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P E SQ U ISA E P R Á T IC A E M E D U C A Ç Ã O M A T E M Á T IC A LA U R O IG O R M E T Z Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6301-7 9 788538 763017 IESDE BRASIL S/A 2017 Pesquisa e prática em educação matemática Lauro Igor Metz Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br Capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: v_alex/iStockphoto. CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ M555p Metz, Lauro Igor Pesquisa e prática em educação matemática / Lauro Igor Metz. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE Brasil, 2017. 130 p. : il. ; 21 cm. ISBN: 978-85-387-6301-7 1. Pesquisa - Metodologia. 2. Matemática - Estudo e ensino (Superior). I. Título. 17-42468 CDD: 510CDU: 51 © 2017 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais. Apresentação O presente livro busca explicar o que é a educação matemática e apresentar as mudanças significativas que aconteceram nos últimos anos nesta área de ensino. Tem também, como objetivo, proporcionar uma re- flexão sobre as estratégias metodológicas utilizadas pelos docentes que ensinam Matemática nas diferentes etapas de ensino. Os quatro primeiros capítulos abordam as origens dessa área de pesquisa, as principais mudanças ocorridas no Brasil em relação ao en- sino de Matemática e os aspectos relacionados à formação dos docentes. O quinto capítulo apresenta uma discussão acerca do livro como recurso didático de ensino e sua utilidade ao servir de apoio ao trabalho docente. Os três últimos capítulos tratam da importância das estratégias pedagó- gicas diferenciadas de ensino de Matemática, abordando reflexões sobre a utilização de materiais manipuláveis, jogos e inserções das tecnologias nas ações do docente. Esperamos que esta obra motive os docentes na busca de maiores estudos em educação matemática e os faça perceber a importância de fo- car no aluno para fazer a seleção dos conteúdos a serem explorados em sala de aula. Sobre o autor Lauro Igor Metz Mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Especialista em Educação Matemática pela Universidade Tuiuti do Paraná e em Novas Tecnologias Educacionais pela Faculdade Educacional da Lapa, possui Licenciatura em Matemática. Atua como professor do ensino superior em disciplinas vinculadas ao ensino de Matemática e à formação de professores. 6 Pesquisa e prática em educação matemática SumárioSumário 1 A evolução da educação matemática no Brasil 9 1.1 Compreendendo o que é educação matemática 10 1.2 As pesquisas em educação matemática 12 1.3 A origem da educação matemática no Brasil 14 2 A influência da educação matemática na prática docente 23 2.1 A formação do professor de Matemática 24 2.2 Novas concepções acerca do ensino da Matemática 27 2.3 Novo olhar para o ensino de Matemática 29 3 A relação entre pesquisa e ação docente 37 3.1 A importância da formação continuada para o professor que ensina Matemática 38 3.2 O amadurecimento profissional por meio da pesquisa 41 3.3 Reflexão sobre a ação docente 43 4 A influência da educação matemática no processo de aprendizagem no Ensino Fundamental e Médio 53 4.1 Os Parâmetros Curriculares Nacionais e o ensino da Matemática 54 4.2 Mudanças metodológicas no processo de ensino e aprendizagem de Matemática nos ensinos Fundamental e Médio 56 4.3 A criatividade e o ensino de Matemática 59 Pesquisa e prática em educação matemática 7 SumárioSumário 5 Os livros didáticos e a educação matemática 69 5.1 O livro como ferramenta de apoio no processo de ensino e aprendizagem da educação matemática 70 5.2 A necessidade de análise dos livros didáticos 72 5.3 O livro como alternativa metodológica no ensino de Matemática 75 6 A prática pedagógica, os jogos e os recursos tecnológicos 85 6.1 Os recursos tecnológicos e o ensino da Matemática 86 6.2 A utilização dos jogos digitais no ensino da Matemática 88 6.3 O Excel e o ensino de estatística 90 7 Resolução de problemas, materiais didáticos manipuláveis e suas influências no processo pedagógico 101 7.1 A potencialidade dos recursos didáticos manipuláveis no processo de ensino e aprendizagem de Matemática 102 7.2 O tangram para ensinar geometria 105 7.3 O geoplano para diferenciar áreas e perímetros de figuras planas 109 8 A confecção de materiais didáticos 117 8.1 As relações do jogo de memória e do jogo de tabuleiro com o ensino de Matemática 118 8.2 Confeccionando jogos com materiais recicláveis 120 8.3 Conhecendo e explorando o Winplot 121 Pesquisa e prática em educação matemática 9 1 A evolução da educação matemática no Brasil Neste capítulo, você, caro leitor, é levado a compreender o que é educação mate- mática e a conhecer sua história e evolução ao longo dos anos no Brasil. Ao analisar o desenvolvimento dessa área do conhecimento, você tem a oportunidade de identificar as mudanças significativas no processo de ensino e aprendizagem de Matemática e compreender suas principais consequências. Mais especificamente, tem a oportuni- dade de refletir sobre duas reformas fundamentais para o ensino brasileiro – a Reforma Francisco Campos e a Reforma Gustavo Capanema – e perceber como elas ajudaram a estruturar o ensino da Matemática atualmente presente nas escolas. Esse percurso evo- lutivo aponta para uma nova postura do professor, cujo trabalho se fundamenta não apenas na transmissão do saber, mas, especialmente, na reflexão contínua dos saberes matemáticos aplicados à vida cotidiana dos alunos. A evolução da educação matemática no Brasil1 Pesquisa e prática em educação matemática10 1.1 Compreendendo o que é educação matemática Para D’ Ambrósio (1999, p. 15), a educação é o resultado de estratégias que possibilitam aos indivíduos desenvolver seu potencial criativo, estimulando a ação comum na vida em sociedade e o exercício da cidadania. Esses propósitos se alinham a uma proposta pedagógi- ca que considera a realidade dos alunos, partindo de suas motivações e percepções materiais e intelectuais e indo além da tradicional apresentação pura e simples de conteúdos. Com essa mesma visão, a implantação das políticas educacionais brasileiras, principal- mente a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n. 9.394/96) e os Parâmetros Curriculares Nacionais de Matemática (BRASIL, 1997a), trouxe à tona a necessidade de se discutir a educação matemática. Trata-se de uma área em construção, que representa um novo olhar para o ensino-apren- dizagem da Matemática. Esse campo do conhecimento não se restringe a apenas estudar meios de como fazer os alunos alcançarem um saber previamente estabelecido, mas também problematiza e reflete sobre o próprio conhecimento matemático e suas concepções. Para D’Ambrósio (1993, p. 14), O futuro da Educação Matemática não depende de revisões de conteúdo, mas da dinamização da própria Matemática, procurando levar nossa prática à geração de conhecimento. Tampouco depende de uma metodologia “mágica”. Depende essencialmente de o professor assumir sua nova posição, reconhecer que ele é um companheiro de seus estudantes na busca de conhecimento, e que a Matemática é parte integrante desse conhecimento. Um conhecimento que dia-a-dia se reno- va e se enriquece pela experiência vivida por todos os indivíduos deste planeta. (D’AMBRÓSIO, 1993, p. 14) Desse modo, a educação matemática não substitui o campo da matemática. Antes, seu objetivo é fazer o professor assumir e adotar novas medidas para propagar o ensino, preo- cupando-se com os aspectos metodológicos e as apropriações de conhecimento. Garnica e Souza (2012) direcionam a educação matemática para uma prática social que resulta na compreensão dos conceitos matemáticos. Os autores encaram essa área de estudo sob duas abordagens:uma prática e outra teórica. A Educação Matemática é uma prática social e a comunidade que a produz, que nela atua, que sobre ela reflete, que a sistematiza, volta-se para compreender a Matemática em situações de ensino e aprendizagem. Pode-se, em princípio, assumir que existe uma abordagem mais prática da Educação Matemática, de- senvolvida por todos aqueles que, em um ambiente ou outro, em um momento ou outro, ensinam Matemática; e existe também uma abordagem mais teórica da Educação Matemática, desenvolvida por todos aqueles que fazem pesquisa nessa área em instituições acadêmicas. (GARNICA; SOUZA, 2012, p. 19) A evolução da educação matemática no Brasil Pesquisa e prática em educação matemática 1 11 Em se tratando de adequações educacionais para abarcar essas duas visões, é necessário refletir sobre o processo de formação dos professores que ensinam Matemática, já que existe uma necessidade de mudança de estrutura e concepção nessa área. Muitos futuros docentes não tiveram uma boa formação na escola e, portanto, não conhecem a fundo a matemática que virão a ensinar. De acordo com Matos e Serrazina (1996), a educação matemática não se destina a for- mar