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W BA 07 30 _v 1. 0 AGILE LEADERSHIP PRACTICES 2 Regis Garcia Londrina Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2019 Agile leadership practices 1ª edição 3 2019 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ Presidente Rodrigo Galindo Vice-Presidente de Pós-Graduação e Educação Continuada Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Braga de Oliveira Higa Carolina Yaly Giani Vendramel de Oliveira Juliana Caramigo Gennarini Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Tayra Carolina Nascimento Aleixo Revisor Cecilia Sosa Arias Peixoto Editorial Alessandra Cristina Fahl Beatriz Meloni Montefusco Daniella Fernandes Haruze Manta Hâmila Samai Franco dos Santos Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) ______________________________________________________________________________________ Garcia, Regis G216a Agile leadership practices / Regis Garcia. – Londrina Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2019. 143 p. ISBN 978-85-522-1546-2 1. Desenvolvimento ágil de software. 2. Liderança. 3. Cultura Organizacional. I. Garcia, Regis. II. Título. CDD 300 ____________________________________________________________________________________________ Thamiris Mantovani CRB: 8/9491 © 2019 por Editora e Distribuidora Educacional S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. SUMÁRIO Apresentação da disciplina ____________________________________________________05 Liderança versus autogestão __________________________________________________07 Estilos de liderança: propósito ________________________________________________36 Alinhamento entre a estratégica e a liderança ________________________________61 Aprendendo a liderar _________________________________________________________89 Motivação do time ágil ________________________________________________________113 Estruturas Ágeis _______________________________________________________________139 Cultura Ágil __________________________________________________________________163 AGILE LEADERSHIP PRACTICES 5 Apresentação da disciplina Caro aluno, O conteúdo da disciplina em questão apresenta um conjunto de discussões sobre temas de alta relevância para a gestão eficaz das organizações, de pessoas e de processos. A disciplina conta com uma série de temas que nos levam a refletir sobre o quão importante são as respostas que damos às demandas dos contextos nos quais estamos inseridos. Isso se aplica igualmente às organizações. O pano de fundo das discussões trazidas pela disciplina é o contexto VUCA WORLD, caracterizado pela volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade. Essas características invocam ações e reações das organizações em busca de maior eficácia e ampliação de sua competitividade. Você terá a oportunidade de conhecer e discutir a questão da autogestão como instrumento para o ganho de agilidade e de comprometimento dos liderados. Terá a oportunidade de conhecer os vários estilos de liderança, além de ter acesso a conteúdo sobre a aplicabilidade desses estilos. A estratégia é abordada sob a perspectiva do alinhamento cultural e da liderança, fator fundamental para o equilíbrio do ambiente de trabalho. Você também conhecerá os quesitos e as características para a gestão e a motivação de times ágeis. Verá também que nem sempre mudar a estrutura é necessário para se implantar o modelo ágil. Muitas vezes, mudar as regras de comportamento é o suficiente. 6 Por fim, os elementos da cultura organizacional são abordados sob tal perspectiva, para se possibilitar a criação de um ambiente propício para o estabelecimento de práticas ágeis. Do conceito à aplicação, temos, nesta disciplina, a grande oportunidade de conhecermos e entendermos como são aplicadas as práticas que tornam as empresas mais ágeis e, consequentemente, mais eficazes. Liderança versus autogestão Autor: Regis Garcia Objetivos • Contextualizar os ambientes nos quais se aplicam os processos de gestão, liderança e de tomada de decisões, a fim de justificar as mudanças ocorridas nos modelos aplicáveis às organizações. • Conceituar gestão e liderança de forma que o aluno compreenda as funções e desafios do líder nos diferentes contextos sociais. • Correlacionar gestão, liderança e funções do líder com o modelo de autogestão, destacando sua aplicação, vantagens e desafios. 8 1. Conceito e funções do gestor/líder A gestão de pessoas e processos talvez estejam entre os maiores desafios das organizações, desde sua origem, a partir das formas de cooperação da manufatura iniciados em meados do século XIX. Para compreender a complexidade desses processos, basta pararmos um momento e olharmos ao nosso redor. Com quantas pessoas nos relacionamos cotidianamente? Quantos momentos de decisões e soluções de problemas experimentamos diariamente? Cada contexto, relacionamentos e momentos de decisão, contemplam uma série de ações e reações. Experimentamos sensações e sentimentos diversos e, algumas vezes, conflitantes, tanto nas situações nas quais lideramos processos, como naquelas em que somos liderados. Embora conceitualmente tenhamos diferenças entre as definições de gestor e líder, para fins de nossas discussões, gestor será considerado como um líder, portanto, características aplicáveis ao líder, para nós, serão igualmente aplicáveis ao gestor. Antes de falarmos sobre o gestor/líder, é preciso reconhecer que as demandas por inovação não se resumem aos processos produtivos, de prestação de serviços ou de comercialização de mercadorias como estamos acostumados ao estudar contextos organizacionais tradicionais. A inovação nos processos de gestão das organizações é um pressuposto para o aumento de sua eficácia como um todo. Para Michels e Ferreira (2013), o mercado exige cada vez mais produtos inovadores e disponíveis em um rápido espaço de tempo. No mesmo sentido, surge a necessidade de uma nova forma de gestão e desenvolvimento desses produtos, ou seja, novas formas de gerir as atividades e, consequentemente, os times de trabalho. 9 Se a forma de gestão e desenvolvimento dos produtos se altera, há de se repensar a gestão das demais áreas envolvidas com a operação das organizações. As organizações funcionam como sistemas, demandando harmonização entre suas unidades e setores em prol dos objetivos mais amplos previstos em seu planejamento estratégico. Para Nick, Bill e O’Shea (2010), no contexto de volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade, as pessoas e demais recursos podem ser rearranjados e combinados, criativa e rapidamente sem causar mudanças em sua estrutura principal. Nesse sentido, para iniciarmos nossa discussão em torno das funções do gestor/ líder, vejamos uma importante reflexão. Precisamos reconhecer que, enquanto seres sociais, todos nós participamos de inúmeros contextos nos quais precisamos exercer pelo menos dois papéis que são fundamentais para a nossa sobrevivência. O primeiro papel diz respeito às relações e relacionamentos que estabelecemos com os outros, o que, convenhamos, representa um desafio considerável. Esse desafio se intensifica quando estamos em posiçãode gestor/ liderança de um time. Para Rosenbach, Taylor e Youndit (2012) só conhecemos realmente o que é liderança quando a experimentamos. Em relação ao segundo papel, devemos reconhecer que nossa convivência com as pessoas nos mais variados contextos nos impõe constantemente a necessidade de exercer escolhas, a fim de solucionarmos os problemas que nos são apresentados a todo o momento. Indiferentemente de nossos problemas serem mais ou menos complexos, certamente nos demandarão, frequentemente, enfrentamento e escolhas. 10 Mas o que essa reflexão inicial tem a ver com nosso tema? Ocorre que os papéis exercidos por nós nos contextos sociais de família, de trabalho, de educação, entre outros, estão permeados de situações que demandam gerenciamento e acompanhamento. Quando não estamos gerindo algo, estamos sendo geridos por algo ou por alguém. Na busca pelo aumento da eficácia nos relacionamentos e decisões voltadas à solução de problemas, colocamos em prática nossos conhecimentos, competências e habilidades. A esse conjunto podemos chamar de background. Executamos atividades no contexto organizacional, geralmente, em resposta a demandas que derivam de normas, regulamentos, objetivos, metas, avaliações etc. Nesse sentido, exercemos nossas escolhas e nos comportamos não apenas fundamentados em nossas crenças, valores e atributos, mas procuramos estar aderentes às expectativas da organização e de nossa liderança. Em Michaelis (2019), encontramos o conceito da palavra liderança, que nos ajuda a compreender a utilização do termo como algo relacionado à função de líder, que revela autoridade e que destaca o espírito de ascendência. Contribui com essa concepção o que destacam Rosenbach, Taylor e Youndit (2012) sobre a liderança de transformação, que envolve fortemente a identificação entre liderados e liderança como um pressuposto para sua eficácia. Justamente para que os processos ocorram de forma eficaz é que existem os gestores que reúnem uma série de recursos, a fim de atingir objetivos preestabelecidos e confiados a ele por uma determinada pessoa ou organização. Ao reconhecermos a importância das relações e da constante demanda por escolhas e decisões, compreendemos que a gestão no sentido mais amplo 11 representa a busca pelo uso eficaz dos recursos disponíveis, a fim de que seja potencializada sua utilização em prol da solução dos problemas. Quando tratamos, por exemplo, de objetivos organizacionais de empresas, instituições, associações, cooperativas, dentre outro, concentramos nossos esforços em atividades, tarefas e recursos necessários para que esses objetivos sejam atingidos. Conforme explica Escalada (2011), os indivíduos recriam as condições que tornam possíveis a execução de suas tarefas, sendo que nelas estão contempladas a própria estrutura da organização. Do mesmo modo, a estrutura organizacional se reproduz a partir das sucessivas práticas sociais situadas no contexto. Sob essa perspectiva, a gestão envolve tanto aspectos da estrutura como das relações sociais ocorridas no contexto organizacional, o que garante características de complexidade e dinamismo. A gestão desse ambiente, portanto, exige alto nível de planejamento e acompanhamento constantes, de forma que o resultado da dinâmica relacional seja canalizado a favor dos objetivos da organização, constantes em seu planejamento. A organização, identificação e mensuração dos recursos necessários para tornar possível a execução dos planos organizacionais estão condicionadas à execução de um processo minimamente estruturado de resposta às seguintes questões: • Sobre qual objetivo estamos falando especificamente? • Qual o motivo de estabelecemos esse objetivo? • De quanto tempo dispomos para atingir esse objetivo? • Qual o time envolvido com a busca por atingir esse objetivo? 