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Coaching e Mentoring 4ª edição Rio de Janeiro UVA 2016 Wagner Salles Coaching e Mentoring 4ª edição Rio de Janeiro UVA 2016 Copyright © UVA 2014 Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. ISBN 978-85-65812-26-9 Autoria do Conteúdo Wagner Salles Design Instrucional Diana Ferreira de Melo Projeto Gráfico UVA Diagramação Raphaela Saules Revisão Tássia Braga Janaina Vieira Ficha Catalográfica elaborada pelo Sistema de Bibliotecas da UVA. Biblioteca Maria Anunciação Almeida de Carvalho. S168c Salles, Wagner Coaching e mentoring [livro eletrônico] / Wagner Salles. – 4. ed. – Rio de Janeiro : UVA, 2016. 574 KB. ISBN 978-85-65812-26-9 Disponível também impresso. 1. Assessoria empresarial. 2. Pessoal - Treinamento I. Universidade Veiga de Almeida. II. Título. CDD – 658.3124 SUMÁRIO Apresentação.................................................................................................................7 Sobre o autor................................................................................................................8 Capítulo 1 - O que é um processo de coaching.........9 Conceitos e aplicações do coaching.................................................10 O coaching no ambiente corporativo...............................................24 O que faz do coaching um processo relevante..........................41 Referências.....................................................................................................55 Capítulo 2 - A formação de um coach........................57 Estratrégias corporativas para formação de coaches....................58 As habilidades do coach............................................................................71 Os papéis do coach...................................................................................87 Referências....................................................................................................102 Capítulo 3 - O coaching na prática.............................105 Enfoques de atuação do coaching...................................................106 A expansão do coaching pela gestão.............................................121 Planejando a prática do coaching..................................................134 Referências....................................................................................................145 Capítulo 4 - O que é mentoring...................................149 As implicações do mentoring.........................................................150 A formação de um mentor................................................................163 Aplicando o coaching e o mentoring................................................175 Referências....................................................................................................192 Considerações finais.....................................................194 7 APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO Este livro trata de conceitos, aplicações e reflexões sobre Coaching e mentoring. O coaching é um processo de condução a objetivos pre- determinados, que enfatiza potencialidades por meio de melhorias de desempenho em curto prazo. Já o mentoring é um processo de orien- tação e desenvolvimento de competências que serão empreendidas em médio e longo prazo, enfatizando um ideal de vida mais amplo, em perspectiva futura. Sendo assim, a partir da leitura deste livro vamos compreender quais são os principais significados de coaching, suas aplicações e seus per- fis quanto ao contexto corporativo, bem como aprender sobre o sig- nificado de mentoring, seu processo de formação e suas associações com o coaching. Desejamos que você aproveite ao máximo esta experiência e que a lei- tura desta obra promova uma oportunidade de reflexão sobre os conte- údos abordados, contribuindo efetivamente para o seu enriquecimento cultural e acadêmico. ...................................................................................................................................................................................................................... 8 SOBRE O AUTOR Wagner Salles é mestre em Administração pela Universidade Federal Fluminense - UFF, especialista em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas - FGV e graduado em Administração pelo Cen- tro Universitário Celso Lisboa - CEUCEL. Professor presencial e tutor de EaD nos cursos de graduação em Administração e tecnólogos em Gestão em diferentes IES. No campo corporativo, atuou recentemente como analista de recursos e prevenção jurídica, e dirigiu a área de Co- municação de uma organização do terceiro setor. 9Conceitos e aplicações do coaching ...................................................................................................................................................................................................................... CAPÍTULO 1 O QUE É UM PROCESSO DE COACHING Este capítulo trata dos conceitos e aplicações do coaching, enfatizando o ambiente corporativo e compreendendo os principais aspectos que fazem deste um processo neces- sário nas organizações atuais. Por isso, leia com atenção e tente contextualizar suas experiências pessoais e profis- sionais com os tópicos apresentados. O que é um processo de coaching10 ...................................................................................................................................................................................................................... CONCEITOS E APLICAÇÕES DO COACHING Em um cenário global, em que as mudanças ocorrem de maneira cada vez mais acelerada e radical, faz-se neces- sário que a gestão desenvolva competências que atendam às questões de transformação da organização no que se refere ao enfrentamento dessas mudanças. Uma empresa que está preparada para passar por proces- sos de transformação (muitas vezes sofrendo mudanças profundas) possui maiores possibilidades de não apenas se manter, mas de avançar no contexto em que está inserida. Nesse sentido, a gestão tem à sua frente desafios de caráter instrumental e seminal, isto é, que vão demandar o uso de ferramentas, técnicas e estratégias para se chegar a um ob- jetivo predeterminado e outros desafios que estão voltados para esse objetivo, quanto ao significado que ele possui. Em outras palavras, a gestão terá em suas mãos a respon- sabilidade de administrar a complexidade dos recursos, procedimentos e tecnologia que estão à disposição em um aspecto mais estrutural e também a responsabilidade de administrar a mudança, e esta por meio das pessoas, que devem ser consideradas como o caráter vivo do trabalho. Portanto, a partir de um cenário em que a organização está vulnerável aos impactos das mudanças no ambiente (interno e externo), cabe à gestão dispor de ferramentas e de trabalho vivo para enfrentar uma nova realidade que se apresenta, 11Conceitos e aplicações do coaching ...................................................................................................................................................................................................................... muitas vezes não sendo possível de ser tratada a partir de prescrições que visam a uma solução predefinida, pronta. Constantemente, o enfrentamento da realidade ocorrerá a partir de novas construções, novas proposições, novas solu- ções, queserão constituídas, em parte, pelas técnicas e fer- ramentas já disponíveis, embora nunca estejam completas. É, então, que nasce a percepção de que muitas soluções para as organizações atuais vão emergir a partir de um deter- minado contexto, que envolve determinadas pessoas e de- terminados recursos, nem sempre sendo possível replicar essas soluções em novas ocasiões, já que o contexto será outro. Ora, uma vez o contexto sendo determinante para que emerja uma solução que visará a enfrentar uma realida- de, pensamos que é necessário abrir espaço para a capacita- ção de pessoas em uma perspectiva constante, não pontual. Nasce, então, o sentido de que a gestão pode fornecer alter- nativas de desenvolvimento a um trabalhador, de forma que ele construa, a partir de sua capacitação, seu desempenho na realidade do trabalho e uma nova solução para enfrentar mudanças que se apresentam o tempo todo. É importante notar que, ao se falar de capacitação, não se está falando de “robotização” do trabalhador, mas sim de incentivo ao empreendedorismo por meio de técnicas e fer- ramentas, que, se preciso for, deverão ser por ele critica- das e alteradas. Essa capacitação proporciona à gestão de pessoas a perspectiva de um ambiente de aprendizagem contínua, em que, para ser enfrentado, o contexto muda e demanda novas propostas. O que é um processo de coaching12 ...................................................................................................................................................................................................................... Nesse ambiente de aprendizagem, é possível listar diver- sos processos, constituídos de ferramentas e de técnicas, que facilitarão a dinâmica de capacitação. Entre esses pro- cessos podemos destacar o coaching e suas aplicações. O que é coaching? O coaching, nesse contexto, portanto, toma a forma de um processo de aprendizagem que busca a capacitação de pes- soas, articulando procedimentos individuais e coletivos, na busca de soluções que visam a alcançar os objetivos da organização, ao mesmo tempo em que proporciona o desenvolvimento pessoal dos envolvidos. É um processo de facilitação em gestão de pessoas. De maneira mais “formal”, para se definir o que é um pro- cesso de coaching, vamos