Buscar

Refração, 6ª edição

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 541 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 541 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 541 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

ADQUIRIDO EM 
www.mercadolivre.com.br
VENDEDOR
FERREIRA_EBOOKS
e b o o k s
Clique aqui para obter 
novos títulos.
www.mercadolivre.com.br
http://lista.mercadolivre.com.br/_CustId_195852375
http://perfil.mercadolivre.com.br/FERREIRA_EBOOKS
CIP­BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ.
A477r 
6.ed.
Alves, Aderbal de Albuquerque, 1925 –
Refração / Aderbal de Albuquerque Alves. – 6. ed. – Rio de Janeiro : Cultura Médica : Guanabara Koogan, 2014.
il.
Apêndice.
Inclui bibliografia e índice
ISBN 978­85­7006­640­4
1. Oftalmologia. 2. Óptica fisiológica. 3. Olhos – Acomodação e refração. 4. Distúrbio da visão. I. Título.
13­06569 CDD — 617.7 
CDU — 617.7
© Copyright 2014, by Cultura Médica®
Esta obra está protegida pela Lei no 9.610 dos Direitos Autorais, de 19 de fevereiro de 1998, sancionada e publicada no Diário Oficial da União em
20 de fevereiro de 1998.
Em vigor a Lei 10.693, de 1o de julho de 2003, que altera os Artigos 184 e 186 do Código Penal e acrescenta Parágrafos ao Artigo 525 do Código
de Processo Penal.
Caso ocorram reproduções de textos, figuras, tabelas, quadros, esquemas e fontes de pesquisa, são de inteira responsabilidade do(s) autor(es) ou
colaborador(es).
Qualquer informação, contatar com a Cultura Médica®
Impresso no Brasil
Printer in Brazil
Responsável pelo Layout/Formatação: Cultura Médica
Produção Digital: Geethik
Cultura Médica® 
Rua Gonzaga Bastos, 163 
20541­000 – Rio de Janeiro – RJ – Brasil 
Tel.: (55 21) 2567­3888 FAX: (55 21) 2567­3132 
Site: www.culturamedica.com.br 
E.mail: cultura@culturamedica.com.br
Aderbal de Albuquerque Alves Junior
• Mestrado e Doutorado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, RJ
• Chefe de Clínica do Serviço de Oftalmologia do Hospital dos Servidores do Estado, HSE, RJ
Andrea Cotait Kara­José
• Pós­Graduanda, Nível Doutorado, do Departamento de Oftalmologia da Universidade Federal de São Paulo
(UNIFESP/EPM)
• Médica Colaboradora do Setor de Glaucoma da UNIFESP/EPM; Fellowship de Córnea, Doenças Externas e
Glaucoma pela Northwestern University, Chicago, EUA
A. Duarte
• Professor Associado da Pós­Graduação em Oftalmologia da Pontifícia Universidade Católica, PUC­Rio, RJ
• Professor. Refração Clínica. Oftalmologia. Instituto Benjamin Constant, RJ
Almir Ghiaroni
• Mestre de Oftalmologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, RJ
• Doutor em Oftalmologia pela Universidade Federal de São Paulo, Escola Paulista de Medicina, SP
Beatriz Simões Correa
• Mestre em Oftalmologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, RJ
• Chefe do Setor de Motilidade Ocular do Serviço de Oftalmologia do Hospital dos Servidores do Estado, HSE, RJ
Carlos Henrique Bessa
• Ex­Presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia, SBO, RJ
Celso Marra Pereira
• Mestre em Oftalmologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, RJ
• Professor do Curso de Pós­Graduação UNI­Rio, SBO, RJ
• Ex­Chefe do Setor de Retina do Serviço de Oftalmologia do Hospital dos Servidores do Estado, HSE, RJ
Demian Temponi
• Residência Médica no Hospital Federal dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro com Especialização Clínica e
Cirurgica em Doenças da Retina e Vítreo
• Título de Especialista pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia(CBO)
Edith Finkel
• Ex­Chefe do Setor de Motilidade Ocular do Serviço de Oftalmologia do Hospital dos Servidores do Estado, HSE, RJ
Edmundo Soares
• Membro do Hospital de Olhos de Minas Gerais, HOMG, MG
Fábio J. Zamboni
• Mestre em Oftalmologia pela Universidade Federal de São Paulo, Escola Paulista de Medicina, UNIFESP­EPM, SP
• Colaborador do Setor de Óptica Fisiológica e Lentes de Contato do Departamento de Oftalmologia da Universidade
Federal de São Paulo, Escola Paulista de Medicina, UNIFESP­EPM, SP
Harley E. A. Bicas
• Professor Titular, Departamento de Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Faculdade de
Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, USP, SP
Henrique Packter
• Chefe do Serviço de Otorrinolaringologia e Oftalmologia do Hospital São José, Criciúma, SC
• Diretor do Instituto de Olhos do Hospital de Caridade, Florianópolis, SC
José Belmiro de Castro Moreira
• Professor­Adjunto da Universidade Federal de São Paulo, Escola Paulista de Medicina, UNIFESP­EPM, SP
Juliana Bohn de Albuquerque Alves
• Médica da Clínica Aderbal Alves, RJ
• Médica Responsável pelo Setor de Visão Subnormal do Hospital Servidores do Estado, HSE, RJ
Luiza Fernandes
• Ex­Médica do Setor de Retina do Serviço de Oftalmologia do Hospital dos Servidores do Estado, HSE, RJ
Luiz Alberto Molina
• Mestre pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, RJ
• Professor Assistente de Oftalmologia da Escola Médica de Pós­Graduação da Pontifícia Universidade Católica, PUC­
Rio, RJ
Luiz Filipe de Albuquerque Alves
• Médico do Serviço de Oftalmologia do Hospital Central da Aeronáutica do Rio de Janeiro, RJ
• Médico da Clínica Aderbal Alves, RJ
Marco Antônio de Souza Alves
• Mestre de Oftalmologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, RJ
• Professor de Oftalmologia na Universidade de Nova Iguaçu, UNI, RJ
• Médico Oftalmologista (Setor de Córnea) do Hospital dos Servidores do Estado, HSE, RJ
Marcos José Correia da Silva
• Técnico Óptico e Gerente de Controle de Qualidade da Casa Miguel Giannini Óculos, SP
Marcus V. A. Safady
• Médico pela Universidade Federal de São Paulo, Escola Paulista de Medicina, UNIFESP­EPM, SP
• Chefe do Setor de Glaucoma da Santa Casa, RJ
Mário dos Santos Motta
• Mestre em Oftalmologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, RJ
• Doutor em Oftalmologia pela Universidade Federal de São Paulo, Escola Paulista de Medicina, UNIFESP­EPM, SP
• Médico do Setor de Retina do Serviço de Oftalmologia do Hospital dos Servidores do Estado, HSE, RJ
Miguel Sadocco Giannini
• Esteticista Óptico da Casa Miguel Giannini Óculos, SP
Newton Kara­José
• Professor­Titular Emérito do Departamento de Oftalmologia da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade
Estadual de Campinas (UNICAMP)
Osvaldo Travassos de Medeiros
• Professor Titular de Oftalmologia da Universidade Federal da Paraíba, UFPB, PB
• Especialização e Doutorado em Oftalmologia pela Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG, MG
• Professor Livre Docente da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Paraíba, UFPB, PB
Raphael Benchimol
• Diretor da Clínica de Olhos Benchimol, RJ
• Ex­Presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia, SBO, RJ
Ricardo Uras
• Professor Adjunto no Departamento de Oftalmologia da Universidade Federal de São Paulo, Escola Paulista de
Medicina, UNIFESP­PM, SP
• Responsável pelo Setor de Refração e Lente de Contato da Universidade Federal de São Paulo, Escola Paulista de
Medicina, UNIFESP­PM, SP
Roberto Abdalla Moura
• Fellow do American College of Surgeons, EUA
• Membro do Hospital de Olhos de Minas Gerais, HOMG, MG
Santos Pedro Tanganelli
• Formado pela Universidade de Medicina de São Paulo, USP, SP
• Estágio em Lyon na França, como Assistente Estrangeiro, Fr
Sérgio Benchimol
• Diretor da Clínica de Olhos Benchimol, RJ
• Médico do Serviço de Oftalmologia do Hospital dos Servidores do Estado, HSE, RJ
Sérgio Fernandes
• Membro da Câmara Técnica de Oftalmologia do Conselho de Medicina do Rio de Janeiro, CMRJ, RJ
• Ex­Presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia, SBO, RJ
Valéria Gomes Homem
• Mestrando da Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, RJ
• Médica do Serviço de Oftalmologia do Hospital dos Servidores do Estado, HSE, RJ
• Médica da Clínica Aderbal Alves, RJ
“Pensar sem aprender nos torna ineficiente e
aprender sem pensar é um desastre.”
Confúcio
Com satisfação constatamos o grande progresso da oftalmologia brasileira, que atualmente encontra­se no mesmo
nível das praticadas em países mais desenvolvidos. Constatamos o desenvolvimento de modernos instrumentos para
diagnóstico e tratamento das enfermidades, entretanto, o exame de refração mais simples continua importante parao
diagnóstico  e  conquista  da  confiança  do  paciente.  Constitui­se  em  um  ato  médico,  importante  oportunidade  para  o
diagnóstico. Cabe ao médico  com paciência ajustar  o  cliente ao um  infortúnio,  evitando prognóstico pessimista,  que
apenas  desenvolve  neurose  de  angústia. Com o  entusiasmo  do manuseio  do  instrumental moderno,  lembramos  aos
jovens profissionais nos verdes anos, o conselho de Aristóteles: a missão do médico é curar, nem sempre, consolar
sempre.
Haverá de  chegar  um  tempo, mui  próximo em que a  falta  de  visão  só ocorrerá  em virtude de acidente  e  ninguém
nascerá portador com o signo do supremo infortúnio, da falta de visão.
Aderbal de Albuquerque Alves
Este livro é afetuosamente dedicado a minha esposa Maria D’Aparecida e filhos:
Albeni
Maria José
Aderbal Júnior
Marco Antônio
Luiz Filipe
Luiz Henrique
Para meus netos Bruno, Rafael, Pedro, João Victor, Hugo, Gabriela, Carolina, Marcela, Fernanda, Roberta,
Luiza, Gabriela e Manoela, e bisnetos Rafael, Filipe e  Izabela espero que possam viver em um mundo onde
seus nomes se liguem à bondade natural e espontânea.
Escrever de modo claro e preciso sobre “erros de refração” não é tarefa fácil.
No  correr  do  século  XIX  –  especialmente  na  sua  segunda  metade  –  é  que  começaram  a  surgir,  nos  livros  de
oftalmologia,  capítulos  que  focalizavam  os  erros  de  refração,  suas  manifestações  clínicas  e  sua  correção  com
características científicas. Até então, os óculos eram “escolhidos” sobre bases empíricas.
Cabe mencionar, como alicerce  fundamental para o conhecimento científico dos defeitos ópticos do olho, o notável
trabalho de Helmholtz Physiological Optics  (1856). Entretanto, o passo  importante para o exame prático dos erros de
refração  e  sua  correção  foi  dado  por Donders,  na  sua  publicação Ametropia  and  its  results  (1960),  logo  seguida  por
outros escritos do autor.
