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Serviço Social, Direito e Cidadania Aula 4: Direito da Família Professora Adriana Accioly Gomes Massa CONVERSA INICIAL Oi, seja bem-vindo(a) à Aula 4 de Serviço Social, Direito e Cidadania. Nosso objetivo é compreender a dimensão legal e social envolvendo o tema família. Para tanto, vamos: entender o direito de família a partir de um complexo sistema jurídico, contemplando especialmente sua base principiológica possibilitar o desenvolvimento de uma visão ampla acerca do direito de família O direito de família tem seu fundamento na Constituição Federal e no Código Civil Brasileiro. Esse tema é grande importância ao Serviço Social, considerando que a família é foco das políticas sociais, universo profissional no qual o assistente social também desempenha suas funções. Nesse sentido, o desafio dessa aula é pensar na família de forma mais ampla, no sentido de abarcar seus diversos arranjos, rompendo com o modelo conceitual de identificação da família, que parte das referências pessoais, muitas vezes, idealizadas. E, a partir dessa nova perspectivas, compreender os direitos atrelados à família. Acesse a versão online da aula e confira a fala inicial da professora Adriana. CONTEXTUALIZANDO Vamos conhecer um dos arranjos familiares, dentre os diversos existentes, e que vem trazendo algumas polêmicas relacionadas à garantia de direitos direcionados às famílias denominadas trisal, que se constituem a partir do princípio da afetividade. Ao ler e assistir as indicações a seguir, tenha como norte reflexivo esta questão: deve o direito regular estas configurações familiares? Para melhor conhecer esse arranjo familiar, leia a matéria: http://oglobo.globo.com/sociedade/as-pessoas-gostam-muito-de-rotular-diz- marido-de-trisal-19032157 Assista também ao vídeo: https://youtu.be/LoVc2O6ctKY Sobre esta reflexão, acesse a versão online da aula e assista ao vídeo a seguir com a professora Adriana. Conheça também a questão do arranjo familiar trisal que a professora Adriana trouxe para a nossa discussão. Para isso, acesse a versão online da aula. http://oglobo.globo.com/sociedade/as-pessoas-gostam-muito-de-rotular-diz-marido-de-trisal-19032157 http://oglobo.globo.com/sociedade/as-pessoas-gostam-muito-de-rotular-diz-marido-de-trisal-19032157 https://youtu.be/LoVc2O6ctKY Tema 1: Pensando e repensando a família Pensar e repensar a família na contemporaneidade se torna relevante, especialmente na medida em que se percebe o seu aparecimento como base estratégica na condução de políticas públicas, envolvendo mecanismos de garantia de direitos constitucionalmente previstos. Ao tentar conceituar a família do século XXI, por seus arranjos e configurações diversos, nos deparamos com a enorme dificuldade em definir os contornos que delimitam a família contemporânea. Novos arranjos familiares trazem consigo a complexidade que o tema envolve, ficando difícil uma definição, pois um conceito é insuficiente para abranger as diversas configurações possíveis. Diante das novas configurações familiares, fica difícil manter a ideia de natureza atrelada à família, isso porque os acontecimentos e o dinamismo social trazem elementos que ultrapassam as respostas biológicas, meramente genéticas, atreladas ao conceito de família. Já em 1938, o psiquiatra Jacques Lacan afirma que a família não é um grupo ou uma organização natural, mas, antes de tudo, uma estruturação psíquica, na qual cada um dos seus membros tem um lugar, uma função. A família pode também ser vista pela sua dimensão cultural, desempenhando o papel de transmissão de cultura e valores, sendo a afetividade parte de sua biologia cultural. A afetividade, a arte do emocionar humano, se mantém manifestada na vida em família, sendo a afetividade um dos princípios mais relevantes do direito de família, e a partir daí se busca a regulamentação das mais diversas configurações familiares. A afetividade é inerente às relações familiares e princípio jurídico constitutivo de família. Mas, além disso, é o amor (afetividade) fundamento social. Nesse sentido, Humberto Maturana (2009, p. 23-24) destaca que “o amor é a emoção que funda o social. Sem aceitação do outro na convivência, não há fenômeno social”. Ademais, esclarece que “só são sociais as relações que se fundam na aceitação do outro como um legitimo outro na convivência, e que tal aceitação é o que constitui uma conduta de respeito”. “A emoção que funda o social, como a emoção que constitui o domínio de ações no qual o outro é aceito como um legítimo outro na convivência, é o amor” (MATURANA, 2009, p. 26). Ao pensar sobre as mudanças que foram ocorrendo na história da