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Andressa Marques Cunha Lisboa – UFR TUTORIA 3 Objetivos: →Vislumbrar a Leishmaniose Tegumentar e Visceral -Agentes etiológicos (aspectos biológicos) -Epidemiologia -Fisiopatologia -Quadro Clínico (formas clínicas) -Complicações -Diagnóstico (analisar dificuldades) -Tratamento -Prevenção Referência →Microbiologia Médica – Murray- 7ªEd, cap.81 →Bogliolo LEISHMANIA →Leishmania são parasitos intracelulares obrigatórios que são transmitidos de um animal para o homem ou de um homem a outro pela picada de uma fêmea do mosquito-palha (insetos flebotomíneos); → A infecção por leishmânias, transmitida por insetos flebotomíneos, está intimamente associada ao ciclo evolutivo do parasito. O flebótomo adquire o parasito ao sugar a pele de mamíferos, como cão e raposa, ou de roedores silvestres que funcionam como reservatórios. →Dependendo da área geográfica, muitas espécies diferentes podem infectar o homem, levando ao desenvolvimento de uma variedade de doenças que incluem desde formas cutâneas, cutâneas difusas, e mucocutâneas a formas viscerais; →Atualmente há 3 espécies de leishmania que se tem mais conhecimento, todavia, outras vem sendo descobertas. Sendo as 3: -L. denovani (Leishmaniose visceral) -L. tropica (Leishmaniose tegumentar) -L. braziliensis (Leishmaniose cutânea) FISIOLOGIA E ESTRUTURA →Os ciclos de vida das leishmanias são muito semelhantes, enquanto as infecções associadas diferem quanto à epidemiologia, aos tecidos afetados e às manifestações clínicas. →O estágio de promastigota (forma alongada, delgada, com um flagelo livre) está presente na saliva de mosquitos-palha infectados. →A infecção humana tem início com a picada de um mosquito-palha infectado, que injeta os promastigotas na pele, onde perdem o flagelo e entram no estágio de amastigota, invadindo as células reticuloendoteliais. →Essa mudança de promastigota para amastigota ajuda a escapar da resposta imune do hospedeiro. Alterações nas moléculas de superfície dos organismos desempenham um papel importante na fixação ao macrófago e na evasão da resposta imunológica, inclusive na manipulação das vias de sinalização do macrófago. →A reprodução ocorre no estágio amastigota e, conforme as células se rompem, tecidos específicos são destruídos (tecidos cutâneos, órgãos viscerais como fígado e baço); →O estágio amastigota é diagnóstico da leishmaniose, como também é o estágio infectante para o mosquito-palha. Neste, as formas amastigotas ingeridas se transformam em promastigotas, que se multiplicam por fissão binária no intestino médio do mosquito. Após o desenvolvimento, as formas deste estágio migram para a probóscide do mosquito, de onde novas infecções humanas podem ser produzidas durante a alimentação do mosquito. →Os ciclos de vida dor organismos de Leishmania são semelhantes nas leishmanioses cutânea, mucocutânea e visceral, exceto que as células reticuloendoteliais infectadas são encontradas distribuídas no corpo do hospedeiro na leishmaniose visceral. PATOGÊNESE →Células dendríticas e macrófagos infectados na pele migram para os linfonodos-satélites, processam antígenos parasitários e os apresentam ao sistema imunitário. Andressa Marques Cunha Lisboa – UFR →O curso da infecção depende essencialmente da resposta imunitária mediada por células. Um fino equilíbrio na produção de citocinas tem efeito determinante na sobrevivência, ou não, dos parasitos, bem como na determinação da resposta do hospedeiro resultando em ausência de lesão ou no surgimento de lesões de curso limitado, de lesões recidivantes e de lesões de longa duração. →Quando esses fatores atuam de modo desregulado, favorecem o surgimento de lesões teciduais, às vezes desproporcionais à intensidade da infecção. Na maioria dos casos, a produção de IFN-y por linfócitos ativa macrófagos. Macrófagos ativados produzem TNF-a que, em sinergia com IFN-y, induz produção de radicais livres de oxigênio e óxido nítrico, que destroem os parasitos. →Ultimamente, tem sido enfatizada a participação de linfócitos T reguladores (Treg, CD4+CD25+), que induzem a síntese de IL- 10, importante na modulação da resposta imunitária e no controle de lesões na leishmaniose. →É interessante assinalar que, quando o indivíduo recupera-se da infecção, tanto na leishmaniose tegumentar quanto na leishmaniose visceral, ganha certa proteção contra reinfecção. →Muito desse equilíbrio depende da manutenção de populações celulares e da produção adequada de citocinas. Distúrbios na produção de citocinas, que podem resultar de fatores tanto do parasito (moléculas relacionadas com a invasão tecidual, evasão do sistema imunitário e indutores de lesão tecidual) como do hospedeiro (desnutrição, imunodeficiência, constituição gênica) e do flebótomo (substâncias vasoativas, imunossupressoras e imunogênicas), resultam no desenvolvimento de doença. →Na forma difusa da leishmaniose cutânea e na leishmaniose visceral, por exemplo, falha na ativação celular por deficiência de IFN-y resulta em grande suscetibilidade a infecção, ficando os macrófagos abarrotados de amastigotas. Nessas formas da doença, IL-10 e TGF-b contribuem para perpetuação