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Apontamentos-Psicologia-da-Familia (1)

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- 1 -
Família 
• Conceito de "família": 
 Há uma grande generalização deste conceito. Um dos problemas para definir família é 
conhecermos este conceito do ponto de vista experimental, para nós é algo fundamental e não 
conseguimos passar isso para o exterior. É necessário olhar a mesma experiência do lado de fora, 
para além da experiência subjectiva e não ficar pelo senso comum. 
 A família não é um objecto de estudo simples, antes pelo contrário, é um elemento bastante 
complexo que tem uma dimensão cultural, onde a maneira de viver não é igual para todos, pois 
existem formas de ser "família" diferentes, cada um tem o seu imaginário de família. Poder-se-á 
definir cultura como os modos de viver específicos que têm origem em maneiras próprias de 
interpretar a realidade e a maneira de estar no mundo. 
 
Cultura Burguesa → dimensão dos afectos e inter-ajuda já faz parte do conceito de família nesta 
época. Trata-se de uma cultura mais móvel, mais próxima da nossa, pois está mais aberta a 
transformações. Aqui, começa-se a criar o elemento de "emagrecimento" do conceito de família, a 
transformar a maneira de ser da mesma, tornando-se numa dimensão individual. Em latim, o 
conceito de “família” é muito mais abrangente, tem dois significados: pessoas que lhe pertencia por 
laços de sangue e pessoas que pertenciam por reconhecimento social e jurídico. Os servos, 
antigamente, também eram encarados como pertencentes à família. A cultura burguesa está mais 
próxima da nossa cultura do que a idade média (cultura de território), porque é mais móvel, portanto 
mais próxima, sendo também mais aberta e instável, mas sobretudo aberta para as transformações. 
Precisa de menos gente para se desenvolver (o comercio pode ser estruturado com menos gente do 
que quando se trabalha a terra). A família burguesa transforma o conceito de família, restringiu-a, 
deu-se um “emagrecimento deste conceito”; a família é apenas constituída pelas pessoas mais 
próximas. Começa-se a transformar também a maneira de se “ser família”, começa a não ser tão 
alargada, mas sim uma experiência pessoal, individual 
 A família tem, também, um dever histórico enquanto instituição. É necessário perceber o 
modelo típico de cada época, que valores são invariáveis e os que se transformam e que sentir é 
transmitido de determinado período histórico. 
Eixo histórico → Formas muito diferentes das famílias se organizarem ao longo do tempo (um filho 
podia ser biológico, mas se o pai não o aceitasse, não fazia parte da família; e vice-versa se for 
adoptado); 
 
 
 
 
 - 2 -
Roma Antiga → Rede complexa de relações que abrange uma interna tribo, com pais, filhos, avós, 
tios e primos, ou seja, a família trata-se de um sistema complexo de alianças. Não é apenas uma 
parcela da sociedade, mas é a sociedade, onde estabelecem regras, leis não escritas reconhecidas por 
todos os elementos (quem e como intervir em situações de conflito; responsabilidade recíproca). 
 
 É necessário encarar, de forma aberta, todas as novas realidade e alterações e reconhecer e 
compreender o que o Outro está a sentir. Apesar das transformações que a realidade sofre ao longo 
do tempo, a família mantém-se e é mais do que uma convivência social sustentada ao longo do 
tempo: formas diferentes de se apresentar em culturas. Tanto em contexto histórico como cultural a 
família teve formas diferentes de se manifestar ao longo do tempo. 
 Estes aspectos não definem totalmente o que é uma família, mas dizem respeito a grandes 
marcos importantes, pois de outra forma tudo seria comparado a família e nem todas as relações 
pode ser família (e.g. família e amizade são diferentes), não podendo cair no erro de confundir 
identidades. A família é uma experiência básica e primária do relacionamento humano, é primordial 
à nossa existência (o nascimento do primeiro filho tem como efeito confirmar a própria existência 
da família. Esta transmite-nos uma tradição, não aprendemos tudo por imitação ou observação, nem 
tudo é fruto dos genes. 
O familiar → distingue-se família de familiar na medida em que o último se trata do Outro essencial 
e núcleo fundamental da família. É algo ou alguém oposto a desconhecido/estranho, será algo com 
que temos uma certa confiança e relacionamento; encaramos o familiar como um adjectivo. 
Podemos ter várias formas de a família se manifestar, até de diferentes culturas, mesmo no nosso 
contexto. Falamos de familiar como substantivo que se apresenta com uma dimensão universal, que 
podemos reconhecer para além das diferenças. O conceito morfológico de “família” pode variar, 
dependendo das culturas ou épocas históricas, ao contrário de o “familiar”. 
 
 Passamos, então, de um conceito de família muito vasto, para uma cultura pré-moderna e, 
finalmente, para algo muito circunscrito e ligado à "casa" (passagem do território para a casa). As 
unidades familiares privatizam-se ainda mais, restringindo-se do alcance de acção e das relações. A 
família torna-se pequena, uma família considerada nuclear (pais e filhos). Aqui, as famílias 
mononucleares são consideradas família (pessoas que vivem sozinhas). 
 
 
 
 
 
 
 - 3 -
 A família transforma-se, mas tem algumas constantes: 
1.º Relações de vínculo e proximidade (aparece sempre em primeiro lugar a partir de certa altura); o 
afecto é transformado nestas relações e está fundamentado sobre a responsabilidade. 
2.º Cuidar (elemento organizador e invariante); cuidar de todos os familiares, devido ao sentido de 
responsabilidade que temos para com eles. 
3.º Responsabilidade 
 
Definição mais “activa” de família de Levi-Strauss: "A família é uma união duradoura aprovada de 
um homem e de uma mulher e dos seus filhos". 
Desmontando esta definição verifica-se que a família não é algo ocasional, pressupõe um laço, uma 
união, união essa que tem um dimensão temporal muito importante, duradoura. Deve ser aprovada e 
reconhecida pela sociedade, para que haja família é necessário haver reconhecimento social e este 
continua a ser procurado, mas sofreu transformações: as dimensões religiosas e rituais passam a ser 
dispensadas (casamentos vs união de facto). O homem e a mulher pressupõem uma diversidade de 
funções, mas tem que existir uma diferenciação e nota-se que a primeira diferença dá-se a nível do 
género, depois a diferença de gerações, idade e, por fim, as diferenças de linhagens. A família é uma 
organização complexa, não é um grupo, nem um simples conjunto de pessoas, há uma diferenciação 
de papéis. 
A família é entendida como uma forma social primária porque é a origem da civilização, 
enquanto lugar que garante o processo generativo biológico, psicológico, social e cultural (quando a 
família não funciona há repercussões na sociedade e.g. marginalização); porque cumpre algumas 
das funções fundamentais, sem as quais a sociedade não poderia sobreviver (sexual, reprodutiva, 
educativa e económica) e porque tem como função a socialização primária dos filhos e a 
estabilização da sua vida adulta. 
Desta forma, pode-se afirmar que a família é fundamentalmente um ser vivo, um sujeito 
complexo; é uma experiencia fundamentalmente na construção do eu. A família insere-se num 
quadro de diversas culturas, sociedade e pauta e estrutura a capacidade de estabelecer relações. 
 A família pode ter acesso a direitos, tem que se apresentar de tal forma à sociedade – 
reconhecimento social. Para que haja família é necessário o reconhecimento social. Família não 
existe para si própria, não se esgota. Para todas as culturas, normalmente, está ligada à ritualização. 
O reconhecimento social continua a ser significativo e procurado, apesar de se ter transformado 
(adquiriu outros traços). Se a família se fecha, se privatiza (desreconhecimento social), não tem 
apoio e acabará por terminar sozinha e não acompanhada. As pessoas já se sentem“protegidas” pela 
união de facto e, por isso, interessam-se menos em casar pela igreja (ritual, despesas, etc.); no 
entanto, querem, na mesma, que sejam reconhecidos alguns direitos (dividido; impasse cultural). 
 
 - 4 -
• Funções da família 
A família garante o suporte dos membros mais frágeis, assim as funções são: 
− Suporte afectivo e social (protecção de todos); 
− Socialização primária e educativa (acontece através do estabelecimento de relações 
familiares essenciais); 
− Sexual/intimidade (nascem as novas gerações e a família tem um papel muito importante 
nisto); 
− Dimensão gerativa/reprodutora; 
− Económicas (todas as famílias são micro-empresas e têm um papel económico importante - 
produzir rendimento, poupança e não depender do exterior). 
 
Para Sroufe e Fleeson: 
− Cuidar e criar dos filhos 
− Satisfação de necessidades/ intimidade/ suporte (necessidade profunda do "outro" que 
permite a identificação do "eu"). 
 A família, enquanto organizada e estruturada, permite uma maior coesão social. Uma família que 
possa gerir a sua vida de forma saudável, integra-se de forma positiva na sociedade. A família é 
quem garante o suporte dos membros mais frágeis. Família como agente de personalização, é um 
agente que se constrói vivendo; é a construção da personalidade, da identidade da pessoa; tem 
regras que não são ditas, mas que são muito importantes. 
 Podemos dizer que a família é como uma organização, uma vez que se supõe que esta estabelece 
relações complexas, tornando-se uma organização complexa. A família organiza as relações entre os 
diferentes membros, sendo esta uma dimensão básica – a família organiza as diferenças. 
 
