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Gerenciamento Ambiental nas Empresas 1 Gerenciamento Ambiental nas Empresas Profª Drª. Danielly Godiva Gerenciamento Ambiental nas Empresas 2 Introdução 3 Passivos Ambientais 4 Aspectos da Legislação Ambiental 6 Sistema de Gestão Ambiental nas Empresas 8 Princípios e Elementos Básicos do SGA 9 Implementação do SGA 10 Avaliação Ambiental Inicial 13 Certificação 16 Selo Verde 18 Aplicação da Agenda 21 em Gestão Ambiental 18 Bibliografia 20 SUMÁRIO Gerenciamento Ambiental nas Empresas 3 INTRODUÇÃO Apesar de não ser recente, e de já ter sido tratada por muitos no passado como uma questão ideológica de grupos ecologistas que não aceitavam a sociedade de consumo moderna, a preocupação com a preservação ambiental assume hoje uma importância cada vez maior para as empresas. Um aspecto importante de ser observado na questão ambiental contemporânea é o grau de comprometimento cada vez maior de empresários e administradores na busca de soluções ambientalmente adequadas para os problemas da produção, distribuição e consumo de bens e serviços. Nestes últimos quarenta anos, desde a Conferência de Estocolmo de 1972 que inseriu a questão ambiental de forma prioritária e definitiva na agenda internacional, os problemas ambientais mudaram de significado e importância, e estão cada vez mais presentes nos diferentes elementos que influem nas decisões empresariais. No que se refere à importância, é nítido ver a incorporação crescente das preocupações ambientais em todas as grandes questões estratégicas da sociedade contemporânea, algo que não ocorria há algumas décadas. Por outro lado, em termos de significado, a questão ambiental passou a não mais ser tratada, mesmo nos meios empresariais, apenas como uma “agenda negativa”. Com o passar dos anos, sobretudo a partir da década de 80, o surgimento de novos conceitos - como o Desenvolvimento Sustentável e o Ecodesenvolvimento no campo das teorias de desenvolvimento, da Produção Mais Limpa e do Gerenciamento Ambiental da Qualidade Total (TQEM) no campo empresarial, dentre outros - foi acentuando os vínculos positivos entre preservação ambiental, crescimento econômico e atividade empresarial. Assim, a questão ambiental, gradativamente incorporada aos mercados e às estruturas sociais e regulatórias da economia, passou a ser um elemento cada vez mais considerado nas estratégias de crescimento das empresas, seja por gerar ameaças como também oportunidades empresariais. Pensamento Econômico e Meio Ambiente Inicialmente, o pensamento econômico que prevaleceu do século XVIII até a década de 60 do século XX, baseava- se na concepção de que a natureza é uma fonte infinita de recursos físicos (matéria-prima, energia, água, solo, ar, entre outros) a ser utilizada para o benefício do ser humano e um sumidouro infinito para os subprodutos decorrentes do consumo destes recursos. Nesta fase, a economia era separada do meio ambiente - conceito de “fronteira” econômica, em que os recursos fluem do ambiente para a economia e os rejeitos fluem de volta da economia para o meio ambiente. A natureza era vista como existindo a serviço do ser humano, para ser explorada ou modificada conforme a necessidade. O importante era o crescimento econômico, desconsiderando qualquer deficiência estrutural deste sistema. Esta visão predominou enquanto a escala de produção foi suficientemente pequena para que o meio ambiente pudesse ser considerado com capacidade “infinita”. Quando os limites de regeneração do meio ambiente foram ultrapassados, os efeitos deletérios desta política começaram a ser percebidos. Diante destas novas perspectivas, surgem gradativamente diferentes pensamentos, conhecidos como: ecologia radical, crescimento zero e crescimento continuado. Contrária à economia de fronteira, a ecologia radical propõe um novo sistema de valores no relacionamento entre o homem e o meio ambiente, com retorno a um estilo de vida pré-industrial como forma de promoção da harmonia entre o homem e a natureza, como uma “volta às origens”. O enfoque já não era mais a busca do crescimento econômico, mas enfatizava a preservação das bio- regiões, das tradições locais, buscando a simplificação das necessidades materiais, a auto-realização e a ciência não- dominadora. User Realce User Realce User Realce Gerenciamento Ambiental nas Empresas 4 Neste caso, o ser humano está em posição de subordinação ao meio ambiente, propondo uma alteração nos rumos do desenvolvimento de tal magnitude que seu posicionamento pode ser considerado utópico. O “crescimento zero” tem sua abordagem baseada nas conclusões do estudo do Clube de Roma. Diante da possibilidade de escassez generalizada de recursos em função de limites absolutos para o crescimento continuado, propunha a defesa do meio ambiente por meio da cessação imediata do crescimento, enquanto se elaborava um “novo modelo de desenvolvimento” - neo-Malthusianismo. Diante da polarização entre Economia da Fronteira x Ecologia Radical, identificou-se a necessidade de construção de um crescimento continuado que visassem soluções de compromisso com a proteção ambiental. Surge então a preocupação em proteger o homem da poluição, por meio do “controle do dano” e da institucionalização dos Estudos de Impacto Ambiental (EIA) e Relatórios de Impacto sobre o Meio Ambiente (RIMA) para novos empreendimentos. A idéia de uma economia ecológica baseia-se num novo paradigma, no qual o mundo é visto como um todo integrado e sistêmico (visão holística do mundo). O Ecodesenvolvimento explora sinergias entre as atividades humanas e os processos ecossistêmicos, em um “jogo de soma positiva”. No qual os recursos fluem do ecossistema pra a economia e a energia degradada e outros subprodutos (poluição) fluem da economia para o ecossistema. Introduzindo neste sistema os responsáveis por arcar com os danos provocados pela poluição (“Polluter pays”) ou com o investimento na prevenção desta (“Pollution prevention pays”). Apresentam-se aperfeiçoamentos em relação à abordagem do gerenciamento ambiental, preconizando o reaproveitamento dos rejeitos de um processo como insumos para novos processos. Além disso, estimula-se o emprego de tecnologias limpas. Passivos Ambientais Desde a década de 80, as empresas do mundo desenvolvido dão grande importância aos seus passivos ambientais. Essa lição somente começa a ser compreendida no Brasil em decorrência das graves consequências dos passivos ocorridas naquela época. Trata-se de um enorme problema que começa a ser conhecido e divulgado e que exige soluções imediatas. A solução dos passivos deve ser preventiva, pois é mais barata, de solução mais simples e eticamente justificada. O passivo ambiental pode ser definido como o montante da avaliação contábil dos custos ambientais atuais e futuros necessários para o resgate das pendências da empresa em relação à legislação