da infecção por inativarem macrófagos. Na leishmaniose visceral, a polarização da resposta imunitária celular parece mais clara do que na leishmaniose tegumentar. Indivíduos que desenvolvem a forma sintomática da doença (calazar) têm linfócitos com baixa capacidade de produção de IL-2 e IFN-y quando estimulados com antígenos específicos, mas recuperam essa capacidade quando tratados com sucesso. →Nas formas cutânea localizada e mucocutânea, há resposta imunitária celular com produção significativa de IFN-y e TNF-a e desenvolvimento de reação de hipersensibilidade a antígenos do parasito, fato particularmente marcante na leishmaniose cutaneomucosa. Nessa forma da doença, a destruição tecidual decorre de inflamação associada a reação de hipersensibilidade do tipo IV; esta não garante a eliminação dos parasitos, que, apesar de pouco numerosos, podem ser isolados por cultura ou inoculação de macerado da lesão em animais suscetíveis. →Resposta à terapêutica com medicamentos antiparasitários confirma a participação da leishmânia na manutenção das lesões. Apesar de não serem completamente conhecidos os mecanismos responsáveis pela incapacidade de controlar a infecção nesses casos, regulação anômala por IL-10 e TGF-b possivelmente favorece a permanência dos parasitos nas lesões. O mecanismo de formação de úlceras nas diferentes formas de leishmaniose não está completamente esclarecido. Pacientes que ainda não têm úlcera podem desenvolvê-la mesmo quando tratados, alguns deles inclusive com teste de hipersensibilidade tardia negativo. Estudos de lesões recentes dão indícios de que vasculite tem participação na formação das úlceras. As formas ativas da leishmaniose tegumentar podem cursar com níveis séricos altos de anticorpos antileishmânia. Como na leishmaniose visceral, a presença de níveis séricos altos de Andressa Marques Cunha Lisboa – UFR anticorpos não indica proteção contra a doença. EPIDEMIOLOGIA →A leishmaniose é uma zoonose transmitida por fêmeas do mosquito-palha, pertencentes aos gêneros Phelebotomus e Lutzomya. Os reservatórios naturais incluem roedores, gambás, tamanduás, bicho-preguiça, gatos e cães. →Em áreas do mundo onde a leishmaniose é endêmica, a infecção pode ser transmitida através de um ciclo homem-vetor-homem.A infecção também pode ser transmitida por contato direto com uma lesão infecciosa ou mecanicamente por mosquitos de estábulo e por mosquitos de cães. →Na maioria das vezes, a leishmaniose mucocutânea ocorre na Bolívia, Brasil e Peru, enquanto a forma cutânea é muito mais disseminada no Oriente Médio (Afeganistão, Argélia, Irã, Iraque, Arábia Saudita e Síria) e em áreas focais na América do Sul (Brasil, Peru). →A taxa de ocorrência da leishmaniose visceral (calazar, febre dum-dum) é de 500.000 casos novos ao ano, 90% dos quais em Bangladesh, Brasil, Índia, Nepal e Sudão. →Só não é considerada zoonose na Índia, onde trata-se de uma antroponose (homem-vetor- homem). →Somente L. donovani e L. infantum (L. chagasi) comumente causam leishmaniose visceral. →Com a disseminação pandêmica do HIV, há um reconhecimento crescente da leishmaniose visceral relacionada ao HIV causada por L. donovani no sul da Ásia e na África, e por L. infantum (L. chagasi) na América do Sul. Nestes pacientes coinfectados, a leishmaniose se manifestará como uma infecção oportunista, com detecção de parasitos em sítios atípicos e uma elevada mortalidade associada. →No Brasil, os coeficientes de detecção de leishmaniose tegumentar oscilam entre 13,5 e 22,4 casos por 100.000 habitantes. Além de melhora no sistema de notificação, houve expansão da LTA no Brasil. No início da década de 1980, havia casos registrados em 19 estados brasileiros; nos últimos anos, todos os estados tiveram casos autóctones. A maioria dos casos ocorre nas regiões Norte ( 46,2%) e Nordeste (27,7%). Em 2007, foram registrados 21.407 casos autóctones de LTA no Brasil: 91,3% deles em pessoas com idade superior a 10 anos e 73,7% em indivíduos do gênero masculino. A expansão da leishmaniose tegumentar está relacionada com intervenções do homem no meio ambiente para criação de novos espaços habitacionais ou para expansão da atividade econômica; LEISHMANIOSE TEGUMENTAR →A leishmaniose tegumentar americana (LTA) é uma doença que apresenta largo espectro de lesões ulceradas ou nodulares na pele e em mucosas. A enfermidade é causada por cerca de 20 diferentes espécies de Leishmania transmitidas por flebotomíneos dos gêneros Lutzomiya (américas) ou Phlebotomus (Velho Mundo). →As espécies de Leishmania mais associadas à leishmaniose tegumentar são L. braziliensis, L. mexicana e L. amazonensis, no continente Americano, e L. tropica, L. major e L. aethiopica, na Europa, na Ásia e na África. →A leishmaniose tegumentar é zoonótica na maioria dos casos. Apenas a Leishmania tropica, uma espécie de habitat urbano, existente em uma região que se estende da Índia à Grécia, tem comportamento antroponótico. Roedores silvestres são considerados os principais reservatórios das outras espécies. →O diagnóstico da leishmaniose baseia-se em dados clínicos, sorológicos e parasitológicos. Os testes sorológicos utilizados para