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Análise da compatibilidade dos princípios constitucionais e seus corolários, bem como da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, com o paradoxo da progressividade

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA 
FACULDADE DE DIREITO 
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO 
 
 
RODOLFO BORGES DOS SANTOS 
 
 
 
PRINCÍPIO DA PROGRESSIVIDADE: Análise da compatibilidade dos 
princípios constitucionais e seus corolários, bem como da 
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, com o paradoxo da 
progressividade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Salvador 
2017 
 
 
RODOLFO BORGES DOS SANTOS 
 
 
 
 
 
 
 
PRINCÍPIO DA PROGRESSIVIDADE: Análise da compatibilidade dos 
princípios constitucionais e seus corolários, bem como da 
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, com o paradoxo da 
progressividade. 
 
 
 
 
 
Monografia de conclusão dadisciplina Sistema 
Constitucional Tributário, do Programa de Pós-
Graduação da Faculdade de Direito Direito da 
Universidade Federal da Bahia, apresentada como 
requisito parcial para obtenção da aprovação. 
 
 
 
 
 
 
 
Salvador 
2017 
 
 
SANTOS, Rodolfo Borges dos. PRINCÍPIO DA PROGRESSIVIDADE: Análise da 
compatibilidade dos princípios constitucionais e seus corolários, bem como 
da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, com o paradoxo da 
progressividade.. XX fl. Monografia (Pós-Graduação) - Faculdade de Direito, 
Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2017. 
RESUMO 
O presente trabalho tem como objetivo analisar a compatibilidade entre paradoxo da 
progressividade, presente na obra de Fritz Neumark, com os princípios 
constitucionais e seus corolários, assim como a compatibilidade com a 
jurisprudência do STF. Para isso, serão analisados os princípios constitucionais em 
matéria tributária,dando ênfase nos princípios da capacidade contributiva e 
progressividade. Será explanado o sub-sistema da progressividade e os princípios 
que o compõe. Foram escolhidos julgados do Supremo Tribunal Federal para 
análise crítica à luz do paradoxo da progressividade trazido por Neumark. 
 
Palavras-chave: Paradoxo da progressividade; Princípios constitucionais; Princípio 
da progressividade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 6 
2 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS TRIBUTÁRIOS ....................................................... 7 
2.1 PRINCÍPIOS ...................................................................................................................... 7 
2.2 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS GERAIS ................................................................ 8 
2.2.1 Pincípio da justiça ....................................................................................................... 8 
2.2.2 Princípio da certeza do direito ................................................................................. 9 
2.2.3 Princípio da segurança jurídica ............................................................................... 9 
2.2.4 Princípio da irretroatividade das leis ..................................................................... 9 
2.2.5 Princípio da universalidade da jurisdição .......................................................... 10 
2.3 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS TRIBUTÁRIOS .................................................. 10 
2.3.1 Princípio da legalidade ............................................................................................. 11 
2.3.2 Princípio da anterioridade ....................................................................................... 13 
2.3.3 Princípio da competência ........................................................................................ 16 
2.3.3.1 Princípio da indelegabilidade da competência tributária................................ 16 
2.3.4 Princípio da capacidade contributiva .................................................................. 17 
2.3.5 Princípio da vedação do confisco ......................................................................... 19 
2.3.6 Princípio da liberdade de tráfego .......................................................................... 20 
2.3.7 Princípio da não cumulatividade ........................................................................... 21 
2.3.8 Princípio da proporcionalidade ............................................................................. 22 
2.3.9 Princípio da personalização ................................................................................... 22 
2.3.10 Princípio da seletividade ....................................................................................... 23 
2.3.11 Princípio da tipícidade ........................................................................................... 23 
3 PRINCÍPIO DA PROGRESSIVIDADE ........................................................................... 23 
3.1 TÉCNICA OU PRINCÍPIO? ........................................................................................... 25 
3.2 SUB-SISTEMA DA PROGRESSIVIDADE .................................................................. 25 
3.2.1 Progressividade no IPTU ......................................................................................... 27 
3.2.2 Progressividade no IR .............................................................................................. 28 
3.2.2.1 IRPF, alíquotas e inflação ............................................................................. 28 
3.2.3 Progressividade no ITR ........................................................................................... 29 
3.3 ASPECTO PARADOXAL DA PROGRESSIVIDADE ................................................ 30 
3.4 O PARADOXO DA PROGRESSIVIDADE E A JURISPRUDÊNCIA DO STF ....... 32 
3.4.1 RE 230343 .................................................................................................................... 33 
 
 
3.4.2 RE 602256 AgR ........................................................................................................... 34 
3.4.3 RE 406955 AgR ........................................................................................................... 35 
3.4.4 Conclusões acerca da jurisprudência do STF................................................... 35 
5 CONCLUSÃO ..................................................................................................................... 36 
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 37 
7 ANEXOS .............................................................................................................................. 39 
6 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
 Os princípios constitucionais tributários formam um verdadeiro arcabouço de 
preceitos que protegem o contribuinte dos alvedrios estatais, bem como serve de 
norte para a criação das normas jurídicas tributárias. 
 O presente trabalho busca analisar a paradoxo da progressividade exposto 
no livro de Fritz Neumark, “Principios de la Imposición”. Para isso, será feita uma 
breve conceituação sobre princípios. Serão explanados algun princípios 
constitucionais gerais que influenciam o sistema constitucional tributários, bem como 
os princípios constitucionais tributários propriamente ditos. 
 Será explanado o princípio da progressividade e seu aspecto paradoxal 
presente na obra de Neumark. Explanar-se-á sobre a existência da compatibilidade 
entre o paradoxo da progressividade com os princípios constitucionais e seus 
corolários que disciplinam a matéria no direito positivo constitucional pátrio. 
 Tratar-se-á da jurisprudência do STF e sua compatibilidade com o paradoxo 
da progressividade, realizando análises críticas ao julgados da Suprema Corte. 
Serão apresentados os princípios que constituem o sub-sistema da progressividade, 
fazendo-se um breve explanação sobre sistemas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
2 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS TRIBUTÁRIOS 
 
 No presente capítulo serão apresentados os princípios constitucionais geraisque influenciam no sistema constitucional tributário, e os princípios constitucionais 
tributários. Será feita uma breve explanação sobre princípios para, em seguida, 
tratar dos princípios em espécie. 
 
2.1 PRINCÍPIOS 
 
O presente trabalho foca no estudo do princípio da progressividade. Desta feita, 
descabe uma análise acurada das normas-regra, merecendo ênfase os princípios. 
Em apertada síntese, pode-se dizer que as normas-regra apresentam imperativos 
categóricos, possuem grau de abstração menor que os princípios e são suscetíveis 
de aplicação direta. 
 Os princípios são normas jurídicas chamadas de normas-princípio. Conforme 
ensina Humberto Ávila (2005, p. 22), as normas correspondem ao sentido extraído a 
partir da interpretação sistêmica dos textos normativos e não a um texto ou um 
conjunto desses. Leciona, também, que não é necessária correspondência entre 
norma e dispositivo, dando como exemplo o princípio da certeza do direito e da 
segurança, cuja ausência de enunciado escrito não tira o caráter normativo desses 
princípios. 
 A assertiva alhures segue a intelecção do magistério de Roque Carrazza 
(2003, p.44), o qual elucida que “os princípios constitucionais são, a um tempo, 
direito positivo e guias seguros das atividades interpretativas e judicial. Em outros 
termos, são fonte de direito (Esser) e ideias-base de normas jurídicas” [grifos do 
autor]. 
 Nas lições de Edvaldo Brito (2016, p.69), os princípios não apresentam 
natureza diferente das normas jurídicas. Distingui-los das regras é uma atribuição do 
intérprete. Cabe a ele “se a regra veicula, exatamente, um critério genérico, núcleo 
onde irradiam os outros critérios daquele mesmo sistema. Se veicular, ela é 
princípio” (BRITO, 2016. p. 640). 
 Os princípios enunciam motivos para que o aplicador decida nesse ou 
naquele sentido. São pontos de partida para a norma a ser descoberta por quem irá 
8 
 
aplicá-la. (MENDES, 2009. p. 56). Servem, também, como “fatores de criação e 
manutenção de utilidade política”. (MENDES, 2009, p. 57). 
 Possuem um elevado grau de abstração. Por serem vagos e indeterminados, 
carecem de mediações concretizadoras, como a do legislador e a do magistrado. 
Servem como fundamento das normas-regra. 
 
2.2 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS GERAIS 
 
 Muitos são os princípios que pairam no ordenamento jurídico pátrio. Por conta 
da vasta quantidade de princípios existentes, seria impossível tratar de todos no 
presente trabalho. 
 Além dos princípios em matéria tributária, serão abordados alguns princípios 
de fundamental relevância para a plenitude do ordenamento jurídico. São os 
princípios: da justiça, da certeza do direito, da segurança jurídica, da irretroabilidade 
das leis e da universalidade da jurisdição. 
 Em matéria tributária, serão explanados os princípios: Princípio da legalidade, 
da anterioridade, da igualdade, da competência, da capacidade contributiva, da 
vedação do confisco, da liberdade de tráfego, da não-cumulatividade, da 
proporcionalidade, da personalização, da seletividade, da tipicidade e da 
progressividade. 
 Os princípios constitucionais tributários constituem um núcleo chamado de 
Estatuto do Contribuinte. Segundo Edvaldo Brito (2016, p. 69), “trata-se de um 
conjunto de critérios juridicamente considerado como limite ao poder de tributar 
inserido na competência tributária outorgada pela Constituição ao ente político 
intraestatal” [grifos do autor]. 
. 
2.2.1 Pincípio da justiça 
 
 Conforme visto anteriormente no ensinamento de Humberto Ávila, os 
princípios não carecem de texto para serem válidos. Podem ser implícitos e mesmo 
assim irradiar efeitos no ordenamento jurídico. 
 O princípio da justiça é um desses princípios implícitos. Para Paulo de Barros 
Carvalho (2005, p. 148), trata-se de um sobreprincípio cuja realização se dá com o 
9 
 
implemento de outros princípios. É dotado de grande carga de subjetividade, 
variando no tempo e de acordo com cada povo. 
 