12 • Onde se realizará a busca por atingir esse objetivo? • Como se atingirá esse objetivo? PARA SABER MAIS O modelo acima é amplamente conhecido como sistematização para situações de planejamento e representa o conjunto de questões básicas a serem respondidas na maioria dos projetos: o que? Por quê? Quando? Quem? Onde? Como? Quanto? Essas questões norteiam o planejamento e a gestão, e representam os parâmetros necessários para a identificação, mensuração e reunião dos recursos necessários para a solução de problemas independentemente do contexto. A partir dessas considerações, podemos estabelecer um relacionamento entre as funções da gestão e o papel do gestor/ líder dos times de trabalho no contexto organizacional. 1.1 Funções de gestão e liderança O alinhamento entre os propósitos da liderança, dos liderados e da organização como um todo perpassa as relações e as decisões no ambiente de trabalho. Embora não estejamos discutindo estilos de liderança, precisamos reconhecer que o alinhamento descrito acima sofre influência direta das características e comportamento daqueles que ocupam essa função. No mesmo sentido, com o passar do tempo, os gestores/ líderes sofrem 13 significante influência das características da estrutura e do ambiente organizacional. As trocas de influências ocorrem em todos os sentidos na organização, envolvendo os líderes, os liderados e a estrutura ambiental na qual se estabelecem as relações de convivência e de trabalho. Segundo Escalada (2011), a liderança compõe duas dimensões: a primeira está baseada no mito institucional do líder, e consiste em um ordenamento simbólico, enquanto a segunda se estabelece a partir de quem ocupa os cargos de liderança. A estrutura simbólica, expressa nos organogramas, consiste em um tipo de ordenamento voltado para a identificação dos níveis hierárquicos, da divisão das unidades e setores e das responsabilidades. Teoricamente, o funcionamento da máquina organizacional deveria ocorrer de acordo com o ordenamento preestabelecido pela direção da organização, mas não é o que geralmente acontece. A descrição acima contempla características do modelo tradicional de gestão, que visa facilitar o planejamento e o acompanhamento das atividades baseados na avaliação de desempenho das unidades e setores. Não obstante às limitações do modelo tradicional das organizações, precisamos reconhecer que a gestão eficaz exige o constante acompanhamento e avaliação das atividades. Esse processo visa a verificação sobre a adequação das tarefas, atividades e operações em relação ao que foi previamente planejado. Sob a perspectiva da segunda dimensão da liderança tratada por Escalada (2011), reconhecemos a importância da pessoa, da figura do líder, mais do que seu posicionamento hierárquico ou sua condição 14 dentro da estrutura simbólica evidenciada nos organogramas e fluxogramas organizacionais. Você pode estar se perguntando: mas e o conceito e as funções de gestor/ líder? Justamente, o embasamento teórico sobre a gestão e a estrutura de liderança é nosso ponto de partida para compreender essas funções. Precisamos nos conscientizar sobre as mudanças nos modelos organizacionais como resultado e também origem das mudanças de concepção sobre a atividade de gestão, como é possível observar na Figura 1. Figura 1 – Mudanças na concepção de liderança Fonte: elaborada pelo autor. Na Figura 1, é possível observar uma sensível mudança de percepção sobre o líder de ontem, que era o centro das decisões; e o líder de hoje, que contribui para o protagonismo da equipe. 15 Cabe ao gestor/ líder exercer o papel de liderança de forma a reunir os recursos necessários, geri-los e aperfeiçoá-los, a fim de atingir os objetivos. Você se lembra dos dois papéis que exercemos cotidianamente? Pois bem, cabe ao líder, ao gestor/ líder, facilitar os processos de relacionamento e de decisão, a fim de que convirjam sempre para uma finalidade prédeterminada. Nesse sentido, o gestor/ líder exerce uma função estratégica no contexto das organizações, uma vez que deve se guiar pelos planos de ação em buscade satisfação dos objetivos determinados pela organização. São desses planos que derivam os objetivos e as metas que estão sob sua responsabilidade. Gestor é o sujeito que gesta, ou seja, que administra algo. Esse termo, no entanto, não se aplica exclusivamente em organizações formais, como empresas, por exemplo. O processo de gestão possui papel importante nos mais variados contextos, que, geralmente, contam com planos de trabalho. ASSIMILE O planejamento estratégico é a base para o alinhamento de todos os envolvidos em prol da missão e da visão da organização. O planejamento tático permite o desmembramento e disseminação do plano estratégico nas unidades. O plano operacional viabiliza a especificação dos objetivos de cada setor dentro das unidades, traduzindo os objetivos do plano tático em metas específicas. 16 O gestor está presente em cada um dos níveis de planejamento descritos anteriormente, variando apenas o nível hierárquico e volume de responsabilidades sobre as quais responderá. Figura 2 – Funções do gestor Planejamento tático Planejamento operacional Objetivos Metas Gestor Time Demais recursos Planejamento estratégico Fonte: elaborada pelo autor. Analisando a Figura 2, podemos visualizar graficamente a relação estabelecida entre o gestor, o planejamento, as metas e os objetivos, mas, principalmente, com os recursos disponíveis necessários à execução das atividades organizacionais. Dentre os recursos que o gestor canaliza a favor dos objetivos, está o recurso humano, que certamente é o mais importante e desafiante do contexto de trabalho. É justamente a gestão desse recurso que poderá resultar em maior ou menor produtividade na execução das atividades e tarefas, a depender do quanto o time está engajado e alinhado com os objetivos do líder e da organização. 17 De nada adianta o alinhamento do gestor/ líder em relação aos planos da organização, e tampouco ter à sua disposição todos os recursos, se não tiver a competência da gestão de pessoas. O maior desafio do gestor/ líder é, portanto, o de manter os times em constante atividade e focados nos objetivos da organização. Nesse sentido, Goleman (2011) destaca o fato de que a capacidade de um líder em promover a inovação em seu grupo é essencial para que as empresas prosperem. Independentemente do modelo de gestão, portanto, a figura do gestor/ líder e a forma como exerce sua liderança estão diretamente relacionados com o sucesso dos times e da organização como um todo. 2. Autogestão A autogestão compreende um fenômeno que a cada dia se mostra mais presente nas estruturas organizacionais. Envolve além da flexibilização relacional, a implantação de processos participativos de solução de demandas. Vale observar que autogestão não é sinônimo de horizontalização. O foco principal da autogestão está menos na estrutura em si, que pode muitas vezes se aproximar das estruturas tradicionais, e mais na forma como os processos são geridos e quem é o responsável por sua gestão. Como as estruturas organizacionais se tornam menos rígidas em termos de poder e autoridade, consequentemente, há o aumento da importância das iniciativas individuais. Essas iniciativas, somadas, fortalecem os times em prol da solução de problemas e atendimentos às demandas da organização. 18 Na autogestão, o indivíduo se responsabiliza pelos relacionamentos com os demais integrantes do time e com os membros de outros times, devendo possuir, dentre outras, as características apresentadas na Figura 3. Figura 3 – Características da liderança Autoconhecimento Espírito de equipe Poder de decisão Relacionamento Versatilidade LÍDER Fonte: elaborada pelo autor. No modelo de autogestão, o líder é o responsável pelo planejamento de suas próprias atividades, além de garantir que essas atividades sejam desenvolvidas de forma coordenada com os demais colaboradores e times de trabalho. A avaliação de desempenho e ajustes nos processos pode ficar a cargo dos indivíduos na autogestão, não significando, no entanto, que recebem to total autonomia para exercer de forma isolada o planejamento, a execução e o controle das atividades. A autogestão é individual, porém, é na coletividade e pelo engajamento que as coisas acontecem. 