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Trabalho de Contabilidade Setor: Industria Quimica Empresas: Cristal, Elekeiroz e Unipar 1. Breve análise do setor Objetivamos neste trabalho analisar financeira e economicamente três empresas do setor da Indústria Química, quais sejam, Unipar (empresa produtora de cloro, soda e derivados), Cristal (produtora principalmente de pigmento de dióxido de titânio e derivados), e Elekeiroz (atuante no setor de especialidades químicas intermediárias). Conquanto ao confrontar as análises destas empresas possa-se gerar aproximações setoriais, a Indústria Química se mostra como um setor criticamente heterogêneo no qual as empresas distam tanto na área central de atuação quanto no tamanho e desempenho. A indústria química brasileira é a oitava maior do mundo. No Brasil, é responsável por 10% do PIB industrial (Produto Interno Bruto das indústrias) e cerca de 3% do PIB total, o que a configura como o terceiro maior segmento na manufatura do País. O setor gera 2 milhões de empregos, diretos e indiretos, com remuneração, segundo o IBGE, 100% maior que a média das indústrias. Estudos apontam que o setor químico é o segundo mais dinâmico à economia brasileira. Essa caracterização resulta justamente da alta agregação de valor, da alta tecnologia empregada e o fato de seus produtos serem usados em mais de 90% dos produtos industrializados. Em 2012, os investimentos na indústria química brasileira atingiram o pico de US$ 4,8 bilhões. O número refletia o recorde de faturamento atingido no ano anterior, de US$ 150 bilhões. As exportações cresciam a US$ 15,8 bilhões em 2011, um avanço de 52% desde 2009. A análise superficial dos números dava a impressão de que a indústria química vinha em um crescente inquestionável. A despeito do aumento dos investimentos e do faturamento recorde, porém, o setor sofria um verdadeiro desmanche. Entre 1990 e 2011, 289 empresas fecharam as portas ou mudaram o ramo de atividade. No total, 1.710 linhas de produtos foram descontinuadas no período: 904 entre 1990 e 2000; e 806 entre 2001 e 2011. Isso dá uma média de 78 linhas por ano. No período entre 2003 e 2007 a indústria química cresceu 16%, entre 2013 e 2017 o segmento avançou apenas 2%. Na prática, pode-se dizer que o setor está estagnado. Em 2010, a ABIQUIM (Associação Brasileira da Indústria Química) lança o Pacto Nacional da Indústria Química, documento que além de firmar compromissos do setor apontam os principais entraves ao pleno desenvolvimento potencial deste, quais sejam: matérias-primas competitivas em preço, disponibilidade de volume e prazos estabelecidos nos contratos; solução das distorções do sistema tributário, desoneração da cadeia, isonomia tributária com sucedâneos e defesa contra a concorrência desleal; infraestrutura logística, especialmente no que se refere à distribuição de gás e à disponibilidade de portos, rodovias e outras soluções modais; apoio decisivo do Estado ao desenvolvimento tecnológico e à inovação; acesso ao crédito para fortalecimento da cadeia, para as exportações e para o desenvolvimento tecnológico e a inovação. As barreiras e vulnerabilidades do setor se refletem na balança comercial. Segundo a ABIQUIM, em 2008 o déficit comercial já batia US$23,2 bilhões, teve uma queda para US$15,7, justificada por uma queda nas importações, entretanto acompanhada por uma queda menor das exportações. Porém, o déficit projetado pela associação para 2020 é de US$ 37 bilhões. Destarte, o setor se apresenta como um dos mais dinâmicos da indústria brasileira, com um papel de destaque no contexto internacional; apresenta potencialidades patentes, caracterizadas pela heterogeneidade produtiva e de magnitude das empresas que o compõe. Encontra dificuldades e barreiras domésticas que se consubstanciam com os enfrentamentos com a concorrência internacional, o quê de forma retroalimentada