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Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 1 MÓDULO DE: LEGISLAÇÃO E POLÍTICA PÚBLICA DA EDUCAÇÃO AUTORIA: Ma. GERUZA NEY ALVARENGA Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 2 Módulo de: Legislação E Política Pública Da Educação Autoria: Ma. Geruza Ney Alvarenga Primeira edição: 2007 Todos os direitos desta edição reservados à ESAB – ESCOLA SUPERIOR ABERTA DO BRASIL LTDA http://www.esab.edu.br Av. Santa Leopoldina, nº 840/07 Bairro Itaparica – Vila Velha, ES CEP: 29102-040 Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 3 SUMÁRIO UNIDADE 1 .................................................................................................. 5 LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL ...................................................................... 5 UNIDADE 2 .................................................................................................. 8 Constituição .............................................................................................. 8 UNIDADE 3 ................................................................................................ 13 Direito à Educação .................................................................................. 13 UNIDADE 4 ................................................................................................ 18 A Educação na Ordem Constitucional ....................................................... 18 UNIDADE 5 ................................................................................................ 25 A Constituição de 1988 ............................................................................ 25 UNIDADE 6 ................................................................................................ 31 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional......................................... 31 UNIDADE 7 ................................................................................................ 34 A Educação como Direito Social ............................................................... 34 UNIDADE 8 ................................................................................................ 38 Direito Público Subjetivo a ser Efetivado pelo Estado. ................................ 38 UNIDADE 9 ................................................................................................ 42 Educação Brasileira ................................................................................. 42 UNIDADE 10 .............................................................................................. 46 Composição da Educação Básica .............................................................. 46 UNIDADE 11 .............................................................................................. 50 Educação Infantil, Ensino Fundamental E Ensino Médio. ............................ 50 UNIDADE 12 .............................................................................................. 55 Modalidades da Educação Escolar ............................................................ 55 Educação de Jovens e Adultos ................................................................. 55 UNIDADE 13 .............................................................................................. 59 A Educação de Adultos Passou a Ser “(EJA)”. ............................................ 59 UNIDADE 14 .............................................................................................. 69 EDUCAÇÃO PROFISSIONAL ..................................................................... 69 UNIDADE 15 .............................................................................................. 74 Educação Escolar Indígena ...................................................................... 74 UNIDADE 16 .............................................................................................. 79 Educação à Distância............................................................................... 79 UNIDADE 17 .............................................................................................. 86 Educação Superior na Modalidade a Distância ........................................... 86 UNIDADE 18 .............................................................................................. 89 Plano de Desenvolvimento da Educação ................................................... 89 UNIDADE 19 .............................................................................................. 94 Competências Exclusivas da União ........................................................... 94 UNIDADE 20 .............................................................................................. 99 A Organização da Educação Sob a Forma de Sistemas de Ensino. .............. 99 UNIDADE 21 ............................................................................................. 102 Organização da Educação Nacional e o papel dos Conselhos de Educação . 102 Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 4 UNIDADE 22 ............................................................................................. 107 Competências entre as três esferas administrativas .................................. 107 UNIDADE 23 ............................................................................................. 112 O FUNDEF e o FUNDEB .......................................................................... 112 UNIDADE 24 ............................................................................................. 116 A Distribuição dos Recursos do FUNDEB .................................................. 116 UNIDADE 25 ............................................................................................. 121 A Educação como Prioridade Social ......................................................... 121 UNIDADE 26 ............................................................................................. 127 Gestão Democrática da Escola e os Sistemas de Ensino ............................ 127 UNIDADE 27 ............................................................................................. 131 Gestão Financeira Descentralizada .......................................................... 131 UNIDADE 28 ............................................................................................. 136 Reforma Educacional dos Anos 90 ........................................................... 136 UNIDADE 29 ............................................................................................. 141 Parâmetros Curriculares Nacionais e de Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica.................................................................................. 141 UNIDADE 30 ............................................................................................. 149 Tendências e Perspectivas da Educação .................................................. 149 GLOSSÁRIO .............................................................................................. 155 BIBLIOGRAFIA .......................................................................................... 158 Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 5 UNIDADE 1 Objetivo: Apropriar-se dos conhecimentos sobre a Legislação Educacional vigente em nosso país tratando-a não só como um instrumento de conhecimentocomo também de promoção da cidadania. LEGISLAÇÃO EDUCACIONAL Nesta unidade será estudada a Legislação Educacional e as constituições brasileiras, sua aplicabilidade e impacto nas instituições de ensino. A legislação da Educação pode ser considerada como um conjunto de leis referentes à Educação seja ela estritamente voltada ao ensino ou às questões da matéria educacional. A partir da nova ordem geral da Educação Nacional, decorrente da Lei 9.394/96, podemos ainda utilizar a expressão Legislação Educacional ou Legislação da Educação para nos referirmos à legislação que trata da Educação escolar, nos níveis de Educação (básica e superior). Segundo Vicente Martins, legislação educacional pode ser assim definida: ‘’É um complexo de leis cujo destinatário é o homem trabalhador ou o homem consumidor. A legislação educacional pode ter uma acepção ampla, isto é, pode significar as leis da Educação, que brotam das constituições nacionais, como a Constituição Federal, considerada a Lei Maior do ordenamento jurídico do país, às leis aprovadas pelo Congresso Nacional e sancionadas pelo Presidente da República’’. A Legislação pode ser de natureza reguladora ou regulamentadora. A legislação pode compreender os decretos presidenciais, as portarias ministeriais e interministeriais, as resoluções e pareceres dos órgãos ministeriais ou da administração superior da Educação Brasileira. A legislação reguladora estabelece a regra geral, a norma jurídica fundamental. Daí, o processo regulatório voltar-se sempre aos princípios gerais e à disposição da Educação como direito, seja social ou público subjetivo. