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TÓPICOS ESPECIAIS EM ENGENHARIA DA PRODUÇÃO AULA 6 Prof. Roberto Pansonato 2 CONVERSA INICIAL Caros alunos, esta aula terá como pano de fundo os tópicos em gestão. No entanto, gestão é um termo genérico que pode ser utilizado em várias áreas do conhecimento. Em engenharia, por exemplo, esse termo pode ser empregado na Gestão do Produto, na Gestão da Inovação e na Gestão da Manutenção. Essas três áreas do conhecimento serão tratadas nesta aula. Antes de iniciarmos, vamos utilizar uma definição de gestão que acredito estar bem adaptada aos dias de hoje. Conforme Pavani e Scucuglia (2011, p. 36), gestão pode ser considerada como “ação” ou “omissão” relativa à interferência humana nos processos de uma organização com vistas ao alcance de objetivos ainda não conquistados, ou reversão de tendências negativas observadas por métricas previamente estabelecidas e disponíveis aos tomadores de decisão. Portanto, a interferência humana é primordial nesse contexto. Como intervir, porém, de forma eficaz? Será que uma metodologia de gestão pode ser utilizada em qualquer área de conhecimento? Via de regra não, e é esse aspecto que abordaremos nesta aula, mostrando as diferentes técnicas para gerir diferentes áreas de atuação de um engenheiro de produção. Tal como as demais aulas, faremos uso de um caso de ensino para ilustrar os tópicos em gestão de forma prática. Ernesto era um engenheiro de produção experiente que já ocupava um cargo de gerente em uma grande empresa. Atuando há algum tempo como gerente de manutenção, já conhecia a maioria das técnicas de gestão da área, o que após alguns anos na função lhe proporcionava um certo conforto na condução de seu trabalho. No entanto, como área de conforto em uma empresa competitiva nos dias de hoje é objetivo raro, essa condição de comodidade logo foi quebrada. Em um belo dia, um dos diretores da empresa chamou Ernesto à sua sala e comunicou que daquele dia em diante ele assumiria a área de Gestão de Projetos e além disso, em função da necessidade da empresa em competir em novos mercados, ele assumiria uma nova área da empresa denominada Gestão da Inovação e Tecnologia. Como sempre ocorre com qualquer ser humano quando tem de enfrentar algo novo, Ernesto a princípio sentiu que talvez não tivesse capacidade para assumir esses novos desafios. Mas nada como relembrar os fundamentos do tempo da faculdade para mostrar a si próprio de que ele era capaz. Então, vamos ajudar o gerente multitarefa Ernesto a atender às novas demandas que estavam por vir. Vejamos os temas desta aula: 3 • Fundamentos da Inovação; • Gestão de Pessoas com Foco em Inovação; • Gestão de Projetos; • Gestão da Manutenção: Preditiva; • Gestão da Manutenção: Indicadores. Apresentaremos tópicos de três áreas de gestão. Começaremos com a Gestão da Inovação e Tecnologia e Gestão de Projetos, as quais possuem uma visão mais focada no futuro, e finalizaremos com a Gestão de Manutenção, não menos importante, a qual, por meio de ações no presente, evita problemas no futuro que provavelmente iriam influenciar na competitividade da empresa. Vamos nessa! TEMA 1 – FUNDAMENTOS DA INOVAÇÃO Para o gerente Ernesto, ainda pairavam muitas dúvidas a respeito do que era inovação, tecnologia, técnica e ciência. Como ele deveria traçar os objetivos do novo departamento sob o seu comando? Para encontrar esse caminho, nada melhor do que conceituar os elementos acima mencionados. Vamos a eles. 1.1 Inovação Conforme a lei 10.973/2004 citada em Possolli (2012, p. 16), que trata especificamente de incentivos à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo, inovação é definida como “introdução de novidade ou aperfeiçoamento no ambiente produtivo ou social que resulte em novos produtos, processos ou serviços” (Brasil, 2004, art. 2º). Segundo Freeman (2002, p. 37), também citado em Possolli (2012, p. 16), dentro de um ambiente empresarial, inovação é o processo que inclui as atividades técnicas, concepção, desenvolvimento, gestão e que resulta na comercialização de novos (ou melhorados) produtos, ou na primeira utilização de novos (ou melhorados