2.2.2Princípio da certeza do direito 
 
 Trata-se de outro princípio implícito. Está situado na raiz do dever-ser 
(CARVALHO, 2005. p. 149), “sendo incompatível imaginá-lo sem determinação 
específica”. Princípio de fundamental importância para a convivência social 
organizada. 
 Comumente utiliza-se o sentido de “previsibilidade” como “certeza”. 
Entretanto, a previsibilidade está relacionado ao princípio da segurança jurídica, 
exposto supra. 
 
2.2.3 Princípio da segurança jurídica 
 
 Difere do princípio infra no seguinte: 
Aquele é atributo essencial, sem o que não se produz enunciado normativo 
com o sentido deôntico; este último é de decorrência de fatores sistêmicos 
que utilizam o primeiro de modo racional e objetivo, mas dirigido à 
implantação de um valor específico, qual seja o de coordenar o fluxo das 
interações inter-humanas, no sentido de propagar no seio da comunidade 
social o sentimento de previsibilidade quanto aos efeitos jurídicos da 
regulação da conduta. 
 
 Pelo aludido princípio deve haver segurança nas relações jurídicas. A 
segurança é obtida pelo “tratamento dos fatos já consumados, dos direitos 
adquiridos e da força da coisa julgada” (CARVALHO, 2005. p. 150). Percebe-se que 
a segurança se pauta nas decisões proferidas no passado que servem de porto 
seguro para que se tomem ações futuras consoantes com ordenamento jurídico. 
 
2.2.4 Princípio da irretroatividade das leis 
 
 Pelo princípio em comento, as leis não podem retroagir sob pena de ferir a 
segurança jurídica. Tem previsão expressa no art. 5º, XXXVI, da Constituição e está 
na categoria dos direitos fundamentais. Segundo o dispositivo em comento, “a lei 
não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”. 
10 
 
 Vale salientar que cabe exceções ao aludido princípio. Dentre eles, em 
matéria penal, a lei pode retroagir para beneficiar o réu, mas nunca o contrário, 
conforme o art. 5º, XL, da Constituição, a qual versa que “a lei penal não retroagirá, 
salvo para beneficiar o réu”. 
 Em matéria tributária, a Constituição veda, expressamente, a cobrança de 
tributos “em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei 
que os houver instituído ou aumentado” (art. 150, III, “a”). Sendo assim, veda-se a 
aplicação da lei nova que aumentou ou criou tributo a fato pretérito. (AMARO, 2006. 
p. 118). 
 Segundo AMARO (2006, p.119), “a lei não está proibida de reduzir ou 
dispensar o pagamento de tributo, em relação a fatos do passado, subtraindo-os dos 
efeitos oriundos da lei vigente à época, desde que o faça de maneira expressa.” 
[grifos do autor]. A lei conforme o art. 96, CTN, pode ser aplicada ao fato pretérito. 
As hipóteses de retroatividade encontram-se expressas no art. 106, CTN, in verbis: 
Art. 106. A lei aplica-se a ato ou fato pretérito: 
I - em qualquer caso, quando seja expressamente interpretativa, excluída a 
aplicação de penalidade à infração dos dispositivos interpretados; 
II - tratando-se de ato não definitivamente julgado: 
a) quando deixe de defini-lo como infração; 
b) quando deixe de tratá-lo como contrário a qualquer exigência de ação ou 
omissão, desde que não tenha sido fraudulento e não tenha implicado em 
falta de pagamento de tributo; 
c) quando lhe comine penalidade menos severa que a prevista na lei 
vigente ao tempo da sua prática. 
 
2.2.5Princípio da universalidade da jurisdição 
 
 No Brasil, a função jurisdicional é de primazia do Poder Judiciário. Somente o 
Poder Judiciário prefere decisões definitivas, ou seja, apenas o ele pode revestir 
com o manto da coisa julgada. 
 Encontra-se presente no art. 5º, XXXV, da Constituição, que versa que “a lei 
não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. 
 
2.3PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS TRIBUTÁRIOS 
 
 Vencidos os princípios de caráter geral, passar-se-á para os princípios 
tributários. 
 
11 
 
 
 
2.3.1Princípio da legalidadePelo princípio da legalidade, nenhum tributo será criado ou majorado senão 
através de lei. É um princípio explícito, como maioria dos princípios constitucionais 
tributários. Está presente no art. 150, I, da Constituição, in verbis: 
Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é 
vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: 
I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça; 
 
 É um princípio multissecular, advindo, na Inglaterra, com a Magna Carta de 
1215, do Rei João sem Terra, a quem os barões ingleses conseguiram impor, ao 
monarca, a necessidade de obtenção prévia de aprovação dos súditos para a 
cobrança dos tributos (AMARO, 2006, p. 111). 
 O princípio da legalidade não somente diz respeito à criação ou majoração do 
tributo por via exclusiva da lei. Para se criar o tributo, segundo Hugo de Brito (2004, 
p.47), é necessário estabelecer os elementos de que se necessita para saber se 
este existe, qual o seu valor, quem deve pagar, quando e a quem deve ser pago. 
 Desta feita, ainda sob a égide do magistério de BRITO (2004, p.47), a lei que 
institui o tributo deve conter: 
• Descrição do fato tributável; 
• Definição da base de cálculo e da alíquota; 
• Critério para identificação do sujeito passivo da obrigação tributária; 
• Sujeito ativo da obrigação tributária, se for diverso da pessoa jurídica da qual 
a lei seja expressão da vontade. 
 Sobre o princípio em comento, Paulo de Barros Carvalho (2005, p. 158-159) 
leciona que: 
O veículo introdutor da regra tributária no ordenamento há de ser sempre a 
lei (sentido lato), porém o princípio da estrita legalidade diz mais do que 
isso, estabelecendo a necessidade de que a lei adventícia traga no seu bojo 
os ele mentos descritores do fato jurídico e os dados prescritores da relação 
obrigacional. Esse plus caracteriza a tipicidade tributária, que alguns 
autores tomam como outro postulado imprescindível ao subsistema de que 
nos ocupamos, mas que pode, perfeitamente, ser tido como urna 
decorrencia imediata do princípio da estrita legalidade. [grifos do autor] 
 
 Luciano Amaro (2005, p. 112), com precisão cirúrgica, resume o princípio da 
legalidade: 
12 
 
Em suma, a legalidade tributária não se conforma com a mera autorização 
de lei para cobrança de tributos; requer-se que a própria lei defina todos os 
aspectos pertinentes ao fato gerador; necessários a quantificação do tributo 
devido em cada situação concreta que venha a espelhar a situação 
hipotética descrita na lei. [Grifos do autor] 
 
 O princípio da legalidade comporta exceções. Trata-se da instituição ou 
majoração de tributos mediante medidas provisórias. Tal exceção se consolidou com 
o advento da Emenda Constitucional nº 32/2001, a qual inseriu o §2º no art. 62 da 
Constituição Federal, transcrito in litteris: 
§ 2º Medida provisória que implique instituição ou majoração de impostos, 
exceto os previstos nos arts. 153, I, II, IV, V, e 154, II, só produzirá efeitos 
no exercício financeiro seguinte se houver sido convertida em lei até o 
último dia daquele em que foi editada. 
 
Sobre a parte final do dispositivo, Gilmar Mendes (2009, p. 932) elucida que: 
É dado cogitar que, nesse quadro, será a lei que converter a medida 
provisória em diploma definitivo que produzirá efeitos normativos e criará ou 
aumentará o tributo. A medida provisória atuará, por disposição do 
constituinte, nesse caso, como projeto de lei. 
 
 Significa dizer, portanto, que mesmo com a chancela dada pelo poder 
reformador, os tributos majorados e criados por medida provisória devem respeitar o 
princípio da anterioridade, ressalvados os tributos excetuados pelo dispositivo infra. 
 As medidas provisórias são atos do Chefe do Poder Executivo utilizados em 
caso de relevância e urgência. Possuem força de lei ordinária. 
 Disciplinada no art. 62 da Constituição Federal, as medidas provisórias não 
podem ser editadas contendo matéria reservada à lei complementar. Desta feita, em 
matéria tributária, as medidas provisórias não podem dispor sobre as matérias 
reservadas ao art. 146, da Constituição, nem a instituição de determinados tributos 
que são instituídos por lei complementar, como os empréstimos compulsórios. 
 Antes da EC n. 32/2001, o STF mantinha o entendimento de que as medidas 
provisórias poderiam instituir ou majorar tributos, entendimento esse em dissenso 
com a doutrina. Aliomar Baleeiro (2002, p. 50) defendia que o decreto-lei, ato similar 
a medida provisória presente antes da Constituição de 1988, não poderia instituir 
tributo. No magistério do referido autor: 
O decreto-lei, previsto nos arts. 46, V, e 55 da Constituição de 1969, não 
nos parece o meio idôneo de decretação de impostos, os quais devem ser 
regulados por lei ordinária e só por esta, salvo casos específicos de leis 
complementares. 
 
 Edvaldo Brito leciona que não é possível a instituição nem a majoração de 
tributo por medida provisória por conta do princípio da tipicidade cerrada, assim 
13 
 
como os delitos. Além disso, ensina que a lei é um ato normativo genérico, abstrato, 
compulsório, permanente e plural. Somente contemplando todas essas 
características um ato normativo pode ser considerado lei. Para BRITO (2015, p. 
26), faltam as características de ato permanente e plural às medidas provisórias, o 
que não faz dela uma lei, portanto, incapaz de instituir ou majorar tributo. Segue 
elucidação da permanência e pluralidade: 
[...] permanente porque se destina a gerar efeitos até que outro ato da 
mesma natureza venha a substituí-lo, pois, enquanto tal não ocorrer, a sua 
aplicação persiste, pois não se exaure a sua eficácia ao aplicar-lhe se a 
cada caso que se identifique com o tipo legal. É compuksório porque 
emitido por fonte dotada de soberania, a qual, por isso, tem de ser plural, tal 
como estabelece a Constituição brasileira ( cf. art. 1º, V e seu parágrafo 
único, combinado com os §§ 1º e 2º, II, do seu art. 58). 
 
