. 20, da Lei 8.213 de 24 de julho de 1991 
(Brasil, 1991), mas que foi aperfeiçoada pela Comissão 
de Especialistas em Patologia do Trabalho, criada pelo 
Ministério da Saúde, com vistas a adotar uma única tabela 
de nosologias, tanto para o SUS quanto para a Previdência 
Social, culminando com o Anexo do Decreto nº 3.048 de 06 
de maio de 1999 – Regulamento da Previdência Social (Brasil, 
1999), passando-se então à compreensão ampla de “doenças 
relacionadas com o trabalho”, o que permitiu a superação 
da confusa denominação ou – talvez – sutil diferença entre 
“doenças profi ssionais” e “doenças do trabalho”, presentes 
na conceituação legal já referida (MENDES, 2003, p. 56).
No referido Regulamento da Previdência Social se 
verifi ca duas listas para diagnóstico da doença relacionada 
com o trabalho, isto é, por “agente” e por “doença”. Médicos 
do Sistema de Saúde que atendem trabalhadores partirão, via 
de regra, da “doença” (Lista B), chegando a prováveis agentes 
causais ou fatores preferirão, provavelmente, entrar pela Lista 
A, isto é, a partir dos agentes causais ou fatores de risco, 
chegando-se às doenças causalmente relacionadas com estes 
agentes ou fatores de risco (MENDES, 2003, p. 56).
Segundo esse diploma legal (Lei 8.213/91), será 
doença profi ssional, aquela entendida como produzida 
ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a 
determinada atividade e constante da respectiva relação 
elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social 
(inciso I, art. 20) e será doença do trabalho aquela adquirida 
ou desencadeada em função de condições especiais em que 
o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente, 
constante da relação mencionada no inciso I.
Para que a doença (profi ssional ou do trabalho) seja 
considerada como acidente do trabalho e, portanto, doença 
relacionada ao trabalho, deverá ensejar incapacidade 
laborativa, pois a doença que não causar essa incapacidade 
não será doença do trabalho (art. 20, §1º, alínea “c”, da Lei 
8.213/91).
O foco do presente estudo das psicopatologias do 
trabalho será em relação “às condições especiais em que o 
trabalho é executado”, como veremos em especial no tópico 
relativo ao impacto da organização do trabalho sobre a saúde 
dos trabalhadores.
Em consequência dessas condições precárias, os 
trabalhadores têm sido vítimas de diversas patologias físicas e 
mentais, não somente em razão de substâncias físicas, químicas 
ou biológicas, mas também e em especial em decorrência da 
organização do trabalho.
Ora, se da análise do ambiente de trabalho se constatar 
que o trabalhador estava sujeito a condições degradantes, 
sobrecarga exaustiva de trabalho, jornadas extraordinárias, 
ruídos excessivos, iluminação defi citária, exposição a riscos, 
ambiguidade nos papéis organizacionais, insegurança 
no trabalho, problemas relacionados com o emprego e 
desemprego, ameaça de perda de emprego, desacordo com 
patrão e colegas de trabalho, má adaptação ao horário de 
trabalho ou turnos de revezamento enoturno, ritmo de 
trabalho penoso ou outras difi culdades físicas e mentais 
relacionadas ao trabalho, se pode concluir que essas condições 
implicam, por sua própria natureza, risco para a saúde dos 
trabalhadores. Nessa hipótese estará aberta a possibilidade 
para se reconhecer a responsabilidade objetiva do empregador 
para as psicopatologias laborais.
Nem se alegue que a diversidade de personalidades 
impediria o reconhecimento da responsabilidade subjetiva ou 
objetiva, pois da mesma forma que determinados indivíduos 
submetidos a condições agressivas não adquirem distúrbios 
músculo-esqueléticos, outros trabalhadores nas mesmas 
circunstâncias podem ser acometidos dessas patologias. Nada 
impede, nessa hipótese, que o empregador seja responsável 
pelos danos sofridos pelos trabalhadores que adquiriram essas 
patologias. Portanto, o mesmo se diga quanto aos transtornos 
mentais. Alguns trabalhadores possuem estrutura de 
personalidade ou componentes sociobiológicos que resistem 
às pressões da organização do trabalho. Porém, outros não 
possuem essa característica, o que não impede a aplicação 
analógica da mesma condição referida para os distúrbios 
músculo-esqueléticos.
