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LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: VIA DISPONÍVEL PARA A CIDADANIA? Ana Patrícia Pereira da Silva (Centro Universitário da Cidade- RJ) RESUMO Esta pesquisa é um recorte da monografia da primeira autora e que foi desenvolvida no curso de graduação de Pedagogia. A questão deste estudo focalizou: até que ponto o letramento pode contribuir para o exercício da cidadania dos alunos na Educação Infantil? O interesse por essa problemática surgiu ao observarmos que há profissionais que defendem que as crianças desse segmento devem ser alfabetizadas. Trabalhamos na perspectiva de uma Educação Infantil que compreenda a criança como uma cidadã de direitos e que mesmo não sabendo ler e escrever, ela precisa se familiarizar com as práticas sociais de escrita, em um contexto de letramento. Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi de investigar a importância do letramento na Educação Infantil, e sua contribuição para o exercício da cidadania. O referencial teórico concentrou-se em Ferreiro (2001), Soares (1998, 2005) e Canivez (1998). Ferreiro (2001) e Soares (1998) defendem que, a criança que convive com o ambiente letrado, tem prontidão para atender às exigências sociais. Canivez (1998) ressalta que os professores conhecem os limites de sua ação junto a seus alunos e, por isso, a importância de se construir o respeito como base dos direitos sociais para o futuro cidadão. Esta pesquisa inseriu-se em um estudo de caso, onde foi feita uma entrevista com um supervisor escolar e um professor da Educação Infantil. Concluiu-se que o letramento na Educação Infantil pode ser uma das vias disponíveis para a construção da cidadania, na medida em que os profissionais da educação valorizem o poder do letramento para conduzir o progresso social da criança. Palavras - chave: Cidadania, Letramento, Alfabetização, Educação Infantil. LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: VIA DISPONÍVEL PARA A CIDADANIA? Ana Patrícia Pereira da Silva (Centro Universitário da Cidade/RJ) Josefina Carmen Diaz de Mello (Centro Universitário da Cidade/ Doutoranda –UERJ) Introdução Abordamos neste estudo, a importância do ambiente de letramento escolar para o desenvolvimento futuro da cidadania consciente dos alunos da Educação Infantil. O foco deste estudo está concentrado no conceito de letramento, dentro da perspectiva de que letramento é muito mais que alfabetização. O interesse por pesquisar tal temática decorreu do fato de observarmos que muitas pessoas se alfabetizam, conseguem ler e escrever, mas não são necessariamente capazes de incorporar a prática da leitura e da escrita para se envolverem com as práticas sociais. Assim, o objetivo desta pesquisa foi de investigar a importância do letramento no desenvolvimento da cidadania, considerando-se alunos da Educação Infantil. A questão deste estudo pretende saber: até que ponto o letramento pode contribuir para o exercício da cidadania dos alunos na Educação Infantil? Sendo assim, o referencial teórico concentrou-se em Ferreiro (2001), Soares (1998) e Canivez (1998). Ferreiro (2001) defende que a criança, no ambiente letrado, acaba conhecendo a função social da escrita. Ou seja, ela tende a agir como alfabetizada. Soares (1998) diz que a criança, mesmo não sendo alfabetizada, pode ser letrada. Canivez (1998) aponta que a educação é desenvolver o que lhe diz respeito enquanto vive em uma comunidade, não apenas fazer e dizer o que é exigido dele, mas questionar por que isto é exigido. Esta pesquisa inseriu-se em um estudo de caso, onde foi feita uma entrevista com um supervisor escolar e um professor da Educação Infantil. Este artigo estruturou-se em duas partes. Na primeira, será tratado o conceito de letramento; na segunda, será discutida a relação possível entre letramento e cidadania na Educação Infantil, quando serão feitas as análises. No final, será desenvolvida a conclusão. Através das falas dos entrevistados levaram ao entendimento de que o letramento na Educação Infantil pode ser uma das vias disponíveis para a construção da cidadania, na medida em que o professor e o supervisor escolar, saibam mediar o letramento e a alfabetização dos alunos. 