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DENTÍSTICA II PROTEÇÃO DO COMPLEXO DENTINOPULPAR Tratamentos conservadores de vitalidade pulpar Manter a vitalidade do dente preservando sua integridade biológica e funcional, a hemostasia bucal é mantida por estratégias biológicas. Dentina e polpa: estão em intimo contato e se relacionam entre si, a polpa é altamente vascularizada conferindo vitalidade, suas funções são formativa, nutritiva e defensiva (garente a nutrição da dentina, mantém o agente agressor mais afastado dela) DENTINA 70% inorgânica, 20% orgânica (90% proteínas e 10% de água) Da forma ao dente e protege o esmalte e a polpa Deslocamento centrípeto dos odontoblastos que deixam seus prolongamentos no interior dos túbulos dentinários Maior concentração de tubulos dentinários e maior diametro dos mesmos, nas regiões mais próximas a polpa Diâmetro dos canalículos – 1 a 4 um (20% da área total exposta) – quanto mais próximo do órgão pulpar mais penetrável é a dentina devido ao aumento dos túbulos dentinários na polpa Organização: túbulos revestidos por dentina peritubular contendo o prolongamento odontoblastico e o espaço periodontoblástico Dentina intertubular – massa dentinária Classificação o Primária: formada no desenvolvimento do dente o Secundária: fisiologicamente produzida depois do irrompimento dentário o Esclerosada: formada diante do envelhecimento (fisiológica) ou agressão (reacional), onde ocorre aumento da deposição de minerais em uma dentina já formada podendo obliterar os canais o Terciária: nova dentina que se forma no teto da câmara pulpar na região correspondente aos odontoblastos agredidos Primários: reacional Diferenciados/odontoblasto-símiles: reparadora Hemostasia do complexo dp: o Pode sofrer interferência de estímulos físicos e mecânicos, químicos, biológicos o Podem causar: deslocamentos do fluido dentinário/ ruptura da camada de odontoblastos; resposta inflamatória Remoção de dentina cariada o Apesar de conter um agente agressor, essa remoção também é um agente agressor pois gera calor excessivo, ressecamento e movimentação de fluidos da dentina e todos esses estímulos serem levados ao complexo pulpar Manter dentina afetada pois é passível de remineralização e gera menos agressão na ação de remoção da cárie Preparo cavitário 1) Acesso a cavidade com ponta diamantada 2) Remoção de toda dentina infectada com colher de dentina (amolecida, úmica, necrótica, desorganizada) 3) Remoção de dentina afetada das paredes circundantes com broca esférica do maior tamanho possível se for muito pequena podemos aprofundar a cavidade – selamento marginal da restauração (amarelada, sai em lascas) a. Conservação da dentina afetada nas paredes de fundo b. Refrigeração abundante em caso de alta rotação c. Instrumentos novos d. Menor pressão de corte e. Hidratação constante da cavidade f. Pouca secagem com o ar g. Limpeza adequada da cavidade – água de cal (ph básico) 4) Materiais restauradores a. Nenhum é inerte (todos são irritantes pulpares em potencial) i. Amálgama, resina e civ Técnicas de proteção do complexo dentinopulpar Indireta ou Direta Aplicação de um ou mais agentes protetores e bioestimulantes, tanto em tecido dentinário quanto sobre a polpa que sofreu exposição, a fim de manter a vitalidade desses órgãos Fatores condicionantes o Devemos considerar: Idade dentária: a câmara pulpar mais ampla em dentes jovens, mais profundas e metabolismo mais ativo, já as senis a câmara pulpar é atrésica, rasas com reações mais lentas Profundidade da cavidade: fator mais importante; espessura de dentina entre assoalho e polpa Superficial: aquém, ao nível ou ligeiramente além da JAD Rasa: entre 0,5 e 1mm além da JAD Media: até metade da espessura de dentina remanescente – 1 a 2mm além da JAD Profunda: ultrapassa a metade da espessura da dentina Muito profunda: a 0,5mm ou menos da polpa, tonalidade rosácea Condição pulpar Diagnosticar se a polpa encontra-se em estado de reversibilidade Teste térmico: resposta ao frio, resposta ao calor (fazer se geralmente não tem sensibilidade ao frio, e se não houver essa sensibilidade o dente pode estar caminhando para irreversibilidade) – o Se sentir dor e melhorar após a remoção do estímulo = OK o Se sentir dor e não melhor, se