recorrer a algumas definições de instituições internacionais especializadas nesta área. A saber: Coaching é uma relação permanentemente focada no cliente e na sua tomada de medidas no sentido da realização dos seus sonhos, metas ou desejos. Este processo utiliza um processo de inquérito e de descoberta pessoal, por forma a construir no cliente um nível de consciência e de responsabilidade e pro- porciona-lhe uma estrutura de apoio e de feedback. O processo de coaching ajuda o cliente a definir e atingir os seus objetivos pessoais e profissionais de uma forma mais rápida, e com uma facilidade que seria impossível de outra forma. (ICF – International Coach Federation – www.icfportugal.com) Nas suas várias formas, o coaching é um poderoso processo de desenvolvimento pessoal e profissional, que consiste na cocriação de novas possibilidades. (YouUp – The Coaching Company – www.youup.pt) 13Conceitos e aplicações do coaching ...................................................................................................................................................................................................................... O coaching é um processo de transformação, tendo em vista a consciencialização, descoberta e cresci- mento pessoal e profissional. O coaching ajuda o cliente a identificar e a construir as relações, as fer- ramentas, os sistemas e as estruturas de que neces- sita, para evoluir de forma sustentada. (IAC – International Association of Coaching – www.certifiedcoach.org) Coaching é uma relação entre o coach e o cliente (coachee), com o objetivo de promover a eficácia do cliente. Assenta em metas definidas por ele pró- prio (cliente). Através do processo de coaching, as respectivas competências e ações individuais são potencializadas, de forma a produzirem resultados relevantes. (The Teacher Support Network – teachersupport.info) O coaching é a arte de trabalhar com os outros, para que eles obtenham resultados fora do comum e me- lhorem a sua atuação. É a atividade que gera novas possibilidades para a ação e que permite resultados extraordinários no desempenho. (ASESCO – Asociación Española de Coaching – www.asescoaching.org) Essas e outras definições podem ser encontradas no livro Ferramentas de Coaching (CATALÃO; PENIN, 2009), bem como nas referências ao final de cada capítulo deste livro. A partir dessas definições, é possível perceber alguns fato- res que constituem o processo de coaching. A saber: O coach é a pessoa responsável por conduzir o processo de coaching; é um facilitador do processo que favorece uma transformação pessoal e profis- sional no coachee. O que é um processo de coaching14 ...................................................................................................................................................................................................................... O coachee, também chamado de “cliente”, é a pes- soa que busca se aperfeiçoar por meio das orien- tações do coach; é o aprendiz que define seus próprios objetivos e traça suas próprias metas de forma a alcançar determinados resultados sob a orientação do coach. Definição de objetivos: não é o coach quem define os ob- jetivos a serem alcançados e nem as metas a serem cum- pridas. Este é o papel do coachee. O coach apenas facilita o caminho a ser seguido, buscando eficiência e eficácia, sem caráter avaliativo do que pode ser bom ou ruim. Interatividade: como um processo de transformação, o coaching demanda uma relação de interação entre o coach e o coachee para que haja a possibilidade de análise dos caminhos que estão sendo tomados, uma reflexão críti- ca sobre os desafios e oportunidades, forças e fraquezas envolvidas no processo, de forma que a operação tome o rumo de uma investida bem-sucedida. Para se compreender melhor o processo de coaching, con- vém destacarmos, ainda, aquilo que não é coaching. Apesar de a tradução literal da palavra coach ser “treina- dor”, o processo de coaching não pode ser considerado um treinamento. Isso porque um processo de treinamento denota o desenvolvimento de características, habilidades ou competências predeterminadas em um indivíduo por 15Conceitos e aplicações do coaching ...................................................................................................................................................................................................................... meio de um momento também predeterminado e pontual. Já o processo de coaching busca explorar e/ou desenvol- ver características, habilidades ou competências que não fazem parte de uma “lista” predeterminada, ou seja, que são inerentes ao indivíduo e que podem ser trabalhadas de maneira favorável ao alcance de seus objetivos, até que o indivíduo de fato os alcance. O coaching também não pode ser confundido com um pro- cesso de terapia, que focaliza os problemas, obstáculos. Uma terapia está mais voltada para uma proposta de cura de um problema, de um desvio de comportamento, de sub- versões, de identificação dos obstáculos a serem supera- dos. Seu terreno está mais sobre as emoções; busca atender a um distúrbio já existente, algo que não está adequado. Na terapia, o terapeuta propõe escolhas a serem feitas pelo paciente. No processo de coaching, a preocupação não se refere aos obstáculos ou aos problemas, mas às perspec- tivas de condução a uma solução, aos possíveis caminhos que favoreçam resultados positivos e desejados; o foco está nas potencialidades, e não nas deficiências. O coaching também não deve ser considerado um simplesprocedimento gerencial, no sentido de administrar recur- sos para alcançar um objetivo. O gerenciamento se ocupa de uma perspectiva de otimização, de alocação de recursos para que determinado procedimento seja bem-sucedido. O coaching não decide onde, como e quando utilizar recur- sos. Esse é o papel do coachee mediante suas próprias de- finições de metas. O que é um processo de coaching16 ...................................................................................................................................................................................................................... Outro equívoco que se precisa evitar é quanto à associação do coaching à consultoria. Esta é um processo de diagnós- tico e intervenção, de aconselhamento sobre determinada especificidade de uma área de conhecimento de domínio do consultor. Além disso, a figura do consultor é sempre a de alguém externo à organização, contratado pontualmen- te para diagnosticar e resolver um problema emergente, que geralmente é perceptível pela diminuição nos níveis de produção. O coaching, apesar de ser acionado para facilitar algo que ainda não é de total domínio do coachee e que interfere em seu desempenho, é um processo que não pro- põe soluções ou intervenções, além de ter a possibilidade de ser executado por pessoas de dentro da organização. Por fim, o último destaque a ser feito quanto aos cuidados sobre o que não é coaching está voltado para a liderança. E aqui é preciso ser mais atento: apesar de o coaching ser um processo considerado como possibilidade de estraté- gia de liderança, convém separar ambos os conceitos. A liderança possui um caráter mais próximo com o lidera- do, de acompanhamento e aconselhamento, de incentivos, de influências, de mobilizações. Já o coaching, apesar de proporcionar caminhos semelhantes, possui um caráter mais imparcial, em que a construção coletiva é limitada, diferentemente da liderança. Especificamente sobre essas abordagens, os desdobramentos que diferenciam ambos os conceitos ficarão mais claros com a leitura dos próxi- mos tópicos. De maneira geral, podemos dizer o que é coaching por meio daquilo que não é coaching: 17Conceitos e aplicações do coaching ...................................................................................................................................................................................................................... O que não é coaching? Por que não é coaching? Treinamento Define e desenvolve competên- cias específicas e pontuais para realizar determinadas tarefas. Terapia Focaliza os problemas e obstáculos que devem ser tratados para se alcançar determinada superação. Gerenciamento Detém-se na otimização e realocação de recursos para se chegar a um de- terminado objetivo. Consultoria Busca um diagnóstico e propõe alguma intervenção de acordo com uma área específica do conhecimento. Liderança Sugere um relacionamento mais próximo, de constru- ção conjunta, de influência empreendida sobre determi- nada pessoa para se chegar a um objetivo comum. Sinteticamente, podemos compreender, então, que o coa- ching é um processo no qual o coachee define seus pró- prios objetivos e busca uma condução do coach de manei- ra a facilitar seu caminho para a obtenção dos resultados desejados. O coach terá o papel de potencializar as compe- tências do coachee sem juízo de valores, sem julgamentos, visando a uma atuação que favoreça o desenvolvimento pessoal e profissional do coachee. Aplicações do coaching A partir da compreensão do que é o processo de coaching, podemos perceber que o principal enfoque está ligado ao processo de aprendizagem pessoal, cujo empenho é o compromisso da realização bem-sucedida de um empre- O que é um processo de coaching18 ...................................................................................................................................................................................................................... endimento que, para tanto, precisa que sejam identifica- dos os pontos fortes e fracos a fim de que os caminhos tomados sejam os melhores possíveis. Nesse processo de aprendizagem, surgem as figuras do coach e do coachee, que, em uma relação de interação, executam medidas que conduzem à conquista dos objetivos desejados. Nesse sentido, é possível depreender que o coaching é apli- cado em qualquer área de atuação em que o desenvolvi- mento individual seja necessário, proporcionando melho- rias no desempenho. Isso denota a visão de que o coaching não possui limitação de áreas, de posições ou de funções. O objetivo da aplicação de um processo de coaching repou- sa sobre o foco na identificação e dissolução do distúrbio estrutural presente no processo de decisão quando se pla- neja sair de um ponto e se chegar a outro, isto é, empreen- der uma transformação que potencialize as competências do indivíduo em busca de um nível mais elevado, novos resultados, novo aprendizado, novo contexto. Nesse sentido, pode-se assumir que o coaching possui duas áreas essenciais de aplicação: o coaching pessoal, ligado a um aspecto mais íntimo do coachee, como objetivos de carreira, objetivos financeiros etc; e o coaching profissio- nal, ligado a um aspecto mais organizacional, corporativo, como objetivos individuais e/ou grupais que convergirão em um melhor desempenho para o alcance de resultados organizacionais. 