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Condomínio Edilício I 1 Condomínio Edilício I Professor Ms. Luciano de Souza Siqueira Condomínio Edilício I 2 Aula 1: Nótula histórica sobre condomínio 3 Aula 2 - Evolução legislativa do condomínio edilício 4 Aula 3 - Conceito 4 Aula 4 - Natureza jurídica 5 Aula 5 - Dupla interpretação da natureza condominial 5 Aula 6 - A fração ideal 6 Aula 7 - Implicações e reflexos da fração ideal da cota condominial 7 Aula 8 - Implicações e reflexos da fração ideal da cota condominial: o terraço de cobertura do edifício 7 Aula 9 - Implicações e reflexos da fração ideal da cota condominial: as garagens 8 Aula 10 - A instituição e a constituição do condomínio 9 Aula 11 - A instituição e a constituição do condomínio: continuação 9 Aula 12 - Forma de instituição do condomínio 10 Aula 13 - Modo de constituição 10 Aula 14 - Da convenção condominial 11 Aula 15 - Das especificações da convenção do condomínio 12 Aula 16 - Das especificações da convenção do condomínio (continuação) 12 Aula 17 - Das especificações da convenção do condomínio (continuação) 13 Aula 18 - Do regulamento interno do condomínio 14 Aula 19 - Alguns direitos dos condôminos 14 Aula 20 - Alguns deveres dos condôminos 15 Aula 21 - Alguns deveres dos condôminos (continuação) 16 Aula 22 - O condômino com comportamento nocivo 16 Aula 23 - Da administração do condomínio: o síndico 17 Aula 24 - Da administração do condomínio: o síndico (continuação) 18 Aula 25 - Das despesas do condomínio 18 Aula 26 - Da realização de obras no condomínio 19 Aula 27 - Da realização de obras no condomínio (continuação) 19 Aula 28 - Das assembleias 20 Aula 29 - Modo e forma de convocação das assembleias 21 Aula 30 - Quórum para deliberações 21 Aula 31 - Quórum para deliberações: disposições gerais 22 SUMÁRIO Condomínio Edilício I 3 Aula 32 - Da extinção do condomínio 22 Aula 33 - Da extinção do condomínio: disposições gerais 23 Aula 34 - Os condomínios edilícios e os “loteamentos fechados” 24 Aula 35 - O loteamento convencional previsto na Lei Federal 6.766/79 25 Aula 36 - O condomínio de casas previsto na lei nº 4.591/64 25 Aula 37 - Disposições doutrinárias sobre o tema 26 Aula 38 - Loteamentos fechados 27 Aula 38 - A concessão de direito de uso de áreas públicas nos loteamentos fechados 29 Aula 39 - A concessão de direito de uso de áreas públicas nos loteamentos fechados: aspectos jurisprudenciais 30 Aula 40 - A concessão de direito de uso de áreas públicas nos loteamentos fechados: aspectos jurisprudenciais (continuação) 31 Referências bibliográficas 33 Condomínio Edilício I 4 AULA 1: NÓTULA HISTÓRICA SOBRE CONDOMÍNIO As áreas urbanas de médio e grande porte estão dominadas, desde a segunda metade do século passado, por arranha-céus, edificações que multiplicam as possibilidades de construção para dezenas e até centenas de unidades habitacionais ou comerciais, de lojas, salas, garagens, permitindo que um maior número de pessoas troque a periferia por locais mais valorizados e incentivando a aglomeração urbana. Algumas edificações de condomínios caracterizam- se, sob o aspecto material, pela superposição das unidades imobiliárias, embora nem sempre assim se apresentem. Também surgiram outras formas de empreendimentos, tais como “loteamentos fechados”, shopping centers, multipropriedade e clubes de campo, que visam ao maior conforto dos condôminos e, em especial, à segurança pessoal e do patrimônio. Existem sinais arqueológicos de que, no passado muito distante, chegou-se a praticar modalidade de edificação semelhante à do condomínio edilício. Em cerca de 2.000 a.C, na Babilônia, havia construções em pavimentos, que, posteriormente, foram adotadas na Palestina e no Egito. Naquele tempo, no período de Imerum, rei de Sipar, há registros de um ato que estabelecia sobre a venda do pavimento térreo, permanecendo o primeiro andar sob o domínio do vendedor. Os romanistas não são acordes quanto à presença do condomínio edilício nas instituições romanas. Em Évora, Portugal, construíram-se as chamadas insulae (ilhas), pavimentos levantados sobre a casa de outra pessoa, imóvel designado por crypta. Contudo, a opinião prevalente é a de que as instituições romanas não previram o condomínio. No século XIV, na atual França, o condomínio edilício logrou regulamento nos Costumes da Bretanha, em seu art. 714; nos de Orleans, no seu art. 257; nos de Berry, título 11, arts. 15 e 16; entre outros. O Código Napoleônico francês foi o primeiro ordenamento moderno a prever a modalidade, pelo art. 664, substituído, posteriormente, pela Lei de 28 de junho de 1938. O condomínio horizontal difundiu-se na Europa, especialmente nas cidades de Grenoble e Reims, daí ter sido denominado por alguns como sistema de Grenoble, como expressa San Tiago Dantas (1982) em sua obra. No início de sua formação, o condomínio edilício chegou a ser considerado uma fonte de problemas e por isso mesmo nocivo a sociedade, a ponto de o jurista argentino Velez Sarsfield ter introduzido no anteprojeto do Código Civil daquele país uma norma proibindo a sua instituição, mas tarde derrogada. No Brasil, a favor da legislação portuguesa, a primeira notícia histórica sobre a propriedade privada conjugada com a compartilhada data das Ordenações Filipinas, que a ela faz referência no seguinte trecho: E se huma casa for de dous senhorios, de maneira que de hum delles seja o sotão, e de outro o sobrado, não poderá aquêle, cujo for o sobrado, fazer janela sobre o portal daquele, cujo for o sotão, ou logea, nem outro edifício algum (Livro I, Tit. 68, § 34). O Código Civil de 1916 não se referiu ao condomínio edilício, também chamado horizontal. Foi somente com o advento do Decreto nº 5.481, de 15 de junho de 1928, que o instituto foi introduzido em nosso ordenamento. Em seu regulamento, permitia a alienação de unidades com o mínimo de três peças em prédios de mais de cinco pavimentos. O estatuto pioneiro foi modificado pelo Decreto- Lei nº 5.234, de 8 de fevereiro de 1943, revogado pela Lei nº 285, de 5 de junho de 1948. Atualmente, o instituto mantém-se regido pela Lei nº 4.591, de Condomínio Edilício I 5 16 de dezembro de 1964 (Lei de Condomínios e Incorporações), aperfeiçoada pela Lei nº 4.864/65 e substancialmente derrogada pelo Código Civil de 2002. A Lei de Condomínios e Incorporações disciplina dois institutos jurídicos que se interligam, mas que possuem personalidade distinta. AULA 2 - EVOLUÇÃO LEGISLATIVA DO CONDOMÍNIO EDILÍCIO A Lei Federal nº 4.591/64, com a alteração posterior feita pela Lei nº 4.864/65, atualizou o regime condominial dos prédios de vários andares, que não correspondia às exigências da vida moderna daquela época, procurando regulamentar com melhor eficácia as relações entre incorporadores, construtores e adquirentes das unidades. A Lei nº 4.864/65 é tratada como lei da construção civil e revogou apenas parcialmente a anterior. A Lei nº 4.591/64 disciplina o condomínio em edificações propriamente dito, definindo-o, disciplinando sua constituiçãoe sua administração, tratando de sua vida como instituição autônoma, da convenção condominial, do uso de seguros e responsabilidades, das despesas e da realização de assembleias. O Título II trata das incorporações e da figura do incorporador, regulando não apenas os direitos e deveres como também os principais problemas jurídicos decorrentes das construções de prédios destinados a condomínios em edificações. O Código Civil de 2002 destaca o condomínio nos edifícios de apartamentos, ou edilícios, do art. 1.331 ao 1.358. O professor Miguel Reale, que foi quem capitaneou com uma equipe de juristas a elaboração desse código, na exposição dos seus motivos, referendou que o termo se refere a um condomínio constituído como resultado de um ato de edificação, sendo, por essa razão, denominado edilício. Os artigos relacionados ao tema são subdivididos em três seções: - Seção I, abrangendo os arts. 1.331 a 1.346, engloba as disposições gerais atinentes ao instituto. - Seção II, que inclui os arts. 1.347 a 1.356, ocupa- se da administração do condomínio. - Seção III, por sua vez, perfazendo os arts. 1.357 e 1.358, trata das formas de extinção do condomínio. Com a entrada em vigor do atual Código Civil, alguns artigos da Lei nº 4.591/64 foram revogados, remanescendo poucos dispositivos, especialmente os referentes à incorporação imobiliária. AULA 3 - CONCEITO O condomínio edilício também recebe outras denominações, sem modificar seu sentido: condomínio em edifício ou em edificações, plano vertical ou condomínio especial. Suas características principais são a apresentação de uma propriedade comum ao lado de uma privativa, com cada condômino sendo titular, com exclusividade, da unidade autônoma, seja apartamento, escritório, sala, loja, sobreloja ou garagem, e titular de percentuais das áreas comuns, como terreno, estrutura do prédio, telhado, rede geral de distribuição de água, esgoto, gás e eletricidade, calefação e refrigeração central, corredor de acesso às unidades autônomas e ao logradouro publico etc. Parte dessa definição podemos extrair do art. 1331 do Código Civil, o qual estabelece que “pode haver, em edificações, partes que são propriedade exclusiva, e partes que são propriedades comuns dos condôminos”. Caio Mário da Silva Pereira (1988, p. 47) prevê uma ideia de propriedade e outra de condomínio. Propriedade individual, exclusiva, sobre a unidade autônoma, subordinada embora Condomínio Edilício I 6 a sérias restrições (o que não é estranho ao conceito do domínio tradicional). [...] Condomínio sobre o solo, sobre os elevadores do edifício, sobre a caixa-d’água, sobre o saguão da entrada, sobre as partes enfim que interessam ao prédio como unidade arquitetônica. [...] A nosso ver há uma compropriedade e uma propriedade individual, que vivem juntas [...]