família, deve-se considerar o curso do emocionar humano e, mais especificamente dos desejos e das emoções manifestos na vida em família, que formam redes de conversações nas quais as emoções e linguagem se entrelaçam. A família é, assim, uma realidade que se constitui pelo discurso sobre si própria. Inicialmente criada com uma finalidade econômica e social, a família deixa de ser um núcleo econômico e de reprodução, passando a ser um espaço do amor e do companheirismo. Essas considerações acerca da família são também traduzidas na Constituição Federal de 1988, na qual a família deixa de ser singular para se tornar plural. Para Rodrigo da Cunha Pereira (2015, p. 289), A revolução silenciosa que a família, por meio dos novos arranjos que ainda estão em curso, vem provocando é a grande questão política da contemporaneidade. A luta por um país melhor só tem sentido, e é verdade, se o sujeito tiver autonomia privada e tiver a liberdade de estabelecer seus laços conjugais como bem lhe aprouver. A história e a política, hoje, se escrevem e inscrevem a partir da vida privada, que obviamente começa e termina na família. E, assim, a vida privada, portanto, a família, tornou-se a principal razão política dos Estados democráticos contemporâneos. A família, vista como entidade privada, tem proteção especial do Estado, conforme previu a Constituição Federal, em seu artigo 226, e passa a ter seu reconhecimento sob a ótica do pluralismo familiar, ou seja, a Constituição reconhece a família como entidade familiar, além do casamento, a união estável e a família monoparental (art. 226, §§ 3º e 4º), além de reconhecer os princípios de igualdade jurídica dos cônjuges, companheiros e filhos (art. 226, § 5º; art. 227, § 6º) e, especialmente ressaltando e considerando, no âmbito da família, um dos princípios fundamentais da nação, o princípio da dignidade da pessoa humana (ar. 1º, III), com o qual se pode ampliar substancialmente o conceito de família. A família ou entidade familiar passa a ser reconhecida uma comunidade de afeto, de solidariedade, sem o affecto familiae, o elemento radiador da convivência familiar. Assim, a família, diferentemente daquela do século XX, da sociedade patriarcal e rural fortemente influenciada pela religião (Igreja Católica), que só concebia como família aquela constituída pelo casamento, passa a ser definida como uma comunidade formada a partir da afetividade entre seus membros, parentes ou não, que se definem e se enxergam como família, independente da opção sexual. No vídeo a seguir, a professora Adriana trata deste assunto que estamos estudando. Acesse a versão online da aula. Tema 2: Pluralidade de configurações familiares Para que seja considerado família, dentro do nosso ordenamento jurídico, são necessários alguns elementos: a) Afetividade – elemento propulsor dos laços familiares b) Estabilidade – elemento constitutivo do núcleo familiar c) Publicidade – necessário que a entidade familiar se apresente publicamente com tal d) Vontade – elemento fundamental para constituição da família Como já vimos em outraaula, o conceito contemporâneo de família é mais amplo e abarca vários arranjos. Vamos ver alguns deles a seguir. Acompanhe. Família Matrimonial É a família formada pelo casamento civil entre os cônjuges, incluindo ou não a prole. O casamento civil é regulado pelo artigo 226, §§ 1º e 5º da Constituição Federal, e também pelo artigo 1.514 do Código Civil. Constituição Federal Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. § 1º O casamento é civil e gratuita a celebração. […] § 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher. Código Civil Art. 1.514. O casamento se realiza no momento em que o homem e a mulher manifestam, perante o juiz, a sua vontade de estabelecer vínculo conjugal, e o juiz os declara casados. Família Homoafetiva É aquela constituída por pessoas do mesmo sexo, tendo como sua constituição a afetividade entre seus membros, recebendo a mesma proteção das uniões estáveis heteroafetivas, por possuir os mesmos direitos e deveres. Apesar de não prevista explicitamente na Constituição Federal, é também considerada família e, portanto, merecedora da proteção do Estado. “O afeto merece ser visto como uma realidade digna de tutela.” Maria Berenice Dias Com relação ao reconhecimento da família homoafetiva no Brasil, podemos citar algumas legislações e julgados: Lei n. 11.340/2006 Conhecida como Lei Maria da Penha, o seu artigo 5º não só reconhece a união homoafetiva, como prevê a proteção do Estado contra quaisquer tipos de violência. Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas; II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa; III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual. ADI 4.277/DF e ADPF 132/RJ O Supremo Tribunal Federal reconhece a união de pessoas do mesmo sexo, a partir de uma interpretação constitucional do Código Civil. ADFP 132/RJ: http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=628633 ADI 4.277/DF: http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=628635 Resolução n. 175/2013 O Conselho Nacional de Justiça dispõe sobre a habilitação, celebração de casamento civil, ou de conversão de união estável em casamento, entre pessoas de mesmo sexo. Família Natural, Extensa e Ampliada Família natural diz respeito à família nuclear, ou seja, formada pelos pais ou qualquer um deles e seus descendentes (art. 25 do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA). Família extensa ou ampliada é aquela que inclui, além dos pais e filhos, os parentes próximos com os quais se convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade (art. 25, § único do ECA). Família Adotiva Constituída pelo vínculo da adoção judicial, ou seja, quando a adoção é constituída por meio de sentença judicial. Sua regulamentação se dá pela Lei 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA). A filiação adotiva tem os mesmo direitos e qualificação da filiação biológica, sem qualquer discriminação. Desvincula o adotado de sua família natural ou biológica. Família Substituta Trata-se daquela família que acolhe criança e/ou adolescente, independentemente de sua situação jurídica, na condição de guarda, tutela e adoção (artigo 28 do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA). Família Anaparental Família de parente sem diversidade de gerações, sem verticalidade dos vínculos parentais, ocorrendo sem a presença dos genitores no ambiente familiar. Pode ser grupo de irmãos, de primos e de tios com sobrinhos. Família Pluriparental ou Mosaico ou Ensamblada Família recompostas ou reconstituídas. Acontece quando os parceiros têm filhos de relacionamentos anteriores, resultando na pluralidade das relações parentais, pois o casal integra seus filhos de outras relações aos filhos comuns. No direito brasileiro, a expressão mais utilizada é família mosaico, pela forma como se dá esse arranjo familiar. Família Eudemonista Família constituída a partir do objetivo comum de cada um dos seus membros pela busca pela felicidade. Tem a felicidade como princípio, meio e fim. Família Multiparental Família em que um filho tem dois pais ou duas mães, sendo um biológico e outro socioafetivo. Família Paralela, Simultânea Caracterizam-se pela constituição pelo homem ou pela mulher de mais de uma união. São relações que não têm efeito na esfera jurídica, não se configurando como união estável, pois transitórias e adulterinas. No Brasil, é adotado o princípio da monogamia, porém, a jurisprudência (julgados) brasileira tem flexibilizado esse princípio com outros princípios do direito de família, para atribuir direitos as famílias que se constituem paralelamente. Não se encerra os arranjos familiares nesses modelos apresentados, existindo outras configurações familiares, sendo que alguns tem como ponto comum os elementos necessários para seu reconhecimento jurídico e proteção do Estado e outros não. No vídeo a seguir, a professora Adriana trata deste assunto que estamos estudando. Acesse a versão online da aula. Tema 3: Princípios do direito de família Vamos agora tratar dos princípios fundamentais e basilares do direito das famílias. São os princípios norteadores da família: Princípio da Dignidade da Pessoa Humana Princípio da Afetividade Princípio da Igualdade Absoluta de Direitos entre os Filhos Princípio do pluralismo familiar Vamos ver cada um deles em detalhes, a seguir. Acompanhe! Princípio da Dignidade da Pessoa Humana Esse princípio está fundamentado no artigo 1º, inciso III da Constituição Federal. A dignidade passa a ser a sustentação dos ordenamentos jurídicos contemporâneos e acaba sendo ápice do Estado Democrático de Direito. É, portanto, um macroprincípio, que irradia para todos os demais. Rodrigo da Cunha Pereira esclarece que: A expressão “dignidade da pessoa humana” é uma criação Kantiana no começo do século XIX. Em sua Fundamentação da metafísica dos costumes (1785), ao argumentar que havia em cada homem um mesmo valor por causa da sua razão, empregou a expressão “dignidade da natureza humana”, mais apropriada para indicar o que está em questão quando se busca uma compreensão ética – ou seja, da natureza – do ser humano. Kant afirma de forma inovadora que o homem não deve ser transformado num instrumento para ação de outrem. (2015, p. 557). Assim, ao inserir no texto constitucional a dignidade