diagnóstico são reação de imunofluorescênca e ELISA. →Reação de hipersensibilidade tardia induzida por injeção de antígeno bruto ou de frações de antígenos do parasito (teste cutâneo de leishmanina ou reação de Montenegro) Andressa Marques Cunha Lisboa – UFR constitui importante indicador de infecção, embora possa manter-se positivo mesmo após cura da doença. O diagnóstico definitivo pode ser feito mediante coleta de material por punção aspirativa, raspado ou biópsia incisional na lesão e identificação do parasito ao microscópio (a imuno- histoquímica aumenta a sensibilidade desse método) ou por meio de cultura ou de inoculação em animais suscetíveis. →Vários grupos de pesquisadores no Brasil e no exterior têm-se dedicado ao desenvolvimento de técnicas mais rápidas e menos invasivas para diagnóstico laboratorial da doença. Entre as novas propostas, encontram-se em fase de validação testes que utilizam fitas contendo antígeno de leishmânia que oferecem resultado em apenas alguns minutos, além de PCR para identificação de material genético do parasito e sua genotipagem. →As medidas de controle da leishmaniose atualmente utilizadas são tratamento dos pacientes e eliminação de reservatórios e vetores. Algumas dessas medidas são, porém, de difícil aplicação, e talvez por isso não tenham tido o sucesso esperado. Sais de antimónio pentavalente (glucantima, pentamidina) têm sido, há décadas, a medicação de escolha para o tratamento. Os inconvenientes desses fármacos são a necessidade de administração injetável, o longo tempo de tratamento e os efeitos tóxicos sobre o coração e o pâncreas. →Outros tratamentos incluem pentamidina e anfotericina B. Estes são medicamentos de segunda escolha, pois apresentam toxicidade e têm alto custo. A aminosidina e a miltefosina, com bom desempenho em testes clínicos no Brasil, ainda não estão disponíveis para uso no País. Esse conjunto de fármacos constitui alternativas para os casos não responsivos à terapêutica antimonial. →Imunoterapia baseada na administração de antígenos de leishmania ou de citocinas (IFN- y, i GM-CSF) tem sido utilizada como tratamento adjuvante à terapêutica com antimoniais em casos resistentes das formas cutânea localizada, mucocutânea ou cutânea difusa da leishmaniose. →Ao lado da busca de tratamentos mais eficazes, têm sido empreendidos grandes esforços no desenvolvimento de vacinas para uso humano e em cães. Na leishmaniose, a resposta imunitária protetora está associada à imunidade celular, sendo a produção de anticorpos ineficaz para controle da infecção. Vacinas baseadas em antígenos expressos em uma das fases evolutivas do parasito podem não conferir proteção eficaz contra a doença. A indução de imunossupressão e mecanismos sofisticados de escape pelo parasito introduzem outras variáveis na elaboração de vacinas eficazes contra a doença. FORMAS CLÍNICAS →Nos indivíduos capazes de montar resposta efetora mediada por linfócitos T, considerado o polo responsivo (reativo, hiperérgico), a doença manifesta-se como leishmaniose cutânea (LC) ou leishmaniose mucocutânea (LMC). →No Brasil, a maioria dos casos com estas formas têm infecção pela L. braziliensis, embora outras espécies de parasitos possam estar envolvidas. Na região amazônica, a L. guyanensis e a L. amazonensis são responsáveis pela maioria dos casos. →Em pacientes incapazes de montar resposta imunitária celular do tipo Th1 (anergia), com produção de IFN-y, infecção por L. amazonensis resulta na leishmaniose cutânea difusa (LCD). Esses dois polos da doença, hiperérgico e anérgico, diferem nos aspectos clínicos, histopatológicos e resposta terapêutica. O espectro da LTA é, de certa forma, semelhante ao descrito na hanseníase e, como nesta, as lesões correlacionam-se com a resposta imunitária. LEISHMANIOSE CUTÂNEA Andressa Marques Cunha Lisboa – UFR →O tempo de incubação varia de 2 semanas a 6 meses. No local da picada do inseto, forma- se uma pápula que se transforma em nódulo que depois ulcera. A úlcera tende a aumentar de tamanho nas primeiras semanas e torna-se crônica. →Em áreas endêmicas, muitos pacientes têm cura espontânea e outros controlam a infecção mesmo antes de desenvolver lesão. Nesses casos, reação de Montenegro positiva indica resposta imunitária mediada por células. O aumento dos linfonodos de drenagem da área de inoculação pode ser manifestação precoce da infecção, antes mesmo do desenvolvimento da lesão cutânea. →Comprometimento de linfonodos é encontrado em 77 a 95% dos casos. Punçãodesses linfonodos, seguida de cultura ou de exame direto, pode demonstrar parasitos. →Há uma forma de apresentação clínica peculiar, a forma bubônica, descrita em indivíduos infectados com L. braziliensis no Estado do Ceará, caracterizada por grande adenomegalia, que pode, ocasionalmente, supurar e drenar material. →A apresentação clínica mais característica da LTA, presente em cerca de 90% dos casos, é uma lesão cutânea ulcerada, crateriforme, úmida, indolor, com bordas elevadas, bem definidas, fundo plano, recoberto por crosta que, quando retirada, mostra tecido de granulação. →Úlceras com infecção bacteriana secundária podem apresentar secreção fétida e ser