 Entretanto, mesmo com a posição doutrinária desfavorável, a EC n. 32/2001 
manteve o entendimento do STF. Pacificou-se que medidas provisórias podem 
instituir ou majorar tributos, conforme o §2º, art. 62, CF. 
 
2.3.2Princípio da anterioridade 
 
 Insculpido no art. 150, III, “b”, da Constituição, o princípio da anterioridade 
consiste na vedação da cobrança de tributos “no mesmo exercício financeiro1 em 
que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou”. A vigência da lei que 
institui ou aumenta tributo deve ser adiada para o exercício financeiro 2seguinte ao 
de sua publicação. 
 O objetivo do princípio da anterioridade é implementar o princípio da 
segurança jurídica, a fim de que o contribuinte não seja surpreendido com a 
cobrança, inesperada, de tributos. 
 A fim de proteger o contribuinte das “providências ficais tomadas ao final do 
exercício financeiro” (CARVALHO, 2005. p. 160), o constituinte derivado 
acrescentou a alínea “c” ao inciso III do art. 150 da Constituição. Implementou-se o 
princípio na anterioridade nonagesimal ou noventena. Com o advento da noventena, 
 
1 Nos dizeres de Luciano Amaro (2006, p. 121), o “exercício financeiro é o período de tempo para o 
qual a lei orçamentária aprova a receita e a despesa pública. Em regra, os orçamentos são anuais. 
Em nosso país, o exercício financeiro coincide com o ano civil, indo, pois de 1º de janeiro a 31 de 
dezembro de cada ano, consoante dispõe o art. 34 da Lei n. 4.3201/64, que veiculou normas gerais 
de direito financeiro”. 
 
14 
 
veda-se cobrar tributos “antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido 
publicada a lei que os instituiu ou aumentou”. 
 Não deve ser confundido com o princípio da anualidade. Pelo princípio da 
anualidade, a cobrança dos tributos depende de chancela anual do Poder 
Legislativo. Além disso, por conta do princípio da anualidade, é indispensável a 
previsão da cobrançado tributo na lei orçamentária anual. Vale ressaltar que o 
princípio da anualidade não encontra guarita na Constituição Federal de 1988. 
Sendo assim, nota-se a clara diferença entre os princípios da anterioridade e da 
anualidade. Hugo de Brito (2005, p. 50) leciona sobre a distinção dos mencionados 
princípios: 
Como se vê, os princípios da anualidade e da anterioridade realmente não 
se confundem. O princípio da anterioridade quer dizer que nenhum tributo 
pode ser cobrado sem que a lei que o instituiu, ou aumentou, tenha sido 
publicada antes do início do exercício da cobrança. Um imposto instituído 
em lei publicada em 1999, somente a partir de 2000 pode ser cobrado. Mas 
poderá ser cobrado também nos anos seguintes, indefinidamente. O 
princípio da anualidade é diferente porque segundo ele, além da lei de 
criação ou aumento do imposto, há necessidade de previsão da cobrança 
no orçamento de cada ano. 
 
 O princípio comporta exceções expressas na Constituição. Há tributos que 
não se submetem à anterioridade, mas se submetem à noventena. Outros que são 
submetidos à anterioridade, mas não se submetem à noventena. E ainda há os 
tributos que não se submetem nem à anterioridade e nem à noventena. São eles os 
que: 
• Não se submetem à anterioridade: Contribuição para a seguridade social, IPI, 
CIDE combustíveis, ICMS; 
• Não se submetem à noventena: IPTU, IPVA, IR; 
• Não se submetem a ambas: II, IE, IOF, Empréstimos compulsórios, Imposto 
extradordinário de guerra. 
 
Princípio da igualdade 
 Perante a lei todos são iguais. Nisso consiste o princípio do igualdade, que se 
encontra no art. 5º, caput, da Constiuição, in verbis: 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, 
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a 
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à 
propriedade, nos termos seguintes: 
 
15 
 
 Roque Carrazza (2003, p. 69) afirma que com a República os privilégios 
tributários desapareceram, devendo a tributação ter alcance geral. Pelo princípio 
republicano, todos que realizarem atos previstos nas hipóteses de incidência devem 
ser tributados. O referido autor faz a correlação entre o princípio republicano e a 
igualdade tributária (CARRAZZA, 2003. p.70): 
Do exposto, é intuitiva a inferência de que o princípio republicano leva à 
igualdade da tributação. Os dois princípios interligam-se e completam-se. 
De fato, o princípio republicano exige que os contribuintes (pessoas físicas 
ou jurídicas) recebam tratamento isonômico. 
A lei tributária deve ser igual para todos e a todos deve ser aplicada com 
igualdade. Melhor expondo, quem está na mesma situação jurídica deve 
receber o mesmo tratamento tributário. Será inconstitucional – por burla ao 
princípio republicano e ao da isonomia – a lei tributária que selecione 
pessoas, para submetê-las a regras peculiares, que não alcançam outras, 
ocupantes de idênticas posições jurídicas. 
O tributo, ainda que instituído por meio de lei, editada pela pessoa política 
competente, não pode atingir apenas um ou alguns contribuintes, deixando 
a salvo outros que, comprovadamente, se achem nas mesmas condições. 
 
 Segundo Hugo de Brito (2004, p.51), “é a projeção, na área tributária, do 
princípio geral da isonomia jurídica, ou princípio do qual são todos iguais perante a 
lei”. Os contribuintes devem ser tratados de maneira igual, desde que se encontrem 
em situações iguais. Sendo assim, visa o princípio evitar perseguições e 
favoritismos. Trata-se de uma garantia do indivíduo e não do Estado (amaro p. 135). 
 Por decorrência do princípio da igualdade, veda-se que os tributos federais 
não sejam uniformes em todo território nacional, conforme o art. 151, I, da 
Constituição: 
Art. 151. É vedado à União: 
I - instituir tributo que não seja uniforme em todo o território nacional ou que 
implique distinção ou preferência em relação a Estado, ao Distrito Federal 
ou a Município, em detrimento de outro, admitida a concessão de incentivos 
fiscais destinados a promover o equilíbrio do desenvolvimento sócio-
econômico entre as diferentes regiões do País; 
 
 Paulo de Barros Carvalho (2005, p. 166) dá ao art. 151, I, da Constituição, o 
nome de princípio da uniformidade geográfica. Afirma que se trata da confirmação 
do postulado federativo e da autonomia dos Municípios. 
 Apesar do princípio afirmar a igualdade formal, deve-se atentar que a 
igualdade material deve ser objetivada. É sabido que as desigualdades existem e 
deve o Estado buscar dirimí-las. Desta feita, deve o legislador criar hipóteses 
discriminatórias para reduzir as desigualdades. Diante de tais hipóteses, deve-se 
analisar se tais fatores de discriminem maculam ou não o princípio da igualdade. 
16 
 
Sobre a questão do discríminem e o atendimento à iguladade, ensina BRITO (2004, 
p.52): 
As dificuldades no pertinente ao princípio da isonomia surgem quando se 
coloca a questão de saber se o legislador pode estabelecer hipóteses 
discriminatórias, e qual o critério de discrime que pode validamente utilizar. 
Na verdade a lei sempre discrimina. Seu papel fundamental consiste 
precisamente na disciplina das desigualdades naturais existentes 
entre as pessoas. A lei, assim, forçosamente discrimina. O importante, 
portanto, é saber como será válida essa discriminação. Quais os critérios 
admissíveis, e quais os critérios que implicam lesão ao princípio da 
isonomia. [Grifos nossos] 
 
 Como corolário do princípio da igualdade, tem-se o princípio da capacidade 
contributiva, que será abordado adiante. 
 
2.3.3Princípio da competência 
 
 Pelo princípio da competência, cada ente da federação deve atuar nos limites 
de competência tributária designados pela Constituição. Deriva do princípio da 
competência o princípio da indelegabilidade da competência tributária. 
 
2.3.3.1Princípio da indelegabilidade da competência tributária 
 
 Esse princípio não está expresso na constituição. A instituição de tributos não 
pode ser objeto de delegação, cabendo ao ente constitucionalmente competente 
instituir a lei que institui o tributo. É o que versa o art. 7º, do CTN, in litteris: 
Art. 7º A competência tributária é indelegável, salvo atribuição das funções 
de arrecadar ou fiscalizar tributos, ou de executar leis, serviços, atos ou 
decisões administrativas em matéria tributária, conferida por uma pessoa 
jurídica de direito público a outra, nos termos do § 3º do artigo 18 da 
Constituição. 
§ 1º A atribuição compreende as garantias e os privilégios processuais que 
competem à pessoa jurídica de direito público que a conferir. 
§ 2º A atribuição pode ser revogada, a qualquer tempo, por ato unilateral da 
pessoa jurídica de direito público que a tenha conferido. 
§ 3º Não constitui delegação de competência o cometimento, a pessoas de 
direito privado, do encargo ou da função de arrecadar tributos. 
 
 Vale salientar que a transferência da capacidade ativa não é vedada. 
CARVALHO (2005, p. 168) atenta para duas questões relevantes no tocante ao 
princípio, que são: 
a) a proibição não atinge a transferência da titularidade para ser sujeito ativo 
de obrigações tributárias, isto é, torna-se possível que a pessoa 
credenciada a exercer a competencia tributária, depois de fazê-lo, indique 
outra pessoa como titular da capacidade ativa; e b) ainda que o Código 
17 
 
Tributário Nacional veicule disposição explícita, adotando o cânone da 
indelegabilidade, não perde ele sua magnitude de princípio constitucional 
tributário, e o faz integrando o subconjunto dos implícitos. 
 