da pessoa humana, acabou conferindo maior valoração e proteção à pessoa humana, proibindo toda e qualquer forma de discriminação e garantindo ao ser humano o exercício e o reconhecimento enquanto sujeito de direito fundamentais. É, assim, a partir do princípio da dignidade da pessoa humanos que são delineados os demais princípios, dentre eles a igualdade e a alteridade. Princípio da Afetividade Esse princípio está implícito no artigo 227, § 6º da Constituição Federal: Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdadee à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. É um princípio constitucional de grande relevância no direito de família, pois é considerado um balizador das relações familiares. Juntamente com os princípios da dignidade da pessoa humana, solidariedade e responsabilidade forma o sustentáculo do direito de família. Esse princípio passa a ter maior importância a partir do momento que a família deixa de ser um núcleo econômico e de reprodução para ter sua formação e estruturação a partir do amor, solidariedade e companheirismo. Passa a ganhar valor jurídico e ser elevado à categoria de princípio a partir de um processo histórico, influenciado especialmente pela psicanálise, que aponta a afetividade como esteio dos laços conjugais e parentais. É a partir desse princípio que o direito brasileiro acolheu a teoria da parentalidade socioafetiva, cujos laços afetivos passam a ser também reconhecidos, não apenas os laços jurídicos e de consanguinidade. Princípio da Igualdade Absoluta de Direitos entre os Filhos Todas as formas de filiação passam a ter direitos, sem discriminação algumas, não mais existindo filhos legítimos e ilegítimos para o ordenamento jurídico brasileiro, conforme o artigo 227, § 6º da Constituição Federal: “Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.” A desigualdade entre os filhos tinha origem religiosa, que concebia as relações sexuais apenas com o casamento, sendo que tudo que fosse contrário a essa ordem religiosa era ilegítimo. O princípio da igualdade não se aplica apenas os companheiros ou cônjuges, mas também aos filhos, os quais terão os mesmos direitos e qualificações, independentemente de havidos ou não do casamento, de serem ou não consanguíneos, ficando proibida quaisquer formas de discriminação e sepultando as expresses filho bastardo, adulterino, espúrio ou incestuoso. Princípio do Pluralismo Familiar Esse princípio trata da ampliação que ocorreu com a Constituição Federal de 1988 (artigo 226 §§ 3º e 4º), que amplia o conceito de família para além do matrimônio, passando a considerar também como família a união estável entre homem e mulher e as monoparentais. Apesar da Constituição Federal não ter nominado outras formas de família, ao romper com o modelo familiar oriundo exclusivamente do casamento, passa a garantir o exercício dos direitos sociais e individuais, em especial a plena liberdade de constituir família, a vários arranjos familiares, aceitando a família plural além daquelas constitucionalmente previstas. No vídeo a seguir, a professora Adriana trata deste assunto que estamos estudando. Acesse a versão online da aula. Tema 4: Direito convivencial e matrimonial O direito matrimonial trata do casamento, sua celebração, efeitos, anulação, regime de bens, dissolução, divórcio). O direito convivencial trata da pluralidade de entidades familiares convivenciais que se constituem juridicamente pelo reconhecimento da união estável. Sobre o casamento, que está inserido no direito matrimonial, vamos ver alguns conceitos: Legal – o casamento o estabelece comunhão plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges. (art. 1.511, CC) Doutrinário – casamento significa tanto o ato de celebração do matrimônio como a relação jurídica que dele se origina: a relação matrimonial. Quanto às formas de celebração do casamento, temos as seguintes espécies: Civil comum – matrimônio civil é um ato solene e gratuito. Celebração oficializada perante o Cartório de Registro Civil Religioso com efeitos civis – casamento celebrado por qualquer que seja a religião pode ter efeitos civis, desde que haja o processo de habilitação e o devido registro. (art. .1515, CC) Consular – casamento realizado no exterior, por uma autoridade consular brasileira. Devem ser atendidos todos os requisitos do casamento civil e deve ser levado a registro em 180 dias do retorno do(s) cônjuge(s) ao território nacional (art. 1.544, CC) Por procuração – casamento é celebrado mediante procuração, um instrumento público com poderes especais para tal ato (art. 1.542, CC) Putativo – casamento nulo ou anulável, contraído de boa-fé por um ou ambos os cônjuges, sem o