Cabe também ser lembrada a necessidade de se 
considerar a abordagem psicossomática do ser humano, que 
reconhece uma interação biopsicossocial que lhe é inerente, 
para se fi xar as indenizações decorrentes de doença ou 
acidente do trabalho. O Direito também deve se afastar da 
noção reducionista do ser humano, que o fragmentava em 
matéria e mente “(Não há nada no conceito de corpo que 
pertença à mente, e nada na idéia de mente que pertença ao 
corpo)” (CAPRA, 2003, p.55), e adotar uma postura sistêmica 
e holística que reconhece a inter-relação entre os aspectos 
físicos, psicológicos e sociais, ou seja, devemos passar a 
considerar o ser humano em sua totalidade e não em partes 
isoladas. Somente assim poderemos nos afastar da doença 
mental coletiva que separa os indivíduos e seu meio ambiente 
de trabalho ou fi xam indenizações que consideram apenas os 
aspectos físicos do dano.
Ainda que se reconheça que as doenças, especialmente 
as doenças mentais, decorrem de fatores multicausais, não 
se pode negar que uma dessas causas é a organização do 
trabalho e, portanto, a multicausalidade não pode servir de 
justifi cativa que a sociedade e o Poder Judiciário deixem de 
adotar providências práticas para proteger a saúde mental dos 
trabalhadores ou reparar os danos decorrentes dessa forma 
de organização do trabalho que atende apenas os interesses 
do capital.
Para essa responsabilização é necessário que o 
trabalhador tenha efetivamente sofrido danos morais, 
materiais ou psicológicos e que seja reconhecido o nexo de 
23
causalidade por equipe multiprofi ssional habilitada a analisar 
as diversas características e fatores etiológicos dos respectivos 
transtornos.
Retomando a aula
Chegamos, assim, ao fi nal da aula. Espera-se que 
agora tenha fi cado mais claro o entendimento de 
vocês sobre saúde mental e trabalho. Vamos, então, 
recordar:
1 - Saúde e patologia
Conclui-se que a doença não guarda relação somente com 
o corpo, mas também com a mente, e propicia o equilíbrio 
e a harmonia no comportamento pessoal do trabalhador, 
indivíduo eleito por esse singelo estudo. Há, portanto, nítida 
interação entre os aspectos físico, psicológico e social, ou 
seja, o ser humano é um ser bio-psico-social. Aliás, esse 
relacionamento já foi reconhecido pela Medicina desde 1818, 
sendo que em 1932 foi fundado um comitê para estudos em 
Psicossomática (LIMONGI FRANÇA; AVELINO, 2007, p. 
84) e a ciência, no geral, tem se afastado do sistema cartesiano 
para adotar a teoria holística da realidade, reconhecendo que 
os fenômenos biológicos, psicológicos, sociais e ambientais 
são todos interdependentes.
2 - Saúde mental
Não é, seguramente, a ausência de angústia, nem o 
conforto constante e uniforme. A saúde é a existência 
da esperança, das metas, dos objetivos que podem ser 
elaborados. É quando há o desejo. O que faz as pessoas 
viverem é o desejo e não só as satisfações. O verdadeiro 
perigo é quando o desejo não é mais possível. Surge, então, o 
espectro da depressão, isto é, a perda do tônus, da pressão, do 
elã. A psicossomática mostra que esta situação é perigosa, não 
somente para o funcionamento psíquico, mas também para 
o corpo: quando alguém está em um estado depressivo, seu 
corpo defende-se menos satisfatoriamente e ele facilmente 
fi ca doente (OLIVEIRA, 2007, p. 186).
3 - Patologias laborais
Vimos as diferenças individuais dos trabalhadores, as 
características organizacionais, o ambiente físico do trabalho, 
a existência de sobrecarga ou controle sobre o trabalho, 
relações interpessoais entre o trabalhador e colegas, superiores 
ou subordinados, política, justiça e cultura organizacional, 
bem como os demais aspectos relacionados à organização.
As pesquisas indicadas têm comprovado que organizações 
rígidas, infl exíveis, injustas, com cultura organizacional 
prejudiciais aos trabalhadores, sobrecarga de trabalho, falta de 
autonomia, baixo reconhecimento do trabalho, penosidade, 
monotonia, repetividade etc, tem sido causadoras de diversas 
psicopatologias, tais como: estresse, estresse pós- traumático, 
depressão, síndrome de burnout, neurose de esgotamento, 
neurastenias e síndromes do ciclo sono-vigília.
Todos esses transtornos podem ser caracterizados como 
doenças relacionadas ao trabalho, desde que as condições 
de trabalho sejam devidamente analisadas por uma equipe 
multidisciplinar ou por profi ssional habilitado para analisar as 
características trabalho e aos agentes etiológicos ou fatores de 
risco de cada uma das doenças mentais já relacionadas.
CID 10 - Código internacional das doenças
Vale a pena ler
Zelig (1983) – Direção: Woody Allen
Um pseudodocumentário sobre a vida de Leonard 
Zelig (Woody Allen), o homem-camaleão, que tinha o dom 
de modifi car a aparência para agradar as outras pessoas.
Vale a pena assistir
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Minhas anotações

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