Em  nossa  época, W.  Stewart  Duke­Elder,  em  seu  excelente Text­Book  of Ophthalmology,  lembra  que  “fortunately
Donders was­self – admittedly – no mathematician and he wrote in clear and simple language, so that his book at once
became  popular”.  O  mestre  britânico  publicou  um  livro,  “The  Practice  of  Refraction”  (1   edição,  em  1928),  no  qual
procurou evitar uma apresentação matemática dos erros da refração e do modo de corrigi­los, lembrando que a arte da
refração não pode  ser  aprendida  pela  leitura  e  sim na  laboriosa  e  assídua prática  da  clínica. Os  livros  devem servir
como um guia.
Pois  é  isto  que,  de  modo  superlativo,  tem  realizado  Aderbal  de  Albuquerque  Alves.  Dedicado  a  ensinar
cotidianamente a técnica e a arte do exame e da correção dos erros da refração, conseguiu fazer transparente em um
livro a sua vivência clínica nesse importante campo da Oftalmologia.
No livro de Aderbal palpita a ação, a prática de cada dia que ele ensina – sempre com calor humano – aos internos,
aos residentes e a muitos médicos que vão a ele para se orientarem na semiótica apurada e na correção adequada dos
erros da refração.
Vem a lume, agora, uma nova edição de seu notável livro Refração. Esta edição poderia, simplesmente, reproduzir –
palavra  por  palavra  –  a  publicação  primeira,  pela  excelência  do  trabalho  já  feito.  Mas  o  Autor  quis  mais,  burilou
Capítulos,  acrescentou  outros  e  ampliou  dois  notáveis  (e  originais)  da  primeira  edição:  “Informações  Importantes”  e
“Perguntas e Respostas”.
Aderbal  de  Albuquerque  Alves  é  um  didata,  um  professor  nato.  Eu  o  vi  e  o  ouvi  no  livro  renovado...  e  voltei  a
aprender mais... e a recordar...
Este é um livro que honra as letras oftalmológicas brasileiras e que pode ser traduzido para outros idiomas.
Prof. Werther Duque Estrada
No  intuito  de  movimentar  e  projetar  nossas  aulas  ministradas  aos  residentes  e  estagiários,  promovemos  a
publicação deste livro.
Nasceu  o  desejo  de  transmitir  aos  jovens,  que  se  iniciam  na  Oftalmologia,  a  minha  parcela  de  experiência  em
refração.  Os  residentes  e  estagiários  participam  desta  obra  pelo  estímulo  que  sempre  me  emprestaram,  por  suas
constantes indagações e anseios, visando reparar algumas deficiências de sua formação científica.
Nos  capítulos  iniciais,  coordenamos  informações  sobre  óptica,  lentes  oftálmicas,  acomodação,  ametropias,
presbiopia e outras, para que possam prosseguir adquirindo conceitos básicos de real importância ao atendimento dos
capítulos  seguintes,  assim  como  conceitos  propositadamente  repetidos  para  que  fiquem  impregnados  na  mente
daqueles  que  se  agitam  nos  verdes  anos  e  possam  ajudá­los  a  se  tornar  grandes  profissionais  nos  dias  que  os
esperam.
Testes  objetivos  e  subjetivos  foram  abordados  de  maneira  singela.  A  retinoscopia  em  faixa  está  descrita  como
história em quadrinhos, onde desenhos substituem palavras.
Destacamos maior  ênfase  ao  estudo  subjetivo,  com auxílio  do  cilindro  cruzado e  sua  aplicação  para  determinar  a
existência do astigmatismo, do eixo, do valor cilíndrico, bem como para identificar o esférico e determinar a adição na
presbiopia.  Divulgamos  igualmente  a  determinação  do  astigmatismo  pelo  teste  do  dial,  de  modo  a  tornar  possível
alternativas,  na  ocasião  do  exame.  Estes  capítulos  consti­tuem­se  em  pré­requisito  para  o  principal  objetivo,  que  é
divulgar  um  método  de  exame,  a  correção  das  ametropias  e  distúrbios  da  motilidade  ocular  e,  finalmente,  para  a
análise da prescrição.
Nosso  pensamento  destina­se  a  promover  um  movimento  de  sugestões,  a  partir  dos  próprios  interessados,  e
propiciar conhecimentos suficientes, para que o exame de refração seja conduzido de maneira prática e precisa.
O que  realizamos é o  resultado do  trabalho e da  inteligência e um patrimônio de gigantes da ciência oftalmológica
como Helmholtz, Gullstrand, Donders, Snellen  e  tantos outros,  que nos  legaram conceitos que  são  válidos até hoje.
Vimos modernos refratores computadorizados baseados em idéias de Christopher Scheiner do século 17.
Recebemos a colaboração de ilustres colegas na elaboração de alguns Capítulos.
Agradecemos  ao  Sr.  José  Mattos,  redator  da  revista  HSE,  de  uma  humildade  que  comove,  mestre  da  língua
portuguesa, pela revisão dedicada da maioria dos Capítulos, às secretárias Ligia Pereira e Dayse Baroni, pela  imensa
boa vontade para datilografar e decifrar meus hieróglifos. Ao Sr. Nicolas Tselikas, sempre atento para não deixar que a
preocupação de lucro em sua empresa venha sobrepor­se ao empreendimento, por ter propiciado a revisão dos demais
Capítulos.
O AUTOR
1 – RELAÇÃO MÉDICO/PACIENTE
Aderbal de Albuquerque Alves
2 – INTRODUÇÃO – LUZ
Aderbal de Albuquerque Alves
3 – ENERGIA RADIANTE
Marco Antônio de Souza Alves
4 – INTRODUÇÃO À ÓPTICA
Aderbal de Albuquerque Alves
5 – ELEMENTOS DO SISTEMA ÓPTICO HUMANO
Demian Temponi 
Aderbal de Albuquerque Alves Junior
6 – CONSTRUÇÃO DE IMAGENS – LENTES ESFÉRICAS
Aderbal de Albuquerque Alves
7 – LENTES OFTÁLMICAS
Valéria Gomes Homem
8 – LENTES DE SEGURANÇA
Aderbal de Albuquerque Alves Junior Juliana Bohn de Albuquerque Alves
9 – ABERRAÇÕES DAS LENTES
Aderbal de Albuquerque Alves
10 – VERGÊNCIA
Aderbal de Albuquerque Alves
11 – PRISMAS
Aderbal de Albuquerque Alves
12 – AUMENTO DA IMAGEM – OFTALMOSCÓPIO DIRETO E INDIRETO
Aderbal de Albuquerque Alves
13 – REFRAÇÃO DO OLHO
Aderbal de Albuquerque Alves
14 – EMETROPIA E AMETROPIAS
Aderbal de Albuquerque Alves
15 – ACOMODAÇÃO
Aderbal de Albuquerque Alves
16 – CONVERGÊNCIA
Aderbal de Albuquerque Alves
17 – PRESBIOPIA
Aderbal de Albuquerque Alves
18 – ANISOMETROPIA
Aderbal de Albuquerque Alves
19 – AFACIA
Aderbal de Albuquerque Alves
20 – DISTÂNCIA­VÉRTICE
Aderbal de Albuquerque Alves
21 – ABERRAÇÕES ÓPTICAS E SUAS CARACTERIZAÇÕES
Harley E. A. Bicas
22 – LENTES ASFÉRICAS
A. Duarte
23 – ACUIDADE VISUALAderbal de Albuquerque Alves
24 – SENSIBILIDADE DE CONTRASTE
Henrique Packter
25 – BAIXA VISUAL
Aderbal de Albuquerque Alves
26 – A PRÁTICA DA RETINOSCOPIA À LUZ EM FAIXA
Aderbal de Albuquerque Alves
27 – CILINDRO CRUZADO E O CONOIDE
Aderbal de Albuquerque Alves
28 – TESTES SUBJETIVOS PARA ASTIGMATISMO
Aderbal de Albuquerque Alves
29 – TESTE BICROMÁTICO
Aderbal de Albuquerque Alves
30 – REFRAÇÃO AUTOMATIZADA
Raphael Benchimol
31 – MOTILIDADE OCULAR NORMAL
Edith Finkel
32 – FORIAS
Beatriz Simões Correa
33 – NOÇÕES DE VISÃO ESTEREOSCÓPICA
Osvaldo Travassos de Medeiros
34 – MÉTODOS DE EXAME
Aderbal de Albuquerque Alves
35 – CONSIDERAÇÕES SOBRE UM NOVO FORÔMETRO
Santos Pedro Tanganelli
36 – CORREÇÃO DAS AMETROPIAS
Aderbal de Albuquerque Alves
37 – REFRAÇÃO NAS ALTAS AMETROPIAS
Ricardo Uras
38 – CORREÇÃO ÓPTICA ÓCULOS × LENTES DE CONTATO
Fábio J. Zamboni
39 – REFRAÇÃO NO DIABETES
José Belmiro Castro Moreira
40 – CICLOPLEGIA
Aderbal de Albuquerque Alves
41 – REFRAÇÃO EM CRIANÇA
Aderbal de Albuquerque Alves
42 – LENSÔMETRO
Aderbal de Albuquerque Alves
43 – ESTÉTICA E CONFORTO DA VISÃO
Miguel Sadocco Giannini 
Marcos José Correia da Silva
44 – ANÁLISE DA PRESCRIÇÃO
Aderbal de Albuquerque Alves
45 – UTILIZAÇÃO DINÂMICA DA DISTÂNCIA ENTRE OS CENTROS ÓPTICOS
Aderbal de Albuquerque Alves
46 – ESTUDO DAS LENTES BI E TRIFOCAIS
Aderbal de Albuquerque Alves
47 – TRANSPOSIÇÃO DAS LENTES
Aderbal de Albuquerque Alves
48 – NOSSA EXPERIÊNCIA PESSOAL COM MULTIFOCAIS PROGRESSIVAS
Aderbal de Albuquerque Alves
49 – LENTES PROGRESSIVAS
Carlos Henrique Bessa Marcus V. A. Safady
50 – VERIFICAÇÃO DE ÓCULOS COM LENTES PROGRESSIVAS
A. Duarte
51 – LASER EM OFTALMOLOGIA
Celso Marra Pereira
52 – INSTRUMENTOS OFTALMOLÓGICOS
Mário dos Santos Motta
53 – CIRURGIA REFRATIVA
Sérgio Benchimol
54 – IMPLANTES INTRAOCULARES
Almir Ghiaroni
55 – LENTES DE CONTATO
Luiz Alberto Molina Sérgio Fernandes
56 – ILUMINAÇÃO
Juliana Bohn de Albuquerque Alves
57 – LENTES DE PROTEÇÃO OCULAR
Aderbal de Albuquerque Alves
58 – CEFALEIAS E O OLHO
Aderbal de Albuquerque Alves
59 – SENSO CROMÁTICO
Aderbal de Albuquerque Alves Luiz Filipe de Albuquerque Alves
60 – DISCROMATOPSIAS
Aderbal de Albuquerque Alves Luiz Filipe de Albuquerque Alves
61 – VISÃO SUBNORMAL
Luiza Fernandes
62 – EXAME DO PACIENTE COM VISÃO SUBNORMAL
Juliana Bohn de Albuquerque Alves
63 – COMPUTADORES E VISÃO
Aderbal de Albuquerque Alves
64 – ALTERAÇÕES REFRACIONAIS APÓS AS CIRURGIAS DE INTROFLEXÃO ESCLERAL
Roberto Abdalla Moura Edmundo Soares
65 – PROBLEMAS REFRACIONAIS RELACIONADOS COM A IDADE
Ricardo Uras
66 – INFLUÊNCIAS SISTÊMICAS SOBRE A ÓPTICA DO OLHO
Aderbal de Albuquerque Alves
67 – ANÁLISE DE FRENTES DE ONDA
Marco Antônio de Souza Alves
68 – EXAME DE REFRAÇÃO: ATO MÉDICO
69 – CAUSAS DA PERDA VISUAL
70 – INFORMAÇÕES IMPORTANTES
Aderbal de Albuquerque Alves
71 – CURIOSIDADES EM REFRAÇÃO
Newton Kara­José
Andrea Cotait Kara­José
72 – PERGUNTAS E RESPOSTAS
Aderbal de Albuquerque Alves
APÊNDICE
ÍNDICE ALFABÉTICO
É preciso olhar o passado para entender a vida; porém, para viver, é necessário olhar o futuro.