matemáticos, mas, sim, pessoas que tenham uma cultura matemática que lhes permita aplicá-la na sua vida diária. Por isso é importante que o professor que ensina a disciplina dê atenção aos alunos, para mantê-los sempre inseridos e ativos no processo de aprendiza- gem, como protagonistas, construtores de suas próprias histórias, e o passo a passo que eles derem em cada atividade para chegar a determinado resultado deve ser sempre valorizado. O professor que tem como concepção a educação matemática é um profissional refle- xivo, que utiliza os conteúdos matemáticos como um instrumento de acesso a diferentes conhecimentos. Ele precisa analisar o que vai ensinar e as diferentes maneiras de promover tal aprendizagem, de modo a valorizar o crescimento gradativo de seus alunos e motivá-los por meio de suas estratégias pedagógicas. Tendo isso em vista, o professor de Matemática deve estar comprometido com a constru- ção do conhecimento e sua utilização. No transcorrer de suas aulas, ele deve levar em conta as experiências já vivenciadas por seus alunos, conhecer suas realidades e potencialidades, e não se limitar à simples transmissão do saber matemático por meio de exercícios descontex- tualizados. Além de ter o domínio básico dos conteúdos matemáticos, o docente precisa agir com criatividade e refletir constantemente sobre suas práticas pedagógicas, tornando-as mais dinâmicas e participativas e estabelecendo, quando possível, a relação entre as disciplinas de conteúdos específicos e as de viés pedagógico. Quando pensamos em tornar as aulas participativas e dinâmicas, esperamos que o alu- no seja agente ativo de sua aprendizagem e que seu professor busque alternativas metodo- lógicas convincentes, diferenciadas e motivadoras. Imagine um professor tentando ensinar o conteúdo de desconto relacionado à Matemática financeira apenas com o treinamento de operações ou com problemas não contextualizados. Agora, compare-o a outro profissional, que explora o mesmo conteúdo propondo problemas relacionados ao cotidiano dos alunos, como, por exemplo, o cálculo do desconto obtido ao pagar o Imposto Predial de sua residência à vista, em vez de pagar parcelado, utilizando calculadoras, planilhas eletrônicas e outros artefatos tecnológicos para encontrar a solução ideal. Com certeza, a estratégia do segundo professor é mais agradável e proporciona aos alunos um melhor entendimento de como esse conteúdo é aplicado em sua vida. Mudanças de atitude como essa são o objetivo da educação matemática: um professor focado no aluno e no seu aprendizado, e não apenas na transmissão de conteúdos e na resolução de exercícios. A evolução da educação matemática no Brasil1 Pesquisa e prática em educação matemática12 É essencial provocarmos os alunos, apoiados nas diferentes ferramentas tecnológicas que os rodeiam, utilizando os conhecimentos matemáticos para que resolvam problemas de sua realidade ou, até mesmo, para questionarem a veracidade das informações. No âmbito da educação matemática, assim como em outras áreas, faz-se necessário ensinar os alunos a utilizar ferramentas tecnológicas que facilitem seu cotidiano. Por outro lado, também precisamos ter ciência de que usar um aparato tecnológico não é o mesmo que ser dele dependente. É essencial, por exemplo, que, ao comprar uma camisa no valor de cem reais com dez por cento de desconto, o jovem consiga mentalmente descobrir que tem de desembolsar noventa reais. O que se verifica, portanto, é que, apesar de haver ferramentas cotidianas que facilitam os cálculos de desconto, a reflexão sobre o conceito da porcentagem é fundamental para a autonomia do cidadão. Percebemos, assim, que, sem o trabalho constante das pessoas voltadas para o saber matemático, sem a descoberta de novas ferramentas para o desenvolvimento da matemática pura e aplicada, estaríamos vivendo um retrocesso generalizado. Do mesmo modo, sem o esforço dos educadores matemáticos, não haveria evolução dos processos de aprendizagem da matemática, o que resultaria em decadência educacional. Na sequência, refletiremos sobre o educar pela matemática, já que temos o objetivo de aprimorar nossas concepções de educação na área. 1.2 As pesquisas em educação matemática A educação matemática estuda o ensino e a aprendizagem da Matemática. Portanto, ela é resultante das múltiplas relações existentes entre conteúdos específicos e pedagógicos. Essa reflexão perpassa as noções de “ser matemático” e “ser educador matemático”, sendo que ambas as categorias são essenciais para a evolução do processo de aprendizagem da Matemática. O matemático, devido aos princípios concebidos no processo de sua formação superior, tende a priorizar uma educação voltada aos conteúdos formais da disciplina, e seu foco está direcionado ao desenvolvimento de pesquisas na área sobre o “como fazer matemática”. Já o educador matemático, indivíduo que cursou a licenciatura em Matemática, preocupa-se mais com a formação de seus discentes, concebendo os conteúdos matemáticos como fer- ramentas que colaboram para a formação intelectual e social de todos. É indiscutível o fato de que se faz necessário manter o compartilhamento de ideias entre essas categorias, afinal, apesar das diferenças de enfoque, ambas são primordiais no processo de evolução da huma- nidade, tanto no que se refere às adequações dos aspectos educacionais, como aos avanços tecnológicos enfrentados no dia a dia. A evolução da educação matemática no Brasil Pesquisa e prática em educação matemática 1 13 Figura 1 – O educador matemático deve se preocupar com a construção do conhecimento dos educandos. Fonte: JackF/iStockphoto. De acordo com o Parecer n. 1.302/2001, do Ministério da Educação, que aprova as Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Matemática – Bacharelado e Licenciatura, os cursos de Bacharelado em Matemática existem para preparar profissionais para a carreira de ensino superior e pesquisa, enquanto os cursos de Licenciatura em Matemática têm como objetivo principal a formação de professores para a educação básica. As aplicações da Matemática têm se expandido nas décadas mais recentes. A Matemática tem uma longa história de intercâmbio com a Física e as Engenharias e, mais recentemente, com as Ciências Econômicas, Biológicas, Humanas e Sociais. As habilidades e competências adquiridas ao longo da formação do matemático, tais como o raciocínio lógico, a postura crítica e a capacidade de resolver proble- mas, fazem do mesmo um profissional capaz de ocupar posições no mercado de trabalho também fora do ambiente acadêmico, em áreas em que o raciocínio abstrato é uma ferramenta indispensável. (BRASIL, 2002) Dessa forma, é preciso que tanto os programas de formação quanto os graduandos na área sejam flexíveis e abertos paraestudos que envolvam diferentes campos de interesse. A evolução da educação matemática no Brasil1 Pesquisa e prática em educação matemática14 Para Fiorentini e Lorenzato (2006, p. 11), existem dois tipos de pesquisa em educação matemática. O primeiro deles preocupa-se em buscar alternativas metodológicas para fazer com que o aluno aprenda determinado conteúdo, ou mesmo verificar como está acontecen- do o processo de aprendizagem. Trata-se de pesquisas que objetivam refletir sobre a prática do professor, respondendo a questões como, por exemplo: Como vem acontecendo o ensino de frações equivalentes? Como é utilizado o material dourado para ensinar as operações básicas? Quais as características e influências do geoplano no ensino de geometria? O outro tipo de pesquisa, segundo os mesmos autores, trata de investigações ou estudos precedentes ou da própria literatura da área, como: O que as pesquisas brasileiras afirmam sobre as dificuldades dos alunos em aprender frações? O que a legislação do Brasil afirma sobre a utilização de materiais concretos para aprimorar conhecimentos matemáticos? Comparar esses dois tipos de pesquisa nos leva a entender que a educação matemática está focada tanto no processo metodológico como na evolução dos conteúdos matemáticos. E, quando tratamos de processos metodológicos, referimo-nos ao modo de ensinar determinado conteúdo diante dos avanços tecnológicos e educacionais, ou seja, buscamos refletir sobre qual a concepção de ensino e aprendizagem existente nas escolas e nas práticas docentes. Como afirmam Fretzer e Brandalise (2010, p. 2), “aprender e ensinar matemática são pro- cessos indissociáveis e devem ser constitutivos dos saberes associados à prática do professor de Matemática”. Já quando tratamos de ensino voltado para a literatura, a preocupação está focada em fatos históricos, determinações legais e evoluções consistentes de pensamento. 