• Qual a finalidade da família? 
 Transmitir a vida e para o fazer têm que a partilhar (continuação gerativa). É mais que uma 
organização mecânica, é interactiva, organizativa e tem uma identidade. O corpóreo é parte 
integrante da nossa identidade e cada família tem a sua identidade própria fundada. 
Este corpo organizado fundamenta-se em: 
− Todos os membros são importantes para constituir o corpo na sua diferença; 
− Têm que ser todos bem afinados. 
O que faz com que surja uma família (fase inicial da formação do corpo familiar) é, segundo Levi-
Strauss: 
− Decidir construir uma família; 
 
 - 5 -
− Desenvolver uma dimensão afectiva, privada e individual; 
− Assumir um compromisso com os outros membros da família; 
− Pedir e receber reconhecimento social. 
Não será necessariamente esta a ordem pela qual acontece, pois pode-se apenas desejar construir 
uma família depois de estabelecer uma aproximação privada com alguém, ou até haver uma relação 
sem reconhecimento social. O projecto de constituir família não é na sua totalidade do âmbito 
privado, pois há necessidade de assumir um compromisso institucionalmente para salvaguardar os 
direitos dos filhos. 
 
 A noção de organização não tem conotação "fria" nem "rígida", as relações na família são 
complexas porque se jogam a muitos níveis ao mesmo tempo. O que organizam a família são as 
relações entre os diferentes membros, a família organiza as diferenças, pois elas já existem (não 
implica hierarquias). Há que valorizar estas diferenças, na medida em que estas são positivas, há 
alguém que obedece, outro que manda. Há diferenças de Geração a vários níveis (três gerações), 
numa dimensão positiva, com transformações de papéis ao longo do tempo. Existem diferenças de 
género que pressupõe uma dualidade de posições/identidade, que se ocupam só de características 
biológicas. Não pode haver relação sem reconhecimento destas diferenças e autoridade. 
 Cada indivíduo pode assumir dois caminhos: Estagnação ou Geratividade. O objectivo da 
família é a geratividade, isto é, criar e produzir vida, dar vida do ponto de vista biológico. Erikson 
fala desta num contexto de desenvolvimento psicossocial a todo o ser humano – relacionamento e 
desenvolvimento da família. Por outro lado, o indivíduo pode manter-se estático, parado e não 
contribuir para nada e não ter a alegria de gerar vida e de contribuir para o desenvolvimento da 
sociedade. 
 Nenhuma relação é apenas de dois elementos, há sempre um terceiro elemento. Até na 
amizade há uma terceira dimensão para ter um projecto, a abertura, algo transcendente para a 
pessoa. No caso do casal, o terceiro elemento poder-se-á dizer que será o filho. Então, o conceito de 
geratividade faz todo o sentido que seja aplicado à família, pois esta deve tentar não se fechar a si 
mesma e criar relações internas com a família e com o mundo exterior. 
EU → TU → TERCEIRO ELEMENTO = verdadeira noção de identidade, mas não se baseia só 
nisto segundo Bubber). Se a relação é autêntica, produz, não vai à procura, acontece e há mais 
relação e bem-estar. Esta abertura é que faz sentido numa relação. A relação não pode correr o risco 
de implusão, onde pode acabar por pôr em causa a mesma por excesso de energia e por falta de 
geratividade, ou seja, ficar fechada. É necessário gerar não só a nível biológico como sociológico 
(interacção social do projecto pessoal). 
 
 
 - 6 -
União do casal: Pai → Mãe → Filho = ajuda mútua 
 Ninguém muda de lugar dentro da família. Não se pode esperar do filho apenas que gere, 
mas que invista na sua família e não a deixe para trás para que esta não desmorone. Espera-se, 
assim, que a família não estagne, mas que haja movimento, tanto dentro da família como fora. No 
caso de haver mais filhos, normalmente o filho mais velho assume o suporte da relação como 
progenitor, assegurando a boa relação. Não se deve viver numa relação de dependência, pois irão 
acomodar-se e estagnar. 
 Se algum familiar falecer, não é substituível, têm que fazer face a esta nova realidade, 
continuando a mãe e o pai a não desistir nem se afastar durante o processo de luto. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Esqueleto real da família: Relações 
 Não se deve confundir relação com interacção. Podemos ter uma relação sem interacção (se 
não conhecer o bisavô, não se estabelece qualquer interacção com ele, contudo há uma relação 
familiar, há uma tradição transmitida, existe um laço genético) e interacção sem relação (posso 
interagir com outras pessoas, por exemplo, quando alguém vem a nosso encontro pedir alguma 
informação, mas não se tem um relação com a mesma). Contudo, nota-se que a relação não se 
esgota na interacção, é algo mais simbólico que implica significados e linhagens. 
 Existem a dimensão de temporalidade, que está presente na constituição da família 
(percorrer o caminho das culturas – Presente e passado), a dimensão de transição de passagem, 
constituição da família (novas configurações por parte dos elementos) e a dimensão simbólica, é 
uma marca, em elemento que reenvia para uma outra realidade, algo que une realidades diferentes, a 
níveis diferentes. Estas dimensões não querem dizer que as interacções não sejam importantes, a 
interacção é um nível imediato onde se confrontam relações diferentes. Há dimensões que são 
típicas de cada família, como se fosse uma minicultura, porque cada família tem familiares para 
viverem. 
 Relacionar significa uma ligação de dois fenómenos, conceitos, aspectos, partilha de 
Significados e transmissão da mesma pertença. A família constitui laços afectivos, de pertença e de 
compromisso. Dentro destes últimos, podemos ter compromisso horizontal como a relação de 
irmãos e de cônjuge, e uma dimensão vertical, ou seja, a relação transmite, em si mesma, valores, 
mitos e histórias. Importa aqui a noção de tempo, mas também os significados, os acontecimentos 
marcantes e a sua transmissão. 
 Na experiência de relação pode ser considerada a matriz antropológica psíquica, ou seja, é o 
ponto de origem comumao ser humano enquanto tal e a maneira de cada um se comprometer põe 
em hipótese a família. A pessoa não é apenas fruto da biologia, mas nasce dentro de uma história e 
de um contexto de significados. 
A família tem como finalidade favorecer a socialização, isto é, para além da transmissão formal que 
os pais procuram fazer, também entra aqui a observação e imitação por parte dos filhos, mas o mais 
importante é o estilo relacional da família. Toda a nossa história tem as suas raízes num certo 
terreno que tem um certo tipo de relações. Aquilo que nos é dito e aquilo que experienciamos pode 
não corresponder ao modelo relacional e àquilo que adoptamos na nossa vida. A transmissão dá-se 
através do estilo de vida e do modelo relacional, aquilo que somos é também fruto das relações. 
Contudo, a família também não é fechada em si, existe a possibilidade de transformação. 
 
 
 
 - 8 -
 Modelo Relacional Simbólico 
 (eixo simbólico = esperança e justiça, dom e débito) 
Privilegia as relações na sua dimensão simbólica, mas remete também para o 
reconhecimento. Tem em conta o pólo afectivo, mas também o compromisso que implica 
responsabilidade. A dimensão afectiva não pode ser absolutizada, pois torna-nos consumidores da 
relação e não assumimos as responsabilidades. 
O Símbolo é a estrutura latente de sentido que conecta entre eles os aspectos básicos da 
relação familiar: isto é o que chamamos de familiar (latente porque não é relacionado com objectos, 
mas sim com pessoas; estrutura latente =estrutura interior). Tem significados mais alargados, 
simbolizar tem a função de criar laços entre mundos e realidades diferentes. Como estruturas 
latentes pode-se considerar o apoio mútuo entre conjugues, o cuidar dos filhos ou dos mais velhos e 
a capacidade de dar e receber apoio. 
 O Familiar é a matriz simbólica da relação entre géneros, gerações e estirpes (entre famílias 
de origem) que confere substância simbólica às famílias concretas e às várias formas da família. 
 O Relacional aponta para a definição do ponto de observação e de compreensão do objecto 
família - a relação. 
O Simbólico define as categorias bases que qualificam as relações familiares. 
A relação como paradigma emerge em sociologia, com a abertura à multidimensionalidade 
da família e da estreita relação entre aspectos micro e macro sociais (família e sociedade). 
Donati defende uma visão da família como fenómeno relacional que lhe é característico: 
mostra que as relações que a constituem (casal e filiação) se transformam em relacionamentos nos 
vários sectores da sociedade, sem prejuízo da sua especificidade. 
O paradigma relacional apresenta duas vantagens, nomeadamente, o facto de considerar o 
indivíduo como ser individual e de considerá-lo como parte activa na criação do sistema, com as 
suas intenções, afectos e descobertas. 
É característico do nível interaccional, a atenção dada às trocas comunicativas que existem 
no presente entre os membros da família. As interacções referem-se ao que acontece e se comunica 
no presente (aqui e agora) entre os sujeitos que lhe dão vida e que constroem, assim, o discurso 
familiar. O nível interactivo apenas conhece os vínculos traçados na situação e no contexto no qual 
se desenvolve a troca. 
Não será possível conhecer a relação familiar sem que se tenha em conta o nível da troca – 
acção e da matriz simbólica que a rege. Não chega porque a família é uma organização de relações 
de parentesco e uma matriz de identidade individual. Tem valor crucial a troca geracional e de casal 
para compreender os laços familiares e a sua qualidade simbólica, que constituem parte 
inconsciente das pessoas que a constituem. 
 