19Conceitos e aplicações do coaching ...................................................................................................................................................................................................................... Em relação ao aspecto profissional, o coaching pode ser aplicado em diversas áreas e funções, como comentamos. Desde um nível operacional até um nível estratégico, o pro- cesso de coaching busca favorecer a gestão de pessoas no que se refere à facilitação dos fatores que envolvem a ca- pacitação e o desenvolvimento pessoal. Como exemplos, podemos aplicar o coaching em funções operacionais para aperfeiçoar as formas de trabalho e os procedimentos de produção técnica; podemos aplicar o coaching em funções administrativas para aperfeiçoar a dinâmica do trabalho em equipe, desde o desenvolvimen- to de competências funcionais até o desenvolvimento de competências gerenciais e estratégicas; podemos, ainda, aplicar o coaching em funções que envolvam gestão de conhecimento, capacidade de relacionamento e gestão de conflitos, para aperfeiçoar comportamentos, habilidades e potencialidades que corroborarão determinada cultura or- ganizacional, uma melhor administração do ambiente em que o conhecimento é gerado e aplicado, bem como favo- recer um clima organizacional que possibilite maior nível de produtividade e satisfação. Cabe, ainda, destacar que nas aplicações do coaching é in- teressante observar as possibilidades de um processo que explora os benefícios de um coach interno ou de um coach externo. O coach interno nada mais é do que um funcionário da organização, com vínculo empregatício, cujo papel refere- -se diretamente à responsabilidade de conduzir os progra- mas de coaching. Já o coach externo é alguém chamado O que é um processo de coaching20 ...................................................................................................................................................................................................................... para executar determinado(s) programa(s) de coaching, sem, portanto, vínculo empregatício. Seguem algumas diferenças essenciais: Aplicação do coaching externo Aplicação do coaching interno Contexto Cúpula da empresa/ Alta gerência/Can- didatos a promoção Gerência média/ Supervisores Foco No aperfeiçoamento dos executivos e na maximização do uso do seu po- tencial. Orientado paraas necessida- des do executivo e da empresa Na melhoria do desempenho e dos resultados do seu trabalho, tendo em vista as necessida- des e expectativas da organização Efeitos esperados Performance do exe- cutivo com reflexos diretos nos resulta- dos da organização Desempenho indi- vidual e da equipe à qual pertence Cliente O executivo e a empresa A empresa e o funcionário Iniciativa Em geral, do próprio executivo ou por sugestão do setor de RH Da empresa que oferece/propõe/ indica o coaching Seleção do coach Decidida pelo executivo Decidida pela empresa dentre os coaches internos Quem avalia os resultados O próprio executivo em conjunto com o coach (em alguns casos inclui-se um representante da organização) A chefia imediata, juntamente com o setor de RH. Em alguns casos, é feita em conjunto, coach, coachee, RH e/ou chefia imediata Fonte: KRAUSZ, 2007, p. 45. 21Conceitos e aplicações do coaching ...................................................................................................................................................................................................................... Sendo assim, nas aplicações do coaching, é relevante con- siderar as vantagens de um coach externo e de um coach interno. A saber: Coach externo Coach interno Neutralidade Conhece o sistema e a cultura organizacional Liberdade de ação Custo Não faz parte da estrutura de poder da organização Conhece as demandas do coachee e da organização Conhece diferentes realidades e a diversidade das organizações Oportunidade de valorizar os recursos e talentos internos Tende a gerar menor defen- sividade/Menor resistência Conhece as regras dos jogos de poder da organização Maior autonomia no tra- balho pela ausência de vínculo empregatício Dissemina a “cultura de coaching” na organização Permite estabelecer uma relação de confiança Indicado para o nível da média gerência Visão de conjunto de alguém de fora Possibilidade de acom- panhar os resultados do processo de coaching Clareza do seu pa- pel na organização Disponibilidade/Aces- sibilidade do coach Facilita o diálogo fran- co e aberto Conhece o dia a dia do coachee Papel definido contratualmente Aporte de um olhar neu- tro sobre a organização Liberdade para falar so- bre o “indizível” Oferece um número am- pliado de opções Mais eficaz para os altos executivos da organização Possibilidade de escolha tanto do coach como do coachee O que é um processo de coaching22 ...................................................................................................................................................................................................................... Coach externo Coach interno Menor risco Credibilidade/Profissio- nalismo especializado Pode ser selecionado por meio de referências, contatos etc. O coachee sente-se mais seguro Total de vantagens indicadas: 20 Total de vantagens indicadas: 10 Fonte: KRAUSZ, 2007, p. 42. É possível observar claramente que a relação de vantagens da aplicação de um coach externo é maior do que a de um coach interno. No entanto, cabe ressaltar que isso não se configura na afirmação de que um é melhor do que o ou- tro, uma vez que as aplicações de um processo de coaching dependem de fatores referentes a itens como contexto, foco, efeitos esperados, cliente, iniciativa, seleção do coach e avaliação dos resultados. Em síntese, as vantagens sobre a opção de aplicação de um coach externo recaem sobre os aspectos práticos da experiência, diversidade, custo e neutralidade. Como vimos anteriormente, em um cenário global em constantes mudanças, as organizações precisam estar atentas para lidar com as alterações no contexto em que estão inseridas com o objeti- vo de não apenas manter o equilíbrio dos processos de negócio, mas também avançar e conquistar novos espaços e oportunida- des que se apresentarem. Para tanto, é preciso assumir como desafio para a gestão a neces- sidade de investir na capacitação das equipes de trabalho para lidarem com novos ambientes, novas realidades de trabalho. Esse desafio recai sobre a administração da complexidade de proce- 23Conceitos e aplicações do coaching ...................................................................................................................................................................................................................... dimentos, normas, processos e recursos e também recai sobre a administração da mudança, empreendida por meio das pessoas envolvidas. Nesse sentido, um dos processos capazes de auxiliar nessa capaci- tação é o coaching, em que o coachee define seus próprios objeti- vos e busca uma condução do coach de maneira a facilitar seu ca- minho aos resultados desejados, uma vez que o coach terá o papel de potencializar as competências do coachee sem juízo de valor, sem julgamentos, visando a uma atuação que favoreça o desenvol- vimento pessoal e profissional do coachee. Em suas aplicações, o coaching pode ser planejado e executado em quaisquer áreas e funções, buscando o desenvolvimento tan- to pessoal quanto profissional, quando serão consideradas as al- ternativas que ponderam um coach interno ou um coach externo de acordo com os fatores envolvidos no processo. No entanto, cabe ressaltar um ponto crítico de reflexão. Como em tudo que envolve pessoas, é necessário compreender a perspec- tiva de que não é o objetivo do coaching robotizar o indivíduo em relação aos caminhos que deve empreender para melhorar seu desempenho. Além disso, deve-se considerar que o coaching, sozinho, pode não ser eficaz quando outros fatores associados ao indivíduo e à organização do trabalho contribuem para uma alie- nação e um desprovimento de sentido na realização da atividade laboral. A experiência do coachee e suas expectativas com o trabalho afe- tam diretamente o sucesso do processo, uma vez que está sobre o coachee a responsabilidade de desejar ser auxiliado de alguma forma para alcançar melhorias em seu desempenho. Nesse sen- tido, tanto um processo de coaching interno quanto um externo podem não surtir o efeito desejado, sendo ainda mais danoso se isso se transformar em um agravante sobre o comportamento, cultura e clima organizacional, na medida em que o coachee se sentir controlado e forçado a atingir um patamar sem sentido, na sua própria perspectiva, ou, ainda, se sentir seduzido ou engana- do pela proposta do processo de coaching. 