dolorosas. →Em indivíduos infectados por L. braziliensis, as úlceras em geral são únicas (forma cutânea localizada), grandes e mais frequentes nos membros inferiores (60% dos casos). Em geral, essas úlceras têm cura espontânea em 6 a 15 meses, conferindo imunidade protetora. O tratamento, porém, reduz o tempo de cura e previne recidivas. →Em infecções por L. guyanensis, as úlceras tendem a ser múltiplas e localizadas acima da linha da cintura, em regiões variadas do corpo; tendem a ser pequenas e a curar espontaneamente, mas há alta taxa de recidiva. →Diferenças na localização das lesões têm sido atribuídas à altura de voo dos vetores que transmitem os parasitos de diferentes espécies. →Disseminação linfática (forma linfangítica) é frequente: várias lesões ao longo do vaso linfático de drenagem de uma lesão ulcerada inicial, semelhante ao que ocorre na esporotricose, daí ser também referida como forma esporotricoide da leishmaniose cutânea. →Lesões vegetantes com abundante tecido de granulação e formas verrucosas têm sido descritas em gestantes. Supõe-se que, nesses quadros atípicos, variantes do parasito ou do vetor estejam implicados na sua determinação clínica. →Uma forma bastante peculiar de leishmaniose cutânea é a forma disseminada, descrita em alguns pacientes infectados por L. braziliensis ou L. amazonenis, que se caracteriza por grande número de lesões (de dezenas a mais de 700). →Deve-se, muito provavelmente, à disseminação hematogênica dos parasitos. As lesões apresentam-se com aspecto acneiforme, com pápulas e pequenas úlceras disseminadas pelo corpo. Frequentemente, há comprometimento de mucosas. Os pacientes têm títulos mais altos de anticorpos antileishmânia do que aqueles com a forma cutânea típica; →A quantidade de parasitos nas lesões é pequena, a resposta terapêutica a antimoniais é boa e os pacientes tratados passam a apresentar resposta imunitária celular a antígenos de leishmânia. Esta forma não deve ser confundida com a leishmaniose cutânea difusa, da qual difere dos pontos de vista clínico, histopatológico e imunológico. Em torno ou no interior de cicatrizes de lesões de leishmaniose aparentemente curadas podem surgir tubérculos ou pápulas que confluem, formando lesões anulares, que contêm poucos ou muitos parasitos. Esta forma, conhecida como leishmaniose recidiva cutis, descrita na Andressa Marques Cunha Lisboa – UFR infecção tanto por L. braziliensis quanto por L. amazonensis, tem curso protraído e baixa resposta ao tratamento. →A LC causada pela L. tropica é, em geral, uma lesão "úmidâ' presente em áreas expostas, formando pápulas e úlceras pequenas que curam em 6 a 15 meses, conferindo imunidade duradoura. →Em infecções com L. major, as lesões são "úmidas" e representadas por úlceras maiores (botão do oriente), mais raramente formando lesões nodulares, verrucosas ou vegetantes, que curam em 2 a 6 meses, deixando cicatrizes fibrosas. Há relatos de formas esporotricoides (linfangíticas) e disseminadas. O caráter benigno das lesões e o fato de a cura conferir imunidade duradoura levam pessoas dessas regiões a produzirem, intencionalmente, infecção em áreas não expostas do corpo para adquirir imunidade contra lesões em partes visíveis. O processo é conhecido com leishmanização. LEISHMANIOSE MUCOCUTÂNEA →Esta forma grave e desfigurante de leishmaniose tegumentar, também conhecida como "espúndia", "nariz de tapir" ou "nariz de anta', ocorre em até 4% dos indivíduos com lesão cutânea infectados com L. braziliensis em áreas endêmicas. →Alguns casos são relatados em infecções por L. amazonensis. No Oriente (Velho Mundo), a forma mucocutânea resulta de infecção por L. major. Em até 28% dos casos, a lesão mucosa aparece algumas semanas ou meses após a lesão cutânea, enquanto esta ainda encontra-se ativa, mas pode surgir muitos anos após cicatrização da úlcera da pele. → Cerca de 50% dos pacientes que desenvolvem lesão mucosa apresentam-na nos dois primeiros anos após cura da lesão cutânea. Em estudo feito em área endêmica no Estado da Bahia, encontrou-se concomitância de lesões cutânea e mucosa em 2,7% de 220 pacientes sistematicamente. →Admite-se que cerca de 3 a 5% dos casos de LC causados por L. braziliensis desenvolvam a forma mucosa. A L. braziliensis é a principal espécie associada aos casos de lesão mucosa, embora outras espécies como a L. amazonensis e a L. guyanensis já tenham sido isoladas desta forma clínica. → A forma mucosa clássica é tida como secundária e metastática, demorando anos para aparecer. Em torno de 70% dos casos, as lesões mucosas sobrevêm antes dos 5 primeiros anos após as lesões cutâneas. → O intervalo de tempo entre a infecção inicial e o início das manifestações mucosas é bastante variável, porém admite-se que esta evolução ocorra dentro de um período médio de 6 anos. →As queixas iniciais de indivíduos com a forma mucosa geralmente são a formação de crostas, eliminação de secreção serosa ou serossanguinolenta pelo nariz e obstrução nasal. →Ao exame, observa-se eritema e infiltração na mucosa. Quanto ao aspecto, as lesões mucosas são infiltradas, eritematosas, podendo ser ulcerovegetantes, ulceradas ou vegetantes. →A