ambiental. Os principais custosque geralmente compõem o passivo ambiental são: > As multas, taxas e impostos a serem pagos em face da inobservância de requisitos legais; > Custos da implantação de procedimentos e/ ou tecnologias que possibilitem o atendimento às não conformidades; > Dispêndios necessários à recuperação de áreas degradadas e indenização à população afetada. Gerenciamento Ambiental nas Empresas 5 Fig. 1 – Passivos ambientais: prevenir, custa menos que remediar - Fonte: http://osverdestapes.blogspot.com.br A prática de avaliação de passivos foi originada como apoio aos casos de fusão, aquisição, incorporação, compra e venda de empresas e também para orientação na definição de prêmios de seguros de responsabilidade. Atualmente a avaliação de passivos também tem sido exigida para liberação de linhas de créditos. Em alguns casos, esses passivos podem criar impasses e até mesmo inviabilizar negócios, uma vez que podem atingir níveis maiores do que a capacidade de gerar recursos para resolvê-los. Como apoio ao processo gerencial em muitos casos são adotados os instrumentos de contabilidade ambiental, que mensuram as receitas e custos da degradação e das medidas adotadas para evitá-los, possibilitando a adequação dos preços de transferência interna para os produtos e serviços prestados. O enfoque da contabilidade ambiental deve ser colocado nos resultados da gestão ambiental e não somente sobre os custos de degradação do meio ambiente. O processo para levantamento de passivos é realizado geralmente em duas etapas: Etapa 01: na qual é realizada a avaliação qualitativa dos impactos; Etapa 02: que resulta na sua quantificação. Na primeira fase são levantados todas as práticas e procedimentos relativos aos aspectos ambientais relevantes, tais como: licenças ambientais existentes, resíduos gerados pela empresa e a sua disposição final, taxas de emissões atmosféricas e de geração de efluentes líquidos e os respectivos sistemas de minimização e tratamento de poluição adotados. Com base nos resultados da primeira fase é realizado um planejamento que tem por objetivo mensurar os impactos para permitir uma avaliação do custo para o seu adequado gerenciamento, que no mínimo seja capaz de atender às exigências legais e administrativas dos órgãos ambientais e à política interna da empresa. Utilizando-se de coletas, medições e análise, são avaliados quantitativamente e qualitativamente as emissões atmosféricas, os efluentes e os resíduos gerados e as suas respectivas influências ambientais como alterações na qualidade de água do corpo receptor e do lençol freático, da atmosfera, do solo etc. Sob o ponto de vista jurídico, todo o dano ambiental resultante de uma determinada atividade provoca uma tríplice reação legal, nos âmbitos civil, penal e administrativo. O Ministério Público pode propor uma ação civil pública para que o responsável pelo dano ambiental recomponha o ambiente afetado e ainda indenize as populações afetadas. Pode cumulativamente propor uma ação penal, pois, segundo a legislação, pessoas físicas e jurídicas podem responder criminalmente. Independentemente desses processos, o órgão ambiental na esfera administrativa poderá estabelecer uma multa, exigir a reparação do dano ambiental e ainda a implementação de obras ou procedimentos necessários a evitar o dano. As limitações das metodologias para a adequada mensuração econômica dos impactos e dos riscos ambientais muitas vezes dificultam avaliações mais precisas, que sejam capazes de considerar a totalidade de seus efeitos adversos. Mas os instrumentos disponíveis representam uma grande contribuição para subsidiar o processo de decisão. Gerenciamento Ambiental nas Empresas 6 Um exemplo, a dimensão do problema dos passivos ambientais causados pela disposição inadequada de resíduos no Brasil mostra por um lado uma grande ameaça ao ambiente e às finanças das empresas, mas também representa um grande potencial de negócios. A Secretaria de Meio Ambiente de São Paulo, em um estudo que envolveu 640 áreas naquele estado, identificou a existência de 225 áreas comprovadamente contaminadas, das quais 145 estão passando por algum processo de remedição. Segundo o ranking da geração de resíduos industriais, divulgado pela ABETRE (Associação Brasileira de Empresas de Tratamento, Recuperação e Disposição de Resíduos Especiais), dos 2,9 milhões de toneladas de rejeitos industriais gerados no Brasil, apenas 600 mil toneladas, cerca de 22%, recebem tratamento adequado. O mercado potencial para o gerenciamento desses resíduos representa valores da ordem de um bilhão de reais por ano. Aspectos da Legislação Ambiental Nas últimas décadas, foi possível observar um aumento na preocupação e estabelecer meios legais de defesa contra a degradação ambiental. No Brasil, a Constituição Federal de 1988, ao dedicar todo um Capítulo ao Meio Ambiente, impôs como obrigação da sociedade e do próprio Estado, a preservação e defesa do meio ambiente. Contudo, antes mesmo deste fato, as atividades econômicas que pudessem resultar em intervenções no meio ambiente estavam submetidas ao controle do Poder Público. Desde a Lei Federal nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, o licenciamento ambiental é um dos mais importantes instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente – PNMA, para o controle de atividades efetivas ou potencialmente poluidoras. É importante ressaltar que o licenciamento é basicamente uma atividade a ser exercida pelo Poder Público Estadual, segundo a legislação citada e conforme os ditames da Resolução CONAMA nº 237, de 18 de dezembro de 1997. Fig. 2 – Legislação ambiental: garantindo meios para a preservação dos recursos naturais e bem-estar social - Fonte: http:// centrodeestudosambientais.wordpress.comtaglegislacao-ambiental-gaucha O instrumento de avaliação de impacto ambiental, no intuito de proteger a natureza e salvaguardar a saúde humana e a vida em geral, constitui uma das inovações mais importantes, uma vez que favorece convenientes decisões e controle destes processos por parte das autoridades competentes. Segundo o Conselho Nacional do meio ambiente (CONAMA), no artigo 1 da resolução de 23 de janeiro de 1986, “Considera-se impacto ambiental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: - A saúde, a segurança e o bem estar da população; - As atividades sociais e econômicas; - A biota; - As condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; - A qualidade dos recursos ambientais: O Artigo 2º deste mesmo decreto do CONAMA estabelece inclusive que “dependerá de elaboração de estudo de impacto ambiental e respectivo relatório de impacto ambiental - RIMA, a serem submetidos à aprovação do órgão estadual competente, e do IBAMA, o licenciamento de atividades modificadoras do meio ambiente, tais como:” Gerenciamento Ambiental nas Empresas 7 I - Estradas de rodagem com duas ou