1 - Conceito de Letramento Segundo Aulete (1974 apud SOARES 1998, p. 16), a palavra letramento apareceu há um século atrás e com um sentido diferente de como é entendida hoje. Nesse dicionário, atribui-se como palavra antiga, com o significado de “escrita”, remetendo ao verbo “letrar” (“investigar, soletrando”). Atualmente, o sentido dado é diferente. Soares (1998) buscou a versão para o Português na língua inglesa “Literacy”, que significa “o estado ou condição que assume aquele que aprende a ler e escrever” (SOARES, 1998, p. 17). Apesar de esse conceito não estar registrado nos dicionários brasileiros, entendemos como Soares (ibid) que se refere à condição adquirida pelo grupo ou pelo indivíduo, como resultado de ter-se apropriado da escrita. Na sua análise, a autora Soares (1998, p. 44) explica que esse processo é muito mais que alfabetização. Ela enfatiza que letramento: (...) é (...) o estado ou condição de quem interage com diferentes portadores de leitura e escrita, com diferentes gêneros e tipos de leitura e de escrita... Enfim: letramento é o estado ou condição de quem se envolve nas numerosas e variadas práticas sociais de leitura e de escrita. Sendo assim, o indivíduo letrado não só sabe ler e escrever, mas exerce as práticas sociais de leitura e escrita em seu cotidiano. Nesse caso, a criança ao ingressar na escola, já traz algum domínio de um tipo de prática social de leitura que se insere nesse conceito. Por exemplo, ela já tem dominado a leitura de jornais, revistas, rótulos, onde esse domínio será importante para o seu sucesso durante o processo de alfabetização. Ferreiro (2001) ressalta que a alfabetização é um processo que começa em um determinado momento, mas encontra-se em constante construção, e é na Educação Infantil que se deve assumir a função social. Isso pode garantir a compreensão por parte das crianças daquilo que elas vivenciam, oferecendo condições para que descubram o mundo que as cerca, desenvolvendo, assim, diferentes formas de expressão. Segundo Ferreiro (2001), a descoberta de códigos escritos pela criança letrada tem significações para ela (gibis, livros, albúm de figurinhas). Assim, o nível de letramento é determinante de uma boa alfabetização. A criança precisa antes de qualquer método eficiente de alfabetização, de um passado rico em variedade de discursos nos mais variados gêneros. Todas essas leituras feitas pelas crianças no seu cotidiano de vida podem ser elementos-chave (essenciais) para uma boa alfabetização. Uma questão importante é que muitos jovens e adultos não tiveram acesso à educação na idade apropriada, afastando-se assim, das possibilidades de letramento e de uma das vias mais possíveis do exercício da cidadania (SOARES, 2005). Portanto, alfabetização e letramento não devem se desenvolver de forma indissociada. Aprender, escrever e desenvolver o uso da função social da escrita são momentos que precisam caminhar juntos. Soares (1998) questiona a possibilidade de tornar-se letrado, sem ambiente propício ou material impresso à disposição. Para Ferreiro (2001), a alfabetização é um processo de desenvolvimento e de aprendizagem, mas também de apreensão e compreensão do que há a sua volta e no mundo. Logo, as atividades na Educação Infantil devem possuir significado real e serem vivenciadas no cotidiano do aluno, considerando-se o letramento desses alunos. Caberá ao professor fornecer essa compreensão, considerando essas simples vivências das crianças e oferecer atividades objetivas e significativas, que irão ajudá-las no letramento e na futura alfabetização. O trabalho comrótulos, trabalhos com o nome, aulas passeios, trazem a realidade de algo para a sala, por exemplo. 