 
2.3.4 Princípio da capacidade contributiva 
 
 A capacidade contributiva do indivíduo, nas lições de BALEEIRO (2002, p. 
276), significa “sua idoneidade econômica para suportar, sem sacrifício do 
indispensável à vida compatível com a dignidade humana, uma fração qualquer do 
custo total de serviços públicos”. Além disso, afirma que “seria redondamenteinsensato, antieconômico e trabalhoso retirar, pelo imposto, recursos daqueles aos 
quais o Estado terá de socorrer pelos canais da despesa”. 
 BECKER (1972, p. 437) traz um breve escorço histórico sobre o princípio da 
capacidade contributiva: 
Antiquíssimo é o princípio de cada indivíduo contribuir para as despesas da 
coletividade, em razão de sua fôrça econômica. JONES reporta-se a um 
excerto de ERÓDOTO, do qual se deduz que o princípio da capacidade 
contributiva já vigoraria entre os antigos egípcios. Êste princípio se origina, 
em suas linhas essenciais, do ideal de justiça distributiva formulado pelos 
filósofos gregos e reaparece na filosofia escolástica, quando recompõe o 
sistema aristotélico consoante os princípio da teologia católica. 
MICHIAVELLI discutia sôbre o princípio da capacidade contributiva e 
também BODIN, BOCERUS, BESOLD, KLOCK, BOTERO ao mesmo 
princípio se referiram. 
 
Porém, adverte que o aludido princípio não chegou a constituir “o núcleo de uma 
orgânica doutrina financeira sôbre a repartição dos encargos públicos”, mas tinham 
o “escopo de reafirmar o anorma de generalização de dever tributário, 
frequentemente violada pela legislação e pela praxe fiscal de uma época que 
dominavam privilégios” (BECKER, 1972. p.438). 
 A Constituição de 1988 trouxe novamente, de maneira expressa, o princípio 
da capacidade contributiva. O referido princípio encontra assento constitucional no 
art. 145, §1º, que versa: 
§ 1º Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão 
graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à 
administração tributária, especialmente para conferir efetividade a esses 
objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, 
o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte. 
[grifos nossos] 
 
 Pela inteligência do supracitado parágrafo, a expressão “sempre que 
possível” diz respeito ao caráter pessoal dos tributos, visto que não é possível 
18 
 
atribuir caráter pessoal a todos (BRITO, 2004. p.53). Não se deve entender que a 
expressão se refere à capacidade contributiva, ou seja, que só deve ser perseguido 
o princípio quando for possível. 
 AMARO (2006, p.139) discorda do posicionamento anterior. Posiciona-se 
afirmando que a expressão “sempre que possível” diz respeito tanto ao caráter 
pessoal como para a capacidade contributiva. A capacidade contributiva deve 
alcançar os tributos pessoais, reais e indiretos, visto que é um “postulado universal 
de justiça fiscal” (AMARO, 2006. p. 140). 
 Para CARRAZZA (2003, p. 90), a expressão em destaque indica a obrigação 
do legislador de respeitar a capacidade contributiva se for da índole constitucional do 
imposto. Para o referido autor, há impostos que, por sua natureza, não comportam a 
aplicação do princípio. São os impostos indiretos, visto que o encargo financeiro é 
repassado para terceiros, chamados de “contribuintes de fato”. 
 A capacidade contributiva é compreendida em duas vertentes: a capacidade 
contributiva absoluta ou objetiva, e a capacidade contributiva relativa ou subjetiva. 
Na capacidade contributiva absoluta, leva-se em consideração os signos presuntivos 
de riqueza do contribuinte. Isso indica que “o legislador levou em consideração a 
capacidade contributiva manifestada pelas pessoas que deram ensejo à ocorrência 
do mundo físico exterior” (CARVALHO, 2005, p. 340). 
 Já na capacidade contributiva subjetiva, a carga tributária é distribuída de 
forma mais equânime, sendo elaboradas hipóteses de discriminação, por parte do 
legislador, a fim de realizar o princípio da igualdade. Ensina CARVALHO (2005, p. 
340): 
Da providência contida na escolha de fatos presuntivos de fortuna 
econômica decorre a possibilidade de o legislador, subseqüentemente, 
distribuir a carga tributária de maneira eqüitativa, estabelecendo, 
proporcionadamente as dimens6es do evento, o grau de contribuição dos 
que dele participaram. 
 
 COÊLHO (2004, p. 82) resume muito bem a questão da capacidade 
contributiva: 
A capacidade contributiva é a possibilidade econômica de pagar tributos 
(ability to pay). É subjetiva quando leva em conta a pessoa (capacidade 
econômica real). É objetiva quando toma em consideração manifestações 
objetivas da pessoa (ter casa, carro do ano, sítio numa área valorizada etc). 
Aí temos “signos presuntivos de capacidade contributiva”. Ao nosso sentir, o 
constituinte elegeu como princípio a capacidade econômica real do 
contribuinte. [grifos do autor] 
 
19 
 
 O desrespeito ao princípio da capacidade contributiva pode ensejar o 
ajuizamento de Ação Direta de Inconstitucionalidade. Sendo assim, está o legislador 
obrigado a seguir o referido princípio ao criar tributos. No tocante à 
inconstitucionalidade, CARRAZZA (2003, p.79) e AMARO (2006, p.147) questionam 
sobre a constitucionalidade dos impostos com alíquota fixa ante a patente violação 
ao princípio da capacidade contributiva. 
 Vale salientar que apesar texto constitucional versar somente sobre impostos 
no art. 145, §1º, o princípio da capacidade contributiva é aplicável a todos os 
tributos. Assim ensina AMARO (2006, p. 142): 
Embora a Constituição (art. 145, §1º) só se refira a impostos, outras 
espécies tributárias podem levar em consideração a capacidade 
contributiva, em especial as taxas, cabendo lembrar que, em diversas 
situações, o próprio texto constitucional veda a cobrança de taxas em 
hipóteses nas quais não se revela capacidade econômica (cf., por exemplo, 
art. 5º, LXXVII). [Grifos do autor] 
 
 COELHO (2004, p.86) constrói interessante raciocínio ao tratar das taxas e 
contribuições de melhoria em face da capacidade contributiva. Para esse autor, o 
princípio se realiza de forma negativa pela incapacidade contributiva. Assim versa: 
Nas taxas e contribuições de melhoria, o princípio realiza-se negativamente 
pela incapacidade contributiva, fato que tecnicamente gera remissões e 
reduções subjetivas do montante a pagar imputado ao sujeito passivo sem 
capacidade econômica real. [grifos do autor] 
 
 O princípio da progressividade, que será esquadrinhado mais a frente, é um 
princípio que deriva do princípio da capacidade contributiva. 
 
2.3.5 Princípio da vedação do confisco 
 
 É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios utilizar 
tributo com efeito de confisco. O princípio da vedação ao confisco se faz presente no 
art. 150, IV, da Constituição. 
 Não há na Constituição um quantum que estabeleça um limiar de não 
confiscatoriedade do tributo. A apreciação do efeito confiscatório será feita pelo 
Poder Judiciário levando em conta o caso concreto. A vedação ao confisco evita que 
a riqueza privada seja consumida em grande parte por meio do tributo. Atua 
conjuntamente com o princípio da capacidade contributiva, visto que objetiva 
resguardar a capacidade econômica do contribuinte. 
20 
 
 Aliada ao princípio da capacidade contributiva, não se pode fazer incidir vários 
impostos sobre um mesmo fato econômico que retirem o mínimo existencial do 
contribuinte. Sendo assim, a vedação ao confisco deve ser analisada de modo 
sistêmico e não sob a ótica de incidência de um único tributo sobre determinado fato 
gerador. 
 Vale salientar que o princípio em tela é atinente ao tributo, não à multa. Isso 
porque os regimes jurídicos são distintos, sendo o ilícito pressuposto para a 
aplicação de penalidade. Assim decidiu a Ministra Ellen Gracie no julgamento do RE 
239.964-4/RS: 
IPI. MULTA MORATÓRIA. ART. 59. LEI 8.383/91. RAZOABILIDADE. 
A multa moratória de 20% (vinte porcento) do valor do imposto devido, não 
mostra abusiva ou desarrazoada, inexistindo ofensa aos princípios da 
capacidade contributiva e da vedação ao confisco. 
Recurso extraordinário não conhecido. 
 
2.3.6Princípio da liberdade de tráfego 
 
 Estatuído no art. 150, V, da Constituição, o princípio da liberdade de tráfego 
veda à União, aos Estados,ao Distrito Federal e aos Municípios o estabelecimento 
de “limitações ao tráfego de pessoas ou bens, por meio de tributos interestaduais ou 
intermunicipais, ressalvada a cobrança de pedágio pela utilização de vias 
conservadas pelo Poder Público”. 
 Hugo de Brito (2004, p. 55) traz um interessante caso de direito estrangeiro 
referente à matéria: 
Nos Estados Unidos da América do Norte, onde o princípio federativo 
é mais forte, posto que lá é bem maior o grau de autonomia dos 
Estados, entende-se que nenhum tributo pode incidir em uma 
operação interestadual. Por isto mesmo desenvolveu-se ali uma 
prática evasiva que se tornou muito intensa, que é a compra de bens 
diversos em estabelecimentos de outro Estado. Muitos preferem 
comprar por telefone, de comerciantes estabelecidos em outros 
Estados, e com isto surgiram várias empresas com o objetivo de 
fazer entregas de mercadorias. 
A situação, nos Estados Unidos, é bem diferente da nossa. Entende-
se ali que o cidadão deve pagar impostos ao Estado onde tem seu 
domicílio. E como o imposto sobre vendas, o sales tax, é cobrado do 
comprador, explicitamente adicionado ao preço das mercadorias, se 
o comprador é domiciliado em outro Estado o comerciante vendedor, 
ao cobrar esse imposto, não pode adicioná-lo ao preço das 
mercadorias nas vendas para comprador domiciliado em outro 
Estado. 
O Estado de Dacota do Norte, para evitar essa prática evasiva, 
pretendeu fosse instituído um sistema no qual o comerciante, ao 
21 
 
fazer uma venda a comprador domiciliado em outro Estado, cobraria 
o imposto e creditaria o valor correspondente ao Estado do domicílio 
do comprador, criando-se como que uma câmara de compensação 
entre os vários Estados. 
Estávamos em Atlanta em 1992, quando os jornais publicaram a 
decisão da Corte Suprema dos Estados Unidos, que, apreciando a 
questão, afirmou ser inadmissível a cobrança de qualquer imposto 
em operações interestaduais, a menos que o Congresso legislasse 
em sentido oposto. 
 A vedação não impede a cobrança de tributos sobre a circulação em 
operações intermunicipais ou interestaduais. Proíbe que a hipótese de incidência do 
tributo instituído tenha como elemento primordial a transposição da fronteira 
interestadual ou intermunicipal (BRITO, 2004, p. 55). 
 