mais faixas de rolamento; II - Ferrovias; III - Portos e terminais de minério, petróleo e produtos químicos; IV - Aeroportos, conforme definidos pelo inciso 1, artigo 48, do Decreto-Lei nº 32, de 18.11.66; V - Oleodutos, gasodutos, minerodutos, troncos coletores e emissários de esgotos sanitários; VI - Linhas de transmissão de energia elétrica, acima de 230KV; VII - Obras hidráulicas para exploração de recursos hídricos, tais como: barragem para fins hidrelétricos, acima de 10MW, de saneamento ou de irrigação, abertura de canais para navegação, drenagem e irrigação, retificação de cursos d’água, abertura de barras e embocaduras, transposição de bacias, diques; VIII - Extração de combustível fóssil (petróleo, xisto, carvão); IX - Extração de minério, inclusive os da classeII, definidas no Código de Mineração; X - Aterros sanitários, processamento e destino final de resíduos tóxicos ou perigosos; Xl - Usinas de geração de eletricidade, qualquer que seja a fonte de energia primária, acima de 10MW; XII - Complexo e unidades industriais e agro-industriais (petroquímicos, siderúrgicos, cloroquímicos, destilarias de álcool, hulha, extração e cultivo de recursos hídricos); XIII - Distritos industriais e zonas estritamente industriais - ZEI; XIV - Exploração econômica de madeira ou de lenha, em áreas acima de 100 hectares ou menores, quando atingir áreas significativas em termos percentuais ou de importância do ponto de vista ambiental; XV - Projetos urbanísticos, acima de 100ha. ou em áreas consideradas de relevante interesse ambiental a critério da SEMA e dos órgãos municipais e estaduais competentes; XVI - Qualquer atividade que utilize carvão vegetal, em quantidade superior a dez toneladas por dia. Isto demonstra que o licenciamento ambiental é um instrumento preventivo e controlador imposto pelas exigências sociais contemporâneas. Este constitui a fase preliminar, que precede a avaliação e resulta em um relatório fundamentado com a descrição de todas as repercussões e consequências prováveis ou seguras da realização da atividade projetada e a prevenção aos interessados sobre os riscos iminentes ao meio ambiente. Na repartição de competências legislativas aplica–se o Princípio da Predominância do Interesse, cabendo à União legislar sobre as matérias de interesse nacional, aos Estados as de interesse regional, enquanto aos Municípios as de interesse meramente local. Da competência administrativa a proteção do meio ambiente como um todo, bem como o combate a poluição em qualquer de suas formas, a preservação das florestas, da flora e da fauna, e a exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios, estão incluídas entre as matérias de Competência Comum. Esta competência comum refere-se à cooperação administrativa, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento do bem–estar, em âmbito nacional, entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. PARA FACILITAR O ENTENDIMENTO: Artigo 1º, da Resolução CONAMA nº 237/97, nos dá as seguintes definições: > Licença Ambiental - ato administrativo pelo qual o órgão ambiental competente, estabelece as condições, restrições e medidas de controle ambiental que deverão ser obedecidas pelo empreendedor, pessoa física ou jurídica, para localizar, instalar, ampliar e operar empreendimentos ou atividades utilizadoras dos recursos ambientais consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou aquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental; > Estudos Ambientais - são todos e quaisquer estudos relativos aos aspectos ambientais relacionados à localização, instalação, operação e ampliação de uma atividade ou empreendimento, apresentado como subsídio para a análise da licença requerida, tais como: relatório ambiental, plano e projeto de controle ambiental, relatório ambiental preliminar, diagnóstico ambiental, plano de manejo, plano de recuperação da área degradada e análise preliminar de risco; Gerenciamento Ambiental nas Empresas 8 > Impacto Ambiental Regional - é todo e qualquer impacto que afete diretamente (área de influência direta do projeto), no todo ou em parte, o território de dois ou mais Estados. O Poder Público, no exercício de sua competência de controle, expedirá as seguintes licenças: (art. 19, do Dec. Federal nº 99.274/90): I - Licença Prévia (LP) – na fase preliminar do planejamento de atividade, contendo requisitos básicos a serem atendidos nas fases de localização, instalação e operação, observados os planos municipais, estaduais ou federais de uso do solo. II - Licença de Instalação (LI) – autorizando o início da implantação, de acordo com as especificações constantes do Projeto Executivo aprovado; III - Licença de Operação (LO) - autorizando, após as verificações necessárias, o início da atividade licenciada e o funcionamento de seus equipamentos de controle de poluição, de acordo com o previsto nas Licenças Prévia e de Instalação. A falta de autorização ou licença dos órgãos ambientais competentes, para construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer funcionar, em qualquer parte do território nacional, estabelecimentos, obras ou serviços, potencialmente poluidores constitui crime ambiental. Conforme o artigo abaixo “Art. 60 – Construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer funcionar, em qualquer parte do Território Nacional, estabelecimentos, obras ou serviços potencialmente poluidores, sem licença ou autorização dos órgãos ambientais competentes, ou contrariando as normas legais e regulamentares pertinentes: Pena – detenção, de um a seis meses, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente”. O objetivo maior do referido artigo é fazer com que os estabelecimentos, obras e serviços funcionem com licença e/ou autorização válida. SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL NAS EMPRESAS Um sistema de gestão ambiental é parte de um sistema global de gestão que provê ordenamento e consistência para que as organizações abordem suas preocupações ambientais, por meio da alocação de recursos, definição de responsabilidades e avaliação contínua de práticas, procedimentos, processos, voltados para desenvolver, implementar, atingir, analisar criticamente e manter a política ambiental estabelecida pela empresa (NBR ISSO 1404:1996). Sendo um processo voltado a resolver, mitigar e/ou prevenir os problemas de caráter ambiental. Este sistema é uma estrutura organizacional, a qual se recomenda que seja periodicamente monitorada e analisada criticamente, a fim de que as atividades ambientais da organização sejam eficazes e que respondam às mudanças de fatores internos e externos. Inclusive, é recomendado que cada integrante da organização conheça e assuma suas responsabilidades quanto a melhoria ambiental (NBR ISSO 14004:1996). Fig. 3 – SGA: atitude empresarial para controle deo efeito da produção sobre o meio ambiente - Fonte: http://meioambientetecnico.blogspot. com.br/2012/03/sistema-de-gestao-ambiental-sga.html Gerenciamento Ambiental nas Empresas 9 Princípios e Elementos Básicos do SGA O sistema de gestão ambiental é composto de diferentes ações administrativas e operacionais, que atuam de forma integrada, realizadas por um empreendimento para gerir (controlar, acompanhar e prevenir problemas ambientais) decorrentes da sua atuação. Tem como objetivos principais: 1- Atender a conformidade das leis (locais, regionais, nacionais e internacionais); 2- Definir políticas e procedimentos para alcançar a qualidade ambiental desejada; 3- Identificar e administrar os riscos ambientais; 4- Definir as metodologias, o nível de recursos e de pessoal, adequado para atender aos riscos e metas ambientais propostas. A estrutura do sistema de gestão ambiental é composta por etapas de diagnóstico, planejamento, execução, avaliação e aperfeiçoamento, conforme Fig.4. A fase de diagnóstico caracteriza-se pela formulação de diretrizes conceituais (1) e pela definição de objetivos operacionais (2). A partir daí, é possível elaborar o planejamento de ação (3), coordenar e executar as atividades (4) e avaliar os resultados (5). Quando os resultados não são considerados satisfatórios, o SGA deve ser aperfeiçoado realimentando todo o processo. Fig. 4 – Fluxograma do SGA Gerenciamento Ambiental nas Empresas 10 A fim de assegurar que o SGA seja bem sucedido, podem ser consideradas algumas estratégias potencializadoras. Dentre elas temos: - diretrizes e objetivos claros e de conhecimento geral; - credibilidade das diretrizes e objetivos: disseminação das metas ambientais; - envolvimento do maior número de segmentos da empresa; - integraçãodos esforços dos diversos segmentos da empresa; - comprometimento da alta direção e proprietários; - motivação do quadro funcional; - incorporação desta política nos fornecedores, prestadores de serviços e atividades terceirizadas; - comunicação com clientes (informar e ouvir); Um dos benefícios desejados por meio do estabelecimento do SGA refere-se à identificação da empresa com os clientes por meio da sua imagem. Diante da política da sustentabilidade, a incorporação de práticas de responsabilidade social e ambiental expressas na missão de uma empresa e presentes na sua estratégia de negócios exaltou e garantiu uma melhor reputação empresarial. Além disso, pretende-se aumentar a eficiência da produção e reduzir os custos de produção e manutenção. Desta forma, potencializam-se os resultados finais garantindo uma maior lucratividade e melhoria nas condições de trabalho. Um SGA é parte de uma iniciativa unilateral e voluntária que, em um primeiro momento, visa atender a legislação. Posteriormente, devido aos benefícios advindos deste sistema tende-se a estabelecer estratégias que superem as exigências legais. As empresas assumem como compromisso buscar a constante melhoria e superação de metas cumprindo com sua responsabilidade social e ambiental. Implementação do SGA A implementação de um SGA constitui uma ferramenta para que o empresário identifique oportunidades de melhorias que reduzam os impactos das atividades de sua empresa sobre o meio ambiente, orientando de forma otimizada os investimentos para implementação de uma política ambiental eficaz, capaz de gerar novas receitas e oportunidades de negócio. As principais vantagens do SGA são a minimização de custos, de riscos, a melhoria organizacional e a criação de um diferencial competitivo. Os custos são reduzidos pela eliminação de desperdícios, racionalização de recursos humanos, físicos e financeiros e pela conquista da conformidade ambiental ao menor custo. A implementação do SGA possibilita também a precisa identificação dos passivos ambientais e fornece subsídios ao seu gerenciamento. Esses procedimentos promovem a segurança legal, a minimização de acidentes, passivos e riscos através de uma gestão ambiental sistematizada que permite a sua integração à gestão dos negócios. Essa atitude melhora a imagem da empresa, aumenta a produtividade, promove novos mercados e ainda melhora o relacionamento com fornecedores, clientes e comunidade. O SGA representa um ciclo contínuo de planejamento, implementação, revisão e melhoria das ações da organização para que possam ser cumpridas as obrigações ambientais. Para melhorar o desempenho ambiental, a organização tem que avaliar não apenas quais são as ocorrências que podem prejudicar o desempenho ambiental, mas também por que elas ocorrem e implementar medidas para corrigir os problemas observados e para evitar que ocorram novamente. A maioria dos modelos de gerenciamento baseia-se no princípio de melhoria contínua, no conhecido ciclo da qualidade ou PDCA: planejar, fazer, checar e agir, conforme mostra a figura 5. Gerenciamento Ambiental nas Empresas 11 Fig. 5 – Sistema de Gestão Ambiental ISSO 14001 (Adaptado de Barbieri, 2007 Fonte: www.ebah.com.br/content/ABAAABoNAAA/tcc-iso-14001- como-ferramenta-ambiental-empresarial-fonteine-laysa) Gerenciamento Ambiental nas Empresas 12 PDCA – Plan, Do, Check, Act O PDCA é utilizado a fim de se obter as metas (resultados) dentro de um sistema de gestão. Este pode ser aplicado em qualquer empresa, independentemente de sua área de atuação. Este possui as seguintes etapas: > Plan (planejamento): estabelecer um objetivo a ser alcançado (meta) ou identificar um problema (aquilo que impede a conquista da meta); analisar o fenômeno (avaliar os dados relacionados ao problema); analisar o processo (identificar as causas do problema); elaborar um plano de ação. > Do (realização/execução): promover as atividades de acordo com o plano de ação. > Check (verificação): monitoramento e avaliação periódica dos resultados, considerando os processos e resultados obtidos confrontando-os com o plano de ação, com os objetivos e com os resultados esperados. A fim de consolidar as informações em um relatório. > Act (ação): agir de acordo com o avaliado e de acordo com os relatórios; se necessário determinar novos planos de ação, de forma a melhorar a qualidade (eficiência e eficácia), aprimorando a execução e corrigindo eventuais erros. Tratando-se dos níveis de decisões da empresa, a eficácia está relacionada ao nível tático (gerencial, logo abaixo do estratégico), e a eficiência ao nível operacional (como realizar as operações com menos recursos - menos tempo, menor orçamento, menos pessoas, menos matéria- prima, etc.). Para fins de analogia e exemplificação, podemos dizer que a eficiência é cavar um poço artesiano com perfeição técnica eficácia é encontrar a água. Os principais estágios do SGA definidos pela NBR ISO 14.001 são: > Comprometimento e política - a administração estabelece a política ambiental da empresa, que deve ser apropriada à natureza e escala dos impactos, comprometer- se com a melhoria contínua e com o atendimento à legislação, garantir o