1.3 A origem da educação matemática no Brasil Como verificamos, a educação matemática é tanto uma área de pesquisa teórica quanto de atuação prática, que busca um aperfeiçoamento no modo de aprender e ensinar conteú- dos matemáticos. Conforme Fiorentini e Lorenzato (2006, p. 16), o desenvolvimento da educação mate- mática brasileira passou por quatro fases: 1) gestação da educação matemática como campo profissional; 2) nascimento da educação matemática; 3) emergência de uma comunidade de educadores matemáticos; e 4) emergência de uma comunidade científica em educação matemática. A primeira delas, a gestação da educação matemática, refere-se ao período anterior à década de 1970, tendo o movimento da Escola Nova, nos anos de 1920, como o grande desencadeador das ideias relacionadas à educação matemática. A Escola Nova valorizou a psicologia no âmbito educacional, de modo que a escola renovada fosse centrada na crian- ça, apoiando-se na psicologia experimental. Como explica Vidal (2003, p. 498), “Devia a escola, assim, oferecer situações em que o aluno, a partir da visão (observação), mas tam- bém da ação (experimentação), pudesse elaborar seu próprio saber”. Nesse período gestacional, os poucos estudos voltados à investigação científica se preocupavam mais com os aspectos referentes aos conceitos e procedimentos da mate- mática do que com as concepções desta e seu ensino. A evolução da educação matemática no Brasil Pesquisa e prática em educação matemática 1 15 Assim, os primeiros trabalhos no campo da educação matemática focavam-se na escola primária, sendo a maioria de seus pesquisadores pedagogos e psicólo- gos educacionais (FIORENTINI, 1994). Destacam-se as ideias de dois professores do Colégio Pedro II, do Rio de Janeiro, o qual era considerado modelo para todo o país. Um deles foi Júlio Cesar de Mello e Souza (1895-1974), que “para contrapor o ensino de sua época recorreu à História da Matemática como recurso didático, explorou as atividades lúdicas e defendeu um ensino baseado na resolução de problemas não mecânicos” (FERNANDES; MENEZES, 2002, p. 4). O outro importante educador foi Euclides de Medeiros Guimarães Roxo (1890-1950), responsável pelos programas de Matemática da Reforma Francisco Campos, em 1931, a qual instituiu nacionalmente a disciplina escolar Matemática. Como explica Valente (2004, p. 2), A chamada Reforma Francisco Campos constituiu-se na primeira iniciativa de organização nacional da educação brasileira. Através de seu conjunto de decretos ficaram sistematizados diferentes graus e etapas de ensino, dentre eles, o Ensino Secundário. Nível intermediário entre o antigo primário e o ensino superior, tal grau, hoje, compreenderia a escolaridade de 6ª série do Ensino Fundamental até 3ª série do Ensino Médio. Com essa Reforma, o ensino secundário no país não estava mais focado apenas na preparação para os cursos superiores, mas no caráter formativo dos indivíduos que o frequentavam. Os ideais de Roxo em relação a essa etapa de ensino foram implantados no Brasil todo, seguindo o modelo do Colégio Pedro II, já que tal estabelecimento educacional, segundo Tavares (2002, p. 29), “desde sua inauguração, em 1838, foi instituído como padrão nacional”: O Colégio de Pedro II foi o único estabelecimento secundário supervisionado pelo Ministério do Império, encarregado de zelar pela instrução pública na Corte e nas províncias. As intenções oficiais acerca do ensino secundário, ao menos nas três ou quatro décadas após a sua inauguração, podem ser percebidas pelas medidas lá materializadas e executadas. (TAVARES, 2002, p. 37) A característica mais evidente da proposta de Roxo nessa Reforma foi a unificação das antigas disciplinas de Aritmética, Álgebra, Geometria e Trigonometria, que eram ensinadas por docentes distintos e faziam uso de livros diferentes, em uma nova disciplina geral cha- mada Matemática. Posteriormente, Euclides Roxo também participou ativamente do grupo de elaboração dos programas de Matemática na Reforma Gustavo Capanema. Também chamada de Lei Orgânica do Ensino Secundário, ela foi estabelecida em 1942, quando a estruturação do ensino sofreu novas alterações consideráveis. O ensino secundário foi organizado em dois ciclos: o ginasial, de quatro anos, e o colegial, de três. Este último era dividido nas modalidades “clássico” e “científico”. Também foi criado o ramo secundário técnico-profissional, subdi- vidido em industrial, comercial e agrícola, além do “normal”, para formar professores para a escola primária (GOMES, 2012). A evolução da educação matemática no Brasil1 Pesquisa e prática em educação matemática16 Francisco Luís da Silva Campos (1891-1968) foi um advogado, educador e político brasilei- ro. Assumindo a direção do Ministério da Educação e Saúde Pública no período de 1931 a 1932, promoveu uma histórica reforma do ensino secundário no Brasil. Gustavo Capanema Filho (1900-1985), também político e advogado, foi o Ministro da Educação que mais tempo ficou no cargo em toda a história do Brasil (de 1934 a 1945). Por sua iniciativa, a partir de 1942, foram promulgadas as leis orgânicas do ensino, que reforma- ram vários ramos do ensino secundário brasileiro. Assim, a trajetória das reformas curriculares no Brasil [...] evidencia dois importantes marcos, na primeira metade do século XX. A cha- mada reforma Francisco Campos, em 1931 e a reforma Gustavo Capanema, em 1942. Na primeira, segundo estudiosos da história da Educação Matemática no Brasil, Euclides Roxo teve papel importante, ao propor a unificação dos cam- pos matemáticos – Álgebra, Aritmética e Geometria – numa única disciplina, a Matemática, com a finalidade de abordá-los de forma articulada interrelaciona- da, uma vez que anteriormente cada um deles era estudado como disciplina in- dependente. Roxo defendeu ainda a ideia de que o ensino da geometria dedutiva deveria ser antecedido de uma abordagem prática da geometria. Se na Reforma Francisco Campos, a concepção de currículo foi ampliada para além da mera lis- tagem de conteúdos a serem ensinados,incluindo uma discussão de orientações didáticas, na reforma seguinte, de 1942, essas inovações não se mantiveram, o que revela que as decisões curriculares, no Brasil foram, historicamente, marca- das por procedimentos bastante questionáveis, influenciados por questões po- líticas ou influências de poder de alguns grupos ou mesmo de pessoas. (PIRES, 2008, p. 15) Em resumo, Roxo teve um papel fundamental nas reformas promovidas por Campos e Capanema, pois promoveu a consolidação, no Brasil, de duas ideias defendidas por Felix Klein e Ernst Breslich: o ensino simultâneo dos vários campos da Matemática em cada série de ensino, como parte da imposição do currículo por parte do governo autoritário da época. Matemático alemão, Felix Klein (1849-1925) defendia uma apresentação da Matemática nas escolas com bases mais psicológicas que sistemáticas. Propôs, em seu país, deslocar parte dos conteúdos do ensino superior para o ensino secundário, o que impulsionou o desen- volvimento das primeiras ideias acerca da unificação dos ramos da Matemática (Álgebra, Aritmética e Geometria) no ensino secundário do Brasil, influenciando consideravelmente os ideais de Euclides Roxo. Nascido na Alemanha, Breslich (1874-1966) tornou-se cidadão americano em 1896. Ao dis- cordar que a Matemática fosse considerada simplesmente uma ferramenta, mas sim um elemento essencial ao processo educacional, seus livros foram relevantes para a unificação dos ramos matemáticos nos estados norte-americanos. A evolução da educação matemática no Brasil Pesquisa e prática em educação matemática 1 17 A segunda fase, do surgimento da educação matemática no Brasil, compreende des- de o início da década de 1970 até os primeiros anos de 1980. Essa época foi marcada pela expansão do sistema universitário no Brasil, quando foram criadas várias licenciaturas em Ciências e Matemática e surgiram diversos programas de pós-graduação nessas áreas, aten- dendo, assim, às exigências de mão de obra mais qualificada para o mercado. A produção científica nesse período estava mais direcionada a atender exigências acadêmicas para titu- lação de especialistas do que a constituir uma prática consistente. Na terceira fase, que se iniciou a partir da década de 1980, surgiu uma comunidade de educadores matemáticos. Foi nessa época que ocorreu o segundo processo de redemocrati- zação do Brasil, ou seja, quando o Regime Militar chegou ao fim, depois de 21 anos de dita- dura (1964-1985). As pesquisas a partir de então priorizaram os aspectos pedagógicos mais amplos do fenômeno educacional, em detrimento daqueles mais específicos relacionados aos conteúdos matemáticos. A quarta fase, que teve início nos anos de 1990, trata da emergência de uma comunidade científica para a educação matemática. Nesse período, há um grande movimento nacional voltado para a constituição de grupos de pesquisa que consolidam as investigações na área. Surgem, com isso, vários encontros científicos com discussões relevantes acerca da evolução do ensino dessa disciplina e também periódicos nacionais que abordam as relações entre a