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ADQUIRIDO EM www.mercadolivre.com.br VENDEDOR FERREIRA_EBOOKS e b o o k s Clique aqui para obter novos títulos. www.mercadolivre.com.br http://lista.mercadolivre.com.br/_CustId_195852375 http://perfil.mercadolivre.com.br/FERREIRA_EBOOKS CIPBRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ. A477r 6.ed. Alves, Aderbal de Albuquerque, 1925 – Refração / Aderbal de Albuquerque Alves. – 6. ed. – Rio de Janeiro : Cultura Médica : Guanabara Koogan, 2014. il. Apêndice. Inclui bibliografia e índice ISBN 9788570066404 1. Oftalmologia. 2. Óptica fisiológica. 3. Olhos – Acomodação e refração. 4. Distúrbio da visão. I. Título. 1306569 CDD — 617.7 CDU — 617.7 © Copyright 2014, by Cultura Médica® Esta obra está protegida pela Lei no 9.610 dos Direitos Autorais, de 19 de fevereiro de 1998, sancionada e publicada no Diário Oficial da União em 20 de fevereiro de 1998. Em vigor a Lei 10.693, de 1o de julho de 2003, que altera os Artigos 184 e 186 do Código Penal e acrescenta Parágrafos ao Artigo 525 do Código de Processo Penal. Caso ocorram reproduções de textos, figuras, tabelas, quadros, esquemas e fontes de pesquisa, são de inteira responsabilidade do(s) autor(es) ou colaborador(es). Qualquer informação, contatar com a Cultura Médica® Impresso no Brasil Printer in Brazil Responsável pelo Layout/Formatação: Cultura Médica Produção Digital: Geethik Cultura Médica® Rua Gonzaga Bastos, 163 20541000 – Rio de Janeiro – RJ – Brasil Tel.: (55 21) 25673888 FAX: (55 21) 25673132 Site: www.culturamedica.com.br E.mail: cultura@culturamedica.com.br Aderbal de Albuquerque Alves Junior • Mestrado e Doutorado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, RJ • Chefe de Clínica do Serviço de Oftalmologia do Hospital dos Servidores do Estado, HSE, RJ Andrea Cotait KaraJosé • PósGraduanda, Nível Doutorado, do Departamento de Oftalmologia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM) • Médica Colaboradora do Setor de Glaucoma da UNIFESP/EPM; Fellowship de Córnea, Doenças Externas e Glaucoma pela Northwestern University, Chicago, EUA A. Duarte • Professor Associado da PósGraduação em Oftalmologia da Pontifícia Universidade Católica, PUCRio, RJ • Professor. Refração Clínica. Oftalmologia. Instituto Benjamin Constant, RJ Almir Ghiaroni • Mestre de Oftalmologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, RJ • Doutor em Oftalmologia pela Universidade Federal de São Paulo, Escola Paulista de Medicina, SP Beatriz Simões Correa • Mestre em Oftalmologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, RJ • Chefe do Setor de Motilidade Ocular do Serviço de Oftalmologia do Hospital dos Servidores do Estado, HSE, RJ Carlos Henrique Bessa • ExPresidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia, SBO, RJ Celso Marra Pereira • Mestre em Oftalmologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, RJ • Professor do Curso de PósGraduação UNIRio, SBO, RJ • ExChefe do Setor de Retina do Serviço de Oftalmologia do Hospital dos Servidores do Estado, HSE, RJ Demian Temponi • Residência Médica no Hospital Federal dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro com Especialização Clínica e Cirurgica em Doenças da Retina e Vítreo • Título de Especialista pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia(CBO) Edith Finkel • ExChefe do Setor de Motilidade Ocular do Serviço de Oftalmologia do Hospital dos Servidores do Estado, HSE, RJ Edmundo Soares • Membro do Hospital de Olhos de Minas Gerais, HOMG, MG Fábio J. Zamboni • Mestre em Oftalmologia pela Universidade Federal de São Paulo, Escola Paulista de Medicina, UNIFESPEPM, SP • Colaborador do Setor de Óptica Fisiológica e Lentes de Contato do Departamento de Oftalmologia da Universidade Federal de São Paulo, Escola Paulista de Medicina, UNIFESPEPM, SP Harley E. A. Bicas • Professor Titular, Departamento de Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, USP, SP Henrique Packter • Chefe do Serviço de Otorrinolaringologia e Oftalmologia do Hospital São José, Criciúma, SC • Diretor do Instituto de Olhos do Hospital de Caridade, Florianópolis, SC José Belmiro de Castro Moreira • ProfessorAdjunto da Universidade Federal de São Paulo, Escola Paulista de Medicina, UNIFESPEPM, SP Juliana Bohn de Albuquerque Alves • Médica da Clínica Aderbal Alves, RJ • Médica Responsável pelo Setor de Visão Subnormal do Hospital Servidores do Estado, HSE, RJ Luiza Fernandes • ExMédica do Setor de Retina do Serviço de Oftalmologia do Hospital dos Servidores do Estado, HSE, RJ Luiz Alberto Molina • Mestre pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, RJ • Professor Assistente de Oftalmologia da Escola Médica de PósGraduação da Pontifícia Universidade Católica, PUC Rio, RJ Luiz Filipe de Albuquerque Alves • Médico do Serviço de Oftalmologia do Hospital Central da Aeronáutica do Rio de Janeiro, RJ • Médico da Clínica Aderbal Alves, RJ Marco Antônio de Souza Alves • Mestre de Oftalmologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, RJ • Professor de Oftalmologia na Universidade de Nova Iguaçu, UNI, RJ • Médico Oftalmologista (Setor de Córnea) do Hospital dos Servidores do Estado, HSE, RJ Marcos José Correia da Silva • Técnico Óptico e Gerente de Controle de Qualidade da Casa Miguel Giannini Óculos, SP Marcus V. A. Safady • Médico pela Universidade Federal de São Paulo, Escola Paulista de Medicina, UNIFESPEPM, SP • Chefe do Setor de Glaucoma da Santa Casa, RJ Mário dos Santos Motta • Mestre em Oftalmologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, RJ • Doutor em Oftalmologia pela Universidade Federal de São Paulo, Escola Paulista de Medicina, UNIFESPEPM, SP • Médico do Setor de Retina do Serviço de Oftalmologia do Hospital dos Servidores do Estado, HSE, RJ Miguel Sadocco Giannini • Esteticista Óptico da Casa Miguel Giannini Óculos, SP Newton KaraJosé • ProfessorTitular Emérito do Departamento de Oftalmologia da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) Osvaldo Travassos de Medeiros • Professor Titular de Oftalmologia da Universidade Federal da Paraíba, UFPB, PB • Especialização e Doutorado em Oftalmologia pela Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG, MG • Professor Livre Docente da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Paraíba, UFPB, PB Raphael Benchimol • Diretor da Clínica de Olhos Benchimol, RJ • ExPresidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia, SBO, RJ Ricardo Uras • Professor Adjunto no Departamento de Oftalmologia da Universidade Federal de São Paulo, Escola Paulista de Medicina, UNIFESPPM, SP • Responsável pelo Setor de Refração e Lente de Contato da Universidade Federal de São Paulo, Escola Paulista de Medicina, UNIFESPPM, SP Roberto Abdalla Moura • Fellow do American College of Surgeons, EUA • Membro do Hospital de Olhos de Minas Gerais, HOMG, MG Santos Pedro Tanganelli • Formado pela Universidade de Medicina de São Paulo, USP, SP • Estágio em Lyon na França, como Assistente Estrangeiro, Fr Sérgio Benchimol • Diretor da Clínica de Olhos Benchimol, RJ • Médico do Serviço de Oftalmologia do Hospital dos Servidores do Estado, HSE, RJ Sérgio Fernandes • Membro da Câmara Técnica de Oftalmologia do Conselho de Medicina do Rio de Janeiro, CMRJ, RJ • ExPresidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia, SBO, RJ Valéria Gomes Homem • Mestrando da Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, RJ • Médica do Serviço de Oftalmologia do Hospital dos Servidores do Estado, HSE, RJ • Médica da Clínica Aderbal Alves, RJ “Pensar sem aprender nos torna ineficiente e aprender sem pensar é um desastre.” Confúcio Com satisfação constatamos o grande progresso da oftalmologia brasileira, que atualmente encontrase no mesmo nível das praticadas em países mais desenvolvidos. Constatamos o desenvolvimento de modernos instrumentos para diagnóstico e tratamento das enfermidades, entretanto, o exame de refração mais simples continua importante parao diagnóstico e conquista da confiança do paciente. Constituise em um ato médico, importante oportunidade para o diagnóstico. Cabe ao médico com paciência ajustar o cliente ao um infortúnio, evitando prognóstico pessimista, que apenas desenvolve neurose de angústia. Com o entusiasmo do manuseio do instrumental moderno, lembramos aos jovens profissionais nos verdes anos, o conselho de Aristóteles: a missão do médico é curar, nem sempre, consolar sempre. Haverá de chegar um tempo, mui próximo em que a falta de visão só ocorrerá em virtude de acidente e ninguém nascerá portador com o signo do supremo infortúnio, da falta de visão. Aderbal de Albuquerque Alves Este livro é afetuosamente dedicado a minha esposa Maria D’Aparecida e filhos: Albeni Maria José Aderbal Júnior Marco Antônio Luiz Filipe Luiz Henrique Para meus netos Bruno, Rafael, Pedro, João Victor, Hugo, Gabriela, Carolina, Marcela, Fernanda, Roberta, Luiza, Gabriela e Manoela, e bisnetos Rafael, Filipe e Izabela espero que possam viver em um mundo onde seus nomes se liguem à bondade natural e espontânea. Escrever de modo claro e preciso sobre “erros de refração” não é tarefa fácil. No correr do século XIX – especialmente na sua segunda metade – é que começaram a surgir, nos livros de oftalmologia, capítulos que focalizavam os erros de refração, suas manifestações clínicas e sua correção com características científicas. Até então, os óculos eram “escolhidos” sobre bases empíricas. Cabe mencionar, como alicerce fundamental para o conhecimento científico dos defeitos ópticos do olho, o notável trabalho de Helmholtz Physiological Optics (1856). Entretanto, o passo importante para