Soren Kierkegaard, filósofo do século XIX
O  exame  de  refração  é  um  momento  inicial  importante  que  se  oferece  para  a  conquista  da  confiança  de  nosso
paciente. O médico deve ter a consciência disso para não desperdiçar esta oportunidade. Quem nos julga é um leigo,
receoso de cometer enganos nas informações solicitadas. Forma juízo crítico, apreciando as maneiras cavalheirescas
com as quais é recebido e a desenvoltura do médico ao realizar os testes rotineiros.
Quando o médico inverte a situação no teste de aferição e pede que as letras sejam observadas nos lados vermelho
e verde, enquanto altera o valor das lentes para hiper ou hipocorreção, o paciente demonstra surpresa e segurança, e
passa a informar o que vê com maior nitidez.
Nem  sempre  o  julgamento  é  correto,  porém  será  sempre  o  vínculo  da  sociedade  humana  e,  desse modo,  ele  vai
julgar a competência de seu médico.
Chega­se a uma fase da vida em que surge o desejo de dar conselhos e contar histórias. É com este espírito que
sentimos o impulso de sugerir aos colegas, que se encontram nos verdes anos da especialidade, a conduta ética e a
nossa parcela de experiência na arte de conquistar a confiança dos pacientes.
A confiança em seu médico representa 50% do êxito do tratamento.
O conceito da classe,  todavia, encontra­se desgastado por várias circunstâncias que cabem ser destacadas nesta
ocasião.
Persiste a importância e o mesmo respeito, quando consideramos, individualmente, a relação médico­paciente.
Destaca­se  o  efeito  benéfico  do  atendimento  com  atenção  carinhosa  e  paciência.  Um  simples  gesto,  um  olhar
diferente, uma mudança de semblante, representando preocupação, serão motivos para as mais diversas e exageradas
interpretações pelo paciente e até pela família que o assiste. Quaisquer que sejam as circunstâncias de trabalho, são
recomendados  a  mesma  atenção,  os  mesmos  cuidados  e  a  mesma  generosidade.  A  reação  ao  salário  iníquo  do
profissional que exerce sua atividade em órgão público não deve recair no paciente, igualmente vítima do descaso em
que  são  enfrentados  os  desafios  da  saúde  pública  brasileira.  Até mesmo  no  interesse  do  próprio médico,  que,  sem
dúvida, levará para sua atividade particular o hábito de praticar os mesmos desacertos. Um provérbio hindu nos ensina
que “a sujeira sai com o banho; o hábito não é tão fácil de tirar”.
Assim como do magistrado, do médico espera­se que represente dignidade, honestidade e competência.
A indumentária do magistrado é um símbolo da autoridade e da seriedade do ato de julgamento. O jaleco do médico
deve  representar  a  postura  do  respeito  e  da  consciência  do  ato  praticado.  Este  é  um  pré­requisito  para  um  bom,
respeitoso e confiante relacionamento.
Como acreditar no profissional mal vestido, com aspecto negligente? Em rápida digressão, procuramos lembrar que
os olhos são os mais  tenros de  todos os nossos órgãos, que nos  impelem para as ações mais nobres e corajosas.
Pelos olhos, manifestam­se os  receios,  o  terror,  a  desconfiança e a dúvida. Somente a  visão nítida das  coisas  fará
alcançar o pleno domínio de si mesmo.
A  virtude  essencial  de  nossa  especialidade  consiste  exatamente  em  preservar  a  visão,  evitar  a  cegueira  e  até
mesmo promover a sua cura.
Podemos afirmar que conquistamos, nesse particular, resultados surpreendentes.
Nos implantes intraoculares, restituímos ao paciente a mesma imagem que ele anteriormente se deslumbrava diante
da vida.
Extraordinários  avanços  acontecem  no  campo  cirúrgico,  consentindo  que  procedimentos  complexos  sejam
realizados sob anestesia local, em regime ambulatorial. No entanto, convém alertar que tais facilidades não reduzem a
responsabilidade do profissional quanto ao resultado alcançado.
Persistem, ainda que raramente, as possibilidades de complicações, sem que possam representar imperícia médica.
A simples consciência desta possibilidade é uma advertência para que sejam evitadas indicações cirúrgicas precoces
e, mais lamentavelmente, algumas desnecessárias.
A concepção visual é um fenômeno psicológico complexo.
Lancaster afirmava que a visão é metade ocular e metade cerebral.
Os órgãos sensoriais recebem os estímulos; todavia, as respostas envolvem o organismo como um todo.
O que vemos e como vemos depende do nosso estado físico e mental.
Desconhecemos  muito  a  respeito  dos  fatores  fisiológicos  e  psicológicos  que  contribuem  para  compensar  as
imperfeições  da  imagem  retiniana.  A  expressão  da  função  de  um  olho  dinâmico,  em  um  organismo  igualmente
dinâmico, não corresponde a uma medida fixa.
O importante é o estado psicológico do paciente; sentindo­se incapaz para ter saúde, vive doente.
Deparamo­nos  com  portadores  de  acentuada  restrição  de  sua  capacidade  visual  que  se  apresentam  satisfeitos  e
resistem às sugestõesde possíveis correções. Surpreende­nos a ausência de relação com o nível intelectual.
Convivemos com um cliente e amigo, desembargador, com visão de 20/200 para  longe, que afirmava  jocosamente
ter  visão  de  criança  para  longe, mesmo  quando  demonstrávamos  a  possibilidade  de  comparação  com  visão  20/20,
com lentes corretoras. E aquela embaixatriz míope de 3 D, que se recusava a usar correção.
Estes  fatos  levam­nos  a  concluir  que  não  pertence  ao  oftalmologista  a  atribuição  de  proferir  verdadeira  sentença
condenatória diante de casos que, mesmo comprometendo  irremediavelmente a visão, podem ser compensados pela
extraordinária capacidade de adaptação do ser humano.
As  realidades  subjetivas  tornam­se  realidades  objetivas  e  o  homem  identifica­se  com  as  coisas  com  as  quais
convive.
Em  nosso  país  ou  alhures,  são  inúmeros  os  casos  de  pacientes  condenados  pelo  seu  oftalmologista  à  cegueira
irremediável que conseguem superar o pessimismo deste profissional, vivendo o seu reduzido mundo visual, adaptado
à limitada capacidade laboral.
Em  certa  repartição  pública  conheci  um  funcionário  diligente,  sempre  escrevendo  e  lendo  processos  de  sua
atribuição.  Certa  vez,  procurou­me  para  um  exame  de  refração,  porque  estava  em  processo  de  aposentadoria.
Surpreso, constatei que este atento funcionário era portador de lesões maculares bilaterais. Dizia­me que o motivo da
aposentadoria era o fato de estar vendo demais. Temia ser envolvido pela ilicitude de colegas desonestos.
Contava meu  chefe,  já  falecido,  Dr.  Rui  Rolim,  cirurgião  primoroso  e  com  imensa  experiência  ao  lidar  com  seres
humanos,  que assistiu  certa  vez à  tragédia  vivida por  um glaucomatoso,  que procurou um serviço ambulatorial  para
periódica medida de sua pressão ocular e recebeu a sentença de um jovem e inexperiente colega que o condenava à
cegueira irremediável.
Desorientado,  jogou­se  de  encontro  ao  primeiro  ônibus.  Convivendo  com  seu  infortúnio,  fora­lhe  negado
abruptamente um espaço para que se ajustasse à ideia de que não há coisa mais triste e dolorosa do que ter olhos e
viver em plena escuridão.
Para  os  pacientes  do  Dr.  Duarte,  glaucoma  é  síndrome  de  hipertensão  ocular.  Desse  modo,  evita  a  neurose  de
angústia que acomete a maioria dos glaucomatosos.
Nossa conduta consiste em minimizar a  importância da enfermidade, destacando maior ênfase na necessidade de
não se descuidar do tratamento, para manter a visão na eficiência que hoje lhe serve. Aconselhamos, sobretudo, evitar
comentar  ser  portador  de  pressão  ocular  elevada.  Aparece  sempre  alguém  para  descrever  um  caso  de  cegueira
ocorrido por glaucoma, em parentes ou simples amigos.
Os órgãos recebem estímulos diferentes, como diferente é a resistência e o potencial da reação cerebral.
Lembramos de ilustrativo caso citado no livro Select Studies in Visual Optics, de Pascoal.
Borghild Dahl escreveu um livro, prefaciado pelo Prof. Benedict, chefe do Departamento de Oftalmologia da Clínica
Mayo, no qual conta uma experiência vivenciada com uma garota que se recusava a ser cega. Tinha visão monocular
de 4/60 (20/300), menos de 6/60 (20/200), com a qual era considerada legalmente cega.
Apoiada  por  sua  mãe,  afrontou  todos  os  obstáculos  impostos  por  aqueles  que  não  aceitavam  sua  decisão,
especialmente por determinado professor.
Ela recusava tratamento diferente ao de outras crianças, seguia o currículo regular. A  inteligência e a perseverança
superaram  o  terrível  obstáculo.  Foi  graduada  no High  School  College  e M.A  da  Universidade  Columbia.  Conseguiu
chegar ao título de Professora de Jornalismo e Literatura.
Como ironia do destino, o professor obstinado, impiedoso, continuava membro de um colégio, onde Miss Dahl era a
Diretora.
Helen Keller, deficiente visual, falava seis línguas e fundou mais de cem instituições para recuperação de deficientes
em todo o mundo. Atrás de todo esse colosso estava Miss Sulivan, sua preceptora.
Cumpre­nos  preservar  as  virtudes  do médico  brasileiro,  sensível  e  caloroso.  Prudente  ao  informar, minimizando  o
impacto  de notícias  graves,  para  que não  venha molestar  o  infortúnio  que  se abate  sobre o  paciente. Sensível  para
garantir  a  integridade  psicológica.  O  paciente  infeliz  é  um  desagregador.  A  solidariedade  humana  é  um  sentimento
universal, porém as manifestações exteriores adotam características diversas para cada povo.
A  verdade  não  deve  ser  ocultada,  para  não  comprometer  o  conceito  do  profissional.  O  que  defendemos  é  a
preocupação em preservar esperanças e omitir a ideia de cegueira. Evitar sofrimentos por antecipação de um fato que
pode não acontecer.