demorar a sentir = ruim o Se não sentir nada = ruim (mas estar atento pois nem sempre indica polpa morta, pois o paciente pode ter menos sensibilidade ou polpa mais atrésica) o Cuidados: não encostar na margem gengival, vasilinar em caso de dentes de calor Teste elétrico Percussão vertical: batidas de incisal para apical (se houver dor tem alteração no ápice radicular) Percussão horizontal: batidas na vestibular (se houver sintomatologia pode ter alterações no periodonto) Palpação: fístula, cisto, abcesso Exames complementares: radiografias Característica de sangramento o Normal o Alterado Pulpite revesível Pulpite irrevesível Dor Provocada e momentânea Espontânea; contínua; intermitente; pulsátil; reflexa; em decúbito Percussão Resposta negativa Resposta positiva Radiografia Periápice negativo Periápice negativo ou positivo Sangramento normal alterado Material restaurador Materiais de proteção Seladores ou vedadores o Vedam a interface dente/restauração (película protetora que sela a embocadura dos TD) o Vernizes cavitários (amálgama) e sistemas adesivos (resina composta) o Indicados na ausência o ou de possibilidade de exposição pulpar – cavidades superficiais, rasas e médias. Forradores o Agentes protetores aplicados em certa espessira (menos de 0,5mm) formando uma camada/forro o Cimento de hidróxido de cálcio: biocompatível e estimula formação de dentina reparadora – cavidades muito profundas o Cimentos ionoméricos convencionais ou resinosos: cavidades profundas o Indicação: ausência de exposição pulpar Capeadores o Função de revestir ou capear áreas expostas da polpa (proteção direta) o Hidróxido de cálcio em pó ou pasta – estimula formação de dentina reparadora, calcificação dentinária e formação de ponte de dentina o MTA: na presença de água por meio de formação de CaOH2 promove reações típicas do CaOH2 Bases cavitárias: de maior espessura, para repor dentina perdida (CIV, resina) o Substituem dentina perdida e dão suporte a restauração: recuperação da geometria cavitária e menor volume de material restaurador o CIV, RC fluidas Indicações o Biocompatível o Estimulante de recuperação pulpar e da formação de barreira mineralizada o Bactericidade e bacteriostático o Vedadores das margens cavitárias o Adesivo as estruturas dentárias o Mecanicamente resistente o Isolante térmico e elétrico o Insolúvel ao meio bucal Proteção pulpar indireta Aplicações de agentes seladores, forradores e/ou bases cavitárias sobre a dentina, parcialmente comprometida, protegendo indiretamente o órgão pulpar Objetivo: bloquear os diferentes tipos de injúrias, inibir a progressão da lesão de cárie, minimizar os prejuízos advindos da cárie; minimizar os prejuízos advindos da microinfiltração marginal; estimular a formação de dentina esclerosada, reacional e/ou reparadora. Seleção do material protetor: o Dentre os seladores, forradores e o/ou bases, com base essencialmente na profundidade da cavidade e na natureza do material restaurador a ser utilizado Sequencia operatória 1) Anamnese e diagnostico clínico e radiográfico da polpa 2) Isolamento absoluto e preparo da cavidade 3) Inspeção e limpeza da cavidade a. Clorexidina, ácidos fracos e fortes, detersivos, detergentes aniônicos 4) Proteção indireta com material 5) Procedimento restaurador Material restaurador / profundidade cavidade Superficial, rasa ou média profunda Bastante profunda Amálgama Verniz cavitário CIV Verniz cavitárioCimento de Ca(OH)2 CIV Verniz cavitário Resina composta H3PO4 37% Sistema adesivo CIV forrador H3PO4 37% Sistema adesivo Cimento de Ca(OH)2 CIV forrador H3PO4 37% Sistema adesivo CIV Ácido poliacrílico Ácido poliacrílico Cimento de Ca(OH)2 Ácido poliacrílico Parede de fundo de dentina esclerosa o Não se remove essa dentina e não precisa de cimento de hidróxido de cálcio o Remover apenas em cavidades de dentes anteriores em que houver pouca espessura de material restaurador e houver pouca estética o Não interage bem com sistemas adesivos o Aplicar CIV forrador sobre a dentina esclerosada pois age quimicamente sobre ela (algumas literaturas) Tratamento expectante o Foi proposto que removesse só dentina infectada em cavidades profundas em que o tecido pulpar não estivesse exposto o Indicação típica: em lesões extensas, com