 - 9 -
O paradigma relacional dá valor seja à relação de casal seja à relação com a família de 
origem e tem em conta as condições sócio-culturais com que a família interage. 
O sentido da vida na família, os laços e a temporalidade são as dimensões chave do nível 
relacional. Assim, o sentido da vida pode ser acedido através da presença de valores espirituais, de 
valores éticos, de valores vitais, de materiais que guiam o comportamento, de comportamentos em 
si. Estes podem ser acedidos de forma especial em momentos de rituais de família e em momentos 
difíceis. Os laços podem ser acedidos examinando a qualidade da relação entre os cônjuges, a 
qualidade da relação entre irmãos, a qualidade da relação entre pais e filhos e a qualidade da relação 
entre as famílias de origem. A temporalidade pode ser acedida examinando as modalidades que a 
família utiliza para ligar o passado, presente e futuro, sendo que as famílias funcionais são capazes 
de ligar o presente ao passado e de projectar o seu futuro, enquanto as não funcionais não 
conseguem admitir a sua passagem pelo tempo e as mudanças que o tempo traz, são incapazes de 
prever e programar o seu futuro de modo eficaz. 
A análise das interacções permite aceder ao conhecimento das relações de poder (alianças, 
exclusões), estilos comunicativos (eficazes ou não), afectividade (presente ou negada) e 
reconhecimento de fronteiras (presentes ou ausentes). Já a análise das relações permite aceder à 
consciência dos laços e do seu sentido que guia a acção. São ambos o fio da história relativa às 
trocas entre gerações. 
 
Eixo Simbólico 
 O símbolo refere-se à ligação entre diversas partes de algo, que permite o seu 
reconhecimento. Refere-se, no nosso caso, à estrutura de significados latentes na família, sendo 
característicos da nossa espécie. 
A matriz simbólica tem de ser definida porque dá à vida familiar substância e permite 
determinar o significado eventos familiares e constitui a base afectiva e ética da família. A família é 
um complexo afectivo, por excelência, mas também gera responsabilidade. As qualidades éticas e 
afectivas constituem-se como a espinha dorsal tanto da relação de casal como da relação parental 
como da relação genealógica. 
 
Três características da matriz simbólica: 
- Dimensão ética e afectiva 
- Qualidades éticas/afectivas como estrutura central das relações de casal (conjugal), das relações 
parentais (pais/filho) e relação estirpes (trans-geratividade, entre famílias). 
 
 
 
 - 10 -
As qualidades são confiança, esperança e justiça num sentido dialéctico - coexistem com os 
seus opostos: desconfiança, desespero e injustiça. Estes opostos ameaçam a saúde familiar. A 
família é um espaço dramático que pode gerar patologias nos familiares e nas relações entre os 
familiares. A confiança e lealdade aparecem muito interligadas, é tão importante ser digno de 
confiança como confiar em alguém, tal como manter a palavra e esperar que outros o façam. 
As relações de confiança têm dois estados: estado de incerteza e de risco, onde a confiança opera e 
estado de interdependência, que é a sua fundação relacional. A confiança tem também um código 
afectivo e ético: alguém de confiança goza de certa independência e tem poder de decisão, mas está 
empenhado em não trair a confiança da outra pessoa. Pelligra (2000) usa o termo “trust 
responsiveness” (resposta de confiança) para descrever este intercâmbio, sendo que tem como 
característica a pessoa sentir-se impelida a agir de forma a confirmar a confiança do outro. 
Apenas num clima de esperança e confiança a pessoa pode desenvolver o desejo de aprender e de 
saber. 
Num clima de desconfiança, a pessoa aprende a ameaçar e a persuadir, e sente que as forças 
destrutivas são mais fortes que as construtivas. As teorias de vinculação também enfatizam a 
importância de relações primárias baseadas em confiança no desenvolvimento da criança. 
A esperança é a procura para além de si, por isso implica intenção relacional. A esperança dá 
a capacidade de lidar com as crises que surgem com o outro, inevitavelmente e produz um impulso 
no sentido deencontrar e dialogar com o outro. Quando não há esperança, fica um meio carregado 
de ansiedade por não existir um “porto seguro” em episódios de crise. 
A justiça é um dos princípios de intercâmbio com outras pessoas. Traduz-se em leis e regras 
culturais, mas é mais que uma regra - acontece um princípio ético estar acima de uma lei. 
Boszormenyi-Nagy e Spark (1973) falam na necessidade do outro no desenvolvimento do self. A 
justiça, neste sentido, é uma Ordem humana: cada acto de (in)justiça tem um efeito psicológico, 
tanto no sujeito como na cadeia transgeracional. Os autores distinguem justiça distributiva e justiça 
retributiva, sendo que a distributiva é pré-fixa, ligada ao destino e ao que se herda das gerações 
anteriores, e a retributiva - uma espécie de balança, em que se mede o que cada elemento dá e 
recebe. Todas as acções que encerrem obrigações contraídas num nível intergeracional elevam o 
nível de lealdade na relação. A lealdade é uma qualidade relacional que se estende de forma 
invisível entre gerações e que forma o tecido que liga as famílias. 
 
Os mesmos autores (1986) afirmam ser a justiça que traz a confiança, esperança e 
compromisso. Neste sentido, confiança é uma consequência de um intercâmbio intergeracional 
justo e equitativo, tendo de ser merecida. 
A injustiça na família pode ser introduzida na família através de incesto, abusos vários, 
 
 - 11 -
indiferença ou discriminação, uma vez que não obedecem ao princípio de valor da pessoa e do seu 
direito em lhe serem prestados cuidados. 
A lealdade interpessoal é intrinsecamente conflitual, pois as pessoas podem sentir-se presas 
entre a lealdade ao cônjuge, aos pais e aos filhos. A forma de ultrapassar o conflito é evitando cair 
no “princípio diabólico”, que divide a família: pede-se que se seja leal a todos os elementos da 
família. As lealdades da família são específicas da relação que existe: especificidade na lealdade 
conjugal, com as famílias de origem, com os filhos. 
 
A família, como corpo familiar, precisa de manter o equilíbrio e de se deslocar. A estrutura 
fundamental das relações são as qualidades ético-afectivas que estão presentes em todas as relações 
dentro da família. Os dois pólos interagem de forma complexa e equilibram todas as formas de 
relação na família. Dentro destas pode-se assumir quatro dimensões fundamentais: Confiança-
Esperança (pólo afectivo) e Justiça-Lealdade (pólo ético). 
 O deve é insuficiente para sustentar uma família, é necessário haver a dimensão afectiva 
para a família não acabar. Tem que se criar um equilíbrio constante entre a dimensão ético-afectivo. 
Normalmente, só existe uma só dimensão presente, falta sempre algo (afecto ou relação entre eles e 
amparo). Sem o pano afectivo não se consegue salvar a relação, pois o dever ou o compromisso é 
insuficiente para sustentar uma relação. 
 
 Numa dimensão/pólo afectivo inclui as várias formas expressivas de relação, como a vida 
emocional. O objectivo da relação não deve ser a satisfação pessoal baseada na emotividade. 
Encontra-se, por um lado, a Confiança, que é a base de qualquer relação humana. Diz respeito ao 
amparar, "lançar para a frente", pois não pode haver afecto sem haver confiança. Erikson considera 
que o conflito do desenvolvimento humano é a "confiança vs desconfiança" na primeira etapa do 
mundo, de lançamento. A dimensão de confiança é básica, de sobrevivência e indispensável para se 
desenvolver pessoalmente. Na relação conjugal, a confiança é reciproca, na relação trans-
geracional, a confiança está implícita no passar do tempo (passado-futuro), de geração para geração 
e, por fim, na relação de amizade está ligada a projectos de vida em comum, ao amparo e procura de 
ajuda em momentos difíceis (ideia parecida com a que temos de relação de família). Por outro lado, 
encontra-se a Esperança, onde a relação Eu-Tu se baseiam. Significa uma relação projectada no 
tempo, onde tem que haver um compromisso de significados, viver a dimensão afectiva e não viver 
apenas relações intensas em pouco tempo, pois isto pode levar à dependência. 
 
 
 
 
 - 12 -
 Relativamente à dimensão/pólo ético, expressa-se através de normas e regras que são 
influenciadas pelos contextos culturais. Regula a relação parental, conjugal e entre famílias de 
origem (estirpes). A Justiça diz respeito aos comportamentos justos que possam ordenar as relações. 
Uma das imagens/mitos acerca da justiça é a "balança" = igualdade. Porém, não é equitativa, na 
medida em que por vezes pode ser injusta dependendo da pessoa. Não basta dividir em partes 
iguais, é necessário ter em conta a situação da pessoa, não significando, necessariamente, que a 
justiça na família seja de igualdade, mas sim o compromisso de cada elemento. Assim, a justiça 
realiza-se através de normas e regras (implícitas e não escritas) e do exercício das virtudes e 
valores. Assim, uma relação justa não se deve centrar apenas na perspectiva "custo-ganho" (se se 
faz uma coisa boa não se deve esperar algo em troca, é um erro que pode causar a desvinculação da 
relação). O que torna justa uma relação e acção não são os comportamentos que se tem, mas sim o 
significado que eles acarretam. A justiça está, então, ligada à dimensão de Lealdade. Não nos 
aproximamos do outro como um objecto, que não se larga (usar e deitar fora). A família é um 
objecto de transformação da sociedade, pois ataca as normas e valores da sociedade, não tendo 
liberdade para se assumir, mas é um sujeito activo, pois "dentro de sua casa" tem que se assumir e 
assumir as normas e valores que regem a família. Um grande conflito actual da relação familiar é o 
facto de lealdade por parte do parceiro, que resulta muitas vezes e ruptura, visto que a pessoa 
apenas procura a satisfação individual. 
 
 Deste modo, é necessário existir um equilíbrio entre estes dois pólos, caso contrário a 
relação pode não aguentar em situações de crise e não existindo compromisso a relação termina. 
Quando se inicia uma relação, a pessoa deve estar consciente que vai assumir um compromisso com 
outra pessoa e isso exige flexibilidade pessoal e abertura para com o outro. 
O princípio simbólico presente no relacionamento familiar desenha a vida num 
relacionamento recíproco em três pontos, sendo estes a confiança, esperança e justiça ou de outra 
forma, uma vez que há um pólo afectivo - confiança e esperança - e um pólo ético - justiça e 
lealdade - que se influenciam mutuamente. Scabini e Cigoli consideram que confiança e justiça são 
qualidades originais, não são derivadas de outras características. A matriz encontra-se latente, 
embora escondida, é o que dá ao relacionamento familiar o seu significado. 
 