conhecimento de sua proibição. Os cônjuges acreditam estar casados, mas legalmente não estão, pois é um casamento que tem erro que o torna nulo ou anulável Nuncupativo – celebrado quando um dos noivos está em iminente risco de morte, sendo autorizada a celebração sem cumprimento das formalidades legais, porém sendo necessária a presença de seis testemunhas que deverão confirmar o ato perante a autoridade competente no prazo de dez dias Quanto à validade ou à anulabilidade do casamento, este pode ser nulo, anulável, irregular, inexistente e putativo. É nulo nas hipóteses descritas nos artigos 1.521 e 1.548, CC: os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil os afins em linha reta o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive o adotado com o filho do adotante as pessoas casadas o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte pelo enfermo mental sem o necessário discernimento para os atos da vida civil Anulável o casamento quando contemplar as hipóteses do artigo 1.549, CC: de quem não completou a idade mínima para casar do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu representante legal por vício da vontade, nos termos dos artigos 1.556 a 1.558 do incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequívoco, o consentimento realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse da revogação do mandato, e não sobrevindo coabitação entre os cônjuges por incompetência da autoridade celebrante Os impedimentos matrimoniais estão previstos no artigo 1.521 do Código Civil, que esclarece que não pode casar: os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil os afins em linha reta o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive o adotado com o filho do adotante as pessoas casadas o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte As causas suspensivas do casamento são aquelas em que não há proibição de se contrair o casamento, mas recomenda-se que não se casem, são causas meramente penalizadoras na esfera patrimonial dos contraentes, sem invalidar o ato matrimonial, chamadas de causas restritivas. Elas estão previstas no artigo 1.523 do Código Civil: o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer inventário dos bens do casal e der partilha aos herdeiros a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido anulado, até dez meses depois do começo da viuvez, ou da dissolução da sociedade conjugal o divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a partilha dos bens do casal o tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos, cunhados ou sobrinhos, com a pessoa tutelada ou curatelada, enquanto não cessar a tutela ou curatela, e não estiverem saldadas as respectivas contas Parágrafo único. É permitido aos nubentes solicitar ao juiz que não lhes sejam aplicadas as causas suspensivas previstas nos incisos I, III e IV desteartigo, provando-se a inexistência de prejuízo, respectivamente, para o herdeiro, para o ex-cônjuge e para a pessoa tutelada ou curatelada; no caso do inciso II, a nubente deverá provar nascimento de filho, ou inexistência de gravidez, na fluência do prazo. A dissolução do casamento se dá: pela morte de um dos cônjuges pela nulidade ou anulação do casamento pela separação judicial pelo divórcio (art. 1.571, CC) Ressalta-se que, promulgada no dia 13 de julho, a Nova Lei do Divórcio (Emenda 66) alterou sistematicamente o § 6º do artigo 226 da Constituição da República, que passou a ter a seguinte redação: “o casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio”, extinguindo, assim a separação judicial da ordem constitucional”. Esta Lei visa facilitar a dissolução do casamento civil, eliminando a exigência de separação judicial prévia por mais de um ano ou separação de fato por mais de dois. Assim, o pré-requisito para o divórcio é somente estar casado, eliminando quaisquer pré-requisitos ou requisitos estabelecidos anteriormente. Veja na íntegra a Emenda 66 citada, a seguir: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc66.htm A união estável trata do direito convivencial, que é incluída no ordenamento jurídico brasileiro a partir da Constituição Federal de 1988 (artigo 266, § 4º). O Código Civil passa então a regular a união estável nos seus artigos 1.723 a 1726. Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família. § 1o A união estável não se constituirá se ocorrerem os impedimentos do art. 1.521; não se aplicando a incidência do inciso VI no caso de a pessoa casada se achar separada de fato ou judicialmente. § 2o As causas suspensivas do art. 1.523 não impedirão a caracterização da união estável. Art. 1.724. As relações pessoais entre os companheiros obedecerão aos deveres de lealdade, respeito e assistência, e de guarda, sustento e educação dos filhos. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc66.htm Art. 1.725. Na união estável, salvo contrato escrito entre os companheiros, aplica-se às relações patrimoniais, no que couber, o regime da comunhão parcial de bens. Art. 1.726. A união estável poderá converter-se em casamento, mediante pedido dos companheiros ao juiz e assento no Registro Civil. Com relação ao reconhecimento da união estável dos casais homoafetivos, temos os seguintes marcos históricos: 2011 – STF decide pela legalidade da união estável entre casais do mesmo sexo no Brasil 2013 – Resolução n. 175, de 14 de maio de 2013, dispõe sobre a habilitação, celebração de casamento civil, ou de conversão de união estável em casamento, entre pessoas de mesmo sexo. No vídeo a seguir, a professora Adriana trata deste assunto que estamos estudando. Acesse a versão online da aula. Tema 5: Direito parental e filiação O parentesco, além de um vínculo natural, pode ser caracterizado como um vínculo jurídico estabelecido por lei, que assegura direitos e impõe deveres recíprocos. O parentesco admite variadas classificações e decorre das relações conjugais, de companheirismo e de filiação, podendo ser natural, biológico ou consanguíneo, civil, adotivo, por afinidade. Ainda, poderá ser em linha reta ou colateral, maternal ou paternal. Vamos ver algumas formas de parentesco. Parentesco consanguíneo: também denominado parentesco natural. Pessoas que descendem de um mesmo ancestral. Todos que descendem biologicamente do mesmo pai e da mesma mãe. Parentesco por afinidade: limitado aos ascendentes, aos descendentes e aos irmãos do cônjuge ou companheiro. Assim, tios, primos, sobrinhos do cônjuge ou companheiro não são considerados parentes por afinidade. Os cônjuges também não possuem vínculo de parentesco Parentesco civil: parentesco que não tem origem consanguínea. Mais conhecido como parentesco resultante da adoção, da filiação socioafetiva ou da reprodução artificial heteróloga (quando ocorre a doação de óvulo ou sêmen) Com relação à filiação e ao reconhecimento dos filhos, o Código Civil prevê, em seu artigo 1.690, que os filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação. Não há tratamento diferenciado entre a filiação consanguínea ou a filiação civil, sendo esse um dos princípios que do direito de família, já visto em nossa aula. Porém, é interesse destacar que o Código Civil trata em capítulos diferentes os filhos nascidos na constância do matrimônio (art. 1596-1606, CC) daqueles filhos nascidos fora do matrimônio (art. 1607-1617, CC), trazendo ainda uma visão sacralizada da família. Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos (art. 1.597): I. nascidos cento e oitenta dias, pelo menos, depois de estabelecida a convivência conjugal II. nascidos nos trezentos dias subsequentes à dissolução da sociedade conjugal, por morte, separação judicial, nulidade e anulação do casamento III. havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido IV. havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões excedentários (aquele não implantado no útero materno, proveniente de fertilização em laboratório), decorrentes de concepção artificial homóloga V. havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia autorização do marido O filho havido fora do casamento pode ser reconhecido pelos pais, conjunta ou separadamente (art. 1.607, CC). O reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento é irrevogável e será feito (art. 1.609, CC): I. no registro do nascimento II. por escritura pública ou escrito particular, a ser arquivado em cartório III. por testamento, ainda que incidentalmente manifestado IV. por manifestação direta e expressa perante o juiz, ainda que o reconhecimento não haja sido o objeto único e principal do ato que o contém Poder familiar, denominação adotada no novo Código Civil, difere do pátrio poder, tratado no Código de 1916. O filho deixa de ser um objeto de direito para ser um sujeito de direito. O poder familiar é irrenunciável, intransferível, inalienável e imprescritível. As obrigações que dele fluem são personalíssimas. O poder familiar é regulado pelo Código Civil, no qual fica regulado que os filhos estão sujeitos ao poder familiar, enquanto menores. Durante o casamento e a união estável, compete o poder familiar aos pais; na falta ou impedimento de um deles, o outro o exercerá com exclusividade.No caso de divergência entre os pais quanto ao exercício do poder familiar, é assegurado a qualquer deles recorrer ao juiz para solução do desacordo. O divórcio e a dissolução da união estável