processos). Ainda segundo o mesmo autor, as inovações podem ser classificadas em dois ciclos: • Marginais (constantes): que consistem em simples melhorias da gama de produtos ou processos existentes. Dentro do chão de fábrica, seriam as chamadas melhorias contínuas, ou kaizen. Melhorias tais como a redução de tempos de atendimento, e o melhor aproveitamento da utilização de 4 matéria prima em função de uma alteração de processo são exemplos desse tipo de ciclo. • Radicais (intermitentes): podem ser cíclicas e inscrever-se na dinâmica de ciclos longos. Alguns exemplos seriam a criação do plástico, do computador e do telefone celular, ou seja, um grande progresso que ocorre de forma intermitente e causa um grande impacto à sociedade. 1.2 Tecnologia De acordo com o dicionário Michaelis, tecnologia é um “conjunto de processos, métodos, técnicas e ferramentas relativos à arte, indústria, educação etc.”. Ainda segundo o dicionário Michaelis, tecnologia é o “conhecimento técnico e científico e suas aplicações a um campo particular”. Em resumo, é a aplicação do conhecimento científico de modo a agregar valor a um produto ou serviço, portanto não há tecnologia se não houver pesquisa tecnológica, o que na prática não deixa de ser uma pesquisa científica. 1.3 Técnica Ligeiramente diferente da tecnologia, a técnica tem o seu foco em como fazer as coisas. Está ligado à destreza e habilidades especiais para se executar uma determinada atividade. Conforme o dicionário Michaelis, técnica é um “conjunto dos métodos e pormenores práticos essenciais à execução de uma arte ou profissão”, ou também como “o modo como algo é realizado; meio, método”. As organizações podem (e devem) ter suas técnicas para realizar suas atividades, no entanto, nem sempre essas técnicas estão ligadas à tecnologia. 1.4 Ciência É a representação pura da natureza. A ciência busca conhecer, explicar e prever o comportamento das coisas e objetos baseando-se em hipóteses, teorias, leis etc. A ciência suporta as inovações tecnológicas. O gerente Ernesto sabia que o conhecimento desses conceitos sustentaria o planejamento estratégico para o novo Departamento de Inovação e Tecnologia. Os fundamentos básicos sobre inovação foram de grande valia para tomada de decisão que Ernesto encontraria pela frente: • Incentivar a melhoria contínua ou focar na inovação de ciclo radical? 5 • Ou criar procedimentos para que os dois ciclos ocorram ao mesmo tempo? • Como fomentar projetos de inovação? • Como estabelecer uma equipe engajada e multiplicadora? • Como mobilizar as pessoas para participarem nesse processo? Por falar em ter uma equipe engajada e multiplicadora que mobilize as pessoas, vamos ao nosso próximo tema, que versa justamente sobre esse assunto. TEMA 2 – GESTÃO DE PESSOAS COM FOCO EM INOVAÇÃO Quando um profissional passa a atuar na Gestão de Equipes de Trabalho, a sua função técnica deixa de ser a prioridade (não que deixe de ser importante), focando-se mais fortemente nas habilidades pessoais no sentido de conseguir mobilizar e inspirar os recursos humanos a seguirem as estratégias da empresa. Mas como motivar as pessoas a serem criativas e inovadoras? Realmente, isso não é algo fácil de se conseguir, considerando que cada pessoa tem seus próprios anseios e aspirações dentro de uma organização. No entanto, criar um ambiente motivador já é um grande passo. Nesse aspecto, o gerente Ernesto já possuía bons resultados na equipe de manutenção, o que de certa forma facilitaria sua vida na condução de um departamento que, obrigatoriamente, precisa ser criativo. Mas o que vem a ser essa tal de criatividade? ConformeKneller (1978, p. 9), citado em Loures e Schlemm (2012, p. 38), criatividade é “um dos raros pontos de encontro da ciência com a arte”. Para o engenheiro de produção que tem uma formação fortemente baseada em aspectos técnicos, ou seja, aspectos objetivos, criar um ambiente motivador é uma ótima oportunidade de buscar o lado intuitivo, ou seja, dar vazão à criatividade. Obter a criatividade dos funcionários de forma plena não é tão simples em ambientes competitivos, onde há cobranças por resultados em períodos de tempos cada vez menores. Conforme Loures e Schlemm (2012, p. 44), é possível vislumbrar atividades no ambiente de trabalho fundadas em processos educativos formais e não formais, individuais e coletivos, que podem apoiar os fatores de criatividade e, em decorrência disso, estimular o processo criativo. A figura 1 apresenta algumas dicas para se chegar à criatividade. 