A cegueira irremediável manifesta­se por si mesma, dispensa que o médico a proclame.
As dúvidas que levam o especialista reconhecido saber à reflexão em casos difíceis não comprometem a confiança
de seus pacientes. Ao jovem, este direito é negado, suas indagações não seriam aceitas, atribuem falta de experiência
ou até mesmo incompetência.
Em  casos  semelhantes,  aconselhamos  firmar  um  diagnóstico  genérico,  provisório,  até  que  a  consulta  a  colegas
mais experientes possa dirimir suas dúvidas. A segunda consulta,  imprescindível, servirá para o diagnóstico e para a
orientação terapêutica definitiva.
É  um  dos  poucos  privilégios  da  idade  dizer  ao  paciente  que  desconhece,  naquele  momento,  a  razão  de  sua
enfermidade, sem que este ato venha comprometer o conceito já consagrado de competência do profissional. Além do
conhecimento da especialidade que abraçou, é o bom senso a maior qualificação do profissional.
Lidar  com  crianças  merece  uma  atenção  especial.  Na  primeira  consulta,  quando  não  se  sentem  tranquilas,
encontram­se grandes variações da acuidade visual. Com paciência, tudo se ajusta e as dificuldades desaparecem.
O  jovem  especialista  dispõe,  hoje,  de  imensas  oportunidades  de  adquirir  novos  conhecimentos  científicos.  As
modificações  de  novas  técnicas  sucedem­se  com  maior  frequência.  Diante  da  perplexidade  desses  avanços,  não
devemos olvidar procedimentos mais simples, já consagrados, sempre atentos para os horizontes morais da profissão.
O médico tem o dever sagrado de ser honesto. Por maiores que sejam suas dificuldades econômico­financeiras, não
são admissíveis indicações cirúrgicas ou tratamentos desnecessários.
Aqueles  que  assim  procedem,  não  podem  ser  comparados  nem  mesmo  com  assaltantes,  que  infestam  nossa
sociedade. Estes possuem uma qualidade que pode ser aproveitada: a coragem. Se recuperados, pela coragem, serão
eficientes na função de segurança ou vigia.
O oftalmologista desonesto é um ser desprezível, que  trai a confiança daqueles que  têm muita  luz na alma e não
podem ver a luz do dia.
Sem dúvida, levará seu beneficiário a um futuro muito triste e sem dignidade.
___________
* Experiência do Autor.
INTRODUÇÃO
A maior parte das informações que recebemos nos é transmitida pela visão. A visão é um fenômeno psicofísico pelo
qual o homem exerce o pleno domínio de si mesmo, e pode sentir­se senhor e dominador de sua própria criação. A luz
que  propicia  este  poder  ao  ser  humano  constitui­se  em  pequena  parcela  da  energia  radiante.  A  luz  visível  provoca
sensação visual pelo estímulo dos elementos sensoriais da retina. O olho atua como um seletor sensível a uma faixa
de 390 a 750 nm. Difere de outros seletores, porque, após uma  fração de segundos, processa­se a  regeneração dos
elementos retinianos, dificultando que tal sensação seja medida por unidade física.
VELOCIDADE DA LUZ
Galileu  talvez  tenha  sido  a  primeira  pessoa  a  tentar medir  a  velocidade  da  luz.  Sua  ideia  era muito  simples:  dois
homens, munidos de  lanternas, situaram­se em posições separadas por uma distância determinada. Um deles  ligava
sua lanterna e disparava um cronômetro. Quandoo segundo homem visse a luz da lanterna do outro, ele ligava por sua
vez a sua lanterna. Quando o primeiro homem via a luz proveniente da lanterna do segundo, ele travava o cronômetro.
Sabia­se,  então,  o  tempo  levado  pela  luz  para  percorrer  o  trajeto  de  ida  e  volta  e,  como  a  distância  era  conhecida,
podia­se obter  a  velocidade da  luz. Mas a  experiência  falhou,  devido à  rapidez  com que a  luz  se propaga. Em  todo
caso,  foi  o  ponto  de  partida  para  muitas  outras  experiências  mais  sofisticadas  que  se  seguiram  a  essa.  Roemer,
astrônomo dinamarquês, fez a primeira medida utilizando uma distância astronômica. O primeiro método de laboratório
para  a  medida  da  velocidade  da  luz  em  distância  terrestre  foi  feito  por  Fizeau  (1849).  Ele  usou  uma  grande  roda
denteada, girando rapidamente em frente a uma fonte brilhante. O feixe de  luz, emergente entre dois dentes,  ia a um
espelho distante,  voltava e era  focalizado na periferia  da  roda. É óbvio  que o método de Fizeau era uma adaptação
mecanizada do método proposto por Galileu.
Finalmente, por meio de cuidadosas experiências, chegou­se à conclusão de que a velocidade da luz é da ordem de
de 3 × 108 m/s, ou seja, 300.000 km/s.
NATUREZA DA LUZ
Os antigos tinham vários conhecimentos sobre a natureza da luz. Eles aprenderam a associar a luz ao calor, devido
à  relação solar e à  luz do  fogo. Conheciam a propagação  retilínea da  luz, bem como a  refração e a  reflexão entre a
água  e  o  ar.  Tentaram,  por  meio  de  várias  teorias,  explicar  o  que  era  realmente  a  luz.  Surgiu,  então,  a  teoria
corpuscular  da  luz,  sendo  seu  principal  arquiteto  Sir  Isaac  Newton.  Ele  imaginou  que  a  luz  fosse  constituída  de
pequenas partículas. Se em um quarto escuro  fizermos com que a  luz,  proveniente de uma  lâmpada, passe por um
pequeno orifício, observaremos  imediatamente que a  luz se propaga em  linha reta. Se  fizermos, agora, a  luz de uma
lâmpada  incidir sobre a superfície polida de um espelho, veremos que ela será refletida. É então razoável, à primeira
vista,  imaginar que a  luz seja constituída de pequenas partículas  luminosas. Mas essa  ideia, aparentemente correta,
não consegue explicar a luz de uma outra maneira, surgindo a chamada teoria ondulatória da luz. A noção básica, a ser
levada em conta quando se estuda a natureza da luz, é o fato de sua propagação ocorrer no espaço; já que as ondas
têm a propriedade de se propagar no espaço, tentou­se explicar a luz como sendo de natureza ondulatória. Esta teoria,
proposta pelo  físico holandês Cristian Huegens, em 1678, não  foi bem aceita na época devido ao grande prestígio e
influência  de  Newton.  Explicou  muitos  fenômenos,  mas  se  mostrou  também  incompleta.  Surgiram,  então,  novas  e
mais  complicadas  teorias,  das quais daremos apenas uma  ligeira explicação. Com a  teoria do eletromagnetismo, de
Maxwell, verificou­se a natureza eletromagnética da luz. Albert Einstein explicou o efeito fotoelétrico, baseado na teoria
do físico alemão Max Planck e surgiu a teoria quântica da luz.
Diante  de  tantas  teorias  para  explicar  a  natureza  da  luz,  pergunta­se: Qual  a  correta? Em qual  delas  acreditar? A
resposta atual a estas perguntas é a seguinte: as teorias completam­se entre si. Não nos resta outra alternativa senão
encarar  a  luz  como  algo  que  se manifesta  em  uma  oportunidade,  como  um  feixe,  em  particular,  e  como  ondas,  no
restante do tempo.
A verdadeira natureza da luz deixou de ser um conceito significativo, e devemos aceitar estas teorias, mesmo com
suas contradições, como as mais aproximadas, para que possamos obter uma completa descrição da luz.
Para finalizar, podemos lembrar o que foi dito por um físico alemão: “A luz é algo como um elefante que está sendo
examinado por dois cegos: um deles segura o elefante por uma perna e diz: o elefante é uma árvore; já o outro cego,
segurando o elefante pela tromba, tem opinião diferente: o elefante é uma cobra.”
CONCLUSÃO
Todos os fenômenos complexos, relacionados com a luz, são estudados em óptica, naquilo que interessa ao nosso
estudo  de  refração,  representados  por  feixes  e  raios  luminosos.  O  homem  moderno  encontra­se  psicologicamente
preparado para aceitar os mais surpreendentes e inacreditáveis avanços tecnológicos. Em tempos passados, qualquer
inovação  que  conflitasse  com  os  conceitos  estabelecidos,  era  sempre  recebida  com  desconfiança.  Oftalmologistas
londrinos,  ao  tomarem  contato  com  as  primeiras  lâmpadas  elétricas,  fizeram  uma  petição  solicitando  à  lei  que
impedisse a utilização destas, sem a devida proteção, temendo seus efeitos danosos. O conhecimento da recuperação
retiniana, quando estimulada por uma fonte luminosa, pode contribuir para o diagnóstico diferencial, entre problemas de
refração e algumas enfermidades oculares.
O teste do stress  luminoso, que passaremos a descrever, ajuda­nos a estabelecer o diagnóstico diferencial, entre a
redução visual resultante de ambliopia ou de lesão do nervo óptico, ou seja, defeito de condução de outras resultantes
de  lesões  do  epitélio  pigmentado  da  coriocapilar  ou  camadas  externas  da  retina.  No  olho  normal,  o  período  de
ofuscamento é curto e retorna entre 10 e 30 segundos. O teste pode ser conduzido da seguinte maneira:
1. marcar a acuidade visual em cada olho;
2. com o olho defeituoso ocluído, pede­se ao paciente para fixar um estímulo luminoso (lanterna) com seu olho
normal durante 10 segundos;
3. a luz é removida e, logo a seguir, solicita­se ao paciente que leia optótipos de visão 20/25 ou 20/30, tão cedo
quanto possível. Marca­se, então, o tempo de recuperação;
4. procede­se de maneira idêntica com olho que apresente redução visual, por exemplo 20/70;
5. a oclusão é removida e solicita­se ao paciente que leia optótipos de 20/80;
6. compara­se o período do olho normal com o do olho afetado.
Nas  enfermidades  do  nervo  óptico,  que  provocam  um  defeito  de  condução,  e  nas  ambliopias  ex­anopsia,  não  há
diferença  no  período  de  recuperação  entre  os  olhos.  Nos  edemas  retinianos,  retinopatia  central  serosa,  o  tempo  de
recuperação será muito prolongado, de 90 a 180 segundos, contrastando com 10 a 30 segundos do olho normal.
REFERÊNCIAS
1.   Kenneth N. Ogle, Phd. Optics. 2nd ed., 1961.
2.   HM Potts, M. D. PhD and contributors. The assessement of Visual Function, 1972.
3.   Michael Ference, JR. Harvey B. Lemon; Reginald, J. Stephenson. Curso de Física. Ondas (som e luz), traduzido pelo Prof. Goldemberg e cols.,
São Paulo: Edgard Blucher.
INTRODUÇÃO
O  estímulo  da  visão  é  produzido  pela  energia  eletromagnética,  absorvida  pelos  pigmentos  dos  fotorreceptores
retinianos.
Sendo a luz uma forma de energia radiante, é similar a outras formas de energia, como calor, eletricidade, raios X ou
ondas de rádio.
Assim,  terá  uma  ação  térmica  ou  fotoquímica  sobre  os  tecidos  oculares,  como  também  uma  ação  psicológica,
produzindo fadiga muscular quando a intensidade ultrapassa o limite da visão confortável.