o exame prático dos erros de refração e sua correção foi dado por Donders, na sua publicação Ametropia and its results (1960), logo seguida por outros escritos do autor. Em nossa época, W. Stewart DukeElder, em seu excelente TextBook of Ophthalmology, lembra que “fortunately Donders wasself – admittedly – no mathematician and he wrote in clear and simple language, so that his book at once became popular”. O mestre britânico publicou um livro, “The Practice of Refraction” (1 edição, em 1928), no qual procurou evitar uma apresentação matemática dos erros da refração e do modo de corrigilos, lembrando que a arte da refração não pode ser aprendida pela leitura e sim na laboriosa e assídua prática da clínica. Os livros devem servir como um guia. Pois é isto que, de modo superlativo, tem realizado Aderbal de Albuquerque Alves. Dedicado a ensinar cotidianamente a técnica e a arte do exame e da correção dos erros da refração, conseguiu fazer transparente em um livro a sua vivência clínica nesse importante campo da Oftalmologia. No livro de Aderbal palpita a ação, a prática de cada dia que ele ensina – sempre com calor humano – aos internos, aos residentes e a muitos médicos que vão a ele para se orientarem na semiótica apurada e na correção adequada dos erros da refração. Vem a lume, agora, uma nova edição de seu notável livro Refração. Esta edição poderia, simplesmente, reproduzir – palavra por palavra – a publicação primeira, pela excelência do trabalho já feito. Mas o Autor quis mais, burilou Capítulos, acrescentou outros e ampliou dois notáveis (e originais) da primeira edição: “Informações Importantes” e “Perguntas e Respostas”. Aderbal de Albuquerque Alves é um didata, um professor nato. Eu o vi e o ouvi no livro renovado... e voltei a aprender mais... e a recordar... Este é um livro que honra as letras oftalmológicas brasileiras e que pode ser traduzido para outros idiomas. Prof. Werther Duque Estrada No intuito de movimentar e projetar nossas aulas ministradas aos residentes e estagiários, promovemos a publicação deste livro. Nasceu o desejo de transmitir aos jovens, que se iniciam na Oftalmologia, a minha parcela de experiência em refração. Os residentes e estagiários participam desta obra pelo estímulo que sempre me emprestaram, por suas constantes indagações e anseios, visando reparar algumas deficiências de sua formação científica. Nos capítulos iniciais, coordenamos informações sobre óptica, lentes oftálmicas, acomodação, ametropias, presbiopia e outras, para que possam prosseguir adquirindo conceitos básicos de real importância ao atendimento dos capítulos seguintes, assim como conceitos propositadamente repetidos para que fiquem impregnados na mente daqueles que se agitam nos verdes anos e possam ajudálos a se tornar grandes profissionais nos dias que os esperam. Testes objetivos e subjetivos foram abordados de maneira singela. A retinoscopia em faixa está descrita como história em quadrinhos, onde desenhos substituem palavras. Destacamos maior ênfase ao estudo subjetivo, com auxílio do cilindro cruzado e sua aplicação para determinar a existência do astigmatismo, do eixo, do valor cilíndrico, bem como para identificar o esférico e determinar a adição na presbiopia. Divulgamos igualmente a determinação do astigmatismo pelo teste do dial, de modo a tornar possível alternativas, na ocasião do exame. Estes capítulos constituemse em prérequisito para o principal objetivo, que é divulgar um método de exame, a correção das ametropias e distúrbios da motilidade ocular e, finalmente, para a análise da prescrição. Nosso pensamento destinase a promover um movimento de sugestões, a partir dos próprios interessados, e propiciar conhecimentos suficientes, para que o exame de refração seja conduzido de maneira prática e precisa. O que realizamos é o resultado do trabalho e da inteligência e um patrimônio de gigantes da ciência oftalmológica como Helmholtz, Gullstrand, Donders, Snellen e tantos outros, que nos legaram conceitos que são válidos até hoje. Vimos modernos refratores computadorizados baseados em idéias de Christopher Scheiner do século 17. Recebemos a colaboração de ilustres colegas na elaboração de alguns Capítulos. Agradecemos ao Sr. José Mattos, redator da revista HSE, de uma humildade que comove, mestre da língua portuguesa, pela revisão dedicada da maioria dos Capítulos, às secretárias Ligia Pereira e Dayse Baroni, pela imensa boa vontade para datilografar e decifrar meus hieróglifos. Ao Sr. Nicolas Tselikas, sempre atento para não deixar que a preocupação de lucro em sua empresa venha sobreporse ao empreendimento, por ter propiciado a revisão dos demais Capítulos. O AUTOR 1 – RELAÇÃO MÉDICO/PACIENTE Aderbal de Albuquerque Alves 2 – INTRODUÇÃO – LUZ Aderbal de Albuquerque Alves 3 – ENERGIA RADIANTE Marco Antônio de Souza Alves 4 – INTRODUÇÃO À ÓPTICA Aderbal de Albuquerque Alves 5 – ELEMENTOS DO SISTEMA ÓPTICO HUMANO Demian Temponi Aderbal de Albuquerque Alves Junior 6 – CONSTRUÇÃO DE IMAGENS – LENTES ESFÉRICAS Aderbal de Albuquerque Alves 7 – LENTES OFTÁLMICAS Valéria Gomes Homem 8 – LENTES DE SEGURANÇA Aderbal de Albuquerque Alves Junior Juliana Bohn de Albuquerque Alves 9 – ABERRAÇÕES DAS LENTES Aderbal de Albuquerque Alves 10 – VERGÊNCIA Aderbal de Albuquerque Alves 11 – PRISMAS Aderbal de Albuquerque Alves 12 – AUMENTO DA IMAGEM – OFTALMOSCÓPIO DIRETO E INDIRETO Aderbal de Albuquerque Alves 13 – REFRAÇÃO DO OLHO Aderbal de Albuquerque Alves 14 – EMETROPIA E AMETROPIAS Aderbal de Albuquerque Alves 15 – ACOMODAÇÃO Aderbal de Albuquerque Alves 16 – CONVERGÊNCIA Aderbal de Albuquerque Alves 17 – PRESBIOPIA Aderbal de Albuquerque Alves 18 – ANISOMETROPIA Aderbal de Albuquerque Alves 19 – AFACIA Aderbal de Albuquerque Alves 20 – DISTÂNCIAVÉRTICE Aderbal de Albuquerque Alves 21 – ABERRAÇÕES ÓPTICAS E SUAS CARACTERIZAÇÕES Harley E. A. Bicas 22 – LENTES ASFÉRICAS A. Duarte 23 – ACUIDADE VISUALAderbal de Albuquerque Alves 24 – SENSIBILIDADE DE CONTRASTE Henrique Packter 25 – BAIXA VISUAL Aderbal de Albuquerque Alves 26 – A PRÁTICA DA RETINOSCOPIA À LUZ EM FAIXA Aderbal de Albuquerque Alves 27 – CILINDRO CRUZADO E O CONOIDE Aderbal de Albuquerque Alves 28 – TESTES SUBJETIVOS PARA ASTIGMATISMO Aderbal de Albuquerque Alves 29 – TESTE BICROMÁTICO Aderbal de Albuquerque Alves 30 – REFRAÇÃO AUTOMATIZADA Raphael Benchimol 31 – MOTILIDADE OCULAR NORMAL Edith Finkel 32 – FORIAS Beatriz Simões Correa 33 – NOÇÕES DE VISÃO ESTEREOSCÓPICA Osvaldo Travassos de Medeiros 34 – MÉTODOS DE EXAME Aderbal de Albuquerque Alves 35 – CONSIDERAÇÕES SOBRE UM NOVO FORÔMETRO Santos Pedro Tanganelli 36 – CORREÇÃO DAS AMETROPIAS Aderbal de Albuquerque Alves 37 – REFRAÇÃO NAS ALTAS AMETROPIAS Ricardo Uras 38 – CORREÇÃO ÓPTICA ÓCULOS × LENTES DE CONTATO Fábio J. Zamboni 39 – REFRAÇÃO NO DIABETES José Belmiro Castro Moreira 40 – CICLOPLEGIA Aderbal de Albuquerque Alves 41 – REFRAÇÃO EM CRIANÇA Aderbal de Albuquerque Alves 42 – LENSÔMETRO Aderbal de Albuquerque Alves 43 – ESTÉTICA E CONFORTO DA VISÃO Miguel Sadocco Giannini Marcos José Correia da Silva 44 – ANÁLISE DA PRESCRIÇÃO Aderbal de Albuquerque Alves 45 – UTILIZAÇÃO DINÂMICA DA DISTÂNCIA ENTRE OS CENTROS ÓPTICOS Aderbal de Albuquerque Alves 46 – ESTUDO DAS LENTES BI E TRIFOCAIS Aderbal de Albuquerque Alves 47 – TRANSPOSIÇÃO DAS LENTES Aderbal de Albuquerque Alves 48 – NOSSA EXPERIÊNCIA PESSOAL COM MULTIFOCAIS PROGRESSIVAS Aderbal de Albuquerque Alves 49 – LENTES PROGRESSIVAS Carlos Henrique Bessa Marcus V. A. Safady 50 – VERIFICAÇÃO DE ÓCULOS COM LENTES PROGRESSIVAS A. Duarte 51 – LASER EM OFTALMOLOGIA Celso Marra Pereira 52 – INSTRUMENTOS OFTALMOLÓGICOS Mário dos Santos Motta 53 – CIRURGIA REFRATIVA Sérgio Benchimol 54 – IMPLANTES INTRAOCULARES Almir Ghiaroni 55 – LENTES DE CONTATO Luiz Alberto Molina Sérgio Fernandes 56 – ILUMINAÇÃO Juliana Bohn de Albuquerque Alves 57 – LENTES DE PROTEÇÃO OCULAR Aderbal de Albuquerque Alves 58 – CEFALEIAS E O OLHO Aderbal de Albuquerque Alves 59 – SENSO CROMÁTICO Aderbal de Albuquerque Alves Luiz Filipe de Albuquerque Alves 60 – DISCROMATOPSIAS Aderbal de Albuquerque Alves Luiz Filipe de Albuquerque Alves 61 – VISÃO SUBNORMAL Luiza Fernandes 62 – EXAME DO PACIENTE COM VISÃO SUBNORMAL Juliana Bohn de Albuquerque Alves 63 – COMPUTADORES E VISÃO Aderbal de Albuquerque Alves 64 – ALTERAÇÕES REFRACIONAIS APÓS AS CIRURGIAS DE INTROFLEXÃO ESCLERAL Roberto Abdalla Moura Edmundo Soares 65 – PROBLEMAS REFRACIONAIS RELACIONADOS COM A IDADE Ricardo Uras 66 – INFLUÊNCIAS SISTÊMICAS SOBRE A ÓPTICA DO OLHO Aderbal de Albuquerque Alves 67 – ANÁLISE DE FRENTES DE ONDA Marco Antônio de Souza Alves 68 – EXAME DE REFRAÇÃO: ATO MÉDICO 69 – CAUSAS DA PERDA VISUAL 70 – INFORMAÇÕES IMPORTANTES Aderbal de Albuquerque Alves 71 – CURIOSIDADES EM REFRAÇÃO Newton KaraJosé Andrea Cotait KaraJosé 72 – PERGUNTAS E RESPOSTAS Aderbal de Albuquerque Alves APÊNDICE ÍNDICE ALFABÉTICO É preciso olhar o passado para entender a vida; porém, para viver, é necessário olhar o futuro. Soren Kierkegaard, filósofo do século XIX O exame de refração é um momento inicial importante que se oferece para a conquista da confiança de nosso paciente. O médico deve ter a consciência disso para não desperdiçar esta oportunidade. Quem nos julga é um leigo, receoso de cometer enganos nas informações solicitadas. Forma juízo crítico, apreciando as maneiras cavalheirescas com as quais é recebido e a desenvoltura do médico ao realizar os testes rotineiros. Quando o médico inverte a situação no teste de aferição e pede que as letras sejam observadas nos lados vermelho e verde, enquanto altera o valor das lentes para hiper ou