6 Figura 1 – Esquema Conceitual de Criatividade Inteligência Habilidade sintética Cursos Seminários Mentoring Comunidades de prática Grupo de aprendizagem Tutoring C ria tiv id ad e Habilidade para persuadir Estilos mentais Excecutivo Legislativo Judiciário Personalidade Correr riscos Confiança em si mesmo Tolerância à ambiguidade Expressar novas ideias Perseverança Autoestima Motivação Gosta do que faz Reconhecimento e recompensa Conhecimento Acesso ao conhecimento Disposição para aprender Ambiente Favorecimento de novas ideias Encorajamento e suporte Avaliação do produto criativo Fonte: adaptado de Sternberg e Lubart, citados por Alencar; Fleith, 2003. Para interpretar o esquema acima, considere que a primeira coluna se refere aos seis fatores de criatividade. A segunda mostra as variáveis de cada fator. Por fim, na coluna em forma de flecha larga, estão os processos de aprendizagem que suportam os fatores de criatividade e suas variáveis, estimulando o processo criativo. Vale também ressaltar que, num processo criativo, via de regra, o caráter coletivo deve sobrepor ao caráter individual. Nesse sentido, Loures e Schlemm (2012, p. 47) citam que o domínio sobre um dado campo do conhecimento ou mesmo uma atividade está relacionado ao nível individual, mas também ao nível grupal e organizacional. Para se obter um ambiente criativo em que seja estimulada a geração de novas ideias, algumas ações para implantação de programas para geração de ideias podem ser realizadas, tais como: • Programas de Círculo de Controle da Qualidade (CCQ): uma equipe de colaboradores voluntariamente se reúne periodicamente para propor ações no sentido de melhorar a qualidade de um produto ou serviço; • Programas de planos de sugestões: os colaboradores são estimulados a participar por meio de uma compensação (financeira ou não); 7 • Formação de equipes de Análise do Valor (AV), Engenharia do Valor (EV) e Gerenciamento do Valor (GV): obtêm-se a excelência em termos de valor agregado para produto, serviços e sistemas. Os dois primeiros programas referem-se à inovação de ciclo constante, ou seja, às chamadas melhorias contínuas que alavancam a competitividade da empresa de forma gradual e contínua. Geralmente, o terceiro programa é utilizado quando se quer obter uma equipe que atue na inovação radical, utilizando-se de tecnologia de ponta para alavancar os produtos e serviços de uma empresa. De posse dos conhecimentos acima e após o entendimento de como utilizá-los de forma eficaz em função de análise realizada, Ernesto partiu para aplicação de alguns programas para melhoria contínua e inovação tecnológica. TEMA 3 – GESTÃO DE PROJETOS Ter programas para implementação de melhorias e inovação tecnológica dentro das empresas é uma grande iniciativa por parte dos gestores. No entanto, gostaria de salientar um problema crucial que muitas vezes acontece nas empresas: há iniciativa, porém, não há “acabativa”. Quando se discute sobre projetos de sucesso, seja na vida profissional ou pessoal, é comum ouvirmos a palavra iniciativa, que nada mais é do que a capacidade do ser humano em criar projetos e conceber novas ideias, sendo uma característica rara nos profissionais. Porém, tanto na vida pessoal como profissional, não é fácil identificar pessoas com iniciativa e “acabativa”. Mas o que vem a ser essa tal de “acabativa”? Trata-se de um neologismo que significa a capacidade que algumas pessoas possuem de terminar aquilo que iniciaram ou concluir o que outros começaram. É a capacidade de colocar em prática uma ideia e levá-la até o fim. Esse termo foi utilizado por Stephen Kanitz (Rh Portal, 2015) para ilustrar que a iniciativa, mesmo baseada em inovações, não proporcionará um projeto eficaz se não houver uma gestão eficaz no acompanhamento do projeto para se chegar ao objetivo final, ilustrado pelo termo “acabativa”. Os “acabativos” não se preocupam com o imenso tédio da repetição do dia a dia no acompanhamento de um projeto e não desanimam com as inúmeras frustrações da implantação. Nesse grupo, está a maioria dos executivos, empresários, administradores e engenheiros. 