tem estagnado o setor e feito com que a grande demanda seja suprida pelas importações. Diante disso, analisar o desempenho das empresas aqui postas podem nos trazer aproximações de como essa complexa gama de informações culminam no desempenho das empresas e como o mercado responde a isso. Trabalho de Contabilidade 2. Análise dos indicadores de liquidez e de atividade As três empresas apresentaram de 2016 para 2018 ascensão no ILC e ILG, sendo na maior parte do período maiores que um (Gráfico: Liquidez Corrente/ Gráfico: Liquidez Geral), com destaque de aumento intenso destes índices pela Cristal causado por aumento do volume e da importância dos estoques e do RLP e da simultânea diminuição da importância do passivo oneroso. Os indicadores apontam no sentido de que as empresas possuem liquidez suficiente para cobrir suas obrigações no curto prazo, além de operarem com folga, uma vez que ILC>1, significa CCL positivo. Entretanto é possível observar que as três empresas têm grande necessidade de investimentos em ativos permanentes. Quando equiparados, CCL e NIG, temos que a única empresa que apresenta flexibilidade financeira no período analisado (CCL>NIG) é a Cristal. A Unipar apresentou os piores resultados no saldo em tesouraria no ano de 2016 por conta do baixo CCL, apresentando no ano seguinte um CCL negativo, todavia com um saldo em tesouraria superior ao do ano anterior, e torna-se um pouco melhor em 2018 devido a recuperação do CCL. 2.2 Atividade No geral, as três empresas reduziram seu ciclo operacional e ciclo de caixa, com destaque para a Cristal que os aumentam entre 2017 e 2018, o que pode significar que as empresas conseguiram um pouco mais de prazo para pagar suas cobranças, deixando-as em uma situação financeira um pouco mais confortável em relação a aquisição de capitais de terceiros para fazer o ciclo de caixa. Cristal Elekeiroz Unipar Ex Ciclo operacional Ciclo de Caixa Ciclo operacional Ciclo de Caixa Ciclo operacional Ciclo de Caixa 2016 255 235 100 84 289 92 2017 221 212 81 58 86 49 2018 279 266 79 58 79 47 Trabalho de Contabilidade 3. Análise do endividamento e Alavancagem Financeira Quanto aos índices de endividamento, é importante destacar que as empresas fazem produtos distintos, que podem apontar características de endividamento também distintas quando comparados. Das três empresas, a Elekeiroz é a empresa mais endividada (em quantidade). A forte queda do endividamento, de 213% para 112% (em 2016 e 2017, respectivamente), é resultado tanto da queda dos empréstimos e financiamentos de longo prazo quanto do aumento do patrimônio líquido, que advém de um melhor desempenho; o que também indica uma melhora na qualidade da dívida em relação a 2017. A Cristal tem menor endividamento e este cai de 12% (em 2016) para 0,2%, em 2018. Essa variação se justifica por uma redução nos empréstimos e financiamentos de curto prazo, de 41,35% no período analisado. Quanto à qualidade da dívida, todas se situam num patamar acima dos 30%. Em termos relativos, a Cristal é empresa com maior passivo oneroso de curto prazo (em relação ao passivo oneroso total), isto é, qualidade da dívida pior, de 99,6% em 2016. No entanto, a qualidadeda dívida melhora significativa entre 2016 e 2017. Vale destacar que a Cristal é empresa com menor quantidade de dívida e que esta (em quantidade) caiu para 0,2%. Quanto à dependência financeira, que corresponde a relação entre capital de terceiros e capital próprio, isto é, a participação de passivo financiando seus investimentos, a Elekeiroz vem diminuindo ao longo do triênio e, em 2017 e 2018, dependência da Elekeiroz e da Unipar são quase similares. Já a Cristal, empresa com a menor dependência financeira, apresenta queda constante no decorrer do período. Tal cenário está intimamente ligado aos desdobramentos do endividamento das empresas. Grau de Alavancagem Financeira Pelo gráfico