cultura matemática e as formas de apropriação dos saberes matemáticos, sobretudo visando às práticas pedagógicas escolares e às de investigação acadêmica em educação matemática. Nessa quarta fase, a metodologia da pesquisa obteve maior consistência teórico-meto- dológica e foram considerados principalmente os aspectos pontuais da prática de ensino da Matemática, estabelecendo-se a diferença entre pesquisa e relato de experiência. Concluímos que a educação matemática se preocupa com uma formação qualificada do docente, que precisa estar apto a relacionar o conteúdo matemático ao contexto de seus alunos. Esse campo de pesquisa vem proporcionando, principalmente nas últimas déca- das, um novo olhar para o ensino de Matemática, voltado à reflexão sobre os conteúdos e interferindo positivamente na concepção dos professores da disciplina, de modo a valo- rizar mais os processos de resoluções e suas aplicabilidades do que apenas os resultados. As ideias do educador Euclides de Medeiros Guimarães Roxo foram determinantes para a modernização do ensino de Matemática no Brasil. Com uma proposta pedagógica de va- lorização dos interesses dos alunos e de seu desenvolvimento, Roxo contrapôs-se à visão meramente abstrata e lógica da disciplina. Conheça mais sobre a relevante trajetória desse educador lendo o artigo “Euclides Roxo e o movimento de reforma do ensino de Matemática na década de 30”, da Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos (2000). CARVALHO, João Bosco et al. Euclides Roxo e o movimento de reforma do ensino de Matemática na década de 30. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, v. 81, n. 199, p. 415-424, set./dez. 2000. Disponível em: <http://rbep.inep.gov.br/index.php/rbep/arti- cle/view/955>. Acesso em: 30 maio 2017. A evolução da educação matemática no Brasil1 Pesquisa e prática em educação matemática18 Ampliando seus conhecimentos A Matemática ainda hoje é considerada uma disciplina de conteúdos estritamente lógicos e fixos, sem abertura para a reflexão. Uma das formas de o professor mostrar aos alunos sua importância para além da resolução dos cálculos é saber da origem e do desenvolvimento da área e sua impor- tância para as diferentes sociedades. O texto apresentado a seguir faz um apanhado de parte dessa importante trajetória do ensino da Matemática. A educação matemática: uma área de conhecimento em consolidação. O papel da constituição de um grupo de trabalho dessa área na ANPED (MIGUEL et al., 2003, p. 2-3) [...] A educação matemática com disciplina Embora já se identifiquem na antiguidade preocupações com o ensino da matemática, particularmente na República VII, de Platão, é na Idade Média e Renascimento e nos primeiros tempos da Idade Moderna que essas preocupações são melhor focalizadas. De especial interesse para o Brasil é o enfoque dado por Luis Antonio Verney ao ensino da Matemática no Verdadeiro Método de Estudar. Mas é somente a partir das três grandes revoluções da modernidade, a Revolução Industrial (1767), a Revolução Americana (1776), e a Revolução Francesa (1789), que as preocupações com a educação matemática da juventude começam a tomar corpo. A identificação da Educação Matemática como uma área prioritária na educação ocorre na transição do século XIX para o século XX. Os passos que abrem essa nova área de pesquisa são devidos a John Dewey (1859- 1952), ao propor, em seu livro Psicologia do Número (1895), uma reação contra o formalismo e uma relação não tensa, mas cooperativa, entre aluno e professor e uma integração entre todas as disciplinas. Em uma reunião da British Association, em Glasgow (1901), o cientista John Perry diz ser imensamente importante que, ao adotar um método de ensino elementar, ele deve satisfazer um jovem, entre mil, que gosta A evolução da educação matemática no Brasil Pesquisa e prática em educação matemática 1 19 de raciocínio abstrato, mas que é igualmente importante que os demais não sejam prejudicados. E lamenta o conflito que começa a se notar entre matemáticos e educadores, ao dizer que é o matemático quem decide que assuntos devem ser ensinados nas escolas para os cientistas e os engenhei- ros, e que é ele mesmo, o matemático, que fornece os professores para esse ensino. A crise e os conflitos de opinião sobre as reformas na educação estimu- lam pesquisadores matemáticos de importância, alguns provavelmente preocupados com a educação dos filhos, a se interessarem pelo ensino da matemática. É o caso do casal de ingleses Grace C. Young (1868-1944) e William H. Young (1879-1932), que escrevem o Beginner’s Book of Geometry, em 1904. Propõem trabalhos manuais, o concreto auxiliando o ensino da geometria abstrata. Seus filhos tornaram-se grandes matemáticos. Mas o passo mais importante no estabelecimento da Educação Matemática como uma disciplina é devido à contribuição do eminente matemático alemãoFelix Klein (1849-1925), que publicou, em 1908, um livro seminal, Matemática Elementar de um Ponto de Vista Avançado. Klein defende uma apresentação nas escolas que se atém mais em bases psicológicas que sis- temáticas. Diz que o professor deve ser, por assim dizer, um diplomata, levando em conta o processo psíquico do aluno, para poder agarrar seu interesse. Afirma que o professor só terá sucesso se apresentar as coisas numa forma intuitivamente compreensível. A consolidação da Educação Matemática como uma subárea da matemá- tica e da educação, de natureza interdisciplinar, se dá com a fundação, durante o Congresso Internacional de Matemáticos, realizado em Roma, em 1908, da Comissão Internacional de Instrução Matemática, conhecida pelas siglas IMUK/ICMI, sob liderança de Felix Klein. [...] Atividades 1. A proposta da educação matemática é caminhar para uma metodologia diferen- ciada e dinâmica, voltada para o ensino dessa disciplina buscando: I. fazer análises mais próximas da realidade do aluno; II. apresentar de forma simples e pura os conteúdos e fórmulas; III. reafirmar a necessidade de uma abordagem que parte de motivações e percepções materiais e intelectuais dos discentes. A evolução da educação matemática no Brasil1 Pesquisa e prática em educação matemática20 Em relação às alternativas: a. I e II são verdadeiras. b. I e III são verdadeiras c. II e III são verdadeiras. d. Todas são verdadeiras. 2. Para compreender o conceito de educação matemática, é necessário conhecer sua origem e como ocorreu seu processo de evolução. De acordo com Fiorentini e Lorenzato (2006), identifique uma das fases do desenvolvimento da educação matemática brasileira: a. Gestação da educação matemática como campo profissional. b. Gestação da educação matemática como campo psicopedagógico. c. Gestação da educação matemática como campo de atuação psicológico. d. Gestação da educação matemática em forma de aprimoramentos algébricos. 3. Segundo Fiorentini (1989), a educação matemática é caracterizada como uma área do conhecimento das ciências sociais ou humanas que estuda o ensino e a aprendizagem da Matemática. Assim, tem-se que a educação matemática é a resultante das múltiplas relações existentes entre o específico e o pedagógico e envolve relações entre: a. ensino, aprendizagem e conhecimento matemático. b. ensino, aprendizagem e descobertas de teorias matemáticas. c. ensino, aprendizagem e desmembramento de demonstrações matemáticas. d. ensino, lógica e conhecimento matemático. 4. Sabe-se que a educação matemática é tanto uma área de pesquisa teórica quanto uma área de atuação prática que busca um aperfeiçoamento no modo de aprender e ensinar conteúdos matemáticos. Em relação às suas características e às perspectivas das pesquisas nessa área, identifique a alternativa verdadeira: a. A educação matemática prioriza os aspectos pedagógicos mais amplos do fenômeno educacional em detrimento daqueles mais específicos relacionados aos conteúdos matemáticos. b. A educação matemática prioriza os aspectos formais em relação aos aspectos relacio- nados à oportunidade de conhecimento. c. A educação matemática busca desenvolver pesquisas voltadas às teorias matemáticas e nada tem a ver com o processo de aprendizagem. d. A educação matemática foi a área de ensino que fundamentou o ensino tradicional de Matemática e é responsável por todo o conhecimento de tal disciplina nos dias de hoje. e. Tem-se a educação matemática como uma área ligada ao governo democrático do nosso país e que tem a responsabilidade de verificar se os professores estão seguindo as orientações pedagógicas sugeridas pela legislação. A evolução da educação matemática no Brasil Pesquisa e prática em educação matemática 1 21 Referências BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Parecer n. 1.302, de 6 de novembro de 2001. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 mar. 2002. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/ cne/arquivos/pdf/CES13022.pdf>. Acesso em: 5 fev. 2017. ______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Matemática. 