hipocorreção, o paciente demonstra surpresa e segurança, e passa a informar o que vê com maior nitidez. Nem sempre o julgamento é correto, porém será sempre o vínculo da sociedade humana e, desse modo, ele vai julgar a competência de seu médico. Chegase a uma fase da vida em que surge o desejo de dar conselhos e contar histórias. É com este espírito que sentimos o impulso de sugerir aos colegas, que se encontram nos verdes anos da especialidade, a conduta ética e a nossa parcela de experiência na arte de conquistar a confiança dos pacientes. A confiança em seu médico representa 50% do êxito do tratamento. O conceito da classe, todavia, encontrase desgastado por várias circunstâncias que cabem ser destacadas nesta ocasião. Persiste a importância e o mesmo respeito, quando consideramos, individualmente, a relação médicopaciente. Destacase o efeito benéfico do atendimento com atenção carinhosa e paciência. Um simples gesto, um olhar diferente, uma mudança de semblante, representando preocupação, serão motivos para as mais diversas e exageradas interpretações pelo paciente e até pela família que o assiste. Quaisquer que sejam as circunstâncias de trabalho, são recomendados a mesma atenção, os mesmos cuidados e a mesma generosidade. A reação ao salário iníquo do profissional que exerce sua atividade em órgão público não deve recair no paciente, igualmente vítima do descaso em que são enfrentados os desafios da saúde pública brasileira. Até mesmo no interesse do próprio médico, que, sem dúvida, levará para sua atividade particular o hábito de praticar os mesmos desacertos. Um provérbio hindu nos ensina que “a sujeira sai com o banho; o hábito não é tão fácil de tirar”. Assim como do magistrado, do médico esperase que represente dignidade, honestidade e competência. A indumentária do magistrado é um símbolo da autoridade e da seriedade do ato de julgamento. O jaleco do médico deve representar a postura do respeito e da consciência do ato praticado. Este é um prérequisito para um bom, respeitoso e confiante relacionamento. Como acreditar no profissional mal vestido, com aspecto negligente? Em rápida digressão, procuramos lembrar que os olhos são os mais tenros de todos os nossos órgãos, que nos impelem para as ações mais nobres e corajosas. Pelos olhos, manifestamse os receios, o terror, a desconfiança e a dúvida. Somente a visão nítida das coisas fará alcançar o pleno domínio de si mesmo. A virtude essencial de nossa especialidade consiste exatamente em preservar a visão, evitar a cegueira e até mesmo promover a sua cura. Podemos afirmar que conquistamos, nesse particular, resultados surpreendentes. Nos implantes intraoculares, restituímos ao paciente a mesma imagem que ele anteriormente se deslumbrava diante da vida. Extraordinários avanços acontecem no campo cirúrgico, consentindo que procedimentos complexos sejam realizados sob anestesia local, em regime ambulatorial. No entanto, convém alertar que tais facilidades não reduzem a responsabilidade do profissional quanto ao resultado alcançado. Persistem, ainda que raramente, as possibilidades de complicações, sem que possam representar imperícia médica. A simples consciência desta possibilidade é uma advertência para que sejam evitadas indicações cirúrgicas precoces e, mais lamentavelmente, algumas desnecessárias. A concepção visual é um fenômeno psicológico complexo. Lancaster afirmava que a visão é metade ocular e metade cerebral. Os órgãos sensoriais recebem os estímulos; todavia, as respostas envolvem o organismo como um todo. O que vemos e como vemos depende do nosso estado físico e mental. Desconhecemos muito a respeito dos fatores fisiológicos e psicológicos que contribuem para compensar as imperfeições da imagem retiniana. A expressão da função de um olho dinâmico, em um organismo igualmente dinâmico, não corresponde a uma medida fixa. O importante é o estado psicológico do paciente; sentindose incapaz para ter saúde, vive doente. Deparamonos com portadores de acentuada restrição de sua capacidade visual que se apresentam satisfeitos e resistem às sugestõesde possíveis correções. Surpreendenos a ausência de relação com o nível intelectual. Convivemos com um cliente e amigo, desembargador, com visão de 20/200 para longe, que afirmava jocosamente ter visão de criança para longe, mesmo quando demonstrávamos a possibilidade de comparação com visão 20/20, com lentes corretoras. E aquela embaixatriz míope de 3 D, que se recusava a usar correção. Estes fatos levamnos a concluir que não pertence ao oftalmologista a atribuição de proferir verdadeira sentença condenatória diante de casos que, mesmo comprometendo irremediavelmente a visão, podem ser compensados pela extraordinária capacidade de adaptação do ser humano. As realidades subjetivas tornamse realidades objetivas e o homem identificase com as coisas com as quais convive. Em nosso país ou alhures, são inúmeros os casos de pacientes condenados pelo seu oftalmologista à cegueira irremediável que conseguem superar o pessimismo deste profissional, vivendo o seu reduzido mundo visual, adaptado à limitada capacidade laboral. Em certa repartição pública conheci um funcionário diligente, sempre escrevendo e lendo processos de sua atribuição. Certa vez, procuroume para um exame de refração, porque estava em processo de aposentadoria. Surpreso, constatei que este atento funcionário era portador de lesões maculares bilaterais. Diziame que o motivo da aposentadoria era o fato de estar vendo demais. Temia ser envolvido pela ilicitude de colegas desonestos. Contava meu chefe, já falecido, Dr. Rui Rolim, cirurgião primoroso e com imensa experiência ao lidar com seres humanos, que assistiu certa vez à tragédia vivida por um glaucomatoso, que procurou um serviço ambulatorial para periódica medida de sua pressão ocular e recebeu a sentença de um jovem e inexperiente colega que o condenava à cegueira irremediável. Desorientado, jogouse de encontro ao primeiro ônibus. Convivendo com seu infortúnio, foralhe negado abruptamente um espaço para que se ajustasse à ideia de que não há coisa mais triste e dolorosa do que ter olhos e viver em plena escuridão. Para os pacientes do Dr. Duarte, glaucoma é síndrome de hipertensão ocular. Desse modo, evita a neurose de angústia que acomete a maioria dos glaucomatosos. Nossa conduta consiste em minimizar a importância da enfermidade, destacando maior ênfase na necessidade de não se descuidar do tratamento, para manter a visão na eficiência que hoje lhe serve. Aconselhamos, sobretudo, evitar comentar ser portador de pressão ocular elevada. Aparece sempre alguém para descrever um caso de cegueira ocorrido por glaucoma, em parentes ou simples amigos. Os órgãos recebem estímulos diferentes, como diferente é a resistência e o potencial da reação cerebral. Lembramos de ilustrativo caso citado no livro Select Studies in Visual Optics, de Pascoal. Borghild Dahl escreveu um livro, prefaciado pelo Prof. Benedict, chefe do Departamento de Oftalmologia da Clínica Mayo, no qual conta uma experiência vivenciada com uma garota que se recusava a ser cega. Tinha visão monocular de 4/60 (20/300), menos de 6/60 (20/200), com a qual era considerada legalmente cega. Apoiada por sua mãe, afrontou todos os obstáculos impostos por aqueles que não aceitavam sua decisão, especialmente por determinado professor. Ela recusava tratamento diferente ao de outras crianças, seguia o currículo regular. A inteligência e a perseverança superaram o terrível obstáculo. Foi graduada no High School College e M.A da Universidade Columbia. Conseguiu chegar ao título de Professora de Jornalismo e Literatura. Como ironia do destino, o professor obstinado, impiedoso, continuava membro de um colégio, onde Miss Dahl era a Diretora. Helen Keller, deficiente visual, falava seis línguas e fundou mais de cem instituições para recuperação de deficientes em todo o mundo. Atrás de todo esse colosso estava Miss Sulivan, sua preceptora. Cumprenos preservar as virtudes do médico brasileiro, sensível e caloroso. Prudente ao informar, minimizando o impacto de notícias graves, para que não venha molestar o infortúnio que se abate sobre o paciente. Sensível para garantir a integridade psicológica. O paciente infeliz é um desagregador. A solidariedade humana é um sentimento universal, porém as manifestações exteriores adotam características diversas para cada povo. A verdade não deve ser ocultada, para não comprometer o conceito do profissional. O que defendemos é a preocupação em preservar esperanças e omitir a ideia de cegueira. Evitar sofrimentos por antecipação de um fato que pode não acontecer. A cegueira irremediável manifestase por si mesma, dispensa que o médico a proclame. As dúvidas que levam o especialista reconhecido saber à reflexão em casos difíceis não comprometem a confiança de seus pacientes. Ao jovem, este direito é negado, suas indagações não seriam aceitas, atribuem falta de experiência ou até mesmo incompetência. Em casos semelhantes, aconselhamos firmar um diagnóstico genérico, provisório, até que a consulta a colegas mais experientes possa dirimir suas dúvidas. A segunda consulta, imprescindível, servirá para o diagnóstico e para a orientação terapêutica definitiva. É um dos poucos privilégios da idade dizer ao paciente que desconhece, naquele momento, a razão de sua enfermidade, sem que este ato venha comprometer o conceito já consagrado de competência do profissional. Além do conhecimento da especialidade que abraçou, é o bom senso a maior qualificação do profissional. Lidar com crianças merece uma atenção especial. Na primeira consulta, quando não se sentem