mucosa nasal, isoladamente ou associada a outras áreas, constitui a localização mais comum, com predileção para o septo cartilaginoso e cabeça do corneto inferior. A marcha evolutiva das lesões leva à destruição do septo nasal e ao acometimento por contiguidade do assoalho das fossas nasais, da orofaringe e até mesmo da laringe e traqueia, além de poder atingir a pele que recobre o nariz e a região supralabial. → Outras regiões acometidas mais raramente são o pavilhão auricular, a conjuntiva ocular e a genitália. →A despeito de serem escassos os parasitos, as lesões de LM são mais resistentes à terapêutica antimonial e em geral não evoluem com resolução espontânea. →Uma forma clínica que deve ser distinguida da leishmaniose mucosa é a leishmaniose mucocutânea. Neste caso, as lesões mucosas Andressa Marques Cunha Lisboa – UFR são concomitantes às cutâneas, havendo mais raramente a possibilidade de ocorrer comprometimento da mucosa por contiguidade a lesões de pele na face ou mesmo por inoculação direta do parasito. Nestes casos, os parasitos são mais facilmente encontrados nas lesões mucosas do que na LM, embora, assim com esta última, também constituam formas graves e de tratamento mais difícil. LEISHMANIOSE CUTÂNEA DIFUSA →A forma difusa da leishmaniose é rara e ocorre em pacientes com resposta imunitária celular efetora deficiente a antígenos de leishmânia. → No Novo Mundo, está relacionada com L. amazonensis e L. mexicana, ocorrendo, principalmente, no norte do Brasil, na República Dominicana e na Venezuela. Na África, é encontradana Etiópia, exclusivamente relacionada com a infecção com L. aethiopica. →A doença tem características peculiares como: nódulos e placas disseminados pelo corpo, não ulcerados, semelhantes aos observados na hanseníase virchowiana; ausência de comprometimento visceral; reação cutânea de hipersensibilidade tardia a antígenos de leishmânia (reação de Montenegro) negativa; falha de resposta a quimioterapia; quadro histológico com muitos macrófagos vacuolados, abarrotados de parasitos, escassez de linfócitos e ausência de granulomas. →As lesões iniciais são semelhantes às da forma cutânea localizada, mas não ulceram e, em geral, começam na infância. →As lesões completamente desenvolvidas apresentam-se eritematosas, como pápulas, nódulos, tubérculos, placas infiltradas ou infiltrações difusas no corpo; surgem na face, predominando em ouvidos, regiões malares e nariz, mas podem aparecer também em membros inferiores e tronco, com tendência a distribuição simétrica. As lesões não ulceram espontaneamente, mas podem fazê-lo após traumatismos. Algumas lesões involuem espontaneamente, deixando cicatrizes. ASPECTOS MORFOLÓGICOS →Os aspectos histopatológicos da leishmaniose variam de acordo com a fase da infecção e com o perfil da resposta imunitária do hospedeiro. As formas reativas (leishmaniose cutânea localizada e mucocutânea) diferem da forma cutânea difusa, mas não são diferentes das outras formas de apresentação atípica. →Nas fases iniciais da lelshmaniose cutânea localizada e da leishmaniose mucocutânea, antes do aparecimento de úlceras recentes, geralmente nas quatro primeiras semanas de infecção, a derme superficial apresenta denso e difuso infiltrado inflamatório, notando-se na derme profunda agregados de células inflamatórias em torno de vasos. →O padrão inflamatório parece acompanhar a distribuição vascular na pele. O infiltrado é predominantemente de macrófagos, tendo de permeio neutrófilos, ocasionais eosinófilos e alguns linfócitos e plasmócitos. Os macrófagos contêm quantidades variáveis de formas amastigotas do parasito. → Em alguns casos, mesmo em fases precoces, os parasitas são escassos, podendo ser encontrados granulomas. Além de infiltração inflamatória, podem ser vistos trombos venosos com necrose fibrinoide da parede e de células endoteliais e infiltração neutrofílica, caracterizando uma vasculite leucocitoclásica. →À medida que a lesão se torna crônica, diminui a quantidade de parasitos. Nas lesões mais antigas, com mais de 4 semanas, parasitas são encontrados em cortes corados por HE em 18 a 36% dos casos. lmuno-histoquímica com anticorpos antileishmânia permite que esse índice chegue a 65% dos casos. O infiltrado inflamatório mononuclear torna-se misto e contém muitos macrófagos, linfócitos e plasmócitos. Em algumas lesões há predomínio de plasmócitos. → Em 50 a 80% dos casos formam-se granulomas constituídos por células epitelioides e células gigantes multinucleadas, alguns bem organizados, outros mais frouxos, raramente contendo parasitas. Podem aparecer áreas de necrose caseosa, fibrinoide ou lítica associadas a neutrófilos e Andressa Marques Cunha Lisboa – UFR ocasionais parasitas. →Apoptose de linfócitos é frequente. →Nos casos crônicos, há neoformação vascular com capilares e vênulas de endotélio alto proliferados, além de fibrose na derme. →Nas leishmanioses cutânea e mucocutânea, o conjunto de alterações descritas, incluindo inflamação crônica com granulomas, vasculite, necrose caseosa e fibrinoide, associado a baixa carga parasitária, sugere que hipersensibilidade mediada por células (tipo IV) e falta de modulação