monitoramento e a comunicação com empregados e fornecedores e que esteja disponível ao público. > Planejamento - a empresa define as atividades necessárias para a adequação ambiental através da identificação dos aspectos e impactos ambientais em relação aos requisitos legais, estabelece os objetivos, avalia alternativas, define as metas e elabora os Programas de Gestão Ambiental (PGA), que são necessários para o alcance dos objetivos e metas ambientais que visam apoiar o cumprimento. > Implementação - a empresa inicia o desenvolvimento do plano de ação, estabelecendo responsabilidades, procedimentos operacionais, desenvolvendo treinamentos, comunicação, documentação, controles operacionais e um plano de emergência. > Avaliação - a empresa avalia através do monitoramento e medições dos indicadores ambientais que evidenciem que as metas estão sendo alcançadas. Deve ainda ser estabelecido um procedimento para registros das não-conformidades e das respectivas ações corretivas e preventivas. Todo esse processo deve ser avaliado através de um programa de auditorias capaz de identificar se o SGA encontra-se em conformidade com o planejado para propor as readequações necessárias e melhorias necessárias e para informar a administração. > Revisão - a alta administração da empresa deverá analisar criticamente o SGA, definindo as modificações necessárias à sua otimização e efetividade verificando se as metas ambientais propostas estão sendo alcançadas e se os PGAs estão sendo efetivamente implementados. O estágio de revisão conclui o ciclo de melhoria contínua. Gerenciamento Ambiental nas Empresas 13 O processo de implementação de um Sistema de Gestão consta de 4 fases: 1 - Definição e comunicação do projeto (gera-se um documento de trabalho que irá detalhar as bases do projeto para implementação do SGA); 2 - Planejamento do SGA (realiza-se a avaliação ambiental inicial, planejando-se o sistema); 3 - Instalação do SGA (realiza-se a implementação do SGA); 4 - Auditoria e certificação. Figura 6: Etapas do planejamento do SGA segundo a ISO 14.000 O SGA deve ser dinâmico, permitindo a rápida adaptação às mudanças nos negócios ambientais. Desta forma o SGA tem que ser flexível e simples. Isto auxilia o SGA a ser compreendido e incorporado pelas pessoas que trabalham na implementação. Em algumas organizações a implementação do SGA pode sofrer resistência por parte de algumas pessoas, por considerarem que ele representa burocracia, custos e aumento na jornada de trabalho. Podem ocorrer resistências devido às mudanças e às novas responsabilidades. Paraconseguir vencer esses obstáculos, é preciso ter certeza de que todos entendem por que a organização necessita do SGA efetivo e como ele pode ajudar no controle dos impactos ambientais e conseqüentemente dos custos. Manter as pessoas envolvidas no projeto e implementação do SGA demonstra o comprometimento da organização com o meio ambiente e ajuda a verificar que ele é realista, prático e que agrega valor. Implementando ou melhorando o SGA, a organização vai entender como gerenciar os compromissos ambientais e como encontrar melhores soluções. O Sistema de Gestão Ambiental permite às empresas, de forma imediata: > Segurança, na forma de redução de riscos de acidentes, de sanções legais, etc; > Qualidade dos produtos, serviços e processos; > Economia e/ou redução no consumo de matérias- primas, água e energia; > Mercado, com a finalidade de captar novos clientes; > Melhora na imagem; > Melhora no processo; > Possibilidade de futuro e a permanência da empresa; > Possibilidade de financiamentos, devido ao bom histórico ambiental. Avaliação Ambiental Inicial A preocupação com o meio ambiente surge a partir do momento que a população cresce e as atividades econômicas progridem. Da maneira como os bens e serviços ambientais vêm sendo utilizados pelo homem, experimentando uma deterioração crescente, principalmente nos lugares onde a aglomeração humana e as diversas atividades econômicas se desenvolvem. As manifestações mais importantes do fenômeno das poluições urbanas provocam uma série de efeitos nocivos que impõem custos à sociedade. Gerenciamento Ambiental nas Empresas 14 A avaliação ambiental inicial (AII) fornece a base para o SGA, uma vez que informações sobre as emissões, rejeitos sólidos, problemas ambientais potenciais, ocorrência anterior de acidentes, questões de saúde, entre outros serão analisadas de acordo com as leis e regulamentações aplicáveis. Em geral há limitação do conhecimento dos aspectos e impactos ambientais de atividades e produtos no meio ambiente. O dano ambiental, geralmente, é de natureza difusa, atingindo uma coletividade de pessoas. É de difícil constatação e avaliação, uma vez que, a atividade pode ser produzida hoje e os efeitos do dano só aparecem após vários anos ou gerações. A busca desse conhecimento é a base de um programa ambiental. Ele habilita a empresa a identificar e concentrar-se nas prioridades. O primeiro passo é avaliar o atual estado ambiental da empresa. Essa avaliação inicial é “o meio pelo qual uma organização estabelece sua posição em relação ao meio ambiente” (NBR-ISO 14004), ou seja, consiste em: uma análise inicial detalhada das questões, desempenho, aspectos e impactos ambientais e das atividades controladas da empresa. As restrições orçamentárias impõem a necessidade de responder duas perguntas fundamentais relativas à proteção ambiental: (i) quais os recursos ambientais em que devemos centralizar esforços? (ii) quais métodos devemos utilizar para atingir os objetivos desejados? Resumindo, há que se definir prioridades quanto ao que queremos conservar, onde e de que forma. Abrangência da AAI Uma AAI identifica e avalia as questões potenciais de interesses ambientais originadas das operações. Por exemplo, quais substâncias e resíduos gerados podem prejudicar a saúde humana e/ou o meio ambiente. Também aborda a gestão, as práticas operacionais e os procedimentos existentes. Ou seja, deve identificar quem é responsável pelo despejo de resíduos perigosos e como esses resíduos são dispostos no local; quais as questões ambientais relacionadas às atividades da empresa e, ainda, a existência de outros sistemas de gestão, como da qualidade, Brigada de Emergência, entre outros. Além disso, considera ainda os passivos ambientais, levantando os acidentes, incidentes, penalidades ambientais anteriores e medidas de prevenção. Para tal, abarca ainda as exigências legais e regulamentares para estabelecer sua situação em conformidade com a legislação. A avaliação deve cobrir situações de operações normais e anormais, assim como as emergenciais, que precisarão ser definidas Como, por exemplo, incêndios, enchentes, terremotos, explosões, vazamentos, vandalismo, entre outros. A ênfase, no entanto, será dada aos aspectos ambientais da empresa. A importância desses aspectos é determinada pela