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 6 A legislação regulamentadora, ao contrário da legislação reguladora, não é descritiva, mas prescritiva, volta-se à própria práxis da Educação. A regulamentação não cria direito porque se limita a instituir normas sobre a execução da lei, tomando as providências indispensáveis para o funcionamento dos serviços educacionais. A estrutura política e jurídica da Educação, contida na Constituição Federal e nas leis federais regula a estrutura da Educação enquanto os decretos, as portarias, as resoluções, os pareceres, as instruções, enfim, prescrevem a forma de funcionamento do serviço educacional. O Estado e a Educação Antes de estabelecermos uma relação entre o Estado e a Educação, torna-se necessário um esclarecimento acerca dos termos Estado e Governo, comumente confundidos em sua essência. O termo “Estado” refere-se àquele setor da sociedade criado por documentos legais chamados constituições, que é responsável pelo bem comum de todos os cidadãos que optam por morar e conviver no seu território como membro da sociedade civil, seja em nível de maior abrangência (âmbito Federal), menor abrangência (Municipal) ou intermediário (Estadual). Já o termo “Governo”, refere-se ao grupo ou associação de grupos de indivíduos, organizados em partidos políticos (alguns alinhados ideologicamente mais com a direita, outros com a esquerda ou com o centro) que, quando eleitos, democraticamente ou não, assumem os poderes: executivo e legislativo, durante um período temporário, fixo e curto, normalmente de quatro anos, podendo ou não ser reconduzidos. A herança portuguesa deixada no Brasil é a de um Estado forte, centralizador e patriarcal, que acaba sufocando nosso próprio sistema educacional. Desta forma, concebe-se o papel do Estado por meio de uma visão anacrônica como nos tempos da Monarquia, onde o controle da nação concentra-se nos participantes do Governo que entram e saem a cada quatro anos, independente da variação partidária. Contudo, ocorre que a complexidade da sociedade contemporânea, com suas necessidades de adaptação a novas e constantes circunstâncias e contingências, eliminam qualquer possibilidade de Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 7 manter um Estado centralizador, pesado ao se movimentar ou tomar decisões e retrógrado na sua visão de sociedade. No período que abrange as três últimas décadas do século XX, a crise do Estado, o questionamento de seu papel e sua reforma, constitui elementos de grande relevância no contexto político brasileiro, uma vez que interferem profundamente nas diretrizes políticas, econômicas e sociais do país. Especificamente quanto à Educação, as políticas implementadas acabam por refletir este quadro. Diante deste contexto de reformas, na década de 80 a ênfase na Educação passa a ser a eficiência do funcionamento das instituições escolares e a qualidade de seus resultados. Ressaltante desta, marcante influência de organizações internacionais no estabelecimento destas diretrizes; estabelecidas para o aparelho de Estado como um todo, em seu processo de reforma. Esta tendência permanece na década de 90, em que “o Estado procurará imprimir maior racionalidade à gestão da Educação pública, buscando cumprir seus objetivos, equacionar seus problemas e otimizar seus recursos, adotando em muitos casos o planejamento por objetivos e metas” (Oliveira, 2000 p.100). A Educação passa por reformas em sua estrutura e orientações, destacando- se as seguintes: redistribuição de recursos; descentralização da execução do gasto; reforço da progressividade e redistribuição dos recursos; reequilíbrio regional da alocação; descentralização; desconcentração dos recursos e funções; participações dos pais; parcerias com a sociedade civil; modernização dos conteúdos; diversificação das carreiras; criação de sistemas nacionais de capacitação docente; criação de um sistema nacional integrado de avaliação educacional (Draibe, 1999). Mediante este quadro de reformas que permeia tanto o Estado quanto a Educação, ambos influenciados pelo sistema neoliberal de economia globalizada, a Educação assume um papel de relevância na formação dos cidadãos que estarão interagindo nesta sociedade. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 8 UNIDADE 2 Objetivo: Reconhecer na constituição os direitos e os deveres dos cidadãos, o que ela dispõe sobre a Educação e sobre a forma de concretizá-la. Constituição A Constituição determina a vida social, política e jurídica do Brasil, organizando o Estado. A Constituição é o instrumento primeiro que, ao determinar os direitos e os deveres dos cidadãos, estabelece também o modo como o Estado deve agir em termos do cumprimento e do resguardo dos direitos de cidadania. É desta perspectiva que Cury (2006), afirma: A Constituição determina a vida social, política e jurídica do Brasil, organizando o Estado. Ao ordenar a sociedade e o Estado, a Constituição também dispõe sobre a Educação e sobre a forma de concretizá-la. Assim, quando se buscam as bases do Direito Educacional, o ponto de partida deve estar na Constituição, naqueles princípios abrangentes, capazes de multiplicar-se em muitos direitos, em muitas garantias e muitos deveres. Mas não é somente a Constituição que estabelece, no nosso País, o direito à Educação, particularmente à Educação escolarizada. De acordo com Jamil Cury, as leis fazem parte substantiva de um complexo jurídico que media, pelo Direito, permanentemente, as relações entre Estado e sociedade. Considerando-se o contorno legal como o indicador de determinados limites nos quais o indivíduo atua, a aplicação da lei se apresenta, como um fato constante e indispensável nas sociedades, afinal, um mínimo de organização para efeito da existência social é fundamental e implica a existência, o conhecimento e obediência aos códigos democráticos. O autor aponta como sendo importantíssimo a qualquer educador ou profissional envolvido no setor educativo, o conhecimento do capítulo que se refere à Educação contida na ConstituiçãoFederal, posto que neste, pode - se verificar a legislação fundante e fundamental de toda ordem jurídica relativa à Educação existente no país, Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 9 estando firmados deveres e direitos; delimitadas competências e incumbências, definidas restrições. A Constituição Federal de 1988, além de alargar os dispositivos constantes em constituições anteriores, estipula outros princípios como o do pluralismo, da liberdade e gestão democrática. No que tange mais especificamente à legislação voltada à estrutura e funcionamento do ensino no Brasil, cabe o conhecimento por parte dos profissionais envolvidos em Educação, da Lei 9.394/96 (Diretrizes e Bases da Educação Nacional), que aponta a flexibilidade e a avaliação como novos eixos da Educação brasileira e onde se faz notória uma significativa mudança no próprio papel do Estado, que recua de sua posição histórica de um sujeito docente com ação direta no sistema de ensino, para uma posição de árbitro e de coordenador que, pela avaliação, pretende, ao final, expor o processo à consideração da sociedade. Como todos os direitos humanos, o direito à Educação é uma conquista histórica da humanidade resultante de conflitos, lutas e acordos, cujo reconhecimento e institucionalização vêm se processando de modo gradual, conforme as especificidades de cada país. Suas origens remontam à Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, votada pela Assembleia Nacional Francesa, em 1789. No artigo XXII desta Declaração, registra-se que: “a instrução é necessidade de todos”. A sociedade deve favorecer com todo o seu poder o progresso da inteligência pública e colocar a instrução ao alcance de todos os cidadãos. Mas, no Brasil, não é somente a Constituição que estabelece o direito à Educação, particularmente à Educação escolarizada. Dentre o conjunto de legislação e normas existentes, podemos citar a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBN), O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o Plano Nacional de Educação, além das Constituições dos estados federados e das leis orgânicas dos municípios. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 10 O Conceito Constitucional A constituição contém determinações, de organização jurídica, fundamentais para um Estado. As normas constitucionais vigoram como supralegais, uma vez que têm eficácia sobre as demais. A estrutura constitucional é escalonada e as normas legais e infralegais devem estar compatíveis com a ordem constitucional. Assim, o conceito constitucional pode ter os seguintes aspectos: -Sociológico quando a constituição é o resultado da soma de fatores concretos de poder; -Político quando a constituição é o resultado da soma de decisões políticas; -Jurídico quando a constituição é o resultado da soma de normas, podendo ter o sentido lógico-jurídico de norma fundamental hipotética ou sentido jurídico- positivo de norma fundamental escrita. Contextualizando Proclamada a Independência do Brasil, tornou-se indispensável dar contextura política ao nosso País. Para isso, foi outorgada, no dia 25 de março de 1824, a Primeira Constituição do Brasil, que trouxe em seu bojo dispositivo de ordem político - eleitoral. Apesar de ser antidemocrática, a primeira Constituição do Brasil foi a que mais tempo durou. Por ela, o voto era Censitário: só podia votar quem tivesse uma renda mínima de cem mil réis anuais. Para ser votado, a renda era maior ainda, excluindo o trabalhador desse processo. O Poder Legislativo era formado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Vitalício (o senador era escolhido pelo Imperador e ficava no cargo até morrer). O Poder Judiciário, os juízes dos tribunais eram nomeados pelo Imperador. O Poder Executivo era exercido pelo Imperador. Tinha ainda, o Poder Moderador, que dava ao Imperador o direito de fechar a Assembleia Geral, demitir juízes do Supremo Tribunal e convocar tropas, quando se sentisse prejudicado. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 11 Nesta Constituição, a Igreja Católica foi oficializada através do Padroado: os bispos passaram a ser pagos pelo Imperador, que também os nomeava. A Constituição do Império do Brasil pode, assim, ser considerada o marco inicial da evolução do Direito Eleitoral do país. A primeira instrução eleitoral foi baixada por decreto e, a rigor, deve ser considerada como a primeira lei eleitoral do Brasil. Entrou em vigor um dia após a outorga da Constituição e vigorou por mais de vinte anos. Aspectos Jurídicos Constitucionais A Educação, como norma jurídica, não é, propriamente, matéria de Constituição. A primeira destinação de uma Constituição é a de ser norma que proclama o titular do poder. A Constituição é uma espécie de certidão de nascimento do Estado. Daí, a ciência Política definir Estado como sociedade política e, juridicamente, organizado. Mas, na medida em que esse Estado passa a formalizar os anseios da Nação, que é seu organismo psíquico e social reflete, nos seus documentos, ordenamentos, normas e leis, os ideais sociais, as utopias do homem. Assim o Estado evoluiu de patriarcal para patrimonial, de individual para social, incorporando, nos seus ordenamentos jurídicos, as aspirações nacionais. O Brasil, a partir da sua independência política, em 1822, ficou sob a influência de um Estado de Direito cuja referência externa estava na Revolução Francesa de 1789. Surgindo no país um regime liberal e a passagem da condição individual e servil de súditos da Coroa Portuguesa, marca do nosso Colonialismo, para a de cidadãos do Império. O Estado de Direito será, sobretudo, o resguardo das liberdades, garantias individuais e os direitos de cidadania; reforço também das proclamações liberais, entre as quais a da Educação fundamental e gratuita, discurso, no século XIX, transcrito nos ordenamentos jurídicos das nações emancipadas. A inserção da Educação, nos textos constitucionais, assinala do ponto de vista formal, a passagem do Estado Individual para o Estado Social. A primeira Constituição brasileira registra a Educação, como norma constitucional, no âmbito de seus elementos orgânicos, ou melhor, no conjunto Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 12 dos artigos que tratam substancialmente dos princípios normativos e essenciais relativos à forma de Estado, à organização e a funções dos poderes públicos, e aos direitos e deveres dos cidadãos. Não é, rigorosamente, ainda matéria exigida pelo Estado. Não houve uma grande mudança no modelo educacional no Brasil. No campo da Educação escolar, enquanto a legislação, seguindo tendências modernas dos países mais desenvolvidos, evolui no sentido da escola pública’’ única gratuita e democrática’’, aberta a todos, a atuação pratica dos poderes públicos mostrou-se bem diferente. Continuamos a ter dois tipos de escola: Uma para as classes dominantes, que conduz a Universidade; outras para os pobres que em geral, limita-se aos primeiros anos do Ensino Fundamental. As leis são feitas, mas não são providenciados recursos para que sejam cumpridas. No Brasil, desde o começo de nossa historia, temos a forte tradição de uma escola para poucos. Essa situação começaria a mudar só no século XX, depois da Proclamação da República. Ainda assim, por muito tempo, a escola exerceu (em alguns lugares ainda exerce) uma função social excludente, ou seja: a escola atendia apenas uma pequena parcela da camada mais rica da população. Esta situação, porém, só veio a mudar a partir do século XXI. Para melhor compreensão do assunto estudado, recomenda-se que você faça uma leitura e redija uma síntese do texto de Frei Betto:“Educação em Direitos Humanos. Texto adaptado do site: www.dhnet.org.br/educar/redeedh/bib/betto.htm Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 13 UNIDADE 3 Objetivo: Compreender, historicamente, a trajetória da conquista do direito à Educação. Direito à Educação Direito à Educação é uma Conquista Histórica da Humanidade Como todos os direitos humanos, o direito à Educação é uma conquista histórica da humanidade resultante de conflitos, lutas e acordos, cujo reconhecimento e institucionalização vêm se processando de modo gradual, conforme as especificidades de cada país. Suas origens remontam à Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão, votada pela Assembleia Nacional Francesa, em 1789. No artigo XXII desta Declaração, registra-se que “a instrução é necessidade de todos’’. A sociedade deve favorecer com todo o seu poder o progresso da inteligência pública e colocar a instrução ao alcance de todos os cidadãos”. Independentemente de suas modificações, no decorrer da história, a Escola foi a instituição que a humanidade criou para socializar o saber sistematizado. Isto significa dizer que é o lugar onde, por principio, é veiculado o conhecimento que a sociedade julga necessário transmitir às novas gerações. Nenhuma outra forma de organização até hoje foi capaz de substitui- la. Para cumprir seu papel, de contribuir para o pleno desenvolvimento da pessoa, prepará-la para cidadania e qualificá-la para o trabalho, como definem a constituição e a LDB, é necessário que suas incumbências sejam exercidas plenamente. No contexto da sociedade brasileira no século XVIII, o Brasil era colônia de Portugal, com o regime de trabalho escravo, representado pela escravização dos negros africanos, cuja força de trabalho produzia os bens primários destinados ao mercado europeu. A Educação no Brasil era privilégio das elites latifundiárias o escravo não era considerado gente e sim “coisa”. O Brasil não tinha povo e muito menos cidadãos, para lutarem por direitos. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 14 Essa situação começaria a mudar no século XX, depois da Proclamação da República. Ainda assim, por muito tempo, a escola exerceu (em alguns lugares ainda exerce) uma função social excludente, ou seja: a escola atendia apenas uma pequena parcela – a camada mais rica - da população. A escola para criança e jovens, como hoje a conhecemos, tem presença recente na história da humanidade. É verdade que, desde um passado bem remoto, existia a tarefa de transmitir às novas gerações o conhecimento sistematizado e as normas de convivência consideradas necessárias aos mais jovens. Na Antiguidade, tanto em Roma como na Grécia, a preocupação com a formação cultural daqueles que iriam constituir as camadas dirigentes estava presente. A Educação dos meninos para a convivência publica e para a guerra era objeto de muita atenção. O ensino organizado em instituição própria, todavia, começou pelas universidades. Eram poucos os que tinham acesso às primeiras letras e formas elementares de aprendizagem, preparatórias para as universidades. Quando existia, a escola destinava-se apenas aos filhos das camadas mais ricas da população. Foi apenas há cerca de 200 anos, com os ideais da Revolução Francesa e da democracia americana, que a escola passou a ser compreendida como uma instituição importante, não apenas para os filhos das elites como para filhos das camadas trabalhadoras. Tanto a Revolução Francesa como o movimento pela independência dos Estados Unidos representou mudanças na natureza dos processos de participação popular, rompendo com o modelo aristocrático anterior. A partir desses importantes marcos políticos a busca pela democracia intensificou-se, nos dois países, portanto, Há uma ligação muito próxima entre escola e democracia. Por isso, costuma-se dizer que foi a partir de então que começou a longa luta para transformar a escola para poucos em escola para todos. Enquanto em outros países, tanto na Europa (França, Inglaterra) quanto, na própria América Latina, a exemplo da Argentina, a escola se expandia e o Ensino Fundamental atendia amplas camadas da população, as coisas no Brasil se davam de forma muito diferente. Aqui, a Educação permanecia como privilégio de poucos, muito Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 15 poucos. As escolas, quando existiam, abrigavam os filhos das elites, de preferência os homens, As mulheres mal apareciam na cena social. Tobias Barreto defensor, no passado, da Educação feminina, argumentava que as mulheres de famílias de elite (as únicas que tinham acesso à instrução formal) recebiam alguma iniciação em desenho e música e, quando muito, sabiam “gaguejar uma ou duas línguas estrangeiras e ler as bagatelas literárias do dia”, como disse em um ensaio sobre “A alma da mulher”. Hoje as coisas mudaram. Dados do instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 1996, mostravam que, se até os anos 80 os homens estavam em vantagem em termos de média de anos de estudo, essa posição se inverteu nos anos 90. No período de 1990 a 1996, a média de anos de estudo aumentou de 5,1 para 5,7, entre os homens; e de 4,9 a 6,0 para as mulheres – o que significa que elas deram um salto de aproximadamente um ano, enquanto eles avançavam meio ano. A Constituição do Império Brasileiro (Constituição de 1824) em seu artigo 179 garantiu a todos os cidadãos [...] “a instrução primária e gratuita, os colégios e universidades onde serão ensinados os elementos das ciências, belas artes e letras”. A Constituição de 1824 definiu quem seria cidadão e, portanto, sujeito de direitos, os princípios liberais foram utilizados para legitimar a própria escravidão. Cidadãos plenos ou ativos eram apenas os indivíduos que dispusessem de um determinado montante de renda líquida anual. Os escravos foram excluídos dos direitos, exceto os criados, da Casa Imperial de maior categoria, os primeiros caixeiros das casas de comércio e os administradores das fazendas rurais e de fábricas. Nas condições históricas em que a Constituição de 1824 reconheceu a Educação como um direito, porém esse direito não era destinado a todos. Mesmo no cenário mundial demorou mais de séculos para que a Educação, como direito, fosse assumida. Isto só aconteceu no contexto da Declaração Universal dos Direitos do Homem, adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1948, onde o direito à Educação, como um direito internacional, passou a ser reconhecido como tal. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 16 Após a Segunda Guerra Mundial, vários países passaram a integrar a Organização Mundial das Nações Unidas (ONU) que reconheceu a impropriedade da ideia da existência de uma raça superior, classe social, cultura ou religião em relação às demais existentes. Revigorando os ideais da Revolução Francesa, a Declaração significou a manifestação histórica de que se constituíra, no plano mundial, o reconhecimento da igualdade, da liberdade e da fraternidade entre os homens como valores supremos (COMPARATO, 2006). Declaração Universal dos Direitos Humanos No artigo XXVI da Declaração, no que se refere especificamente à Educação, encontramos registrados que: 1. Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito. 2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais.A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz. 3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será ministrada aos seus filhos. Desde a Declaração Universal dos Direitos do Homem, a ONU, por meio de seus distintos organismos, tem velado pela reafirmação da Educação como direito de todos os povos, conforme a Declaração dos Direitos da Criança (1959), o documento da Convenção Relativa à Luta contra as Discriminações na Esfera do Ensino (1960), o Pacto Internacional Relativo aos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1966). Além disto, não podemos esquecer a Declaração Mundial de Educação para Todos de 1990, quando 155 governos nacionais se comprometeram, através de adesão ao protocolo concernente, com a erradicação do analfabetismo em Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 17 seus territórios e com a oferta da Educação básica para todos até o ano 2000. Tanto a Conferência de Jomtien, no início de 1990, onde foi aprovada a Declaração Mundial de Educação para Todos, quanto o Marco de Ação de Dacar, representam na história da Educação mundial um verdadeiro divisor de águas, pois não se contentaram apenas com a universalização do acesso, como também com a qualidade e a democratização educacionais. Ambos os compromissos traduzem a vontade dos países - membros da UNESCO com uma Educação Básica de qualidade para todos. Há alguns anos, o Brasil entrou em sintonia com a meta de Educação de qualidade para todos. Nas três instâncias da administração educacional brasileira - União, Estados e Municípios - trava-se uma luta incessante para não deixar nenhuma criança sem escola. O resultado dessa política está à vista e se expressa por quase 97% de crianças brasileiras inseridas no processo de escolarização obrigatória. Sobressai agora o desafio da qualidade que constitui, sem dúvida, o mais difícil dos obstáculos. Apesar dos significativos avanços da ciência e da tecnologia, na década de 1990, aquele compromisso não só deixou de ser cumprido, como aumentou o número absoluto de analfabetos, sobretudo no Sul da Ásia e na África. Em consequência, no ano de 2000, 185 governos participaram da Conferência de Educação, realizada em Dakar (Senegal), ocasião em que foram reafirmados os compromissos com uma Educação para Todos, até o ano de 2015. PRIMEIRA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA – 1824 DOCUMENTO PARA CONSULTA Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 18 UNIDADE 4 Objetivo: Contextualizar a Educação brasileira na ordem constitucional bem como a sua aplicabilidade em cada constituição do país. A Educação na Ordem Constitucional Breve Histórico O Estado brasileiro, enquanto sociedade política tem se revelado no âmbito de suas Constituições, como o grande interlocutor das políticas educacionais desenvolvidas no País. Em uma sociedade de classes, como no Brasil, só o Estado é capaz de garantir, de forma positiva, no seu ordenamento jurídico, a Educação como direito social. "Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos dessa Constituição". – Fundamento declarado no primeiro artigo da Constituição, parágrafo único. A Constituição Federal do Brasil é a lei fundamental da nação, um conjunto de normas jurídicas que regem as relações entre governantes e governados, não havendo qualquer outro ordenamento superior a este. A Constituição existe para regular o exercício do Estado, visando proteger os Direitos e Garantias Fundamentais dos cidadãos. A Constituição de 1.824 tratava de princípios gerais sobre instrução primária ‘’gratuita a todos os cidadãos’’ art.179, XXXII, com referências genéricas a respeito de colégios e universidades que ministravam Ciências, Belas Artes e Letras. Em 15 de novembro de 1.827, foi publicada a primeira Lei Orgânica do Ensino no Brasil, entretanto, tornou-se praticamente inexequível, por não haver professores para efetivarem seus dispositivos. Em 1827, foram instituídos pelo Decreto Imperial de 11 de agosto, os primeiros cursos jurídicos; um em São Paulo (Faculdade de Direito São Francisco) e outro em Olinda. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 19 Em 1.834, mesmo com o fortalecimento das assembleias provinciais para legislarem sobre a instrução pública, ou ainda as reformas Couto Ferraz (1.854) e Leôncio Correia (1.879), poucas mudanças ocorreram na estrutura educacional durante o Império. O problema é que não existiam estabelecimentos nos quais tal instrução era oferecida, até porque, os mesmos eram praticamente inexistentes. A lei de 1827 determinava a criação de escolas de primeiras letras em todas as cidades, vilas e lugarejos, o que não ocorreu. A situação se repetiu no artigo 179, XXXIII, em relação à criação de universidades. Apesar de todas as discussões a criação das universidades brasileiras só tornou-se fato no século XX. A Carta de 1824 assegurava: ‘’[...] inviolabilidade dos direitos civis e políticos dos cidadãos brasileiros [...]’’ e uma das maneiras dessa inviolabilidade se concretizar seria a instrução primária gratuita. A Educação era inscrita, assim, como direito civil e como dever moral de esclarecimento para os indivíduos que assim desejassem. Todavia, eram considerados cidadãos aptos a usufruir os direitos civis e políticos apenas as elites representadas pelo latifúndio e pelas oligarquias agrárias e escravistas. Dessa forma, foi assegurada a gratuidade sem a correspondente ideia de responsabilidade estatal ou social, até porque os filhos desses ‘’cidadãos’’ tinham sua instrução elementar ministrada em casa. A Constituição de 1.891: Não afirmava sequer a gratuidade, restringindo-se a estabelecer que o ensino ministrado nos estabelecimentos públicos fosse leigo. A exigência de alfabetização limitava a participação política, ao trazer implícita a distinção entre cidadãos ativos que possuíam direitos civis e políticos – e cidadãos passivos – que possuíam (em tese) somente os direitos civis. Ademais, a Constituição de 1891, ao mesmo tempo em que excluía os analfabetos do direito de votar, desobrigava o Estado de proporcionar instrução básica (obrigação esta prevista Carta Republicana). Facultou, em seus artigos, atribuições aos Estados brasileiros para que organizassem seus sistemas educacionais, dentro das normas constitucionais previstas, cabendo à União Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 20 poderes específicos para legislar sobre a organização municipal do Distrito Federal, bem como, sobre o ensino superior. Ao Congresso foi atribuído, mas não privativamente, a criação de instituições de ensino secundário nos Estados e a competência de prover sobre a instrução secundária no Distrito Federal. Em decorrência dessa atribuição concedida aos Estados, a partir de 1.920 tiveram início, em várias unidades da federação, movimentos de renovação educacional inspirados na escola nova europeia, sendo os mais significativos, a reforma Lourenço Filho no Ceará, em 1.923; reforma Anísio Teixeira, na Bahia, em 1.925; reforma Fernando de Azevedo, no Distrito Federal, em 1.927 e a reforma Francisco Campos, em Minas Gerais, em 1.928. Criação do Ministério da Educação e Saúde. A Revolução de 1.930 provoca um grande anseio de renovação que se refletiu no âmbito educacional, com a criação, ainda naquele ano, do Ministério da Educação e Saúde. Sob inspiração do então ministro Francisco Campos aconteceram duas reformas: a do ensino secundário e a do ensino superior, por meio de dois estatutos,ambos de 11 de abril de 1.931: o decreto-lei 18.951 - Estatuto das Universidades Brasileiras - e o Decreto 18.952, que reorganizou