é visível que Cristal e Elekeiroz diminuíram consideravelmente seu GAF de 2016 para 2017, enquanto a Unipar aumentou no mesmo período. No caso a Cristal deve tê-lo diminuído devido ao baixo ROE temendo que em um possível resultado negativo pudesse ser potencializado negativamente pela alavancagem, mantendo o GAF em 2017 e 2018 próximo de um. Provavelmente a empresa diminuiu essa alavancagem investindo o volume monetário obtido pela aquisição de passivo oneroso (como mostra a análise horizontal da empresa) e investindo-o nos ativos permanentes, uma vez que seu saldo em tesouraria aumentou, demonstrando a não necessidade de investimento neste tipo de passivo (vide gráfico: saldo em tesouraria). Já a Elekeiroz, possivelmente deve ter optado pela diminuição pelo motivo de ter obtido um resultado contábil negativo, que possivelmente fora potencializado negativamente pela alavancagem, mas ainda assim manteve um GAF pouco maior que um em 2017 e 2018. A Elekeiroz provavelmente conseguiu diminuir seu GAF, diminuindo a importância dos passivos onerosos mediante o incremento de seu patrimônio líquido (análise vertical e horizontal). A Unipar praticamente manteve o grau de alavancagem financeira em torno de um no período de 2017 a 2018. Trabalho de Contabilidade 4. Análise da rentabilidade, lucratividade e valor Rentabilidade segundo ROE e ROI Em relação ao ROE, percebe-se que as três empresas o incrementaram de 2016 a 2018, com taxas de retorno parecidas no último ano em torno de 30%. O caso que mais chama atenção, entretanto, é o da empresa Elekeiroz que possuía um ROE negativo de 308%, fruto de um prejuízo no ano de 2016. Pela análise horizontal e vertical é possível notar que a empresa diminuiu a importância dos custos e despesas operacionais, aumentando a importância da renda obtida das vendas no período, a despeito de que houve um aumento no volume dos custos operacionais, implicando para 2017 e 2018, resultados positivos. Em relação ao ROI, Elekeiroz e Cristal demonstraram leve incremento enquanto a Unipar oscila de 2016 a 2018, permanecendo ao fim com um ROI pouco maior que o inicial (30% em 2016, 33% em 2018). O resultado extremo negativo da Elekeiroz pode ser explicado pelo mesmo comportamento observado na discussão sobre o retorno sobre patrimônio líquido. 4.2 Rentabilidade segundo ROA, Margem e Giro O ROA apresenta comportamento muito parecido com o ROI para as empresas, basicamente as mesmas oscilações, com percentuais um pouco menores que o anterior. Mas é interessante notar o ROA segundo as composições de Margem e Giro. De modo geral, as três empresas optaram por alto giro durante o período de 2016 a 2018. Esse fato, ajuda a fortalecer a hipótese levantada na análise de liquidez, mostrando que as empresas optam pelo giro, e para maior giro, maior liquidez, muito provavelmente como forma de financiamento do ativo cíclico permanente (vide análise CCL e NIG) e como forma de saldar suas dívidas. Este alto giro ajuda a explicar a baixa rentabilidade das empresas, uma vez que rentabilidade e liquidez são grandezas inversamente proporcionais. Agregação de Valor O custo de capital da empresa Cristal oscila no triênio, porém não dista no final do período do custo de capital de 2016. Entretanto a empresa apresenta uma variação significativa no ROI, sendo que no início do período estava em baixa resultando na destruição de valor pela empresa. Porém, na transição para o biênio seguinte a empresa tem melhora no indicador (aumento de 331%) culminando na inversão de cenário. A Elekeiroz, acompanha, de certo modo, a empresa anterior; inicia o triênio destruindo valor devido a um ROI criticamente negativo, porém se recuperando no decorrer do período. Já a Unipar desde o início o período analisado apresenta agregação de valor, apresentando queda do EVA devido a diminuição de 25,3% no ROI em 2017 atenuada pela diminuição de seu custo