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A proposta da educação matemática é caminhar para uma metodologia diferenciada e dinâmica do ensino de Matemática, a qual busque análises mais próximas da realidade do aluno e reafirme a necessidade de uma abor- dagem que parte de motivações e percepções materiais e intelectuais dos discentes. 2. a – Gestão da educação matemática como campo profissional. 3. a – Ensino, aprendizagem e conhecimento matemático. 4. a – A educação matemática prioriza os aspectos pedagógicos mais amplos do fenô- meno educacional em detrimento daqueles mais específicos relacionados aos con- teúdos matemáticos. Pesquisa e prática em educação matemática 23 2 A influência da educação matemática na prática docente Uma das grandes discussões do âmbito educacional brasileiro são as adaptações e os desafios decorrentes da reestruturação da escola e da formação docente. É preciso que as instituições de ensino tenham condições de proporcionar aos alunos a opor- tunidade de aprender significativamente os conteúdos curriculares, dando lugar ao desenvolvimento da inteligência dos aprendizes e à formação integral dos indivíduos envolvidos. Porém, sabemos que para isso acontecer não bastam apenas investimentos na infraestrutura das instituições escolares ou boa vontade dos dirigentes; também é preciso voltar os olhos para a formação dos profissionais que atuam na escola, de modo que recebam uma formação sólida e continuada e tenham condições de trabalho e preparação adequados para enfrentar os desafios do processo de ensino. Neste capítulo, vamos refletir a respeito da instrução e da concepção dos professo- res que ensinam Matemática, conhecendo como se dá a aprendizagem nos cursos de formação inicial e continuada dessa área, bem como suas dificuldades e expectativas. A influência da educação matemática na prática docente2 Pesquisa e prática em educação matemática24 2.1 A formação do professor de Matemática De acordo com o Censo Escolar da Educação Básica, realizado no ano de 2007, naquele ano existiam 1.882.961 professores de Educação Básica no Brasil, distribuídos nas cinco re- giões do país, conforme apresenta a tabela a seguir: Tabela 1 – Total de professores da Educação Básica no Brasil (2007). Região Número de docentes Percentual Norte 157.016 8,34% Nordeste 570.647 30,31% Sudeste 741.604 39,38% Sul 281.251 14,94% Centro-Oeste 132.443 7,03% Total 1.882.961 100,00% Fonte: BRASIL, 2009. No mesmo ano em que foi realizado esse censo escolar, a população brasileira foi re- censeada em 190 milhões de habitantes. Isso significa que quase 1% dos brasileiros exerciam o magistério em 2007, uma quantidade significativa diante do total de profissões. Apesar disso, a classe ainda é pouco valorizada e faltam investimentos para uma formação do- cente de qualidade. O caso é ainda mais grave quando se trata da formação do professor de Matemática, em que as limitações de bibliografias atualizadas e materiais didáticos, os laboratórios sucateados e sem os softwares específicos somam-se a uma área de estudo con- siderada difícil pela maioria dos envolvidos no processo de aprendizagem, muitas vezes caracterizada como algo abstrato e longe da realidade. Nossa pretensão é quebrar aqui tal paradigma, para que os conceitos matemáticos se- jam vistos como essenciais a todas as pessoas, sem distinção e independentemente da pro- fissão de cada uma. Realmente esperamos que a Matemática seja vista como útil na vida dos indivíduos e que cada um tenha a oportunidade de aprendê-la; porém, para que isso se torne realidade, é essencial uma formação contínua e adequada dos docentes da área. 2.1.1 Evolução na formação docente De acordo com as pesquisas de Ferreira (2003), não há dados suficientes para que possa- mos identificar como ocorria a formação dos professores que ensinavam Matemática antes da década de 1960. Durante várias décadas, na maioria dos países, a educação em geral e a formação de professores não eram consideradas relevantes pelas políticas públicas. Nos anos de 1970, já num contexto de pesquisas educacionais, a formação docente era composta de métodos que objetivavam treinar professores a desenvolver tarefas específicas, modelan- do o comportamento destes. A influência da educação matemática na prática docente Pesquisa e prática em educação matemática 2 25 Já na década de 1980, a formação continuada estava orientada para a atualização do conhecimento específico do professor, e pesquisadores de áreas diversas passaram a se in- teressar pelo campo de estudo da educação. A pesquisa sobre o pensamento do professor começou a ser desenvolvida, na tentativa de superar antigos modelos educacionais, trans- formando consideravelmente a visão da formação e do processo de ensino-aprendizagem. Contudo, mesmo percebendo-se a importância dessas novas concepções, os cursos de capacitação docente eram marcados por certa ineficiência. Fiorentini e Nacarato (2005) cor- roboram essa ideia quando afirmam que as iniciativas em relação à formação continuada de professores ocorridas entre 1970 e 1990 foram pouco eficazes, pontuais e temporárias, tendo datas específicas para começar e terminar. Esse fato promoveu práticas descontínuas em relação à formação inicial dos professores, não valorizando a experiência e os desafios do dia a dia escolar. No fim do século XX, os cursos de capacitação continuada de professores sofreram mudanças significativas e começaram a explorar o processo de ensino-aprendizagem. O do- cente passou a ser considerado um sujeito de estudo que participa ativa e colaborativamente desse processo, e é dessa perspectiva que precisamos olhar a formação dos professores no século XXI. Aspecto semelhante também pôde ser verificado na produção acadêmica voltada à ca- pacitação de professores. De 1970 a 1990, pesquisas focaram a melhoria da formação e estru- turação dos cursos e, somente após esse período, passaram a discutir questões polêmicas e a propor novos rumos para o ensino da Matemática. Como esclarece Ferreira (2003, p. 32-33), a formação continuada de professores de matemática sofre grandes transforma- ções ao longo das décadas de 1970, 1980 e 1990. Inicialmente se desenvolvendo por meio de projetos de treinamento, reciclagem, atualização ou mesmo adestra- mento, posteriormente para projetos de parceria entre formadores de professo- res (geralmente professores universitários) e professores. Nesse caminho, meto- dologia, métodos de coleta e, é claro, perspectiva de pesquisa são transformados [...] seja com professores de matemática das séries iniciais do ensino fundamen- tal, seja com professores de matemática de qualquer outro nível, o que esses es- tudos têm em comum é a preocupação de acompanhar e investigar o processo de formação vivenciado por grupos que trabalham de forma coletiva e colaborativa. Como consequência das alterações na formação dos docentes e na produção acadê- mica, surgem, após os anos de 1990, as Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Matemática – Bacharelado e Licenciatura (BRASIL, 2002) e os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino de Matemática (BRASIL, 1997a). As Diretrizes Curriculares destacam a importância da reflexão sobre a prática na fi- gura do novo profissional da educação. De acordo com o Parecer do Conselho Nacional de Educação n. 1.302/2001, “O educador matemático deve ser capaz de tomar decisões, refletir sobre sua prática e ser criativo na ação pedagógica, reconhecendo a realidade em que se insere. Mais do que isto, ele deve avançar para uma visão de que a ação prática é geradora de conhecimentos”(BRASIL, 2001, p. 6). Somente assim os docentes da área têm condições de desenvolver um trabalho com clareza e objetividade. A influência da educação matemática na prática docente2 Pesquisa e prática em educação matemática26 Por sua vez, os Parâmetros Curriculares Nacionais de Matemática, fortalecem essa nova proposta, destacando a importância do contexto social na atuação do docente. É pre- ciso fazer com que os professores e futuros professores vejam a escola como um ambiente educativo, “onde trabalhar e formar não sejam atividades distintas. A formação deve ser encarada como um processo permanente” (NÓVOA, 1997 p. 9). Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o ensino da Matemática (BRASIL, 1997a) ressaltam a importância de se levar em conta o conhecimento prévio dos alunos na construção de significa- dos, inclusive suas interações e seu contexto social. No entanto, é preciso que o professor esteja atento à interpretação equivocada da ideia de “cotidiano”, ou seja, quando se trabalha apenas com aquilo que se supõe fazer parte do dia a dia do estudante. Nessa visão, muitos conteúdos importantes são descartados, porque, sem fazer uma análise adequada, o professor considera que eles não são de interesse dos alunos ou, então, que não há uma aplicação prática imediata na aprendizagem destes. Essa postura acaba levando a um empobrecimento do processo de ensino-aprendizagem. Nesse contexto sobre o ensino da Matemática, os PCNs afirmam ser de fundamental importância ao professor: • identificar as principais características dessa ciência, de seus métodos, de suas ramificações e aplicações; • conhecer a história de vida dos alunos, sua vivência de aprendizagens funda- mentais, seus conhecimentos informais sobre um dado assunto, suas condi- ções sociológicas, psicológicas e culturais; • ter clareza de suas próprias concepções sobre a Matemática, uma vez que a prática em sala de aula, as escolhas pedagógicas, a definição de objetivos e conteúdos de ensino e as formas de avaliação estão intimamente ligadas a essas concepções. (BRASIL, 1997a, p. 29) Para conhecer o conteúdo dos Parâmetros Curriculares de Matemática na íntegra, acesse o texto no portal do Ministério da Educação (MEC). Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arqui- vos/pdf/livro03.pdf>. Acesso em: 30 maio 2017. As Diretrizes Curriculares para os Cursos de Licenciaturas e os Parâmetros Curriculares Nacionais alinham-se às propostas da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB n. 9.394/1996) quando se trata de associar teoria e prática na formação acadêmica, deses- truturando, assim, a antiga organização dos cursos de licenciatura, na qual três dos quatro anos da graduação destinavam-se à aprendizagem de uma matemática acadêmica e apenas um ano ao contato com a escola. Esse modelo, de acordo com Moreira e David (2007), per- durou por muitos anos em nosso país. Hoje os cursos de licenciatura se limitam a técnicas A influência da educação matemática na prática docente Pesquisa e prática em educação matemática 2 27 de ensino, mas buscam associar os conhecimentos específicos da matemática à realidade. Assim, a estruturação da formação inicial de professores busca, atualmente, relacionar no- ções de matemáticas escolares a conhecimentos de práticas pedagógicas eficientes (GARCÍA BLANCO, 2003). Em suma, tanto a formação como a capacitação continuada dos professores que ensi- nam Matemática devem fornecer orientações e subsídios para fortalecer a autonomia desse profissional, de modo que ele tenha condições suficientes de aprimorar sua prática peda- gógica. A formação adequada incentiva uma reflexão contínua sobre o trabalho docente, já que tal atividade deve propiciar a problematização e a contextualização dos conteúdos, seguindo assim as ideias expressas por Fiorentini e Castro (2003, p. 127), ao afirmarem que, sem reflexão, “o professor mecaniza sua prática, cai na rotina, passando a trabalhar de for- ma repetitiva, reproduzindo o que está pronto e o que é mais acessível, fácil ou simples”. 2.2 Novas concepções acerca do ensino da Matemática Para Thompson (1997), concepção é uma construção processual e temporal sobre as coi- sas, em que os elementos que a caracterizam se relacionam com um emaranhado de signi- ficados. As concepções dos professores acerca do ensino da Matemática são construídas ao longo de todo o processo de formação e influenciam a forma como eles desenvolvem sua prática profissional. Como afirma Santos (2009, p. 58), as concepções do professor estão rela- cionadas com as influências que recebem ao longo de suas vidas, “principalmente enquanto estudantes da educação básica e superior, e posteriormente, como profissionais docentes”. Daí a importância de se investir tanto na formação inicial como na continuada. Desse modo, a visão do professor de Matemática está ligada à sua história de vida, a seu contexto sociocultural e aos saberes que ele constrói ao longo de sua carreira profissional. Portanto, as mudanças em sua formação alteram significativamente suas concepções de en- sino, visto que o docente não é mais apenas treinado a transmitir conhecimentos, mas a fazer parte, como agente ativo e participante, do processo de ensino-aprendizagem. Nessa nova visão, o que os professores aprendem não é estático, delineando, assim, um novo desafio para sua atuação profissional. Lembrando que, quando falamos no professor que ensina Matemática, não nos referi- mos apenas a pessoas graduadas em Licenciatura em Matemática; envolvemos nesse pro- cesso os milhares de professores das primeiras etapas do Ensino Fundamental, grande parte graduados em Pedagogia ou mesmo com formação em Magistério de nível médio, além de outros profissionais, como engenheiros, físicos, químicos, que, devido a circunstâncias pro- fissionais diferenciadas, atuam na docência ensinando conceitos matemáticos nas escolas regulares da Educação Básica do Brasil. A influência da educação matemática na prática docente2 Pesquisa e prática em educação matemática28 As Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Matemática, aprovadas pelo Parecer n. 1.302/2001, do Ministério da Educação (BRASIL, 2001), consideram que, em relação às competên- cias e habilidades do educador matemático, ele deve ter as capacidades de: • elaborar propostas de ensino-aprendizagem de Matemática para a educação básica; • analisar, selecionar e produzir materiais didáticos; • analisar criticamente propostas curriculares de Matemática para a educação básica; • desenvolver estratégias de ensino que favoreçam a criatividade, a autonomia e a flexibilidade do pensamento matemático dos educandos, buscando traba- lhar com mais ênfase nos conceitos do que nas técnicas, fórmulas e algoritmos; • perceber a prática docente de Matemática como um processo dinâmico, carre- gado de incertezas e conflitos, um espaço de criação e reflexão, em que novos conhecimentos são gerados e modificados continuamente; • contribuir para a realização de projetos coletivos dentro da escola básica. (BRASIL, 2001, p. 4) Para ler o texto do Parecer 1.302/2001 na íntegra, acesse o portal do Ministério da Educação (MEC). Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES13022.pdf>. Acesso em: 30 maio 2017. Segundo Martins (2012), as três categorias mais presentes nas discussões sobre a for- mação dos profissionais de Matemática são: revisão da Licenciatura de Matemática para a Educação Básica; relevância dos conteúdos específicos de Matemática; e profissionais de Matemática. A seguir vamos entender o que representa cada uma dessas concepções. A revisão da Licenciatura de Matemática para a Educação Básica busca aprimorar e refletir sobre os conceitos e as relações existentes entre conteúdo e prática, inspirando dis- cussões a respeito do currículo e da formação dos professores. A teoria da relevância dos conteúdos específicos de Matemática diferencia matemáti- ca escolar da matemática acadêmica, afirmando que na primeiranão é o conteúdo a mola mestra dos processos de ensino e de aprendizagem, muito menos o conteúdo específico na formação dos professores. Na matemática escolar, o que interessa são os saberes produzidos na ação pedagógica, aqueles que se referem ao ensino-aprendizagem dos conceitos matemá- ticos. O formador, na perspectiva da matemática escolar, deve construir estratégias que rela- cionem a formação do professor com seu campo de atuação. Na perspectiva da matemática acadêmica, a formação do licenciado é similar à formação do bacharel. O que importa é do- tar o profissional de conteúdos, independentemente dos aspectos pedagógicos necessários para sua aprendizagem e para o ensino de Matemática na Educação Básica. Por sua vez, a concepção acerca dos profissionais diferencia o professor de Matemática do profissional matemático, explicitando competências distintas. Segundo Pais (2005), ao matemático incide a produção científica do conhecimento da Matemática, com o objetivo de A influência da educação matemática na prática docente Pesquisa e prática em educação matemática 2 29 propiciar maiores níveis de escolarização e, ao professor de Matemática, a função de partir do caso geral, elaborado pelo matemático, e contextualizá-lo de modo que esse saber mante- nha sua relevância e seja apresentado de maneira mais compreensível aos alunos. Dessas concepções, depreendemos a certeza da necessidade de o professor que ensi- na Matemática ser um agente transformador capaz de ensinar os conteúdos e mostrar sua aplicabilidade. Thompson (1997) apresenta quatro orientações significativas que devem ser observadas no estudo das concepções dos professores que ensinam Matemática: os conteúdos precisam enfatizar a compreensão conceitual; deve haver preocupação com a execução do processo de aprendizagem; as estratégias pedagógicas devem estar centradas nos alunos; e é preciso tomar o cuidado necessário na organização do ambiente de aprendizagem. Já de acordo com García Blanco (2003), existem duas dimensões que são os pilares da formação dos docentes na educação matemática: o conhecimento do professor e a aprendi- zagem do professor. A primeira dimensão justifica a importância do