não alteram as relações entre pais e filhos senão quanto ao direito, que aos primeiros cabe, de terem em sua companhia os segundos. O filho, não reconhecido pelo pai, fica sob poder familiar exclusivo da mãe, salvo se desconhecida for a mãe ou caso ela não capaz de exercer o poder familiar, situações em que dar-se-á o poder familiar ao tutor. Com relação as obrigações oriundas do poder familiar, cabe aos pais, com relação aos filhos menores: I. dirigir-lhes a criação e educação II. tê-los em sua companhia e guarda III. conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem IV. nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro dos pais não lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o poder familiar V. representá-los, até aos dezesseis anos, nos atos da vida civil, e assisti- los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento VI. reclamá-los de quem ilegalmente os detenha VII.exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade e condição Extingue-se o poder familiar: I. pela morte dos pais ou do filho II. pela emancipação, nos termos do art. 5º, parágrafo único III. pela maioridade IV. pela adoção V. por decisão judicial, na forma do artigo 1.638 A perda ou a suspensão do poder familiar se dará, conforme o Código Civil. Se o pai, ou a mãe, abusar de sua autoridade, faltando aos deveres a eles inerentes ou arruinando os bens dos filhos, cabe ao juiz, requerendo algum parente, ou o Ministério Público, adotar a medida que lhe pareça reclamada pela segurança do menor e seus haveres, até suspendendo o poder familiar, quando convenha. Parágrafo único. Suspende-se igualmente o exercício do poder familiar ao pai ou à mãe condenados por sentença irrecorrível, em virtude de crime cuja pena exceda a dois anos de prisão (art. 1.637, CC). Perderá por ato judicial o poder familiar o pai ou a mãe que (art. 1.638, CC): I. castigar imoderadamente o filho II. deixar o filho em abandono III. praticar atos contrários à moral e aos bons costumes IV. incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no artigo antecedente Juntamente com o conceito de poder familiar, importante o esclarecimento da guarda. A guarda é exercida mediante a autoridade parental, exercida pelos próprios pais. Pode ser unilateral, quando exercida por um genitor apenas ou compartilhada, exercida por ambos os genitores. Na ausência dos pais, aqueles que normalmente tem o poder familiar sobre os filhos menores, seja por motivo de falecimento ou porque foram declarados ausentes ou que tiveram o poder familiar destituídos ou suspensos, as crianças e adolescente ficarão sob os cuidados de um tutor, representante legal da criança. Art. 1.728. Os filhos menores são postos em tutela: I. com o falecimento dos pais, ou sendo estes julgados ausentes II. em caso de os pais decaírem do poder familiar Diferente da tutela, que cabe especificamente com relação aos menores de 18 anos, a curatela é destinada aos maiores incapazes dos atos da vida civil. O curador é nomeado para assistir ou representar àquele considerado incapaz. Art. 1.767. Estão sujeitos a curatela: I. aqueles que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para os atos da vida civil II. aqueles que, por outra causa duradoura, não puderem exprimir a sua vontade III. os deficientes mentais, os ébrios habituais e os viciados em tóxicos IV. os excepcionais sem completo desenvolvimento mental V. os pródigos No vídeo a seguir, a professora Adriana trata deste assunto que estamos estudando. Acesse a versão online da aula. TROCANDO IDEIAS Com base em nossos estudos, compartilhe e discuta no fórum o tema que mais lhe chamou atenção nessa aula. NA PRÁTICA Confira no vídeo a seguir as reflexões da professora Adriana sobre um caso prático. Acesse a versão online da aula. SÍNTESE Chegamos ao final desta aula. Nosso objetivo era compreender a dimensão legal e social envolvendo o tema família. Para tanto, vamos: entender o direito de família a partir de um complexo sistema jurídico, contemplando especialmente sua base principiológica possibilitar o desenvolvimento de uma visão ampla acerca do direito de família Acesse a versão online da aula e confira a fala final da professora Adriana. Referências BERAS, Cesar. Democracia, cidadania e sociedade civil. Curitiba: Intersaberes, 2013. MATURANA, Humberto. Emoções e linguagem na educação e na política. Trad. José Fernando Campos Forte. Beto Horizonte: UFMG, 2009. PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Dicionário de direito de família e sucessões: ilustrado. São Paulo: Saraiva, 2015. SERAFIM, Antonio de Pádua; SAFFI, Fabiana. Psicologia e práticas forenses. 2 ed. São Paulo: Manole, 2014.