a Universidade do Rio de Janeiro. A Constituição de 1.934 acolheu no capítulo V "da família, da Educação e da cultura" - o inciso II, destinado a regular especificamente a Educação, considerada direito de todos, devendo ser ministrada pela família e pelos poderes públicos. A Constituição de 34 estabeleceu a competência da União para, entre outras atribuições, fixar o Plano Nacional de Educação, abrangendo todos os graus e ramos, comuns e especializados, com poderes de coordenar, fiscalizar, exercer ação supletiva onde fosse necessário e estimular a atividade educacional em todo o país. Assim, competia aos Estados e ao Distrito Federal organizar e manter os sistemas educativos em seus territórios, respeitando as diretrizes estabelecidas pela União. Ao Conselho Nacional de Educação - a ser organizado na forma da Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 21 lei ordinária, cabia elaborar o Plano Nacional de Educação, dependente do poder legislativo. Durante os três anos de vigência da Constituição, cuidou-se da elaboração do Plano Nacional da Educação, apresentado ao Congresso Nacional, sem, no entanto, ter sido por ele votado. Apenas em 1934 a gratuidade foi restituída ao texto constitucional e, pela primeira vez foi associada com a obrigatoriedade para o Ensino Primário, que correspondia aos quatros primeiros anos de escolarização. Entretanto, apesar da Constituição de 1934 proclamar que a Educação deveria ser ministrada pela família e pelos poderes públicos, não houve uma definição explicita da obrigatoriedade/responsabilidade do Estado em oferecê-la, sendo esta caracterizada muito mais como a obrigatoriedade de frequência, pois a didática do estabelecimento ou aos mecanismos de seleção para o ingresso, além de não haver prescrição de sanção, caso os poderes públicos não oferecessem ou oferecessem de forma irregular a etapa obrigatória de escolarização. O Estado como “colaborador” A Constituição de 1937, inspirada em princípios centralizadores, restringiu a autonomia dos Estados, dando ênfase ao Ensino pré-vocacional e ao profissional, considerando, em matéria de Educação, o primeiro dever do Estado, sobretudo, às classes menos favorecidas. O Ministério da Educação e Saúde expandiu-se, criando o Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP), por meio do qual firmava convênios para auxiliar os estados, no campo do Ensino Primário, integrado, em 1.942, ao Fundo Nacional do Ensino Primário. Em 9 de abril de 1942, na gestão do Ministro Gustavo Capanema, foi promulgada a Lei Orgânica do Ensino Secundário - conhecida como Reforma Capanema, que instituiu o primeiro ciclo secundário de quatro anos, ou Curso Ginasial, e um segundo ciclo, de três anos, apresentando duas opções: Curso Clássico ou Científico. Nos novos currículos previstos nesta Lei, predominavam Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 22 o enciclopedismo e a valorização da cultura geral e humanística. Por influência da Segunda Guerra, esta Lei instituiu também a Educação Militar, somente para alunos do sexo masculino. Se para os demais direitos sociais, principalmente os trabalhistas, não houve ruptura expressiva com o Estado Novo, para a Educação há uma inflexão considerável. A Constituição outorgada de 1937 definiu o Estado como “colaborador” do dever da família em educar os seus filhos. O Ensino Primário foi declarado obrigatório e gratuito, mas essa gratuidade previa a contribuição para o “Caixa Escolar” para os que não pudessem provar condições de pobreza. A Constituição de 1946 reflete o processo de redemocratização do país, após a queda da ditadura de Vargas. Em oposição a Constituição, outorgada, de 1937, os ‘’Pioneiros da Educação’’retomam a luta pelos valores já defendidos em 1934. A Constituição de 1946 deu competência à União para legislar sobre as diretrizes e bases da Educação Nacional, mantendo o capítulo da Educação e da Cultura, da Constituição de 1934. Os Estados voltam a ter maior autonomia para organizar seus sistemas educacionais, mantendo os dispositivos sobre o Ensino Primário obrigatório, oficial e gratuito. Em 1948, o ministro Clemente Mariani apresenta o anteprojeto da LDB, baseado em trabalhos de educadores orientados por Lourenço Filho. O percurso desse projeto foi tumultuado e se estendeu até 1961, data de sua promulgação. Com o fim do Estado Novo, a Educação voltou a figurar no texto constitucional de 1946 como direito de todos sendo ministrada “no lar e na escola”. O Ensino Primário foi declarado gratuito e obrigatório, nos moldes da Carta de 1934, a obrigatoriedade/responsabilidade foi explicitada para o indivíduo e para a família e não para o Estado. Reforçando esta tendência temos o Código Penal que estabeleceu que os pais ou responsáveis que não matriculassem os filhos ou pupilos na escola incorreriam em crime de abandono intelectual podendo sofrer penas que iriam desde o pagamento de uma multa à prisão A Lei 4.024, de 20 de dezembro de 1961, criada com base em dispositivo constitucional, que regula a competência da União, entendeu que a função de Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 23 legislar sobre diretrizes e bases da Educação Nacional deveria constar de um texto legal único. Assim, o poder executivo, em 1948, encaminhou ao Congresso um Projeto de Lei que originou muitos debates entre diferentes correntes educacionais, resultando na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de nº 4.024/61, a primeira a tratar especificamente da Educação Nacional, após 15 anos da promulgação da Constituição de 1946. No entanto, quando essa lei foi publicada, em 1961, ela já estava ultrapassada; embora fosse uma proposta avançada para a época da apresentação do anteprojeto. Envelheceu no confronto de interesses e debates. A Constituição de 1967, também conhecida como Emenda Constitucional nº. 1, de 17 de outubro de 1969, manteve a atribuição da União de legislar sobre diretrizes e bases da Educação Nacional. Assim, em 1971, o Congresso Nacional propõe alterações no Ensino de 1º e 2º graus e a LDB vigente, nº. 4.024/61. A Constituição de 1967, outorgada durante o Regime Militar, manteve a Educação como direito, mas esse direito tinha limites: ele era obrigatório para todos (os indivíduos, as famílias) e gratuito nos estabelecimentos públicos. Por mais paradoxal que pareça, foi apenas com a Emenda Constitucional de 1969 que a Educação foi explicitada como direito de todos e dever do Estado. Apesar dessa declaração formal, o Ensino obrigatório continuava restringindo pela idade (dos 7 aos 14 anos), desconsiderando etapa obrigatória de escolarização o 2º grau e excluindo, portanto, os jovens e adultos que não tiveram a oportunidade de frequentar a Escola no período determinado pela lei. A Lei 5.692/71, de 11 de agosto de 1971. As alterações propostas têm início em maio de 1971 quando, na Faculdade de Educação da Universidade de Brasília, numeroso grupo representante de diferentes estâncias educacionais de todo o Brasil, convidado pelo então Ministro Jarbas Passarinho do Ministério da Educação e Cultura, participa do "Curso de Especialização sobre o Ensino de 1º e ª 2º graus", com a finalidade de se elaborar um anteprojeto da lei de reforma do ensino, que após sua implantação ficou conhecida como "Reforma Passarinho". Segundo seus autores essa lei resolveria todos os problemas da Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 24 Educação brasileira, promovendo o que se chamou na época de ‘’Revolução pela Educação’’.Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 25 UNIDADE 5 Objetivo: Reconhecer, na Constituição, as principais determinações gerais sobre Educação. Aspectos relevantes na Constituição de 1988 para a Educação. A Constituição de 1988 A legislação brasileira, na área educacional, a rigor, apresentou um grande avanço com a promulgação da Constituição de 1988. O capítulo da Educação, nela inserido, deu os rumos a legislações posteriores, seja no âmbito dos estados, dos municípios e do Distrito Federal. A partir daí surgem novas leis para regulamentar os artigos constitucionais e estabelecer diretrizes para Educação no Brasil. A Constituição de 1988 dedicou toda uma seção ao direito à Educação, sendo integrada pelos Arts. 205 a 214. Cada um dos entes federativos deve comprometer, anualmente, um percentual mínimo da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do Ensino: a União, dezoito por cento e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, no mínimo, vinte e cinco por cento. O sistema atual atribuiu aos Municípios a atuação prioritária no Ensino Fundamental e Infantil e aos Estados e ao Distrito Federal, também de forma prioritária, a manutenção do Ensino Fundamental e Médio. Destacamos alguns pontos importantes da nova Constituição: Gratuidade do Ensino Público, em estabelecimentos oficiais; Ensino Fundamental obrigatório e gratuito; Extensão do Ensino obrigatório e gratuito, progressivamente, ao Ensino Médio; Atendimento em creches e pré-escola as crianças de zero a seis anos; Acesso ao Ensino, obrigatório e gratuito, como direito publico subjetivo, ou seja, o seu não oferecimento pelo poder público, importa responsabilidade da autoridade competente; Valorização dos profissionais do ensino, com planos de carreira para o magistério público; Autonomia universitária; Aplicação anual pela União de nunca menos de 18%, e os estados, Distrito Federal e os Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 26 municípios 25%, no mínimo da receita resultante de impostos; Distribuição dos recursos públicos assegurando prioridade ao atendimento das necessidades do Ensino obrigatório nos termos do Plano Nacional de Educação; Recursos públicos destinados às escolas públicas podem ser dirigidos a escolas comunitárias confessionais ou filantrópicas desde que comprovada finalidade não lucrativa; Plano Nacional de Educação visando à articulação e ao desenvolvimento do Ensino em seus diversos níveis e a integração das ações do poder público que conduzam a erradicação do analfabetismo; Universalização do atendimento escolar; Melhoria da qualidade de Ensino; Formação para o trabalho; Promoção humanística, científica e tecnológica do país. A Constituição Federal de 1988 tende, no quesito educacional, à descentralização política; aqui, se expressa na distribuição de poder de legislar entre os níveis de governo. Trata-se de uma descentralização referente às relações intergovernamentais. A lei complementar, ao fixar a cooperação entre as entidades federativas, caracteriza o grau de centralização do sistema de execução de serviço na área de competência sociocultural (acesso à cultura, à Educação e à ciência). Prevalece, decerto, a lei de coordenação e não a de subordinação política, técnica e financeira dos Estados, Municípios e Distrito Federal frente ao governo federal com tendência histórica à centralização. Uma política pública da Educação que tem, em perspectiva, uma política social de acesso à Educação, à cultura e à ciência passa, necessariamente, por um aparato financeiro e técnico-administrativo, o que pode levar as entidades subnacionais, se não amparadas por um dispositivo constitucional, a uma situação ou relação de subordinação e de dependência federal. Assim, observa-se, no artigo 23 da Constituição Federal de l988, uma descentralização financeira alternativa onde os Estados e os Municípios recuperam sua posição de agentes de governo e dos serviços educacionais. Outra compreensão que poderíamos fazer do artigo 23, inciso V, entre os doze serviços a serem executados, em comum, pelas entidades governamentais, é a de não exclusividade da União, portanto, a não exclusão das entidades federativas no cumprimento do preceito legal. Há uma corresponsabilidade, um Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 27 compartilhamento da União com as demais entidades federativas na execução das tarefas. Certamente, tal repartição de ação comum não se fará de forma linear, com sobrecarga para a entidade mais débil financeiramente, mas uma ação onde todos estão envolvidos e viabilizam, no social e no regional, o preceito constitucional. A política de acesso à cultura, à Educação e à ciência é uma política social, que envolve todo o complexo estrutural da Federação. A Educação, direito de todos e dever do Estado e da Família. Segundo o artigo 205 da Constituição Federal de 1988: “A Educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho". Para entender o alcance da Educação como direito de todos: A Educação é a prerrogativa que todas as pessoas possuem de exigir do Estado atenção na concessão dos serviços escolares. Como direito de todos, a Educação traduz muito da exigência social de se propiciar escolas e condições de acesso para todos em idade escolar e, mesmo para os jovens e adultos que, em época própria, não tiveram vagas disponíveis para o estudo. A Educação, como direito de todos, aparece pela primeira vez como norma legal na Constituição de 1934, em seu artigo 149, que assim se pronunciava: "A educação é direito de todos e deve ser ministrado pela família e pelos poderes públicos, cumprindo a estes proporcioná-la a brasileiros e a estrangeiros domiciliados no país, de modo que possibilite eficientes fatores da vida moral e econômica da Nação, e desenvolver no espírito brasileiro a consciência da solidariedade humana".* * Trecho transcrito na íntegra. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 28 Na Constituição de 1946, a Educação também é definida como direito de todos: “A educação é direito de todos e será dada no lar e na escola". Na Constituição de 1969, em seu artigo 176, assim se pronuncia sobre: “A educação, inspirada no princípio da unidade nacional e nos ideais de liberdade e solidariedade humana, é direito de todos e dever do Estado, e será dada no lar e na escola". O direito de todos à Educação é na verdade o direito social à Educação direito esse, que aos cidadãos o gozo da Educação como serviço público. A garantia da Educação como direito de todos é feita através do dever do Estado em ofertá-la. É incumbência do poder público o serviço educacional. Em seguida, a família é corresponsabilizada pela tarefa de educar seus filhos. O fato novo, na Constituição Federal de 1988, é que, anteriormente, à família é dada a incumbência de "ministrar" a educação (1946, Artigo 149) ou a educação é tarefa a ser "dada no lar". (1937; artigo 128; 1969; artigo 176). A partir de 1934, a Educação é vista como um processo de socialização e a aprendizagem encaminhada ao desenvolvimento intelectual e ética de uma pessoa. O fato novo, na Constituição Federal de 1988, é a colaboração da família, através da promoção e do incentivo, no processo educativo. O termo colaboração indica o reconhecimento por parte do Estado da enorme tarefa que cabe à sociedade, especialmente a civil organizada, na formação dos educandos. Nada impede, portanto, que a sociedade civil organizada,representada por associações comunitárias religiosas e organizações não governamentais, possa, em conjunto com o Estado, realizar o trabalho em comum de educar as pessoas. A partir de 1934, a Educação é vista como um processo de socialização e aprendizagem encaminhada ao desenvolvimento intelectual e ético de uma pessoa, essa a maior contribuição dos parlamentares na fase Republicana: a socialização do conhecimento formal. A Carta de 1824 ou mesmo a Constituição de 1891 parecem ter indicado a Educação apenas como instrução Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 29 por meio da ação docente e não como instrumento a favor da cidadania e da produção. O artigo 206 - da Constituição Federal (artigo 206, inciso I) e na LDB (artigo 3º, inciso I) como mero princípio do ensino, o Estatuto assegura à criança e ao adolescente a igualdade de condições para o acesso e a permanência na escola. Vale dizer que o Direito à Educação da criança e do adolescente impõe ao sistema educacional, considerado o seu todo ou em relação a qualquer uma de suas instituições de ensino em particular, a eliminação de todas as formas de discriminação para a matrícula e permanência na escola. O Artigo. 214 - A lei estabelecerá o plano de Educação, de duração plurianual, visando a articulação e o desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis e a integração das ações do Poder Público que conduza: I - Erradicação do analfabetismo; II - Universalização do atendimento escolar; III- melhoria da qualidade de ensino; IV - formação para o trabalho; V - promoção humanística, científica e tecnológica do país Além da Constituição Federal e das respectivas constituições estaduais e municipais (leis orgânicas dos Municípios), importa, ao estudo da exigibilidade do Direito à Educação, o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei Federal nº8. 069, de 13 de julho de 1990), a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB (Lei Federal nº9. 394, de 20 de dezembro de 1996), a Lei da Ação Civil Pública (Lei Federal nº7. 347, de 24 de julho de 1985), a Lei da Probidade Administrativa (Lei Federal nº 8.429, de 02 de junho de 1992) e as leis de responsabilidade (Lei Federal nº1. 079, de 10 de abril de 1950, e Decreto-Lei nº 201, de 27 de fevereiro de 1967), além das normas procedimentais do Código de Processo Civil, do Mandado de Segurança e da Ação Popular. Especificamente, está no Estatuto da Criança e do Adolescente o detalhamento do conteúdo material do direito à Educação escolar, já que a LDB concentra-se em tratar da oferta, especialmente pela regulação dos respectivos sistemas de ensino. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 30 Todo cidadão tem o dever e a obrigação de conhecer as legislações do seu país e todo profissional tem a obrigação de conhecer as legislações que regulamentam e tratam os temas referentes a sua profissão, portanto, tenha sempre em mãos a Constituição Federal e a LDB, para que você possa compreender melhor a Educação na Ordem Constitucional, a garantia dos seus direitos e os seus deveres constitucionais. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 31 UNIDADE 6 Objetivo: Entender a lei que regulariza, em âmbito nacional, a base comum do currículo, a carga horária, frequência, formas de promoção de série e os valores nos quais se assentam a Educação e a Escola, bem como os planos, programas, projetos que a elas se vinculam, a partir de uma perspectiva de produção do conhecimento Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LEI. 9396, DE 20/12/96 - Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). A LDB – Regulariza, em âmbito nacional, a base comum do currículo, a carga horária, frequência mínima em aula e as formas de promoção de série, cabendo aos estados, municípios, e até mesmo às escolas a normatização das peculiaridades regionais e locais, curriculares e de calendário, de promoção de série e a expedição da documentação escolar de cada aluno da Educação Básica. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, mencionada pela primeira vez na história da Educação do país, pela Constituição de 1934, tem por objetivo possibilitar aos sistemas de ensino a aplicação dos princípios educacionais constantes da Constituição Federal. A LDB é, portanto, uma lei que rege os sistemas de ensino e sempre que uma nova Constituição é promulgada e redefine as bases da Educação nacional, faz-se necessário à elaboração de uma nova LDB. Com a promulgação da Constituição de 1988, tornaram-se obsoletas as leis de diretrizes e bases anteriores (1961; 1968; 1971), pois as demandas de formação e escolaridade da população são diferentes. A partir desse fato, no mesmo ano, após amplo e longo processo de debate em torno das prioridades Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 32 educacionais a constarem em Lei, que acabou resultando na LDB 9396/96, promulgada pelo Presidente da República em dezembro de 1996. A LDB de 1996, ainda que tenha suscitado muita polêmica, pela primeira vez na história da Educação do Brasil, é uma lei de fundo democrático, revelando as contradições e interesses de diversas parcelas da sociedade civil. Baseada no princípio do direito universal, à Educação para todos; a LDB de 1996 trouxe muitos avanços, em relação à lei anterior, alguns dos quais estão elencados abaixo: como a inclusão da Educação Infantil (creches e pré-escolas) como primeira etapa da Educação Básica. Promove a descentralização e a autonomia das escolas e universidades, além de permitir a criação de um processo regular de avaliação do ensino brasileiro. A LDB promove a autonomia também, dos sistemas de ensino e a valorização do magistério. Aumento do número mínimo de dias letivos, implicando maior tempo de permanência na escola, fato que permite a melhoria do atendimento pedagógico de qualidade; Flexibilização da forma de organização do tempo, reclassificação dos alunos, definição do calendário, critérios de promoção e ordenação curricular. Inclusão da Educação Infantil, em creches e pré-escolas, como primeira etapa da Educação Básica, consequência do direito da criança pequena à Educação e não apenas direito da mulher trabalhadora. Valorização do Ensino profissional e técnico, enfatizando a necessidade de uma maior articulação entre estudos teóricos e práticos; Revalorização da formação do Magistério. Gestão democrática do ensino público e progressiva autonomia pedagógica e administrativa das unidades escolares (art. 3 e 15). Ensino Fundamental obrigatório e gratuito (art. 4) Carga horária mínima de oitocentas horas distribuídas em duzentos dias letivos, na Educação Básica (art. 24). Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 33 Prevê um núcleo comum para o currículo do Ensino Fundamental e Médio e uma parte diversificada em função das peculiaridades locais (art. 26). Formação de docentes para atuar na Educação Básica em curso de nível superior, sendo aceito para a Educação Infantil e as quatro primeiras séries do fundamental, formação em curso Normal do ensino médio (art. 62). Formação dos especialistas da Educação em curso superior de Pedagogia ou pós-graduação (art. 64). A União deve gastar, no mínimo, 18% e os estados e municípios, no mínimo, 25% de seus respectivos orçamentos na manutenção e desenvolvimento do ensino público (art. 69); Dinheiro público pode financiar escolas comunitárias, confessionais ou filantrópicas (art. 77). Prevê a criação do Plano Nacional de Educação (art. 87) O Plano Nacional de Educação estabelece metas decenaispara todos os níveis e etapas da Educação, apontando para que estados e municípios criem e estabeleçam planos semelhantes compatíveis com as metas nacionais. A SEB conta com o Programa de Avaliação e acompanhamento do PNE e dos Planos Decenais correspondentes que realiza a avaliação do PNE e estimula estados e municípios a criarem seus planos correspondentes e avaliarem-no a cada cinco anos, de acordo com a própria lei. Em 24 de abril de 2007, foi lançado o Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação, pela União Federal, em regime de colaboração com Municípios, Distrito Federal e Estados, e conta com a participação das famílias e da comunidade, mediante programas e ações de assistência técnica e financeira, visando a mobilização social pela melhoria da qualidade da Educação Básica. O Plano foi lançado por meio do decreto nº 6.094, publicado no Diário Oficial da União, em 25 de abril de 2007. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 34 UNIDADE 7 Objetivo: Compreender Educação como direito social e a necessidade da intervenção ativa do Estado no cumprimento desse direito, que concerne nos aspectos de garantir a oportunidade de acesso e a possibilidade de permanência. A Educação como Direito Social Acesso e a Possibilidade de Permanência A fundamentalidade recebida do texto constitucional e de inúmeras convenções internacionais se associa o fato de o direito à Educação estar diretamente relacionado aos princípios fundamentais da República Federativa do Brasil, em especial com o da dignidade da pessoa humana. Parece-nos claro que a efetividade do direito à Educação é um dos instrumentos necessários à construção de uma sociedade livre, justa e solidária; à garantia do desenvolvimento nacional; à erradicação da pobreza e da marginalização, com a redução das desigualdades sociais e regionais; e à promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. A Educação, assim, não obstante considerada um direito social, é imprescindível à salvaguarda de um direito que, sob um prisma lógico- evolutivo, o antecede na formação do Estado de Direito: a liberdade. A afirmação da Educação como direito social suscitou e necessidade da intervenção ativa do Estado no sentido programático, ou seja, não apenas na garantia das liberdades civis, mas também na organização (política), por meio da organização tributária, administrativa e jurídica para prover a população dos chamados serviços públicos, dentre eles, a Educação (COSTA, 1998). Num Estado democrático, a organização dessas políticas deve focalizar aqueles que Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 35 serão beneficiados e é por isso que e importante participação de todos no debate sobre a Educação como direito no Brasil. Entender como a Educação foi se configurando como direito e quais são os desafios a serem enfrentados na construção da história do direito a Educação no Brasil é uma chave importante para consolidação da cidadania dos milhões de brasileiros que, neste momento estão: nos transportes, nos hospitais, nas vias e nas escolas públicas a procura de dignidade e respeito. E todos nós temos um papel importante nisso, pois como afirmar Marilena Chauí: ``[...] se as democracias fizeram um caminho histórico, isto se deve justamente às lutas populares pelos direitos que, uma vez tendo sido declarados, precisam ser reconhecidos e respeitados. “A luta popular pelos direitos e pela criação de novos direitos tem sido a historia da democracia moderna” (CHAUÍ, 1989, P.33) Assim, esse documento, mais do que proposta e encaminhamentos formais e burocráticos é um convite para cuidarmos da nossa parte, no caminho histórico da afirmação da Educação como direito. Aspectos do Direito à Educação O direito á Educação consiste basicamente em dois aspectos: a oportunidade de acesso e a possibilidade de permanência. O direito á Educação traz uma potencialidade emancipadora e inclusiva, visto que a sua afirmação parte do pressuposto de que a escolarização é niveladora nas desigualdades do ponto de partida. (Com base nisso, a partir de 1917, a escolarização foi transformada em obrigação pela maioria dos países mediante inscrição em textos constitucionais SACRISTÁN, 2000). Não se pode confundir a existência de escolas públicas com o direito a Educação. O direito á Educação pressupõe o papel ativo e responsável do Poder Publico, tanto na formulação de políticas para a sua efetivação, quanto na obrigação de oferecer ensino com iguais possibilidades para todos. Desde que o Estado brasileiro foi constituído, com o processo de independência, a gratuidade da instrução foi declarada como direito do cidadão. Contudo, ao Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 36 mesmo tempo em que sempre houve um suposto reconhecimento da Educação escolar como fator importante para o desenvolvimento econômico e social, ou seja, como projeto civilizador, o direito ao acesso e a permanência na escola elementar foi negado, tanto pelas leis quanto pelas práticas escolares excludentes. O que deixava milhões de brasileiros sem a garantia dos seus direitos efetivos de cidadania. Só a partir da promulgação da Constituição Federal de 1988 é que o direito a Educação correspondeu à obrigatoriedade do Estado e só recentemente o Brasil atingiu índices de escolarização obrigatória alcançados por muitos países europeus desde o início da segunda metade do século XX. Assim, apesar de o direito a Educação se fazer presente em textos constitucionais, há tempos, à distância entre o proclamado e o realizado sempre foi muito grande. Na Constituição Federal de 1988, em seu artigo 206, que se refere à igualdade de condições para o acesso e a permanência na escola, a partir da leitura do inciso I, pode-se deduzir que a igualdade de condições se dá