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HEMOTERAPIA

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Hemoterapia 
Conhecida também como medicina transfusional. Pode trazer grandes benefícios aos nossos animais, mas também pode 
trazer consequências sérias, logo, é muito importante que conheçamos todos os processos envolvidos – coleta, 
processamento, armazenamento e a transfusão em si. 
Uma transfusão sanguínea é um transplante – colocamos células de um doador em um receptor e isso pode trazer 
consequências muito graves. Precisamos saber a procedência do sangue e ter o histórico do doador o que contempla o 
controle de doenças infecto contagiosas e até mesmo a triagem que é feita antes da doação. 
Bancos de sangue servem também para dar orientação pois trata-se de um procedimento relativamente novo na 
medicina veterinária, então deve haver uma troca de ideias e discussão de casos clínicos para termos indicação ideais. 
TRIAGEM 
Trata-se do primeiro procedimento a ser realizado na transfusão. O cão doador deve ser dócil e tranquilo, ter entre 1 e 8 
anos de idade e mais de 25 kg. No caso dos gatos, precisam ter mais de 5 kg, ter entre 1 e 8 anos de idade e geralmente 
precisam ser sedados para que a coleta possa ser realizada. É preciso que sejam realizadas sorologias para doenças 
infecto contagiosas, hemograma completo e bioquímica renal e hepática desses doadores. 
PROCESSAMENTO 
Coleta de bolsa de sangue que pode ser fragmentada, ou seja, processada para obtermos os hemocomponentes 
específicos. Para cães, utilizamos bolsas de sangue humanas que comportam cerca de 450ml de sangue total 
(comtempla todos os fatores presentes no sangue - proteínas, células vermelhas, brancas, plaquetas e plasma). Essa 
bolsa pode ser processada em centrífugas para separar os hemocomponentes - na fase 1 obteremos o concentrado de 
hemácias e o plasma rico em plaquetas, já na fase 2 obteremos o concentrado de plaquetas e o plasma fresco 
congelado. 
CONSERVAÇÃO 
Depois que os 3 hemocomponentes foram separados precisamos conservá-los. 
- Sangue total e o concentrado de hemácias devem ser conservados em refrigeração a 4°C e apresentam validade de 
35 a 42 dias (ser for usado o saguimanitol - conservador). 
- Plasma fresco congelado – acondicionado em freezer em temperatura muito baixa de – 32°C e apresenta validade de 
1 ano. 
- Concentrado de plaquetas – precisa ficar em temperatura ambiente de 22°C por até 5 dias, mas sob agitação 
constante para que não ocorra agregação plaquetária. 
ANEMIA 
 Cão: 
 - Leve: VG de 30 a 37% 
 - Moderada: VG de 20 a 29% - risco grande para o paciente 
 - Severa: VG de 3-19% 
 - Muito severa: VG menor que 13% 
 Gato: tolera redução maior do hematócrito que os cães 
 - Leve: VG de 20 a 26% 
 - Moderada: VG de 14 a 19% 
 - Severa: VG de 8-13% 
 - Muito severa: VG menor que 8% 
GATILHO TRANFUSIONAL 
Número que nos indica necessidade de transfusão. Há dois gatilhos principais: 
- Trauma: 30% de HT e 10g/dl de hemoglobina. Por tratar-se de um evento muito mais agudo que a sepse, por exemplo, 
nosso organismo não consegue se adaptar tão rapidamente a essa queda brusca do HT. 
- Sepse: 24% de HT e 7g/dl de hemoglobina. Evento mais crônico, ou seja, o organismo lança mão de eventos 
compensatórios. 
“Nossos pacientes contam com mecanismos compensatórios para lidar com os eventos que estão acontecendo. 
Os pacientes mais jovens e menos graves dispõem de mecanismos compensatórios mais rápidos e mais eficientes, 
então precisam ser olhados com olhos diferentes daqueles mais idosos e com doenças crônicas – cautela na transfusão 
pois trata-se de um risco por ser um transplante. 
Cães e gatos toleram até 30% de perda de volume de sangue – cão 30ml/kg e gato 20ml/kg, perdas menores podem ser 
toleradas se reposto volume com fluido terapia, mas perdas maiores que 30% necessitam de transfusão.” 
LACTATO 
Parâmetro importante da microcirculação – marcador importante do déficit de perfusão tecidual que nos ajuda a entender 
se está chegando sangue nos tecidos. 
TEMPO DE RESPOSTA 
A melhora nos parâmetros clínicos (TR, FC, FR mucosas, TPC) deve ocorrer até 2 horas após o início da transfusão. 
Devemos individualizar os pacientes e não tratar somente um número. Trabalhar muito bem a resenha – saber a doença 
de base, idade (os jovens e hígido toleram mais as quedas de HT), doenças crônicas associadas (endocrinopatias, 
cardiopatias, doenças renais, infecções concomitantes). 
HEMOCOMPONENTES 
 Sangue total fresco/estocado: a transfusão desse hemocomponente não é mais realizada na medicina 
humana por terem maior facilidade em armazenar os hemocomponentes que têm menos chance de gerar 
reações. Na veterinária ainda temos muita demanda do sangue total. Indicado em anemias por traumas, por 
neoplasias, por doença renal e causas hemolíticas. A desvantagem dele é que há maior risco de reações 
imunológicas devido aos componentes do plasma, há risco de sobrecarga circulatória e ao ser estocado perde 
as funções das plaquetas e dos fatores de coagulação. 
o Sangue fresco: Preserva todas as propriedades do sangue por até 8 horas – fatores de coagulação, 
plaquetas, proteínas e hemácias. Após 8 horas só ficamos com proteínas e hemácias, e se esse 
sangue for posto em refrigeração perderemos as plaquetas. 
o Sangue estocado: teremos hemácias e proteínas no plasma. 
 