. O condomínio edilício funde o domínio singular, ou individual, com o domínio comum, formando “um direito diferente, que amalgama as noções de propriedade e de copropriedade”, nas palavras do mesmo doutrinador (PEREIRA, 1988). Importante observarmos que se usa a expressão “edificações”, na forma plural e de modo genérico, ensejando o entendimento de qualquer espécie de construção, seja o empreendimento constituído de apenas um bloco ou de mais, com qualquer número de pavimentos, com a destinação que houver. Indispensável é que o edifício se componha de múltiplas unidades autônomas, isoladas entre si, independentemente do número de peças e da destinação (residencial ou não residencial). Em tal hipótese, cada unidade constituirá propriedade autônoma, com individualidade própria, submetendo- se não só isoladamente como no seu conjunto às destinações legais determinadas com a constituição do condomínio. AULA 4 - NATUREZA JURÍDICA Algumas teorias tentam explicar a natureza jurídica do condomínio edilício e das relações entre os condôminos de várias unidades. Trata-se de um estudo complexo e que, na maioria das vezes, não apresenta convergência de opiniões. A primeira teoria é a chamada teoria acéfala, a qual nega a existência de verdadeira propriedade nessa forma. A segunda inclui tais relações jurídicas quando se fala de servidões, tirando critérios da doutrina francesa. Para outros, ainda, ocorre a existência de pessoa coletiva ou jurídica, proveniente da reunião dos vários proprietários, teoria essa que veio a ser transição para outra, a da sociedade, tirando preceitos do Direito inglês. Não é uma teoria completa, vez que sabemos que aos condôminos falta a affectio societatis. Darcy Bessone (1988) atribui ao condomínio horizontal natureza e caráter orgânicos, assim se expressando: “Trata-se de uma relação bifrontal, pois, vista de um lado, é uma propriedade exclusiva, enquanto olhada por outro lado, é uma propriedade condominial”. João Batista Lopes (2003), sempre com a capacidade que o acompanha, sustenta que o condomínio edilício configura-se como um novo direito real, derivado de outros dois, o da propriedade exclusiva de unidades imobiliárias e o da copropriedade nas partes comuns. Trata-se uma verdadeira fusão entre essas duas figuras jurídicas. AULA 5 - DUPLA INTERPRETAÇÃO DA NATUREZA CONDOMINIAL O direito de propriedade das unidades individualizadas é onde os elementos constitutivos do domínio, quais sejam, o jus utendi, fruendi et abutendi, ou seja, o direito de usar, colher osdr frutos, dispor e reaver de quem quer que injustamente o detenha, é o mais amplo possível. As restrições impostas são relativas às regras condominiais e ao direito de vizinhança de modo geral. Contudo, além da unidade individualizada, os titulares de domínio também são coproprietários de fração ideal de terreno e das partes de uso comum do condomínio edilício. Trata-se de um direito complexo, inicialmente estabelecido no art.1.331 do Código Civil, o qual diz que “pode haver, em edificações, partes que são propriedade exclusiva, e partes que são propriedades comuns dos condôminos”. Condomínio Edilício I 7 Por esses e outros motivos, no que for omissa a lei condominial edilícia específica, podemos utilizar como fonte as normas sobre o condomínio em geral, contidas no Código Civil, do art. 1.314 ao 1.330. Embora se assemelhe muito a uma pessoa jurídica, para o Direito, o condomínio edilício é dotado de personificação anômala e ente despersonalizado. Ele pratica negócios jurídicos, comprando e vendendo, contratando, pagando, alugando, tendo legitimidade jurídica judicial ativa e passiva, sem ser, contudo, dotado de personalidade jurídica, prerrogativa somente concedida às pessoas naturais e jurídicas. Enfim, o condomínio edilício atua na vida negocial como qualquer pessoa jurídica, inclusive, como exemplo, perante a Receita Federal, a qual o cadastra como detentor de CNPJ – Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas. Entretanto, é equivocado, sob o ponto de vista jurídico, atestar que os condomínios edilícios sejam pessoas jurídicas. São entes, porque têm uma existência fática e jurídica, mas despersonalizados ou com personificação anômala, pois praticam determinados negócios jurídicos e atuam judicialmente sendo apenas representados pelo síndico, nos termos do art. 12, IX, do Código de Processo Civil. Trata-se de um capricho da ciência jurídica ao não igualá-lo às demais pessoas. Eles têm existência formal, mas não dotados da affectio societatis, elemento essencial às sociedades e associações. Nessa seara, é possível que o condomínio seja proprietário de unidade condominial, lojas ou estacionamento, por exemplo. Sílvio de Salvo Venosa (2003) finalizar seus ensinamentos sobre o assunto expressando: Não concluímos pela existência de personalidade jurídica no condomínio, afirmação sem fundamento legal, mas por essa conceituação de personificação anômala conferida pela própria lei condominial e pelo Código de Processo Civil, bem como decorrente de fato social. AULA 6 - A FRAÇÃO IDEAL Conforme oart. 1.331, §1º, do Código Civil, às partes suscetíveis de utilização independente numa edificação, ou seja, as unidades constituídas em autônomas, deverá corresponder uma fração ideal no solo e nas partes comuns do edifício, que é proporcional ao valor da unidade imobiliária calculada em relação ao conjunto da edificação. A preocupação extraída da regra atual detém-se apenas em relação ao critério de fixação da fração ideal, obrigatoriamente eleito como sendo o do valor pecuniário da unidade autônoma. Essa regra deve ser interpretada em conjunto com o art. 1º, § 2º, da Lei nº 4.591/64, segundo o qual dado condômino terá sua parte no terreno e nas coisas comuns por meio de fração ideal, expressa sob forma numérica ou alfabética, decimal ou ordinária. O estabelecimento de fração ideal é da própria essência do instituto, e seu cálculo deve estar feito já no próprio ato de instituição do condomínio. Pereira (1988) diz que “o cálculo das frações precede o lançamento da incorporação e é exigência para que o incorporador possa negociar as unidades”. As frações podem servir de base de cálculo das despesas (art. 12, § 1º). Da mesma maneira, quóruns de votações são computados por frações ideais, como o da convenção (art. 9º, § 2º) e o da extinção em caso de sinistro total ou superior a dois terços da edificação. Cada unidade corresponde a uma fração ideal do edifício e do solo, portanto, cada condômino é obrigado a concorrer com sua quota para as despesas do condomínio proporcionalmente aos seus quinhões, por ser esse o critério mais justo, impedindo enriquecimento ilícito. Temos como fundamentos legais para essa conclusão os art. Condomínio Edilício I 8 1.331, § 3º, e 1.336, I, do Código Civil; art. 275, II, alínea b, do Código de Processo Civil; e art. 3º, II, da Lei nº 9.099/95. AULA 7 - IMPLICAÇÕES E REFLEXOS DA FRAÇÃO IDEAL DA COTA CONDOMINIAL As frações ideais vinculadas às unidades autônomas, ora tomadas na acepção de direito acessório daquele que se dita como principal, configuram-se de suma importância no trato das relações condominiais. Nesse sentido: a) Os titulares que reunirem o mínimo de dois terços das frações ideais do condomínio têm competência para redigir as normas reguladoras do modus vivendi dele, consubstanciadas na convenção condominial, cuja observação tornar-se-á obrigatória para os titulares das demais frações ideais, bem assim para aqueles que sobre elas tiveram posse ou detenção (art. 1.333, caput, do Código Civil). b) A fração ideal é determinante da cota de participação dos condôminos nas despesas condominiais (art. 1.336, I, do CC), ou seja, o percentual que cada condômino tenha do todo irá se refletir na proporção do rateio das despesas comuns de manutenção do condomínio. c) O quantum das frações ideais do condomínio serve de parâmetro para as votações nas assembleias gerais, segundo o critério da proporcionalidade. d) Em caso de reconstrução ou venda do edifício condominial, as frações ideais são determinantes da representatividade dos votos da assembleia que se constituir para deliberação da questão. AULA 8 - IMPLICAÇÕES E REFLEXOS DA FRAÇÃO IDEAL DA COTA CONDOMINIAL: O TERRAÇO DE COBERTURA DO EDIFÍCIO Conforme o art. 1.331, § 5º, do Código Civil, o terraço de cobertura dos edifícios, salvo convenção contrária contida no instrumento de constituição do condomínio, é havido como parte comum pertencente a todos os condôminos. Portanto, ele pode ser utilizado por todos indistintamente, não podendo ser alienado ou sofrer divisão (art. 1.331, § 2º). Também a sua conservação e manutenção devem seguir a mesma norma, proporcionando o rateio das despesas necessárias. Nada impede que seja atribuída a determinado(s) condômino(s) tal tarefa, o que é perfeitamente possível, nos termos do dispositivo legal acima apontado, em combinação com o art. 1.344 do mesmo estatuto. Contudo, dois aspectos devem ser observados, a manter-se o mesmo entendimento quando discorremos acerca das garagens, que serão abordadas na próxima aula. Quando houver danos estruturais, mesmo que o terraço pertença à cobertura, os reparos deverão caber ao condomínio, sempre com ação de regresso, se couber o caso, ao construtor, na hipótese de haver responsabilidade deste. Caso seja constituído em parte suscetível de utilização independente e sujeitar-se como uma propriedade exclusiva, deverá obrigatoriamente corresponder-lhe uma fração ideal no terreno e nas outras partes comuns da edificação, podendo ser alienado e livremente onerado por seu(s) proprietário(s). Também pode dispor o ato de instituição condominial elevando o terraço de cobertura como parte acessória de determinada unidade ou de algumas das unidades sob as quais o condomínio fora constituído. Nesse caso, deverá haver vinculação Condomínio Edilício I 9 expressa entre a unidade autônoma e o terraço de cobertura, cuja área respectiva será tratada como área de uso comum de divisão não proporcional, segundo dispõem as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT (NB nº 140, atual NBR nº 12.721), distribuída entre a(s) unidade(s) a que estiver(em) vinculadas. Trata-se, então, de um direito acessório, cuja alienação poderá ser feita a outro condômino, bem como a terceiro, atendidas duas condições: 1 – Que haja expressa previsão dessa possibilidade no ato constitutivo do condomínio. 