 
 
 
 
 
 
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Dinâmica da troca simbólica: Dom/Débito 
 A noção de dinâmica, algo que está em movimento, é um dar e receber que não tem de ser 
equitativo, o retorno pode não ser do mesmo nível, da mesma natureza, visto que isto tornaria a 
relação num negócio, é preciso criatividade na relação. A relação é uma interacção recíproca, uma 
espécie de dança, simbolizada pelo triângulo DAR → RECEBER → RETRIBUIR = Geratividade. 
Este modelo do triângulo pressupõe movimentos circulares que não acabam (nem sempre são da 
mesma dimensão) e trata-se da base da relação conjugal e parental. Não se trata de um esquema 
autoritário (eu dou-te, tu tens que dar), pois muitas vezes pode ser motivo de conflito o facto de 
esperar o mesmo do outro e desiludir-se, causando insatisfação no casamento. Ao receber, a pessoa 
entra numa posição de dever, isto é, abre-se uma dimensão temporal e histórica, não é no instante, 
pois ninguém deve impor nada a ninguém. 
Este esquema não é simples na medida em que apresenta três tipos de abordagens: 
 
1. Teorias Utilitaristas/Sociológica e Psicossocial: a troca relacionalbaseia-se sob trocas 
equitativas, trocas distributivas (quando se dá algo a alguém espera-se reciprocidade da 
parte do outro). A relação baseia-se na expectativa de que os outros façam o mesmo e 
calculam tudo em termos de custos e benefícios. Quando o custo é muito elevado e não se 
recebe nada, pode acabar por haver desinvestimento na relação. Leva a uma dependência 
mútua baseada em custos-benefícios. 
 Crítica: Não se conseguirá ir muito longe no estudo das relações familiares sem reconhecer a 
 unicidade dos elementos que constituem o intercâmbio e o valor do laço estabelecido entre 
 eles. Apesar de ter sido tentada uma actualização, modelo está ultrapassado, tem sempre o 
 mesmo problema de ser demasiado simples e restritivo. 
 
2. Psicodinâmica transgeracional (troca sobre uma base ética): parte do pressuposto de que a 
relação constrói-se para algo, ou seja, a troca relacional está motivada para cumprir o 
próprio dever, um altruísmo protector. Numa relação mãe-filho é natural que a mãe responda 
às necessidades da criança e não espere gratificação, fica contente com a própria relação. 
Numa relação conjugal, também pode existir este altruísmo. 
 
 
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3. Tradição antropóliga-étnológica: estar remete para o sistema Dom-Débito e encara a 
dimensão da gratidão e da gratuidade. Não pode viver apenas pelo dever, o dom não pode 
ser exclusivo. As relações familiares vão para além da troca, do retorno, não de pode ficar 
preso ao quadro da obrigação e até pode nem acontecer dentro da família e manifestar-se 
noutras relações. e.g. Quando ocorrem mudanças na vida das pessoas, é aí que se vê se as 
relações têm uma base ética e se assentam na gratuidade. As relações transformam-se, mas 
continua a existir relação, pois estar grato a alguém não é uma obrigação, podemos ser 
autónomos e viver essa gratuidade. 
 
 
Dinâmica do Dom: 
 O Dom coexiste com a dívida e a obrigação (dever, tarefa), que são o oposto. O sentido de 
obrigação em retribuir implica que, quanto mais livre for o dom, maior o sentido de obrigação que 
cria. O dom manifesta-se pelo dever ou tarefa que tem de ser feita e através da dívida que é criada 
por se dar. Esta forma de ver cria ambiguidade, incerteza, assim como cria laços pode atrasar a 
criação, forçando ou negando o seu valor. Esta ambiguidade trata-se através do "Dar", da abertura 
incondicional perante o outro, da aceitação da tarefa específica (o dever ou obrigação a tomar) de 
cuidar da geração seguinte, é ao mesmo tempo um dom e uma tarefa e do "Receber", abertura 
perante o outro, reconhecer o que o outro fez e está a fazer por mim e reconhecer o quanto lhe devo 
por isso (dívida). A reciprocidade implica saber como dar e realizar tarefas na sua vez, não significa 
necessariamente dar à pessoa que nos deu, mas estende-se o conceito de dar às gerações futuras e 
participando na vida social e comunitária. 
 Em suma, o princípio dinâmico é inseparável do princípio simbólico (esperança, confiança, 
justiça) e intersectam-se. A dualidade inerente à dinâmica generacional e ao seu modo operacional 
assimétrico pode facilmente levar a que o triângulo dar-receber-reciprocidade assuma várias formas 
estáticas (repetição de violência e indiferença), levando à degeneração da relação familiar. 
 
 
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Transições familiares 
 Existe diferença entre ciclo vital e transições, sendo que ciclo vital diz respeito à ideia 
descritiva de estágios e períodos estáticos (e.g. fase de constituição do casal) ou fases "fechadas". 
As transições dizem respeito a uma nova etapa, um novo conjunto ligado a uma dimensão de 
passagem. Tem um olhar dinâmico e põe em evidência aspectos de continuidade. As transições que 
não sejam consideradas normativas (esperadas), não quererá dizer que não possam estar a acontecer 
ao mesmo tempo (e.g. estar à espera de um filho e perder o trabalho). Cada transição implica uma 
transformação, um reajuste e uma redefinição a nível do núcleo familiar (a nível individual e 
familiar). A família pode estar aberta para a mudança, para transições familiares, que pode ser 
comparadas a uma epifania, isto é, existe uma manifestação de algo que estava oculto (dimensões 
mais profundas; verdadeira natureza das relações familiares, trazendo à luz o seu carácter 
degenerativo). Nos momentos de transição onde ocorre esta passagem crítica, existem sucessivas 
etapas do ciclo vital. 
 Nos meados dos anos 70, surge esta visão de desenvolvimento ao longo do ciclo de vida, no 
âmbito da terapia familiar, com Jay Haley (1973). Ele nota que algumas dificuldades de alguns 
elementos da família podem estar a marcar uma crise de passagem, ou seja, podem manifestar 
sintomas que representem uma crise de passagem de uma etapa para outra. As passagens são um 
sinal da dificuldade da família em enfrentar a mudança, mas também são momentos propícios para 
a transformação relacional. Isto faz sentido uma vez que a família é um corpo vivo, tem uma 
dimensão relacional simbólica latente e, quando algo inesperado acontece, ocorre uma transição e 
pode despoletar uma crise (e.g. uma doença, uma morte). São estes acontecimentos que manifestam 
a qualidade das relações, podendo ser resistentes ou fracas. 
 Uma família muito coesa, ou seja, uma família onde se comunica, reflecte, onde não se vive 
isolado, poderá ser mais fácil responder às exigências da transição de um acontecimento previsível, 
mesmo que seja muito difícil (e.g. morte de um familiar idoso, eles vão comunicar entre eles e vão 
apoiar-se). Já as famílias menos coesas têm uma maior capacidade de resistir aos acontecimentos 
inesperados, porque estes criam mas confusão e não havendo muita estruturação, os elementos 
manifestarão mais flexibilidade perante a crise. 
 
Momentos fundamentais de uma transição: 
− Introdução de novos elementos (para serem acolhidos no seio familiar) enquanto pessoas – 
nascimento, casamento, filhos e filhos adoptivos, namorados, amigos dos filhos; 
− Introdução de novas experiências e demandas que precisam ser acolhidas e integradas. 
Porém, a introdução de novos elementos introduz, inevitavelmente, um estado de crise. A crise, por 
si só, não é negativa, pode também ser boa (podemos sair do que nos é seguro para nos 
 
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confrontarmos com novas experiências – experiência de crescimento. 
 
Passagem para a fase adulta → o casamento é uma transição permanente, pois tem ser que 
requestionada e reformulada ao longo do tempo. Constituir uma família é uma transição, as 
transições familiares são ancoradas a acontecimentos a acontecimentos e não a etapas (reforma), e 
estes acontecimentos pedem o reconhecimento social – a ritualização. As ritualizações são 
diferentes de família para família, de cultura para cultura e dizem respeito à forma de simbolizar e à 
capacidade de antecipar a experiência e partilhar. Visa estruturar os elementos transaccionais e pedir 
o reconhecimento social. 
 O ingresso de novas demandas/elementos provoca desorganização da estrutura familiar já 
existente. Acarreta consigo um certo mau-estar. Entrar numa nova etapa pode também querer dizer 
que nos desligamos de algo que já tínhamos (morte). Assim, Eliminar/Evitar trata-se de um tipo de 
resposta, de um mecanismo de defesa, mas mostra-se o menos incorrecto visto que faz com que as 
transições não ocorram, não se desfaz do passado. Numa transição não é necessário livrarmo-nos 
dos elementos do passado, pelo contrário, acrescentam-se e é necessário reorganizar, senão não 
saímos do velho, nem entramos no novo. Tem que haver aceitação do sofrimento para se adquirir 
novas experiências, não para o negar mas para o deixar transpor. 
 
Como se realiza uma transição? 
 