da resposta imunoinflamatória atuam na manutenção das lesões. →Em epitélios preservados e nas bordas de erosões ou úlceras, há hiperplasia epitelial que pode assumir aspecto pseudoepiteliomatoso. O infiltrado inflamatório às vezes atinge o epitélio (exocitose). Macrófagos parasitados podem, eventualmente, ser eliminados na epiderme. →Na forma disseminada da leishmaniose cutânea, o infiltrado inflamatório tende a concentrar-se em torno de folículos pilosos e de outros anexos cutâneos. A quantidade de parasitas é variável, desde nenhum até numerosos, mas o padrão geral da reação tecidual não difere do observado na forma cutânea habitual. →Na leishmanlose cutânea difusa, a falta de resposta imunitária capaz de induzir a produção de IFN—y associa-se a lesão distinta daquela descrita nas formas cutânea localizada e mucocutânea. O infiltrado é monótono, difuso e constituído por grande número de macrófagos com citoplasma amplo, contendo vacúolos parasitóforos grandes, frequentemente abarrotados de amastigotas. Não há células epitelioides nem células gigantes multinucleadas, portanto não se formam granulomas. → A quantidade de linfócitos e plasmócitos é pequena, restringindo-se a discreta infiltração na periferia da lesão ou a pequenos focos perivasculares. Não ocorrem necrose caseosa ou fibrinoide, nem vasculites. Ao contrário das formas reativas da leishmaniose tegumentar, a epiderme é atrófica, e entre ela e o infiltrado macrofágico dérmico há uma faixa incólume, semelhante à hanseníase virchowiana. →Em lesões que sofrem involução espontânea, ocorrem fibrose e infiltração linfocitária focal associada a lise de macrófagos parasitados, sugerindo resposta protetora incipiente localizada mas incapaz de controlar a infecção. Alguns pacientes apresentam uma forma difusa considerada subpolar, na qual são observados aspectos intermediários entre as lesões das formas cutânea localizada e cutânea difusa. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL →O diagnóstico diferencial da leishmaniose tegumentar, no polo reativo, deve ser feito com outras doenças que induzem a formação de granulomas na pele e em mucosas, ou seja, tuberculose cutânea, hanseníase e micoses superficiais e sistêmicas. →Colorações especiais, como impregnação por prata ou PAS, devem ser usadas em casos de dúvidas. →Em alguns casos, hiperplasia pseudoepiteliomatosa requer o diagnóstico diferencial com carcinoma de células escamosas bem diferenciado. Úlceras crônicas nos membros inferiores são frequentemente causadas por insuficiência venosa devido a varizes (úlceras de estase), mas apresentam fibrose, hemossiderose e pouca inflamação. A forma difusa da leishmaniose pode ser confundida clinicamente com a hanseníase virchowiana, mas naquela as formas amastigotas são facilmente identificadas. A correlação clinicopatológica é de fundamental importância, levando-se sempre em consideração dados epidemiológicos e laboratoriais. LEISHMANIOSE VISCERAL →A leishmaniose visceral (LV) é uma zoonose endêmica de áreas tropicais, transmitida por insetos dos gêneros Lutzomya nas Américas e Phlebotomus no Velho Mundo. →Estima-se que anualmente cerca de 360 milhões de pessoas estão expostas ao risco de infecção, com prevalência de 12 milhões de indivíduos infectados no Velho e no Novo Mundo, especialmente lndia, leste africano, litoral do Mediterrâneo, Rússia, Arábia Saudita, Iraque, China e América Latina. →No Brasil, merece destaque o caráter endêmico da parasitose, que se estende praticamente por todas as regiões do País, do Pará ao Paraná, incluindo os Estados centrais de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, estimando-se a ocorrência de 3.000 casos Andressa Marques Cunha Lisboa – UFR novos/ano. A LV predomina em zonas rurais, mas nos últimos anos tem sido verificada tendência de urbanização, com ocorrência da doença naperiferia de grandes cidades. →Os reservatórios silvestres conhecidos para a L. (L.) chagasi são raposa (Lycalopox vetulus), no Nordeste do Brasil, e Cerdocion thous na região amazônica; para a L. (L.) infantum, lobo (Canis lupus), a raposa (Vulpis vulpis), chacal (Canis aureus) e cão-do-mato (Nyctereutis procyonoides). →Nenhum reservatório silvestre foi identificado para a L. (L.) donovani. →O cão doméstico é tido como a maior fonte de infecção para os vetores. → A LV é causada por espécies do complexo Leishmania donovani, ou seja, Leishmania (Leishmania) donovani, L. (L.) infantum e Leishmania (L.) chagasi. →As espécies são identificadas por critérios fenotípicos e genotípicos, comportamento nos insetos vetores, virulência em roedores, características de cultivo in vitro, sorotipagem, reação com anticorpos monoclonais, testes in vitro de imunidade cruzada, reatividade com isoenzimas, análise de ácidos graxos, padrão de digestão da sequência ribossômico e do DNA do cinetoplasto (kDNA) com enzimas de restrição, lectinas que se ligam à membrana celular e hibridação de ácidos nucleicos. →São reconhecidas como causadoras de LV as espécies L. (L.) chagasi, no Novo Mundo; L. (L.) infantum, na região do Mediterrâneo; L. (L.) donovani, na Índia, no Oriente e na África Central e Oriental. →Em