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NEGOCIAÇÃO COLETIVA

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NEGOCIAÇÃO COLETIVA 
Conceito de negociação: forma primária de um interessado obter daquele que tem interesse contraposto uma solução que atenda aos dois. As partes buscam aproximar seus entendimentos, discutindo e rediscutindo o assunto, sempre com a finalidade de resolver as questões. (Vólia Bomfim Cassar). 
A negociação é, portanto, o conjunto de técnicas que leva as partes a uma solução pacífica, normalmente transacionada. 
A negociação coletiva tem como função;
 
criação;
modificação;
supressão de condições de trabalho;
função normativa ou flexibilizadora;
composição de conflitos. 
 
Tem função política, econômica e social. 
Função política: é forma de diálogo entre grupos antagônicos, capazes de desequilibrar a estrutura política em que o Estado se desenvolve. O Estado tem interesse que a luta de classes se resolva pacificamente e com isso valoriza as ações destes interlocutores sociais quando espontaneamente resolvem o conflito.
 
Função econômica: através da normas são distribuídas riquezas que ordenam a economia. Pode também ter caráter de concessões quando há necessidade de adaptação ao quadro social da empresa à realidade socioeconômica do país, reduzindo custos operacionais e funcionais para sua sobrevivência (redução de salário e flexibilização). 
Função social: caracterizada pela participação dos trabalhadores nas decisões empresariais, seja para harmonia do ambiente social de trabalho seja para a criação de novas e boas condições de trabalho, o que resolve inúmeras questões sociais. 
Negociação coletiva e princípio da legalidade
 
O art. 611 – A da CLT, dispõe que a convenção coletiva e o acordo coletivo de trabalho têm prevalência sobre a lei quando entre outros, dispuserem sobre as matérias exemplificativamente arroladas em seus incisos. 
Art. 8º, inc. III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas; 
 
A depender da negociação, a norma feriria o princípio da legalidade, quando o acordo ou convenção afrontarem normas legais imperativas eliminando ou reduzindo direitos trabalhistas de ordem pública. 
Negociação coletiva e princípio da proteção
A exigência de aplicação da norma mais favorável ao empregado, na verdade, decorre do princípio da proteção, inerente ao Direito do Trabalho.
O princípio da proteção engloba três vertentes:
in dubio pro operario
aplicação da norma mais favorável
condição mais benéfica
Assim, apenas nas situações especificamente excepcionadas na Constituição Federal (art. 7º, incisos VI, XIII e XIV) é que se pode admitir a flexibilização in pejus, possibilitando a aplicação das regras menos benéficas ao trabalhador. Mesmo nesse caso, exige-se que a medida seja justificada e demonstrada a sua adequação à proteção do trabalhador, notadamente do emprego, em que pese o disposto no art. 611, § 2º da CLT, segundo o qual: § 2° A inexistência  de  expressa  indicação  de  contrapartidas recíprocas  em convenção  coletiva  ou  acordo  coletivo  de  trabalho não  ensejará  sua  nulidade por  não  caracterizar  um  vício  do  negócio  jurídico.
Procedimento da negociação coletiva
 
Sindicatos e empresas, inclusive as que não tenham representação sindical, quando provocadas, não podem se recusar à negociação coletiva, na forma do art. 616 da CLT.
 
Art. 616 - Os Sindicatos representativos de categorias econômicas ou profissionais e as empresas, inclusive as que não tenham representação sindical, quando provocados, não podem recusar-se à negociação coletiva. (Redação dada pelo Decreto-lei nº 229, de 28-02-67, DOU 28-02-67)
O procedimento da negociação coletiva é disciplinado pela CLT da seguinte forma: 
 
Em caso de acordo coletivo, o primeiro passo é a provocação de uma das partes, por insatisfeita, reivindicando vantagens para o grupo;
Notificação do sindicato que terá oito dias para dizer se assume ou não a negociação (art. 617 da CLT); 
Para todos os casos: assembleia sindical, devidamente convocada, para autorizar a diretoria a iniciar as negociações (art. 612 da CLT);
d. notificação da parte contrária para iniciar os debates e discussões a respeito das propostas;
e. a parte contrária é obrigada a negociar (art. 616 CLT), sob pena de um terceiro intervir nas negociações;
f. chegando a parte a um consenso, será reduzida a termo uma minuta das cláusulas negociadas (art. 613 da CLT); 
g. nova assembleia para aprovação das cláusulas ajustadas;
h. o documento final é redigido com todo os requisitos contidos nos art. 613 e 614 da CLT;
i. depósito do documento no Departamento Nacional do Trabalho, em se tratando de instrumento de caráter nacional ou interestadual, ou nos órgãos regionais do Ministério do Trabalho nos demais casos, no prazo de oito dias de sua assinatura (art. 614 da CLT); 
j. publicidade da norma coletiva, de forma visível, na sede dos sindicatos e das empresas, dentro de cinco dias do depósito;
k. início da vigência três dias após o depósito. 
Convenção e acordo coletivo de trabalho
 
Acordo coletivo de trabalho é o negócio jurídico extrajudicial efetuado entre sindicato dos empregados e uma ou mais empresas, onde se estabelecem condições de trabalho, obrigando as partes acordantes dentro do período de vigência predeterminado e na base territorial da categoria – Art. 611, § 1º da CLT. 
 