tranquilas, encontramse grandes variações da acuidade visual. Com paciência, tudo se ajusta e as dificuldades desaparecem. O jovem especialista dispõe, hoje, de imensas oportunidades de adquirir novos conhecimentos científicos. As modificações de novas técnicas sucedemse com maior frequência. Diante da perplexidade desses avanços, não devemos olvidar procedimentos mais simples, já consagrados, sempre atentos para os horizontes morais da profissão. O médico tem o dever sagrado de ser honesto. Por maiores que sejam suas dificuldades econômicofinanceiras, não são admissíveis indicações cirúrgicas ou tratamentos desnecessários. Aqueles que assim procedem, não podem ser comparados nem mesmo com assaltantes, que infestam nossa sociedade. Estes possuem uma qualidade que pode ser aproveitada: a coragem. Se recuperados, pela coragem, serão eficientes na função de segurança ou vigia. O oftalmologista desonesto é um ser desprezível, que trai a confiança daqueles que têm muita luz na alma e não podem ver a luz do dia. Sem dúvida, levará seu beneficiário a um futuro muito triste e sem dignidade. ___________ * Experiência do Autor. INTRODUÇÃO A maior parte das informações que recebemos nos é transmitida pela visão. A visão é um fenômeno psicofísico pelo qual o homem exerce o pleno domínio de si mesmo, e pode sentirse senhor e dominador de sua própria criação. A luz que propicia este poder ao ser humano constituise em pequena parcela da energia radiante. A luz visível provoca sensação visual pelo estímulo dos elementos sensoriais da retina. O olho atua como um seletor sensível a uma faixa de 390 a 750 nm. Difere de outros seletores, porque, após uma fração de segundos, processase a regeneração dos elementos retinianos, dificultando que tal sensação seja medida por unidade física. VELOCIDADE DA LUZ Galileu talvez tenha sido a primeira pessoa a tentar medir a velocidade da luz. Sua ideia era muito simples: dois homens, munidos de lanternas, situaramse em posições separadas por uma distância determinada. Um deles ligava sua lanterna e disparava um cronômetro. Quandoo segundo homem visse a luz da lanterna do outro, ele ligava por sua vez a sua lanterna. Quando o primeiro homem via a luz proveniente da lanterna do segundo, ele travava o cronômetro. Sabiase, então, o tempo levado pela luz para percorrer o trajeto de ida e volta e, como a distância era conhecida, podiase obter a velocidade da luz. Mas a experiência falhou, devido à rapidez com que a luz se propaga. Em todo caso, foi o ponto de partida para muitas outras experiências mais sofisticadas que se seguiram a essa. Roemer, astrônomo dinamarquês, fez a primeira medida utilizando uma distância astronômica. O primeiro método de laboratório para a medida da velocidade da luz em distância terrestre foi feito por Fizeau (1849). Ele usou uma grande roda denteada, girando rapidamente em frente a uma fonte brilhante. O feixe de luz, emergente entre dois dentes, ia a um espelho distante, voltava e era focalizado na periferia da roda. É óbvio que o método de Fizeau era uma adaptação mecanizada do método proposto por Galileu. Finalmente, por meio de cuidadosas experiências, chegouse à conclusão de que a velocidade da luz é da ordem de de 3 × 108 m/s, ou seja, 300.000 km/s. NATUREZA DA LUZ Os antigos tinham vários conhecimentos sobre a natureza da luz. Eles aprenderam a associar a luz ao calor, devido à relação solar e à luz do fogo. Conheciam a propagação retilínea da luz, bem como a refração e a reflexão entre a água e o ar. Tentaram, por meio de várias teorias, explicar o que era realmente a luz. Surgiu, então, a teoria corpuscular da luz, sendo seu principal arquiteto Sir Isaac Newton. Ele imaginou que a luz fosse constituída de pequenas partículas. Se em um quarto escuro fizermos com que a luz, proveniente de uma lâmpada, passe por um pequeno orifício, observaremos imediatamente que a luz se propaga em linha reta. Se fizermos, agora, a luz de uma lâmpada incidir sobre a superfície polida de um espelho, veremos que ela será refletida. É então razoável, à primeira vista, imaginar que a luz seja constituída de pequenas partículas luminosas. Mas essa ideia, aparentemente correta, não consegue explicar a luz de uma outra maneira, surgindo a chamada teoria ondulatória da luz. A noção básica, a ser levada em conta quando se estuda a natureza da luz, é o fato de sua propagação ocorrer no espaço; já que as ondas têm a propriedade de se propagar no espaço, tentouse explicar a luz como sendo de natureza ondulatória. Esta teoria, proposta pelo físico holandês Cristian Huegens, em 1678, não foi bem aceita na época devido ao grande prestígio e influência de Newton. Explicou muitos fenômenos, mas se mostrou também incompleta. Surgiram, então, novas e mais complicadas teorias, das quais daremos apenas uma ligeira explicação. Com a teoria do eletromagnetismo, de Maxwell, verificouse a natureza eletromagnética da luz. Albert Einstein explicou o efeito fotoelétrico, baseado na teoria do físico alemão Max Planck e surgiu a teoria quântica da luz. Diante de tantas teorias para explicar a natureza da luz, perguntase: Qual a correta? Em qual delas acreditar? A resposta atual a estas perguntas é a seguinte: as teorias completamse entre si. Não nos resta outra alternativa senão encarar a luz como algo que se manifesta em uma oportunidade, como um feixe, em particular, e como ondas, no restante do tempo. A verdadeira natureza da luz deixou de ser um conceito significativo, e devemos aceitar estas teorias, mesmo com suas contradições, como as mais aproximadas, para que possamos obter uma completa descrição da luz. Para finalizar, podemos lembrar o que foi dito por um físico alemão: “A luz é algo como um elefante que está sendo examinado por dois cegos: um deles segura o elefante por uma perna e diz: o elefante é uma árvore; já o outro cego, segurando o elefante pela tromba, tem opinião diferente: o elefante é uma cobra.” CONCLUSÃO Todos os fenômenos complexos, relacionados com a luz, são estudados em óptica, naquilo que interessa ao nosso estudo de refração, representados por feixes e raios luminosos. O homem moderno encontrase psicologicamente preparado para aceitar os mais surpreendentes e inacreditáveis avanços tecnológicos. Em tempos passados, qualquer inovação que conflitasse com os conceitos estabelecidos, era sempre recebida com desconfiança. Oftalmologistas londrinos, ao tomarem contato com as primeiras lâmpadas elétricas, fizeram uma petição solicitando à lei que impedisse a utilização destas, sem a devida proteção, temendo seus efeitos danosos. O conhecimento da recuperação retiniana, quando estimulada por uma fonte luminosa, pode contribuir para o diagnóstico diferencial, entre problemas de refração e algumas enfermidades oculares. O teste do stress luminoso, que passaremos a descrever, ajudanos a estabelecer o diagnóstico diferencial, entre a redução visual resultante de ambliopia ou de lesão do nervo óptico, ou seja, defeito de condução de outras resultantes de lesões do epitélio pigmentado da coriocapilar ou camadas externas da retina. No olho normal, o período de ofuscamento é curto e retorna entre 10 e 30 segundos. O teste pode ser conduzido da seguinte maneira: 1. marcar a acuidade visual em cada olho; 2. com o olho defeituoso ocluído, pedese ao paciente para fixar um estímulo luminoso (lanterna) com seu olho normal durante 10 segundos; 3. a luz é removida e, logo a seguir, solicitase ao paciente que leia optótipos de visão 20/25 ou 20/30, tão cedo quanto possível. Marcase, então, o tempo de recuperação; 4. procedese de maneira idêntica com olho que apresente redução visual, por exemplo 20/70; 5. a oclusão é removida e solicitase ao paciente que leia optótipos de 20/80; 6. comparase o período do olho normal com o do olho afetado. Nas enfermidades do nervo óptico, que provocam um defeito de condução, e nas ambliopias exanopsia, não há diferença no período de recuperação entre os olhos. Nos edemas retinianos, retinopatia central serosa, o tempo de recuperação será muito prolongado, de 90 a 180 segundos, contrastando com 10 a 30 segundos do olho normal. REFERÊNCIAS 1. Kenneth N. Ogle, Phd. Optics. 2nd ed., 1961. 2. HM Potts, M. D. PhD and contributors. The assessement of Visual Function, 1972. 3. Michael Ference, JR. Harvey B. Lemon; Reginald, J. Stephenson. Curso de Física. Ondas (som e luz), traduzido pelo Prof. Goldemberg e cols., São Paulo: Edgard Blucher. INTRODUÇÃO O estímulo da visão é produzido pela energia eletromagnética, absorvida pelos pigmentos dos fotorreceptores retinianos. Sendo a luz uma forma de energia radiante, é similar a outras formas de energia, como calor, eletricidade, raios X ou ondas de rádio. Assim, terá uma ação térmica ou fotoquímica sobre os tecidos oculares, como também uma ação psicológica, produzindo fadiga muscular quando a intensidade ultrapassa o limite da visão confortável. O total do espectro, relacionado com o estudo oftalmológico, é geralmente dividido em actínio, constituído pelos raios ultravioleta, espectro visível e térmico ou infravermelho. A amplitude de comprimento de onda, na qual o olho responde opticamente, corresponde a 1/8 do espectro eletromagnético. Considerando o efeito dos diversos comprimentos de onda, com relação ao olho, Morgan dividiu o espectro em partes, conforme o comprimento (Fig. 1): λ = comprimento de onda. É especificado em nanômetros (nm) = milimicra = 109 metros. 