24 ...................................................................................................................................................................................................................... O que é um processo de coaching O COACHING NO AMBIENTE CORPORATIVO Uma vez já esclarecido o que é o coaching e as suas prin- cipais aplicações, entramos agora em uma dimensão espe- cífica desse processo, que está voltada para os interesses gerais e resultados planejados de uma empresa, ou, como preferem alguns, de uma organização ou corporação. Sendo assim, antes de ingressar no aspecto estrito desse processo, é preciso compreender e definir qual o sentido adotado para o termo “corporativo”, que pode ser asso- ciado aos termos “empresarial” e “organizacional”, dada a aplicação aqui proposta. O termo “corporativo” está ligado a um aspecto político, de compartilhamento de regras, normas, diretrizes, cujo foco transacional está nas funções econômicas compartilha- das. Isto é, “corporativo” refere-se, no âmbito comercial, ao conjunto de interesses comuns entre os envolvidos, em diversos ramos e setores de atividades, com vistas ao al- cance de resultados financeiros favoráveis. Convém destacar o âmbito comercial porque o sentido lato do termo “corporação”, por si só, não necessariamen- te visa à obtenção de lucros financeiros, contudo, objeti- va resultados positivos, favoráveis. Nesse sentido,uma “corporação”, além de uma empresa, pode ser entendida como uma associação, uma sociedade, uma instituição, uma fundação etc. 25O coaching no ambiente corporativo ...................................................................................................................................................................................................................... A etimologia da palavra “corporação” remete aos conceitos de “corpo” e “ação”, isto é, sugere a representação de um determinado grupo de pessoas agindo como um só corpo, com vistas aos objetivos comuns dos envolvidos, estando, para isso, submetidas às mesmas regras, normas, diretri- zes. Portanto, ao nos referirmos ao termo “corporativo”, estamos enfatizando o aspecto de ação das pessoas envol- vidas, que se relacionam entre si e formam partes de um mesmo corpo, regido por normas gerais de conduta. Apli- cando essa perspectiva no âmbito comercial, complemen- ta-se o objetivo comum de ganhos econômico-financeiros. Convém, ainda, compreendermos as diferenças básicas entre os desdobramentos associativos ao termo “corpo- ração” para se ter em mente as principais aplicações no campo da gestão. Um termo recorrente é “empresarial”, referente à “empre- sa”. Aqui, o intuito é destacar o empreendimento em si, em sua forma de atuação peculiar, sua atividade econômica, que objetiva retornos financeiros. Já o termo “organizacional” está ligado à “organização”, etimologicamente referindo-se a “organismo”. Não há um consenso sobre a definição do termo “orga- nização”, mas existe a afirmação de que é um sistema sociotécnico, isto é, um conjunto de componentes que in- teragem entre si, envolvendo aspectos sociais e técnicos, com vistas a alcançar objetivos predefinidos. 26 ...................................................................................................................................................................................................................... O que é um processo de coaching A associação a um “organismo” tem origem no comporta- mento estrutural em que diversas partes trabalham con- juntamente, de forma interdependente, ao mesmo tempo em que são influenciadas pelo ambiente externo, como ocorre com o organismo humano. Morgan (1996) traz algumas interpretações das organiza- ções por meio de metáforas, nas quais as compara a má- quinas, cérebros, prisões psíquicas, culturas, organismos etc. Essas interpretações dão à organização uma imagem específica para cada contexto na qual é percebida. Sendo assim, sinteticamente, as abordagens que tratam dos termos “corporativo”, “organizacional” e “empresa- rial” se cruzam na medida em que exploram o mesmo ob- jeto essencial, ou seja, se referem ao conjunto estruturado de componentes de cunho social e técnico, voltado para o alcance de objetivos econômicos comuns por meio das relações em que os envolvidos se comportam como um corpo, todos pertencentes ao mesmo organismo interde- pendente. E é esse o contexto em que o processo de coaching tem sido explorado em nosso conteúdo, especificamente nos apoiando, neste momento, sobre o termo “corporativo”, por se tratar do foco nas ações das pessoas envolvidas, que se relacionam entre si e fazem parte do mesmo corpo, buscando os resultados comuns que estão orientados sob as mesmas normativas. 27O coaching no ambiente corporativo ...................................................................................................................................................................................................................... O coaching corporativo Falar em coaching corporativo é o mesmo que falar em ações interventoras cujo foco principal está relacionado aos resultados no contexto do trabalho. Se entendermos que a corporação denota as ações das pes- soas que formam um corpo, podemos observar que o foco estará na forma de gerir o ambiente de trabalho de manei- ra que seja propulsor de aprendizagens, de capacitações, a fim de que as ações das pessoas envolvidas estejam sendo tratadas para enfrentar desafios futuros. Portanto, de forma subjacente, falar em coaching corpora- tivo é tocar em aspectos que envolvam mudança organiza- cional; que deem o movimento necessário ao contexto do trabalho rumo aos objetivos predefinidos. Esse processo corporativo, uma vez envolvendo todo as- pecto humano, abrange funções diversas, como gestão, liderança e aprendizagem. E os motivos que levam um tra- balhador a recorrer ao coaching dentro do contexto corpo- rativo são diversos. Dentre esses motivos, podemos destacar, primeiramente, a deficiência ou insuficiência de desempenho, que é o mais recorrente e que estimula a busca pelo coaching. Uma vez sendo percebido, esse motivo provoca um empenho, um interesse no desenvolvimento individual na superação do problema identificado com vistas ao melhor caminho para se chegar ao resultado da ação. Porém, o problema iden- tificado, isto é, a limitação em si, nunca será o foco do processo. 28 ...................................................................................................................................................................................................................... O que é um processo de coaching Outra razão relevante está relacionada a um aspecto mais inclinado ao campo comportamental: quando o indivíduo recorre ao processo de coaching dentro do ambiente de trabalho por se sentir inapto, incapaz ou limitado a de- sempenhar determinada função, tarefa ou atividade. Esse sentimento pode ter como causa diversos fatores, desde técnicos até sociais. O que se destaca, no entanto, é a pro- cura pelo coaching para superar essa sensação de inapti- dão e favorecer uma oportunidade de auxílio, de busca por um apoio em uma figura reconhecidamente mais segura e que pode proporcionar uma experiência de melhoria no desempenho de quem necessita. Há outros motivos que são passíveis de serem identifi- cados dentro do ambiente corporativo e que provocam a necessidade de execução de um processo de coaching, geralmente (e comumente) ocasionados por eventos como mudanças de função ou até mesmo questões ligadas ao desenvolvimento de carreira. De forma geral, as contribuições que um processo de coaching corporativo pode proporcionar são destacadas por diversos estudos e autores em termos de aumento nos lucros, novas perspectivas de carreiras, incremento em pro- dutividade, aumento nas vendas, favorecimento na relação com clientes e fornecedores, novas perspectivas quanto ao sentido do trabalho dos colaboradores, entre outros. A tônica que prevalece, portanto, ao se falar em coaching corporativo coloca em evidência os principais impactos que esse processo pode proporcionar no aspecto humano dentro do contexto do trabalho, de maneira que os objeti- vos organizacionais sejam alcançados por meio da possibi- lidade de mudança e de melhoria. 