2.3.7Princípio da não cumulatividade 
 
 Originalmente, o princípio em questão era adotado apenas para o ICMS, o 
IPI, os impostos de competência residual e as contribuições sobre as novas fontes 
de custeio da seguridade social (CARVALHO, 2005, p . 168). 
 Com a aprovação da Emenda Constitucional n. 42/2003, foi inserido o § 12, 
no art. 195, da Constituição, com a seguinte redação: 
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma 
direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos 
orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e 
das seguintes contribuições sociais: 
[...] 
§ 12. A lei definirá os setores de atividade econômica para os quais as 
contribuições incidentes na forma dos incisos I, b; e IV do caput, serão não-
cumulativas. 
 
Diante desse dispositivo constitucional, foi instituída a não-cumulatividade para PIS 
e Cofins 3pelas Leis n. 10.637/2002 e 10.833/2003. 
 O princípio da não-cumulatividade passa a ser aplicado nas contribuições 
para a seguridade social sobre a receita ou o faturamento 
 
3Edvaldo Brito, na obra Direito tributário: imposto, tributos sinalagmáticos, contribuições, preços e 
tarifas, empréstimo compulsório, desnuda o caráter tributário das contribuições sociais (p. 169), 
classificando-as como “fundo de participação compulsória. Assim ensina o citado autor: 
“’Contribuições sociais [...] são prestações pecuniárias compulsórias que operam a redistribuição 
forçada do patrimônio privado, em favor do seu titular, para a constituição de um ‘fundo de 
participação compulsória’ destinado a suprir as necessidades no campo da previdência social e da 
infortunística, ou seja, no campo da seguridade social. No plano jurídico, elas se submetem a regime 
próprio desde a sua formulação constitucional [...] por isso não se confundem com o tributo”. 
22 
 
 É um princípio do tipo limite objetivo, ou seja, aplica-se de pronto e 
imediatamente. O valor devido em cada operação será compensado pelas quantias 
anteriores. Assim ensina CARVALHO (2005, p.168): 
O princípio da não-cumulatividade é do tipo limite objetivo: impõe técnica 
segundo a qual o valor de tributo devido em cada operação será 
compensado com a quantia incidente sobre as anteriores, mas preordena-
se à concretização de valores como o da justiça da tributação da caga 
tributária sobre as etapas de circulação e de industrialização de produtos. 
 
 Cabe exceção ao princípio da não-cumulatividade somente ao ICMS. Tal 
exceção está prevista no art. 155, §2º, II, “a”, in verbis: 
Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: 
[...] 
II - operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de 
serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, 
ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior; 
[...] 
§ 2º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte: 
I - será não-cumulativo, compensando-se o que for devido em cada 
operação relativa à circulação de mercadorias ou prestação de serviços 
com o montante cobrado nas anteriores pelo mesmo ou outro Estado ou 
pelo Distrito Federal; 
II - a isenção ou não-incidência, salvo determinação em contrário da 
legislação: 
a) não implicará crédito para compensação com o montante devido 
nas operações ou prestações seguintes; [grifos nossos]. 
 
2.3.8Princípio da proporcionalidade 
 
 Pelo princípio em comento, o quantumdebeatur do tributo é proporcional à 
riqueza no caso concreto. As alíquotas dos tributos não se alteram, sendo variável a 
base de cálculo. Sendo assim, riquezas maiores geram tributos maiores. 
 Nos dizeres de BALEEIRO (2002, p. 216), é sempre “a mesma relação 
matemática entre o tributo e a matéria tributada: a alíquota, ou percentagem, é a 
mesma, uniforme e invariável”. 
 
2.3.9Princípio da personalização 
 
 Os prêmios a seguir são todos de natureza pessoal, ou seja, somente se 
aplicam a quem colaborou com as investigações. As benesses não se comunicam 
com os demais coautores ou partícipes, conforme redação do art. 30 do Código 
Penal. 
 
23 
 
2.3.10Princípio da seletividade 
 
 De acordo com o princípio da seletividade, o valor do tributo a ser pago é 
inversamente proporcional à essencialidade do bem. Ou seja, quanto maior a 
utilidade social do bem, como alimentos e medicamentos, menor o gravame fiscal. 
São tributos seletivos o IPI (art. 153, §3º, I, CF) e o ICMS (art. 155, §2º, III, CF). 
2.3.11Princípio da tipícidade 
 
 A tipicidade, segundo Edvaldo Brito (2016, p.71), “é decorrência do elemento 
material que a norma de outorga de competência tributária descreve a partir de sua 
palavra ‘sobre’. A lei de instituição do tributo há de ser fiel à materialidade 
constitucionalmente posta [...]”. 
 Pelo aludido princípio, a lei, elemento que introduz a regra tributária no 
ordenamento jurídico, deve trazer em seu bojo os “elementos descritores do fato 
jurídico e dos dados prescritores da relação obrigacional” (CARVALHO,2005, p. 
159). 
 SCHOUERI (2005, p. 243) ensina que: 
A adequação típica constitui, aqui, a exigência de que a tributação apenas 
ocorra se concretizados, no mundo fenomênico, todos os elementos 
concebidos abstratamente pelo legislador, na definição da hipótese de 
incidência tributária. 
 
 Desta feita, pelo princípio em tela, a lei deve trazer todos os contornos da 
relação jurídica tributária. 
 
 
3PRINCÍPIO DA PROGRESSIVIDADE 
 
 Por ser o cerne principal do presente trabalho, o princípio da progressividade 
ganhou tratamento em capítulo próprio. 
 Previsto para determinados impostos,como o Imposto sobre a renda. 
Segundo AMARO (2006, p. 142), a progressividade não decorre da capacidade 
contributiva, mas “seria um refinamento desse postulado”. 
 BECKER (1972, p.262) afirma que a progressividade do tributo é um 
problema pré-jurídico de Política Fiscal, ficando ao alvedrio do legislador solucioná-
24 
 
la. Afirma, ainda, que nos Estados onde o princípio da capacidade contributiva 
ganhou status constitucional é dever jurídico do legislador dosar a progressividade e 
proporcionalidade do tributo. Ensina, também, que violação ao supracitado princípio 
é inconstitucional por ter violado uma regra jurídica constitucional. Assim afirma o 
autor em comento: 
A medida da proporção e o ritmo da progressividade do tributo (seja impôsto 
ou taxa) são problemas pré-jurídicos de Política Fiscal cuja solução fica 
entregue exclusivamente ao arbítrio do legislador. 
Entretanto, naqueles países cujo sistema jurídico contém regra jurídica 
constitucional conferindo juridicidade ao “princípio da capacidade 
contributiva”, o legislador ordinário tem o dever jurídico de dosar a 
proporção e progressividade do tributo de modo a não haver violação 
daquela regra jurídica constitucional. 
Ocorrendo aquela violação, a regra jurídica tributária é inválida 
(inconstitucional) simplesmente por ter violado uma regra jurídica 
constitucional e não em virtude (em se tratando de taxa) de sua 
desporporção com o serviço prestado ou, no caso de impôsto, de sua 
medida “confiscatória” ou “proibitiva”. [grifos do autor] 
 
 CARRAZZA (2003, p.78) defende que todos os impostos devem ser 
progressivos porque é através da progressividade que eles atenderão ao princípio 
da capacidade contributiva. Afirma, também, que na busca pela justiça fiscal, o 
sistema de impostos deve seguir o princípio da progressividade (CARRAZZA, 2003, 
p. 79). O autor enxerga que essa é a forma encontrada para afastar as injustiças 
tributárias vedadas pela Constituição. 
 Necessário ressaltar que proporcionalidade e progressividade não se 
confundem. Pela proporcionalidade, os contribuintes pagam tributos com as mesmas 
alíquotas, diferenciando apenas a base de cálculo. Conforme ensina BALEEIRO 
(2002, p.217): 
Há uma relação matemática crescente ou decrescente, conforme o vulto da 
coisa ou do fato sujeito ao gravame fiscal. Isso contrasta com a relação 
uniforme e invariável, que é peculiar aos impostos simplesmente 
proporcionais. 
 
 Na obra “Uma Introdução à Ciência das Finanças”, Aliomar Baleeiro (p. 217) 
explana sobre tributos graduados. Divide os impostos graduados em duas 
categorias: impostos progressivos e impostos regressivos. Os primeiros variam de 
forma ascendente à medida que aumenta a quantidade ou valor da matéria tributar. 
Os segundos decrescem à medida em que se eleva a quantia correspondente à 
coisa ou ato tributado. 
 Desta feita, pode-se dizer que a progressividade é um princípio de ordem 
constitucional intimamente ligado à capacidade contributiva. Pelo aludido princípio, 
25 
 
pode dizer que quanto mais riquezas possui o contribuinte, maior a carga tributária 
que ele suportorá, devendo haver o respeito ao princípio da personalização, sempre 
que possível. 
 