8 Pois bem, para o engenheiro Ernesto, muitas vezes o processo criativo era árduo e ele precisava ter em sua equipe colaboradores com esse perfil de iniciativa e criação. No entanto, nada disso adiantaria se não houvesse em sua equipe os chamados “acabativos”. Há um ditado chinês que diz: “Quem sabe e não faz, no fundo, não sabe”. A competência em gerir projetos de forma eficaz para alcançar os objetivos estratégicos das organizações é um diferencial importantíssimo entre os profissionais da área de engenharia. Bom, já que estamos falando sobre projetos, iremos, nesse tema, salientar um aspecto importante na Gestão de Projetos, que é o ciclo de vida de um projeto. É evidente que em apenas um tema de aula não seria possível abordar muitas características sobre essa área de conhecimento, mas vamos abordar alguns aspectos sobre o ciclo de vida de um projeto. Geralmente, se aborda o ciclo de vida de um produto, mas como nosso foco é gestão, vamos às fases que compõem esse ciclo de vida de um projeto. Segundo Carvalho Junior (2012, p. 106), de forma geral, os projetos possuem quatro fases, momentos ou desdobramentos distintos. Ressalva-se que em cada uma dessas fases ocorre uma transição sem que necessariamente aconteça o término efetivo da fase anterior para início da seguinte. A figura 2 descreve essa dinâmica. Figura 2 – Ciclo básico da vida de um projeto Fonte: Carvalho Junior, 2012, p. 107. 9 3.1 Conceito ou iniciação Nessa fase, acontece o momento criativo da equipe em função de uma necessidade ou oportunidade de negócio, por exemplo. É nesse momento que ocorrem os processos de melhoria contínua ou de inovação tecnológica. Nessa etapa, toda energia da equipe deve ser direcionada a criar algo que de certa forma atenda e/ou supere os anseios do cliente ou consumidor final. 3.2 Planejamento O planejamento é relativo à organização das ações necessárias para transformação de algo que ainda é subjetivo para um produto objetivo. Talvez seja uma das fases, se não a principal, em que é preciso ter a atenção redobrada no sentido de levantar todos os dados inerentes ao projeto que podem influenciar no andamento das atividades organizacionais (aspectos jurídicos e legais, recursos técnicos, financiamentos etc.). Nessa fase, deve ser definido quem será o gerente do projeto, a equipe responsável, bem como as metas referentes a escopo, custo e prazo para o projeto. Também nessa fase são criados esboços conceituais, desenhos, especificações técnicas e cronogramas de acompanhamento, os quais servirão para verificar se o direcionamento do projeto está atendendo aos objetivos traçados. 3.3 Implementação Também conhecida como execução, é a fase em que se consome a maioria dos recursos,tais quais tempo e financeiro. É durante essa fase que os técnicos e engenheiros executam a maioria dos testes para obtenção de protótipos e das primeiras amostras. Quando há a necessidade de investimentos, é nesse estágio que se executam os conhecidos “tryouts” (ou testes) de equipamentos. As possíveis correções devem acontecer nessa fase. 3.4 Conclusão Fase em que se entrega o produto ou serviço ao cliente ou consumidor final. É evidente que para cada tipo de projeto haverá condições diferentes para 10 seu encerramento. Para a finalização de um projeto de um edifício residencial, entre outros documentos, é necessário fornecer toda a documentação legal para as partes interessadas, tais como planta baixa, planta de situação e localização e projetos hidráulico e elétrico, por exemplo. Por outro lado, a indústria automotiva utiliza como base para desenvolvimento e conclusão do projeto do produto o manual do APQP (Planejamento Avançado da Qualidade do Produto), que é um método estruturado e estabelecido para garantir o atendimento do nível da qualidade nos prazos estipulados