29O coaching no ambiente corporativo ...................................................................................................................................................................................................................... O papel do coaching corporativo no aspecto humano do trabalho Convém, inicialmente, ampliarmos um pouco o entendi- mento sobre os fatores que envolvem o aspecto huma- no no trabalho a fim de que se possa compreender as contribuições e limitações do processo de coaching nessa temática. Desde a Teoria das Relações Humanas, o fator humano no trabalho passou a ser observado para além da esfera pro- dutiva, implicando estudos e descobertas sobre o campo psicológico e das relações sociais. A relação entre os objetivos organizacionais e objetivos pessoais dos trabalhadores passou a ser melhor analisada para que produção e realização fossem dois eixos possí- veis de serem convergidos.Nesse sentido, pode-se afirmar que o ser humano possui expectativas pessoais sobre o contexto do trabalho que tratam, por exemplo, do cresci- mento pessoal e profissional, da promoção de sentido, da relação positiva com outros colegas, de possibilidade de autonomia, entre outros. O aspecto humano no trabalho passa a ser compreendido como um ator na relação entre a tarefa determinada pela organização (fator que carrega consigo as expectativas da organização) e a atividade que o indivíduo encontra ao rea- lizar a sua função (fator que carrega consigo as expectati- vas e a percepção pessoal). Isto é, o trabalho pode ser com- preendido em suas diferentes perspectivas, e entre elas consideram-se as dimensões do trabalho prescrito (aquele desenhado pela organização) e o trabalho real (aquele ex- perimentado na prática pelo trabalhador). Teoria das Relações Humanas Teve sua origem em uma experiência chamada de Hawthorne, que levou o nome do bairro onde foi realizada, em Chicago, EUA. O médico e sociólogo Elton Mayo pesquisava fatores ambientais que influenciavam a produção, positiva ou negativamente. No primeiro momento, a experiência buscava medir a influência da iluminação do local sobre a produção, mas o resultado apontou para outro fator: o psicológico. Assim, a experiência de Hawthorne deu origem a uma nova visão da administração sobre o aspecto humano no trabalho, compreendendo que a produtividade não depende apenas dos fatores físicos do ambiente, mas também dos fatores psicológicos e sociais dos trabalhadores. 30 ...................................................................................................................................................................................................................... O que é um processo de coaching O aspecto do trabalho prescrito tem sua fundamentação nos estudos tayloristas, em que o trabalhador é tido como um mero executor de tarefas previamente descritas, de forma que se proceda com um único modo de trabalho, o “melhor” modo. Os elementos característicos do trabalho prescrito fazem ligação direta com as atividades a serem desenvolvidas, ou seja, esses aspectos do trabalho não são diretamente contrários, mas se relacionam entre si. Nesse ponto, cabe ainda destacar que há uma potencial descrição do trabalho subjetivo, no que se refere aos saberes e técni- cas incorporados à tarefa. Em princípio, a diferenciação básica entre o real e o pres- crito se deve à intervenção do trabalhador para corrigir os desvios e imprevistos no cotidiano. Essa intervenção, a priori, considera que a prescrição da tarefa não é suficien- te para atingir o objetivo do trabalho, uma vez que é uma perspectiva estática, enquanto que a atividade no real do trabalho é uma perspectiva dinâmica, flexível, instável, e demanda capacidade de um “ator” para providenciar os ajustes necessários e preencher as lacunas, de forma a ob- ter o êxito. Este “ator” é, então, assumido pelo trabalhador. A diferença entre o prescrito e o real sempre existirá, dada a dinâmica e a instabilidade do contexto organizacional. Essa instabilidade pode ser observada sob diferentes pon- tos de vista. Conforme destaca Brito (2008), as oscilações no contexto organizacional podem ocorrer, sob uma das várias perspectivas, a partir das variações produtivas, como quantidades produzidas/demandadas, interferên- cias no fornecimento de matéria-prima, ou, ainda, a par- tir das variações tecnológicas e estruturais, como falhas de maquinário, depreciação das instalações ou problemas técnicos. 31O coaching no ambiente corporativo ...................................................................................................................................................................................................................... Ora, se o indivíduo torna-se o ator no processo de ajuste entre o prescrito e o real, as instabilidades no contexto orga- nizacional podem não possuir apenas origens processuais, externas ou ambientais, mas também podem ocorrer devido ao próprio caráter subjetivo da pessoa e de sua formação, como a sua qualificação de acordo com o processo educa- cional e seu estado interior, como a forma com que ela (pes- soa) compreende, julga e reage à realidade do trabalho. Em outras palavras, o caráter real do trabalho (atividade) contempla não apenas as lacunas existentes entre os pro- cessos prescritos e o cotidiano imprevisto do trabalho, mas também o caráter humano do trabalhador quando confrontado com essas lacunas. É nesse cenário que se destacam os elementos humanos frente aos desafios que as organizações têm para conquistar objetivos associados aos aspectos de tecnologia, gestão da qualidade, produtividade, redução de custos, incentivo à cria- tividade, gestão de pessoas, gestão ambiental, entre outros. Por isso, o papel do processo de coaching está associado ao aspecto humano do trabalho, uma vez que lida com os fatores subjetivos do trabalhador e com os fatores na lacuna entre o trabalho prescrito e o trabalho real. Diante deste contexto de desafios que envolvem o ser hu- mano no ambiente de trabalho, o coaching representa um processo facilitador na gestão de pessoas, cujo papel se tor- na um apoio à busca de resultados esperados, tanto para a organização quanto para o coachee. É importante destacar que o coaching não é um solucionador dessas questões, mas sim uma estratégia que busca favorecer os caminhos que visam a melhorias no desempenho. 32 ...................................................................................................................................................................................................................... O que é um processo de coaching De acordo com Carvalho (2011), o coaching está relacio- nado a alguns fatores internos em relação aos indivíduos, tais como: capacidade de aprendizagem, motivação, per- cepção do ambiente interno e externo, atitudes e emoções, valores e educação. Esses fatores podem ser compreendidos de acordo com o quadro a seguir: Capacidade de aprendizagem O coaching deve considerar esta questão, entendendo e definindo parâmetros que pos- sibilitem a aprendizagem dos indivíduos, independentemen- te de sua característica pessoal. Motivação Um trabalho de coaching irá detectar rapidamente o nível de entrosamento do indivíduo com suas funções e o seu com- prometimento com a organi- zação. Um indivíduo motivado torna muito mais fácil o traba- lho de coaching, pois aceitará as recomendações, orientações e informações recebidas. Percepção do ambien- te interno e externo A relação do indivíduo com sua área de trabalho, com sua organização, com seus clientes, fornecedores, comunidade etc. apresenta variáveis imprevisí- veis. O coach deve permanecer atento a essa questão, analisan- do e apresentando recomenda- ções coerentes com a situação constatada, para a devida orientação ou aconselhamen- to do profissional indicado. 33O coaching no ambiente corporativo ...................................................................................................................................................................................................................... Atitudes e emoções As atividades de coaching tam- bém devem considerar as ques- tões atitudinais e emocionais. Será necessário analisar, perceber e chegar a conclusões sobre esses procedimentos para depois apresentar recomendações que contribuam para o devido enquadramento do indivíduo em seu ambiente organizacional. Valores Muito se discute sobre os valores éticos e morais. O trabalho de coaching deve ser firme e forte neste item, posicionando e conduzindo o profissional para a obrigato- riedade de observação cor- reta e adequada das normas e procedimentos e demais práticas empresariais vigentes. EducaçãoCabe ao trabalho de coaching a devida recomendação para que o profissional continue ou retome seus estudos em busca de habi- lidades imprescindíveis para o desempenho de suas atribuições. Fonte: CARVALHO P. C. in: PÉRCIA, André; SITA, Maurício, 2011, p. 89. Por meio dessas relações, o coaching pode auxiliar a ges- tão de pessoas não somente quanto ao equilíbrio entre as metas organizacionais e pessoais, mas também quanto às possibilidades de realização e promoção de sentido no tra- balho, por meio de seu papel no desenvolvimento pessoal do trabalhador, que pode favorecer a edificação de novas competências por meio da melhoria no desempenho pes- soal e profissional. Assim, podemos compreender melhor diversas ênfases que o processo de coaching pode assumir no ambiente corporativo. 