1º Período de desorganização (fase inicial: é o próprio momento, o acontecimento em pôr tudo em 
jogo, todos os acontecimentos desarrumama vida da pessoa, porque exigem adaptação por parte. 
Isto pode ser mais evidente quando a organização é mais rígida; 
2º Período de procura de respostas novas (novo nível de organização): procura de estratégias e de 
novos hábitos, de novas respostas. Isto repete-se em qualquer momento da transição; 
3º A nova Reorganização, Adaptação (reorganização relacional e sistémica; fase final): novas 
respostas, novos hábitos. A pessoa descobre aspectos em si própria e da própria família, vão-se 
revelando. Esta adaptação é também fruto de uma reestruturação. 
 
 As potencialidades desta organização, nas famílias mais coesas, terão mais dificuldade na 
primeira e segunda fase, mas têm mais capacidade de se reorganizar. Reagem melhor às mudanças 
normativas e à nova construção de identidades e demandas. Nas famílias mais frágeis, dá-se o 
contrário, devido ao tipo e "riqueza" das relações. É importante salientar que as reorganizações 
podem ser positivas ou negativas (e.g. negativa = divórcio). 
 Pode-se concluir que a transição é um período aberto e pode ser tanto de crescimento ou de 
 
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estagnação, resistência, podendo resultar numa degeneração. O período aberto é positivo porque dá 
esta oportunidade de crescimento, mas depende da família. A adaptação pode ou não ser funcional, 
mas existe sempre. A fase da procura é a mais propícia para se aplicar o suporte social e fazer 
intervenção, pois aqui já se mentalizaram que há um problema e procuram uma solução. Na 
adaptação do processo de ajuda, pode existir, mas será mais custoso porque as energias são já 
reduzidas, há menos propensão para procurar novas respostas. É aqui que, por vezes, ocorre a 
estagnação, a pessoa evita e esquece que há problema e não o enfrente. Estagnar no período de 
desorganização é quase impossível, porque ninguém aguenta constantemente estar em crise. 
 Hoje, constituir uma família permanece no ideal das gerações mais novas, pois existe uma 
grande idealização da relação conjugal e isto pode não dar certo, uma vez que pode-se não superar 
as expectativas. Este facto pode adiar o momento de decisão ou até eliminá-lo e nunca se torna o 
ideal em real. Na nossa cultura existe uma fraca ritualização, contudo esta é importante para 
celebrar, conviver com os outros e permitir a troca simbólica. A cultura conjugal passou do facto 
social para o facto individual, privado. O elemento primordial é a escolha mútua, onde as escolhas 
individuais formam a família, é tudo do foro íntimo sem ter em conta os outros elementos. 
 
Objectivos da transição: 
 Cada fase do desenvolvimento está sempre caracterizada por metas fundamentais e existem 
sempre objectivos a serem atingidos. O Modelo Transgeracional está aqui implícito, uma vez que 
tem em conta tanto a projecção do casal na formação de nova família, como considera a história 
familiar e os laços com a família de origem. 
 Cada transição requer um investimento muito grande, não é tudo automático ou 
determinado, os indivíduos é que são os protagonistas da sua história concreta. É certo que a família 
é um centro primário como matriz da formação da identidade, mas também há outras pessoas e 
contextos que influenciam, ou seja, há uma matriz simbólica relacional que nos rodeia, mas somos 
nós que nos desenvolvemos. 
 O novo casal tem tarefas de desenvolvimento a descobrir e a realizar enquanto cônjuges. A 
primeira e mais profunda tarefa dos casais novos é a construção da identidade enquanto casal, onde 
este é o ponto de partida da história conjugal. Esta tarefa de criação de identidade do casal requer 
um grande investimento no início, mas permanece sempre no pano de fundo de todas as tarefas 
desenvolvimentais do mesmo. Uma outra tarefa importante é a capacidade de reciprocidade, ou 
seja, a capacidade que cada um tem em cuidar do outro. 
 
As transições põem a nu e à prova a qualidade das relações entre os elementos da família. 
Elas evidenciam a estrutura relacional da família, com os seus pontos fortes e pontos fracos e a 
 
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forma como “atacam” a mudança; 
A dificuldade da transição está no facto de ser incerto, ambíguo e comportar riscos. Além 
disso existe sempre um elemento de perda, condição dolorosa da mudança; 
O êxito de uma transição é medido, de curto prazo ou longo-prazo, dependendo da 
perspectiva que se adopta, p.e, no divórcio, pode-se considerar uma transição a curto-prazo se 
tivermos em conta a adaptação social dos filhos, escolástico ou profissional (estudam indicam que 
se dá entre 1 ano e meio e 2 anos), e a longo-prazo caso se tenha em conta os factores relativos à 
capacidade de investir e manter uma relação. Mais concretamente, é normal sublinhar os efeitos a 
curto-prazo ao nível interactivo, ao passo que se sublinham os efeitos a longo-prazo ao nível 
relacional intergeneracional. Os efeitos a longo prazo têm sempre implicações generacionais. 
As transições-chave revelam-se na aquisição de um novo membro (casamento, nascimento, 
adopção); na perda de um membro (morte, divórcio, invalidez, falência económica) e na relação 
com o mundo social (entrada na escola, primeiro trabalho). 
 
Transição para a vida adulta: anteriormente e ainda em algumas culturas, é marcada por um ritual de 
passagem. Hoje, na nossa cultura, pode-se considerar a passagem à vida adulta no momento de 
saída de casa dos pais. Antigamente esta passagem era feita em comunidade considerado um 
momento forte, por serem sociedades mais compactas. Hoje é uma passagem individual, pouco 
ritualizada, negociável, com margem de escolha e pouco definidas (no como e no quando). 
McCubbin e Patterson (1983) falam de três tipos de estratégia de adaptação activa: 
• Evitamento - nega-se ou subestima-se o acontecimento, esperando que se resolva por si; 
• Eliminação - consiste na tentativa de se desembaraçarem do que o acontecimento traz, de 
forma a minimizar o significado para que não tenham que mudar; 
• Assimilação - é a forma mais evoluída; a família aceita a mudança para responder à nova 
exigência, mas a mudança deixa intacta a estrutura, apenas mudam parcialmente os padrões de 
interacção; 
As famílias com alta coesão e adaptabilidade parecem superar com uma certa facilidade as 
passagens de um ciclo para outro e têm mais dificuldades em superar as crises provocadas por 
eventos imprevistos; 
Já as famílias com baixo nível de coesão e adaptabilidade estão particularmente vulneráveis às 
mudanças do ciclo de vida e, em menor medida, vulneráveis aos eventos imprevistos. 
Podemos considerar uma transição como um processo: uma transição não é apenas a passagem 
de uma posição para outra, esta inclui para todos os que estão envolvidos e uma tarefa de 
desenvolvimento. 
 
 
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Transição para a Relação Conjugal 
 
A relação conjugal está fundada sobre um pacto de confiança. O pacto exprime o pólo ético e a 
confiança exprime o pólo afectivo. A relação conjugal une homem e mulher, diferentes entre si mas 
complementares, vindos de realidades totalmente distintas. 
A relação conjugal tem uma tensão constitutiva: a reciprocidade é o encontro com a diferença 
do outro (cônjuge com a sua história e personalidade) e, ao mesmo tempo, é o reconhecimento de 
uma semelhança estrutural (condição enquanto pessoa) - a outra pessoa é condição para ser-se si 
próprio. 
A norma de reciprocidade que rege o pacto conjugal é mais que uma mera igualdade de 
condições sociais e simetria: não é só justiça distributiva nem pesagem de custos-benefícios, sendo 
que inclui também a entrega de um ao outro e confiar-se ao outro. 
O dever do desenvolvimento da relação conjugal é que cada um cuide do outro na sua unicidade 
e diferença (espécie de paradoxo de um dever que passa através do dom). 
A confiança é o outro ingrediente da relação conjugal, uma vez que permite o crédito ao outro,transformar a sedução em confiar-se ao outro e construir e manter um relacionamento exclusivo. 
Sem confiança o pacto torna-se um contrato frio. Sem o pacto, a confiança torna-se uma 
abertura de si de risco, porque está apenas ligada ao sentimento e à emoção. O pacto conjugal, para 
além da dimensão consciente e explícita (traduzida na promessa de fidelidade), tem também uma 
dimensão inconsciente: é o matrimónio “secreto”. O matrimónio secreto é constituído por um 
conjunto de necessidades e temores, valores, ideais e expectativas que os dois transportam da sua 
história pessoal e familiar e que ambicionam satisfazer na sua relação. Assim, o laço é constituído 
pelo registo ético (pacto declarado) e pelo registo afectivo (pacto secreto). 
O objectivo desta transição é conseguir que o pacto conjugal seja construído e que actue e 
mantenha viva a confluência entre o pacto secreto e o pacto declarado, ou seja, criar e manter um 
terreno tanto afectivo como ético (ético-afectivo), capaz de exprimir tanto as características desse 
pacto como as características do casal. Cada fase do desenvolvimento está sempre caracterizada por 
metas fundamentais e existem sempre objectivos a serem atingidos. Falamos num modelo 
transgeracional, pois tem em conta tanto a projecção do casal na formação de nova família, como 
considera a história familiar e os laços com a família de origem. 
 