O  total  do  espectro,  relacionado  com  o  estudo  oftalmológico,  é  geralmente  dividido  em  actínio,  constituído  pelos
raios ultravioleta, espectro visível e térmico ou infravermelho.
A  amplitude  de  comprimento  de  onda,  na  qual  o  olho  responde  opticamente,  corresponde  a  1/8  do  espectro
eletromagnético.
Considerando  o  efeito  dos  diversos  comprimentos  de  onda,  com  relação  ao  olho,  Morgan  dividiu  o  espectro  em
partes, conforme o comprimento (Fig. 1):
λ = comprimento de onda. É especificado em nanômetros (nm) = milimicra = 10­9 metros.
1. Ondas curtas UV = 200 a 290 nm.
2. Ondas médias UV = 290 a 320 nm.
3. Ondas longas UV = 320 a 390 nm.
4. Espectro visível = 390 a 760 nm.
5. Ondas curtas infravermelhas = 760 a 1.400 nm.
6. Ondas médias IV = 1.400 a 3.000 nm.
7. Ondas longas IV = 3.000 a 1 nm.
raios cósmicos 400   700 nm infravermelhoraios gama   radar
            raios X VISÍVEL hertzianas
                 ultravioleta   rádio
    TV
  LUZ curtas
A energia da radiação é diretamente proporcional à frequência e esta é inversamente proporcional ao comprimento de
onda. Desse modo, quanto menor o comprimento de onda, maior a energia no espectro eletromagnético.
A porção actínia do espectro  tem,  também, certo grau de efeito  térmico, assim como a porção  térmica, do mesmo
modo, possui certo efeito actínio. O prejuízo ao tecido depende da intensidade, do tempo de exposição ou de ambos.
ABSORÇÃO PELO OLHO
Raios Ultravioleta
Os raios ultravioleta são absorvidos pela córnea, no entanto, entre 295 e 350 milimicra, passam através da córnea e
são absorvidos pelo cristalino (na criança absorve até 310 nm e no adulto até 375 nm).
Com a formação da catarata, o nível de absorção sobe para 450 milimicra e, em casos avançados, mesmo o violeta
do espectro visível é absorvido a este nível.
Parte da irradiação ultravioleta pode atingir a retina.
Na  retina,  tanto  a  luz  visível  quanto  a  ultravioleta,  são  absorvidas  pelos  cromóforos  (fotorreceptores,  cones  e
bastonetes).
Raios Infravermelhos
Pequena parte é absorvida pela lágrima.
A  córnea  absorve  quase  toda  a  radiação  acima  de  1.500  e  parte  no  nível  de  1.000,  porém,  nada  abaixo  deste
comprimento de onda.
O  humor  aquoso,  com  as  mesmas  características  da  córnea,  absorve  cerca  de  20  a  30%  do  que  passou  pela
córnea.
No nível do cristalino, a maior absorção é pelo núcleo, que absorve cerca de 30%, enquanto a cápsula nada absorve,
e o córtex, pouco.
Cerca de 60% dos raios infravermelhos residuais são retidos pelo vítreo e apenas 3% atingem a retina.
Espectro Visível
A concentração da  irradiação  luminosa na  retina depende do  tamanho, da  intensidade, do  tempo da  iluminação da
fonte, do diâmetro pupilar e da imagem retiniana, estando relacionada com a emetropia, existente por acaso.
Há  quem  afirme  que  a  luz  vermelha  estimula  a  acomodação  e  a  azul  atua  como  um  fator  de  inibição  de
convergência.
Fig. 1 – Amplitude e comprimento de onda.
EFEITO DAS RADIAÇÕES SOBRE O OLHO
Ultravioleta
Efeito predominantemente fotoquímico – a molécula que absorvea energia radiante decompõe­se e reage produzindo
um outro produto químico. No espectro visível, causa a sensação da visão, e o ultravioleta tem efeito lesivo.
Presente na  luz  solar,  sobretudo em grandes altitudes, na  luz  refletida do mar ou da neve e em várias ocupações
industriais (p. ex., arco de solda). A neve reflete 85% de UV, comparada com a grama, que reflete 1 a 2%.
Os  raios  curtos  provocam  inflamações  na  conjuntiva  e  córnea  (fotoconjuntivite  e  fotoceratite),  enquanto  os  raios
longos são menos prejudiciais.
A  exposição  prolongada  ao  UV  leva  à  formação  de  pterígio  e  pinguécula,  que  é  mais  comum  em  pessoas  que
trabalham no sol, neve, depósitos de gelo, etc.
Cristalino  –  o  efeito  fotoquímico  cumulativo  resulta  em  maior  absorção  do  UV  e  luz  visível  pelos  cromóforos
cristalinianos,  que  aumentam  em  concentração  com  a  idade.  Isso  leva  à  opacificação  do  cristalino  (catarata
brunescente nuclear), que passa a funcionar como um filtro mais eficaz ao ultravioleta.
Segundo Duke Elder, os raios UV longos, são capazes de produzir o fenômeno de fluorescência (fotoluminescência)
cristaliniana, que é a absorção de uma energia com um determinado comprimento de onda e a  transmissão de outra
com maior comprimento de onda, que é menos lesivo.
Os afácicos perdem o filtro natural (cristalino), ampliam seu espectro visível e tornam­se mais suscetíveis a lesões
fototóxicas da radiação ultravioleta na retina.
Retina – o efeito cumulativo da radiação incidindo na retina, junto com os baixos níveis de fotorreceptores e epitélio
pigmentar, comuns na idade avançada, levam a uma lesão retiniana com rarefação do epitélio pigmentar e com pouca
capacidade de regeneração.
Os  instrumentos  oftálmicos  (oftalmoscópio  indireto,  microscópio,  iluminador  de  cirurgia  vítrea),  são  capazes  de
causar lesão retiniana, segundo alguns autores, pelo efeito térmico da radiação infravermelha, e, segundo outros, pela
luz visível e o infravermelho atuando como sinergista.
Os pseudofácicos e afácicos devem usar óculos com filtros UV. Esta proteção, para ser realmente efetiva, tem que
absorver pelo menos 99% da radiação UV (300 a 400 nm) e 50 a 75% das ondas curtas de luz visível (400 a 475 nm).
Infravermelhos
Efeito  predominantemente  térmico.  A  molécula  absorve  calor  e  sai  de  um  estado  de  repouso  para  um  de
excitamento. A volta ao estado de repouso acontece após a dissipação do calor pela colisão molecular.
Quanto  menor  o  comprimento  de  onda,  maior  a  agressividade  às  estruturas  oculares,  portanto,  a  radiação
infravermelha (lesiva na faixa de 780 a 2.000 nm) causa menos danos do que a luz visível e ultravioleta.
Em circunstâncias normais,  a exposição ao  infravermelho não causa efeitos  colaterais,  no entanto, a exposição a
altos  níveis  de  radiação  (tratamento  com Nd  Yag Laser  e  laser  CO2,  retinopatia  solar  e  xenônio)  produz  lesões  por
efeito  térmico  que  coagulam  as  proteínas  celulares  na  córnea  (opacificação),  íris­despigmentação  e  atrofia,  retina  e
coroide – queimadura necrótica (quando atinge a mácula causa metamorfopsia), lente­exfoliação de cápsula e catarata
(p. ex. catarata dos sopradores de vidro e trabalhadores em fornalhas).
Espectro Visível
A exposição a altos níveis de radiação do espectro visível pode causar lesão térmica (ondas de maior comprimento)
e lesão fotoquímica (ondas curtas no final do espectro visível).
À  luz  visível,  pode  também  provocar  desconforto,  astenopia  e  até  lesão  na  retina  e  no  cristalino,  desde  que  a
exposição  seja  demasiadamente  intensa  e  demorada.  O  desconforto  parece  estar  relacionado  com  a  atividade  do
músculo  ciliar  e  da  íris,  isso  porque  os  sintomas  desaparecem  com  cicloplegia.  Mesmo  quando  não  causa  uma
retinopatia, pode provocar um aumento no tempo de adaptação ao escuro.
ESPECTRO ÓPTICO
  Ultravioleta Luz visível Infravermelho  
(nm) 
Comp. de 
onda 100                400                760 1 mm
Mecanismo 
de 
interação 100
Predominante 
fotoquímico    
Predominante 
térmico
O olho humano está exposto a um amplo espectro de energia radiante, que produz efeitos benéficos, como o próprio
estímulo à visão, e também prejuízos ao órgão, por efeito fototópico e/ou fotoquímico.
O efeito  fotoquímico predomina no espectro ultravioleta e  também na região de curto comprimento de ondas da  luz
visível. O efeito térmico ou fotópico predomina na radiação com maior comprimento de onda.
Efeitos de Outras Radiações
As  radiações Hertzianas  e  as micro­ondas  são  utilizadas  em  radar,  diatermia  e  fornos  de micro­ondas.  Embora  a
exposição  a  essas  radiações  provoque  catarata  em  animais,  não  existem  provas  de  que  tenha  causado  lesões
cristalinianas  no  homem,  mesmo  quando  a  despeito  de  exposição  diária  em  período  de  anos.  A  microonda  causa
fricção molecular, daí resultando a produção de calor.
RAIOS X, RAIOS GAMA, RAIOS BETA
São  radiações  ionizantes  cataratogênicas  das  mais  importantes.  As  células  equatoriais  tornam­se  incapazes  de
sofrer  processo  de  diferenciação  para  a  formação  de  fibras.  Sofrem  migração  para  o  polo  posterior  e  produzem
opacificação  granular  típica  de  catarata  por  radiação  ionizante.  Com  maior  produção  destas  células  aberrantes,  a
opacidade  torna­se  densa,  ocupa  mais  a  região  subcapsular  e,  de  maneira  similar,  aparece  na  região  subcapsular
anterior.
Vacúolos  são  observados  entre  as  opacidades  granulares.  Têm  efeito  cumulativo  e  é  sabido  que  o  cristalino  em
desenvolvimento é mais sensível à radiação ionizante.
Há um período de latência para a formaçãode catarata, que pode ser de meses ou anos. Algumas pessoas, vítimas
da bomba de Hiroshima, desenvolveram catarata em pouco tempo, pela ação dos raios gama e dos nêutrons.
Raios Beta
Raios beta (elétrons), ordinariamente penetram apenas 2 mm. São necessárias grandes doses aplicadas em região
limbal para provocarem catarata.
RAIOS LASER
As fontes de luz são incoerentes. Emitem ondas de diversos comprimentos, com as mais variadas relações de fase.
Cientistas desenvolveram um método para a produção de ondas coerentes; inicialmente, na região de micro­ondas, e,
posteriormente, na região óptica. O laser (light amplification by stimulated emission of radiation)é a amplificação da luz
por emissão estimulada da radiação.
Em  um  laser,  a  luz  monocromática  é  produzida  por  excitação  dentro  de  uma  região  conhecida  como  cavidade
ressonante.
O laser pode ser feito de material sólido, líquido ou gasoso.
O primeiro  laser sólido construído foi com o cristal de rubi cercado por um tubo luminoso contendo xenônio ou outro
gás adequado. A ativação do  laser é chamada de bombeamento. No  laser de rubi, o bombeamento é feito com fótons
do tubo luminoso. Depois que um feixe luminoso parte do  laser, pode ser mais concentrado, ainda, por um dispositivo
de focalização.