34 ...................................................................................................................................................................................................................... O que é um processo de coaching Ênfases do coaching no ambiente corporativo A partir do entendimento sobre as definições do processo de coaching, bem como suas aplicações e o seu papel no contexto corporativo, podemos perceber que as três per- sonagens que mais estão envolvidas nesse processo são o coach, o coachee e a organização. Nessa perspectiva, as frentes de trabalho de um processo de coaching podem variar de acordo com a abordagem e com a ênfase necessárias a cada contexto. Como esses contextos são variados, diversos fatores in- fluenciam a ênfase dada ao coaching em determinada or- ganização. Contudo, as pesquisas e estudos que exploram as aplicações do coaching no ambiente corporativo dão in- dícios de que há certa similaridade nessas aplicações, que é a preparação de futuros líderes. Ou seja, das diversas frentes de trabalho que o coaching pode assumir no am- biente corporativo, as ênfases convergem para que novos líderes possam surgir. Todavia, cabe ressaltar: o uso do termo “líderes” basicamente reflete uma função gerencial, sem, necessariamente, tratarmos do conceito de liderança propriamente dito, embora esse conceito deva estar ine- rente a essas funções gerenciais. Mais adiante, falaremos um pouco sobre essa relação entre o coach e o líder. Vejamos, portanto, algumas das principais ênfases que as pesquisas descrevem a partir da aplicação do coaching no ambiente corporativo: Ênfase no suprimento de deficiências de desempenho Inicialmente, há uma ênfase no propósito de suprir defi- 35O coaching no ambiente corporativo ...................................................................................................................................................................................................................... ciências de desempenho. O coaching é, então, uma ferra- menta para auxiliar na solução de situações nas quais o desempenho mostra-se deficiente ou limitado, a fim de que o resultado seja alcançado apesar dessas limitações. Observa-se com razoável relevância que o coaching não é voltado para resolver as deficiências, mas, uma vez iden- tificando-as, contorna esses obstáculos rumo ao objetivo predeterminado. Para isso, sugerem-se dois momentos nesse processo: 1. É realizada uma análise detalhada dos fatores que influenciam o desempenho deficiente, quando é constatado o nível de potencialidade do coachee. Aqui surge a possibilidade de identificar as lacunas que interferem no desempenho, dando a noção mais exata da dimensão do problema enfrentado, a fim de que seja possível compreender onde estão localiza- dos os empecilhos para um melhor desempenho e se o comportamento do coachee assegura uma poten- cial evolução para superar as lacunas identificadas. 2. O coach e o coachee discutem conjuntamente os passos para que as limitações sejam contornadas. Aqui deve haver um entendimento mútuo sobre o diagnóstico realizado e um acordo sobre os passos a serem seguidos, sempre tendo em mente a neces- sidade de acompanhar o desenvolvimento mediante as alternativas propostas e promover um reconhe- cimento quando esse desenvolvimento é percebido como satisfatório. 36 ...................................................................................................................................................................................................................... O que é um processo de coaching Ênfase na capacidade de realização Outra ênfase do processo de coaching corporativo, que de certa forma aproxima-se da ênfase destacada anteriormen- te, mas contém uma particularidade essencial: está no pro- pósito de melhoria na capacidade de realização. Enquanto uma ênfase busca melhorar o desempenho me- diante a identificação e o suprimento de deficiências, a ên- fase na realização está voltada para a melhoria baseada nas expectativas, isto é, em aperfeiçoar ações e potencializar pon- tos fortes a fim de que novas realizações sejam possíveis. Esta é uma ênfase cujo foco repousa sobre as necessidades específicas individuais, quando o coachee deseja um apoio crítico sobre seu desempenho para alcançar a realização das expectativas de melhoria que possui. Algumas etapas são relevantes nessa ênfase: 1. É preciso definir o que o coachee possui e enten- de como expectativas e em que momento ele deseja alcançá-las. 2. É preciso observar como o coachee se comporta mediante sua própria capacidade atual em busca dessas expectativas que deseja alcançar. É neste mo- mento que o coach pode proceder aos devidos ajus- tes para melhoria no desempenho. 3. O coach e o coachee discutem os rumos e ajustes propostos, avaliando se as realizações conquistadas foram ao encontro das expectativas empreendidas. Caso sim, o coachee conseguiu sua evolução desejada para alcançar o que havia definido como expectativas. 37O coaching no ambiente corporativo ...................................................................................................................................................................................................................... Ênfase na liderança Esta ênfase é comumente aplicada com certa distorção, o que faz com que haja muitas interpretações que associem o processo de coaching ao fenômeno característico da lide- rança, igualando os dois conceitos. Isso deve ser evitado. Ser coach não é o mesmo que ser líder, apesar de ser pos- sível a convergência de ambos os perfis. Contudo, no que se refere ao processo de coaching com ênfase na liderança, podemos afirmar tratar-se de um processo de facilitação do desenvolvimento de determinadas competências que visam à mobilização de pessoas. Ou seja, a ênfase na lide- rança está sobre aquilo que não é ainda adequado e que pode ser melhorado para que o coachee desenvolva sua capacidade de mobilização de pessoas. Como a liderança é inerente ao contexto em que emerge, para que essa ênfase no processo de coaching tenha uma execução adequada é necessário conhecer as demandas peculiares da organização, bem como a influência que o coachee possui nesse contexto, a fim de que sejam conhe- cidos os principais aspectos a serem enfrentados e em que o coachee pode ser capaz de influenciar. Os momentos que possivelmente podem ocorrer nesta ên- fase: 1. Primeiramente, é preciso conhecer bem o ambien- te e o perfil do coachee, não apenas em relação aos resultados esperados, mas principalmente quanto à sua intervenção e potencial impacto sobre terceiros envolvidos no processo. 38 ...................................................................................................................................................................................................................... O que é um processo de coaching 2. É preciso que haja acordo entre o coach e o co- achee quanto às competências já desenvolvidas e quantoa outras que precisam de desenvolvimento, combinando, ainda, quais as melhores formas de se obter o devido retorno sobre o que precisa ser me- lhorado no decorrer do processo. 3. Por fim, nesta ênfase, é preciso atentar para o momento de desenvolvimento crítico, quando se- rão apontados os principais aspectos que não estão caminhando no sentido da mobilização de pessoas, isto é, quais os fatores que estão influenciando ne- gativamente o desenvolvimento de competências em liderança, lembrando sempre que esses fatores podem ter origem externa, no ambiente, uma vez que as competências em liderança não são fixas ao perfil do indivíduo. Ênfase na mudança A última ênfase a ser destacada está voltada para um as- pecto mais generalista, que busca uma alteração de padrão geral no perfil do coachee, de ordem mais subjetiva do que as demais ênfases propostas. A ênfase na mudança foca as implicações internas de for- ma que haja uma melhoria perceptível no contexto geral da organização, em termos de clima, cultura, valores etc. No aspecto mais pessoal do coachee, a ênfase na mudança vai buscar melhorias em dimensões como hábitos, valores pessoais, comportamentos, atitudes, relacionamentos e disponibilidade para reconhecer necessidades de aperfei- çoamento constante. 39O coaching no ambiente corporativo ...................................................................................................................................................................................................................... Esta ênfase é executada basicamente mediante encontros pessoais de discussão e crítica sobre o perfil do coachee e sobre o ambiente em que ele está inserido. As mudanças serão empreendidas e percebidas por meio de provocações que podem surgir a partir de perguntas e res- postas nos momentos de discussão entre o coach e o coachee. Como visto, de forma sintética, o coaching corporativo in- cide sobre as ações daqueles que atuam no cenário orga- nizacional, isto é, sobre o aspecto humano do trabalho. E compreendendo a complexidade e a subjetividade desse aspecto no cenário organizacional, o coaching corporativo propõe algumas ênfases que vão desde o aspecto interiori- zado do coachee, passando por sua capacidade de realiza- ção e identificação de limitações, até o desenvolvimento de sua capacidade de mobilizar outras pessoas. Isso dá a esse processo a potencialidade de favorecer um novo ambiente profissional em que seja possível empreender novos ru- mos estratégicos e de humanização do trabalho. Como destacamos em alguns momentos, a gestão precisa de um olhar mais crítico sobre a organização do trabalho para observar que o aspecto humano demanda ações que não tentem roboti- zar o comportamento das pessoas. Embora o processo de coaching corporativo proponha uma sé- rie de passos para potencializar o desempenho das pessoas no ambiente de trabalho, convém ressaltar que as etapas observa- das não significam uma “receita de bolo” a ser seguida, isto é, es- sas etapas não asseguram o pleno sucesso para o aumento de produtividade e de satisfação no ambiente organizacional. E por quê? Porque estamos lidando com pessoas. Até mesmo quando tentamos fazer um bolo e usamos a receita detalhada para alcançarmos uma boa fornada, há certos momen- ...................................................................................................................................................................................................................... 