2 – Que a assembleia geral aprove essa negociação. AULA 9 - IMPLICAÇÕES E REFLEXOS DA FRAÇÃO IDEAL DA COTA CONDOMINIAL: AS GARAGENS Segundo o já citado art. 1.331, §1º, do Código Civil, as partes suscetíveis de utilização independente, tais como apartamentos, escritórios, salas, lojas, sobrelojas ou abrigos para veículos, com as respectivas frações ideais no solo e nas outras partes comuns, sujeitam-se à propriedade exclusiva, podendo ser alienadas e gravadas livremente por seus proprietários. Nesse sentido, as garagens, ou espaços para estacionamento de veículos dos condôminos, podem ser analisadas sob os seguintes ângulos: 1. A considerar-se unidade autônoma, impende fração ideal correlata no solo e nas partes comuns da edificação, sujeitando-se às normas de uma propriedade exclusiva, da mesma forma que um apartamento ou uma sala comercial. Perante o Registro de Imóveis, nesse caso, a garagem deverá constar com matrícula própria. Ela é considerada como unidade acessória à principal e poderá ser livremente alienada e gravada por seu proprietário, desde que haja permissão da convenção condominial e não exista qualquer oposição em assembleia, conforme estabelece o art. 1.339, § 2º do CC. 2. Todavia, a garagem existente em uma edificação pode comportar-se como área de uso comum de todos os condôminos, em que cada um tem direito sobre o espaço físico, considerado como um todo. No Registro Imobiliário, a área correspondente a esse espaço será, de conformidade com os respectivos cálculos informativos da constituição do condomínio, lançada como área comum nas próprias matrículas das unidades autônomas, conjugada com as demais áreas comuns correspondentes. Importante destacarmos que, sob a primeira forma, é possível a ocorrência da aquisição da propriedade imobiliária sob a forma da usucapião, fato não permitido na segunda. Em relação ao abrigo para veículos, outro mandamento legal, o art. 1.339 do Código Civil, em seu § 2º, estabelece: “É permitido ao condômino alienar parte acessória de sua unidade imobiliária a outro condômino, só podendo fazê-lo a terceiro se essa faculdade constar do ato constitutivo do condomínio, e se a ela não se opuser à respectiva assembléia geral”. Se houver um aparente conflito de normas entre os arts. 92 e 1.339, § 2º, do Código Civil, esta última deve prevalecer, pelo critério da especificidade. O desmembramento da parte acessória (box de estacionamento) da principal (unidade autônoma), no entanto, deve ser procedido da prévia anuência de todos os condôminos,em assembleia geral, desde que previsto no ato constitutivo do condomínio, conforme estabelecer a parte final do § 2º do art. 1.339. Condomínio Edilício I 10 AULA 10 - A INSTITUIÇÃO E A CONSTITUIÇÃO DO CONDOMÍNIO O Código Civil brasileiro aponta diferenças entre a instituição de condomínio (art. 1332, I, II e III) e sua constituição (arts. 1333 e 1334). O ato de instituição é o ato inicial, aquele pelo qual se constitui propriamente o condomínio. A convenção e o regulamento são estabelecidos após a sua existência, servindo para regulá-lo em sua vivência. De acordo com o art. 7º da Lei nº 4.591/64 e caput do art. 1.332 do Código Civil, pode-se instituir um condomínio edilício por ato inter vivos ou causa mortis (testamento), registrado junto ao Cartório de Registro de Imóveis local, que obrigatoriamente defina: 1. A discriminação e individualização das unidades de propriedade exclusiva, estremadas umas das outras, e das partes comuns. 2. A determinação de fração ideal atribuída a cada unidade relativamente ao terreno e partes comuns. 3. O fim a que as unidades se destinam. Já a constituição do condomínio opera-se pela convenção, feita por escritura pública ou instrumento particular, assinada pelos titulares de, no mínimo, dois terços das frações ideais e registrada no Cartório de Registro de Imóveis para ser oponível contra terceiros, tornando-se desde logo obrigatória para os titulares de direito sobre as unidades ou para quantos sobre elas tenham posse ou detenção. Tal convenção, além das cláusulas do ato que institui o condomínio e das estipuladas pelos condôminos, deverá conter: 1. A quota proporcional e o modo de pagamento das contribuições dos condôminos para atender às despesas ordinárias e extraordinárias do condomínio. 2. A forma de administração. 3. A competência das assembleias, a forma de sua convocação e o quórum exigido para as deliberações. 4. As sanções a que estão sujeitos os condôminos ou possuidores. 5. O regimento interno. AULA 11 - A INSTITUIÇÃO E A CONSTITUIÇÃO DO CONDOMÍNIO: CONTINUAÇÃO O ato de instituição do condomínio pode ser concretizado sobre prédio por construir, que é a forma mais comum, ou sobre aquele já construído. No primeiro caso, é ato do incorporador, que, obrigatoriamente, deve registrar seu empreendimento no Registro de Imóveis que exerce competência sobre o local do empreendimento. No segundo caso, caberá ao proprietário fundar o condomínio; ele, que era proprietário único, decide decompor seu imóvel em propriedades parceladas, transferindo a outrem uma, algumas ou todas as unidades autônomas. Constar a intenção das unidades, se de uso residencial ou não, é de fundamental importância, principalmente porque pode caracterizar anormalidade de uso por parte do proprietário ou possuidor. Também se entende que os condomínios sejam construídos para finalidades específicas, devendo ser anunciado o ato constitutivo a esse respeito. Desse jeito, o edifício acabado, pertencente a um único proprietário, pode transformar-se em um condomínio de unidades autônomas por destinação do titular, mediante a especialização, nos termos que exige a lei. Contudo, a forma mais comum de origem do condomínio é a incorporação. A incorporação é contrato plurilateral. A Lei nº 4.591/64, em seu art. 28, delineia a forma como o incorporador, sujeito centralizador do contrato, assume o empreendimento Condomínio Edilício I 11 de levar avante as providências administrativas preliminares, a obra e a entrega final do edifício e das unidades autônomas. Na segunda parte da lei, são descritas as obrigações e os direitos do incorporador e dos adquirentes, bem como reguladas as modalidades de construção por empreitada e por administração. A professora Maria Helena Diniz (2009, p. 230-1) expressa que se pode instituir um condomínio em edifícios de apartamentos em razão de: a) Destinação do proprietário do edifício, mediante escritura pública, sendo que a venda das unidades autônomas pode ser realizada antes ou depois de concluída a obra. É o próprio dono do prédio que, no período de sua construção ou após, constitui esse condomínio especial, ao vender as frações em que dividiu o edifício. b) Incorporação imobiliária, que é negocio jurídico com o intuito de promover e realizar a construção, para alienação total ou parcial, de edificações compostas de unidades autônomas (art. 28, § único, Lei nº 4.591/64). Os apartamentos podem ser vendidos antes da edificação final, ou seja, como comumente falado, na planta. Nesse caso, o incorporador, pessoa física ou jurídica, comerciante ou não, compromete-se a construir o edifício e a entregar a cada adquirente a sua concernente unidade, dentro de certo prazo e de determinadas condições (art. 29, Lei nº 4.591/64). AULA 12 - FORMA DE INSTITUIÇÃO DO CONDOMÍNIO A lei faz a exigência de escritura pública como forma de instrumentação da constituição dos condomínios, nos termos do comando contido no art. 1.331, § 5º, do Código Civil, que, em sua parte final, diz: “[...] salvo disposição contrária da escritura de constituição do condomínio”. Essa interpretação da regra é feita no sentido de o legislador não ter usado a expressão instrumento, quando então subsistiria tanto a opção pelo instrumento particular como pelo público, em respeito ao que determina o art. 108 do Código Civil, que diz que, quando determinado negócio jurídico se efetiva por escritura pública, por essa forma deverá ser realizado, sob pena de ser reconhecida a sua nulidade, nos termos do art. 166, IV. A escritura pública é, portanto, formalidade essencial a ser respeitada, sob pena de o ato ser considerado nulo, por desrespeito ao preceituado no art. 104, III, do Código Civil brasileiro. Ela pode ser lavrada em qualquer tabelionato do país, não devendo, nesse caso, respeito à área de competência em que estará localizado o condomínio. A prerrogativa da localização, contudo, é exclusiva do Cartório de Registro de Imóveis que detenha a jurisdição sobre o local onde estará o condomínio. AULA 13 - MODO DE CONSTITUIÇÃO A constituição do condomínio deve conter, necessariamente, a sua especificação, em que haverá descrição e identificação das unidades autônomas, áreas comuns e frações ideiais do terreno. Tudo isso constará do registro imobiliário e trata-se de garantia fundamental do direito dos adquirentes e condôminos. A constituição do condomínio é um ato de vontade do proprietário ou do titular de direitos tendentes à aquisição. Já dissemos em aula anterior que a instituição pode ocorrer por ato inter vivos ou causa mortis. Esse documento deve ser registrado no Registro de Imóveis competente (do local do condomínio), devendo dele constar, além dos elementos relacionados no Código Civil, as exigências contidas na Lei dos Registros Públicos, quais sejam: 1. Completa identificação das partes instituidoras: Condomínio Edilício I 12 1.1 Em relação a pessoa física: nome, nacionalidade, profissão, estado civil, residência e domicílio, número do CPF ou menção de outro documento de identificação pessoal. 