animais de laboratório e eventualmente em humanos, podem ocorrer quadros visceralizantes determinados também por espécies com tropismo preferencial cutaneomucoso. A L. (L.) chagasi difere da L. (L.) donovani pelo perfil imunoenzimático e pela sorotipagem de fatores de excreção. Essas duas espécies podem ser diferenciadas da L. (L.) infantum pela densidade de flutuação do kDNA, pelo perfil radioespirométrico e pelo padrão de restrição do kDNA. Há atualmente um novo debate se L. (L.) infantum e L. (L.) chagasi são uma mesma espécie ou se são espécies diferentes. ASPECTOS CLÍNICOS →Os parasitos causadores da LV adotam diferentes tipos de estratégias para estabelecer a infecção, podendo gerar três tipos de resposta do hospedeiro: (1) resolução do processo infeccioso, com destruição local e eliminação dos parasitos; (2) resposta tecidual inflamatória com fagocitose dos parasitos e/ ou persistência deles em forma latente; ( 3) disseminação dos parasitos para órgãos ricos em células do sistema fagocitário mononuclear (SFM), dependendo de fatores de risco como estado imunitário, associação com outras doenças, infecções respiratórias, desnutrição etc. →A LV é uma afecção espectral com um polo hiperérgico, que traduz resposta eficaz do hospedeiro contra a infecção, e um polo anérgico, resultado de resposta imunitária deficiente. Desse modo, as formas de apresentação clínica da doença são: • infecção assintomática, que ocorre em indivíduos que vivem em áreas endêmicas, sem história ou sinais de doença clínica aparente e que têm reações sorológicas e/ou testes intradérmicos positivos para leishmanias. •infecção subclínica ou oligossintomática, associada a manifestações inespecíficas como febrícula, tosse seca, diarreia, sudorese, adinamia e hepatoesplenomegalia discreta. O quadro pode regredir espontaneamente ou evoluir para doença manifesta. • forma aguda, em geral com duração inferior a 2 meses, com febre alta, tosse, diarreia, hepatoesplenomegalia discreta e alterações hematológicas, sendo marcante a elevação de globulinas séricas, com anticorpos IgM e IgG específicos. • forma clássica ou plenamente manifesta, de instalação insidiosa e curso crônico, período de incubação de 2 a 6 meses, mas com relatos de Andressa Marques Cunha Lisboa – UFR casos extremos de dias ou anos. Se não for tratada, é doença fatal. O paciente apresenta febre diária, anorexia, fraqueza, emagrecimento, sinais de desnutrição (pele seca, cabelos secos e quebradiços, cílios longos). Há ainda edema das mãos e dos pés e aumento progressivo do volume abdominal, do baço e do fígado. São frequentes manifestações gastrointestinais (particularmente diarreia), fenômenos hemorrágicos (epistaxe, gengivorragia) e tosse seca. Manifestações não habituais incluem adenomegalia, petéquias, púrpuras e hemorragia na retina ou no sistema nervoso central. Em casos de longa duração, icterícia é sinal de mau prognóstico. Podem ser notadas variações clínicas regionais, como pigmentação escura da pele, observada no calazar indiano, e tonalidade pardacenta nas Américas. É constante pancitopenia periférica com hipergamaglobulinemia. Os pacientes apresentam reação de Montenegro negativa •doença plenamente manifesta em pacientes imunocomprometidos, como ocorre em casos de coinfecção LV/ HIV, quando a LV é infecção oportunista, em pacientes transplantados ou em indivíduos imunossuprimidos em virtude de tratamento por neoplasias. Nesses casos, as manifestações clínicas são atípicas, como ausência de esplenomegalia, comprometimento do pulmão com intenso parasitismo e falta de resposta ao tratamento com antimoniais. A LV em geral resulta de reativação de infecção anterior. →O diagnóstico de LV baseia-se em elementos epidemiológicos, clínicos e laboratoriais. →O diagnóstico diferencial deve ser feito com malária, febre tifoide, salmonelose de curso prolongado, doença de Chagas aguda, esquistossomose, leucemias, linfomas, doenças que compõem a síndrome mononucleoselike e micoses disseminadas, especialmente histoplasmose. →Os testes sorológicos para demonstração de anticorpos específicos no sangue periférico são úteis, mas limitados, pois sua sensibilidade é baixa ou são pouco específicos, em virtude de reações cruzadas com outras espécies de leishmânias causadoras de doença tegumentar. →Podem ser empregados testes de aglutinação direta e ELISA (jast ou dot). Mais recentemente, testes imunoenzimáticos com antígenos recombinantes, definidos como espécie-específicos, e testes rápidos (dip stick), têm sido usados para diagnóstico de campo (Ag rK39). →O diagnóstico parasitológico é feito pela demonstração de parasitos por pesquisa direta (usando-se a coloração de Romanovskyou suas variantes: Giemsa, Wright, Leishman, Diff Quick), por cultura (em meios como NNN, Lit, Schneiders) ou por inoculação em animais suscetíveis. A pesquisa é feita em aspirado de medula óssea (positividade de 70 a 95%) ou aspirado esplênico (positividade de 95%). →Em tecidos, as formas amastigotas são visualizadas no citoplasma de macrófagos em cortes corados por hematoxilina e eosina, sendo mais bem individualizadas pela coloração de Giemsa. As formas amastigotas ou seus