de capital (-40,7%). Todavia, em 2018 a empresa retorna a aumentar seu ROI (+49,1%) culminando em um aumento significativo de 104,1% na agregação de valor. Trabalho de Contabilidade 5. Evolução dos preços das ações vis a vis desempenho da empresa j De acordo com o gráfico, houve um melhor desempenho e, portanto, um aumento significativo do preço das ações das empresas nos últimos três anos (o que pode ser também associado à recuperação da economia brasileira). Apesar de ter destruído valor em 2016, a Cristal foi a empresa com maiores mudança quanto ao valor agregado e redução do grau de endividamento global, isto é, grande parte dos investimentos são feitos com capital próprio (que representa quase 100% dos investimentos), além de contar com ROI e GAF elevados, o que pode ter refletido também na alta do preço das suas ações. A Elekeiroz, por sua vez, é a empresa com maior grau de endividamento. Apresenta índices de rentabilidade negativos em 2016, fruto de um prejuízo, e nos anos seguintes não teve variações significativas dos preços de suas ações, se compararmos com outras empresas, mesmo com um valor agregado superior ao da Cristal. Tabela 1. Evolução dos principais indicadores 6. Considerações finais As três empresas mostraram melhora em grande parte dos indicadores, a não ser pela qualidade da dívida que insistiu em piorar no triênio. Em alguns casos, a melhora não foi suficiente para deixar as empresas confortáveis (relação CCL/NIG confortável somente para a cristal). Todas possuem ao fim do período rentabilidade considerável, apesar de não muito alta, pois ao que parece todas preferem optar por uma operação com elevada liquidez em lugar de rentabilidade. Das três, cabe destacar a Cristal que se mostrou a interessante do ponto de vista da robustez. A Elekeiroz teve destaque pela recuperação da situação de prejuízo na qual ela se reproduzia em 2016. 7. Referências bibliográficas ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDUSTRIA QUIMICA. Um outro futuro é possível: Perspectivas para o setor químico no Brasil. 2018. Disponível em: https://www.abiquim.org.br/uploads/guias_estudos. Acesso em: 16 jun. 2019. ASSAF NETO, Alexandre. Estrutura e Análise de Balanços. São Paulo, SP: Atlas, 2003. Instituto Assaf. Disponível em: http://www.institutoassaf.com.br. Acesso em: 16 jun. 2019. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDUSTRIA QUIMICA. Pacto Nacional da Industria Quimica. Brasil, 2011. Disponível em: http://canais.abiquim.org.br/pacto/Pacto_Nacional_Abiquim.pdf.Acesso em: 16 jun. 2019. Principais indicadores Cristal Elekeiroz Unipar 2016 2017 2018 Situação 2016 2017 2018 Situação 2016 2017 2018 Situação ILC 3,958 6,412 9,703 Positiva 1,791 1,662 1,946 Positiva 1,081 0,964 1,416 Neutra ILG 3,419 6,208 9,414 Positiva 1,107 1,292 1,262 Neutra 0,969 0,815 1,086 Neutra Ciclo Operaciona l 255 221 279 Neutra 100 81 79 Positiva 289 86 79 Positiva Ciclo de Caixa 235 212 266 Neutra 84 58 58 Positiva 92 49 47 Positiva Qtde Div 12,00% 0,50% 0,20% Positiva 213% 112% 114% Negativ a 46,80% 78,30% 38,00% Positiva Qlde Div 99,60% 53,80% 63,20% Negativ a 37,00% 47,90% 32,10% Negativ a 54,40% 52,00% 46,50% Negativ a Dep 34,54% 27,96% 24,00% Positiva 74,40% 67,00% 66,50% Negativ a 63% 69% 64% Negativ a ROI 9,07% 20,86% 30,10% Positiva -90,82% 20,84% 26,08% Positiva 30,10% 22,51% 33,58% Positiva ROE 19,92% 17,53% 30,58% Positiva -308,56 % 31,51% 35,66% Positiva 21,84% 28,55% 37,86% Positiva ROA 13,04% 12,63% 23,24% Positiva -79,13% 10,41% 11,94% Positiva 8,04% 8,84% 13,54% Positiva Trabalho de Contabilidade Elekeiroz. Disponivel em: https://www.elekeiroz.com.br/. Acesso em 14 jun. 2019. Cristal. Disponivel em: https://www.cristal-al.com.br/. Acesso em 14 jun. 2019. Unipar Carbocloro. Disponível em: http://www.uniparcarbocloro.com.br/. Acesso em 14 de jun. 2019.
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