pelo cliente. Conforme Carvalho Junior (2012, p. 108), o gerente de projetos talentoso e prudente lança seu olhar sobre todas as fases com igual comprometimento e carinho, envolvendo e coordenando as equipes que trabalham nesses períodos. TEMA 4 – GESTÃO DA MANUTENÇÃO: PREDITIVA Como esta aula trata especificamente de gestão, vamos neste tópico discorrer sobre um dos métodos de se fazer manutenção, que é a preditiva. É muito comum dentro das empresas serem abordardadas as formas de manutenção corretiva e preventiva em detrimento da preditiva. O engenheiro Ernesto, que gerenciava o Setor de Manutenção da empresa, sabia muito bem que para conseguir atingir as metas do seu departamento tinha que, no mínimo, trabalhar em torno do tripé da manutenção corretiva, preventiva e preditiva. Para recapitularmos um pouco sobre esse assunto, vamos conceituar o que é a manutenção preditiva. Conforme Slack, Chambers e Johnston (2002, p. 636), citado por Seleme (2015 p. 46), manutenção preditiva tem o objetivo de realizar a manutenção somente quando as instalações necessitarem dela. Consiste em monitorar certos parâmetros de equipamentos por meio de dispositivos que permitam estabelecer o momento certo para a realização da manutenção. Para ilustrar melhor como funciona a manutenção preditiva, vamos utilizar um trecho de um estudo de caso apresentado no XXII Congresso Brasileiro de Manutenção (2007), intitulado “Aplicação de Diferentes Técnicas Preditivas em Planta de Alta Performance do Setor Automotivo”. O Departamento de Manutenção da empresa AutoPan (nome fictício) estava com muitos problemas em cumprir suas metas de custos devido à grande quantidade de horas extras aos finais de semana para manutenção preventiva de seus equipamentos. Por se tratar de uma empresa que utilizava 11 equipamentos com muita tecnologia embarcada, a complexidade da manutenção era evidente, o que consumia muitas horas de trabalho dos técnicos mecânicos e eletrônicos. Em função dos problemas acima apresentados, o gerente de manutenção, juntamente com sua equipe, definiu o objetivo principal da manutenção preditiva para a organização em questão: descrever a viabilidade técnica e econômica na aplicação de diferentes técnicas preditivas em máquinas e equipamentos da empresa. Via de regra, técnicas para apuração das condições de funcionamento de equipamentos com base na análise de dados coletados por meio de monitoramentos ou inspeções em campo é algo custoso para as empresas, portanto, nem sempre é viável utilizar-se dessa metodologia para todos os equipamentos. Com base nessa premissa, a equipe traçou um planejamento estratégico que propiciou os seguintes objetivos específicos: • Selecionar os equipamentos a serem monitorados, estabelecendo diferentes técnicas preditivas aplicadas a eles. • Avaliar, comparar e analisar custos e resultados da manutenção preditiva, bem como os parâmetros de monitoramento. • Descrever as dificuldades encontradas na implantação das técnicas preditivas, relatando as adaptações necessárias para atingir os objetivos. Definidos os objetivos acima, o próximo passo foi o de escolher as técnicas e equipamentos a serem utilizados para o monitoramento em função das características dos equipamentos. A priori, foram destacadas três técnicas preditivas: termografia, análise de vibração e análise de óleo. Termografia: Segundo a Thermotronics, empresa do ramo de inspeção termográfica, citado por Noris (2007, p. 24), a termografia é genericamente definida como a “técnica de sensoriamento remoto que possibilita a medição de temperaturas e a formação de imagens térmicas (termogramas) de um componente, equipamento ou processo, a partir da radiação infravermelha emitida pelos corpos”. No caso da empresa AutoPan, a análise termográfica apresentou ótimos resultados no monitoramento de partes elétricas dos equipamentos. A seguir, é possível verificar um dos exemplos de aplicação. 