1.2 Se casado, nome do consorte e sua identificação pessoal, bem como referência ao regime de bens de casamento adotado. 1.3 Em relação a pessoa jurídica: denominação, sede, número de inscrição no CNPJ. 2. Descrição do imóvel onde se encontra projetada a edificação objeto da instituição do condomínio, com menção do número da matrícula do Registro de Imóveis que o encerra, folha e livro (a descrição do imóvel deve ser espelhada na que constar na respectiva matrícula imobiliária). Assim, deve-se atentar para o fato de que, se a edificação se lançou sobre dois ou mais terrenos constituídos de matrículas distintas, deverá ser providenciada a prévia anexação das áreas, resultando em um único imóvel e, via de consequência, em matrícula única, cujas novas características deverão ser citadas no instrumento da instituição. Além dessas exigênciaslegais, são necessárias ainda: 1. A menção do nome do condomínio, pois que a ele vincular-se-ão as suas unidades autônomas. 2. A inserção de cláusula específica referente ao abrigo para veículos e ao terraço de cobertura, quando concedido sob a forma de direito acessório de determinada (s) unidades (s). AULA 14 - DA CONVENÇÃO CONDOMINIAL A convenção condominial é um documento escrito, público ou particular, em que se registram os direitos e deveres de cada condômino e ocupante do edifício ou conjunto de edifícios. Trata-se da lei fundamental no âmbito interno do condomínio. É considerada como um ato normativo imposto a todos os condôminos, tanto os atuais (quando da sua celebração) quanto os futuros, significando um ato-regra gerador de direito estatuário ou corporativo, aplicável não só aos que unificam a comunidade, mas também a todos os que nela se encontrarem na condição permanente ou ocasional de “ocupantes”. Seu objetivo fundamental é a organização da administração do edifício condominial. Dessa forma, devem constar de seu teor o pagamento dos encargos comuns e a arrecadação das contribuições, assim como as normas referentes à administração do condomínio, aos serviços necessários ao funcionamento do edifício e aos deveres dos condôminos. Entre as obrigações iniciais do incorporador, está a de fornecer “minuta da futura convenção de condomínio que regerá a edificação ou conjunto de edificações” (art. 32, alínea m). Na esfera prática, em havendo a incorporação, a convenção é uma carta outorgada pelo incorporador, o que pode lhe trazer vantagens em detrimento dos futuros adquirentes, mormente enquanto o incorporador mantiver unidades que lhe deem maioria nas votações das assembleias, impedindo assim a alteração desse documento. Esse aspecto mais acentua seu caráter normativo e institucional. A eficácia da convenção atinge os futuros proprietários, bem como qualquer ocupante que venha a se relacionar com o condomínio, tais como locatários, comodatários, membros familiares ou visitantes, que devem obedecer a determinados horários ou normas de segurança, enfim, a todos as regras inerentes. Toda pessoa que ingressar no condomínio, independentemente de sua condição, sujeita-se a suas regras internas, tanto que a própria lei diz que a convenção deve ser obedecida não só pelos próprios Condomínio Edilício I 13 possuidores, mas até mesmo pelos detentores das unidades. Dessa forma, não se aplicam os preceitos contidos no princípio do direito contratual de que res inter alios acta tercio neque nocet neque prodest, ou “O que se passa entre outros, ao terceiro nem prejudica, nem favorece”. Com a sua aprovação por dois terços das frações ideais do condomínio, a convenção deve ser registrada no Cartório de Registro de Imóveis, a fim de que, alcançada a necessária publicidade, abrolhe seus efeitos em analogia aos que dela não compartilharam. O conteúdo da convenção poderá mudar conforme as necessidades condominiais futuras, fixando-se um conteúdo mínimo obrigatório. AULA 15 - DAS ESPECIFICAÇÕES DA CONVENÇÃO DO CONDOMÍNIO Nos termos art. 9º, § 3º, da Lei nº 4.591/64, devem obrigatoriamente fazer parte da convenção alguns itens considerados como fundamentais para sua validade e, consequente, eficácia. São eles: a. A discriminação e a individuação das unidades de propriedade exclusiva e das de condomínio, com especificações das diferentes áreas. b. O destino das diferentes partes. c. O modo de usar as coisas e serviços comuns. d. Encargos, forma e proporção das contribuições dos condôminos para as despesas de custeio e para as extraordinárias. e. O modo de escolher o síndico e o conselho consultivo. f. As atribuições do síndico, além das legais. g. A definição da natureza, gratuita ou remunerada, de suas funções. h. O modo e o prazo de convocação das assembleias gerais dos condôminos. i. O quórum para os diversos tipos de votações. j. A forma de contribuição para constituição de fundo de reserva. k. A forma e o quórum para as alterações de convenção; l. A forma e o quórum para a aprovação do regimento interno, quando não incluídos na própria convenção. AULA 16 - DAS ESPECIFICAÇÕES DA CONVENÇÃO DO CONDOMÍNIO (CONTINUAÇÃO) Além das cláusulas do ato que organizam o condomínio e das estipuladas pelos condôminos, a convenção deverá conter algumas especificidades: 1. A quota proporcional e o modo de pagamento das contribuições dos condôminos, a fim de atender às despesas ordinárias e extraordinárias do condomínio. O ajuste não é livre, restando adstrito às frações ideais das unidades, conforme a sugestão anterior do art. 12, § 1º, da Lei nº 4.591/64, adotada pelo Código Civil em seu art. 1.336, I, como forma de preservar- se a justiça contratual. Há que se relevar, no entanto, o trato em relação à propriedade que se constituir sobre o abrigo para veículos (garagem) como unidade autônoma, como também à propriedade exclusiva sobre o terraço de cobertura. Dessa sorte, a convenção deve prever a exclusão de determinadas despesas do condomínio para essas unidades em específico, evitando-se a desproporcionalidade em razão do objeto. 2. Sua forma de administração. 3. A competência das assembleias, a forma de sua convocação e o quórum exigido para as deliberações. Condomínio Edilício I 14 4. As sanções a que estão sujeitos os condôminos ou possuidores. 5. O regimento interno (art. 1334, I a V, do CC). Facultativamente, a convenção poderá também delinear outras regras que não as elencadas, por exemplo: 1. Os direitos e deveres dos condôminos e dos sub-rogados a essa condição, a título de locatários ou possuidores. 2. A fixação do percentual de juros e multa em que incorrerá o condômino em atraso com as contribuições devidas (art. 1.336, § 1º, CC). 3. A fixação de modo, tempo e lugar do cumprimento do dever de ciência e do exercício do direito de preferência, em relação ao estabelecido no art. 1.338. 4. A fixação da permissividade ou não pelo condômino da faculdade de alienação de parte acessória de sua unidade a terceiros estranhos ao condomínio e, em caso positivo, qual o quórum exigível para aprovação em assembleia. 5. A fixação da multa a que se sujeitará o condômino ou possuidor que descumprir qualquer dos deveres estabelecidos nos incisos II a IV do artigo 1.336. Essa multa não pode ser superior a cinco vezes o valor de suas contribuições mensais. 6. A fixação de quais são os demais deveres do condômino e de quando o condomínio os considerará por reiterados, visando sujeitar o condômino ou possuidor infrator ao pagamento de multa, com definição do percentual desta (limitada ao correspondente a até cinco vezes o valor atribuído à contribuição para as despesas condominiais). 7. A definição das regras de comportamento a ser observadas pelos condôminos ou possuidores no condomínio; a fixação de quando o condomínio acatará por reiterada a violação dessas regras e, quando assim entendida, a que penalidade sujeitar- se-á o seu infrator (limite fixado pela lei: multa correspondente ao décuplo do valor atribuído à contribuição para as despesas condominiais, até ulterior deliberação da assembleia). 