1. Ondas curtas UV = 200 a 290 nm. 2. Ondas médias UV = 290 a 320 nm. 3. Ondas longas UV = 320 a 390 nm. 4. Espectro visível = 390 a 760 nm. 5. Ondas curtas infravermelhas = 760 a 1.400 nm. 6. Ondas médias IV = 1.400 a 3.000 nm. 7. Ondas longas IV = 3.000 a 1 nm. raios cósmicos 400 700 nm infravermelhoraios gama radar raios X VISÍVEL hertzianas ultravioleta rádio TV LUZ curtas A energia da radiação é diretamente proporcional à frequência e esta é inversamente proporcional ao comprimento de onda. Desse modo, quanto menor o comprimento de onda, maior a energia no espectro eletromagnético. A porção actínia do espectro tem, também, certo grau de efeito térmico, assim como a porção térmica, do mesmo modo, possui certo efeito actínio. O prejuízo ao tecido depende da intensidade, do tempo de exposição ou de ambos. ABSORÇÃO PELO OLHO Raios Ultravioleta Os raios ultravioleta são absorvidos pela córnea, no entanto, entre 295 e 350 milimicra, passam através da córnea e são absorvidos pelo cristalino (na criança absorve até 310 nm e no adulto até 375 nm). Com a formação da catarata, o nível de absorção sobe para 450 milimicra e, em casos avançados, mesmo o violeta do espectro visível é absorvido a este nível. Parte da irradiação ultravioleta pode atingir a retina. Na retina, tanto a luz visível quanto a ultravioleta, são absorvidas pelos cromóforos (fotorreceptores, cones e bastonetes). Raios Infravermelhos Pequena parte é absorvida pela lágrima. A córnea absorve quase toda a radiação acima de 1.500 e parte no nível de 1.000, porém, nada abaixo deste comprimento de onda. O humor aquoso, com as mesmas características da córnea, absorve cerca de 20 a 30% do que passou pela córnea. No nível do cristalino, a maior absorção é pelo núcleo, que absorve cerca de 30%, enquanto a cápsula nada absorve, e o córtex, pouco. Cerca de 60% dos raios infravermelhos residuais são retidos pelo vítreo e apenas 3% atingem a retina. Espectro Visível A concentração da irradiação luminosa na retina depende do tamanho, da intensidade, do tempo da iluminação da fonte, do diâmetro pupilar e da imagem retiniana, estando relacionada com a emetropia, existente por acaso. Há quem afirme que a luz vermelha estimula a acomodação e a azul atua como um fator de inibição de convergência. Fig. 1 – Amplitude e comprimento de onda. EFEITO DAS RADIAÇÕES SOBRE O OLHO Ultravioleta Efeito predominantemente fotoquímico – a molécula que absorvea energia radiante decompõese e reage produzindo um outro produto químico. No espectro visível, causa a sensação da visão, e o ultravioleta tem efeito lesivo. Presente na luz solar, sobretudo em grandes altitudes, na luz refletida do mar ou da neve e em várias ocupações industriais (p. ex., arco de solda). A neve reflete 85% de UV, comparada com a grama, que reflete 1 a 2%. Os raios curtos provocam inflamações na conjuntiva e córnea (fotoconjuntivite e fotoceratite), enquanto os raios longos são menos prejudiciais. A exposição prolongada ao UV leva à formação de pterígio e pinguécula, que é mais comum em pessoas que trabalham no sol, neve, depósitos de gelo, etc. Cristalino – o efeito fotoquímico cumulativo resulta em maior absorção do UV e luz visível pelos cromóforos cristalinianos, que aumentam em concentração com a idade. Isso leva à opacificação do cristalino (catarata brunescente nuclear), que passa a funcionar como um filtro mais eficaz ao ultravioleta. Segundo Duke Elder, os raios UV longos, são capazes de produzir o fenômeno de fluorescência (fotoluminescência) cristaliniana, que é a absorção de uma energia com um determinado comprimento de onda e a transmissão de outra com maior comprimento de onda, que é menos lesivo. Os afácicos perdem o filtro natural (cristalino), ampliam seu espectro visível e tornamse mais suscetíveis a lesões fototóxicas da radiação ultravioleta na retina. Retina – o efeito cumulativo da radiação incidindo na retina, junto com os baixos níveis de fotorreceptores e epitélio pigmentar, comuns na idade avançada, levam a uma lesão retiniana com rarefação do epitélio pigmentar e com pouca capacidade de regeneração. Os instrumentos oftálmicos (oftalmoscópio indireto, microscópio, iluminador de cirurgia vítrea), são capazes de causar lesão retiniana, segundo alguns autores, pelo efeito térmico da radiação infravermelha, e, segundo outros, pela luz visível e o infravermelho atuando como sinergista. Os pseudofácicos e afácicos devem usar óculos com filtros UV. Esta proteção, para ser realmente efetiva, tem que absorver pelo menos 99% da radiação UV (300 a 400 nm) e 50 a 75% das ondas curtas de luz visível (400 a 475 nm). Infravermelhos Efeito predominantemente térmico. A molécula absorve calor e sai de um estado de repouso para um de excitamento. A volta ao estado de repouso acontece após a dissipação do calor pela colisão molecular. Quanto menor o comprimento de onda, maior a agressividade às estruturas oculares, portanto, a radiação infravermelha (lesiva na faixa de 780 a 2.000 nm) causa menos danos do que a luz visível e ultravioleta. Em circunstâncias normais, a exposição ao infravermelho não causa efeitos colaterais, no entanto, a exposição a altos níveis de radiação (tratamento com Nd Yag Laser e laser CO2, retinopatia solar e xenônio) produz lesões por efeito térmico que coagulam as proteínas celulares na córnea (opacificação), írisdespigmentação e atrofia, retina e coroide – queimadura necrótica (quando atinge a mácula causa metamorfopsia), lenteexfoliação de cápsula e catarata (p. ex. catarata dos sopradores de vidro e trabalhadores em fornalhas). Espectro Visível A exposição a altos níveis de radiação do espectro visível pode causar lesão térmica (ondas de maior comprimento) e lesão fotoquímica (ondas curtas no final do espectro visível). À luz visível, pode também provocar desconforto, astenopia e até lesão na retina e no cristalino, desde que a exposição seja demasiadamente intensa e demorada. O desconforto parece estar relacionado com a atividade do músculo ciliar e da íris, isso porque os sintomas desaparecem com cicloplegia. Mesmo quando não causa uma retinopatia, pode provocar um aumento no tempo de adaptação ao escuro. ESPECTRO ÓPTICO Ultravioleta Luz visível Infravermelho (nm) Comp. de onda 100 400 760 1 mm Mecanismo de interação 100 Predominante fotoquímico Predominante térmico O olho humano está exposto a um amplo espectro de energia radiante, que produz efeitos benéficos, como o próprio estímulo à visão, e também prejuízos ao órgão, por efeito fototópico e/ou fotoquímico. O efeito fotoquímico predomina no espectro ultravioleta e também na região de curto comprimento de ondas da luz visível. O efeito térmico ou fotópico predomina na radiação com maior comprimento de onda. Efeitos de Outras Radiações As radiações Hertzianas e as microondas são utilizadas em radar, diatermia e fornos de microondas. Embora a exposição a essas radiações provoque catarata em animais, não existem provas de que tenha causado lesões cristalinianas no homem, mesmo quando a despeito de exposição diária em período de anos. A microonda causa fricção molecular, daí resultando a produção de calor. RAIOS X, RAIOS GAMA, RAIOS BETA São radiações ionizantes cataratogênicas das mais importantes. As células equatoriais tornamse incapazes de sofrer processo de diferenciação para a formação de fibras. Sofrem migração para o polo posterior e produzem opacificação granular típica de catarata por radiação ionizante. Com maior produção destas células aberrantes, a opacidade tornase densa, ocupa mais a região subcapsular e, de maneira similar, aparece na região subcapsular anterior. Vacúolos são observados entre as opacidades granulares. Têm efeito cumulativo e é sabido que o cristalino em desenvolvimento é mais sensível à radiação ionizante. Há um período de latência para a formaçãode catarata, que pode ser de meses ou anos. Algumas pessoas, vítimas da bomba de Hiroshima, desenvolveram catarata em pouco tempo, pela ação dos raios gama e dos nêutrons. Raios Beta Raios beta (elétrons), ordinariamente penetram apenas 2 mm. São necessárias grandes doses aplicadas em região limbal para provocarem catarata. RAIOS LASER As fontes de luz são incoerentes. Emitem ondas de diversos comprimentos, com as mais variadas relações de fase. Cientistas desenvolveram um método para a produção de ondas coerentes; inicialmente, na região de microondas, e, posteriormente, na região óptica. O laser (light amplification by stimulated emission of radiation)é a amplificação da luz por emissão estimulada da radiação. Em um laser, a luz monocromática é produzida por excitação dentro de uma região conhecida como cavidade ressonante. O laser pode ser feito de material sólido, líquido ou gasoso. O primeiro laser sólido construído foi com o cristal de rubi cercado por um tubo luminoso contendo xenônio ou outro gás adequado. A ativação do laser é chamada de bombeamento. No laser de rubi, o bombeamento é feito com fótons do tubo luminoso. Depois que um feixe luminoso parte do laser, pode ser mais concentrado, ainda, por um dispositivo de focalização. Pode ser refletido da lua, como um radar, e fabricado com potência de vários milhões de Watts. Prestase para cortar metais e tem sido utilizado nas mais diversas funções. O calor gerado pelo laser é capaz de produzir queimaduras na retina, mesmo quando antes refletido em várias superfícies da sala de exames. MECANISMOS NATURAIS PROTETORES Na infância, a córnea e o cristalino transmitem as radiações entre 300 a 400 nm, e a retina tem grande capacidade de regeneração. Com mais idade, o cristalino funciona como um filtro do UV e espectro curto da luz visível, protegendo a retina senil, que tem pouca capacidade de regeneração. O epitélio pigmentar denso da íris é opaco à passagem da luz visível, incluindo o espectro azul próximo