 
 
 
 
 
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Todas as transições têm tarefas de desenvolvimento a que os membros da família são chamados 
a assumir. Neste caso, surgem tarefas do eixo conjugal e do eixo intergeracional: 
 
• Tarefas enquanto cônjuges - Construir a identidade de casal através da reciprocidade e 
superando a auto-referência. A primeira tarefa do casal é o desenvolvimento de uma identidade de 
casal. Realiza-se sob duas condições: a primeira dada pela capacidade de reciprocidade, traduzida 
na capacidade que cada um tem de cuidar do outro na sua unicidade e diferença e a segunda é saída 
dos dois de uma perspectiva auto-referencial, existindo sempre um sacrifício narcisista. 
Como é que duas pessoas se tornam um casal? Hoje em dia, ao nível de papéis de cada um dentro 
do casal, pode-se dizer que estão em constante renegociação. A eficácia das negociações depende 
da medida em que estão fundadas numa relação de reciprocidade a longo prazo e sobre a 
responsabilidade conjugal. Desta forma conseguirão resistir às situações de desencanto e 
implementa-se uma relação de amor em vez de enamoramento. O amor conjugal é uma condição de 
sustentação um do outro e de cooperação que permite que o outro a obtenção benefícios comuns. 
Saída da perspectiva auto-referencial: exige que a pessoa “saia de si” e se torne“gerativa” (dar); 
exige que a relação venha a ter um terceiro (tu-eu-casal e eventualmente filhos); é importante no 
projecto conjugal a projecção de iniciação de família. Há estudos que indicam que nos casos em que 
não há um projecto neste sentido a tendência é para que sejam dois jovens adultos casados com as 
suas vidas paralelas. 
 
• Tarefas enquanto filhos - Diferenciar-se e distinguir-se das famílias de origem, actuando ao 
mesmo tempo um novo tipo de laço com as famílias. Quando alguém se casa é chamado a lidar 
com o “conflito” de lealdades no novo sistema familiar. O casal constrói a sua identidade 
diferenciando-se/distinguindo-se das famílias de origem e tendo um novo tipo de laço com as 
famílias. Mas pode acontecer que o casal veja as respectivas famílias como garante de estabilidade: 
a intervenção das famílias é vista, por vezes, como fonte de estabilidade e segurança (em particular, 
pode vir da relação entre mãe e filha). 
No pólo oposto, temos as situações em que há o mito da autonomia total, que implica muitas 
vezes um corte relacional entre gerações (EUA e norte Europa): aqui o casal pode ter um problema 
de negação da necessidade de apoio. 
A distinção do casal (deixando de ser uma extensão da sua família de origem) existe quando 
os cônjuges são capazes de construir um estilo de relação, a partir das modalidades aprendidas na 
família. Implica que os dois assumam a tarefa de iniciar e continuar um processo de regulação das 
 
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distâncias com a família de origem e se redefinam as relações com estas e iniciando novos 
processos entre si. 
Processo de distinção do casal: ambos se relacionam com o modelo de casal da sua família, 
por identificação ou por oposição ao tipo de relacionamento existente. o relacionamento de casal 
interiorizado, mediado pela cultura e pela família, é a base das experiências que o casal vai vivendo. 
 No inicio, os confrontos em relação às famílias de origem serão sempre em maior número pela 
adaptação a que os novos processos obrigam. À medida que o tempo passa, surgem naturalmente 
outras transições, que os levam a deixar esses confrontos naturalmente. A partir daqui, o casal está 
unido por uma história em comum, de experiências e eventos únicos que enfrentou. O casal já se 
distingue e “toma posse” da sua unicidade. Sabem reconhecer que é aquela a sua história e não 
outra qualquer. 
Ainda em relação às famílias de origem, a forma como se individuam tem a ver com as 
experiências pessoais. Assim, é comum afirmar-se que casais jovens que tenham vivido 
experiências de conflito dos pais são um problema na construção da identidade. Mas o contrário 
pode levar a uma idealização do relacionamento dos pais, que pode trazer problemas pois sente-se 
facilmente inadequado e luta contra os problemas conjugais que possam surgir. 
 
• Deveres permanentes em transição - Relançamento da conjugalidade nas transições ao longo da 
vida. A tarefa específica do casal que se pode definir como permanente em qualquer que seja a 
transição é o relançamento da conjugalidade nas passagens chave da sua vida. Significa lidar com 
os desafios que lhe são colocados e reformular o pacto conjugal ao longo do tempo. A 
conjugalidade é uma dimensão que acompanha todo o desenvolvimento da vida familiar, sendo que 
está sujeita a muitas transições que levam o casal a assumir novas tarefas para a realização dos 
objectivos que vão surgindo. 
 Segundo Froma Walsh: “As pessoas precisam de três matrimónios: na juventude de uma 
amor romântico e apaixonado; para elevar os filhos, de um relacionamento com responsabilidades 
repartidas; mais tarde, na vida de um relacionamento com um(a) companheiro(a) com uma forte 
capacidade afectiva e que olhe por si.” 
O objectivo da transição para a conjugalidade não é algo a ser tomado de ânimo leve pois 
pressupõe que o casal será capaz de relançar o pacto perante as transições que irá viver e as crises 
que comportam. 
 
 
 
 
 
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Modelo circunflexo de funcionamento do Pacto conjugal 
 
 As famílias procuram reconhecimento, pois trata-se de uma necessidade intrínseca. No 
projecto de vida generativa, o primeiro passo é o pacto conjugal, isto é, sair da família de origem e 
começar um projecto novo, uma transição para um novo começo. Se recorrermos à etimologia da 
palavra "pacto", esta deriva do latim "Pax" que significa paz, pois estabelece-se um compromisso 
de paz e colaboração com o futuro e lançar bases de um projecto que terá continuidade. Esta 
dimensão de paz implica uma aliança e tem como objectivo a união e o apaziguamento. Quando se 
decide constituir uma família criam-se alianças entre duas culturas que se unem para desenvolver 
um projecto comum. O compromisso é recíproco e pressupõe um dar e receber de todos os 
participantes e quando isto não acontece há um desequilíbrio no pacto, pois a fidelidade e 
viabilidade do mesmo depende do investimento dos elementos perante tal. 
A noção de casal e de cônjuge é diferente, visto que o primeiro diz respeito a duas pessoas 
não necessariamente casadas e o segundo diz respeito a duas pessoas casadas. Estadimensão dá 
consciência do que é ser cônjuge (fenómeno). A consciência de escolher um projecto de vida 
afirma-se muito tarde, a partir do século XX. Também a dimensão do namoro é agora importante, 
pois é considerado um período de espera para verificar se o projecto é possível, criando condições, 
mas não é um pacto definitivo. O projecto implica, portanto, sair de casa dos pais e uma aceitação 
da vivência da intimidade e a abertura ao nascimento, para passar a uma família. 
 
• Elementos que possam sustentar a viabilidade do pacto: 
 Há pactos que sustentam princípios maus, de forma perversa, formas estas que estão a ser 
socializadas. Para além da realidade observável, há um outro nível mais profundo que organiza o 
nosso comportamento e escolhas: as motivações inconscientes, não porque escondido, mas o que 
está por debaixo da consciência. Assim, existem dois níveis de pacto: o Declarado e o Secreto. Cada 
casamento alicerça-se sobre estes dois níveis, mesmo que seja uma união de facto. 
 A construção do pacto conjugal é a tarefa de transição para a vida conjugal. A relação 
conjugal está fundada num pacto de confiança, tendo no casamento o seu acto explícito. Neste 
sentido o matrimónio representa o símbolo da transição, que se explicita através do rito (seja qual 
for). A expressão pacto de confiança compreende em si tanto o lado ético como o lado afectivo da 
relação. O pacto funda e regula a relação, sendo então o regulador relacional e tem como elementos 
constitutivos a atracção mútua, o consenso, consciência de ambos, o empenho em respeitar o pacto 
e o delineamento de um fim (objectivo). A relação é um pacto de confiança porque há um 
compromisso, mas antes há uma escolha que não é aleatória, não acontece por acaso. O indivíduo 
escolhe a relação e depois assume o compromisso. A relação conjugal assume também uma 
 
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dimensão de contrato, pois existe um investimento de cada elemento. O pacto conjugal é um pacto 
de reciprocidade que tem uma estrutura dramática, porque a reciprocidade põe em jogo cada um dos 
intervenientes, é uma dimensão em acção, em movimento. Esta reciprocidade do encontro tem duas 
facetas, uma mais consciente, mais racional, de fundamento cognitivo – Pacto Declarado; e outra 
mais inconsciente, mais profunda – Pacto Secreto. 
O pacto declarado dá uma atenção especial à valência ética do vínculo, exprime-se na 
promessa de fidelidade e é uma obrigação a que se comprometem perante a comunidade. Nas 
relações de facto “evita-se” a obrigação recíproca formal e o testemunho social. Vai-se mais ao 
valor absoluto da escolha recíproca. 
 O pacto conjugal não se esgota na formalidade da declaração pública e explícita. Do ponto 
de vista psicológico, sustenta-se com o pacto secreto é a união inconsciente (uma base afectiva) da 
escolha recíproca. 
A parte da atracção entre o pacto declarado e o pacto secreto é um misto de necessidades e 
de esperanças, entre outros, com que os dois procuram lidar no seu relacionamento. Esta “mistura” 
vai-se ligando na história progressiva dos dois e nos modelos de identificação com os familiares, 
tanto ao nível individual como ao nível de “corpo-grupo”. A síntese do aspecto secreto 
(inconsciente) do pacto e da escolha é “eu caso, em ti, com isto e tu casas, em mim, com isto”. O 
pacto tem motivos múltiplos e articulados, mas o núcleo duro exprime as exigências afectivas e 
relacionais fundamentais da pessoa, sobretudo os aspectos protectivos e os aspectos de renovação 
do laço. Isto significa que cada um leva o que é seu para a construção da relação. A relação também 
é a sua combinação de necessidades, desejos e medos numa parte inédita, que leva à unicidade do 
casal. 
 