8. A fixação de um fundo de reserva do condomínio (não previsto no CC) para fazer frente às despesas extraordinárias do condomínio. AULA 17 - DAS ESPECIFICAÇÕES DA CONVENÇÃO DO CONDOMÍNIO (CONTINUAÇÃO) A convenção pode abranger quaisquer outras disposições não conflitantes com a lei e seu espírito. Assim, ela pode discutir amplamente tudo que interesse às áreas comuns, mas sofre limitações no que se refira às unidades autônomas. As acomodações do Código, claramente mais sintéticas, abrangem tudo que de mais sensível e mais importante deve fazer parte da convenção. Tendo em vista a direção que os pontos condominiais têm recebido quanto às questões das penalidades apresentado pelo presente Código, é importante que, na convenção, sejam estabelecidasas sanções a que estarão sujeitos os transgressores das regras, adequadas ao que está na lei, bem como o procedimento para sua injunção, este, mais apropriadamente, imutável. Acreditamos que exista um verdadeiro microuniverso em um condomínio, que pode tomar a figura de um agrupamento urbano, lembrando que há alguns que se deparam com uma população equivalente até a pequenas cidades brasileiras. A convenção pode estar debilitada por defeitos que explicitam nulidade ou anulação para os atos jurídicos. Nesses casos, deve-se, como para um ato Condomínio Edilício I 15 jurídico, buscar poupar o máximo que for possível. Assim, se um condômino era redondamente incapaz ao votar, mais isso não desfigura a maioria de dois terços, ou se apenas uma das cláusulas tinha inconveniente, não se deverá afirmar nula toda convenção; deve-se aplicar o princípio utile per inutile non vitiatur, consagrado no art. 184 do CC, que trata da nulidade parcial. AULA 18 - DO REGULAMENTO INTERNO DO CONDOMÍNIO O regulamento (ou regimento interno) apenas completa a convenção. Como expresso em outras aulas, ele deverá ser aprovado “por contrato ou por deliberação em assembleia” (art. 9º, Lei nº 4.591/64). Tudo o que não for necessário à constituição e ao funcionamento do condomínio, mas que tenha cunho circunstancial e alterável, deve ser relegado para o regimento interno. Sua aprovação independe de quórum especial, bastando, pois, maioria de condôminos presentes por ocasião de sua votação. Por esses motivos, é necessário que esse regimento seja fundado em apartado e não juntamente com a convenção condominial, que abordamos em aulas anteriores. Numa força de analogia, o regimento está para a convenção como o regulamento administrativo está para a lei. Deve concluir a convenção, regulamentá- la, sem com ela conflitar, tratando-se, pois, de instrumento complementar, uma terceira fase do condomínio, contínuo à instituição e convenção. Ocorrendo tumulto, deve predominar a primeira. Ao regulamento, é conveniente que se releguem normas disciplinadoras de uso e funcionamento do edifício. Pode-se incluir nele disposições causadoras de anteposição ou direitos dos condôminos. Sua força é do mesmo modo obrigatória, no mesmo modelo da convenção, que lhe é hierarquicamente superior, devendo ser cumprido. Inobstante a lei e o Código Civil não sejam expressos nesse sentido, é de bom-tom que seja o regimento interno também aprovado em assembleia geral especialmente convocada. Em regra, uma minuta ou projeto é disposto juntamente com a convocação, com tempo hábil para exame dos interessados, possibilitando-lhes teoria de emendas ou retificações. O regimento deve acolher ao interesse de cada condomínio, residencial, não residencial ou misto, com área comum ou de lazer mais ou menos ampla, corpo de empregados maior ou menor. Cabe também a ele dispor sobre as funções do zelador, bem como a disciplina de portaria, os horários, a utilização de áreas comuns e o regime disciplinar aplicável aos ocupantes do edifício. O efeito do regulamento alcança os futuros proprietários, bem como qualquer ocupante que venha se relacionar com o condomínio, como locatários, comodatários, membros familiares ou visitantes. O próprio regimento interno pode fixar o quórum para a sua alteração. Sua finalidade é interna, trazendo normas esmiuçadoras sobre o uso das coisas comuns. Em geral, pode ser lido em tabuletas colocadas ao lado dos elevadores, no andar térreo. AULA 19 - ALGUNS DIREITOS DOS CONDÔMINOS Por conviverem em uma verdadeira sociedade de caráter restrito, mesmo que gozando da autonomia de seu direito de propriedade sobre a unidade autônoma, aos condôminos incumbe uma série de direitos e deveres para que haja uma harmonia sobre as relações mantidas para aqueles que vivem, Condomínio Edilício I 16 trabalham ou simplesmente estão de passagem pelo local. O condômino, além de seu direito de usar, fruir e dispor de sua unidade autônoma, contido no art. 1335, I, do Código Civil, poderá usar e gozar, como proprietário privativo, das adequadas partes comuns do edifício, na característica de condomínio, como: vestíbulo, escadas, elevadores, corredores, entre outros. Tudo que é indispensável ao uso e gozo da unidade autônoma deve-lhe ser garantido, desde que não distorça sua destinação, não ocasione danos ou incômodos aos demais condôminos e nem recuse o seu uso (art. 1335, II, CC). O direito ao uso de partes comuns do edifício não sofre influência do valor ou das dimensões de cada unidade condominial. A professora Maria Helena Diniz (2009, p. 234) menciona, em sua doutrina, algumas interessantes explicações: O direito do condômino a guardar um automóvel na garagem do edifício é de natureza real, e seu exercício no plano fático configura posse, tutelável através dos remédios jurídicos possessórios. Provada essa posse e a turbação por ato da administração do edifício julga-se procedente a ação de manutenção, independentemente de qualquer indagação sobre a efetiva existência do direito [...] mas não tem o condômino posse sobre lugar em garagem, demarcado em caráter provisório pela administração do condomínio. O contrato de seguro é obrigatório para o condomínio edilício, mas cada condômino poderá contratá-lo em separado, em se tratando de sua unidade autônoma. O emprego das partes e das coisas comuns deve ser dado de forma idêntica a todos os condôminos. Não é permitido atrapalhar o uso de corredores e também não é possível atuar de maneira a ocasionar dano ou incômodo aos outros condôminos ou moradores. Não permanecendo quite com as obrigações condominiais, o condômino não pode votar, ser votado ou participar das assembleias, segundo o texto da lei, não podendo ser nelas acolhido. Havendo dúvidas sobre essa ocorrência, toca ao condômino comprovar que pagou todo o devido (art. 1335, III, CC). AULA 20 - ALGUNS DEVERES DOS CONDÔMINOS No mesmo sentido da aula anterior, a fim de se buscar a harmonia da convivência condominial, existem algumas obrigações atribuídas aos condôminos, as quais não se limitam ao rol que passamos a expor: 1.Contribuir para as despesas do condomínio, na proporção de suas frações ideais. 2.Não praticar qualquer ato ou obra que possa ameaçar a segurança do edifício (art. 1336, II, CC), ou prejudicar a higiene e limpeza. 3.Não alterar a forma externa e a cor da fachada, a não ser com o consentimento de todos os consortes (art. 1336, III, primeira parte, CC). 4.Não decorar as partes e esquadrias externas com tonalidades ou cores diferentes das empregadas no conjunto da edificação (art. 1336, III, segunda parte, CC). 5.Não destinar a unidade a utilização diversa da finalidade do prédio (art. 1336, IV, primeira parte, CC). 6.Ressalvar as regras de boa vizinhança e de boa harmonia, abstendo-se do que possa custar dano ao imóvel ou incômodo aos seus ocupantes. Para tanto, não pode empregar sua unidade e as áreas comuns de modo prejudicial ao sossego, à salubridade e à Condomínio Edilício I 17 segurança dos condôminos ou aos bons costumes (art. 1336, IV, segunda parte, CC). A multa por impontualidade, que era de 20%, nos termos da Lei nº 4.591/64, foi reduzida para 2% nos termos do art. 1.336, § 1º, do Código Civil, o que, para alguns, pode estimular a inadimplência das contribuições. Não havendo uma correta administração disso, poderá haver dificuldades de gestão, comprometendo os demais condôminos, que terão que ratear esse passivo, isso tudo agravado pela não previsão de atualização monetária dos haveres, ainda mais se considerando a morosidade da Justiça, beneficiando o mau pagador. É interessante saber que a multa e os juros desse valor, para alguns, só têm aplicação nos condomínios constituídos na vigência do novo Código Civil. Naqueles constituídos na vigência da lei anterior, em cujas convenções estiver prevista a multa de 20%, esta deve ser aplicada. Trata-sede interpretação do art. 6º, § 1º da Lei de Introdução ao Código Civil (Decreto-Lei nº 4.657, de 4.set.1942), de que, embora tenha aplicação imediata a nova lei, deverá respeitar, entre outras hipóteses, o ato jurídico perfeito, que é aquele praticado e consumado na vigência da lei anterior. Por esse entendimento, a lei nova não pode afetar as convenções já existentes, pois não se cuida no caso de norma de ordem pública. AULA 21 - ALGUNS DEVERES DOS CONDÔMINOS (CONTINUAÇÃO) Continuando o conteúdo exposto na aula anterior, lembramos que o art. 1.336, § 2º, do Código Civil ordena que o infrator dos deveres dos incisos II a IV do mesmo artigo ficará sujeito ao pagamento de multa prevista no ato constitutivo ou na convenção. Tal multa não poderá ser superior a cinco vezes o valor de suas contribuições mensais, independentemente de eventuais perdas e danos que se apurarem. Se não houver disposição expressa na convenção condominial, caberá à assembleia geral definir, com quórum mínimo de dois terços dos condôminos, sobre a cobrança dessa multa. O art. 1.337 estabelece a possibilidade de aplicação de uma multa de até o quíntuplo do valor da cota condominial para o condômino ou possuidor (aí incluído locatário ou comodatário) que for reincidente e não cumprir com os seus deveres diante do condomínio. Essa punição pode ser conferida até mesmo ao que reiteradamente não paga as suas cotas condominiais, sobrecarregando os demais partícipes. Deve seu valor ser fixado considerando-se a reiteração e a gravidade da ausência, não eximindo o condômino infrator de responder por perdas e danos. A multa prevista deve ser atribuída com a aprovação em assembleia de três quartos dos condôminos restantes, excluindo, de modo óbvio, o infrator. AULA 22 - O CONDÔMINO COM COMPORTAMENTO NOCIVO O art. 1.337, § único, do Código Civil atribui a possibilidade de uma vultosa multa, a qual poderá ser de até dez vezes o valor da cota condominial, ao condômino que tenha um comportamento antissocial. Evidente que o referido dispositivo deve ser interpretado com o uso de outras fontes do Direito, tais como usos e costumes, a fim de conseguir estabelecer o verdadeiro significado de tal disposição em consonância com a realidade condominial. Acredito que esse condômino é aquele que não tenha comportamento compatível com a vida