por duas vias: Igualdade de acesso à escola; Igualdade de permanência na escola. O inciso I, do artigo 206, volta-se para o princípio de igualdade com equidade sem o qual crianças que vivem fora das sedes municipais tenderão; se não houver intervenção do poder público, a se isolarem da escola por encontrar dificuldade de acesso e de permanência. Daí um programa de transporte escolar ser importante para garantir o acesso à escola e o programa de merenda escolar ser, por sua vez, de igual importância, para assegurar a permanência da criança na escola. A igualdade para acesso e permanência na escola é na verdade uma igualdade moral, isto se entendemos que a Educação é um direito de todos e dever do Estado. Torna-se incumbência moral do Estado reconhecer que as crianças, marginalizadas social e economicamente, são, juridicamente, portadores dos mesmos direitos que proveem do Poder Público e que definem sua dignidade como pessoa humana. A igualdade de acesso à escola é a principal garantia, dada pelo poder público, de ingresso ou de reingresso das crianças e Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 37 adolescentes no sistema escolar. O princípio de acessibilidade parece ser na nova ordem jurídica a grande tarefa do Poder Público. Mas o simples acesso, materializado através da matrícula escolar, é apenas ponto de chegada à escola, já que é o princípio de permanência que dá garantia da saída do educando. O acesso está para o ingresso assim como a permanência é a garantia do educando se tornar egresso. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 38 UNIDADE 8 Objetivo: Compreender historicamente a Educação como um bem indispensável para o exercício democrático garantido na Lei de Diretrizes eBases da Educação Brasileira. Direito Público Subjetivo a ser Efetivado pelo Estado. A Educação como um bem Indispensável para exercício democrático. Com a abertura política em meados da década de 1980 e a convocação de uma Assembleia Constituinte para realizar o desmonte jurídico e institucional do regime militar, a Educação foi entendida como um bem indispensável para o exercício democrático e o Ensino Fundamental foi proclamado como direito público subjetivo a ser efetivado pelo Estado. Nesse sentido, o direito à Educação passou a ser identificado com a obrigatoriedade/responsabilidade tanto da família, em enviar os seus filhos para a escola, quanto do Estado em oferecer vagas em número suficiente para atender a demanda por matrículas no Ensino Fundamental. A grande inovação consiste em que, doravante, o cidadão é considerado titular do direito à Educação e tem a possibilidade de acionar dispositivos jurídicos para que o Estado cumpra o seu dever de efetivá-lo, cabendo a responsabilidade da autoridade competente, caso a prerrogativa do direito não se concretize. Assim, após mais de um século de história constitucional, é que o país terá, no âmbito dos valores proclamados, o direito à Educação inscrita a partir de uma lógica mais universalista fazendo frente ao longo trajeto de iniquidades e privilégios na oferta da instrução elementar. De 1824 até 1988, as inscrições do direito à Educação nos textos constitucionais eram assinaladas por uma concepção de que o mínimo era o bastante. Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 39 Apesar desses avanços, há ainda grandes desafios para assegurar a Educação como direito do cidadão brasileiro, tais como: a garantia do acesso à etapa obrigatória de escolarização de todas as crianças (hoje a matrícula no Ensino Fundamental está em torno de 98%); a garantia de permanência na escola, fazendo frente a problemas ligados às gritantes desigualdades sociais, raciais, regionais e de renda do país; a definição de padrões mínimos de qualidade para o ensino ministrado nos estabelecimentos públicos, com os necessários insumos e aporte financeiro; o atendimento a jovens e adultos que não tiveram a oportunidade de frequentar a escola na etapa obrigatória de escolarização e a ampliação do direito à Educação para as crianças da Educação Infantil e para os jovens do Ensino Médio, constituindo efetivamente a Educação Básica a que todo cidadão brasileiro deve ter direito. Além desses desafios no campo das políticas públicas na área de Educação, existem também os relativos às práticas do cotidiano escolar. Com efeito, ao lado do tardio surgimento de uma concepção mais universalista do direito à Educação nos textos constitucionais, a dinâmica de expansão da escolarização obrigatória foi refreada, até a década de 1960, por mecanismos de seleção nas instituições escolares. Mantinha-se uma Escola “de” e “para” as elites que tinham objetivos convergentes com os da escola: buscava-se prestígios, inserção no mercado de trabalho e ascensão social. Desafios no Campo das Políticas Públicas na Área da Educação. O acesso à Educação é fator de diferença social, pois mediante rigorosos mecanismos de seleção e ensino propedêutico, voltado para o acesso a níveis superiores de Educação ou para os postos mais elevados no mercado de trabalho eram “eleitos” aqueles que seriam incluídos nos demais direitos de cidadania. O crescimento da população urbana e a industrialização do país, a partir da década de 1940, contribuíram para o aumento das pressões sociais por expansão das oportunidades de escolarização. Essas demandas por ampliação das oportunidades de escolarização, ainda que atendidas de forma precárias nos marcos do populismo, interferiram na ação estatal no sentido da efetivação do princípio da igualdade de oportunidade para o acesso nas décadas seguintes, contudo, foi entre as décadas de 1970 e 1990 que houve Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 40 um aumento expressivo no número de matrículas na etapa obrigatória de escolarização. Mas outras formas de exclusão assumiram a posição central no processo de escolarização nas décadas de 1970 e 1980: os próprios procedimentos internos da escola, sua estrutura e funcionamento, que conduziam à elitização do ensino, não mais por falta de vagas ou mecanismo de seleção, mas mediante a produção do fracasso escolar (repetência, evasão), como fator de diferenciação entre os merecedores e os não merecedores do acesso ao saber historicamente construído. Na década de 1990, assistiu-se a um processo de expansão das oportunidades de escolarização, no qual esses mecanismos internos de exclusão, por parte da escola, foram amenizados (democraticamente ou não) por políticas de regularização do fluxo (ciclos, progressão continuada, aceleração da aprendizagem). Porém, novamente, “estratégias” de exclusão foram criadas pela dinâmica interna da escola: os alunos percorrem todas as séries ou todos os ciclos do Ensino Fundamental sem se apropriar de um instrumental mínimo necessário para a inserção social. Esses mecanismos internos de exclusão, criados no interior das práticas educativas, precisam ser superados e, os principais sujeitos desse processo de superação são os educadores uma vez que a defesa da Educação, como direito, requer concepções de mundo e de sociedade pautadas pelos princípios da justiça igualitária dos estudantes brasileiros. Isso exige um compromisso ético e político, uma vez que assumir o trabalho pedagógico a partir das desigualdades para alcançar a igualdade democrática, requer responsabilidade pela função social e histórica da escola como lócus não único, mas privilegiado, de inclusão social. Dessa forma, é necessária uma reflexão profunda sobre práticas docentes pautadas, por exemplo, nos discursos que “aluno pobre não aprende, que os alunos não querem nada, que a família é a grande responsável pelo fracasso do aluno, que não adianta ensinar mais coisa porque os alunos não vão mesmo passar no vestibular, que Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 41 as coisas estão assim porque não pode reprovar e, já que não se reprova, não é preciso ensinar”. Já os movimentos sociais têm o papel fundamental de contribuir para que as concepções e as práticas da Educação como direito tenham impacto social. A defesa do direito à Educação passa pela divulgação e amplo debate sobre os mecanismos jurídicos que assegurem não só vagas, mas também a permanência com qualidade de ensino nas escolas públicas. Enfim, garantir a Educação como direito nos marcos dos avanços constitucionais de 1988 é uma tarefa conjunta dos Poderes Públicos, dos educadores e educadoras e da sociedade. A Educação ao longo da vida Copyright © 2007, ESAB – Escola Superior Aberta do Brasil 42 UNIDADE 9 Objetivo - Compreender historicamente as circunstâncias da criação da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Lei nº 4.024, de 20 dezembro de 1961. Educação Brasileira Breve Histórico Durante os três primeiros séculos iniciais da colonização brasileira, as principais iniciativas educacionais, embora atreladas ao objetivo de catequese, foram desenvolvidas pelos jesuítas, por intermédio da Companhia de Jesus. Expulsos os jesuítas, o Marquês de Pombal implantou em 1772 o ensino público oficial. Não atingiu os objetivos desejados. A chegada da família real portuguesa em 1808 favoreceu a educação e a cultura no Brasil Colonial. No mesmo ano, criou-se a Imprensa Régia. Em 1810, fundou-se uma biblioteca com cerca de 60 mil volumes, trazidos por dom João VI, aberta ao público em 1814, transformada posteriormente na Biblioteca
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