Trajectória do desenvolvimento dos pactos: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Pacto Secreto 
 Os extremos deste pacto são a impraticabilidade e a rigidez. Normalmente, o pacto secreto 
muda, no sentido de um maior reconhecimento do outro. Este diz-se “conseguido” (atingido, mas 
não estático) quando é possível pô-lo em prática, ou seja, quando os dois são capazes de satisfazer 
necessidades afectivas recíprocas. Isto é possível quando é flexível (pode ser relançado ou 
reformulado), segundo a mudança das necessidades e das expectativas das pessoas ao longo da vida. 
Passa-se, na mudança, de uma dinâmica de “caso com isto em ti” para uma dinâmica de “caso 
também com isto em ti”. O nível de expectativas deste pacto é muito alto e existe uma grande 
idealização, quando se confronta com a realidade pode levar os casais a nem tentar e a não investir 
na relação. Este pacto representa a componente complexa e inconsciente, sobre uma base afectiva 
que sustenta a escolha recíproca. Este é mais ligado ao pólo afectivo da relação, tocando mais na 
dimensão emocional. Não se deve confundir este com um pacto não revelado à sociedade, pois o 
secreto é mais próximo das necessidades, sendo que é constituído por elementos presentes nas 
motivações das mulheres dentro do casal, ou seja, não está totalmente consciente. ". Está implícito a 
atracção física, emocional e dimensões profundas que fundamenta a relação. Quando estas 
sensações diminuem, as pessoas sentem que o projecto já não tem futuro – sensação de ruptura. 
Acontece que, quando este pacto ou esta dimensão dos afectos diminui, acha-se que já não tem 
sentido terem um projecto de vida. A dimensão deste pacto implica a dimensão de flexibilidade e de 
crescimento, tornando-a numa tarefa contínua. Este tem como base exigências às quais tentamos 
responder dentro de uma relação, nomeadamente de protecção e de renovação. Numa situação de 
desilusão, experienciamos o sentimento de que o pacto já não tem sentido. 
 
Impraticável: o pacto secreto é impraticável quando as necessidades afectivas dos dois são 
constantemente rejeitadas. Isto é típico de uma relação onde haja um domínio de um e submissão do 
outro. Assim, este pacto, é caracterizado pela manipulação, violência e indiferença. O pacto secreto 
impraticável acaba por ser uma situação em que o pacto em si não existe porque a compreensão é 
nula e o intercâmbio impossível. Este apresenta uma forma de viver bastante dolorosa, sendo que a 
conflitualidade é muito intensa, pois discute-se sobre tudo e, até mesmo depois de divorciados os 
conflitos prevalecem. A relação é construída sobre o conflito e sobre a desconfiança mútua, e torna-
se irracional porque as motivações são muito profundas. O único objectivo é a destruição do outro, 
sendo que a chantagem é elevada, não existindo qualquer outra perspectiva. Acontece quando as 
expectativas ou exigências de um não vão de encontro às do outro. A relação fundamenta-se no tipo 
“infernal” e numa acção punitiva pela parte de ambos, ou seja, nenhum dos dois consegue cortar a 
relação, sendo crida uma dependência, como por exemplo, nas relações de violência conjugal. 
 
 
 - 25 -
Praticável: baseia-se sobre o respeito e o reconhecimento das necessidades de ambos. Ambos fazem 
as coisas sem esperar nada em troca - ponto máximo do Pacto Secreto. 
 
Rígido: não há o relançamento e a evolução do pacto, conforme as novas necessidades dos dois. 
Não existe a incorporação da mudança de necessidades afectivas de um no outro, pelo que se ficam 
pelo pacto secreto original, sendo que o laço tende a desvanecer. Este pacto acontece quando as 
expectativas profundas do pacto secreto permanecem acima da cabeça e a pessoa vive numa 
constante desilusão. Acontece quando não há possibilidade de mudar, ou seja, as exigências 
estagnam e volta-se ao primeiro nível, não havendo “espaço” para a relação crescer. Há sempre um 
que cuida e outro que executa, ou seja, um é a pessoa má e o outro é a vítima, sendo que a vitima 
não faz nada para deixar de o ser. Estes casos são frequentes, de nada serve alterar os 
comportamentosexteriores, se não tentamos contornar os comportamentos e os pensamentos 
interiores (recorrentemente leva às situações de divorcio; a relação, como não foi cuidada, congelou 
e já não há capacidade de reconhecer as características da pessoa enquanto amável). Há uma 
impossibilidade de investir, pois as pessoas já não conseguem recomeçar perante as adversidades da 
vida. 
 
Pacto Declarado 
 Tem como extremos a formalidade e a fragilidade (pouco consistente). Neste, denota-se uma 
dedicação de ambos perante o laço criado. Este não é apenas a formalização da ritualização (e.g. 
casamento). Está na base de qualquer relação duradoura. Nele encontram-se as motivações 
conscientes explícitas que transformam um encontro num projecto, nem que seja um projecto de 
vida de fim-de-semana, para começar a realizar uma relação ou um projecto de vida. Este é muito 
significativo para o projecto de vida, sendo que ambos podem investir muito no trabalho durante a 
semana, mas ao fim de semana dedicam-se a investir na relação, não deixando de ter um projecto de 
vida. As motivações conscientes são aquelas que sustentam a escolha, sendo que se baseiam muito 
mais nas dimensões éticas da escolha recíproca, como a lealdade e a confiança. Neste está implícita 
uma promessa de fidelidade, uma vez que começamos a história porque lhe queremos dar 
continuidade, e não acabar com ela. Existe um desinteresse da sociedade relativamente a este pacto 
pois pensam que apenas diz respeito ao fórum íntimo e privado, logo, pensam que não devem 
intervir. 
Este não se baseia apenas na ritualização (casamento), implica também motivações 
conscientes para começar um projecto de vida ("eu escolhe-te e tu escolhes-me") que transformem 
em encontro num projecto de vida, consolidando numa escolha recíproca (dimensão ética-lealdade e 
confiança). Está implícita uma promessa de fidelidade, sustentando uma relação contínua. É 
 
 - 26 -
necessário haver uma responsabilidade por parte da sociedade, não é apenas um facto privado da 
intimidade do casal. Mas cada vez é dada menos importância a este factor (testemunhas do 
casamento). 
 
Formal: quando há um projecto com áreas delimitadas (e.g. projecto de fim de semana). Implica 
estar junto de alguém, mas os projectos são individuais, com um contrato com regras estabelecidas 
em que pode haver uma ruptura. Este será como um contracto, permitindo mais facilidade para 
rescindir o contracto, uma vez que as regras foram estabelecidas desde o inicio da relação. Não 
envolve a dimensão afectiva-expressiva. Verifica-se quando não há investimento na relação de 
casal, está muito próximo do pacto declarado e o pacto secreto é quase inexistente. Ambos têm a 
sua realização pessoal, mas há um vazio, nem sequer têm razões para entrar em conflito e nunca se 
constrói um "nós" de identidade pessoal. Existe uma indefinição muito forte acerca do que se quer 
(se querem ser solteiros ou casados). 
 
Assumido: É assumido conscientemente, quando é querido e interiorizado a nível cognitivo e 
afectivo. Há dedicação dos dois ao laço criado, e abrange os aspectos individuais (fusão). 
 
Frágil: é quando nem existe investimento pessoal e nem a pressão social é suficiente para manter a 
formalidade da relação. Mas não é um pacto com grande conflituosidade. O projecto tem pouca 
consistência e a escolha recíproca tem pouco empenho par parte de ambos, ou seja, há um pobre 
investimento na relação. Não existe investimento pessoal nem pressão social e é suficiente para 
manter a formalidade da relação. 
 
Existe sempre um pacto declarado? Ele pode existir mas sendo muito frágil a ruptura é quase 
inevitável. Mas se houve uma união, então existiu um pacto que pode ser secreto. Este pode resultar 
de motivações inconscientes, mesmo sendo as motivações conscientes ocasionais e pouco 
racionalizadas, há de certeza motivações intrínsecas. 
 Estes dois Pactos devem estar sempre em interacção constante para poder haver um 
equilíbrio saudável, e para que haja este equilíbrio o casal não se deve centrar num só pacto. A 
relação não é apenas um contrato, é necessário haver afecto, respeito e reciprocidade. O pacto 
assumido (Pacto declarado) e o pacto praticável (Pacto Secreto) não são perfeitos, são apenas os 
mais saudáveis e equilibrados, vistos como percursos de investimentos. Estes não se separam, pois 
as relações verdadeiras são vivas se houver investimento contínuo nelas. 
 
 
 
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Se o pacto for assumido pelo casal e praticável a nível das expectativas, a relação não se 
desmorona, mas obriga a uma reestruturação. Tem que haver um equilíbrio, em diferentes 
momentos, um dos pactos pode ser mais evidente, pois são os momentos de crise que fazem mover 
energias e o conhecimento do próprio e do outro. Este constante conhecimento torna o pacto vivo e 
não o cristaliza, sendo que tem que existir um compromisso para que o pacto se torne praticável. 
 A pessoa tem que sair da posição individualista e auto-centrada pois se a pessoa fica 
desiludida com o projecto vai querer desfazer o contracto. Assim, o casamento dura até que as 
motivações pessoais o sustentem, sendo que isto fragiliza o próprio pacto. Numa relação sadia, o 
casal sustenta-se reciprocamente, o pacto secreto pode tornar consistente o pacto declarado e este, 
por sua vez, torna conscientes as expectativas do pacto secreto. O desejo de algo individualmente 
idealizado pode levar ao fim da relação, assim, o pacto declarado não pode ser nem demasiado 
idealizado, nem demasiado frágil. 
 