avaliação da relevância dos impactos ambientais. O benefício principal de uma AAI é a identificação precisa de onde a operação se posiciona em relação ao meio ambiente, ou seja, identifica a situação ambiental da empresa naquele momento (onde estamos). Em particular, ela geralmente abrange: > Identificação das exigências legais e regulamentares; > Identificação (rápida) dos aspectos ambientais e seu significado; > Avaliação do desempenho; > Práticas e procedimentos de gestão ambiental existentes; > Identificação das políticas e procedimentos existentes que lidem com serviços de contrato e procuração; > Resposta à investigação de incidentes anteriores ou não-cumprimento das obrigações; > Oportunidades e vantagens competitivas; Gerenciamento Ambiental nas Empresas 15 > A visão das partes interessadas; > Funções ou atividades ou outros sistemas organizacionais que possam proporcionar ou impedir o desempenho ambiental. Metodologia para Avaliação Ambiental Inicial A AAI não é um requisito imperativo das normas ISO 14001, para estabelecer Sistemas de Gestão Ambiental, porém é uma etapa importante a ser cumprida. Sua execução envolve diversos passos, que vão do planejamento ao relatório final. Abaixo trataremos a respeito da metodologia da AAI. Planejamento • Definir os objetivos, planejar e organizar a avaliação. O principal objetivo deve ser a obtenção de informações básicas para permitir a preparação e o desenvolvimento de um programa de gestão. • O enfoque e detalhes da avaliação dependerão dos recursos disponíveis, principalmente tempo, e possivelmente da abrangência do programa ambiental a ser proposto. • Se apenas parte da operação (um departamento ou divisão) for incluída, então a avaliação pode ser mais limitada. De qualquer forma, ela não deve restringir-se somente à área física em questão, já que é importante também cobrir todas as atividades que possam ter um impacto direto ou indireto na área. • Se os recursos forem escassos, a melhor opção pode ser a realização de breve análise crítica das principais áreas de interesse potencial, e a concentração dos esforços iniciais nas áreas que contenham os maiores riscos. • É importante que a avaliação tenha o apoio completo e irrestrito da alta gerência. Esse apoio pode ser demonstrado por meio de uma mensagem clara a todos os empregados, informando o que irá acontecer e porquê, para prevenir possíveis alarmes e mau entendimento da avaliação e para facilitar a cooperação e comunicação entre as partes. Seleção da equipe Esta deverá ser cuidadosamente escolhida em termos de tamanho e composição, de acordo com a natureza e complexidade das operações. Para uma avaliação ambiental completa é interessante aderir a uma equipe multidisciplinar para que os aspectos socioambientais sejam tratados de forma adequada. Preparação • Para a realização da AAI é necessária a elaboração prévia de um protocolo de verificação que possibilite o levantamento dos dados empresariais, com eficiência, com a maior agilidade possível. • De posse do protocolo, são feitas entrevistas com as pessoas da comunidade envolvidas no processo, além de observações nos locais destinados para verificação e discussão dos aspectos ambientais a serem considerados. • É importante fazer um sumário da legislação ambiental pertinente ao país, ao estado e ao município e, se for o caso, aos países para os quais serão exportados os produtos e resíduos daempresa. O objetivo é identificar as principais exigências legais, não os detalhes absolutos da legislação. Preparo de listas de verificação e questionários • Os questionários devem ser de fácil compreensão, tanto para os membros da comunidade que serão consultados, quanto para os avaliadores; • Devem minimizar o potencial de erro durante seu preenchimento e gerar uma resposta que permita uma análise clara e específica; • Devem ser breve e simples; • As listas de verificação devem ser completas. Caso haja limitações em sua abordagem as mesmas devem ser claramente entendidas pelo avaliador. Realizando a avaliação A AAI possui três tipos de coleta de informações: • Documentação • Entrevistas • Inspeção visual Gerenciamento Ambiental nas Empresas 16 Essa coleta de informações pode ocorrer durante um período de dias consecutivos ou durante várias semanas, enquanto essas diferentes partes da avaliação são realizadas em tempos diferentes. Deve ser elaborado um plano de trabalho e comunicado a todos os envolvidos, isto é, a equipe de avaliação e os facilitadores. Entrevistas As entrevistas são necessárias para que se obtenham as informações não disponíveis na documentação e para aprender como a empresa é administrada na prática. Geralmente, reuniões com os dirigentes da empresa ao final de cada etapa de entrevistas, no local, podem ajudar os avaliadores a esclarecer as informações e evitar erros de interpretação. Como produto final da aplicação destas metodologias, tem-se: • Um sumário executivo agregando de maneira objetiva e resumida todas as informações, descobertas e conclusões principais; • O estabelecimento do objetivo, enfoque e organização da avaliação considerando todo o meio ambiente pertinente à empresa; • Informações de apoio referentes às matérias primas, aos processos, aos produtos e aos incidentes que possam ter ocorrido no passado; • Avaliação dos dados de base. Ou seja, o que significam aqueles dados em termos de conformidade/ não-conformidade com as regulamentações; quais são os aspectos e impactos ambientais significativos reais e potenciais; • Evidências sobre aspectos, impactos e questões ambientais obtidas por meio das informações obtidas ao longo dos procedimentos, que poderão indicar, por exemplo, um possível problema de poluição de lençóis freáticos no local. Desta forma, é indicada uma investigação adicional antes que possa ser determinado. As investigações devem abranger todas as emissões para o ar, água e solo local, considerando inclusive todo o resíduo produzido; • Recomendações para desenvolver ou alterar a política ambiental da empresa, se for necessário; • O estabelecimento de prioridades de ação. Ou seja, identificar os assuntos que exigem uma ação urgente; aqueles cuja ação imediata não é requerida, mas precisa de uma melhoria a longo prazo, etc. Fig. 7 – O futuro do meio ambiente em nossas mãos. Desta forma, a Avaliação Ambiental Inicial poderá identificar áreas com problemas que nortearão a formulação de uma política ambiental e a implementação de um sistema de gestão ambiental. Mesmo que o SGA não seja o objetivo da empresa, com a AAI poderá implementar uma melhoria de desempenho ambiental, para buscar sanar os problemas ambientais encontrados na avaliação inicial. CERTIFICAÇÃO O processo de globalização das relações econômicas impulsionou o comprometimento das empresas com a questão ambiental, atingindo principalmente aquelas inseridas no mercado internacional: empresas transnacionais