sintomatologia relatada de pulpite tendendo a irreversivel e proximidade com a camara pulpar o Sequencia operatória 1) Anamnsese e diagnostico 2) Isolamento opcional e preparo cavitario 3) Inspeção e limpeza 4) Aplicar pasta de hidróxido de cálcio 5) Restauração provisória (CIV) Após 45-60 dias 6) Definir prognóstico (se for favorável) 7) Remoção do vedamento provisório e da dentina infectada remanescente 8) Proteção indireta 9) Restauração definitiva Proteção pulpar direta Aplicação direta de agente capeador sobre a polpa – capeamento pulpar direto Objetivo: estimula o órgão pulpar e proteger contra agressões futuras, formando uma barreira mineralizada (ponte de dentina) Possibilidades: proteção pulpar direta, curetagem pulpar, pulpotomia (mediata ou imediata) o Curetagem pulpar Em caso de exposição pulpar com suspeita ou certeza de contaminação bateriana, que exige remoção do tecido contaminado e criação de condições reais de conservação da vitalidade da polpa Técnica: cureta-se parcialmente a polpa na área de exposição, aumentando as chances de conservação de sua vitalidade. Não há certeza de que a polpa remanescente esteja livre de contaminação o Pulpotomia Mediata ou imediata Trata-se da remoção completa da polpa coronária, preservando-se somente a polpa radicular Indicação: exposição pulpar por lesão de cárie ou trauma, com grande extensão, o que torna a técnica de curetagem limitada Indicação específica: pacientes jovens com ápices incompletos, a fim de não se inibir a rizogênese Contraindicação: em casos de inflamação irreversível ou necrose pulpar, ou diante da presença de nódulos ou calcificações pulpares o Sequencia operatória 1) Anamnese e diagnostico da condição pulpar 2) Isolamento absoluto e preparo cavitário 3) Inspeção e limpeza da cavidade 4) Proteção pulpar direta a. Direta (propriamente dita) i. Material diretamente sobre a polpa ii. Técnica em espiral - aplicar o cimento não direto do capemento mas sim de forma espiral, das paredes periféricas e dando a volta no capeamento e por fim nele iii. MTA: não precisamos colocar o cimento sobre ele iv. Pó ou pasta de hidróxido de cálcio 1. Necrose de coagulação impede a difusão de enzimas para o tecido adjacente e reduz os estímulos quimiotáticos da inflamação 2. Reorganização celular da polpa e indução de barreira mineralizada (reparo biológico) b. Curetagem i. Se houver alguma contaminação, devemos curetar a superfície da polpa c. Pulpotomia i. Remover a camara pulpar ii. 5) Vedamento provisório ou definitivo da cavidade 6) Definição do prognóstico e inspecção 7) Completar o tratamento restaurador Técnica indicada Profundidade da cavidade Parâmetros diagnósticos Condição pulpar Sinais radiográficos Sangramento Protetores indicados Proteção pulpar indireta Superficial à bastante profunda Ausente ou provocada / momentânea Normal ou pulpite reversível Periápice negativo ou c/ ligeiro alargamento do espaço periodontal - - Cimento de Ca(OH)2, CIV-F ou Primer/Verniz/sistema adesivo - CIV restaurador C ou MR / Amálgama / Resina Tratamento expectante Bastante profunda, repleta de tecido infectado, com risco eminente de exposição pulpar Provocada / momentânea Pulpite reversível Periápice negativo ou com osteíte condensante - - Pasta ou cimento de Ca(OH)2 +vedamento provisório - 45 a 60 dias depois: complementar tratamento restauração (proteção indireta) Proteção pulpar direta Com exposição pulpar acidental/involuntária (ausência de contaminação) Provocada / momentânea Pulpite reversível Periápice negativo ou com ligeiro alargamento do espaço periodontal Normal, vermelho vivo, facilmente controlável e consistente - Pó ou Pasta de Ca(OH)2 + cimento de Ca(OH)2 +vedamento provisório - 45 a 60 dias depois: complementar tratamento restauração (proteção indireta) Curetagem pulpar Com exposição pulpar ainda durante a remoção de tecido cariado ou por fratura (com contaminação) Provocada / momentânea Pulpite reversível Periápice negativo ou com osteíte condensante Abundante, vermelho vivo, constante porém controlável e consistente - Pó ou Pasta de Ca(OH)2 + cimento de Ca(OH)2 +vedamento provisório (CIV- restaurador) - 45 a 60 dias depois: complementar tratamento restauração (proteção indireta) Pulpotomia Com exposição pulpar, por