no condomínio, não respeitando as limitações naturais dos edifícios coletivos, infringindo as mais elementares normas de convivência, provocando atritos de vizinhança ou mesmo tendo conduta penalmente punível. Condomínio Edilício I 18 Tal multa pode ser conferida de imediato pelo síndico ou pelo corpo diretivo do edifício, na forma do que for disciplinado na convenção; deve, no entanto, sua prescrição ser sancionada por imediata decisão da assembleia. No Código Civil, a punição aplicada ao condômino antissocial é de pesada multa com caráter eminentemente financeiro, afastando-se do tipo de pena de interdição de direitos, como proibição de frequentar partes da área comum, por exemplo, piscinas e quadras poliesportivas etc. Esse tipo de conduta ou punição, acreditamos que pode infringir normas constitucionais que regulam direitos e garantias individuais, tornando-se, portanto, inócua. Nada evita que se coloquem áreas de utilização comum à acomodação dos condôminos mediante cobrança de um valor para a sua manutenção, o qual será revertido para o fundo condominial a fim de fazer frente às despesas com a administração. AULA 23 - DA ADMINISTRAÇÃO DO CONDOMÍNIO: O SÍNDICO A administração do condomínio edilício é desempenhada por um síndico, auxiliado por um conselho consultivo, escolhidos todos pela assembleia geral. Após a sua escolha, ele passa a ser o executor das deliberações por período não superior a dois anos, facultada a reeleição. Porém a convenção pode impedir que esta ocorra por mais de um período, nos termos dos arts. 1.347 a 1.356 do Código Civil. Como em qualquer situação (não nos limitamos à hipótese condominial), não é adequada a perpetuidade no cargo, mas a lei não proíbe inflexivelmente reeleições. Essa proibição é objeto de discussão e é recomendada no projeto de lei nº 6.960/02, com redação que estabelece a delegação do síndico como não superior a dois anos, permanecendo lícita a renovação por um único período contínuo. O síndico realiza o papel mais importante do condomínio, não só porque representa ativa e passivamente em juízo, mas também porque cumpre as funções executivas do administrador, devendo amparar os direitos e interesses comuns dos condôminos. Suas principais funções, além da representação do condomínio, estão na administração, devendo prestar contas à assembleia anualmente e quando exigidas, sob pena de multas na configuração da convenção e regulamento, além de exercer e fazer cumprir tais atos normativos e zelar pelo patrimônio condominial. Os membros do conselho consultivo deverão ser sempre condôminos, vez que é um órgão colegiado de consulta e fiscalização, o que denota que seus membros sejam essencialmente partícipes do condomínio. O síndico pode ser pessoa física ou jurídica, condômino ou não. Portanto, é possível que a escolha recaia sobre pessoa física ou jurídica estranha ao condomínio. No mesmo sentido, é possível que ele administre suas funções administrativas junto a pessoa ou pessoas de sua confiança, contanto que adote a culpabilidade pelo mandato e sujeite esse fato a aprovação da assembleia geral, caso seja um condômino. Também poderá delegar suas funções a empresas especializadas, sempre sob sua responsabilidade, a qual, em qualquer hipótese, não é excluída. Na prática, averigua-se que a maioria dos prédios é dirigida por empresas especializadas, que são organizadas para o imprescindível e não raro árduo trabalho de receber dezenas de condôminos, cogitar orçamentos, prover a concorrência para fornecimentos e obras, entre outras atribuições. Conquanto o síndico tenha representação ativa e passiva do condomínio, seja judicial ou extrajudicial, deve-se advertir que, na hipótese de ação judicial que submerja direitos privados dos condôminos, Condomínio Edilício I 19 será obrigatória a citação de todos os coproprietários interessados. Na qualidade de representante, o síndico deve atuar em nome de outrem, nos limites da convenção e sob a fiscalização da assembleia, praticando, em juízo ou fora dele, a ação de defesa dos negócios comuns. AULA 24 - DA ADMINISTRAÇÃO DO CONDOMÍNIO: O SÍNDICO (CONTINUAÇÃO) Continuando os estudos realizados na aula anterior, prosseguimos com as obrigações destinadas à figura do síndico. As tarefas de aceitar e dispensar empregados, aplicar pena de multas postas em lei e pela convenção, colher contribuições definidas pela assembleia, sofisticar o orçamento da receita e da despesa relativas a cada ano e realizar o seguro da edificação são responsabilidade do síndico. Incumbe-lhe a nomeação do porteiro, que deve fiscalizar a entrada do prédio, bem como o cuidado pela conservação das partes comuns, pela boa execução de todos os serviços e pelo cumprimento da convenção, do regimento interno e das determinações assembleares. Todo aquele que administra bens de outrem deve prestar contas. Sendo administrador, é destituível ad nutum. Igualmente, pode abandonar o cargo, por sua natureza, involuntariamente do consentimento de outro órgão. A atividade do síndico não caracteriza relação de emprego nem locação de serviço. Ele é representante da comunhão. Não faz jus a remuneração se esta não estiver regularmente prevista. Contudo, poderá ser fixada pela mesma assembleia que o eleger, salvo se a convenção dispuser que seu exercício é gratuito ou que é assalariado. Nos termos da definição do ato ilícito, contido no art. 186 do Código Civil, aquele que por ação ou omissão causar prejuízo ou violar direito poderá responder pelo dano causado, promovendo uma indenização se trouxer prejuízoao condomínio por culpa ou dolo. O síndico que cometer anormalidade, não apresentar contas ou não administrar favoravelmente o condomínio poderá ser deposto de suas funções, pela forma e sob as condições previstas na convenção, ou, no silêncio desta, pelo voto da maioria absoluta dos condôminos presentes em assembleia geral notadamente convidada para os fins do art. 1.348, § 2º, do Código Civil. AULA 25 - DAS DESPESAS DO CONDOMÍNIO As despesas relativas às partes comuns de algum condômino, ou de um número deles, devem ser atribuídas aos que se sirvam delas, exclusivamente, nos termos do art. 1.340 do Código Civil. Assim, o pagamento das despesas que disserem respeito aos usos das áreas comuns de uso exclusivo, por exemplo, cobertura do edifício, hall de elevador privativo, entre outras, devem ser pagas pelo condômino que as utiliza. Desse modo, mais uma vez, aplica-se o dispositivo que proíbe o enriquecimento sem justa causa de um em desfavor dos outros. Cada condômino concorrerá para as despesas na proporção da fração ideal do terreno de que for titular. No que diz respeito ao rateio, é supletivo e não cogente, pois podem as partes estipular, por meio da convenção, outra proporção que não essa. As despesas ordinárias são aquelas destinadas ao custeio normal do prédio e dispostas anualmente por meio de assembleia geral ordinária. A esta compete, precisamente, aprovar, por maioria dos presentes, as verbas para despesas de condomínio, Condomínio Edilício I 20 compreendendo as de conservação da edificação, manutenção de seus serviços e correlatas. Aprovado o orçamento, os condôminos são obrigados a pagar sua quota, dentro dos prazos fixados na convenção. O não pagamento tempestivo das contribuições sujeita a duradouros juros de mora e a multa estipulada na convenção, conforme explicamos em aulas anteriores. Já no caso das despesas extraordinárias, que são as que envolvem gastos maiores e esporádicos, cabe à assembleia geral aprová-las, bem como o orçamento de seu custo. Podem ser usados recursos do fundo de reserva, acumulados justamente para esse fim. AULA 26 - DA REALIZAÇÃO DE OBRAS NO CONDOMÍNIO O art. 1.341 do Código Civil trata com especificidade da realização de obras no condomínio, dele apurando- se que: 1. As obras destinadas à realização de benfeitorias voluptuárias, consideradas como as que têm por escopo tão somente dar comodidade àquele que as fez, não tendo qualquer outra utilidade, por serem obras para embelezamento, dependem do voto de aprovação de dois terços dos condôminos, no mínimo. 2.A realização de obras denominadas úteis, ou seja, as que visam aumentar ou facilitar o uso do bem, apesar de não serem necessárias, dependem de voto de aprovação da maioria dos condôminos. Quando esse tipo de obra abranger área comum do condomínio, o art. 1.342 exige duas condições: 1)Aprovação de dois terços dos votos dos condôminos. 2)Que as obras não sejam passíveis de causar obstáculos à livre utilização, por qualquer dos condôminos, das partes de propriedade exclusiva ou das que pertencerem à comunhão. 3.Em relação à realização de obras que se constituam em necessárias, isto é, que se destinem a conservar o bem ou evitar sua deterioração (art. 96, § 3º, do Código Civil), explicita o dispositivo legal, em seu § 1º, que o síndico pode determinar a sua execução independentemente de autorização dos condôminos. Em se omitindo aquele, ou em caso de verificar-se impedido por qualquer motivo, a realização poderá ser determinada por qualquer dos condôminos. A observar, ainda, que: 1)Se a realização desse tipo de obra for urgente e importar em custos elevados, aquele que houver determinado a sua execução deverá levar esse fato ao conhecimento dos demais condôminos, convocando- os imediatamente a reunir-se em assembleia especial. 