40 ...................................................................................................................................................................................................................... O que é um processo de coaching tos em que o bolo não sai como esperávamos, mesmo tendo seguido o passo a passo da receita. Isto se deve, muitas vezes, à qualidade dos utensílios utilizados, à temperatura ambiente, ao clima etc. Na gestão, essa possibilidade também existe. E, ao trabalharmos o processo de coaching corporativo, estamos seguros de que nem sempre as etapas cumpridas conseguirão dar conta da rea- lidade que se apresenta. Muitas vezes, a ordem das alternativas e ações pode ser diferente, assim como as necessidades envolvi- das e o ambiente em que estaremos inseridos. Portanto, o que se deve guardar a respeito do coaching corpo- rativo está relacionado às possibilidades de facilitar o caminho para melhorias, e não de emoldurar os passos a serem seguidos para que as perspectivas futuras sejam alcançadas. Observe o papel do coaching corporativo e suas ênfases recor- rentes. A partir daí, novas possibilidades surgirão para que o as- pecto humano no trabalho seja valorizado e investido, em vez de simplesmente ser cercado por técnicas, normas e procedi- mentos padronizados que cerceiam as capacidades individuais e alienam o pensar dos indivíduos. Pense nisso. 41O que faz do coaching um processo relevante ............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................ O QUE FAZ DO COACHING UM PROCESSO RELEVANTE Os desafios de competitividade que incidem sobre as or- ganizações atuais demandam determinados padrões sobre as ações que possibilitem fazer mais por menos. As pre- missas tayloristas enfatizam uma organização prescritiva do trabalho, concedendo a cada trabalhador uma tarefa, atribuição e privilégios limitados. É a chamada operação- -padrão de Taylor que, se levada ao aspecto literal, com- promete a produtividade pelo aspecto da capacidade emol- durada pela regra. Ferreira e Mendes (2012) enfatizam que a ação de trabalhar pode ser compreendida como uma oportunidade de desen- volver as capacidades humanas, proporcionando acesso à autonomia e à construção de sentido, tanto para o sujeito quanto para a sociedade. Para tanto, o trabalho não deve estar submetido a situações que fragmentem as capacida- des individuais e coletivas, muito menos que anulem o as- pecto da singularidade. Trabalhar não é somente produzir. É a possibilidade para o sujeito se constituir e, ao fazê-lo, transfor- mar a si mesmo. O trabalho é parte fundamental para afirmar a subjetividade, para o processo de enunciação do sujeito e construção da saúde. (FER- REIRA e MENDES, 2012, p. 144) A partir desse introito, podemos observar que o coaching passa a ser um processo relevante, que facilita os cami- 42 ...................................................................................................................................................................................................................... O que é um processo de coaching nhos para uma organização do trabalho na qual o indiví- duo pode transformar a si mesmo. Este é um possível caminho que faz do coaching um pro- pulsor de novas criações para o cotidiano laboral, que re- sultam em benefícios em diversas dimensões, como vere- mos a seguir. O coaching como facilitador na construção de sentido Um dos aspectos que torna o coaching necessário é a sua condução para a perspectiva de solução, em vez de focar apenas o problema que impede determinado avanço. Grande parte das pessoas inseridas no contexto organi- zacional passa por dificuldades que, em certa medida já explicadas nos capítulos anteriores, têm origem na lacuna entre as atribuições da tarefa e aquilo que é experimentado na prática. Nesse momento, muitos passam a atribuir a si mesmos a in- capacidade de avançar, de executar um bom desempenho, de desenvolver determinadas competências, de produzir, de alcançar as metas estabelecidaspelo nível estratégico etc. E esse autojulgamento acaba por proporcionar a visão de que dentro de si só há problemas a serem resolvidos e nada de potencialidades a serem exploradas. A ótica exploradora do trabalho distorce a capacidade que cada indivíduo tem de empreender soluções criativas, que dão rumo ao trabalho. Nesse momento, o coach pode inter- vir proporcionando uma nova visão não mais em relação aos problemas, mas, sim, em relação às possíveis soluções. 43O que faz do coaching um processo relevante ...................................................................................................................................................................................................................... A partir do momento em que um coachee passa a vislum- brar alternativas não antes percebidas, ele experimenta um momento de encontro consigo mesmo, com sua real situação, com pontos fracos, mas também com pontos for- tes; com deficiências, mas também com qualidades. E essa nova visão traz em si a possibilidade de sair de um estado atual em direção a um novo estado, um novo local, um novo imaginário revitalizador. Uma vez o trabalhador se confrontando consigo mesmo, ele tende a encontrar outras vias para ir além de onde antes pensava em chegar. É o encontro consigo mesmo que irá proporcionar a devida identificação de potencia- lidades e de limitações, buscando explorar seus pontos fortes e minimizar seus pontos fracos em busca de seus objetivos, o que favorece um estado de determinação, foco e disciplina. Na perspectiva desse novo estado, o coachee tem a oportu- nidade de recorrer à sua experiência de vida, à sua história singular, buscando reproduzir os fatores que empreende- ram ações bem-sucedidas no passado e corrigir possíveis rotas que foram tomadas e que não produziram bons re- tornos. Esse outro aspecto da necessidade do coaching, a partir do uso da experiência própria do coachee, favorece um espaço de autonomia no trabalho. Isso não significa que as atri- buições do cargo e as tarefas predeterminadas sejam to- talmente desprezíveis ou perversas. Se a realidade, porém, é mutável, se o ambiente organizacional está em plena e contínua mudança, é de se esperar que haja um espaço de autonomia para que o indivíduo no trabalho possa em- 44 ...................................................................................................................................................................................................................... O que é um processo de coaching preender parte de sua própria capacidade e experiência na busca por novas construções que irão favorecer soluções para o enfrentamento de uma nova realidade. O coaching como facilitador no incremento de produtividade Outra dimensão que tornou o coaching necessário está vol- tada aos mecanismos que proporcionam incrementos na produtividade. E, ao se falar em produtividade, estamos considerando a relação entre aquilo que se produz e os meios que levaram à produção. Sob esta ótica, o coaching encontra demanda na relação com o processo de transformação, isto é, nas atividades de pro- cessamento que irão resultar no produto/serviço final e que, consequentemente, serão afetados de acordo com a forma com que esse processamento, essa transformação é gerida. Alguns aspectos que estão ligados à necessidade de coa- ching podem se relacionar, por exemplo, com a melhoria contínua de processos. Nesse aspecto, o fator humano in- terfere tanto na forma de pensar os processos quanto na de executá-los. Para ambas as formas, o fator humano é desafiado a minimizar erros, prever contingências, atingir metas, elaborar estratégias, entre outros. Para tanto, o pro- cesso de coaching contribui proporcionando alternativas que vão sempre convergir para um melhor desempenho, um melhor compromisso com os objetivos organizacio- nais e pessoais. Ainda em relação à necessidade de melhoria contínua de processos, convém destacar que a tônica da melhoria não 45O que faz do coaching um processo relevante ...................................................................................................................................................................................................................... se refere apenas às formas de pensar e executar os pro- cessos, uma vez que a melhoria também depende, em boa medida, da gestão do capital intelectual das pessoas. Aliás, é conveniente destacar que o capital intelectual em si tal- vez não possa ser gerido, mas certamente pode-se gerir o ambiente e as circunstâncias em que ele se manifesta. Este destaque nos remete à visão de que a produtividade é dependente da forma como o capital intelectual é gerido, concebido. Daí a relação direta com a produção de sentido que o coaching também corrobora, uma vez que a inventivi- dade é a mola mestra de novas formas do saber-fazer. Um conceito que se relaciona diretamente às melhorias de processo e à gestão do capital intelectual é o de gestão par- ticipativa. E, nesse aspecto, o coaching também encontra sua demanda bem identificada. Uma gestão participativa bem implementada é aquela que enfatiza (1) as condições de diversidade na equipe de tra- balho e (2) as informações sobre a condição emocional da equipe de trabalho. Em relação à administração da diversidade, ao recorrermos ao campo do comportamento organizacional é possível ca- racterizarmos a diversidade em dois níveis: superficial e profundo. A diversidade superficial refere-se aos aspectos claros, nítidos, perceptíveis no primeiro momento e que diferenciam as pessoas umas das outras, como a cor da pele, o sotaque, as características fisiológicas etc. Já a di- versidade profunda refere-se aos aspectos mais internos, que não são facilmente perceptíveis e que só podem ser 46 ...................................................................................................................................................................................................................... O