2- Relação entre letramento, alfabetização e cidadania Este estudo se propõe a desenvolver uma reflexão entre letramento e cidadania, a fim de que se definam as responsabilidades da Educação Infantil em relação à articulação entre esses dois processos. Em relação à cidadania, Canivez (1998, p.15) diz que: A cidadania define a pertença a um Estado. Ela dá ao indivíduo um status, ao qual se ligam direitos e deveres particulares. (...) A cidadania, e sobretudo, o acesso à cidadania, depende então da adesão a uma certa maneira de viver, de pensar ou de crer. Segundo Soares (2005, p. 56): (...) só se estará contribuindo para o exercício da cidadania se contextualizar a alfabetização no quadro mais amplo dos determinantes da cidadania, atribuindo-lhe sua verdadeira dimensão e, ao mesmo tempo, e por isso mesmo, vendo-a, a alfabetização como um meio, entre outros, de luta contra a discriminação e as injustiças sociais. Sendo assim, é preciso diferenciar esses termos, atribuindo uma relação de causa- conseqüência, ou seja, a cidadania é a conseqüência da prática de saber ler, escrever, para exercer a prática cidadã. A alfabetização é um instrumento contra a exclusão da cidadania, mas também de construí-la. Canivez (1991, p.59), referindo-se à criança da escola pública, sinaliza que: o tipo de comportamento, o procedimento intelectual, os valores escolares, tudo isso define um mundo que lhe é alheio e no qual ela não se “encontra”, pois as atividades escolares que lhe impõem a deixam ‘desorientada’; algumas lhe parecem completamente abstratas e não fazem sentido para ela. Ou seja, percebemos nessa citação do autor a presença e valorização do processo de letramento da criança no sentido de que, muito mais do que um conjunto de habilidades de leitura e escrita, o relevante é estimular, considerar as práticas sociais de leitura que a criança traz para a escola e conduzi-las para atender ao seu progresso social e construir a ponte com a leitura e escrita formal a serem introduzidas pela escola. Na entrevista gravada com o supervisor escolar, a sua resposta de como ele vê a prática dos professores da Educação Infantil no letramento, revelou o seguinte: [...] nós trabalhamos com o pensar da criança, fazendo com que ela busque a letra que inicia, ou seja, tem o alfabeto na parede e a criança pensa na palavra dada, e ela reflete com qual letra se inicia a palavra e conseqüentemente os outros pedaços que formam a palavra, sem que elas aprendam de forma repetitiva, mecânica. Na próxima pergunta sobre a diferença entre os termos de letramento e alfabetização, o professor da Educação Infantil respondeu que: O letramento e alfabetização, uma vez que se entende o letramento como a leitura de mundo e a alfabetização como concretização dessa leitura, através de símbolos gráficos e sonorização desses símbolos, os dois processos caminham juntos para que a criança compreenda as palavras desenvolvendo não apenas sua escrita, mas também o senso crítico em relação ao mundo que a cerca. A outra pergunta questionou sobre a relação possível a ser construída entre letramento e cidadania. O professor respondeu: Sim, totalmente. As crianças já trazem valores de casa, e com isso o professor faz uma ponte, ligando o aprendizado trazido pela criança e sua proposta pedagógica, fazendo com que isso visualize a sociedade e conseqüentemente a prática da cidadania. Em relação à primeira pergunta, o supervisor comenta que a criança busca automaticamente os pedaços das palavras, assimilando mais o som da letra, sem obrigá-la a decorar as famílias. Com isso, a resposta do supervisor foi compatibilizada com Ferreiro (2001, p. 103), quando essa autora diz que: ... não se deve manter as crianças assepticamente distantes da língua escrita. Mas tampouco trata-se de ensinar-lhes o modo de sonorizar as letras, nem de introduzir os exercícios de escrita mecânica e a repetição em coro na sala da pré-escola. Já na segunda pergunta, enfatizamos a questão da diferença entre os