saber matemático do docente, que precisa conhecer as estruturas da disciplina, compreender conceitos elementa- res e ter domínio dos conteúdos para, assim, ter condições suficientes de exercer o seu papel e passar segurança ao aluno. A segunda concepção, que trata do processo de aprendizagem, frisa que o educador matemático precisa estar aberto a discussões e reflexões, ser criativo e adaptar-se com facilidade às mudanças que possam ocorrer em sua atividade profissional devido a circunstâncias diversas, como a inserção de novas tecnologias. O conhecimento do professor de Matemática, portanto, abarca três características fun- damentais: aprender a ensinar; trabalho profissional; e perspectiva cognitiva. Na perspec- tiva do aprender a ensinar, o foco centraliza-se no conhecimento específico da disciplina – para ensinar Matemática o professor precisa conhecer a disciplina. Na perspectiva do tra- balho profissional, a caracterização do conhecimento do professor está vinculada ao uso que ele faz desse conhecimento nas situações de ensino, isto é, ele precisa saber como ensinar. A perspectiva cognitiva baseia-se na necessidade de metodologias diferenciadas para provo- car a construção do conhecimento. Constatamos, portanto, que o processo de aprendizagem é contínuo e requer constantes adaptações em prol de melhorias e aperfeiçoamentos. O conhecimento do professor deve advir de sua formação (inicial e continuada) e de suas experiências em sala de aula, com condições adequadas de trabalho. 2.3 Novo olhar para o ensino de Matemática De acordo com as novas expectativas para a educação matemática, é preciso encon- trar formas de ensinar e motivar os alunos para a aquisição dos saberes da disciplina de Matemática. O professor deve buscar alternativas pedagógicas que favoreçam a contextua- lização e levem o aluno a perceber a importância de determinado conteúdo matemático para sua vida. Como explicitam os Parâmetros Curriculares Nacionais para o ensino de Matemática, o conhecimento matemático formalizado precisa A influência da educação matemática na prática docente2 Pesquisa e prática em educação matemática30 ser transformado para se tornar passível de ser ensinado/aprendido; ou seja, a obra e o pensamento do matemático teórico não são passíveis de comunicação direta aos alunos. Essa consideração implica rever a ideia, que persiste na escola, de ver nos objetos de ensino cópias fiéis dos objetos da ciência. Esse processo de transformação do saber científico em saber escolar não passa apenas por mu- danças de natureza epistemológica, mas é influenciado por condições de ordem social e cultural que resultam na elaboração de saberes intermediários, como aproximações provisórias, necessárias e intelectualmente formadoras. É o que se pode chamar de contextualização do saber. (BRASIL, 1997a, p. 30) Uma forma viável de superação da deficiência na aprendizagem da matemática escolar é trabalhar com situações que envolvam a realidade do meio social do aluno, usando os conteúdos como instrumento para compreendê-la. Por exemplo, pode-se propor ao aluno a elaboração de uma planilha de controle de gastos fixos mensais de sua família e a posterior análise precisa dos dados ali inseridos, apresentando como resultado não apenas uma resposta, mas um relatório de suas conclusões. Com isso, ele vai perceber que conceitos de operações básicas como porcentagens e gráficos são essenciais para o controle financeiro familiar. Outro exemplo seria solicitar aos alunos que desenhem a planta térrea de suas casas em determinada escala para, em seguida, verificar quantos metros de cerâmica são necessários para cobrir todos os pisos da casa e qual o custo disso. Ou, ainda, é possível pedir a eles que, após obterem a metragem linear de todas as paredes da casa, verifiquem quantos galões de tinta serão necessários para pintar a casa toda, por dentro e por fora. Figura 1 – Elaborar uma planta baixa de casa é uma forma de aplicar o conteúdo matemático na realidade do aluno. Fonte: Sussenn/iStockphoto. A influência da educação matemática na prática docente Pesquisa e prática em educação matemática 2 31 É importante que o professor mostre a aplicabilidade da Matemática, tendo ciência de que o concreto não é a matemática em si, mas as situações em que os indivíduos podem atuar utilizando-a como instrumento de mediação (MAIA, 2000). Para isso, faz-se necessário vencer a distância, ainda hoje verificada nas salas de aula, entre essa disciplina e a realidade dos alunos, distância essa que interfere consideravelmente no processo de ensino-aprendi- zagem. A Matemática, em muitos casos, perdeu seu significado na escola, e a comunidade a percebe como uma barreira à trajetória escolar dos discentes, fazendo com que eles tenham preconceitos em relação aos conteúdos, e interferir nesse posicionamento ainda é extrema- mente difícil ao professor. Essa postura é alimentada quando o docente se preocupa apenas em transmitir conhecimentos e resolver listas de exercícios, deixando de lado a contextuali- zação e a aplicabilidade do que está ensinando (OGLIARI, 2008). Como nos afirma Ponte (1994, p. 2), o insucesso na disciplina de Matemática resulta basicamente do fato de ela ser de difícil compreensão, e os professores não a explicam muito bem nem fazem questão de a tornar mais interessante. Os discentes, assim, “não percebem para que serve nem por que são obrigados a estudá-la. Alguns alunos interiorizam mesmo desde cedo uma autoimagem de incapacidade em relação à disciplina. Dum modo geral, culpam-se a si próprios, aos professores, ou às características específicas da Matemática”. Para vencer essa realidade, portanto, o professor precisa agir com autonomia, entusias- mo e coragem, a fim de conseguir direcionar os alunosa uma aprendizagem significativa e de qualidade. Ampliando seus conhecimentos Em muitos cursos de formação de professores de Matemática, ainda se verifica uma dificuldade em abordar a teoria aplicada à pratica em sala de aula. Nas licenciaturas em Matemática, é preciso envolver os licenciandos em um trabalho investigativo-reflexivo sobre seu próprio trabalho, pro- movendo seu desenvolvimento profissional desde o início do curso. Essa visão é corroborada no excerto do artigo de Zélia Pavão (2006), para quem a prática ocupa posição de destaque nessa formação, gerando novas ações docentes para os futuros professores da disciplina de Matemática. Formação do professor-educador matemático em cursos de licenciatura (PAVÃO, 2006, p. 162-164) [...] Repensar a formação de professores, na busca da superação de um modelo técnico, conduzindo à implantação de uma proposta de formação A influência da educação matemática na prática docente2 Pesquisa e prática em educação matemática32 do professor segundo um modelo reflexivo, é uma das questões centrais na problemática formação de professores (PÉREZ GÓMEZ, 1995)1. [...] A relação permanente teoria-prática na formação dos professo- res implica numa articulação das disciplinas que compõem o curso de Licenciatura, o que supõe articular três componentes básicos no rol das disciplinas de formação do professor nos cursos de Licenciatura em Matemática: conhecimentos em conteúdos específicos, conhecimentos de formação pedagógica e conhecimentos em Educação Matemática, como sugerem Bertoni (1995)2 e Wagner, Nasser e Tinoco (1997)3. A formação inicial do professor em Educação Matemática, até então relegada aos cursos de pós-graduação, passa a desempenhar uma dimensão-chave na articulação entre conhecimentos específicos e formação pedagógica. No entanto, a maioria dos cursos de Licenciatura ainda não inclui discipli- nas de formação em Educação Matemática. Algumas propostas já estão sendo desenvolvidas e difundidas por pesquisadores (FAINGUELERNT, PEREZ; MOURA, 19954; WAGNER, NASSER; TINOCO, 1997), porém grande parte das Licenciaturas permanece estruturada apenas em dois blocos de conhecimentos: específicos e pedagógicos. [...] Pesquisas desenvolvidas questionam se as ideias transmitidas nas Licenciaturas por meio de exposições e leituras são assimiladas pelos licenciandos, afirmando que estes não mudam sua prática só pela expo- sição a métodos e a teorias de Educação Matemática (BERTONI, 1995). Essas pesquisas levam à constatação de que é preciso envolver os licen- ciandos em atividades que os façam questionar a própria ação docente desde o início da formação, ao contrário do que acontece atualmente na Licenciatura, onde a formação para a docência é deixada para o final do curso, sendo que a experiência docente, propriamente dita, é vivenciada na fase terminal da graduação. Comenta Beatriz D’Ambrósio (1993) que “futuros professores constroem seu conhecimento sobre o ensino da Matemática através de suas experiências com o ensino” (p. 39)5. Assim, 1 PÉREZ GOMÉZ, Angel. O pensamento prático do professor: a formação do professor como profissional reflexivo. In: NÓVOA, Antonio (org.). Os professores e sua formação. Lisboa: Dom Quixote, 1995. 