São comandos abstratos, gerais, impessoais, em face disso, convenção coletiva de trabalho (CCT) e acordo coletivo de trabalho (ACT) se assemelham à lei. Segundo Carnelutti esses instrumentos normativos tem corpo de contrato e alma de lei.  
Art. 611, § 1º - É facultado aos Sindicatos representativos de categorias profissionais celebrar Acordos Coletivos com uma ou mais empresas da correspondente categoria econômica, que estipulem condições de trabalho, aplicáveis no âmbito da empresa ou das empresas acordantes às respectivas relações de trabalho. (Parágrafo único renumerado pela Lei nº 2.693, de 23/12/55, DOU 29/12/55 e alterado pelo Decreto-lei nº 229, de 28/02/67, DOU 28/02/67).
Convenção coletiva de trabalho é um negócio jurídico extrajudicial pactuado entre o sindicato dos empregados e o sindicado dos empregadores, estabelecendo condições de trabalho para toda a categoria. Também tem vigência temporária e aplicação apenas na base territorial dos respectivos sindicatos – art. 611, caput da CLT. 
 Art. 611 - Convenção Coletiva de Trabalho é o acordo de caráter normativo, pelo qual dois ou mais Sindicatos representativos de categorias econômicas e profissionais estipulam condições de trabalho aplicáveis, no âmbito das respectivas representações, às relações individuais do trabalho. (Redação dada pelo Decreto-lei nº 229, de 28-02-67, DOU 28-02-67)
De acordo com o art. 614, § 3º da CLT, o prazo de duração do acordo e da convenção coletiva de trabalho será de 2 (dois) anos. 
 
Tem direito de negociar coletivamente: trabalhadores urbanos, rurais e avulsos.
 
A Emenda Constitucional 72/2013 estendeu aos empregados domésticos as convenções e os acordos coletivos. 
Prorrogação, revisão, denúncia e revogação
 Art. 615 - O processo de prorrogação, revisão, denúncia ou revogação total ou parcial de Convenção ou Acordo ficará subordinado, em qualquer caso, à aprovação de Assembleia Geral dos Sindicatos convenentes ou partes acordantes, com observância do disposto no art. 612.
 
Prorrogação: é o processo pelo qual o prazo de vigência da convenção ou do acordo coletivo é estendido, mantendo as mesmas condições da norma prorrogada. 
§ 3° Não  será  permitido  estipular  duração  de  convenção coletiva  ou  acordo coletivo  de  trabalho  superior  a  dois  anos, sendo  vedada  a  ultratividade. (Parágrafo alterado pela Lei n° 13.467/2017 - DOU 14/07/2017).
Revisão: é o processo em que os interessados pactuam a alteração total ou parcial da norma coletiva ainda durante sua vigência. Pode ser para conceder condições mais favoráveis ou não. 
 
Denúncia: ocorre quando uma das parte notifica a outra de que não vai maiscumprir a norma coletiva. Só extinguirá a obrigação de cumprimento da norma coletiva se a outra parte concordar com a denúncia. Segundo Amauri Mascaro Nascimento, se a outra parte não concordar com a denúncia, os efeitos são suspensivos até as parte renegociarem, sob pena de o conflito ser decidido por um terceiro (mediador, arbitragem, conciliador ou jurisdição). 
Revogação: ocorre quando as partes, de comum acordo, decidem desfazer total ou parcialmente o ajustado na norma coletiva. Enquanto a denúncia é unilateral, a revogação é bilateral. 
 
Efeito das cláusulas coletivas sobre os contratos de trabalho
As cláusulas coletivas aplicam-se a todos os membros da categoria, associados e não associados - art. 611 da CLT. 
 
Enquanto vigentes, as partes estão obrigadas da cumpri-las. 
Após o término de vigência dos instrumentos normativos, os empregadores estão obrigados a cumpri-las? 
Art. 614 (...) § 3° Não  será  permitido  estipular  duração  de  convenção coletiva  ou  acordo coletivo  de  trabalho  superior  a  dois  anos, sendo  vedada  a  ultratividade. (Parágrafo alterado pela Lei n° 13.467/2017 - DOU 14/07/2017)
 
Maurício Godinho denomina de “tese da aderência limitada pelo prazo”, segundo a qual, extinta a vigência da norma coletiva, os empregadores poderão suprimir as benesses concedidas. 
Conflito entre acordo e convenção coletiva de trabalho
 
Antes da Lei 13.467/2017 (Reforma Trabalhista), havendo conflito entre acordo coletivo e convenção coletiva de trabalho deveria ser aplicada a norma mais favorável ao trabalhador. 
 
Após a Lei 13.467/2017, o art. 620 da CLT foi alterado expressamente para determinar expressamente a prevalência do acordo coletivo de trabalho sobre a convenção coletiva: 
Art. 620.  As  condições  estabelecidas  em  acordo  coletivo  de trabalho  sempre prevalecerão  sobre  as  estipuladas  em  convenção coletiva  de  trabalho. (Artigo alterado pela Lei n° 13.467/2017 - DOU 14/07/2017)
 
Trata-se de exceção ao princípio da prevalência do princípio da norma mais favorável. Demonstra a intenção flexibilizadora do legislador. 
 
Fim 
Obrigada!

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