Pode ser refletido da lua, como um radar, e fabricado com potência de vários milhões de Watts. Presta­se para cortar
metais e tem sido utilizado nas mais diversas funções.
O  calor  gerado  pelo  laser  é  capaz  de  produzir  queimaduras  na  retina,  mesmo  quando  antes  refletido  em  várias
superfícies da sala de exames.
MECANISMOS NATURAIS PROTETORES
Na infância, a córnea e o cristalino transmitem as radiações entre 300 a 400 nm, e a retina tem grande capacidade
de regeneração.
Com mais idade, o cristalino funciona como um filtro do UV e espectro curto da luz visível, protegendo a retina senil,
que tem pouca capacidade de regeneração.
O epitélio pigmentar denso da íris é opaco à passagem da luz visível, incluindo o espectro azul próximo ao UV. Essa
proteção é influenciada pelo diâmetro pupilar.
O pigmento amarelo (lúteo) da retina absorve a luz de baixo comprimento de onda.
OBS.: Se adicionarmos um filtro amarelo aos óculos, ele filtra toda a luz abaixo de 480 nm, sendo muito usado como
protetor pelos esquiadores de neve.
A camada de epitélio pigmentar da retina tem um importante papel no suporte metabólico das células fotorreceptoras
e no reparo da lesão por radiação de baixo comprimento de onda.
LIOs COM FILTRO UV
Diferente  do  cristalino  natural,  as  LIOs  de  polimetilmetacrilato  transmitem a  radiação UV e  o  espectro  azul  da  luz
visível capaz de causar todas as lesões já descritas.
Existe muita variação na qualidade das LIOs com filtro UV, sendo demonstrado o seguinte, no trabalho de Mainster
no American Journal de dezembro de 1986.
Porcentagem de w = 10% significa o maior comprimento de onda que a LIO é capaz de filtrar e deixar passar apenas
10% da radiação azul e ultravioleta.
Quanto maior, mais efetiva é a LIO.
Porcentagem de Ta 400 nm = porcentagem de transmissão a 400 nm. Quanto menor o valor, maior é a proteção.
Pode­se  notar  que  existe  uma  grande  disparidade  entre  as  LIOs  com  proteção  ultravioleta,  variando  de  excelente
(Copeland  e  IOLAB),  até  uma  lente  com  características  semelhantes  ao  polimetilmetacrilato  claro,  sem  filtro
(Surgidev).
Atualmente,  nos  Estados  Unidos,  mais  de  60%  dos  implantes  são  com  lente  com  filtro  UV.  Foi  demonstrado
angiograficamente que essas lentes diminuem o risco de edema cistoide no pós­operatório.
Sabe­se que os cromóforos (monômeros de metacrilato), que são responsáveis pela absorção do UV, são liberados
no  olho  sem  causar  reações,  porém  quando  se  faz  necessária  uma  capsulotomia  com Yag Laser,  a  lente  pode  ser
danificada, e essa liberação aumenta muito, causando ciclite e uveíte crônicas.
FABRICANTE TIPO COMP. DE ONDA% W = 10% TRANSMISSÃO % Ta 400 nm
CLASSIFICAÇÃO PELA
PROTEÇÃO
AMERICAN 
MEDICAL OPTICA
PC 15 LB 420 8,20 BOA
CILCO SK 21 LRU 388 71,00 RUIM
COBURN 68 UV 389 41,00 RUIM
COOPERVISION 823-01 388 73,00 RUIM
COPELAND MOD 5 405 0,87 ÓTIMA
INTERMEDICS U 37 Bc 378 85,00 RUIM
IOLAB U 7065 412 0,15 ÓTIMA
IOLAB U 70 SG 400 9,40 BOA
SURGIDEV 20-15 329 87,00 PÉSSIMA (igual à LIO sem
❡ltro UV)
REFERÊNCIAS
1.   David H. Sliney MS. Ultraviolet Radiation and the cataract patient. International Journal of cataract surgery, June, 1985.
2.   Pire A. Effect of sunlight of proteis of the lens. In Bellows J (ed.): Contemporary Ophthalmology. Baltimore: Willians & Wilkins, pp. 485­501, 1972.
3.   Lerman S. Lens fluorescence in aging and cataract formation. Doc Ophthalmol Proc, Series 8: 241­260, 1976.
4.   Lerman S. Borkman, RF. Photochemistry and lens aging. In von Hahn HP (ed.) Interdisciplinary Topics in Gerontology: Gerontological Aspects of
eye Research. Basel: S. Karger, Vol. 13, pp. 154­183, 1978.
5.   Yu NT, Kuck JFR, Askren CC. Red fluorescence in older and brunescent human lenses. Invest Ophthalmol Vis Sci, 18: 1278­1284, 1979.
6.   Mainster MA. Solar retinitis, photic maculopathy and the pseudophakie eye. J Am Intraocul Implant Soc, 4: 84­86, 1978.
7.   Mainster MA. Spectral transmittance of intraocular lenses and retinal demage from intense light sources. Am J Ophthalmol, 85: 167­170, 1978.
8.   Penner R, Mc Nair JN. Eclipse blindness. Am J Ophthalmol, 61: 1452­1457, 1966.
9.   Lerman S. Ultraviolet radiation protection. Clao J, 11: 39­45, 1985.
10. Ham WT, Mueller HA, Sliney DH. Retinal sensitivy to damage from short wavelenght light. Nature, 260: 153­155, 1977.
11. Mc Donald HR, Irvine AR. Light­induced maculopathy from the operating microscope in extracapsular cataract extraction and intraocular lens
implantation. Ophthalmology, 90: 945­951, 1983.
Para representar luz em propagação, utilizamos a noção de raio de luz.
Raio  de  luz  representa,  graficamente,  a  direção  e  o  sentido  da  propagação  da  luz.  Um  conjunto  de  raio  de  luz
constitui um feixe de luz, que pode ser convergente, divergente e paralelo (Fig. 1).
A óptica geométrica baseia­se na noção de raio de luz e em um número restrito de proposições básicas, conhecido
como  princípio  da  óptica  geométrica.  Esses  princípios  referem­se  à  propagação  retilínea,  à  independência  e  à
irreversibilidade dos raios de luz, à reflexão e à refração.
Propagação retilínea – Nos meios transparentes e homogêneos, a luz se propaga em linha reta.
Princípio da independência – Cada raio de luz se estende independentemente de qualquer outro.
Princípio da irreversibilidade – A forma do raio de luz independe do sentido de propagação da luz.
A física moderna contesta certos conceitos estabelecidos, como, por exemplo, a propagação retilínea da luz; porém,
para nossos estudos, podemos considerar os princípios corretos.
FENÔMENOS ÓPTICOS
Considere  um  raio  luminoso  incidindo  em  uma  interface,  separando  dois  meios  ópticos.  Para  uma  lente  no  ar,  a
interface é localizada na superfície da lente. No meio homogêneo, como ar, água, etc., a luz propaga­se em linha reta
e, ao incidir na interface, ocorrem simultaneamente, com maior ou menor intensidade, três fenômenos (Fig. 2):
Fig. 1 – Raios convergentes, divergentes e paralelos.
Fig. 2 – Reflexão, refração e absorção.
Reflexão
O raio, que  incide na superfície S, retorna ao meio  inicial. A reflexão depende da qualidade do meio óptico de cada
lado da superfície S e o raio luz. A reflexão pode ser:
Regular  – Quando o  feixe  de  raios  paralelos  incide  sobre  a  superfície  e  retorna  ao meio, mantendo o  paralelismo
(especular).  É  regular  o  fenômeno  predominante  quando  o  meio  é  opaco  e/ou  a  superfície  de  separação  é  polida.
Nestas condições, a superfície recebe o nome de superfície refletora ou espelho.
Difusa  – Quando  o  feixe  de  raios  paralelos  incide  sobre  a  superfície  e  retorna  ao meio,  perdendo  o  paralelismo eespalhando­se, em todas as direções, devido à irregularidade da superfície.
A reflexão difusa é responsável pela visão dos objetos que nos cercam.
Refração ou Transmissão
O  feixe  de  luz,  que  incide  na  superfície,  passa  a  se  propagar  no  meio  adjacente.  Ocorre,  mais  frequentemente,
quando a interface separa dois meios transparentes como o ar e a lente.
Absorção
O feixe de luz paralelo incide sobre a superfície, não retorna ao meio, nem se propaga.
Em um corpo negro, a absorção é total, enquanto o corpo branco reflete, difusamente, as luzes de todas as cores.
As cores dos corpos são determinadas pela luz refletida, difusamente, pelos mesmos. O azul, por exemplo, absorve
todos os componentes da luz branca e reflete, difusamente, a luz azul.
A superfície absorve energia luminosa, ocasionando seu aquecimento.
SUPERFÍCIE ÓPTICA
A  interface  entre  dois  meios  é  uma  superfície  óptica.  Caracteriza­se  pela  reflexão  e  refração.  A  absorção  é
geralmente insignificante.
A superfície óptica pode ser plana, esférica e asférica, com superfícies parabólicas ou tóricas.
A  função  da  superfície  óptica  é  transmissão  ou  reflexão  de maneira  ordenada,  e  concentração  de  raios,  para
formação da imagem.
Quando um feixe de raios paralelos  incide, perpendicularmente, sobre uma superfície óptica de faces paralelas, por
exemplo, um vidro crown,  ocorre  redução de  velocidade,  em  consequência  de maior  densidade  óptica  do  segundo
meio (Fig. 3). Se a  incidência sobre a mesma substância é oblíqua, além da redução de velocidade ocorre desvio ou
refração de raios. Outros fatores influem, como o ângulo de incidência e o comprimento de onda. Para estudar o índice
de refração, interessa a mudança de velocidade em relação ao AR (no vácuo, teoricamente).
ÍNDICE DE REFRAÇÃO
É a relação da velocidade da luz de um meio em relação a outro. Denomina­se absoluto quando referente ao vácuo,
e relativo, quando há diferença de velocidade em uma substância em relação a outra.
Fig. 3 – Superfícies paralelas. Redução de velocidade.
A substância A acelera ou retarda a velocidade da  luz em relação à substância B. Geralmente, o IR é determinado
para o comprimento de onda do amarelo­sódio, ou seja, ondas monocromáticas.
Os feixes luminosos são, em geral, policromáticos, constituídos de ondas de comprimentos mais diversos, que vão
de um limite a outro do espectro visível e, mesmo, além destes limites (Fig. 4).
Enquanto no vácuo a velocidade de propagação das ondas  luminosas é constante para  todos os comprimentos de
ondas, a velocidade de propagação em um meio material varia com o comprimento de onda. A  luz azul sofre desvio
maior, e a vermelha, desvio menor. Este efeito é desejável, em se tratando de prisma de dispersão e indesejável para
as lentes, porque é causa da perda de contorno das imagens. Alguma redução da aberração cromática pode ser obtida
pela utilização de dois tipos de vidros, com poder de dispersão diferente (Fig. 5).
Assim, concluímos que o índice de R de um meio é em função do comprimento de onda.
Conhecendo­se a velocidade da luz no ar e velocidade nos diversos meios materiais, determina­se o IR:
Exemplo: Velocidade da luz no ar é de 300.000 km/s.
Velocidade da luz na água é de 225.260 km/s.