antígenos são especificamente detectados com auxílio da imuno- histoquímica. LESÕES EM ÓRGÃOS E TECIDOS →No hospedeiro vertebrado, as formas promastigotas infectantes invadem os macrófagos e diferenciam-se em amastigotas, que são parasitos intracelulares obrigatórios. As reações teciduais na infecção por cepas viscerotrópicas de leishmânia são a expressão morfológica da inter-relação entre o agente e o hospedeiro. →No polo hiperérgico, os sistemas micro e macrofágico são capazes de destruir os parasitos e resolver o processo infeccioso. No polo anérgico, a doença desenvolve-se com manifestações sistêmicas exuberantes (curso agudo ou crônico), existindo formas intermediárias de reação (formas oligossintomáticas). →Estudos genéticos em camundongos demonstram a existência de um gene situado no cromossomo 1 que confere resistência na espécie C57BL, que está ausente na espécie Balb/c, sensível à infecção pela L. donovani.Andressa Marques Cunha Lisboa – UFR Têm aumentado as evidências de que fatores genéticos contribuem para o curso da infecção humana por leishmânia (cromossomo 5q23-31, locus de citocinas Th2). Tais evidências sugerem a possibilidade da existência de fatores genéticos que determinam suscetibilidade à infecção pela L. donovani, segregando os indivíduos em sensíveis e resistentes. Moléculas de superfície de leishmânias, como LPG, gp63 e glicoproteínas do glicocálice (GIPL), são as que primeiro estimulam a imunidade inata. Por parte do hospedeiro, o reconhecimento da agressão é feito por meio de toll- like receptors (TLR), presentes em células dendríticas, macrófagos, neutrófilos e linfócitos T e B. Para sua atuação, TLR precisam da molécula adaptadora MyD88. Muitos estudos estão sendo feitos no sentido de definir o papel de cada tipo de TLR (1 a 11) na leishmaniose. Após reconhecimento dos parasitos, ocorre ativação do fator NFKB, que se desloca ao núcleo, onde estimula a transcrição e a síntese de citocinas pró-inflamatórias, entre elas TNF-a. Células dendríticas são potentes apresentadoras de antígenos e ativam linfócitos T, que produzem IL-12, citocina crucial para a montagem de resposta protetora. A imunidade inata atua também por meio de células NK, que se associam a bom prognóstico na LV por produzirem IFN-y. Esta é a citocina-chave no combate às leishmânias, porque ativa macrófagos a produzirem radicais livres de 02 e de NO, que matam os parasitos intemalizados. →A imunidade adaptativa é decisiva para a resolução da infecção. Mediada preferencialmente por linfócitos T, tem dois padrões de reação. Resposta do tipo Thl é protetora por meio, sobretudo, da produção de IL-12 por células apresentadoras de antígeno e por macrófagos. Em consequência, há estimulação de linfócitos T CD4+ e sua diferenciação em células produtoras de IFN-y. Ao mesmo tempo, há síntese de várias citocinas, como TNF-a, IL-1, IL-18, IL-23 e IL-17. A destruição das formas amastigotas de leishmânias por macrófagos é feita especialmente por TNF-a, com interação CD40/CD40L. →Resposta do tipo Th2 associa-se a suscetibilidade e exacerbação da doença. Tal resposta é mediada pela liberação de IL-4, que reduz a expressão de IFN-y e a ativação de macrófagos. Resposta Th2 também se relaciona com insuficiência na produção de IL-12, o que não permite a montagem de uma resposta de padrão Th1. Nesse contexto, há produção de outras citocinas anti-inflamatórias (desativadoras), como IL-10, IL-13, TGF-b, e síntese de anticorpos, que não são capazes de destruir os parasitos e ainda medeiam suscetibilidade à infecção. Estudos experimentais mostram que hormônios sexuais podem desempenhar papel importante na LV, podendo modular a imunidade contra leishmânias e influenciar diretamente a resistência ou a suscetibilidade. Leishmânias dispõem de numerosas estratégias de evasão dos mecanismos de defesa do hospedeiro, como escape do sistema complemento, disfarce antigênico, alterações na produção de óxido nítrico e de citocinas, indução de apoptose de células do sistema imunitário e ativação policlonal de células linfoides. A sabotagem dos mecanismos de morte dos parasitos é feita por meio de manipulação sofisticada dos padrões de sinalização intracelular. As lesões morfológicas são semelhantes em diferentes áreas endêmicas do mundo, embora existam particularidades clínicas relacionadas com as características dos diferentes ecossistemas. A LV é uma doença que se caracteriza primordialmente por comprometimento do sistema fagocitário mononuclear (SFM), no qual os parasitos permanecem, multiplicam- se e disseminam-se. Frente ao parasitismo, o SFM exibe hipertrofia e hiperplasia. O interstício dos diferentes órgãos participa também de maneira importante no processo, com modificações de seus componentes celulares, fibrilares e da matriz extracelular, que se associam a infiltrado inflamatório e reatividade vascular. Os sinais e sintomas mais exuberantes da doença plenamente manifesta relacionam-se justamente com o acometimento de órgãos ricos em SFM, como fígado, baço e medula óssea. A seguir, estão descritas as lesões nos principais órgãos acometidos na doença.
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