termos de letramento e alfabetização, onde a resposta do professor se identifica com Soares (1998, p. 24) quando a autora explica que “letramento é que um indivíduo pode não saber ler e escrever, [...] essa criança é ainda “analfabeta”, porque não aprendeu a ler e a escrever, mas já penetrou no mundo do letramento, já é de certa forma, letrada”. Na terceira resposta, o professor responde que as crianças trazem valores de casa. Isso se confirma na Soares (1998, p. 18), quando ela diz que: “[...] o estado ou a condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como conseqüência de ter-se apropriado da escrita”. Passemos, portanto, à conclusão do nosso estudo. Conclusão Concluímos nesta pesquisa que, o letramento na Educação Infantil pode ser uma das vias disponíveis para a construção da cidadania, na medida em que o professor, como um mediador do processo de alfabetização, saiba adaptar, valorizar e dar oportunidade à criança de superar suas dificuldades e orientá-la a lidar com a língua, com suas regras e dificuldades. É nessa perspectiva que letramento, alfabetização e cidadania caminhar podem caminhar em parceria com a finalidade maior de construir com os alunos da Educação Infantil a possibilidade de uma base sólida que influencie todo o desenvolvimento social dessa criança e a encaminhe para uma prática social cidadã consciente, no seu futuro. Essa, na verdade, é a função social da escola e de todos os profissionais que nela trabalham juntos. Sendo assim, Educação Infantil na escola é um espaço social de conhecimento para o cidadão futuro, mas também, de formação do sujeito social, de construção da ética e de valores. Ou seja, há que se permitir aos alunos a oportunidade de pensar, conviver, conhecer e familiarizar-se com o exercício da cidadania e a condição para um ambiente de letramento precisa ser uma prerrogativa básica para se atingir a essa finalidade. Referências bibliográficas: CANIVEZ, Patrice. Educar o cidadão. 2ª ed. São Paulo: Papirus, 1998. FERREIRO, Emília. Reflexões sobre Alfabetização. 24ª ed. São Paulo: Cortez, 2001. SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. 2ª ed. Belo Horizonte: Autêntica, 1998. ______. Alfabetização e Letramento. 3ª ed. São Paulo: Contexto, 2005. PÔSTER: Questão: LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: VIA DISPONÍVEL PARA A CIDADANIA? Até que ponto o letramento pode contribuir para o exercício da cidadania dos alunos na Educação Infantil? Investigar a importância do letramento na Educação Infantil, na contribuição para o exercício da cidadania. O letramento na Educação Infantil pode ser uma das vias disponíveis para a construção da cidadania, na medida em que os profissionais da educação valorizem o poder do letramento para conduzir o progresso social da criança. Um estudo de caso, onde foi feita uma entrevista com um supervisor escolar e um professor da Educação Infantil. Objetivo: Referencial teórico: Metodologia: Conclusão : [...] As crianças já trazem valores de casa, e com isso o professor faz uma ponte, ligando o aprendizado trazido pela criança e sua proposta pedagógica, fazendo com que isso visualize a sociedade e conseqüentemente a prática da cidadania (Professor). [...] nós trabalhamos com o pensar da criança, fazendo com que ela busque a letra que inicia, ou seja, tem o alfabeto na parede e a criança [...], sem que elas aprendam de forma repetitiva, mecânica (Supervisor). CANIVEZ, Patrice. Educar o cidadão. 2ª ed. São Paulo: Papirus, 1998. FERREIRO, Emília. Reflexões sobre Alfabetização. 24 ed. São Paulo: Cortez, 2001. SOARES,Magda. Letramento: um tema em três gêneros. 2 ed. Belo Horizonte: Autêntica, 1998. ______. Alfabetização e Letramento.3 ed. São Paulo: Contexto, 2005. Metodologia: Metodologia: Ana Patrícia P. da Silva (Centro Universitário da Cidade- RJ) Josefina C. D. de Mello (Professora Assistente do Centro Universitário da Cidade RJ/Doutoranda/UERJ)
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