Factores relativos aos eixos da família alargada e da rede de amigos 
Inclui tanto as famílias de origem como a rede de amigos dos elementos do casal. Autores como 
Surra e Di Nicola põem em evidência o facto de as famílias e os amigos se englobarem numa rede 
comum do casal (sobreposição das redes), que caracteriza a fase de consolidação do casal (através 
do reconhecimento e legitimação do casal). Há estudos diversos que indicam que durante os 
primeiros tempos de vida do casal se verifica um distanciamento da rede de amigos e da rede 
familiar extensa. A distância responderá à exigência de recuperação de energias de cada elemento 
do casal, de tempo de investimento na identidade de casal e de definição de limites com as outras 
relações. Quer dizer que há um movimento duplo: em direcção à inserção do casal nas redes 
familiar e de amizade e em direcção ao objectivo de garantir unicidade e especificidade da relação 
do casal. Tornam-se perigosos os excessos de envolvimento com as famílias de origem e com as 
redes de amizade, mas também o isolamento do casal. 
A rede de relações primárias tem diferenças ao nível do género, sendo que o relacionamento 
entre a mulher e a sua família de origem tem um papel crucial para a relação conjugal. Há uma 
influência significativamente mais forte por parte da família sobre as escolhas afectivas das filhas 
do que dos filhos e influência (indirecta) sobre o modo como o casal vê a qualidade do seu 
relacionamento. 
Segundo Wamboldt e Reiss (1989), as mulheres vindas de famílias com um alto nível de 
expressividade são capazes de chegar a um nível de satisfação conjugal maior (o casal) e maridos de 
mulheres vindas de famílias com um alto nível de conflitualidade expressavam maior insatisfação. 
Curioso verificar que o contrário não sucede, o facto de o marido vir de uma família conflituosa não 
parece ter repercussões no grau de satisfação. 
 
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Transição para a Parentalidade 
 
Sempre que se fala em transição, está-se a referir a um processo. Do ponto de vista psicológico, 
só se tornam pais depois do nascimento do filho e experiências consequentes, não basta nascer o 
filho. Trata-se, então, de um mudança inter-geracional que implica reajuste e transformações em 
todos os membros da família. Esta transiçãotem sofrido alterações e existem 4 alterações 
importantes: 
− Maior raridade deste evento, ter filhos tornou-se ter filho: sobretudo no sul da Europa o 
índice de fertilidade está em mínimos históricos (cerca de 1,32/mulher em Portugal – 2009); 
culturas ocidentais onde a natalidade está em proporções trágicas em relação ao 
envelhecimento); 
− Experiência da parentalidade cada vez mais tardia, é-se pai/mãe cada vez mais tarde: cada 
vez mais se adia o nascimento dos filhos ou se escolhe não os ter; cada vez mais conjugal e 
parental são exercícios diferentes: antigamente era visto como um exercício garantido 
decorrente do casamento. 
− A experiência da parentalidade é escolhida: é pensada, não é automática; é um evento cada 
vez mais escolhido: sabemos hoje como programar, impedir, ajudar a conceber; torna-se 
mais produto da vontade do casal; mudanças psicológicas no processo: antigamente estava 
associada incerteza e repentismo hoje temos controlo quase “omnipresente” e de rebeldia 
contra o destino. No passado, a experiência da parentalidade era natural, passiva, acontecia e 
fazia parte da experiência da pessoa, era automático. 
− Por ser uma escolha dos pais, o filho torna-se facilmente uma forma de o adulto se realizar: 
o casal já não casa com o intuito de ter filhos – fase da nova parentalidade (novos desafios e 
expectativas); o filho escolhido pode estar “condenado” a grandes expectativas; há o risco 
de vir a ser um modo de realizar os pais em vez de ser um valor autónomo por si (valor da 
pessoa) – o problema da posse; a flexibilidade de papéis é muito alta, por exemplo, a 
parentalidade não é só feminista, a divisão de papéis entre o pai e a mãe já não é tão 
estereotipada como antigamente. 
 
 Actualmente, há uma falta de equilíbrio no que diz respeito ao pensamento das decisões dos 
casais em querer ter filhos ou não (poder de controlo da geratividade). Por um lado, há um grande 
investimento para ser pai/mãe (auto-reconhecimento) e, por outro, encontram-se muitas crianças 
órgãos. Hoje em dia esta experiência é vista como forma de auto-realização ("já fiz o que devia"). 
Do ponto de vista de Bowlby, uma boa vinculação torna a família numa boa base. 
 
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A parentalidade exprime-se nos cuidados responsáveis. Os cuidados estão no pólo afectivo e 
a responsabilidade pertence à esfera ética. O cuidado responsável está incluída no carácter 
hierárquico da relação parento-filial, isso quer dizer que toca às gerações precedentes responder 
pelas condições mentais e materiais que criam para as gerações sucessivas. O cuidado responsável é 
uma tarefa conjunta, mas simbolicamente pode-se ligar o pólo afectivo à função materna e o pólo 
ético à função paterna. No pólo afectivo, o elemento confiança é central da função materna, exprime 
o aspecto incondicional das relações familiares (dinâmica dom-dever) e é bastante evidente na 
relação mãe-filho. O filho é o sujeito dos cuidados e digno dessa confiança, independentemente do 
nível das suas respostas. Ao nível psicológico, os cuidados correspondem à transmissão da vida. o 
oposto, a morte, corresponde à falta de cuidados - p.e., violência e abandono. 
O outro pólo é o da justiça (ético), elemento central da dimensão paterna. Expressa-se nos 
valores-guia, normas educativas, importância da aprendizagem e tradições a respeitar. É violado 
(injusto) quando a responsabilidade não é exercida (abandono) ou se inverte (parentificação de um 
filho). 
 
Objectivo específicos da parentalidade 
Primeiramente existe uma diferença generativa, ou seja, os filhos são uma nova geração e 
não um prolongamento dos pais, principalmente no contexto cultural em que vivemos. Hoje, a 
parentalidade é um evento único, escolhido e carregado de expectativas por parte dos pais e onde 
estes podem projectar no outro os próprios desejos não conseguidos. Cada pessoa que vem ao 
mundo está inserida numa história, a criança tem um sobrenome de família. Se a criança for 
abandonada ou não reconhecida está-se a comprometer todo o seu desenvolvimento. 
 Hoje a geração dos avós é muito importante e muito carregada de expectativas, quase 
necessariamente têm que cuidar dos netos e, por vezes, até ser pais. 
 Antigamente, dava-se separação do papel maternal e paternal, a mãe cuidava dos filhos e o 
pai não interferia. Hoje, procura-se uma não distinção dos géneros, ambos têm que contribuir para a 
criação do filho. A mãe está sempre mais próxima do filho, preocupa-se com tudo, está sempre a 
cuidar dele e este facto pode levar a uma relação de dependência do filho. Para equilibrar este nível 
afectivo exagerado, deveria existir o papel paternal, deve haver um outro sujeito para balizar esta 
dimensão. Erikson fala em diversas formas de cuidado que qualificam o desenvolvimento pessoal 
de cada um ao longo da vida: 
• Início da adolescência - preocupação em fazer e em ser; 
• Adolescência - desenvolve-se o interesse pela relação; 
• Vida em conjunto - desenvolve-se a capacidade de gerar. 
 
 
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O objectivo da transição é o desenvolvimento por parte do casal, da capacidade de gerar, 
que inclui a capacidade de se preocupar e de ter os cuidados necessários com quem foi gerado. Mais 
concretamente, passa pela assumpção da responsabilidade parental conjunta. 
o casal dá origem e desenvolve um pacto parental (cuidados responsáveis): liga-se mas distingue-se 
do pacto conjugal. Uma vez mais, este pacto não se desenvolve de forma automática, isto é, precisa 
de tempo e de energia. O filho é fruto do eixo intergeracional e fruto da relação de casal, mas 
transcende ambos: reconhecimento de um espaço de pensamento e de acção próprios. 
 
Construção do Pacto Parental 
O casal cumpre um processo no sentido de cumprir os cuidados responsáveis que deve ao 
filho. Desenrola-se em duas dimensões: 
• 1ª Dimensão: enfatiza os conteúdos do empenho e do cuidado parental; 
• 2ª Dimensão: modo como os pais entram em relação e se representam ou não o laço com o filho 
enquanto filho. 
É entre as duas dimensões que são geridos os limites na relação com o filho. A primeira 
dimensão tem como trajectória a alteração do centro da relação e passa do aspecto afectivo na 
relação com o filho para uma regulação equilibrada das modalidades das relações, tanto sob matriz 
materna como paterna. A segunda dimensão é a passagem de uma visão auto-centrada do filho para 
uma visão mais hetero-centrada, isto é, o filho passa de ser visto pelos pais como expressão de uma 
realização pessoal e de casal para uma visão de uma nova geração, a nível pessoal e familiar. Logo 
após o nascimento, os cuidados consistem sobretudo em assegurar protecção contínua. 
 O objectivo da relação é a criação de uma base segura que permita que a criança vá 
regulando as suas funções psicofísicas, na relação com os pais e com o meio – vinculação. 
A competência parental está radicada na história pessoal dos pais, nos estilos de vinculação e nos 
modelos operativos elaborados ao longo das suas vidas. 
 Nesta altura a presença da criança compensa as dificuldades iniciais de cuidados constantes. 
O prazer na relação é muitas vezes subavaliada ou visto como uma forma imatura de cuidar da 
criança, mas o prazer existe na relação com a criança e predispõe para a confiança na relação. Caso 
não exista é sinal de dificuldades relacionais com o filho. À medida que o filho cresce, os aspectos 
de responsabilidade dos cuidados a ter com a criança adquirem uma posição mais central em vez da 
afectividade. Nesta altura os pais têm como tarefa criar um contexto seguro e ao mesmo tempo 
orientá-lo no seu crescimento. O facto de o filho ser totalmente dependente dos seus pais favorece a 
consolidação de um laço fundido, em que os confins de progenitores e filho são permeáveis e 
indistintos. O filho é sobretudo concebido como pertencente aos pais - uma realização.

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