que é um processo de coaching identificados mediante a interação com a pessoa, sendo possível, a partir de então, diferenciá-la das demais, como personalidade, valores, comportamentos, vícios etc. Uma necessidade, portanto, que demanda a intervenção do processo de coaching pode ser identificada a partir do momento em que é preciso administrá-la “individualmen- te”, isto é, fazer a gestão considerar a diversidade da força de trabalho para que as potencialidades sejam exploradas, levando a uma participação conjunta na elaboração dos processos, o que vai ao encontro de um incentivo à pro- dutividade. Já quanto aos aspectos emocionais, a gestão participati- va recorre aos pressupostos da inteligência emocional, cujo desafio está em identificar e administrar as emoções, tanto em si mesmo quanto em outros. Para o gestor, isso significa que seu desafio está em caracterizar a causa do comportamento das pessoas associando fatores de origem emocional e/ou sentimental. Tal separação se dá na medi- da em que o sentimento está ligado a aspectos sem causa definida, que não são expressos de forma facial e são du- radouros, enquanto que a emoção possui causa definida, é expressa de forma facial e é momentânea. Logo, outra justificativa que se apresenta para a execução de um processo de coaching está ligada à gestão participa- tiva, uma vez que ele representa uma ferramenta que faci- litará o caminho para lidar com as diversidades da equipe de trabalho, criando alternativas para administrar o rumo das decisões que ela pode tomar. 47O que faz do coaching um processo relevante ...................................................................................................................................................................................................................... Outro aspecto em queo coaching pode significar um faci- litador de incremento na produtividade refere-se à adapta- bilidade ao contexto. Como vem sendo destacado, as mu- danças que ocorrem no ambiente externo proporcionam interferência no ambiente interno das organizações e, por isso, demandam novas posturas, pensamentos e compor- tamentos das pessoas a fim de que respondam satisfato- riamente a tudo que vem se transformando. Sendo assim, um dos principais aspectos que faz do coaching um processo necessário é o ajuste mútuo entre a organização e o ambiente em que ela está inserida. A resultante desse ajuste está diretamente associada à maior produtividade. Ao se falar em adaptação ao contexto, porém, estamos li- dando com fatores profundos e complexos, tanto em nú- mero quanto em significado. Não é possível desconsiderar, por exemplo, aspectos ligados ao campo sociológico, técni- co, cultural, econômico, entre outros. O processo de coaching pode, assim, servir como facilitador da mudança que é preciso empreender para considerar uma nova realidade, acompanhando as alterações no ambiente. Uma vez que a organização seja capaz de acompanhar e de se adaptar às mudanças por meio — também — da execu- ção do processo de coaching, observa-se que há razoável tendência a implementar práticas sustentáveis. E isso signi- fica que o incremento na produtividade se dará por meio de práticas que vão cumprir objetivos não apenas produtivos, mas que vão corroborar ações voltadas ao campo social, 48 ...................................................................................................................................................................................................................... O que é um processo de coaching ambiental e econômico, visando à exploração consciente de recursos e ampliando os impactos benéficos da produção. O coaching como facilitador no desenvolvimento de competências gerenciais Muito se discute em termos teóricos sobre o que significa “competência”. Não é nosso objetivo aqui discorrer sobre alguma definição do termo, mas é oportuno nos inclinar- mos para a perspectiva francesa, que considera o contexto como um aspecto importante para o desenvolvimento de competências. Como visto, o processo de coaching assume algumas ênfa- ses quanto à sua aplicação. Dentre elas, encontramos a re- lação com a função gerencial, na medida em que membros de equipes são capacitados para assumir cargos gerenciais, assim como gestores também são capacitados para alcan- çar (ou desenvolver) melhorias em seus desempenhos. Não obstante uma ou outra dimensão, o coaching oferece alternativas concretas que colaboram para que as compe- tências gerenciais sejam desenvolvidas na medida em que as competências emergem a partir da melhoria no desem- penho. Esta é uma necessidade latente no campo organizacional se considerarmos, por exemplo, a incessante busca por so- luções já prontas. No meio empresarial, é muito comum que os gestores re- produzam técnicas e ferramentas desenvolvidas em ou- tros países e, consequentemente, outros contextos (no aspecto macro), sem a devida consideração das particu- 49O que faz do coaching um processo relevante ...................................................................................................................................................................................................................... laridades que a organização possui no ambiente em que está inserida. São ações que geralmente são fomentadas por baixo in- vestimento na produção de conhecimento nacional e pela pressa em obter propostas de solução prontas, que sejam apenas aplicáveis, sem necessidade de gastos financeiros e de tempo no desenvolvimento estratégico. O resultado disso é que muitas empresas têm enfrentado sérias dificuldades estratégicas, produtivas e econômicas ao tentarem simplesmente executar padrões instrumentais em suas respectivas realidades, sem atentar para as carac- terísticas do setor, do público-alvo, da estrutura organiza- cional, da cultura local e empresarial, entre outras. É aí que nasce a necessidade de adotar uma postura ge- rencial crítica, a partir da qual as potencialidades da força de trabalho serão fundamentais para enfrentar os desafios do contexto. Em outras palavras, surge a necessidade de identificar outros caminhos para se chegar a um objetivo. Ao trabalhar o aspecto humano na função gerencial, o coaching vai considerar não apenas o que é feito, mas como é feito e, principalmente, como poderia ser feito. Cabe ressaltar, mais uma vez, que as competências não se referem a um padrão a ser seguido. Ao contrário, signifi- cam uma amostra de ações que podem emergir a partir do desempenho de determinados gestores, em determinados contextos, com determinadas equipes de trabalho. O coa- ching interage nesse processo ofertando caminhos alterna- tivos para que a melhoria no desempenho seja alcançada de forma eficiente. 50 ...................................................................................................................................................................................................................... O que é um processo de coaching O coaching como facilitador na relação de interação do grupo Como vimos anteriormente, um aspecto comum entre as ênfases que o coaching assume no ambiente corporativo refere-se à preparação ou à capacitação para assumir car- gos gerenciais, ou, em outra perspectiva, à capacitação em liderança. Esta é uma demanda que também dá indícios da impor- tância do processo de coaching e o faz tão necessário no empreendimento de melhorias de desempenho: o impacto sobre a interação, sobre a relação operacional do grupo. Ao assumirmos esse termo de relação operacional, esta- mos, na verdade, considerando um aspecto que pode até ser classificado como reducionista, no sentido de que po- deria minimizar a importância do coaching em relação a outros aspectos para os quais ele pode contribuir. Porém, o intuito não é reduzir, e sim destacar (ou demarcar) um fator no qual observamos a necessidade de busca desse processo de coaching. Todo indivíduo possui anseios, expectativas, desejos de suprir suas necessidades. E para que cada um de nós possa supri-las, é preciso recorrer a determinadas fontes de re- cursos que, por si mesmas, podem passar a ser entendidas também como necessidades, na medida em que se tornam fundamentais para que alcancemos nossos objetivos. Em outras palavras, os caminhos que nos levam a suprir nossas necessidades podem também tornar-se fontes de necessidades. É uma relação cíclica: preciso de recursos 51O que faz do coaching um processo relevante ...................................................................................................................................................................................................................... para suprir necessidades pessoais; logo, esses recursos também se transformam em outro nível de necessidade, sem os quais não consigo suprir minhas necessidades es- senciais. Ora, se cada indivíduo possui necessidades seminais e ins- trumentais, então nos lançamos a construir relações com outros indivíduos a fim de que possamos obter os devidos recursos que vão suprir nossas necessidades. Isto é, nos- sa relação uns com os outros, em certa medida, pode ser compreendida como uma relação instrumental, por meio da qual buscamos um relacionamento tão somente com o objetivo de suprir determinadas necessidades pessoais. Esta é uma visão que pode ser traduzida da seguinte forma: Eu não tenho condições de suprir, sozinho, minhas próprias necessidades, assim como não possuo to- dos os meios para alcançar esse suprimento. Mas outra(s) pessoa(s) possui(em) meios pelos quais eu posso suprir minhas necessidades. Logo, é este o elo que me faz criar uma relação
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