ao UV. Essa proteção é influenciada pelo diâmetro pupilar. O pigmento amarelo (lúteo) da retina absorve a luz de baixo comprimento de onda. OBS.: Se adicionarmos um filtro amarelo aos óculos, ele filtra toda a luz abaixo de 480 nm, sendo muito usado como protetor pelos esquiadores de neve. A camada de epitélio pigmentar da retina tem um importante papel no suporte metabólico das células fotorreceptoras e no reparo da lesão por radiação de baixo comprimento de onda. LIOs COM FILTRO UV Diferente do cristalino natural, as LIOs de polimetilmetacrilato transmitem a radiação UV e o espectro azul da luz visível capaz de causar todas as lesões já descritas. Existe muita variação na qualidade das LIOs com filtro UV, sendo demonstrado o seguinte, no trabalho de Mainster no American Journal de dezembro de 1986. Porcentagem de w = 10% significa o maior comprimento de onda que a LIO é capaz de filtrar e deixar passar apenas 10% da radiação azul e ultravioleta. Quanto maior, mais efetiva é a LIO. Porcentagem de Ta 400 nm = porcentagem de transmissão a 400 nm. Quanto menor o valor, maior é a proteção. Podese notar que existe uma grande disparidade entre as LIOs com proteção ultravioleta, variando de excelente (Copeland e IOLAB), até uma lente com características semelhantes ao polimetilmetacrilato claro, sem filtro (Surgidev). Atualmente, nos Estados Unidos, mais de 60% dos implantes são com lente com filtro UV. Foi demonstrado angiograficamente que essas lentes diminuem o risco de edema cistoide no pósoperatório. Sabese que os cromóforos (monômeros de metacrilato), que são responsáveis pela absorção do UV, são liberados no olho sem causar reações, porém quando se faz necessária uma capsulotomia com Yag Laser, a lente pode ser danificada, e essa liberação aumenta muito, causando ciclite e uveíte crônicas. FABRICANTE TIPO COMP. DE ONDA% W = 10% TRANSMISSÃO % Ta 400 nm CLASSIFICAÇÃO PELA PROTEÇÃO AMERICAN MEDICAL OPTICA PC 15 LB 420 8,20 BOA CILCO SK 21 LRU 388 71,00 RUIM COBURN 68 UV 389 41,00 RUIM COOPERVISION 823-01 388 73,00 RUIM COPELAND MOD 5 405 0,87 ÓTIMA INTERMEDICS U 37 Bc 378 85,00 RUIM IOLAB U 7065 412 0,15 ÓTIMA IOLAB U 70 SG 400 9,40 BOA SURGIDEV 20-15 329 87,00 PÉSSIMA (igual à LIO sem ❡ltro UV) REFERÊNCIAS 1. David H. Sliney MS. Ultraviolet Radiation and the cataract patient. International Journal of cataract surgery, June, 1985. 2. Pire A. Effect of sunlight of proteis of the lens. In Bellows J (ed.): Contemporary Ophthalmology. Baltimore: Willians & Wilkins, pp. 485501, 1972. 3. Lerman S. Lens fluorescence in aging and cataract formation. Doc Ophthalmol Proc, Series 8: 241260, 1976. 4. Lerman S. Borkman, RF. Photochemistry and lens aging. In von Hahn HP (ed.) Interdisciplinary Topics in Gerontology: Gerontological Aspects of eye Research. Basel: S. Karger, Vol. 13, pp. 154183, 1978. 5. Yu NT, Kuck JFR, Askren CC. Red fluorescence in older and brunescent human lenses. Invest Ophthalmol Vis Sci, 18: 12781284, 1979. 6. Mainster MA. Solar retinitis, photic maculopathy and the pseudophakie eye. J Am Intraocul Implant Soc, 4: 8486, 1978. 7. Mainster MA. Spectral transmittance of intraocular lenses and retinal demage from intense light sources. Am J Ophthalmol, 85: 167170, 1978. 8. Penner R, Mc Nair JN. Eclipse blindness. Am J Ophthalmol, 61: 14521457, 1966. 9. Lerman S. Ultraviolet radiation protection. Clao J, 11: 3945, 1985. 10. Ham WT, Mueller HA, Sliney DH. Retinal sensitivy to damage from short wavelenght light. Nature, 260: 153155, 1977. 11. Mc Donald HR, Irvine AR. Lightinduced maculopathy from the operating microscope in extracapsular cataract extraction and intraocular lens implantation. Ophthalmology, 90: 945951, 1983. Para representar luz em propagação, utilizamos a noção de raio de luz. Raio de luz representa, graficamente, a direção e o sentido da propagação da luz. Um conjunto de raio de luz constitui um feixe de luz, que pode ser convergente, divergente e paralelo (Fig. 1). A óptica geométrica baseiase na noção de raio de luz e em um número restrito de proposições básicas, conhecido como princípio da óptica geométrica. Esses princípios referemse à propagação retilínea, à independência e à irreversibilidade dos raios de luz, à reflexão e à refração. Propagação retilínea – Nos meios transparentes e homogêneos, a luz se propaga em linha reta. Princípio da independência – Cada raio de luz se estende independentemente de qualquer outro. Princípio da irreversibilidade – A forma do raio de luz independe do sentido de propagação da luz. A física moderna contesta certos conceitos estabelecidos, como, por exemplo, a propagação retilínea da luz; porém, para nossos estudos, podemos considerar os princípios corretos. FENÔMENOS ÓPTICOS Considere um raio luminoso incidindo em uma interface, separando dois meios ópticos. Para uma lente no ar, a interface é localizada na superfície da lente. No meio homogêneo, como ar, água, etc., a luz propagase em linha reta e, ao incidir na interface, ocorrem simultaneamente, com maior ou menor intensidade, três fenômenos (Fig. 2): Fig. 1 – Raios convergentes, divergentes e paralelos. Fig. 2 – Reflexão, refração e absorção. Reflexão O raio, que incide na superfície S, retorna ao meio inicial. A reflexão depende da qualidade do meio óptico de cada lado da superfície S e o raio luz. A reflexão pode ser: Regular – Quando o feixe de raios paralelos incide sobre a superfície e retorna ao meio, mantendo o paralelismo (especular). É regular o fenômeno predominante quando o meio é opaco e/ou a superfície de separação é polida. Nestas condições, a superfície recebe o nome de superfície refletora ou espelho. Difusa – Quando o feixe de raios paralelos incide sobre a superfície e retorna ao meio, perdendo o paralelismo eespalhandose, em todas as direções, devido à irregularidade da superfície. A reflexão difusa é responsável pela visão dos objetos que nos cercam. Refração ou Transmissão O feixe de luz, que incide na superfície, passa a se propagar no meio adjacente. Ocorre, mais frequentemente, quando a interface separa dois meios transparentes como o ar e a lente. Absorção O feixe de luz paralelo incide sobre a superfície, não retorna ao meio, nem se propaga. Em um corpo negro, a absorção é total, enquanto o corpo branco reflete, difusamente, as luzes de todas as cores. As cores dos corpos são determinadas pela luz refletida, difusamente, pelos mesmos. O azul, por exemplo, absorve todos os componentes da luz branca e reflete, difusamente, a luz azul. A superfície absorve energia luminosa, ocasionando seu aquecimento. SUPERFÍCIE ÓPTICA A interface entre dois meios é uma superfície óptica. Caracterizase pela reflexão e refração. A absorção é geralmente insignificante. A superfície óptica pode ser plana, esférica e asférica, com superfícies parabólicas ou tóricas. A função da superfície óptica é transmissão ou reflexão de maneira ordenada, e concentração de raios, para formação da imagem. Quando um feixe de raios paralelos incide, perpendicularmente, sobre uma superfície óptica de faces paralelas, por exemplo, um vidro crown, ocorre redução de velocidade, em consequência de maior densidade óptica do segundo meio (Fig. 3). Se a incidência sobre a mesma substância é oblíqua, além da redução de velocidade ocorre desvio ou refração de raios. Outros fatores influem, como o ângulo de incidência e o comprimento de onda. Para estudar o índice de refração, interessa a mudança de velocidade em relação ao AR (no vácuo, teoricamente). ÍNDICE DE REFRAÇÃO É a relação da velocidade da luz de um meio em relação a outro. Denominase absoluto quando referente ao vácuo, e relativo, quando há diferença de velocidade em uma substância em relação a outra. Fig. 3 – Superfícies paralelas. Redução de velocidade. A substância A acelera ou retarda a velocidade da luz em relação à substância B. Geralmente, o IR é determinado para o comprimento de onda do amarelosódio, ou seja, ondas monocromáticas. Os feixes luminosos são, em geral, policromáticos, constituídos de ondas de comprimentos mais diversos, que vão de um limite a outro do espectro visível e, mesmo, além destes limites (Fig. 4). Enquanto no vácuo a velocidade de propagação das ondas luminosas é constante para todos os comprimentos de ondas, a velocidade de propagação em um meio material varia com o comprimento de onda. A luz azul sofre desvio maior, e a vermelha, desvio menor. Este efeito é desejável, em se tratando de prisma de dispersão e indesejável para as lentes, porque é causa da perda de contorno das imagens. Alguma redução da aberração cromática pode ser obtida pela utilização de dois tipos de vidros, com poder de dispersão diferente (Fig. 5). Assim, concluímos que o índice de R de um meio é em função do comprimento de onda. Conhecendose a velocidade da luz no ar e velocidade nos diversos meios materiais, determinase o IR: Exemplo: Velocidade da luz no ar é de 300.000 km/s. Velocidade da luz na água é de 225.260 km/s. Fig. 4 – Dispersão cromática. Fig. 5 – Redução da aberração cromática. Dois tipos de vidros com poder de dispersão diferentes. A propagação da luz no ar e no vácuo é muito aproximada. O índice de refração absoluto no ar é de 1,00029, de modo que o índice de refração relativo do ar, para qualquer substância, é aceito como índice desta substância. Se o IR da água é de 1,33 e do ar é 1, significa que a velocidade de propagação da luz no ar é 1; portanto, a velocidade de propagação da luz no ar é 1,33 maior que na água ou que a velocidade de propagação na água é 3/4 da velocidade no ar; ÍNDICE DE REFRAÇÃO DE ALGUNS MEIOS Humor aquoso 1,336 Humor vítreo 1,336 Lágrimas 1,416 Córnea 1,376 Filme lacrimal (dependendo do conteúdo mucoso) 1,33 Cristalino 1,386 a 1,406 Crown oftálmico 1,523 Crown com barium 1,616 Flint denso 1,616 Flint extradenso 1,690 Lentes plásticas CR39 1,498 Lentes de alto índice; Highlite 1,70 Hoya LHI 1,70 Hoya THI 1,806 Slimline 730 e 750 1,70 Slimline 825 1,804 Isto significa quantas vezes mais lenta a luz se propaga nestes meios em relação ao ar. REFERÊNCIAS 1. E. Gil Del Rio. Óptica Fisiológica Clínica. Refração. Barcelona: Toray, 1966. 