19 Podemos utilizar vários pontos de partida para chegarmos ao conceito de autogestão, porém, dado nosso objetivo de correlacionar a liderança com a autogestão, vamos partir da autoconsciência. Autoconsciência Em resumo, a autoconsciência significa conhecer a si mesmo. Embora isso pareça algo banal e elementar, está longe de ser de fácil compreensão, e, mais ainda, de ser aplicada em nosso cotidiano. A dificuldade está justamente no fato de que, muitas vezes, não temos consciência sobre nossas próprias habilidades, competências, pontos fortes e tampouco de nossas limitações. Não é nosso objetivo o aprofundamento sobre o que é consciência ou a autoconsciência, no entanto, é necessário partirmos do seguinte pressuposto: se um indivíduo está em posição de liderança, o primeiro passo para uma gestão eficaz do comportamento de seus liderados é o autoconhecimento. Primeiramente, o líder precisa reconhecer seus próprios comportamentos diante das mais variadas situações para poder exercer sua liderança e autoridade, evitando surpresas capazes de abalar o equilíbrio do ambiente de trabalho. A autogestão implica em conhecermos nossas principais características e comportamentos nas diversas situações com as quais convivemos no dia a dia. O autoconhecimento nos permite estabelecer alguns parâmetros comportamentais que nos auxiliarão nas conexões, relacionamentos, decisões e enfrentamentos. Não basta, todavia, que o foco de nosso conhecimento esteja exclusivamente sobre nós mesmos. Claro que isso é importante, como já mencionamos anteriormente, mas precisamos nos lembrar de que estamos falando de gestão, das funções do gestor e de liderança nos variados contextos nos quais estamos inseridos. 20 Podemos considerar o autoconhecimento e o conhecimento de mercado como alicerces do processo de autogestão, entretanto, essas duas características também afetam diretamente o processo de gestão e liderança dos times. Figura 4 – Autogestão, gestão e liderança AUTOGESTÃO Autoconsciência. Autoconhecim ento. Conhecim ento do am biente e do m ercado. Gestão e Liderança Objetivos e metas Fonte: elaborada pelo autor. Na Figura 4, podemos visualizar a representação das relações entre a autogestão e a gestão e liderança dos times. A autogestão está alicerçada sobre os conhecimentos sobre si e sobre o ambiente e o mercado, sendo que esses alicerces se apoiam nos objetivos do gestor/ líder enquanto responsável por gerir e liderar os times em prol dos objetivos a ele confiados. Ambos os conhecimentos perpassam as funções de liderança e os objetivos e metas almejados pelo líder em conjunto com o time. Sendo o gestor/ líder aquele que exerce a gestão, o conhecimento sobre os ambientes internos e 21 externos desses contextos é um imperativo para que haja o bom exercício da liderança e, consequentemente, se obtenha maior engajamento do time. Segundo Caldeira (2014), o ambiente que envolve as organizações se caracteriza por ser extremamente tumultuoso, inconstante, complexo e competitivo. Fundamenta-se aí a necessidade de rapidez nas respostas às mudanças. O monitoramento constante é fundamental e reforça a capacidade de êxito em relação aos objetivos da organização. Inteligência emocional A autogestão está relacionada à inteligência emocional do líder, ou seja, envolve o uso da inteligência e da razão como pressupostos comportamentais diante dos processos envolvendo a solução de problemas. Goleman (2011) defende, por exemplo, que, para tomar boas decisões, nós precisamos ter sentimentos, emoções e domínio de nossos pensamentos. O autor destaca a importância dos sentimentos viscerais, aqueles mais profundos comorequisito para tomarmos decisões que envolvem a ética, especialmente em cargos empresariais e de liderança. Autogestão significa gerir a si mesmo, por isso a importância do autoconhecimento, afinal, como gerir alguém que não conhecemos? Goleman (2011) destaca a importância da autoconsciência em inteligência emocional. A consciência sobre nossas próprias habilidades e competências nos ajuda a diagnosticar nossa capacidade de solução dos problemas. No mesmo sentido, o conhecimento sobre nossas limitações e fraquezas converge para evitar o excesso de confiança que pode, em determinadas situações, ser danoso para a solução de problemas emergenciais. 22 Tanto o extremo da superconfiança como o da baixa autoestima é prejudicial para o exercício eficaz da liderança. As palavras-chave no processo de autogestão são equilíbrio e estabilidade emocional. Como a maioria dos desafios em nossas vidas, se autogerir implica em esforços físicos e comportamentais. Inclusive, já mencionamos o primeiro desses esforços, você lembra? O conhecimento sobre si mesmo, nossa autoconsciência. Bom seria se atingíssemos um nível sobre o conhecimento de nós mesmos que nos levasse a exercer nossas escolhas da forma mais alinhada quanto possível às nossas características e ao nosso jeito de ser e viver. Mas que outros desafios são fundamentais para adquirirmos a competência e dominarmos as habilidades necessárias para a autogestão? Crença em si mesmo Acreditar em si mesmo está diretamente relacionado com nosso pressuposto do autoconhecimento, ou seja, além de nos conhecermos mais profundamente quanto possível, precisamos adquirir e manter nossa autoconfiança em nível satisfatório, mantendo em bom nível nossa motivação. A motivação é justamente outro ponto fundamental no processo de autogestão. É preciso que estejamos motivados e, principalmente, que queiramos atingir determinados objetivos. Disciplina A disciplina contribui para que a autogestão ocorra adequadamente, pois por mais motivados que estejamos, sem o mínimo de sistematização e persistência, podemos dispender esforços e recursos 23 desnecessários. Essa constatação nos leva a lembrar de que grande parte da autogestão está fundamentada no envolvimento que o indivíduo tem com os objetivos a serem perseguidos. A priorização dos objetivos e das metas tem relação intrínseca com a disciplina observada nas práticas cotidianas de cada indivíduo. Importância dos aspectos comportamentais Outros aspectos são fundamentais, uma vez que estamos em um contexto social no qual somos açodados por informações a todo o momento. As relações, embora muitas vezes lançadas ao segundo plano de nossas prioridades, possuem papel fundamental no equilíbrio do ambiente e convívio de trabalho. No mesmo sentido, os aspectos qualitativos passam a exercer forte influência sobre nossas decisões e nossos comportamentos. Muitas vezes, mais influentes do que modelos sistematizados quantitativos e racionais. Embora esses modelos quantitativos sejam viabilizados por bancos de dados extremamente capacitados e mais disponíveis a cada dia, as relações ainda podem fazer a diferença na solução dos conflitos e dos problemas. Goleman (2011), ao diferenciar inteligência emocional em relação ao quociente de inteligência das pessoas, lista algumas características, estando entre elas o relacionamento e a empatia. Para Medinilla (2012) podemos considerar como líder alguém que desejamos seguir e quem nos inspira com suas ações. A partir dessa concepção, podemos compreender o quanto o comportamento do líder influencia seus times de trabalho. 24 Priorização Quando obtemos a competência da disciplina em nosso cotidiano, a priorização passa a ser fundamental, pois não é suficiente nossa persistência na execução de tarefas, cumprimento de metas e perseguição dos objetivos, se, adicionalmente, esse processo não contemplar a ordenação de acordo com as prioridades. O julgamento sobre o que é ou não prioritário, ou sobre o que é mais ou menos urgente, faz parte do processo de organização de nossa autogestão. Como destacamos no início de nossas discussões, a gestão pressupõe o uso racional dos recursos disponíveis e necessários para se atingir determinados objetivos nos contextos nos quais está inserida. 3. Gestão do tempo É nesse sentido que a gestão do tempo se mostra como uma competência complementar à priorização de nossas demandas. Possibilita o acompanhamento e avaliação quantitativos, qualitativos e cronológicos das atividades por nós executadas. 3.1 Aplicação do modelo de autogestão A autogestão consiste em uma tendência que deve se estabelecer mais fortemente à medida que a sociedade e os indivíduos compreendam a necessidade do exercício da liderança participativa, seja formal ou informalmente. Um exemplo dessa tendência é o fato de que a autogestão representa uma característica da economia solidária. Algo que tem se mostrado como alternativa a situações, por exemplo, de falência de empresas 25 cuja propriedade e operação acabam sendo transferidas aos antigos funcionários. Conforme esclarece Lisboa (2005), o modelo de autogestão é, geralmente, considerado como algo que corresponde à democracia na economia, ao mesmo tempo em que caracteriza a economia solidária. Embora faça esse reconhecimento, Lisboa (2005) acrescenta que a autogestão não é um pressuposto para a existência da economia solidária e tampouco é suficiente para defini-la como tal. Não obstante, a busca por maneiras mais justas de produção e comercialização a partir do pensamento coletivo é uma das características da economia solidária. Essas características se aproximam daquilo que consideramos como gestão democrática presente no modelo da autogestão. Corrobora com essa concepção o fato de que a nova condição dos proprietários, que antes eram empregados das empresas falidas, impõe a eles a necessidade de muita disciplina, dedicação, foco, motivação, gestão do tempo, conhecimento do mercado e autoconhecimento. Essas necessidades podem ser satisfeitas a partir da implantação do modelo da autogestão, embora não seja essa a condição obrigatória para que a