cárie/trauma, presença ou não de contaminação, porém grande extensão Espontânea, mas cessa com analgésico Pulpite reversível Periápice com ligeiro alargamento do espaço periodontal ou osteíte condensante Abundante, vermelho vivo, constante porém controlável e consistente - curativo com medicação a base de corticosteróides e antibiótico (10min ou 48 hrs) - Pó ou pasta Ca(OH)2 + cimento de Ca(OH)2 + vedamento provisório (CIV- restaurador) - 45 a 60 dias depois: complementar tratamento restauração (proteção indireta) QUESTÕES Quais as diferenças entre lesão de cárie ativa e inativa, quanto aos aspectos clínicos? Em relação aos aspectos clínicos das lesões de cárie ativas e inativas, é o seguinte: . Se em ESMALTE, e incipientes/não cavitadas ATIVAS - têm aspecto opaco, rugoso, muitas vezes com coloração branco giz (ainda que possam ser amareladas), são bem delimitadas e localizam-se geralmente nos locais de estagnação de biofilme, tais quais região cervical próxima à margem gengival, porção gengival aos contatos proximais e etc. Diante de secagem com jatos de ar tendem a se tornar mais brancas/mais opacas/mais evidentes, pois o índice de refração do ar, que passa a substituir a água/saliva antes presente na porosidade da lesão, é ainda mais diferente daquele do esmalte. . Se em ESMALTE, e incipientes/não cavitadas INATIVAS - têm a superfície esbranquiçada ou amarelada, mas com aspecto brilhante, duro e liso. Nas superfícies lisas livres, por exemplo, estão localizadas com alguma distância da margem gengival. . Se já com cavidade em DENTINA, ATIVAS - têm a dentina com coloração amarelada, aspecto úmido e amolecido, de fácil remoção, e podem exibir adjacências em esmalte esbranquiçado opaco. . Se já com cavidade em DENTINA, INATIVAS - têm a dentina com coloração que varia de amarelada a marrom escuro, ou mesmo ao negro, aspecto seco, consistência borrachóide e mais difícil remoção. As bordas são mais bem definidas e, no geral, não contam com esmalte de coloração esbranquiçada. Indico links de vídeos bastante interessantes no sentido: https://www.youtube.com/watch?v=afesW-__lhI https://www.youtube.com/watch?v=8yJjCmA0SME O que significa praticar uma Dentística menos invasiva? Quanto à prática de uma Odontologia, e especialmente de uma Dentística, Minimamente Invasiva, deveria ser praxe em todo e qualquer contexto, pois o restabelecimento de saúde/homeostasia da cavidade bucal, e mais, do sistema estomatognático como um todo, deve sobrepor o tratamento específico das sequelas de uma doença (lesãode cárie/doença cárie, por exemplo). Ainda, nenhum material restaurador substitui com vantagem a estrutura dentária sadia. O melhor procedimento é, pois, sempre aquele que permite a preservação de maior quantidade de tecido dentário em condições de realizar suas funções na boca. No contexto da cárie dentária, por tratar-se de "DOENÇA em nível pessoal ("comportamental"), em que ácidos produzidos a partir da fermentação de carboidratos por uma microbiota supragengival disbiótica (biofilme) resulta em desmineralização ou destruição de superfícies dentárias suscetíveis", também se deve ter em mente que todos os procedimentos operatórios e restauradores, se imprescindíveis para lida com as consequências das lesões de cárie, devem ser realizados em conjunto com a educação do paciente e com as medidas preventivas e de controle não cirúrgicas. A doença cárie se inicia muito antes do aparecimento do seu sinal clínico mais evidente, uma lesão de cárie. Daí que, se a doença for diagnosticada precocemente, antes do aparecimento de uma lesão, ou ao menos quando essa lesão ainda for incipiente, medidas preventivas e de controle não operatórias poderão ser instituídas, evitando-se, assim, o uso de técnicas mais invasivas. Na inevitabilidade de uma restauração, considerar sempre as técnicas que resultem em menor remoção possível de estrutura dentária, tais quais as que utilizam materiais adesivos (não exigem preparos geométricos, com paredes todas planas/regulares e mínima profundidade), os preparos cavitários estritamente proximais ou dos tipos slot vertical, horizontal ou túnel para Classe II, a remoção seletiva de tecido cariado e assim por diante.
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