Fig. 4 – Dispersão cromática.
Fig. 5 – Redução da aberração cromática. Dois tipos de vidros com poder de dispersão diferentes.
A propagação da  luz no ar  e no  vácuo é muito aproximada. O  índice de  refração absoluto no ar  é de 1,00029, de
modo que o índice de refração relativo do ar, para qualquer substância, é aceito como índice desta substância.
Se  o  IR  da  água  é  de  1,33  e  do  ar  é  1,  significa  que  a  velocidade  de  propagação  da  luz  no  ar  é  1;  portanto,  a
velocidade de propagação da luz no ar é 1,33 maior que na água ou que a velocidade de propagação na água é 3/4 da
velocidade no ar;
ÍNDICE DE REFRAÇÃO DE ALGUNS MEIOS
   
   
Humor aquoso 1,336
Humor vítreo 1,336
Lágrimas 1,416
Córnea 1,376
Filme lacrimal (dependendo do conteúdo mucoso) 1,33
Cristalino 1,386 a 1,406
Crown oftálmico 1,523
Crown com barium 1,616
Flint denso 1,616
Flint extradenso 1,690
Lentes plásticas CR­39 1,498
Lentes de alto índice;
High­lite 1,70
Hoya LHI 1,70
Hoya THI 1,806
Slimline 730 e 750 1,70
Slimline 825 1,804
 
Isto significa quantas vezes mais lenta a luz se propaga nestes meios em relação ao ar.
REFERÊNCIAS
1.   E. Gil Del Rio. Óptica Fisiológica Clínica. Refração. Barcelona: Toray, 1966.
2.   Charles J. Campell; Charles, J. Koester; M. Catharine Rittler; Robert B. Tackaberry. Physiological Optics. Medical Book Department – Maryland:
Harper/Row, 1974.
3.   Prado, Durval. Noções de óptica, refração ocular e adaptação de óculos, Rio de Janeiro: Atheneu, 1963.
4.   Duke Elder’s Practice of Refraction. Revised by David Abrams. 9th ed. London: Churchill Livingstone, 1978.
5.   Kenneth N. Ocle. PHD. Optics. 2nd ed., 1961.
6.   Ernest H. Chistman MD. A primer on Refraction, 1972.
7.   Os Fundamentos da Física. Termologia, geometria da luz e ondas. 2a ed., 1979.
A  visão  é  um  fenômeno  complexo,  sendo  o  olho  e  o  cérebro  humano  capazes  de  processarem  uma  quantidade
imensa  de  informações  de  uma  forma  extremamente  rápida.  Neste  processo,  temos  como  ponto  de  partida  a
necessidade de uma correta formação da imagem na retina e, para tal, é preciso que haja o perfeito equilíbrio entre os
diversos elementos estruturais do olho.
A relação entre as estruturas oculares responsáveis por gerar o poder refracional total do olho é harmônica nos olhos
emetropes. Sorsby et al.  (1962) concluiram em seu estudo que, mesmo em olhos emetropes, existem variações nos
poderes  de  refração  da  córnea  e  do  cristalino  (39­48D  e  16­24D,  respectivamente)  e,  também,  no  seu  comprimento
axial (22­26 mm). Nos olhos com ametropias variando entre ­4D e +6D, as mesmas variações são encontradas, porém
ocorre um desequilíbrio entre estes valores. Por  fim, olhos com erros refrativos maiores do que ­4D e +6D têm como
principal fator responsável as alterações de seu comprimento axial, sendo este muito curto em olhos hipermetropes e
muito longos nos míopes.1 Quando um olho possui um erro de refração, tendo o valor de seu comprimento axial dentro
da variação esperada para olhos emetropes e, no entanto, os parâmetros dos demais elementos  (córnea e cristalino)
fora  desta,  consideramos  como  sendo  uma  ametropia  de  natureza  refrativa.  Em  situação  inversa,  em  que  um
comprimento  axial  possui  valores  fora  do  esperado  e  seus  demais  elementos  estão  com valores  dentro  da  variação
prevista, consideramos como sendo uma ametropia de natureza axial.
O olho humano,  como um aparelho dióptrico,  possui  seus defeitos  fisiológicos. Todavia,  na prática,  estes defeitos
são minimizados graças às propriedades dos seus diversos componentes.
CÓRNEA
Em um olho normal a córnea é transparente e de formato convexo. Sua curvatura, mais acentuada no centro e mais
plana em sua periferia, a caracteriza como uma estrutura asférica. Tal característica propicia à córnea contrabalancear
os efeitos dos desvios naturais de um raio luminoso, que tendem a ser maiores quanto mais perifericamente penetram
em  uma  superfície  esférica  (aberração  esférica).  O  apla­namento  centro­periferia  da  córnea,  quando  quantificado,
recebe o nome de fator de asfericidade (ou fator Q) e possui, em olhos normais, valor médio de ­0,25.2 O perfil ideal da
córnea deve sempre possuir este valor negativo. Quanto mais próximo de zero for este valor, menor é a diferença de
curvatura  entre  o  centro  e  a  periferia,  como  ocorre,  por  exemplo,  em  olhos  submetidos  à  cirurgia  fotoablativa  ou
ceratotomia radial para correção de miopia. Nestes últimos encontramos, por vezes, a inversão do fator de asfericidade
para  um  valor  positivo  levando  a  um  aumento  das  aberrações  e  consequente  piora  da  visão.  Em  situação  oposta,
como é o casode córneas com ceratocone, a diferença de curvatura centro­periferia é maior, determinando ao fator de
asfericidade valores ainda mais negativos.
O diâmetro horizontal médio de uma córnea de um adulto é de 11,5­12 mm, sendo o seu diâmetro vertical mais curto
em, aproximadamente, 1 mm e apresenta seu raio de curvatura medindo em média de 7,5­8 mm em sua face anterior e
6,5 mm em sua face posterior.3,4 Quando os raios de curvatura da superfície corneana possuem diferentes valores em
seus diferentes meridianos forma­se o astigmatismo.
Apesar de ser destinada a permitir que a totalidade da  luz que alcance sua superfície possa atravessá­la, a córnea
normal reflete, através de sua superfície anterior, aproximadamente, 2,5% da luz incidente. É este o fenômeno que nos
permite  observar  as  imagens  de  objetos  quando  colocados  em  frente  à  córnea  e  é  nele  que  se  baseiam  muitos
instrumentos utilizados para o estudo das alterações morfológicas da superfície corneana como os astigmatismos e as
ectasias. São os reflexos dos discos de Plácido na córnea que funcionam como base para a análise executada pelos
topógrafos  corneanos  computadorizados  de  última  geração  (Fig. 1).  É,  ainda,  graças  ao  fenômeno  de  reflexão,  que
podemos estudar e reconhecer as estruturas íntimas dos tecidos oculares através da lâmpada de fenda, tais como as
camadas da córnea, partículas em suspensão no humor aquoso ou vítreo, entre outras.
Outro fenômeno óptico capaz de influenciar na qualidade da imagem formada na retina é a dispersão, que ocorre em
10% da luz que incide sobre a superfície corneana5 e tem, no estroma, o seu principal sítio de ocorrência.
Grande parte das modificações sofridas pelos raios luminosos ao atingirem a córnea ocorre devido ao fenômeno da
refração, sendo a própria córnea a estrutura ocular que possui o maior poder  refrativo do olho. Ela é  responsável por
aproximadamente  dois  terços  do  poder  total  em um olho  no  seu  estado  não  acomodado e  tem esta  fração  reduzida
durante  o  processo  de  acomodação,  onde  o  cristalino  passa  a  ter  sua  parcela  no  poder  refrativo  total  do  olho
aumentada.
O valor do poder dióptrico da córnea, considerando apenas sua porção central, assim como o de qualquer superfície
esférica, varia diretamente com a diferença dos  índices de refração dos meios que ela separa e  inversamente com o
comprimento do seu raio de curvatura, conforme demonstrado pela fórmula:
D – valor dióptrico investigado
n’ – índice de refração do meio mais refringente
n ­ índice de refração do meio menos refringente
R – raio de curvatura da superfície
Aplicadas  as  variáveis  pertinentes  à  fórmula  anterior  (índices  de  refração  do  aquoso  e  ar  e  raio  de  curvatura
corneano), conclui­se ter a córnea um poder refrativo de 43­43,50 dioptrias.
A  córnea  é  composta  por  cinco  camadas  (da mais  externa  para  a mais  interna):  epitélio, membrana  de  Bowman,
estroma, membrana de Descemet e endotélio. Cada uma destas camadas possui o seu próprio índice de refração, no
entanto, por ser o estroma a camada responsável por, aproximadamente, 90% da espessura total corneana6, é dele o
índice refrativo de grande dominância na córnea, sendo considerado de 1,376 (Tabela I).
Figs. 1 A­D – Reflexão da luz pela superfície anterior da córnea. O disco de Plácido (A) como base do funcionamento do topógrafo de córnea (B).
Reflexo em uma córnea normal (A) e com ceratocone (B). Disco de Plácido (C e D).
Tabela I – Índices de refração dos meios oculares
Lágrima 1,416
Córnea 1,376
Humor aquoso 1,336
Humor vítreo 1,336 1,386 (córtex)
Cristalino 1,406 (núcleo)
Anteriormente ao estroma corneano,  dois  componentes estão presentes,  porém não  têm  influência  significativa no
poder refrativo do olho. O primeiro deles é o filme lacrimal, composto pelas finas camadas oleosa, aquosa e mucosa.
Apesar de sua pequena importância refrativa, o filme lacrimal é essencial para que se tenha uma visão nítida, pois ele
realiza o processo de umidificação corneana e contribui para a  “correção” das  irregularidades presentes na superfície
epitelial. Um defeito existente neste componente do olho, portanto, pode gerar uma progressiva perda de transparência
da córnea e consequente redução da acuidade visual. O segundo componente em questão é o epitélio corneano que,
assim  como  o  filme  lacrimal,  é,  em  relação  ao  estroma  adjacente,  muito  delgado.  Por  esta  razão,  tanto  a  lágrima
quanto  o  epitélio  da  córnea,  mesmo  possuindo  índices  de  refração  maiores  do  que  o  do  estroma  (1,416  e  1,377,
respectivamente)  exercem  insignificante efeito  refrativo nos  raios  luminosos  incidentes. O mesmo princípio pode ser
aplicado  às  demais  camadas  corneanas  posteriores  ao  estroma  uma  vez  que  possuem  espessuras muito menores
quando comparadas a espessura do mesmo (Tabela II).