nova organização seja considerada como de economia solidária. De uma forma ou de outra, a autogestão interfere diretamente na maneira como as lideranças veem a organização e suas estratégias. Envolve uma nova visão sobre a forma de gerir e de buscar os resultados almejados. Um estudo de autoria de Gray, Sarnak e Burguers (2005), que analisou o modelo de negócio da empresa Holandesa Buurtzorg, avaliando sua aplicabilidade nos Estados Unidos, traz evidências sobre a influência das 26 práticas de autogestão nos resultados da organização. Essas evidências incluem aspectos quantitativos, como tempo de recuperação de pacientes e diferença nos custos de atendimento em relação a outras organizações do mesmo setor. Conforme Gray, Sarnak e Burguers (2005), no modelo de atendimento da Buustzog, uma das metas é a criação de times de enfermeiros autogerenciáveis que fornecem tanto serviços médicos como de apoio aos pacientes. Outras metas envolvem confiar no profissionalismo dos enfermeiros, treinar pacientes e familiares para se autoatenderem e a criação de network com a vizinhança dos pacientes, ou seja, aprimorar as relações que, de alguma forma, possam contribuir para a busca da independência dos pacientes. Trata-se de uma quebra de paradigma, uma vez que as ideias de que manda quem pode, obedece quem tem juízo e um manda e outro obedece passam a dar lugar, gradativamente, ao reconhecimento de maior autonomia individual. Ao mesmo tempo, as decisões passam a ser tomadas de forma participativa e colegiadas. Essas mudanças influenciam no dinamismo e na eficácia dos processos e, consequentemente, da organização como um todo. 3.2 Vantagens da autogestão Uma das principais vantagens da autogestão está no aumento da segurança de nossas atitudes e decisões, tanto quando estamosna posição de liderança, como nos casos nos quais fazemos parte de um time de trabalho e somos liderados. O modelo de autogestão gera uma ampliação da distribuição de autoridade e responsabilidades que tornam o ambiente organizacional 27 mais democrático e, muitas vezes, mais harmonioso no sentido de convivência social. Maior domínio sobre nossas ações é outro benefício gerado pela autogestão. A autogestão proporciona maior confiança dos colaboradores diante dos desafios e incertezas envolvidos com suas atividades. São treinados para se posicionar proativamente diante dos problemas e se acostumar com as adversidades oriundas dos processos com os quais está envolvido. Quanto menos dependemos de terceiros para nos colocar em ação em nossas atividades, mais estaremos confiantes em nossas próprias capacidades. O modelo desenvolve, a partir das experimentações, a capacidade de adaptação às diferentes situações. Essa característica diminui os impactos negativos observados pela rigidez comportamental em estruturas menos flexíveis. Muitas vezes, a autogestão se torna grande aliada na busca de soluções satisfatórias de problemas mais complexos. Outra vantagem da autogestão é o fato de que o próprio indivíduo passa a ser o protagonista de seu desenvolvimento, sendo o responsável pela eficiência e eficácia de seu trabalho e seus resultados. No processo de autogestão, existe maior flexibilidade na estrutura organizacional, fazendo com que toda a organização contribua com o apoio às equipes ou times responsáveis por determinadas tarefas. A divisão das funções de liderança, como planejamento, coordenação, acompanhamento e avaliação com os times, contribui para maior fluidez na comunicação intraorganizacional. Aliás, um dos problemas que afeta o desempenho organizacional é a ineficácia comunicacional. 28 No modelo de autogestão, se observa a preocupação com a clareza com a qual as demandas são comunicadas aos pares. Sem essa característica, se torna praticamente impossível a flexibilização e disseminação das funções de gestão e, consequentemente, do alcance dos objetivos. A possibilidade de autogestão dos recursos disponíveis para a consecução dos objetivos também pode ser considerada uma vantagem da autogestão, uma vez que, em estruturas mais hierarquizadas e menos flexíveis, o processo entre a solicitação e o efetivo uso do recurso, principalmente o financeiro, pode representar um entrave para o desenvolvimento das atividades organizacionais. A maior eficácia na satisfação de objetivos, por meio da autogestão, também é atribuída ao maior engajamento dos indivíduos na busca de soluções. 4. Desvantagens e desafios da autogestão Embora não seja uma condicionante, existem problemas de adaptação cultural no processo de implantação do modelo de autogestão. Quando não existe uma cultura propensa à flexibilização e adaptabilidade às mudanças, normalmente, se torna necessário um trabalho prévio que evidencie as vantagens do modelo, bem como os comportamentos que se espera dos líderes e dos times a partir de então. Geralmente, a omissão quanto às características culturais da organização, antes de qualquer mudança de paradigmas e de comportamento, gera resistência, instabilidade e queda de produtividade. Outro risco significativo de um erro, no processo de implantação do modelo de autogestão, está na perda de referência em relação a quem possui autoridade e lidera a solução de determinados problemas. 29 Mais uma vez, destacamos que o processo de autogestão demanda envolvimento, treinamento, convencimento e, principalmente, grande investimento em comunicação para que seus efeitos sejam positivos e não prejudiciais ao ambiente e aos processos de trabalho. Uma desvantagem e, ao mesmo tempo, um desafio que se destaca na aplicação do modelo de autogestão em contextos tradicionais, se dá em relação à necessidade de um conjunto de competências e habilidades do time que assume o protagonismo na solução de problemas. Anteriormente, esses times contavam com a liderança e a decisão de um gestor/ líder, enquanto, agora, podem se sentir desorientados diante das dificuldades comuns aos processos organizacionais. Se o time não conta com tais competências e habilidades, esse fato certamente contribuirá com o aumento da insegurança e da ineficácia dos processos de gestão submetidos ao novo modelo. Na mesma medida que o modelo de autogestão pode contribuir para o aumento da eficácia na solução de problemas relacionados à gestão das organizações, se mal dimensionado ou implantado sem os devidos cuidados, poderá resultar em paralisações e perda de controle dos processos. Cabe, portanto, à figura do gestor/ líder garantir que os recursos disponíveis e necessários para se atingir os objetivos traçados sejam utilizados da melhor forma possível, bem como garantir a harmonia necessária ao ambiente e o engajamento dos times envolvidos na execução dos processos. É nesse sentido que os modelos tradicionais, nos quais a hierarquia é considerada como a estrutura sob a qual todos devem pensar e agir, precisam ser repensados. No mesmo sentido, comportamentos que geram alguns excessos e erros na condução dos times estão sendo substituídos 30 por modelos mais flexíveis e adaptáveis às diferentes realidades organizacionais. O modelo de autogestão torna os fluxos de trabalho mais ágeis e eficazes, e contribui para o alinhamento entre líderes e liderados em prol da satisfação dos objetivos estabelecidos nos planos estratégico, tático e operacional das organizações. TEORIA EM PRÁTICA Caro aluno, certamente você já esteve envolvido com alguma situação-problema que lhe inquietou até que fosse solucionada, o que é comum a todos. Para praticar o conceito de decisão, vamos imaginar que estivéssemos diante da seguinte situação: você trabalha em uma empresa, há cinco anos, e recebeu uma proposta de trabalho que envolve crescimento pessoal, financeiro e oferece oportunidades futuras para sua carreira profissional. Ocorre que você é casado e sua esposa também trabalha há dez anos em outra empresa. Vocês não têm filhos e moram em um apartamento alugado, em sua cidade atual. O problema é que essa oportunidade é para início imediato e envolve mudar de cidade imediatamente. Diante dessa situação de decisão, quais seriam as variáveis que você consideraria para formar suas alternativas e analisar as consequências de sua escolha em relação a mudar de emprego e de cidade? 31 VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. Durante nossa discussão foram destacados dois processos com os quais convivemos cotidianamente. Nas alternativas a seguir, apresentamos processos igualmente importantes, porém, somente uma das alternativas traz respectivamente aqueles destacados em nosso texto. Assinale a alternativa que contempla adequadamente esses dois processos. a. Relacionamento e controle do tempo. b. Autoconsciência e priorização. c. Empatia e controle do tempo. d. Relacionamento e tomada de decisões. e. Autoconsciência e empatia. 2. Discutimos, em nosso texto, que o modelo de autogestão não resulta apenas em vantagens e benefícios, alguns desafios podem ocorrer em seu processo de implantação. Sobre isso, fazemos algumas afirmações: I – Previamente à implantação, aconselha-se uma avaliação sobre o alinhamento entre a cultura da organização em relação às práticas de autogestão de forma a evitar possíveis choques culturais. II – Embora as responsabilidades sejam diluídas entre os 32 times de trabalho, o modelo de autogestão não altera o processo de decisão focada no líder, uma vez que esse, necessariamente, deverá dar a palavra final sobre as situações-problemas. III – A tendência à ampliação da democratização no ambiente de trabalho pode gerar, ao contrário do objetivo, insegurança e confusão quando os times não possuem as competências e habilidades necessárias à aplicação do modelo de autogestão. Analisando as afirmações acima, écorreto dizer que: a. As afirmativas I e II estão corretas e a afirmativa III está incorreta. b. As afirmativas II e III estão corretas e a afirmativa I está incorreta. c. As afirmativas I, II e III estão corretas. d. As afirmativas I, II e III estão incorretas. e. As afirmativas I e III estão corretas e a afirmativa II está incorreta. 