12 Figura 3 – Ação da termografia Fonte: Noris, 2007. Observe que a termografia consegue detectar ondas de calor que muitas vezes não é perceptível de outra forma. A foto do lado direito refere-se à mesma chave elétrica da foto do lado esquerdo. Análise de vibração: Segundo Mirshawka (1991, p.114), citado por Noris (2007, p. 27), todas as máquinas em funcionamento produzem vibrações. A deterioração do funcionamento traduz-se por uma modificação da “distribuição de energia vibratória”, tendo consequência o aumento do nível das vibrações. Como a maioria das máquinas possuem movimento rotativo, qualquer vibração em excesso indica que há problemas. Muitas vezes, esse problema pode ser sanado por meio do balanceamento dos eixos, tanto de forma externa por meio de equipamentos balanceadores como por sensores acoplados ao próprio eixo. O que se estabelece nessa aplicação é o quão permissível seria a vibração a qual o equipamento poderia apresentar durante o monitoramento. Os resultados obtidos graficamente pelo equipamento de monitoramento serão utilizados para tomada de decisão quanto à necessidade ou não de se intervir no equipamento. Abaixo, seguem alguns exemplos. Reparem que cada tipo de forma temporal direciona para algum exemplo de fenômeno gerador: 13 Quadro 1 – Diferentes tipos de vibrações e formas de representação Fonte: Material de treinamento Preditiva Sul, 2007, citado por Noris, 2007. Análise de óleo: Para se conseguir a eficácia na Gestão da Manutenção, um dos quesitos mais importante é a informação. Pois bem, a análise do óleo lubrificante é um dos “sensores” mais eficientes de um equipamento, principalmente através das informações obtidas pela análise nas partículas microscopias desprendidas no óleo. O óleo lubrificante dentro de um sistema tem a função de reduzir o atrito e o desgaste, refrigerar, limpar, proteger contra a corrosão e vedar. Segundo Mirshawka (1991, pg. 140), citado por Noris (2007, p. 37), os objetivos das análises de óleo são dois: economizar o lubrificante e dominar o defeito. Um dos indicadores de possíveis problemas após a análise do óleo é obtido por meio da ferrografia. De acordo com a Tribolab, laboratório de ferrografia, citado por M. Noris (2007, p. 39), a ferrografia pode ser definida como sendo uma técnica de manutenção preditiva para o monitoramento do desgaste 14 de máquinas por meio de amostras de lubrificante, óleo ou graxa, colhidas com a máquina em operação, em que são analisadas as partículas de desgaste (limalhas) e são determinados os tipos de problemas existentes e quais as providências que a equipe de manutenção deve tomar. Para fazer essa análise, pontos de coletas podem ser instalados no sistema reservatório-bomba-máquina, conforme Figura 4. Para esse tipode análise, deve-se evitar instalar pontos de coletas após o filtro. Figura 4 – Processo para coleta de amostragem Fonte: Tribolab, citado por Noris, 2007, p. 40). Os resultados alcançados pela empresa após a implementação da manutenção preventiva foram muito bons. Reduziu-se em torno de 65% as horas extras. Mesmo com os gastos com a implantação, houve uma redução substancial de custos. Para se ter uma ideia da dimensão dos gastos com a implantação, o valor investido não chegou a 10% do valor gasto anualmente com horas extras. Outro ganho expressivo foi em relação aos índices de disponibilidade dos equipamentos, que apresentaram crescimento em relação ao ano anterior ao da implantação, conforme Gráfico 1. As análises preditivas tiveram início em março de 2007. 15 Gráfico 1 – Disponibilidade (%) Fonte: Noris, 2007. O trabalho da manutenção tem impacto direto nos indicadores de outros departamentos de uma empresa, e por isso há a necessidade de se encontrar novas tecnologias para monitoramento de equipamentos para a manutenção preditiva. TEMA 5 – GESTÃO DA MANUTENÇÃO: INDICADORES De acordo com Costa Junior (2012, p. 131), a manutenção é uma área fundamental dentro de uma empresa, pois contribui para o alcance dos resultados dos processos produtivos. Portanto, como mencionado anteriormente, a eficiência e eficácia do Departamento de Manutenção irá influenciar diretamente outros departamentos, como o da Produção e o Departamento Comercial. O fato de não poder utilizar um determinado equipamento devido à falha de manutenção afetará a produção, que não conseguirá atender a demanda, e