e empresas exportadoras. As empresas transnacionais, por determinação de seus acionistas, vêm adotando os padrões ambientais definidos em seus países de origem, onde os padrões e normas legais são mais rigorosos. As empresas exportadoras enfrentam um novo protecionismo: a discriminação de produtos e serviços que não comprovem a estrita observância das normas ambientais. User Realce Gerenciamento Ambiental nas Empresas 17 Essas empresas estão influenciando o entorno de fornecedores e começam a explorar o diferencial ambiental também no mercado interno, o que está impulsionando a adoção do Sistema de Gestão Ambiental (SGA). Este sistema vem ao encontro da necessidade das empresas em adotarem práticas gerenciais adequadas às exigências do mercado, universalizando os princípios e procedimentos que permitirão uma expressão consistente de qualidade ambiental. Dadas as similaridades dos sistemas de gestão da qualidade e ambiental, muitas empresas que implementaram programas de qualidade também estão na vanguarda da certificação ambiental. A manifestação do comprometimento e da política ambiental consolida-se por meio de uma declaração ou termo de compromisso da empresa explicitando os seus objetivos e princípios quanto ao seu desempenho ambiental. Os procedimentos de gestão ambiental foram padronizados em nível mundial, com objetivo de definir critérios e exigências semelhantes. A garantia de que a empresa atende a esses critérios é a certificação ambiental, segundo as normas ISO 14.000. Essas normas foram definidas pela International Organization for Standardization (ISO), fundada em 1947, com sede em Genebra, na Suíça. Trata-se de uma organização não governamental que congrega mais de 100 países, representando 95% da produção industrial do mundo. O objetivo principal da ISO é criar normas internacionais de padronização que representem e traduzam o consenso dos diferentes países. A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) representa a ISO no Brasil. Dentre as diversas áreas de atuação da ISO estão as normas de certificação ambiental, como segue: > ISO 14.001 - define os requisitos para certificação ambiental; > ISO 14.004 - é uma norma orientativa, que exemplifica e detalha as informações necessárias à implementação de um SGA; > ISO14.010, 14.011 e 14.012 - referem-se ao processo de auditoria ambiental; > ISO 14.032 - define a integração entra as normas de qualidade e de meio ambiente. Tabela 1: exemplos de responsabilidade ambientais. Estrutura de Responsabilidade – A norma ISSO 14.001 estabelece que as funções, responsabilidades e autoridades devem estar definidos visando a gestão ambiental eficaz. A ISO 14.004 orienta de forma geral as diversas etapas do SGA, além de estabelecer princípios básicos de ação para uma organização. Os princípios norteadores para o estabelecimento de uma política ambiental estabelecem que esta: - seja adequada à natureza, à escala e aos impactos potenciais decorrentes de sua atividade, produto e/ou serviços; - inclua o comprometimento pela excelência e melhoria contínua; RESPONSABILIDADE EXECUTOR Definir a orientação geral Presidente, executivo principal, diretoria Desenvolver a política ambiental Presidente, executivo principal, gerente de meio ambiente Desenvolver objetivos, metas e programas ambientais Gerentes envolvidos Acompanhar o desempenho global da SGA Gerente de meio ambiente Assegurar o cumprimento dos regulamentos Gerente geral da operação Promover a contínua melhoria Todos os gerentes Identificar o anseio dos clientes e promover a comunicação Pessoal de venda e marketing Identificar o anseio dos fornecedores Pessoal de compras e contratação Desenvolver e acompanhar os orçamentos para a questão ambiental Gerentes financeiros e contábeis Promover a capacitação técnica e operacional dos empregados Gerente de RH Desenvolver novos equipamentos e metodologia ambientalmente adequados Pessoal de pesquisa Promover a produção de materiais ambientalmente corretos Gerente de produção User Realce Gerenciamento Ambiental nas Empresas 18 - atenda a legalidade e normas ambientais pertinentes; - proteja uma estrutura que assegure a revisão dos objetivos e metas ambientais; - seja implementada, documentada e divulgada para todos os funcionários;- seja de livre acesso ao público geral. Selo Verde A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) estabeleceu o programa Selo Verde, uma certificação que atesta quais produtos e serviços são mais ambientalmente “amigáveis”, por meio de uma marca colocada nos produtos. Intitulada Rótulo Ecológico ABNT, a ação consiste em uma metodologia voluntária de certificação e rotulagem de desempenho ambiental, que visa informar os consumidores sobre quais produtos são menos agressivos ao meio ambiente. A empresa que possuir este Selo Verde se diferenciará e será beneficiada por isso. Ela fará parte de um grupo que almeja a redução dos impactos ambientais associados ao desenvolvimento de seus produtos. O selo mais comum é o da marca Forset Stewardship Council (FSC). Esse selo pode ser reconhecido internacionalmente pelos consumidores de madeira e seus derivados, como móveis e estruturas para a construção civil. Desta forma, o comprador tem a garantia de que adquiriu um produto que não agride as florestas tropicais. O selo verde surgiu da crescente preocupação dos consumidores com relação ao meio ambiente. A partir daí, governos e organizações não governamentais de vários países formularam um conjunto de normas para regular o comércio de produtos provenientes das florestas tropicais através de acordos internacionais. Definiu-se que as madeireiras que possuem o selo verde deveriam comercializar apenas produtos retirados das florestas de forma ambientalmente correta e enquadrados em um plano de manejo certificado por organismos internacionalmente conhecidos. No Brasil, há várias empresas credenciadas como certificadoras. Estas são responsáveis por visitar e fazer uma auditoria na documentação e instalações. Nesta análise, também verificam se o plano de manejo está sendo cumprido adequadamente. A principal função da certificação é garantir ao consumidor que todo este processo está sendo cumprido e que os ecossistemas estão sendo conservados. Fig. 8 – Selos verdes Fontes: http://www.ambiente.sp.gov.br/ APLICAÇÃO DA AGENDA 21 EM GESTÃO AMBIENTAL O atual modelo de crescimento econômico gerou enormes desequilíbrios; se, por um lado, nunca houve tanta riqueza e fartura no mundo, por outro lado, a miséria, a degradação ambiental e a poluição aumentam dia-a-dia. Diante desta constatação, surge a idéia do Desenvolvimento Sustentável, buscando conciliar o desenvolvimento econômico com a preservação ambiental e, ainda, ao fim da pobreza no mundo. Gerenciamento Ambiental nas Empresas 19 O conceito foi definitivamente incorporado como um princípio, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Cúpula