2. Charles J. Campell; Charles, J. Koester; M. Catharine Rittler; Robert B. Tackaberry. Physiological Optics. Medical Book Department – Maryland: Harper/Row, 1974. 3. Prado, Durval. Noções de óptica, refração ocular e adaptação de óculos, Rio de Janeiro: Atheneu, 1963. 4. Duke Elder’s Practice of Refraction. Revised by David Abrams. 9th ed. London: Churchill Livingstone, 1978. 5. Kenneth N. Ocle. PHD. Optics. 2nd ed., 1961. 6. Ernest H. Chistman MD. A primer on Refraction, 1972. 7. Os Fundamentos da Física. Termologia, geometria da luz e ondas. 2a ed., 1979. A visão é um fenômeno complexo, sendo o olho e o cérebro humano capazes de processarem uma quantidade imensa de informações de uma forma extremamente rápida. Neste processo, temos como ponto de partida a necessidade de uma correta formação da imagem na retina e, para tal, é preciso que haja o perfeito equilíbrio entre os diversos elementos estruturais do olho. A relação entre as estruturas oculares responsáveis por gerar o poder refracional total do olho é harmônica nos olhos emetropes. Sorsby et al. (1962) concluiram em seu estudo que, mesmo em olhos emetropes, existem variações nos poderes de refração da córnea e do cristalino (3948D e 1624D, respectivamente) e, também, no seu comprimento axial (2226 mm). Nos olhos com ametropias variando entre 4D e +6D, as mesmas variações são encontradas, porém ocorre um desequilíbrio entre estes valores. Por fim, olhos com erros refrativos maiores do que 4D e +6D têm como principal fator responsável as alterações de seu comprimento axial, sendo este muito curto em olhos hipermetropes e muito longos nos míopes.1 Quando um olho possui um erro de refração, tendo o valor de seu comprimento axial dentro da variação esperada para olhos emetropes e, no entanto, os parâmetros dos demais elementos (córnea e cristalino) fora desta, consideramos como sendo uma ametropia de natureza refrativa. Em situação inversa, em que um comprimento axial possui valores fora do esperado e seus demais elementos estão com valores dentro da variação prevista, consideramos como sendo uma ametropia de natureza axial. O olho humano, como um aparelho dióptrico, possui seus defeitos fisiológicos. Todavia, na prática, estes defeitos são minimizados graças às propriedades dos seus diversos componentes. CÓRNEA Em um olho normal a córnea é transparente e de formato convexo. Sua curvatura, mais acentuada no centro e mais plana em sua periferia, a caracteriza como uma estrutura asférica. Tal característica propicia à córnea contrabalancear os efeitos dos desvios naturais de um raio luminoso, que tendem a ser maiores quanto mais perifericamente penetram em uma superfície esférica (aberração esférica). O aplanamento centroperiferia da córnea, quando quantificado, recebe o nome de fator de asfericidade (ou fator Q) e possui, em olhos normais, valor médio de 0,25.2 O perfil ideal da córnea deve sempre possuir este valor negativo. Quanto mais próximo de zero for este valor, menor é a diferença de curvatura entre o centro e a periferia, como ocorre, por exemplo, em olhos submetidos à cirurgia fotoablativa ou ceratotomia radial para correção de miopia. Nestes últimos encontramos, por vezes, a inversão do fator de asfericidade para um valor positivo levando a um aumento das aberrações e consequente piora da visão. Em situação oposta, como é o casode córneas com ceratocone, a diferença de curvatura centroperiferia é maior, determinando ao fator de asfericidade valores ainda mais negativos. O diâmetro horizontal médio de uma córnea de um adulto é de 11,512 mm, sendo o seu diâmetro vertical mais curto em, aproximadamente, 1 mm e apresenta seu raio de curvatura medindo em média de 7,58 mm em sua face anterior e 6,5 mm em sua face posterior.3,4 Quando os raios de curvatura da superfície corneana possuem diferentes valores em seus diferentes meridianos formase o astigmatismo. Apesar de ser destinada a permitir que a totalidade da luz que alcance sua superfície possa atravessála, a córnea normal reflete, através de sua superfície anterior, aproximadamente, 2,5% da luz incidente. É este o fenômeno que nos permite observar as imagens de objetos quando colocados em frente à córnea e é nele que se baseiam muitos instrumentos utilizados para o estudo das alterações morfológicas da superfície corneana como os astigmatismos e as ectasias. São os reflexos dos discos de Plácido na córnea que funcionam como base para a análise executada pelos topógrafos corneanos computadorizados de última geração (Fig. 1). É, ainda, graças ao fenômeno de reflexão, que podemos estudar e reconhecer as estruturas íntimas dos tecidos oculares através da lâmpada de fenda, tais como as camadas da córnea, partículas em suspensão no humor aquoso ou vítreo, entre outras. Outro fenômeno óptico capaz de influenciar na qualidade da imagem formada na retina é a dispersão, que ocorre em 10% da luz que incide sobre a superfície corneana5 e tem, no estroma, o seu principal sítio de ocorrência. Grande parte das modificações sofridas pelos raios luminosos ao atingirem a córnea ocorre devido ao fenômeno da refração, sendo a própria córnea a estrutura ocular que possui o maior poder refrativo do olho. Ela é responsável por aproximadamente dois terços do poder total em um olho no seu estado não acomodado e tem esta fração reduzida durante o processo de acomodação, onde o cristalino passa a ter sua parcela no poder refrativo total do olho aumentada. O valor do poder dióptrico da córnea, considerando apenas sua porção central, assim como o de qualquer superfície esférica, varia diretamente com a diferença dos índices de refração dos meios que ela separa e inversamente com o comprimento do seu raio de curvatura, conforme demonstrado pela fórmula: D – valor dióptrico investigado n’ – índice de refração do meio mais refringente n índice de refração do meio menos refringente R – raio de curvatura da superfície Aplicadas as variáveis pertinentes à fórmula anterior (índices de refração do aquoso e ar e raio de curvatura corneano), concluise ter a córnea um poder refrativo de 4343,50 dioptrias. A córnea é composta por cinco camadas (da mais externa para a mais interna): epitélio, membrana de Bowman, estroma, membrana de Descemet e endotélio. Cada uma destas camadas possui o seu próprio índice de refração, no entanto, por ser o estroma a camada responsável por, aproximadamente, 90% da espessura total corneana6, é dele o índice refrativo de grande dominância na córnea, sendo considerado de 1,376 (Tabela I). Figs. 1 AD – Reflexão da luz pela superfície anterior da córnea. O disco de Plácido (A) como base do funcionamento do topógrafo de córnea (B). Reflexo em uma córnea normal (A) e com ceratocone (B). Disco de Plácido (C e D). Tabela I – Índices de refração dos meios oculares Lágrima 1,416 Córnea 1,376 Humor aquoso 1,336 Humor vítreo 1,336 1,386 (córtex) Cristalino 1,406 (núcleo) Anteriormente ao estroma corneano, dois componentes estão presentes, porém não têm influência significativa no poder refrativo do olho. O primeiro deles é o filme lacrimal, composto pelas finas camadas oleosa, aquosa e mucosa. Apesar de sua pequena importância refrativa, o filme lacrimal é essencial para que se tenha uma visão nítida, pois ele realiza o processo de umidificação corneana e contribui para a “correção” das irregularidades presentes na superfície epitelial. Um defeito existente neste componente do olho, portanto, pode gerar uma progressiva perda de transparência da córnea e consequente redução da acuidade visual. O segundo componente em questão é o epitélio corneano que, assim como o filme lacrimal, é, em relação ao estroma adjacente, muito delgado. Por esta razão, tanto a lágrima quanto o epitélio da córnea, mesmo possuindo índices de refração maiores do que o do estroma (1,416 e 1,377, respectivamente) exercem insignificante efeito refrativo nos raios luminosos incidentes. O mesmo princípio pode ser aplicado às demais camadas corneanas posteriores ao estroma uma vez que possuem espessuras muito menores quando comparadas a espessura do mesmo (Tabela II). Tabela II – Espessuras (μ m) das camadas corneanas (Hogan et al., 1971)6 Filme lacrimal 4-7 Epitélio 50 Membrana de Bowman 8-14 Estroma 500 Membrana de Descemet 10-12 Endotélio 5 Total 580 Diversos autores divergem quanto aos resultados finais encontrados em seus respectivos estudos no que se refere às mudanças na espessura corneana durante o processo de envelhecimento natural do olho. São descritos na literatura casos que tiveram evolução tanto para um aumento7 quanto para uma diminuição8, ou ainda, manutenção da espessura da córnea9 com o avanço da idade. Em relação à transmitância corneana, nenhuma variação significante parece ocorrer ao longo da vida10, no entanto, ocorrem mudanças em sua curvatura. Caracteristicamente, há um aumento de sua curvatura, sendo mais intenso no meridiano horizontal.11 PUPILA A íris possui uma importante função de regulação sobre quantidade de luz que penetra no interior do olho através dos seus movimentos de contração e expansão, denominados miose e midríase, respectivamente. O tamanho da