2)Se não for urgente, mas importar em custos elevados, somente poderá ser determinada a sua execução após a aprovação dos condôminos em assembleia, a ser convocada por aquele que tiver interesse (síndico ou, em caso de impedimento deste, qualquer dos condôminos). Tendo o legislador anotado as expressões “urgente” e “despesas excessivas”, conforme os §§ 2º e 3º do art. 1.341 do CC, a fim de se evitar futuros desentendimentos entre os condôminos, alicerçados entre o que um repute por urgente, outro não, entre uma soma considerada excessiva por um, não por outro, também esses aspectos devem ser objeto de apreciação na convenção do condomínio para sua delimitação. AULA 27 - DA REALIZAÇÃO DE OBRAS NO CONDOMÍNIO (CONTINUAÇÃO) Continuando os estudos que iniciamos na aula anterior, dispõe o art. 1342, § 4º, do Código Civil que aquele que, às suas próprias expensas, tiver suportado as despesas com a execução de obras ou reparos necessários no condomínio tem o direito de exigir o reembolso do respectivo numerário, na proporção ajustada na convenção. Se, no entanto, Condomínio Edilício I 21 essas obras não se reputarem, propriamente, como necessárias, a restituição não será devida, mesmo que em benefício de todo o condomínio. Outro dispositivo legal que se refere a obras no condomínio e envolve complexa repercussão encontra- se pautado no art. 1.343 do Código Civil, embora tenha se limitado o nosso legislador a prescrever que, em caso de construção de outro pavimento ou, no solo comum, de outro edifício, objetivando a criação de novas unidades (denominadas imobiliárias), a aprovação unânime dos condôminos é condição sine qua non para a sua execução. Assim, suponha-se que determinado condômino, desejando erigir mais um pavimento no edifício destinado a compreender novas quatro unidades imobiliárias, obtenha a aprovação unânime dos demais condôminos para esse fim. A necessidade de alteração das frações ideais que se encontram distribuídas entre todas as unidades do condomínio e já consolidadas diante do registro do ato constitutivo do condomínio é necessária para que o novo pavimento adquira a sua respectiva base no solo. Isso implica dizer, noutra dicção, que as frações ideais das unidades já constituídas restarão diminuídas, e a proporção que couber às futuras unidades deverá ser inicialmente adquirida por esse condômino, por meio de escritura pública de compra e venda, ou por instrumento particular, se o valor não for superior a 30 vezes o maior salário mínimo vigente (art. 108 do Código Civil). Esse ajuste deverá ter ingresso perante o Registro Imobiliário, mediante a sequência dos seguintes atos: 1.Averbação, na matrícula-mãe (onde se encontra lançado o registro do ato constitutivo do condomínio), da ata de aprovação da construção desse outro pavimento, por votação unânime dos condôminos. 2.Averbação, na matrícula-mãe e nas de todas as unidades do condomínio, da escritura pública de alteração do ato de instituição do condomínio e de individuação das unidades imobiliárias (onde se fará a redistribuição das frações ideais e das partes comuns do condomínio em razão do empreendimento futuro que originará as quatro novas unidades), com cláusula resolutiva (ou seja, que fica condicionada à averbação do futuro pavimento). 3.Registro, na matrícula-mãe, da escritura ou do instrumento particular de compra das frações ideais que corresponderão às novas unidades imobiliárias. 4.Averbação da área correspondente ao novo pavimento na matrícula-mãe ao ser resolvida a condição da escritura mencionada no item 2. 5.Abertura das matrículas das novas unidades. 6.Averbação, no registro competente, do instrumento de alteração da convenção do condomínio, fazendo a inserção das novas unidades imobiliárias. AULA 28 - DAS ASSEMBLEIAS Os condôminos reunir-se-ão em assembleias, cuja competência, forma de convocação e quórum exigido para as deliberações deverão restar ajustados na convenção do condomínio, conforme leciona o art. 1.334, III, do Código Civil. Em regra, o condomínio possui as seguintes assembleias: a) Assembleia geral ordinária.Exige a lei que seja realizada, obrigatoriamente, uma vez ao ano, por convocação do síndico, ou, se assim não ocorrer, por um quarto dos condôminos. Havendo omissão destes, poderá qualquer dos condôminos denunciar esse fato ao Judiciário, a quem incumbirá decidir quanto à questão. A finalidade precípua dessa assembleia consiste na aprovação do orçamento das despesas do condomínio, das contribuições dos condôminos e da prestação de contas do administrador, na eventual eleição do Condomínio Edilício I 22 substituto deste e, ainda, na eventual deliberação para fins de alteração do regimento interno. b) Assembleia geral extraordinária. Quando se fizer necessário tratar de assuntos afetos à vida condominial, esse tipo de assembleia poderá ser convocada pelo síndico ou por um quarto dos condôminos. AULA 29 - MODO E FORMA DE CONVOCAÇÃO DAS ASSEMBLEIAS Determina o art. 1.350 do Código Civil que a convocação para a assembleia geral ordinária deverá ser feita na forma prevista na convenção. Também para a extraordinária deve ser obedecida à mesma regra, em razão do art. 1.334, III, o qual trata dessas assembleias sem distinção em deferência à espécie. Quanto à forma da convocação, em especial, salvo entendimento contrário, a forma escrita, com comprovante de recebimento, é a que mais condiz com as normas legais que regem o condomínio edilício, a ter-se em conta a nulidade da assembleia deliberativa que não contar com a convocação de todos os condôminos (art. 1.354 do Código Civil). Dessa forma, tanto o modo quanto a forma de convocação das assembleias deverão ser objeto de tratamento na convenção do condomínio, a fim de evitar-se futura contrariedade de entendimentos. AULA 30 - QUÓRUM PARA DELIBERAÇÕES Dependendo da matéria a ser deliberada, a lei fixa determinado quórum para a sua aprovação, dela apurando-se a exigência de: a. Subscrição por titulares que representem no mínimo dois terços das frações ideais para aprovação do instrumento público ou particular de convenção do condomínio. b. Votos representativos de dois terços dos condôminos, no mínimo, para deliberação quanto à cobrança de multa a ser aplicada ao condômino que infringir qualquer dos deveres estabelecidos no art. 1.336, II a IV, do CC (não realizar obras que comprometam a segurança da edificação; não alterar a forma e a cor da fachada, das partes e esquadrias externas; dar às suas partes de propriedade exclusiva a mesma destinação que tem a edificação, evitando a sua utilização de modo a acarretar prejuízos de cunho perturbador quanto a sossego, salubridade e segurança dos possuidores ou a bons costumes), caso o ato constitutivo ou a convenção não tenha previsão a esse respeito. c. Votos representativos de três quartos dos condôminos para fins de imposição de multa ao condômino ou possuidor que reiteradamente descumprir seus deveres perante o condomínio. d. Votos de dois terços dos condôminos para a execução de benfeitorias voluptuárias e da maioria para a execução de benfeitorias úteis. e. Votos de dois terços dos condôminos para a execução de obras nas partes comuns do edifício. f. Votação por unanimidade para fins de construção de outro pavimento ou, no solo comum, de outro edifício, destinado a conter novas unidades imobiliárias. g. Votos da maioria absoluta dos presentes para fins de destituição do síndico. Votos de dois terços dos condôminos para alterar a convenção ou o regimento interno do condomínio. h. Votos da unanimidade dos condôminos quando se objetivar a mudança da destinação do edifício ou da unidade imobiliária. i. Votos da maioria dos condôminos presentes, representativos de 50% das frações ideais, no mínimo, para as deliberações da assembleia em Condomínio Edilício I 23 primeira convocação, salvo quando exigido quórum especial. j. Votos da maioria dos condôminos presentes para as deliberações da assembleia em segunda chamada, salvo quando exigido quórum especial. k. Votos representativos de 50% mais uma das frações ideais para fins de deliberação quanto a reconstrução ou venda da edificação, em caso de destruição total ou parcial ou quando ameace ruína. AULA 31 - QUÓRUM PARA DELIBERAÇÕES: DISPOSIÇÕES GERAIS Feitas as considerações sobre o quórum mínimo nas assembleias, objeto de estudo da aula passada, passaremos a abordar questões gerais sobre as referidas assembleias, especificamente em relação às votações. Salvo disposição diversa na convenção do condomínio, os votos serão tomados em proporção às frações ideais no solo e nas outras partes comuns, conforme regra inserida no art. 1.352, § único, do Código Civil. Nesse aspecto, explica com verdadeira propriedade o doutrinador João Batista Lopes (2003): “Assim, o condômino titular de frações ideais que representem mais de 50% do total terá, de fato e de direito, o controle das assembléias e suas deliberações, podendo surgir à figura que a doutrina denomina ‘maioria de um só’”. Para solução desse impasse, sugere o referido autor o recurso à via judicial para “pôr cobro a situação anômala como essa”. Diante desse alerta, urge que os condôminos, quando da aprovação da convenção do condomínio, tenham plena consciência desse dispositivo legal, aproveitando-se da exceção que dele próprio emana, dessa maneira ajustando a contagem dos votos em caráter diverso do sugerido pela norma para prevenir conflitos dessa ordem. AULA 32 - DA EXTINÇÃO DO CONDOMÍNIO Consistindo um edifício de apartamentos em um condomínio especial ou forçado, não podem os condôminos extingui-lo por convenção ou por via judicial. Desse modo, podemos dizer que, enquanto o prédio subsistir em caráter coletivo, o condomínio é inextinguível. Os fatos de extinção dessa modalidade de condomínio são: 1.Desapropriação do edifício, caso em que a indenização será repartida na proporção do valor das unidades imobiliárias (art. 1.358 do Código Civil). 2.Confusão, se todas as unidades autônomas forem adquiridas por uma só pessoa. 3.Destruição do imóvel por qualquer motivo (art. 1.357, CC). 