3. Dentre os exemplos de aplicação, que mencionamos em nosso texto, está o da economia solidária. Vimos que há um bom relacionamento entre os temas autogestão e economia solidária. Leia as afirmações abaixo e classifique como verdadeiras (V) ou falsas (F): ( ) A utilização do modelo de autogestão é que permite a classificação de uma organização como de economia solidária. 33 ( ) O modelo de autogestão se aplica à economia solidária devido ao fato de que uma de suas características envolve a democratização da gestão, o que se aproxima do conceito de coletividade. ( ) Existe uma forte resistência em se reconhecer o relacionamento entre os termos autogestão e economia solidária, uma vez que ambos possuem conceitos muito similares, ocasionando confusão de compreensão e aplicação. a. V – V – F. b. F – V – F. c. V – F – F. d. F – F – F. e. F – F – V. Referências Bibliográficas CALDEIRA, Jorge. Monitoração da performance organizacional. Lisboa-Portugual: Actual Editora, 2014. ESCALADA, Rodolfo A. La Incidencia de Liderazgo en la estructuración de La toma de decisión y La confianza em lãs organizaciones. In: Processos psicossociais nas organizações e no trabalho. José Carlos Zanelli; Narbal Silva; Suzana da Rosa Tolfo [org.]. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2011. GOLEMAN, Daniel. The brain and emotional intelligence: new insights. Regional Business Review, 2011, p.94. Disponível em: <https://www.nwmissouri.edu/ academics/pdf/rbr/2014.pdf#page=99>. Acesso em: 10 out. 2019. GRAY, Bradford; SARNAK, Dana O.; BURGUERS, Jako. Home care by self-governing nursing teams: the Netherlands’ Buurtzorg Model. The Common Wealth Fund. 2005. Disponível em: <https://www.commonwealthfund.org/publications/case- study/2015/may/home-care-self-governing-nursing-teams-netherlands-buurtzorg- model>. Acesso em: 10 out. 2019. LISBOA, Armando de Melo. Economia solidária e autogestão: imprecisões e limites. Revista de Administração e Economia–RAE, 2005, p.109-115. 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Resolução: Embora todas as alternativas contemplem processos importantes para a utilização do modelo de autogestão, os dois processos com os que quase convivemos mais diretamente, e que representam um enorme desafio para a gestão de forma geral, são os relacionamentos e a tomada de decisões. Questão 2 – Resposta: E. Resolução: Duas das características do modelo de autogestão são justamente a democratização e a distribuição de responsabilidades e autoridades. Portanto, não está correto dizer que não há mudança no processo de decisão e, tampouco, que existe a centralização das decisões na pessoa do líder. Questão 3 – Resposta: B. Resolução: Existem questionamentos quanto à premissa de que toda sociedade de economia solidária deve ser gerida a partir do modelo de autogestão. Não se questiona o modelo, mas a 35 vinculação conceitual dele ao da econômica solidária. Não existe pré-requisito da implantação da autogestão para se considerar uma organização de economia solidária. Estilos de liderança: propósito Autor: Regis Garcia Objetivos • Discutir a influência dos estilos de liderança na gestão organizacional. • Conceituar e destacar as principais características de cada estilo de liderança. • Discutir o propósito e a aplicação dos estilos de liderança nos diferentes ambientes e situações. 37 1. Estilos de liderança Assim como ocorre com a maioria dos modelos de gestão, os estilos de liderança representam tentativas de sistematização de comportamentos e processos, geralmente, desenvolvidos no contexto organizacional. Portanto, conhecê-los ajudará a compreender melhor as relações ocorridas nesse dinâmico e complexo ambiente. Certamente você convive ou já conviveu com situações nas quais se despontam líderes que assumem esse papel com a função de coordenar pessoas e grupos em busca de solucionar determinadas situações-problemas. No mesmo sentido, em muitas situações, nós mesmos assumimos o papel de líderes diante de determinados problemas. A liderança é um dos fatores de maior influência nos resultados obtidos pelas organizações. A reunião dos recursos necessários para manter a empresa em operação não é suficiente para garantir melhores resultados. Mintzberg et al. (2007, p. 58) define liderança como a habilidade de saber como “juntar o pacote e fazê-lo funcionar. Consiste em integrar visão, continuidade e controle na equipe gerencial”. Nesse sentido, a gestão do recurso humano é o que permite que as atividades sejam adequadamente desenvolvidas e os esforços canalizados em prol dos objetivos organizacionais. A liderança faz parte do processo de gestão do comportamento organizacional, que busca compreender as práticas de condução dos times dentro da organização, visando dois objetivos principais: 1. A compreensão do sucesso das organizações passa, necessariamente, pelo estudo dos comportamentos da 38 liderança na condução dos processos. É nesse ponto que a sistematização das práticas dos líderes bem-sucedidos colabora para a compreensão sobre os fatores que permitiram êxito da organização. 2. A sistematização do estudo do processo de liderança, além de permitir a compreensão sobre a operação como um todo, contribui para a identificação das boas práticas de gestão dos times que foram responsáveis pelo sucesso organizacional. Como você deve ter percebido, existe uma relação de troca entre a liderança e o contexto mais amplo da organização. Nesse processo de troca, tanto o líder como a organização influenciam e são influenciados. Basran et al. (2019) destacam a existência de pelo menos duas dimensões que sustentam diferentes formas de comportamento competitivo e estilos de liderança: a antissocial e a pró-social. Antissocial Está relacionado com o tipo de comportamento focado em si mesmo, ameaçador e com pouca atenção aos demais integrantes do time. Pró-social Que está relativamente focado nos demais integrantes do time e possuem como características a empatia, a atenção e a preocupação moral. 1.1 Estilos de liderança e relações organizacionais Embora os estilos de liderança representem um conjunto de competências, habilidades e comportamentos desempenhados pelo líder, não é saudável que entendamos esse conjunto como a solução 39 para todos os problemas envolvendo a relação líder e liderados no contexto organizacional. Nessa discussão, os estilos de liderança não representam receitas de comportamento que possam ser consultadas e executadas a qualquer momento e por qualquer pessoa. Existem perfis, personalidades, traços culturais, valores, entre outros elementos, que interferem diretamente em como cada indivíduo interage com seus liderados, bem como enfrentam as situações- problemas nocontexto das organizações. Podemos, portanto, considerar que determinados líderes são mais ou menos aderentes a determinados perfis na mesma medida que determinados estilos de liderança podem funcionar melhor em determinadas situações, ambientes e grupos do que outros. Como nos esclarecem Nick, Bill e O’Shea (2010), organizações e relações cada vez mais complexas implicam em comportamentos diferentes dos gestores. Você pode já ter tido a experiência de participar de uma reunião voltada para a discussão de um problema. Essas oportunidades nos colocam diante de processos de liderança e de decisão, que variam de acordo com a extensão e complexidade da situação a ser resolvida. O ambiente no qual essas situações-problemas ocorrem e são discutidas está permeado por elementos culturais que influenciam diretamente a eficácia dos processos ali desenvolvidos. A liderança e as decisões estão entre eles. 40 PARA SABER MAIS O professor Luiz Homero Silva Gutierrez, da PUC-RJ, em seu artigo Percepção do Clima Organizacional, conforme o escalão hierárquico, destaca uma expressão em Latim muito aderente às nossas discussões: “tempora Mutantur, nos et mutamur inillis (os tempos estão mudados e nós somos mudados dentro deles)”. (GUTIERREZ, 1998, p. 5). Você deve ter percebido que o processo de troca, entre os estilos de liderança e o ambiente no qual são aplicados, é constante e possui caminhos de ida e volta, ou seja, interações e alterações ocorrem em ambos a todo o momento. A liderança influencia e é influenciada pela cultura organizacional É nesse sentido que precisamos reconhecer a influência que o líder, aquele que exerce a liderança, tem sobre a cultura organizacional. Segundo Schein (2010), a liderança possui forte influência na formação da cultura organizacional. A cultura de uma organização é, em parte, o conjunto dos valores e crenças das pessoas. Se por um lado a cultura se forma a partir das pessoas, por outro, a cultura que vai sendo formada torna-se determinante para os comportamentos observados no ambiente organizacional. Trata-se de um ciclo constante, dinâmico e complexo. Aliás, esses são os mesmos adjetivos que caracterizam a própria organização como um todo. 41 O reconhecimento dessa influência é importante, uma vez que é a cultura da organização que dita grande parte dos comportamentos dos indivíduos e grupos e, consequentemente, afeta seu desempenho. Organizações que possuem uma cultura bem definida, forte e estável, geram ambientes mais homogêneos e mais harmônicos, contribuindo para a eficácia dos processos necessários à consecução dos objetivos