 Concentrado de hemácias: preserva hemácias por até 42 dias sob refrigeração. Sua vantagem é diminuir o 
risco de reações transfusionais imunológicas (pois as reações estão muito relacionadas ao plasma – bom para 
pacientes que precisam de segurança maior). Se o problema é anemia sem déficit de coagulação e de 
plaquetas a indicação é sempre o concentrado e hemácias. Apresenta menor volume pois o plasma foi retirado 
– vou precisar fazer basicamente a metade do volume do sangue total para subir o HT. 
 
 Plasma fresco congelado: preserva todos os fatores de coagulação por até 1 ano sob congelamento a – 30°. 
Sua indicação é para pacientes com dificuldades de coagulação como os sépticos que estão evoluindo ou 
evoluíram para CID, pacientes intoxicados por raticidas e para hipoalbuminemia pois preserva proteínas, porém, 
deve ser indicado somente para hipoproteinemias transitórias – perda proteica gastrintestinal e não por exemplo 
em cirrose hepática pois o paciente não tem mais condições de produzir proteínas. Risco de reações de 
hipersensibilidade – febre, urticária, angioedema. 
 
 Concentrado de plaquetas: preservado sob agitação por até 5 dias e indicado em casos de trombocitopenias 
que venham junto com sangramento – se não há sangramento ativo acontecendo não há indicação ainda de 
transfusão de concentrado de plaquetas. A indicação profilática é para pacientes que serão submetidos a 
procedimentos cirúrgicos (entre 50 mil e 100 mil). 
REAÇÃO TRANSFUSIONAL 
 
 
 
 
 
 
“Em laranja estão as reações mais comuns que podem ocorrem 
Todo evento desfavorável em decorrência de procedimento de transfusão durante ou após a sua realização que pode 
ocorrer horas, dias ou semanas após a transfusão. A frequência de ocorrência é de 3 a 8% em cães e gatos. São 
classificadas em imunológicas ou não imunológicas e em agudas (primeiras horas ou até 24horas) e tardias 
(semanas ou até anos depois). 
O tipo de reação está relacionado ao hemocomponente usado e ao receptor. 
 
Agudas: 
 - Imunológicas: 
 Hemolíticas: mais grave e temida 
 Hipersensibilidade: aos componentes do plasma 
 Trali: muito delicado, reações respiratórias muito graves 
 - Não imunológicas 
 Sobrecarga de volume: se eu tenho um cardiopata e faço um sangue total por exemplo 
 Hemolítica aguda 
Pode evoluir rapidamente paro óbito. Associada a presença de anticorpos contra os antígenos das hemácias e 
considerada uma reação de hipersensibilidade tipo II. Em cães raramente há anticorpos na superfície das hemácias 
então em uma primeira transfusão essa reação é mais rara. Os gatos já têm anticorpos naturais nas hemácias 
então em uma primeira transfusão neles issojá pode acontecer. Os sinais clínicos que podem nos indicar que está 
acontecendo são a hipertermia, hipotensão, taquicardia, taquipneia, êmese e hemoglobinúria. 
 Hipersensibilidade aguda 
Muito comum quando são utilizados sangue total ou plasma, pois é uma reação imunológica que ocorre devido as 
proteínas presentes no plasma, principalmente as gamaglobulinas, ou seja, ocorre em produtos onde o plasma está 
presente. É caracterizada por reações alérgicas – urticária, angioedema e mais raramente anafilaxia podendo ocorrer 
vomito e hipertermia. Geralmente ocorre dentro dos primeiros 45 minutos de transfusão – monitorar os pacientes em 
transfusão. 
“Ainda ocorrem muitas reações transfusionais na veterinária porque ainda se usa muito o sangue total “ 
DEA 1.1 – antígeno eritrocitário canino que apresenta poder antigênico muito grande 
 Um doador que é DEA 1.1 negativo pode doar tanto para um cão DEA + quanto para um DEA – 
 Um doador DEA 1.1 positivo só pode doar para cães DEA 1.1 positivos – a grande maioria dos tipos sanguíneos 
dos cães é positivo 
 Paciente em CID – se o HT está normal esse animal deve repor fatores de coagulação = plasma fresco 
congelado 
MONITORAÇÃO 
Precisamos avaliar o paciente de forma seriada com a semiologia – FC, FR, TR, nível de consciência – durante todo o 
procedimento de transfusão. A partir do momento que rompemos o lacre da bolsa de sangue e acoplamos o equipo de 
transfusão temos que realizar todo o procedimento em até 4 horas, mais que isso há risco de crescimento bacteriano e 
contaminação da bolsa. Não usar bomba de infusão não especifica para transfusão pois o sistema que usa pode causar 
lise de hemácias. Fazer todos os parâmetros prévios à transfusão e começar com taxa de 0,2ml/kg nos 10 min iniciais. 
Monitorar esse paciente de 30 a 30 minutos e passados 15 minutos da transfusão finalizada monitorar o hematócrito do 
paciente para saber se chegou à meta, se sim, esse valor deve ser mantido pelas próximas 12 a 24horas seguintes - o 
HT deve ser repetido em 12 e 24 horas, se o número não se manteve existe uma grande chance de ter acontecido 
reação hemolítica.

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