3.1TÉCNICA OU PRINCÍPIO? 
 
 Primeiramente, deve-se distinguir “técnica de tributação” de “princípio 
tributário”. Técnica de tributação é a “regra destinada a disciplinar cada espécie de 
imposição. Já o princípio tributário é constituído “cada vez que o critério atinar com a 
preservação do patrimônio do particular de qualquer transferência , para o coletivo, a 
fim de prevenir ofensa ao núcleo” (BRITO,2016, p. 557) 
 A progressividade pode ser considerada tanto uma técnica como um princípio. 
Na sua essência, a progressividade é uma técnica. Entretanto, sob o ângujo jurídico, 
é um princípio (BRITO,2016, p.800). E princípio é, no Brasil, por encontrar guarita na 
Constituição. 
 A progressividade integra-se com as ideias de de seletividade e 
progressividade, dando a tal integração o nome de “progressividade oculta” (BRITO, 
2016, p.800). Na aplicação da “progressividade oculta” se revelava o caráter técnico 
da progressividade. 
 
3.2SUB-SISTEMA DA PROGRESSIVIDADE 
 
 Sistema é um “conjunto integrado por elementos que se inter-relacionam.” ( 
pbc p. 10). No direito, os sistemas estão disponibilizados de forma hierárquica4. 
Além disso, regula a sua própria criação e transformação (CARVALHO, 2005,p. 
137). 
 
4O fundamento de validade de uma norma jurídica é uma norma hierarquicamente superior, a qual 
encontra fundamento de validade em outra norma que lhe é superior, até se chegar à norma 
fundamental. Essa estrutura hierarquica coloca as normas jurídicas umas acimas das outras, 
formando uma estrutura escalonada. Nos dizeres de KELSEN (p. 152) : “As normas de uma ordem 
jurídica cujo fundamento de validade comum é esta norma fundamental não são - como o mostra a 
recondução à norma fundamental anteriormente descrita - um complexo de normas válidas colocadas 
umas ao lado das outras, mas uma construção escalonada de normas supra-infra-ordenadas umas 
às outras. [...] A sua unidade é produto da conexão de dependência que resulta do fato de a validade 
de uma norma, que foi produzida de acordo com outra norma, se apoiar sobre essa outra norma, cuja 
produção, por sua vez, é determinada por outra; e assim por diante, até abicar finalmente na norma 
fundamental - pressuposta. A norma fundamental - hipotética, nestes termos - é, portanto, o 
fundamento de validade último que constitui a unidade desta interconexão criadora.” 
 
26 
 
 LARENZ ensina que “as normas jurídicas [...] não estão desligadas umas das 
outras, mas estão numa conexão multímoda umas com as outras.” (1997, p.621). 
Extrai-se, dessa afirmação, que as normas jurídicas não se encontram isoladas do 
ordenamento, pelo contrário, devem estar conectadas. 
 Leciona, também, que o sistema interno é um sistema aberto, visto que os 
princípios podem sofrer mutações, e pode ocorrer a descoberta de novos princípios. 
Segundo LARENZ (1997, p. 693): 
O sistema interno não é, como se depreende do que foi dito, um sistema fechado 
em si, mas um sistema aberto, no sentido de que são possíveis tanto mutações na 
espécie de jogo concertado dos princípios, do seu alcance e limitação recíproca, 
como também a descoberta de novos princípios; seja em virtude de alterações da 
legislação, seja em virtude de novos conhecimentos da ciência do Direito ou 
modificações na jurisprudência dos tribunais. 
 
 Sendo assim, dentro do sistema constitucional tributário, encontra-se o sub-
sistema da progressividade. Nesse aludido sub-sistema, encontram-se, além do 
próprio princípio da progressividade, os princípios da capacidade contributiva, 
igualdade, uniformidade, generalidade, universalidade e personalização. 
 O princípio da capacidade contributiva, explanado linhas atrás, está previsto 
na Constituição e deve ser aplicado a todos os tributos. Corresponde, em apertada 
sínte, a capacidade econômica que o contribuinte tem de pagar tributos. 
 O princípio da igualdade, também explanado anteriormente, apregoa que 
todos devem ser tratados de modo igual perante à lei. Entretanto, somente a 
igualdade formal não se basta suficiente. É necessária igualdade material. Deve-se 
tratar os desiguais na medida de sua desigualdade. Apesar do paradoxo, deve-se 
discriminar para que haja efetiva igualdade. 
 O princípio da uniformidade á corolário do princípio da igualdade, também 
presente na Constituição. Pelo aludido princípio, os tributos federais devem ser 
uniformes em todo território nacional. 
 Pelo princípio da generalidade, o tributo deve abranger todos os contribuintes 
que praticaram os atos descritos na hipótese de incidência. Além disso, não admite 
qualquer tributação especial, devendo tratar todos os contribuintes da mesma forma. 
 O princípio da universalidadeé um princípio específico do Imposto de Renda. 
Segundo esse princípio, deve-se considerar a totalidade das rendas dos 
contribuintes como uma unidade (PAULSEN, 2012, p. 59), sem o estabelecimento 
de distinções entre tipos de rendas para efeito de tributação diferenciada. 
27 
 
 O princípio da personalização foi tratado linhas atrás. Segundo esse princípio, 
o gravame se adequa as condições pessoais do contribuinte. 
 Como se pode ver, os princípios que compõem o sub-sistema da 
progressividade são derivados da igualdade e capacidade contributiva. 
 
3.2.1Progressividade no IPTU 
 
 O Imposto Predial Territorial Urbano, tributo de competência municipal, deve 
obediência ao princípio da capacidade contributiva. Considera-se o imóvel como 
signo presuntivo de riqueza para o cálculo do tributo e não a riqueza pessoal do 
contribuinte (CARRAZA, 2003,p.95). Sendo assim, trata-se da capacidade 
contributica absoluta. 
 O art. 156, §1º, utiliza a expressão “poderá ser progressivo”, o qual indica que 
a aplicação da progressividade, em tese, é facultativa. Entretanto, deve-se entender 
o termo “poderá” como “deverá”, pois, quando a Constituição confere a um ente 
político “poder”, ela está lhe conferindo “dever”. (CARRAZA, 2003, p. 96-97) 
 Previsto no art. 182, da Constituição, a progressividade “notempo” do IPTU 
tem caráter sancionatório para o proprietário do solo urbano, incluído em Plano 
Diretor, que não atender as formas específicas de aproveitamento. (PAULSEN, 
2012, p. 319). 
 O STF sedimentou o entendimento que é inconstitucional a lei municipal que 
instituiu alíquotas progressivas para o IPTU antes da EC nº 29/2000, com exceção 
das destinadas a assegurar o cumprimento da função social da propriedade urbana. 
Segue ementa do RE 199281: 
EMENTA: Recurso extraordinário. Ação direta de inconstitucionalidade de 
lei municipal. IPTU. Progressividade. - O Plenário desta Corte, ao julgar o 
RE 153.771, relativo à progressividade do IPTU, firmou o entendimento que 
"no sistema tributário nacional é o IPTU inequivocamente um imposto real", 
e, assim sendo, "sob o império da atual Constituição, não é admitida a 
progressividade fiscal do IPTU, quer com base exclusivamente no seu artigo 
145, § 1º, porque esse imposto tem caráter real, que é incompatível com a 
progressividade decorrente da capacidade econômica do contribuinte, quer 
com arrimo na conjugação desse dispositivo constitucional (genérico) com o 
artigo 156, § 1º (especifico). - O acórdão recorrido julgou improcedente a 
ação direta de inconstitucionalidade em causa, porque deu ao artigo 160, 
§1º, da Constituição do Estado de São Paulo (que reproduz o artigo 145, 
§1º, da Carta Magna Federal) interpretação diversa da que esta Corte tem 
dado ao princípio constitucional federal reproduzido pela Constituição 
Estadual. Recurso extraordinário conhecido e provido, para julgar 
procedente a ação direta de inconstitucionalidade, declarando, com eficácia 
erga omnes, inconstitucional o artigo 1º da Lei 11.152, de 30 de dezembro 
28 
 
de 1991, do Município de São Paulo, na parte que altera a redação dos 
artigos 7º e 27 e respectivos parágrafos da Lei 6.989, de 29 de dezembro de 
1966, com a redação que lhes foi conferida pelas Leis nºs 10.394, de 20 de 
novembro de 1987, 10.805, de 27 de dezembro de 1989, e 10.921, de 30 de 
dezembro de 1990. 
 
3.2.2 Progressividade no IR 
 
 O imposto de renda exige obediência ao princípio da capacidade contribuitva. 
A Constituição estabele a progressividade no art. 153, §2º, I. No Brasil, tem-se duas 
categorias de contribuintes do imposto de renda: as pessoas físicas, que podem ser 
taxadas em até 27,5%, e as pessoas jurídicas, que podem ser submetidas a 
alíquotas de até 15%. As alíquotas variam de acordo com o rendimento líquido 
auferido. 
 É um imposto de caráter pessoal, visto que leva em consideração a real 
capacidade contributiva dos indivíduos. No caso das pessoas físicas, é permitida a 
dedução da base de cálculo as despesas com educação, havendo limite individual e 
por dependente, e as depesas médicas, essas sem limite de valor. 
 