organizacionais. A afirmação acima não significa, no entanto, que todos devam pensar e agir da mesma forma ou que o conflito deixe de fazer parte do ambiente organizacional. Tanto os pensares divergentes como os conflitos deles derivados são salutares para o desenvolvimento do grupo e para a busca de soluções mais assertivas para os problemas. Ocorre que a forma como as diferenças são consideradas e administradas pela liderança afeta diretamente esse desempenho. Ações do líder que evidenciem o desprezo pelas diferenças e aniquilação dos conflitos, sem que tenham sido solucionados, levam o time à descrença, ao desânimo e, consequentemente, à baixa produtividade. Vamos voltar à questão da influência do estilo da liderança na cultura organizacional? A força da cultura organizacional contribui para que essas questões, discutidas há pouco, sejam satisfatoriamente resolvidas. Mesmo havendo pensamentos heterogêneos, a tendência é que, após determinado tempo de amadurecimento das ideias e compreensão mais profunda dos problemas, haja maior consenso entre os integrantes do grupo. A isso é que chamamos de maior 42 homogeneidade, mesmo em ambientes com pensamentos heterogêneos. No mesmo sentido, os conflitos existirão, porém, a força da cultura e a confiança na liderança, além do respeito às relações, contribuirão para que haja a solução mais eficaz deles. A isso chamamos de maior harmonia, mesmo em ambientes no qual haja conflitos. Nenhum desses processos citados é de fácil aplicação na realidade organizacional, mesmo porque o dinamismo desses ambientes faz com que haja uma variação constante nos comportamentos neles obervados. Isso dificulta a padronização das ações da liderança. O que estamos defendendo aqui não é a busca pelo ambiente perfeito, nem tampouco a criação de um modelo de líder supremo perfeito, mas sim a busca do equilíbrio nas relações. Trata-se, no entanto, de uma luta diária e constante. Como a liderança está diretamente relacionada com a gestão de pessoas, e a cultura da organização em grande parte envolve valores, crenças, artefatos e mitos adquiridos pelo grupo ao longo do tempo, precisamos reconhecer a importância do equilíbrio na gestão do recurso humano da organização. O ciclo envolvendo a gestão de pessoas, portanto, exerce um papel fundamental na formação da cultura da organização, uma vez que o resultado desse ciclo interfere na retenção ou não dos colaboradores. Culturas fortes são formadas a partir de indivíduos engajados e comprometidos com o grupo, e a liderança tem papel fundamental nesse processo. Na figura 1, é possível a visualização gráfica do processo de gestão de pessoas na forma de um ciclo contínuo. 43 Figura 1 – Processo de gestão de pessoas Gestão de pessoas Desenvolvimento Atração e Retenção Administração de desempenho Manutenção Fonte: elaborada pelo autor. Dentre as fases constantes do clico apresentado na Figura 1, destacamos a administração de desempenho e a manutenção. Ambas estão diretamente relacionadas com a liderança nos processos organizacionais necessários à consecução dos objetivos propostos aos times. Os estilos de liderança afetam esses processos diretamente. Devido à complexidade do ambiente organizacional, a liderança exerce uma espécie de força apaziguadora, capaz de manter unido o grupo e levá-los ao cumprimento dos objetivos para os quais foram designados. O papel que o líder exerce nesse processo acaba levando seus liderados a comportamentos de adesão, gerados, muitas vezes, pela crença de que esses últimos adquirem em relação ao líder. 44 Dessa forma, a cultura da organização vai se formando a partir de inúmeros elementos, dentre eles, pelas experiências das relações entre os líderes, os liderados e a própria organização enquanto entidade coletiva. 2. Estilos de liderança e seus propósitos Você já ouviu alguém dizer: “aquele gerente tem um estilo autoritário de mais” ou “nossa, eu adoro meu chefe porque ele é extremamente carismático”, ou ainda, “meu coordenador deixa fazer o que querem”? Em cada uma dessas situações está presente um estilo de liderança, que compreende o conjunto de características observadas no comportamento do líder nas várias situações nas quais exerce sua liderança. Geralmente, os estilos de liderança são também tratados como estilos e características do líder. Algumas teorias foram sendo desenvolvidas ao longo dos anos sobre a liderança, que evidenciam formas diferentes para sua formação. A teoria dos traços considera que a liderança eficaz é formada a partir das características individuais do líder. A teoria do comportamento leva o foco da formação da liderança eficaz para o comportamento dos líderes diante das situações- problemas e na condução de seus liderados. Na teoria do comportamento, temos, basicamente, o conjunto de atitudes do líder que estão relacionadas às suas funções e aos estilos de liderança. 45 Goleman (2000) destaca que, de forma equivocada, muitos gestores compreendem os estilos de liderança mais como traços de personalidade do que como escolhas estratégicas. Em termos de funções, temos o estudo de como os líderes atuam na solução dos problemas e, no mesmo sentido, como mantém a união do grupo. Em termos de estilos de liderança, temos os estudos sobre os impactos de determinadosestilos exercidos pelos líderes na condução dos processos organizacionais. Segundo Possi (2006, p. 4), o estilo de liderança “é a forma exclusiva do líder guiar e estimular os esforços dos subordinados”. Embora os estilos de liderança estejam em um âmbito volátil e ambíguo, por tratar de comportamentos humanos, nos permitem obter indicativos de comportamentos vitoriosos na luta cotidiana enfrentada pelos indivíduos e grupos no contexto organizacional. 2.1 Diferentes estilos de liderança Se você fizer uma pesquisa envolvendo o tema, irá se deparar com inúmeros trabalhos e com um vasto conjunto de nomenclaturas e características diferentes de estilos de liderança. Isso se deve ao fato de que, conforme a sociedade evolui e muda suas práticas, igualmente as teorias que procuram explicar os fenômenos sociais se desenvolvem, sendo confirmadas, ajustadas ou refutadas. Ao longo de anos e anos de pesquisa, no entanto, foram sendo solidificados alguns conceitos envolvendo determinados comportamentos observados no cotidiano das organizações e que 46 fundamentaram a sistematização de alguns estilos de liderança mais ou menos definidos. Blanchard (2012, p. 85) explica que “durante muito tempo, existiram apenas dois estilos de liderança – autocrático e democrático”. Essas duas características antagônicas se mantêm como fatores de diferenciação dos etilos de liderança. Todavia, outros elementos foram sendo incorporados, permitindo seus arranjos e rearranjos de tempos em tempos. Estilo autocrático Compreende o comportamento de centralização, das decisões, na pessoa do líder, com poder institucional para isso. Em um ambiente organizacional, existem inúmeras situações nas quais as decisões precisam ser tomadas a curto prazo. Estilos nos quais as decisões só podem ser tomadas por pessoas que detém o poder, acabam por criar dificuldades na solução de problemas, com consequências graves para o bom andamento dos processos. Segundo Possi (2006, p. 4), nesse tipo de liderança “apenas o líder fixa as diretrizes, sem qualquer participação do grupo”. Nesse tipo de liderança, existe o que podemos chamar de centralização. No caso, o time dificilmente pode interferir nas decisões mais relevantes a que são submetidos, devido ao fato de que cabe ao líder (enquanto detentor do poder) tomar a última decisão. Estilo democrático Diferentemente do que ocorre na liderança autocrática, aqui, percebemos o envolvimento do time nas decisões. 47 Segundo Possi (2006, p. 4), nesse tipo de estilo de liderança, “as diretrizes são discutidas pelo grupo, estimulado e assistido pelo líder”. Todos os integrantes do grupo participam das discussões envolvendo os problemas e são envolvidos no seu processo de solução. Estilo liberal No estilo liberal (laissez-faire), ocorre a mínima intervenção do líder nos processos de solução dos problemas. Segundo Possi (2006, p. 4), nesse tipo de estilo de liderança “há a liberdade completa para as decisões em grupo ou individuais, com participação mínima do líder”. A ideia é deixar que o grupo tenha a liberdade de fazer tentativas próprias, porém, sob a supervisão do líder. Quando se faz necessário, o líder pode e deve intervir, porém, com parcimônia, para não afetar negativamente a liberdade dada inicialmente ao grupo. Esses três estilos de liderança podem ser considerados a base para as discussões sobre esse tema. Como já destacamos, a sistematização dos estilos de liderança é muito estudado e gera muitas tipificações diferentes a depender do estudo e da abordagem utilizada pelos pesquisadores. Nesse sentido, vamos utilizar outra classificação que traz, além dos três estilos apresentados anteriormente, outras abordagens de estilos de liderança. Goleman (2014) destaca um estudo da consultoria Hay/ McBer que envolveu 3.871 executivos de todo o mundo e que evidenciou a existência de seis estilos de liderança. Entretanto, o mais importante é que a pesquisa destaca que os líderes com melhores resultados não se restringem a um único estilo de liderança. 