da Terra de 1992 – Eco-92, no Rio de Janeiro. O Desenvolvimento Sustentável busca o equilíbrio entre proteção ambiental e desenvolvimento econômico e serviu como base para a formulação da Agenda 21, com a qual mais de 170 países se comprometeram, por ocasião da Conferência. Trata-se de um abrangente conjunto de metas para a criação de um mundo, enfim, equilibrado. Os indicadores de sustentabilidade, defendidos na Agenda 21 - onde se recomenda o Uso e a Proposição de Indicadores de Sustentabilidade como Ferramentas para o Monitoramento da Gestão dos Recursos Naturais - são instrumentos com objetivo de agregar dados e informações complexos para facilitar sua compreensão. As principais características pertinentes aos indicadores são: > capacidade de avaliar condições existentes e tendências, > possibilidade de efetuar comparações nas escalas temporal e local, > possibilidade de avaliar as condições e tendências em relação às metas e objetivos, > bem como habilidade em fornecer informações de advertência e antecipar condições e tendências. O uso de ferramentas para o monitoramento da gestão ambiental dos recursos naturais justifica-se pela importância do recurso tanto para a sobrevivência e bem estar dos seres humanos quanto para o equilíbrio do meio ambiente como um todo. Desta forma, o desenvolvimento de indicadores busca mensurar como e quanto à gestão dos recursos está caminhando sob a ótica da sustentabilidade. O conceito sustentabilidade surgiu da preocupação com o uso de forma exploratória dos recursos naturais tendo sido discutido em diversas conferências internacionais que culminaram em documentos como o Relatório Brundtland e a Agenda 21. O Relatório Brundtland forneceu uma das principais e mais bem aceitas definições sobre o desenvolvimento sustentável, defendendo que o uso dos recursos naturais deve garantir o atendimento às necessidades das gerações atuais e futuras. Relatório Brundtlandt Este é resultado do trabalho da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, da ONU apresentou um novo olhar sobre o desenvolvimento, definindo-o como o processo que “satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”. É a partir daí que o conceito de desenvolvimento sustentável passa a ficar conhecido. Entre as medidas apontadas pelo relatório, constam soluções citadas mais à frente, como a diminuição do consumo de energia, o desenvolvimento de tecnologias para uso de fontes energéticas renováveis e o aumento da produção industrial nos países não-industrializados com base em tecnologias ecologicamente adaptadas. Segundo o Relatório, uma série de medidas devem ser tomadas pelos países para promover o desenvolvimento sustentável. Entre elas: • limitação do crescimento populacional; • garantia de recursos básicos (água, alimentos, energia) a longo prazo; • preservação da biodiversidade e dos ecossistemas; • diminuição do consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias com uso de fontes energéticas renováveis; • aumento da produção industrial nos países não- industrializados com base em tecnologias ecologicamente adaptadas; • controle da urbanização desordenada e integração entre campo e cidades menores; • atendimento das necessidades básicas (saúde, escola, moradia). Em âmbito internacional, as metas propostas são: • adoção da estratégia de desenvolvimento sustentável pelas organizações de desenvolvimento (órgãos e instituições internacionais de financiamento); • proteção dos ecossistemas supra-nacionais como a Antártica, oceanos, etc, pela comunidade internacional; • banimento das guerras; User Realce Gerenciamento Ambiental nas Empresas 20 • implantação de um programa de desenvolvimento sustentável pela Organização das Nações Unidas (ONU). Algumas outras medidas para a implantação de um programa minimamente adequado de desenvolvimento sustentável são: • uso de novos materiais na construção; • reestruturação da distribuição de zonas residenciais e industriais; • aproveitamento e consumo de fontes alternativas de energia, como a solar, a eólica e a geotérmica; • reciclagem de materiais reaproveitáveis; • consumo racional de água e de alimentos; • redução do uso de produtos químicos prejudiciais à saúde na produção de alimentos. O principal fator que deve orientar uma ação ambiental responsável por parte dos empreendedores é a responsabilidade ética de alterar drasticamente o atual quadro de degradação ambiental planetária, que reduz a qualidade de vida de toda a população e põe em risco a própria sobrevivência da humanidade. Outro fator que induz à tomada de decisões em relação aos danos ambientais são as políticas ambientais públicas que impõem aos empreendedores a responsabilidade civil, penal e administrativa em relação aos impactos ambientais decorrentes de suas atividades econômicas. A adoção de instrumentos de gestão ambiental, como o Licenciamento, Avaliação de Impacto Ambiental, Sistema de Gestão Ambiental, Avaliação de Passivos, Auditorias e Cerificações e a Contabilidade Ambiental demonstram a viabilidade econômicade atividades empresariais que induzam à sustentabilidade ambiental. Ao contrário da visão essencialmente ambientalista, é perfeitamente possível e recomendável considerar as questões ambientais no valor do empreendimento, transformando o risco ambiental em oportunidades de redução de custos, proteção das bases de sustentabilidade do negócio, proteção da imagem corporativa, o que resulta na diminuição de perdas e valorização dos recursos de todos os envolvidos dentro e fora da empresa. Antes apenas considerada uma ameaça, a crise ambiental representa um grande potencial para negócios, que apresenta uma excepcional perspectiva de crescimento como: gestão ambiental, educação e treinamento, reciclagem de resíduos, sistemas de tratamento de efluentes e emissões, tecnologias ambientais, gestão de resíduos, economia e racionalização de energia, recuperação de áreas degradadas. BIBLIOGRAFIA ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR ISSO 14001:1996. Sistemas de gestão ambiental – Especificações e diretrizes para uso. Rio de Janeiro:ABNT, 14p. 1996. 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O que é economia verde e qual o papel do governo para sua implementação? In: .www.brasil-economia- governo.org.br/2011/08/08/o-que-e-economia-verde-e-qual- o-papel-do-governo-para-sua-implementacao/#comments Publicado em 08/08/2011. Acessado em 18/03/2012. Ministério do Meio Ambiente. Manual de gestão: projeto ORLA. MMA/Brasília. 2002. Motta, R.S. Economia ambiental. Editora FGV, 228p. 2007 Moura, L.A.A. Qualidade e gestão ambiental: sugestão para implantação das normas 14000 nas empresas. 2ed. São Paulo. Editora Juarez de Oliveira, 256p. 2000. Viana et al. O desafio da sustentabilidade: um debate sócio- ambiental no Brasil. Gilney Viana, Marina Silva e Nilo Diniz (orgs.) Fundação Perseu Abramo/RJ. 1996