3.2.2.1 IRPF, alíquotas e inflação 
 
 Consoante visto linhas atrás, a progressividade pode ser aplicável em 
qualquer tributo, seja a progressividade genérica, seja a progressividade específica. 
Conforme visto, o referido princípio deriva do princípio da capacidade contributiva, o 
qual é corolário do princípio da igualdade. 
 Como imposto pessoal, é levado em conta a renda auferida pelo contribuinte 
bem como os seus dispêndios com previdência social, saúde, educação, dentre 
outros, para o aferir a base de cálculo do imposto e montante a ser pago ou 
restituído ao contribuinte. Não entrará em debate as questões sobre como o 
contribuinte realiza a declaração, ou seja, se é completa ou simplificada, visto que tal 
análise fugiria da real proposta do trabalho. 
 O imposto de renda apresenta alíquotas variáveis conforme a renda do 
contribuinte. Compreendem cinco faixas: os isentos; 7,5%; 15%; 22,5%; 27,5%. Por 
conta do princípio da progressividade e da pessoalidade, quanto maior a renda 
líquida do contribuinte, maior será a alíquota que incidirá sobre a base de cálculo. As 
29 
 
tabelas das alíquotas do imposto sobre a renda sofrem reajustes a cada ano-
calendário. 
 Em notícia veiculada em fevereiro de 2016 pelo site de notícias G1, se o 
governo não fizesse a correção da tabela do imposto de renda pessoa física, o 
contribuinte pagaria ainda mais. Segundo a notícia, se a tabela fosse alterada em 
4,5%, como tinha sido no ano anterior, os valores pagos seriam de 5% a 26% 
menores, a depender da faixa salarial. Se fosse compensar toda a inflação 
acumulada medida pelo IPCA, que era da ordem de 10,67%, o valor poderia ser 
entre 13% a 62% menor. 
 Percebe-se que há patente violação ao princípio da capacidade contributiva e 
progressividade quando o governo opta por congelar as as tabelas do imposto de 
renda. Isso porque há a incidência da inflação no preço dos produtos e serviços, 
aumentando os seus valores, os quais são repassados ao consumidor. Quando a 
tabela do imposto de renda não acompanha a inflação, acaba por onerar ainda mais, 
de forma injusta, o contribuinte. 
 Desta feita, o princípio da progressividade e da capacidade contributiva não 
estão sendo levados em consideração. Não se está respeitando o contribuinte. 
Sendo assim, entende-se que não há aplicação de uma verdadeira progressividade 
no imposto de renda, diante do aludido supra. 
 
3.2.3Progressividade no ITR 
 
 O Imposto Territorial Rural está previsto no art. 153, VI, da Constituição 
Federal. A Emenda Constitucional nº 42 deu caráter progressivo ao imposto ao 
inserir o §4º ao supracitado dispositivo. 
§ 4º O imposto previsto no inciso VI do caput: 
I - será progressivo e terá suas alíquotas fixadas de forma a desestimular a 
manutenção de propriedades improdutivas; 
 
 Além de estabelecer o caráter progressivo ao imposto, aumentando a alíquota 
de acordo com o aumento da base de cálculo, há claro uso extrafiscal do tributo. 
Isso porque o proprietário que não der destinação econômica ao seu imóvel rural, ou 
que não o faça com a adequada eficiência, acarretando em baixa produtividade, terá 
um ônus maior . (PAULSEN, 2012, p. 193-194) 
 
30 
 
3.3 ASPECTO PARADOXAL DA PROGRESSIVIDADE 
 
 O aspecto paradoxal da progressividade consiste no seguinte: via de regra, 
em qualquer país, os indivíduos que possuem rendas médias ou baixas são a 
maioria da população, em contraposição a uma minoria abastada. Hipoteticamente, 
essa maioria deveria ter mais representantes nas esferas de poder. Assim, deveria 
haver uma maciça progressividade nos tributos, impactando de maneira mais 
incisiva nos indivíduos de maior poder econômico. Entretanto, não é isso que se 
observa na prática nos países com constituições democráticas. As minorias 
abastadas dominam as esferas de poder ea progressividade não lhes atinge de 
modo tão severo. 
 Minorias que chegam ao poder de modo legítimo, seguindo os princípios do 
Estado Democrático de Direito e o princípio Republicano. Eleitos pelo votor popular 
em eleições que ocorrem de quatro em quatro anos. Sabe-se que aqueles que 
possuem maior poder econômico têm mais condições de financiar campanhas 
políticas e levar sua plataforma de campanha para mais cidadãos, o que lhe pode 
promover uma quantidade significativa de votos. Há de se considerar somente a 
hipótese dos votos obtidos por meios permitidos pelo ordenamento jurídico, bem 
como campanhas financiadas licitamente. Consideração óbvia, visto que o 
ordenamento jurídico estabelece sanções àqueles que turbam a lisura do processo 
eleitoral. 
 Sendo assim, de acordo com o princípio do Estado Democrático de Direito e o 
princípio Republicano, nada obsta que a minoria detentora de vultosas riquezas 
ocupe a maioria dos cargos eletivos. Desta feita, não há uma real representatividade 
daqueles que compõem a maioria da população: aqueles que possuem rendas 
médias ou baixas. Porém, como dito anteriormente, numa democracia os 
representantes são escolhidos através do voto popular. Não há uma regra que 
estipule uma correlação proporcional entre habitantes com determinada faixa de 
renda com o número de cadeiras no parlamento. 
 Conforme descrito supra, o paradoxo da progressividade se baseia, também, 
na ausência de aplicação incisiva da progressividade para aqueles possuidores de 
maior renda. No ordenamento jurídico brasileiro, os princípios mais próximos ao da 
progressividade são o da capacidade contributiva e da personalização. Os ditos 
princípios devem balizar o legislador no momento de criação de regras jurídicas 
31 
 
tributárias. Sendo assim, dada a natureza do tributo e a sua compatibiliade, deve-se 
respeitar a capacidade contributiva, a personalização e a progressividade. O 
desrespeito aos aludidos princípios fere o Estatuto do Contribuinte, sendo passível 
de inconstitucionalidade as regras jurídicas que não os respeitam. 
 O respeito aos mencionados princípios é conditio sine qua non para a regra 
jurídica tributária estar em consonância com a Constituição. A progressividade 
consiste no aumento da alíquota de acordo com o aumento da base de cálculo. 
Desta feita,quem possui mais riqueza terá um dispêndio maior com tributo do que 
aquele que possui menos riquezas. Como explanado anteriormente, não se 
confunde com o princípio da proporcionalidade. 
 Poderia-se perguntar se com o paradoxo da progressividade a persecução à 
justiça estaria comprometida, visto que não há uma efetiva progressividade sobre as 
maiores rendas. Entende-se que não. Conforme ensina BALEEIRO (2002, p.284), o 
problema da justiça ou injustiça de determinado imposto não é competência da 
Ciência das Finanças, cabendo tal encargo à Moral, como ciência do bem, ou à 
Política. A determinação de alíquotas é uma questão de política fiscal. Porém, 
mesmo sendo uma questãode política fiscal, o legislador encontra amarras para a 
instituição desse valor, como o respeito ao princípio da proibição do efeito 
confiscatório do tributo. 
 Certos princípios constitucionais tributários estão ali para nortear a busca por 
um sistema tributário mais justo. Como exemplos tem-se os princípios da igualdade 
e o da uniformidade geográfica, visto que esse obriga a cobrança uniforme dos 
tributos federais em todo o território nacional e aquele impede que haja privilégios 
entre contribuintes, determinando que todos são iguais perante à lei. Porém, deve-se 
tratar os desiguais na medida de sua desigualdade. Por conseguinte, os princípios 
da capacidade contributiva e personalização dirimem a desigualdade material. 
 Destarte, observa-se que há no sistema constitucional tributário pátrio 
princípios que norteiam a busca pelo ideal de justiça distributiva. Há princípios que 
limitam o poder de tributar do legislador, funcionando como proteção ao contribuinte, 
ser mais fraco na relação jurídico tributária. Ainda assim, com todas essas amarras, 
há as questões de poítica fiscal. E a escolha da faixa de renda e sua respectiva 
alíquota nos impostos progressivos é uma delas, devendo respeitar a capacidade 
contributiva, a personalização e a vedação ao efeito confiscatório. 
32 
 
 Como maioria das cadeiras do parlamento são ocupadas pelas pessoas de 
maior poder econômico é de se pensar na impossibilidade da aplicação da 
progressividade de modo que atinja de modo voraz os contribuintes mais ricos, visto 
que os próprios legisladores fazem parte desse seleto grupo. Não se deve olvidar 
que o parlamentar também possui interesses próprios, natural da sua condição de 
ser humano. 
 Desta feita, conclui-se que o paradoxo da progressividade está no espectro 
político. Acredita-se que há combatibilidade do paradoxo com os princípios 
constitucionais e seu corolários. Isso porque, mesmo de forma menos incisiva, a 
progressividade também afeta aqueles com maior concentração de riquezas, 
havendo respeito ao princípio da capacidade contributiva. O que se quer dizer é que 
mesmo não sendo taxados como deveriam, levando em consideração a proporção 
de indivíduos com menos renda e dos indivíduos com maior renda, os mais ricos 
experimentam uma cobrança tributária maior do que os mais pobres, ainda que não 
seja a forma mais justa. Por isso, acredita-se na compatibilidade do paradoxo da 
progressividade com os princípios constitucionais e seus corolários. 
 
3.4 O PARADOXO DA PROGRESSIVIDADE E A JURISPRUDÊNCIA DO STF 
 
 No tópico anterior, falou-se da compatibilidade do paradoxo da 
progressividade comos princípios constitucionais e seus corolários, chegando-se a 
conclusão de que há compatibilidade. Recapitulando: o paradoxo da 
progressividade, pelas conclusões, está no campo da política fiscal, tendo 
correlação com o processo eleitoral e a influência que os recursos financeiros têm 
no tocante à escolha dos representantes do povo. Representantes esses que serão 
os responsáveis pelas instituições das políticas fiscais, as quais devem obediência 
aos princípios constitucionais e seus corolários. 
 NEUMARK (1994, p. 195) afirma que que a aplicação mais ou menos incisiva 
da progressividade é reflexo das ideologias político-econômicas e das relações de 
poder dominante em cada momento. Vale salientar que Neumark trata a 
progressividade como um princípio derivado da capacidade contributiva, ou 
“capacidad de pago”, conforme a obra original. 
 Sendo assim, torna-se complicado realizar uma análise jurisprudencial acerca 
de questões de escolha de política fiscal. Entretanto, pode-se analisar se os 
33 
 
aspectos jurídicos, como o respeito aos princípios constitucionais na criação das 
regras jurídicas tributárias. Sobre o princípio da progressividade e sua efetivação, 
Neumark faz uma afirma deveras paradoxal, a qual será utilizada como base na 
análise jurisprudencial. Segundo NEUMARK (1994, p. 195): 
De la misma manera que es posible demostrar teóricamente que, incluso 
com independencia de la existencia de impuestos regresivos em el sistema 
fiscal, es necesaria uma <<cierta>> progresividad (equivalente a uma 
desigualdad formal) em el impuesto sobre la renta para producir uma 
<igualdad> material em las obligaciones tributarias de peresonas com 
distinta capacidad de pago – medida ésta por su renta - , es también 
impossible calificar de justa com caráter absoluto, general o sistemático 
determinada evolución de la progresividad, bin sea um impuesto aislado – 
preferentemente, em el impuesto sobre larenta – bien sea em las cargas 
fiscales totales. 
 