48 A necessidade de ajuste de comportamento diante de situações diferentes representa um dos desafios da liderança. Em muitas situações, existe a demanda por comportamentos distintos daqueles que normalmente praticamos. Essa concepção nos leva a refletir sobre a capacidade de adaptação do líder aos diferentes contextos nos quais convive, bem como das diferentes situações dentro desses contextos. Vamos discutir um pouco sobre a questão da adaptabilidade antes de apresentarmos novos estilos de liderança. Adaptabilidade Embora tenhamos esses três tipos de liderança, além de outros encontrados na literatura, os líderes não devem se fixar em exercer um único tipo de liderança, tendo em vista o dinamismo, a complexidade e a mutabilidade das situações com as quais convive nos ambientes organizacionais. Blanchard (2012) destaca que o líder que se fixa em um estilo específico (acreditando que esse é o estilo mais adequado ou correto) não pode ser considerado um líder completo. O líder precisa adaptar as práticas de liderança que formam seu estilo às diversas situações que enfrenta em seu cotidiano. O líder deve ter, dentre suas características, a adaptabilidade como arma para exercer diferentes papéis na condução de seus liderados nas diversas situações nas quais estão envolvidos cotidianamente. Isso não significa que o líder não tenha um perfil individual que lhe caracteriza, ou mesmo que necessite anular a si próprio para exercer a liderança, mas há a necessidade constante dele enxergar os problemas de fora para dentro. 49 Essa visão, que podemos denominar de holística, contribui para que características individuais prevaleçam sobre a cultura organizacional, gerando ruídos e conflitos que só prejudicam a condução do time. Muitas vezes, o líder que tem por característica valorizar a ordem e o regramento mais do que a improvisação, necessita improvisar. No mesmo sentido, o líder cuja característica prevalecente é a de apoiar o time sob qualquer circunstância, mesmo se isso significar quebra de regras em determinados momentos, necessita seguir ordens e padrões preestabelecidos. Blanchard (2012) ilustra a necessidade de flexibilização em relação aos estilos de liderança. Ele se utiliza de um caso envolvendo dois estilos de professores: uma diretiva e a outra apoiadora. O autor destaca que seria muito mais eficaz o trabalho de ambas as professoras, se utilizassem uma variedade de estilos na condução da solução dos problemas de seus alunos. Nesse sentido, podemos dizer que temos demandas diferentes para estilos diferentes, em momentos diferentes. Cada conjunto de características se adapta melhor ou pior a cada tipo de contexto e situação. Portanto, conhecê-las contribui para um julgamento mais preciso sobre nosso comportamento em cada um deles. Podemos exemplificar os diferentes estilos de liderança, utilizando os conceitos apresentados por Goleman (2000), que podem ser resumidos e observados na Figura 2. 50 Figura 2 – Processo de gestão de pessoas 1. Estilo coercitivo Em situações pontuais, como em desastres, esta liderança pode contribuir, porém nas organizações inibe a flexibilidade e derruba a motivação do time. 2. Estilo autoritário Este estilo funciona bem quando um negócio está à deriva. Mas é menos eficaz quando o líder possui uma equipe de especialistas mais experientes do que ele próprio. 3. Estilo afiliativo É útil quando o foco está na construção de harmonia e aumento da moral do time. O foco exagerado em elogios pode derrubar o desempenho do time. 4. Estilo democrático Gera flexibilidade e responsabilidade no time. O risco está em promover reuniões em excesso, gerando confusão e perda de referência na liderança. 5. Estilo estimulador Busca padrões de alto desempenho. Gera automotivação e favorece a competência. Pode gerar insegurança no liderado em assumir determinadas situações. 6. Estilocoaching Foca mais no desenvolvimento pessoal do que nas tarefas. Funciona mais quando os liderados sabem que precisam melhorar, do que em casos de resistências às mudanças. Fonte: adaptada de Goleman (2000, p. 2). 51 Cada um desses estilos de liderança possui características que, reunidas, formam uma espécie de perfil do líder. Não que estejamos falando de um perfil definitivo, mas sim de uma espécie de perfil temporário que é trazido à tona sempre que é demandado por um contexto ou situação-problema. Quando falamos em perfil temporário, no entanto, não se trata de banalizar os estilos de liderança, considerando-os como descartáveis. Pelo contrário, de valorizá-los e respeitar sua capacidade de contribuir mais especificamente para determinados contextos e situações, considerando suas especificidades, tornando-os mais ou menos aderentes aos contextos. Ao observar a Figura 2, você poderá, por exemplo, verificar que o estilo coercitivo é mais aplicado em situações emergenciais. O estilo coaching é mais aderente a equipes que reconhecem a necessidade de desenvolvimento. Já o estilo estimulador cabe mais adequadamente em situações nas quais se exige alto desempenho. Apesar da necessidade de adaptabilidade, discutida anteriormente, não podemos entender os estilos de liderança, utilizando aqui uma metáfora, como sendo similar a uma troca de roupas. O exercício desses estilos não é feito como a partir da abertura de um guarda-roupas e escolha do traje que melhor se adequa ao nosso compromisso social. Cabe ao líder primeiro conhecer as características de cada estilo, estudá- las e compreender profundamente seus significados. Depois, somente a partir do efetivo exercício profissional e experimentações, é que esses estilos poderão ser testados e validados. Por isso, as pesquisas envolvendo os estilos de liderança procuram identificar os estilos praticados pelos líderes de sucesso menos do que os estilos que deveriam estar presentes em cada contexto. 52 Outra abordagem relacionada aos estilos de liderança traz diferenciações em relação ao comportamento dos líderes quanto aos incentivos e motivações para fazer o grupo se desenvolver segundo os objetivos da organização. Nesse sentido, Oliveira, Duarte e Basto (2018) relatam, em sua pesquisa, que os estilos de liderança transformacional e o transacional são os mais praticados pelos líderes. Como consequência, temos que as características predominantes foram: carisma, estimulação Intelectual e consideração individualizada, por representarem o estilo transformacional; e eventual recompensa e gestão por exceção que caracterizam o estilo transacional de lideranças. Os mesmos autores apresentam, nesse trabalho, os principais tipos de lideranças segundo as teorias contemporâneas. Além dos dois estilos predominantes, o da liderança transacional e o da liderança transformacional, conceituam também a liderança carismática. Liderança transacional Nesse tipo de liderança, o líder busca desenvolver comportamentos e ações que façam com que os liderados atinjam os objetivos por ele traçados, utilizando como recurso, por exemplo, recompensas. Liderança transformacional Nesse tipo de liderança, o líder extrapola os objetivos que lhe foram atribuídos, envolvendo os liderados em um processo de entregar mais do que lhes foi pedido. O líder toca a consciência dos liderados para que ultrapassem seus próprios interesses em prol do grupo. Busca elevar a moral, a motivação e promover autonomia e a criatividade de seus liderados. A inspiração é um elemento importante da relação entre o líder e seus liderados. 53 Liderança carismática Tem relação direta com as características de autoconfiança e convicção dos líderes. Nesse tipo de liderança, os liderados aderem ao líder, o seguem por seu carisma e capacidade de envolvimento. A liderança carismática consegue mostrar, na maioria das vezes, novas visões sobre velhos problemas. Todos esses três estilos envolvem, em última análise, a busca pelo engajamento do time em relação à solução dos problemas organizacionais. Para tanto, conhecer o grupo profundamente e avaliar suas competências e habilidades se torna obrigatório quando se espera obter o máximo de resultado a partir dos esforços dispendidos pelo time. Desafiar as crenças dos liderados torna-se, muitas vezes, benéfico para repensar as atitudes do time diante dos problemas. Nesse mesmo sentido: A análise das suas inspirações/ motivações e as elevadas expectativas neles depositadas (estimulação intelectual) poderá ter uma influência maior no esforço-extra. (OLIVEIRA; DUARTE; BASTO, 2018, p. 283) Nas teorias tradicionais (como a que define o estilo transacional de liderança), a capacidade de decisão é a principal unidade de avaliação de desempenho do líder. Já no caso dos estilos transformacional e carismático, o comportamento, os valores e os sentimentos dos liderados tornam-se relevantes. As principais características de um líder são aquelas que definirão, em algum nível, a forma como os processos da organização será desenvolvida pelos times, bem como influenciam a eficácia desses processos. 54 Dessa forma, podemos considerar que a principal função do líder é a de condução eficaz das equipes nos mais variados contextos e diante das mais variadas situações. 2.2 Propósito e a aplicação dos estilos de liderança Já discutimos alguns aspectos sobre a forma como os estilos de liderança podem favorecer a eficácia na condução dos processos organizacionais. Tivemos oportunidade de destacar que o líder eficaz é aquele que navega bem por todos os estilos de liderança, adequando seu comportamento às demandas da organização. As mudanças nos ambientes e nas relações, que caracterizam o contexto organizacional, explicam a necessidade de que os estilos de liderança representam uma forma de adaptação do líder, do time e dos demais integrantes, aos objetivos estratégicos estabelecidos pela organização. Problemas, mudanças rápidas e incertezas exigem uma organização flexível com líderes que inspirem os colaboradores a participar com entusiasmo nos esforços da equipe e a participar nas metas organizacionais. (OLIVEIRA; DUARTE; BASTO, 2018, p. 267) Nesse sentido, os estilos de liderança permitem a flexibilidade nos momentos em que as normas e regras já não respondem adequadamente aos problemas. Também promovem maior harmonia diante de contextos nos quais os conflitos estão predominantes. São várias as justificativas para o estudo dos estilos de liderança. A maioria está voltada para a compreensão do sucesso e da eficácia, observados nesse ou naquele ambiente e nessa ou naquela situação. 