Tabela II – Espessuras (μ m) das camadas corneanas (Hogan et al., 1971)6
Filme lacrimal 4-7
Epitélio 50
Membrana de Bowman 8-14
Estroma 500
Membrana de Descemet 10-12
Endotélio 5
Total 580
Diversos autores divergem quanto aos resultados finais encontrados em seus respectivos estudos no que se refere
às mudanças na espessura corneana durante o processo de envelhecimento natural do olho. São descritos na literatura
casos  que  tiveram  evolução  tanto  para  um  aumento7  quanto  para  uma  diminuição8,  ou  ainda,  manutenção  da
espessura da córnea9  com o avanço da  idade. Em  relação à  transmitância  corneana,  nenhuma variação  significante
parece  ocorrer  ao  longo  da  vida10,  no  entanto,  ocorrem  mudanças  em  sua  curvatura.  Caracteristicamente,  há  um
aumento de sua curvatura, sendo mais intenso no meridiano horizontal.11
PUPILA
A íris possui uma importante função de regulação sobre quantidade de luz que penetra no interior do olho através dos
seus movimentos de contração e expansão, denominados miose e midríase, respectivamente. O tamanho da pupila é
determinado por dois músculos antagônicos:  o esfíncter pupilar  e o dilatador da pupila. O primeiro  fica  localizado na
borda  da  pupila,  possui  sua  inervação  realizada  pelas  fibras  parassimpáticas  do  nervo  oculomotor  e,  ao  se  contrair,
realiza a miose. O segundo, por sua vez, tem sua distribuição em aspecto radial do esfíncter pupilar ao corpo ciliar e,
por  receber  inervação  através  de  fibras  nervosas  de  origem  simpática,  realiza,  quando  estimulado,  a  midríase.  A
variação do diâmetro pupilar é um processo fisiológico que ocorre constantemente, de forma autônoma e possui  forte
relação com a  focalização correta da  imagem na  retina. Esta  relação com a acuidade visual  pode ser exemplificada
através da miose produzida ao focalizarmos a imagem de um objeto quando este é aproximado do olho.
As mudanças de diâmetro pupilar são capazes de exercer influência nos níveis de iluminação que atingem a retina,
na amplitude do  campo  visual  e  na qualidade da  imagem  final  formada. As pupilas  de maior  diâmetro,  por  exemplo,
possuem maior dano na qualidade da imagem formada por sofrerem maior influência das aberrações ópticas enquanto,
por outro  lado, pupilas pequenas  têm o  fenômeno da difração como fator  limitante para uma  imagem retiniana de boa
qualidade. Na maioria dos olhos um diâmetro pupilar  variando entre 2­2,5 mm é considerado como  ideal por  fornecer
um melhor equilíbrio entre estes dois fatores12­14 e por minimizar as aberrações periféricas provenientes do cristalino.15­
17
O principal fator de interferência no diâmetro da pupila é o nível de iluminação presente. Níveis de luz em elevação
determinam  uma  progressiva  redução  do  diâmetro  pupilar  ocorrendo  o  fenômeno  oposto  quando  estes  níveis  se
reduzem.  Uma  pupila  pode  ter  seu  diâmetro  de  1,5 mm  em  condições  de  iluminação muito  intensa  e  até  8 mm  no
escuro.18  O  diâmetro  da  pupila  e  a  amplitude  de  suas  variações  podem  sofrer  influências  de  diversos  fatores,tais
como a acomodação, com sua consequente miose, a idade que, ao avançar, reduz a amplitude da variação ocasionada
pelas diferenças nos níveis de iluminação19 e, ainda, fatores psicológicos e estados emocionais. Um estudo realizado
por Hess (1965) demonstrou que um indivíduo, quando estimulado a pensar em coisas prazerosas, tinha seu diâmetro
pupilar aumentado enquanto, por outro lado, estímulos opostos ocasionavam diminuição nesse diâmetro.20
CRISTALINO
O  cristalino  é  um  elemento  de  vital  função  na  óptica  do  olho  humano,  não  apenas  por  prover  um  terço  do  poder
refrativo  total, mas  também,  por  ser  responsável,  juntamente  com  sua  cápsula,  fibras  zonulares  e  corpo  ciliar,  pelo
processo  de  acomodação,  que  permite  ao  olho  focalizar  na  retina  objetos  em  diferentes  distâncias.  O  cristalino,
segundo  Helmholtz,  é  uma  lente  de  formato  biconvexo  em  sua  região  central  (nuclear)  envolta  por  duas  lentes
côncavo­convexas  em  sua  região  periférica  (cortical). Com o  avançar  da  idade,  ocorrem grandes mudanças  em  sua
conformação estrutural, biofísica e bioquímica.
Devido a sua complexa estrutura, onde a distribuição concêntrica das suas diversas camadas determina diferentes
densidades  entre  o  núcleo  e  o  córtex,  o  cristalino  tem  um  índice  de  refração  de  difícil  medição.  São  atribuídos,
portanto, valores diferentes para cada região, tendo o núcleo, devido a sua maior densidade, um maior índice (1,406) e
o córtex, menos denso, índice inferior (1,386). Esta característica é de grande vantagem no processo de formação da
imagem,  uma  vez  que  contribui  para  a  neutralização  das  aberrações  esféricas  geradas  na  passagem  dos  raios
luminosos pelas suas extremidades (Figs. 2 A e B). Tal vantagem torna­se ainda mais importante em situações onde o
diâmetro pupilar esteja aumentado, pois o bloqueio dos raios  luminosos periféricos, que na maior parte das situações
comuns do dia a dia é feito pela íris, está comprometido. O poder refrativo do cristalino em seu estado não acomodado
é considerado como, em média, de 21D.
Com o processo de envelhecimento, o cristalino sofre alterações em diversos aspectos. Quanto às suas alterações
dimensionais,  tem­se  ao  longo  da  vida  um  aumento  no  diâmetro  equatorial  que  pode  variar  em  até  5  mm  desde  o
nascimento  do  indivíduo  até  sua  juventude,  bem  como  um  aumento,  em menor  velocidade,  de  sua  espessura.  Ao
nascimento, a espessura cristaliniana é de 3,5­4 mm chegando a alcançar com o passar dos anos 4,74­5 mm.21,22 O
fenômeno de dispersão dos raios  luminosos que ocorre de forma crescente no processo de senescência do cristalino
tem  íntima  relação  com  este  aumento  de  espessura23  e  causa  significante  degradação  da  visão  por  levar  ao
borramento da imagem, glare e diminuição da sensibilidade ao contraste. Em relação à transmitância cristaliniana, esta
é progressivamente diminuída com o passar dos anos24 devido ao processo de opacificação natural que este sofre. O
cristalino  e  a  córnea  constituem­se  importantes  fatores  de  proteção  para  a  retina,  na medida  em  que  filtram  grande
parte das radiações ultravioletas (UV) potencialmente danosas a esta nobre estrutura. Particularmente, no cristalino a
absorção  dos  raios  UV  e  do  espectro  curto  da  luz  visível  aumenta  juntamente  com  o  seu  processo  natural  de
envelhecimento e esclerose nuclear.25 Sem o  cristalino,  os  indivíduos afácicos  tornam­se mais  suscetíveis a  lesões
fotoquímicas na retina, uma vez que perdem seu filtro natural.
Fig. 2 – Aberrações esféricas. A imagem, em B, evidencia um cristalino de peixe neutralizando as aberrações esféricas por apresentar diferentes
índices de refração. Em A, uma lente de vidro com suas aberrações. (Reproduzido de Fernald RD. Vision and behavior in an African Cichlid fish. Am
Sci. 1984;72:58–65).
Como mecanismo para aumentar seu poder de refração, o olho humano utiliza o fenômeno da acomodação. Durante
este processo, o cristalino sofre aumento de sua espessura central, aumento de sua curvatura, principalmente, em sua
superfície anterior e,  ao mesmo  tempo,  sofre discreto deslocamento no sentido da gravidade26,27  (Fig. 3). Ao  final,  a
acomodação  permite  que  os  objetos,  quando  aproximados  do  olho,  mantenham­se  em  foco  na  retina  permitindo  a
manutenção de uma visão nítida. A progressiva diminuição na capacidade do olho em exercer a acomodação com o
passar  dos  tempos  recebe  o  nome  de  presbiopia.  Na  maioria  das  pessoas  isso  começa  a  tornar­se  uma  realidade
quando estas atingem aproximadamente 40 anos de idade, momento em que os sintomas de dificuldade nas atividades
que exigem a  visão para perto  começam a aparecer. Alguns estudos demonstram haver  relação entre  as  diferenças
nas idades de aparecimento da presbiopia e a distribuição espacial global das populações acometidas, onde a latitude
e, principalmente, a  temperatura exercem  influência na época de  início do quadro. Foi demonstrado, nestes estudos,
um início mais precoce de presbiopia nos habitantes das regiões de maior proximidade com a linha do equador.28,29
Fig. 3 – Mudança no formato do cristalino durante o processo de acomodação. Composição de imagens captadas por ressonância magnética de alta
resolução. Acomodação à esq. de 0,1D e à dir. de 8,0D. (Reproduzido de Strenk S.A., Strenk L.M., Semmlow J.L., De­Marco J.K. Magnetic resonance
imaging study of the effects of age and accommodation on the human lens cross­sectional area. Invest Ophthalmol Vis Sci. 2004 Feb;45(2):539­45.
HUMOR AQUOSO E HUMOR VÍTREO
Tanto  o  humor  aquoso,  interpondo­se  entre  a  córnea  e  o  cristalino,  quanto  o  humor  vítreo,  interpondo­se  entre  o
cristalino e a retina, possuem seus índices de refração considerados iguais para ambos, com valor de 1,336. Boettner
e  Wolter  (1962)  demonstraram  em  seu  estudo  que  a  transmitância  destes  dois  componentes  parece  não  sofrer
mudanças com a  idade e que o  fenômeno de dispersão da  luz é de muito pouca  relevância no aquoso enquanto, no
vítreo, acontece de forma mais significativa.24
RETINA
Após os raios luminosos atingirem a retina tem­se o início do processo neurofisiológico da formação da visão com o
processamento  dos  estímulos  gerados.  O  processo  de  transformação  da  luz  em  sinal  elétrico  é  chamado  de
fototransdução.  A  luz  incidente  tem  o  seu  primeiro  contato  com  a  retina  na  sua  camada mais  interior,  a membrana
limitante  interna  (MLI).  No  entanto,  nem  toda  luz  incidente  nesta  camada  irá  exercer  o  estímulo  para  que  ocorra  a
formação da visão, uma vez que existem perdas durante seu  trajeto pelas camadas retinianas até os  fotorreceptores
(reflexão e absorção) e que nem toda luz final absorvida pelos fotorreceptores é transformada em estímulo elétrico30,31.
O fenômeno da fototransdução tem, na camada dos fotorreceptores, composta pelos cones e bastonetes, seu sítio de
atuação  e  tem,  nas  moléculas  dos  fotopigmentos  (opsinas)  presentes  nesta  camada  sua  base  bioquímica  de
funcionamento. As opsinas dos bastonetes (rodopsinas) possuem melhor absorção da luz no comprimento de onda de
500  nm  (azul­verde),  enquanto  as  opsinas  dos  cones  possuem  diferentes  picos  de  absorbância  máxima  dentro  do
espectro eletromagnético (azul, verde e amarelo). A percepção da visão de cores consiste, de  forma simplificada, no
resultado dos estímulos em combinação destes pigmentos.32
REFERÊNCIAS
1.   Sorsby A, Leary GA, Richards MJ. Correlation ametropia and component ametropia. Vision Res. 1962;2:309­13.
2.   Miller D, Schor P, Magnante P.: Optics of the Normal Eye. In: Yanoff M., Duker J.S., ed. Ophthalmology.3rd ed. St. Louis: 
Mosby, 2009: 52­60.
3.   Rufer F, Schroder A, Erb C.: White­to­white corneal diameter: normal values in healthy humans obtained with the Orbscan II topography system.
Cornea. 2005; 24:259­261.
4.

Continue navegando