4.Demolição voluntária do prédio por razões urbanísticas ou arquitetônicas ou por condenação do edifício pela autoridade pública, por motivo de insegurança ou insalubridade ou por ameaça de ruína (art. 1.357, CC). 5.Alienação ou reconstrução de todo o prédio, com aprovação dos condôminos que representem metade mais uma das frações ideais. Determinada a reconstrução, um condômino poderá eximir-se do pagamento das despesas referentes, alienando seus direitos aos outros, mediante avaliação judicial. Se a venda se der, haverá preferência ao condômino em relação ao estranho, e o preço alcançado será repartido entre todos, proporcionalmente ao valor de suas unidades imobiliárias (art. 1.357, §§ 1º e 2º, CC). Condomínio Edilício I 24 AULA 33 - DA EXTINÇÃO DO CONDOMÍNIO: DISPOSIÇÕES GERAIS Bem como toda realidade fática, o condomínio pode perecer-se, ainda que seja criado sem prazo determinado. Na desapropriação, os valores das unidades autônomas pertencerão a cada titular, repartindo-se por rateio o equivalente às partes comuns. Divide-se a indenização pelas respectivas quotas. Pela legislação anterior, no caso de destruição de menos de dois terços da edificação, o síndico solicitaria o recebimento do seguro e faria a reconstrução e os reparos. Dois terços dos condôminos, representando fração ideal de 80% do terreno e coisas comuns, poderiam decidir sobre a demolição e reconstrução do prédio ou sua alienação por motivos urbanísticos ou arquitetônicos ou, ainda, no caso de condenação do edifício pela autoridade pública, em razão de insegurança ou insalubridade. Assegurava-se o direito da minoria de ter suas partes adquiridas pela maioria. A alienação total do edifício também seria autorizada pelos votos dos dois terços mencionados, correspondendo a 80% do terreno e frações ideais. O art. 1.357 do Código Civil assinala que, se a edificação for total ou parcialmentedestruída, ou ameace ruína, os condôminos deliberarão em assembleia sobre a reconstrução ou venda por votos que representem metade mais uma das frações ideais. A solução é mais realista do que a lei anterior, pois, dependendo dos danos, os reparos podem ser inviáveis nessa situação trágica. O código traduz de forma mais eficiente o direito das minorias. Como a reconstrução significa investimento considerável para cada condômino, ele poderá eximir-se do pagamento, cedendo seu direito a outros, mediante avaliação judicial. A preferência na aquisição será dos condôminos; na falta de interesse deles, poderá adquirir a quota um estranho. O valor apurado será dividido entre os condôminos, proporcionalmente ao valor de suas unidades. Poderá, contudo, a assembleia dar outro destino a essa verba. Na hipótese de desapropriação, a indenização será rateada também a cada condômino, na proporção de sua respectiva unidade. Todas as características do sistema procedem da necessidade da existência de partes comuns, inalienáveis separadamente dos apartamentos e utilizáveis por todos. Destruído o prédio, o terreno, que, por ficção legal, era acessório, cobra sua qualidade de principal, e os donos encontram-se na situação de condôminos na forma tradicional. Mesmo na hipótese de haver seguro sobre todo o prédio e de se haver estipulado a reconstrução, o primeiro condomínio em edificações aboliu-se com a destruição; um outro poderá surgir com a construção nova, mas aquele originário acabou. O novo pode ser material e juridicamente idêntico ao anterior, mas é um novo sistema, porque o condomínio em edificações, com suas disposições, regras e especialidade, decorre de uma situação de necessidade que implica a existência das partes comuns e dos direitos mútuos, de tal modo essencial para ele como as ruas o são para uma cidade ou o alimento para o organismo. Destruída a cidade, morto o organismo, derrubada a edificação, as ruas, o alimento e as partes comuns do prédio perdem o sentido. O condomínio edilício, além disso, extingue-se pela deliberação dos condôminos, por unanimidade, que decida decompor o prédio num condomínio de forma tradicional, cada proprietário tornando-se senhor de uma parte ideal do todo. Cancela-se no Registro de Imóveis a autonomia dos apartamentos; anula-se a convenção condominial, e desaparece o regime de condomínio edilício. Esse caso ocorre pelo princípio de que ninguém pode ser forçado a continuar em condomínio. Claro que o prédio continuará a ser indivisível, por força de sua natureza, não mais da lei. Mas, tendo em vista tal circunstância, qualquer condômino pode requerer Condomínio Edilício I 25 a venda da coisa e a divisão do preço, nos termos do art. 1.322, caput, do Código Civil. Essa hipótese, todavia, será extremamente incomum. O condomínio extingue-se, ainda, pela concretização numa só pessoa da propriedade de todos os apartamentos. Um proprietário poderá ir adquirindo as unidades de seus consortes, e, como as partes comuns e o terreno são acessórios do principal, apartamentos e andares, período chegará em que o aludido adquirente se tornará dono de todo. Nessa ocasião, feitas as declarações necessárias, terá desaparecido o regime de condomínio edilício. AULA 34 - OS CONDOMÍNIOS EDILÍCIOS E OS “LOTEAMENTOS FECHADOS” Não poderíamos deixar de abordar nesta disciplina a figura do “loteamento fechado”, recente fenômeno urbanístico nos municípios brasileiros, invariavelmente confundido com o condomínio edilício. São várias as razões para a proliferação desse fenômeno urbanístico: uma busca de moradias dotadas de comodidade, luxo e segurança, além do status de se morar bem, num bairro de acesso exclusivo para os moradores. Eles se apresentam cercados por muros, com suas entradas equipadas com guaritas e, de ordinário, fechadas por cancelas, vigiadas por agentes privados de segurança que controlam o acesso mediante prévia identificação, permitindo o ingresso somente aos residentes ou às pessoas por estes autorizadas, impedindo, assim, a livre entrada e circulação de pessoas estranhas. São conhecidos por “loteamentos especiais”, “loteamentos fechados”, “loteamentos em condomínio”, “condomínios horizontais” ou “condomínios especiais”. Todas essas denominações não condizem com a realidade e são dignas de críticas. Na concepção legal do loteamento tradicional, estão sempre presentes as ideias de individualidade dominial das unidades (ou lotes), de criação de espaços para áreas públicas e de inovação do sistema viário, perdendo a gleba a sua indivisibilidade, dando azo ao surgimento de áreas de uso comum do povo (conforme arts. 4º, I, 7º, II e III, 9º, § 2º, III, e 22 da Lei 6.766/79). Para as vozes críticas de nosso direito, os loteamentos fechados atropelam a legislação civil e urbanística, fazendo com que, na prática, haja uma privatização do uso das áreas públicas (áreas verdes e institucionais, sistemas de lazer, ruas e praças etc.), outrora vocacionadas, em sua origem, para o uso de toda a coletividade. Cumpre anotar que, quando nos referirmos aos loteamentos fechados, estamos falando de loteamentos convencionais, aprovados nos termos da Lei nº 6.766/79 e de outra legislação municipal que venha a incidir e complementar aquela, que, no entanto, com ou sem anuência da prefeitura local, são cercados e murados. Os condomínios de casas térreas ou assobradadas, bem como de edifícios, os quais estudamos nas aulas anteriores, são previstos na Lei nº 4.591/64. Tentaremos estabelecer os contornos de cada um e a necessária distinção entre os dois institutos (loteamentos e condomínios), porque comumente confundidos por parte da doutrina e pelos profissionais ligados ao comércio imobiliário. Condomínio Edilício I 26 AULA 35 - O LOTEAMENTO CONVENCIONAL PREVISTO NA LEI FEDERAL 6.766/79 A própria norma, no art. 2º, § 1º, conceitua o loteamento para fins urbanos -- espécie de parcelamento do solo -- como sendo a “subdivisão de gleba em lotes destinados a edificação, com abertura de novas vias de circulação, de logradouros públicos ou prolongamento, modificação ou ampliação das vias existentes”. O parcelamento do solo é uma divisão de uma gleba em lotes, que passam a ter vida autônoma, com acesso direto à via pública. A gleba parcelada perde a sua individualidade, a sua caracterização originária, dando nascimento a várias parcelas individualizadas, que recebem o nome de “lotes”, também comumente conhecidos como terrenos. Destina-se a integrar a gleba na cidade, permitindo que ela passe a ter usos urbanos, ou seja, residencial, comercial, industrial e institucional. Afora esse aspecto da individualização dominial das frações (lotes), sob a perspectiva das áreas públicas que se criam com o loteamento de uma gleba, o Poder Público adquire bens por força da lei. Isso se dá com a aprovação do loteamento pela municipalidade, pela qual os espaços livres, as vias e as praças, assim como outras áreas destinadas a equipamentos urbanos, tornam-se inalienáveis. Com o registro do loteamento, transmitem-se, automaticamente, ao domínio público do município, com a afetação ao interesse público especificado no plano dele. Tal transferência dos bens ao domínio público e sua afetação aos fins públicos independem de qualquer ato jurídico de natureza civil ou administrativa (escritura ou termo de doação) ou ato declaratório de afetação. Trata-se de uma transmudação de parcela da propriedade privada para o domínio público (art. 4º, Lei 6.766/79), em que o loteador propõe e a administração do município aceita a transferência à municipalidade do domínio e da posse dos espaços destinados às vias e praças e aos espaços de uso comunitário integrantes do conjunto urbanístico cuja aprovação é proposta. Com o pedido de aprovação do loteamento, o particular dá início ao processo de formação do concurso voluntário, por via do qual passarão ao domínio público
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