55 É nesse sentido que as teorias contemporâneas da liderança descrevem, de forma mais contundente, a influência dos comportamentos. É o que se observa quando analisamos os conceitos dos estilos transformacional e carismático. Oliveira, Duarte e Basto (2018) explicam que muitos teóricos defendem que a liderança transformacional e a carismática representam um único estilo de liderança. Outros defendem que se tratam de estilos diferentes. Os autores esclarecem que um líder carismático pode não ter as características do líder transformacional, porém, liderança transformacional contempla a característica carisma. É possível observar, portanto, que o carisma do líder possui influência em vários estilos de liderança, uma vez que essa é uma característica que promove engajamento e comprometimento do time com o líder. ASSIMILE O estilo carismático traduz perfeitamente o conceito da palavra carisma. Esse termo designa a influência e admiração que se tem por outra pessoa. Tem relação com a simpatia. Com a capacidade de influenciar as pessoas por meio da conquista. O carisma gera seguidores. A prática do que se denomina de inteligência emocional fortalece os estilos de liderança à medida em que são definidos a partir dos relacionamentos entre líder e liderados. Goleman (2000) defendeque pesquisas relacionadas aos casos de lideranças de sucesso apontam que os líderes possuem e praticam determinadas competências da inteligência emocional, como: autoconsciência, autorregulação/ autogestão, motivação, empatia e habilidades sociais. 56 São características que contribuem para que o time esteja de fato engajado e mantenha sua motivação para seguir o líder. Portanto, a prática dos estilos de liderança gera maior eficácia não apenas pela forma como os liderados realizam suas atividades, mas também pela forma como acreditam e estão dispostos a se sacrificar pela liderança. O sentimento ou percepção que o grupo tem em relação à organização e às relações intraorganizacionais representam é o que se denomina de clima organizacional. A qualidade do clima na organização influencia os resultados obtidos pelos colaboradores, seja individualmente, seja de forma coletiva. Nesse sentido, precisamos reconhecer que os diferentes estilos de liderança influenciam o clima organizacional de diferentes formas, portanto, indiretamente, estão influenciando a produtividade e os resultados obtidos. TEORIA EM PRÁTICA Vimos que as características da liderança definem os estilos de liderança e influenciam o resultado das organizações, seja direta ou indiretamente. Vamos imaginar que em uma indústria tenhamos, para um mesmo setor, três tipos de líderes e que apresentem diferentes estilos de liderança para um mesmo grupo de trabalho. Qual seria, provavelmente, a maior consequência desse tipo de situação, considerando os conceitos e os propósitos dos estilos de liderança? 57 VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. A liderança faz parte do processo de gestão do comportamento organizacional que busca compreender as práticas de condução dos times dentro da organização, visando alguns objetivos. Sobre esses objetivos, podemos fazer algumas afirmações: I – A compreensão do sucesso das organizações passa, necessariamente, pelo estudo dos comportamentos da liderança. II – Permite a identificação das boas práticas de gestão dos times. III – Não possui valor se a análise sobre a aplicação não se referir ao mesmo tipo de empresa e do mesmo ramo de atividade. Analisando essas afirmações, podemos dizer que: a. Está correta a afirmativa I e incorretas as afirmativas II e III. b. Estão corretas as afirmativas I e II e incorreta a afirmativa III. c. Estão corretas as afirmativas I, II e III. d. Estão corretas as afirmativas II e III e incorreta a afirmativa I. e. Estão corretas as afirmativas I e III e incorreta a afirmativa II. 58 2. A gestão de pessoas está diretamente relacionada com a liderança, uma vez que esta última é exercida por meio das relações interpessoais. Nesse sentido, podemos dizer que uma das funções da gestão de pessoa está relacionada mais diretamente com a redução do turnover, ou seja, com a troca de colaboradores por demissão ou por pedido de demissão. Qual das funções a seguir tem relação mais direta com o objetivo acima descrito? a. Atração e retenção. b. Desenvolvimento. c. Administração do desempenho. d. Manutenção do conhecimento. e. Convencimento autoritário. 3. Dentre os vários estilos de liderança discutidos nessa unidade, temos aquele que diz respeito mais diretamente à liderança em momentos excepcionais, como em caso de desastres, por exemplo. Qual das alternativas a seguir traz esse estilo de liderança? a. Incentivador. b. Afiliativo. c. Democrático. d. Coercitivo. e. Coaching. 59 Referências Bibliográficas BASRAN, Jaskaran et al. Styles of Leadership, Fears of Compassion, and Competing to Avoid Inferiority. Frontiers in Psychology, v.9, January/2019. BLANCHARD, Ken. Liderança de alto nível: como criar e liderar organizações de alto desempenho. Raul Rubenich [trad.]. Porto Alegre: Bookman, 2012. GOLEMAN, Daniel. Leadership That Gets Results. Harvard Business Review, 2000. ______. Liderança: a inteligência emocional na formação do líder de sucesso. Rio de Janeiro: Objetiva, 2014. GUTIERREZ, Luiz Homero Silva. Percepção do clima organizacional conforme o escalão hierárquico. Revista de Administração de Empresas, p. 5 -13, 1998. MINTZBERG, Henry et al. O processo da estratégia: conceitos, contextos e casos selecionados. Luciana de Oliveira da Rocha [trad.], 4ª. ed. Porto Alegre: Bookman, 2007. NICK, Horney; BILL Pasmore; O’SHEA, Tom. Leadership agility: a business imperative for a VUCA world. People and Strategy, v. 33, n. 4, p. 32–38, 2010. OLIVEIRA, Maria Angelina; DUARTE, Márcia; BASTO, Mário. Percepção dos colaboradores sobre os estilos de liderança e sua influência no desempenho: estudo de caso na Santa Casa da misericórdia. In: Anais do II International Forum on Management: desafios da gestão atual. Faro-PT: Universidade de Algarve, 2018. Páginas 262- 285. POSSI, Marcos. Gerenciamento de projetos guia do profissional: aspectos humanos e interpessoais. Vol.2. Rio de Janeiro: Brasport, 2006. SCHEIN, Edgar. Organizational Culture and Leadership. 4. ed. SanFrancisco, CA- US: Jossey Bass, 2010. Gabarito Questão 1 – Resposta: B. Resolução: O estudo dos estilos de liderança possui seu foco nas ações do líder e não, necessariamente, nas atividades das organizações. Dessa forma, a avaliação do estilo pode servir para outros tipos de empresas, além da que serviu de objeto de estudo. 60 Questão 2 – Resposta: A. Resolução: O turnover se caracteriza como a alta rotatividade de funcionários por motivos diversos. Entretanto, o papel da gestão de pessoas, relacionado às motivações para atrair e manter bons colaboradores pode interferir positivamente nesse indicador. Questão 3–Resposta: C. Resolução: Geralmente, em situações de emergência, surgem liderança que precisam fazer a coisa acontecer, sendo que, para isso, acabam exercendo a característica de coerção. Não há tempo para o convencimento tradicional em muitos desses casos. Alinhamento entre a estratégica e a liderança Autor: Regis Garcia Objetivos • Apresentar e discutir o planejamento estratégico e a estratégia no contexto das organizações. • Discutir os desafios da liderança em reduzir o gap entre elaboração e execução do plano estratégico. • A importância do alinhamento entre a estratégica organizacional e a liderança como pressuposto para o aumento da eficácia organizacional como um todo. 62 1. Plano estratégico organizacional Caro aluno, nesta seção, teremos a oportunidade de discutir a respeito de um tema de alta relevância na busca de condições de sobrevivência pelas organizações. O contexto de alta competição, no qual as organizações estão inseridas, exige decisões e ações contínuas de suas lideranças, a fim de mantê-las com um bom nível de competitividade. Nesse sentido, segue a reflexão: se organizações, que contam com estruturas sólidas de gestão, com organogramas, fluxogramas e descrições bem elaboradas e praticadas, passam por contínuo processo de ajustes e correções em seus modelos de negócio, o que ocorre com a maioria das organizações cuja estrutura ainda carece de formatação e estruturação? Esse é o cenário da maioria das empresas, entidades não governamentais, cooperativas, associações, sindicatos, entre outras entidades, que disputam espaço em um mercado cada dia mais plural, dinâmico e complexo. Para Michels e Ferreira (2013), as organizações constantemente estão em busca de lucro e de obter uma posição de vantagem competitiva. Nesse contexto, ações visam à prática do bom e velho conceito da administração: planejamento, execução e controle, entram em cena, afinal: “se a estratégia da empresa realmente resulta em um desempenho superior, diz-se que se obteve uma vantagem competitiva” (HILL; JONES, 2013, p. 4). Toda organização, não importando suas diferença e especificidades individuais derivadas de ramos diferentes de atuação, de seu porte, entre outros, passa pela necessidade de planejar suas ações, a fim de 63 definir os caminhos a serem seguidos por seu
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