2 BERTONI, Nilza. Formação do professor: concepção, tendências verificadas e pontos de refle- xão. Temas e Debates, Blumenau, v. 8, n.7, p. 8-14, 1995. 3 WAGNER, V. P. S., NASSER, L., TINOCO, L. Formação inicial do professor de Matemática. Zetetiké, Campinas, v. 5, n. 7, p.37-51, jan./jun. 1997 4 FAINGUELERNT, E. , PEREZ, G., MOURA, M. Formação e atualização do professor de Mate- mática. In: ENEM, 5., Aracaju,1995. Anais... Aracaju: SbemUFSE, 1995. 5 D’AMBRÓSIO, Beatriz. Formação de professores de matemática para o século XXI: o grande desafio. Pro-posições, v. 4, n. 1, p. 35-41, mar. 1993. A influência da educação matemática na prática docente Pesquisa e prática em educação matemática 2 33 denota-se a importância de uma iniciação à investigação na formação de base dos professores, por considerar-se que a investigação induz a uma relação com os saberes (PERRENOUD, 1993)6. Como elo entre teoria e prática na formação e desenvolvimento profissio- nal do professor de Matemática tem-se a pesquisa como atitude cotidiana, buscando na prática o repensar da teoria e na teoria o repensar da prática (D’AMBRÓSIO, 1993). A prática, ocupando uma posição de destaque na formação dos professores e entendida como um processo de investiga- ção e diálogo com a realidade, deve promover um movimento de ação e reflexão contínua sobre a ação docente, ou seja, a reflexão sobre a ação vai gerar uma nova ação, que vai gerar uma nova reflexão e assim por diante, sucessivamente. [...] 6 PERRENOUD, Philippe. Práticas pedagógicas, profissão docente e formação: perspectivas socioló- gicas. Tradução de Helena Faria et al. Lisboa: Dom Quixote, 1993. Atividades 1. Entre as décadas de 1960 e 1990, a formação de professores, de acordo com Ferreira (2003), passou por uma série de transformações. Sabe-se que até finais de 1970, as pesquisas focadas na formação dos professores eram compostas de estudos experi- mentais e quantitativos que buscavam métodos diferenciados para: a. preservar a integridade do professor como detentor do saber. b. treinar professores a desenvolver tarefas específicas. c. valorizar o aluno como agente integrador do conhecimento. d. conseguir solucionar o problema da escassez desses profissionais. e. buscar alternativas de valorização financeira dessa profissão. 2. Fiorentini e Castro (2003) afirmam que é essencial para uma boa atuação profissional do docente fazer reflexões acerca do saber e de suas práticas pedagógicas. De acordo com tais autores, a reflexão ajuda o profissional da educação a: a. mobilizar os saberes existentes, problematizá-los, ressignificá-los e contextualizá-los. b. promover a mecanização da sua prática pedagógica. c. trabalhar os conteúdos de forma repetitiva e sem sentido. d. manter-se intransigente ao diálogo. e. não contextualizar os conteúdos matemáticos, pois isso afetaria negativamente o pro- cesso de aprendizagem. A influência da educação matemática na prática docente2 Pesquisa e prática em educação matemática34 3. De acordo com García Blanco (1997), o conhecimento do professor de Matemática apresenta três características fundamentais: aprender a ensinar, trabalho profissional e perspectiva cognitiva. Considerando essas perspectivas, relacione as duas colunas e, depois, marque a alternativa que apresenta a sequência correta. 1) Perspectiva do aprender a ensinar. 2) Perspectiva do trabalho profissional. 3) Perspectiva cognitiva. )( As metodologias alternativas e o processo de comparação e integração são essenciais para a compreensão. )( O foco é o conhecimento específico da disciplina, para ensinar Matemática o professor precisa conhecer a matemática. )( A caracterização do conhecimento do professor está vinculada ao uso que faz do conhecimento nas situações de ensino, ou seja, nessa concepção o professor precisa saber como ensinar. a. 1, 2, 3. b. 1, 3, 2. c. 3, 2, 1. d. 3, 1, 2. e. 2, 3, 1. 4. Para os pesquisadores Moreira e David (2007), a prática do professor de Matemática do Ensino Básico desenvolve-se num contexto educativo, o que o coloca numa vi- são completamente diferente, pois precisa buscar formas alternativas para os alunos alcançarem os estágios desejados. Identifique, entre as alternativas a seguir, a que fundamenta o pensamento desses autores. a. A reflexão sobre a origens dos erros dos alunos se tornam valores fundamentais asso- ciados ao saber matemático. b. A reflexão não favorece a prática do professor. c. A avaliação é importante para a prática do professor, porém a reflexão não tem im- portância. d. Não é viável para a reflexão associar erros ao saber matemático na prática do professor. e. Os erros fazem parte do processo e nada tem a ver com a construção do saber ma- temático.Referências BRASIL. Ministério da Educação. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 dez. 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm>. Acesso em: 15 jan. 2017. A influência da educação matemática na prática docente Pesquisa e prática em educação matemática 2 35 ______. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Parecer n. 1.302, de 6 de novembro de 2001. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 mar. 2002. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/ cne/arquivos/pdf/CES13022.pdf>. Acesso em: 5 fev. 2017. ______. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Estudo exploratório sobre o professor brasileiro com base nos resultados do Censo Escolar da Educação Básica 2007. Brasília: Inep, 2009. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/dmdocu- ments/estudoprofessor.pdf>. Acesso em: 10 dez. 2016. ______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Matemática. Brasília: MEC/SEF, 1997a. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/ar- quivos/pdf/livro03.pdf>. Acesso em: 10 jan. 2017. FERREIRA, Ana Cristina. Um olhar retrospectivo sobre a pesquisa brasileira em formação de profes- sores de Matemática. In: FIORENTINI, Dario (Org.). 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Na perspectiva do trabalho profissional, a caracterização do conhecimento do professor está vinculado ao uso que faz do conhecimento nas situações de ensino, ou seja, nessa concepção o professor precisa saber como saber ensinar. E na perspectiva cognitiva as metodologias alternativas e o processo de comparação e integração são essenciais para a compreensão. 4. a – A reflexão sobre a origens dos erros dos alunos se tornam valores fundamentais associados ao saber matemático. Pesquisa e prática em educação matemática 37 3 A relação entre pesquisa e ação docente As vivências nos âmbitos acadêmico, cultural e pessoal interferem consideravel- mente nas atitudes profissionais dos educadores, e isso não é diferente quando se trata dos professores de Matemática. Por isso, neste capítulo vamos abordar questões rela- cionadas à relevância da formação continuada, destacando a importância da pesquisa científica para o amadurecimento profissional e também aspectos relacionados à refle- xão sobre a prática pedagógica. O bom desenvolvimento na ação docente está diretamente relacionado ao trabalho da pesquisa. O professor pesquisador é capaz de enfrentar as dificuldades do dia a dia e conduzir o processo de aprendizagem a reflexões, fato essencial quando se pensa em construção do conhecimento, melhoria de qualidade de ensino e nas expectativas promissoras quanto à ação docente. A relação entre pesquisa e ação docente3 Pesquisa e prática em educação matemática38 3.1 A importância da formação continuada para o professor que ensina Matemática Uma das grandes dificuldades da formação docente é que, por motivos diversos, as pesquisas realizadas sobre a esfera educacional não são colocadas em prática. É perceptível o fato de que alguns professores, apesar de estarem cientes da necessidade de mudança em sua atuação profissional, preferem seguir uma metodologia similar ao modelo como aprenderam os conteúdos, ou seja, um modelo tradicional, em que o professor é detentor do saber e os alunos, agentes passivos do processo de aprendizagem. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) para o Ensino Fundamental, um dos obstáculos enfrentados no país é a falta de uma formação qualificada dos docentes, seja ela inicial ou continuada, de forma a satisfazer o bom exercício da docência. A fim de desenvolver sua prática em sala de aula, os professores precisam progredir como sujeitos críticos na realidade da qual fazem parte, posicionando-se tanto como educadores quanto como cidadãos, reconhecendo seus direitos e deveres na valorização profissional (BRASIL, 1998b). Somente com investimentos consideráveis nessa área haverá condições de, gradativa- mente, transformarem-se as concepções dos professores, de modo que eles possam con- tribuir mais significativamente na construção
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