pupila é determinado por dois músculos antagônicos: o esfíncter pupilar e o dilatador da pupila. O primeiro fica localizado na borda da pupila, possui sua inervação realizada pelas fibras parassimpáticas do nervo oculomotor e, ao se contrair, realiza a miose. O segundo, por sua vez, tem sua distribuição em aspecto radial do esfíncter pupilar ao corpo ciliar e, por receber inervação através de fibras nervosas de origem simpática, realiza, quando estimulado, a midríase. A variação do diâmetro pupilar é um processo fisiológico que ocorre constantemente, de forma autônoma e possui forte relação com a focalização correta da imagem na retina. Esta relação com a acuidade visual pode ser exemplificada através da miose produzida ao focalizarmos a imagem de um objeto quando este é aproximado do olho. As mudanças de diâmetro pupilar são capazes de exercer influência nos níveis de iluminação que atingem a retina, na amplitude do campo visual e na qualidade da imagem final formada. As pupilas de maior diâmetro, por exemplo, possuem maior dano na qualidade da imagem formada por sofrerem maior influência das aberrações ópticas enquanto, por outro lado, pupilas pequenas têm o fenômeno da difração como fator limitante para uma imagem retiniana de boa qualidade. Na maioria dos olhos um diâmetro pupilar variando entre 22,5 mm é considerado como ideal por fornecer um melhor equilíbrio entre estes dois fatores1214 e por minimizar as aberrações periféricas provenientes do cristalino.15 17 O principal fator de interferência no diâmetro da pupila é o nível de iluminação presente. Níveis de luz em elevação determinam uma progressiva redução do diâmetro pupilar ocorrendo o fenômeno oposto quando estes níveis se reduzem. Uma pupila pode ter seu diâmetro de 1,5 mm em condições de iluminação muito intensa e até 8 mm no escuro.18 O diâmetro da pupila e a amplitude de suas variações podem sofrer influências de diversos fatores,tais como a acomodação, com sua consequente miose, a idade que, ao avançar, reduz a amplitude da variação ocasionada pelas diferenças nos níveis de iluminação19 e, ainda, fatores psicológicos e estados emocionais. Um estudo realizado por Hess (1965) demonstrou que um indivíduo, quando estimulado a pensar em coisas prazerosas, tinha seu diâmetro pupilar aumentado enquanto, por outro lado, estímulos opostos ocasionavam diminuição nesse diâmetro.20 CRISTALINO O cristalino é um elemento de vital função na óptica do olho humano, não apenas por prover um terço do poder refrativo total, mas também, por ser responsável, juntamente com sua cápsula, fibras zonulares e corpo ciliar, pelo processo de acomodação, que permite ao olho focalizar na retina objetos em diferentes distâncias. O cristalino, segundo Helmholtz, é uma lente de formato biconvexo em sua região central (nuclear) envolta por duas lentes côncavoconvexas em sua região periférica (cortical). Com o avançar da idade, ocorrem grandes mudanças em sua conformação estrutural, biofísica e bioquímica. Devido a sua complexa estrutura, onde a distribuição concêntrica das suas diversas camadas determina diferentes densidades entre o núcleo e o córtex, o cristalino tem um índice de refração de difícil medição. São atribuídos, portanto, valores diferentes para cada região, tendo o núcleo, devido a sua maior densidade, um maior índice (1,406) e o córtex, menos denso, índice inferior (1,386). Esta característica é de grande vantagem no processo de formação da imagem, uma vez que contribui para a neutralização das aberrações esféricas geradas na passagem dos raios luminosos pelas suas extremidades (Figs. 2 A e B). Tal vantagem tornase ainda mais importante em situações onde o diâmetro pupilar esteja aumentado, pois o bloqueio dos raios luminosos periféricos, que na maior parte das situações comuns do dia a dia é feito pela íris, está comprometido. O poder refrativo do cristalino em seu estado não acomodado é considerado como, em média, de 21D. Com o processo de envelhecimento, o cristalino sofre alterações em diversos aspectos. Quanto às suas alterações dimensionais, temse ao longo da vida um aumento no diâmetro equatorial que pode variar em até 5 mm desde o nascimento do indivíduo até sua juventude, bem como um aumento, em menor velocidade, de sua espessura. Ao nascimento, a espessura cristaliniana é de 3,54 mm chegando a alcançar com o passar dos anos 4,745 mm.21,22 O fenômeno de dispersão dos raios luminosos que ocorre de forma crescente no processo de senescência do cristalino tem íntima relação com este aumento de espessura23 e causa significante degradação da visão por levar ao borramento da imagem, glare e diminuição da sensibilidade ao contraste. Em relação à transmitância cristaliniana, esta é progressivamente diminuída com o passar dos anos24 devido ao processo de opacificação natural que este sofre. O cristalino e a córnea constituemse importantes fatores de proteção para a retina, na medida em que filtram grande parte das radiações ultravioletas (UV) potencialmente danosas a esta nobre estrutura. Particularmente, no cristalino a absorção dos raios UV e do espectro curto da luz visível aumenta juntamente com o seu processo natural de envelhecimento e esclerose nuclear.25 Sem o cristalino, os indivíduos afácicos tornamse mais suscetíveis a lesões fotoquímicas na retina, uma vez que perdem seu filtro natural. Fig. 2 – Aberrações esféricas. A imagem, em B, evidencia um cristalino de peixe neutralizando as aberrações esféricas por apresentar diferentes índices de refração. Em A, uma lente de vidro com suas aberrações. (Reproduzido de Fernald RD. Vision and behavior in an African Cichlid fish. Am Sci. 1984;72:58–65). Como mecanismo para aumentar seu poder de refração, o olho humano utiliza o fenômeno da acomodação. Durante este processo, o cristalino sofre aumento de sua espessura central, aumento de sua curvatura, principalmente, em sua superfície anterior e, ao mesmo tempo, sofre discreto deslocamento no sentido da gravidade26,27 (Fig. 3). Ao final, a acomodação permite que os objetos, quando aproximados do olho, mantenhamse em foco na retina permitindo a manutenção de uma visão nítida. A progressiva diminuição na capacidade do olho em exercer a acomodação com o passar dos tempos recebe o nome de presbiopia. Na maioria das pessoas isso começa a tornarse uma realidade quando estas atingem aproximadamente 40 anos de idade, momento em que os sintomas de dificuldade nas atividades que exigem a visão para perto começam a aparecer. Alguns estudos demonstram haver relação entre as diferenças nas idades de aparecimento da presbiopia e a distribuição espacial global das populações acometidas, onde a latitude e, principalmente, a temperatura exercem influência na época de início do quadro. Foi demonstrado, nestes estudos, um início mais precoce de presbiopia nos habitantes das regiões de maior proximidade com a linha do equador.28,29 Fig. 3 – Mudança no formato do cristalino durante o processo de acomodação. Composição de imagens captadas por ressonância magnética de alta resolução. Acomodação à esq. de 0,1D e à dir. de 8,0D. (Reproduzido de Strenk S.A., Strenk L.M., Semmlow J.L., DeMarco J.K. Magnetic resonance imaging study of the effects of age and accommodation on the human lens crosssectional area. Invest Ophthalmol Vis Sci. 2004 Feb;45(2):53945. HUMOR AQUOSO E HUMOR VÍTREO Tanto o humor aquoso, interpondose entre a córnea e o cristalino, quanto o humor vítreo, interpondose entre o cristalino e a retina, possuem seus índices de refração considerados iguais para ambos, com valor de 1,336. Boettner e Wolter (1962) demonstraram em seu estudo que a transmitância destes dois componentes parece não sofrer mudanças com a idade e que o fenômeno de dispersão da luz é de muito pouca relevância no aquoso enquanto, no vítreo, acontece de forma mais significativa.24 RETINA Após os raios luminosos atingirem a retina temse o início do processo neurofisiológico da formação da visão com o processamento dos estímulos gerados. O processo de transformação da luz em sinal elétrico é chamado de fototransdução. A luz incidente tem o seu primeiro contato com a retina na sua camada mais interior, a membrana limitante interna (MLI). No entanto, nem toda luz incidente nesta camada irá exercer o estímulo para que ocorra a formação da visão, uma vez que existem perdas durante seu trajeto pelas camadas retinianas até os fotorreceptores (reflexão e absorção) e que nem toda luz final absorvida pelos fotorreceptores é transformada em estímulo elétrico30,31. O fenômeno da fototransdução tem, na camada dos fotorreceptores, composta pelos cones e bastonetes, seu sítio de atuação e tem, nas moléculas dos fotopigmentos (opsinas) presentes nesta camada sua base bioquímica de funcionamento. As opsinas dos bastonetes (rodopsinas) possuem melhor absorção da luz no comprimento de onda de 500 nm (azulverde), enquanto as opsinas dos cones possuem diferentes picos de absorbância máxima dentro do espectro eletromagnético (azul, verde e amarelo). A percepção da visão de cores consiste, de forma simplificada, no resultado dos estímulos em combinação destes pigmentos.32 REFERÊNCIAS 1. Sorsby A, Leary GA, Richards MJ. Correlation ametropia and component ametropia. Vision Res. 1962;2:30913. 2. Miller D, Schor P, Magnante P.: Optics of the Normal Eye. In: Yanoff M., Duker J.S., ed. Ophthalmology.3rd ed. St. Louis: Mosby, 2009: 5260. 3. Rufer F, Schroder A, Erb C.: Whitetowhite corneal diameter: normal values in healthy humans obtained with the Orbscan II topography system. Cornea. 2005; 24:259261. 4.
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