Assim, para Neumark, a progressividade consistiria na aplicação da desigualdade 
formal para a obtenção da desigualdade material. Esse será o ponto da análise das 
jurisprudências do Supremo Tribunal Federal. 
 
 
3.4.1RE 230343 
 
 EMENTA: MUNICÍPIO DE SÃO PAULO. TRIBUTÁRIO.LEI Nº 
10.921/90, QUE DEU NOVA REDAÇÃO AO ART. 7º, INCS. I E II, DA LEI 
Nº 6.989/66, DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO. IMPOSTO SOBRE A 
PROPRIEDADE PREDIAL E TERRITORIAL URBANA. Inconstitucionalidade 
dos dispositivos sob enfoque, reconhecida em precedente Plenário desta 
Corte (RE 204.827-5), por instituir alíquotas progressivas alusivas ao IPTU, 
em razão do valor do imóvel, com ofensa ao art. 182, § 4º, II, da 
Constituição Federal, que limita a faculdade contida no art. 156, § 1º, à 
observância do disposto em lei federal e à utilização do fator tempo para a 
graduação do tributo. Conhecimento e provimento do recurso. 
 
 Primeiramente, cabe destacar que o acórdão foi julgado antes da EC nº 
29/2000, o qual incluiu §1º no art. 156, da Constituição Federal. Isso não torna o 
acórdão menos digno de análise por isso, muito pelo contrário, mostra como 
raciocinada o STF perante à matéria antes da referida Emenda. 
 O Tribunbal de Alçada Civil do Estado de São Paulo reconheceu o caráter 
progressivo do IPTU, declarando constitucional a alteração feita no art. 7º, da Lei nº 
6.989/66. Entretanto, o STF não reconhecia o caráter progressivo nas alíquotas do 
IPTU. Apenas reconhecia a progressividade como sanção, prevista no art. 182, §4º, 
II, da Constituição. 
34 
 
 O signo presuntivo de riqueza que enseja a cobrança do IPTU é o imóvel. A 
adoção de alíquota única, pautada exclusivamente na proporcionalidade, fere a 
capacidade contributiva, passivel de inconstitucionalidade a norma que o instituiu, 
conforme posicionamento de doutrinadores citados anteriormente. Acredita-se que, 
mesmo não havendo previsão expressa à época, equivocou-se o STF ao julgar 
inconstitucional a progressividade do IPTU, pois o art. 145, §1º, da Constituição, 
afirma que “sempre que possível” os impostos devem ser graduados de acordo com 
a capacidade contributiva, e o IPTU é um desses impostos. 
 Desta feita, ao não reconhecer a progressividada ao IPTU, o STF, nesse 
julgado, foi de encontro ao paradoxo da progressividade na busca da igualdade 
material através da igualdade formal. 
 
3.4.2RE 602256 AgR 
 
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. 
CONSTITUCIONAL E TRIBUTÁRIO. CONSTITUCIONALIDADE DE LEI 
ESTADUAL SOBRE PROGRESSIVIDADE DE ALÍQUOTA DE IMPOSTO 
SOBRE TRANSMISSÃO CAUSA MORTIS E DOAÇÃO DE BENS E 
DIREITOS. GRAU DE PARENTESCO COMO PARÂMETRO PARA A 
PROGRESSIVIDADE: IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO REGIMENTAL AO 
QUAL SE NEGA PROVIMENTO. 
1. O critério de grau de parentesco e respectivas presunções da 
proximidade afetiva, familiar, sanguínea, de dependência econômica com o 
de cujus ou com o doador, não guarda pertinência com o princípio da 
capacidade contributiva. 
2. Agravo regimental a que se nega provimento. 
 
 No julgado em tela, votou-se pelo não reconhecimento da aplicação da 
progressividade no ITCMD baseada em critérios de grau de parentesco e 
presunções de afetividade com o de cujus. 
 O acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco faz remissão ao 
RE 562.045/RS, o qual considerou constitucional a progressividade da alíquota do 
ITCD de acordo com o valor total dos bens e direitos. Diferentemente da legislação 
pernambucana que aderiu o plus do grau de parentesco existente entre o 
transmitente ou doador e o beneficiário da transmissão ou doação. 
 Acredita-se que não há violação à progressividade, neste caso, tampouco ao 
paradoxo supra. E não há a violação porque o fundamento da progressividade está 
ligado à capacidade contributiva, ou seja, sobre a capacidade econômica de pagar 
35 
 
tributos. O grau de parentesco com o de cujus não se configura como aspecto 
econômico que mereça respaldo da capacidade contributiva. 
 
3.4.3RE 406955 AgR 
 
 EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL. TRIBUTÁRIO. IMPOSTO 
SOBRE A PROPRIEDADE DE VEÍCULOS AUTOMOTORES. IPVA. 
PROGRESSIVIDADE. 
1. Todos os tributos submetem-se ao princípio da capacidade contributiva 
(precedentes), ao menos em relação a um de seus três aspectos (objetivo, 
subjetivo e proporcional), independentemente de classificação extraída de 
critérios puramente econômicos. 
2. Porém, as razões não deixam entrever a má utilização de critérios como 
essencialidade, frivolidade, utilidade, adequação ambiental etc. Considerado 
este processo, de alcance subjetivo, a alegação de incompatibilidade 
constitucional não pode ser genérica. 
3. Em relação à fixação da base de cálculo, aplicam-se os mesmos 
fundamentos, dado que o agravante não demonstrou a tempo e modo 
próprio a inadequação dos critérios legais adotados. 
 
 No acórdão em destaque, de relatoria do Min. Joaquim Barbosa, mostra-se o 
entendimento do STF em relação à capacidade contributiva: deve ser aplicada a 
todos os tributos. Desta feita, encontra-se em consonância com o paradoxo da 
progressividade, visto que a progressividade advém da capacidade contributiva. 
Assim, o STF entende que deve ser alcançada a igualdade material através da 
igualdade formal. 
 
3.4.4Conclusões acerca da jurisprudência do STF 
 
 Conforme vistos nas jurisprudências supra, o STF firma seus entendimentos 
em consonância com o princípio da progressividade. Atribui, tamém, o paradoxo da 
progressividade quando reconhece a aplicação da capacidade contributiva em todos 
os tributos, quando tolhe privilégios que maculem a igualdade e a capacidade 
contributiva, e quando reconhe a progressividade em tributos cuja previsão 
constitucional não se faça presente. Pecou ao não reconhecer a progressividade no 
IPTU anterior a EC nº 29/2000, não valorizando os princípios da capacidade 
contributiva e da progressividade. Em suma: como legislador negativo, tem buscado 
a igualdade material com a aplicação dos princípios constitucionais tributários, 
principalmente os princípios que compõem o sub-sistema da progressividade. 
 
 
36 
 
 
5 CONCLUSÃO 
 
 O presente trabalhou buscou analisar o paradoxo da progressividade ante os 
princípios constitucionais e seus corolários. Concluiu-se que o paradoxo da 
progressividade encontra-se no espectro político, mas sofre as interferências 
jurídicas dos princípios constitucionais, sobretudo os que limitam os poderes de 
tributar. Concluiu-se, também, que a aplicação mais intensa ou mais branda da 
progressividade, depende das posições político-ideológicas daqueles que estão no 
poder. Chegou-se à conclusão de que há sim compatibilidade do paradoxo da 
progressividade com os princípios constitucionais e seus corolários, justamente por 
conta das interferências que realizam na esfera política. 
 Mostrou-se que o paradoxo da progressividade compatibiliza-se com a 
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. Adotou-se o paradoxo da 
progressividade como a aplicação de discriminações para alcançar a igualdade 
material. Os julgados apresentados foram analisados e mostrou-se em que pontos 
há a compatibilidade. 
 Concluiu-se, também, que os princípios que compõem o sub-sistema da 
progressividade são os princípios da capacidade contributiva, igualdade, 
uniformidade, generalidade, universalidade e personalização. Princípios que 
norteiam o legislador e o aplicador do direito para a justiça fiscal. 
 Sendo assim, chega-se a conclusão de que o paradoxo da prograssividade 
encontra compatibilidade com os princípios constitucionais do ordenamento jurídico 
brasileiro. Bem como com a jurisprudência do STF. Ou seja, por opções de política 
fiscal, a progressividade não afeta incisivamente os mais ricos, entretanto, por mais 
que soe injusto, está se respeitando os princípios constitucionais tributários da 
capacidade contributiva e progressividade. 
 
 
 
 
 
37 
 
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
 
AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro. – 12 ed. ver. e atual. – São Paulo, SP: 
Saraiva, 2006. 512 p. 
 
BALEEIRO, Aliomar. Direito tributário brasileiro. 11. ed., rev. e compl. Rio de Janeiro, RJ: 
Forense, 1999. xlviii, 1063 p. 
 
BALEEIRO, Aliomar. Uma introdução a ciência das finanças.

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