influenciará também o pessoal de vendas, que não terá a sua disposição produtos para atender aos clientes, resultando em uma receita menor e, consequentemente, em menores níveis de lucratividade. O gerente Ernesto, pela sua vivência na área de manutenção, já sabia da importância dos indicadores e de como mantê-los dentro dos patamares satisfatórios. Se o Departamento de Manutenção, porém, afeta diretamente os indicadores de outros departamentos, quais são os indicadores do Departamento de Manutenção que devem ser utilizados para que o gestor possa 16 direcionar as atividades no sentido de não influenciar negativamente na operação de uma empresa? Antes de entrarmos nos indicadores de manutenção, é importante que o gestor tenha conhecimento sobre como as falhas nos equipamentos podem influir tanto nos indicadores da manutenção quanto nos indicadores dos demais departamentos. Iniciamos esta aula dedicada à gestão com a Gestão da Inovação, passando pela Gestão de Projetos até chegar à Gestão da Manutenção. Novos projetos envolvem novos equipamentos, que precisam de uma gestão especial, o que muitas vezes tira o sono do responsável pela manutenção. Por mais que o projeto do processo e dos equipamentos seja robusto, no início da produção de um bem qualquer sempre haverá falhas nos equipamentos que muitas vezes não foram previstas no projeto. São as chamadas falhas de partida, que ocorrem quando se utiliza equipamentos pela primeira vez. Passada essa fase, há um período de acomodação, quando ocorrem as falhas aleatórias, ou seja, falhas consideradas normais de um equipamento. Por fim, começam a surgir as conhecidas falhas por desgaste, indicando a proximidade com o fim da vida útil do equipamento. O gráfico a seguir, muito comum na Gestão da Manutenção, conhecido como gráfico da “banheira”, ilustra muito bem como esse processo ocorre. Gráfico 2 – comportamento de falhas durante o ciclo de vida Fonte: Adaptado de Marins; Laugeni, 2005, p. 560, citado por Seleme, 2015, p. 96. Vale a pena ressaltar que, se com o passar do tempo o equipamento não alcançar uma acomodação, há algo errado com o projeto, que por sua vez deve ser corrigido. Conclui-se que o entendimento sobre esse gráfico auxilia o gestor da manutenção a elaborar suas metas de forma mais assertiva. 17 Bom, já que o gestor conhece o comportamento dos equipamentos, vamos agora explorar alguns indicadores de manutenção: MTBF, MTTR e Disponibilidade. MTBF: em inglês Mean Time Between Failures (tempo médio entre falhas), é um dos principais indicadores de desempenho de equipamentos e manutenção. Esse indicador é relativo à média de tempo entre falhas de um equipamento, portanto, quanto menor for esse índice, pior será a condição para operação, pois significa tempo curto entre falhas, o que impacta na utilização do equipamento. O MTBF é obtido conforme equação abaixo: 𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀 = tempo disponível para produção quantidade de falhas Vamos a um exemplo: Uma prensa automática trabalhou durante 16 horas por dia (disponíveis) e 22 dias por mês. Nesse período, ocorreram 4 falhas. 𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀 = 16 hs x 22 dias 04 falhas 𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀 = 88 ℎ𝑜𝑜𝑜𝑜𝑜𝑜𝑜𝑜 Portanto, isso significa que, para esse equipamento, acontece em média uma falha a cada 88 horas de trabalho. MTTR: em inglês Mean Time To Repair (tempo médio para reparo), refere- se à média de tempo que se utiliza para executar um reparo após a ocorrência de falha, por meio da seguinte equação: 𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀 = tempo total de reparo no período quantidade de falhas no período Vamos a um exemplo: Durante o período de um mês (22 dias), a prensa mostrada no exemplo anterior apresentou falhas que resultaram em 16 horas de reparo. Assumindo a mesma quantidade de falhas (04), temos o seguinte: 𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀 = 16 hs 04 falhas 𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀 = 04 ℎ𝑜𝑜𝑜𝑜𝑜𝑜𝑜𝑜 Conclui-se que o tempo médio para se reparar uma falha desse equipamento é de 4 horas. 18 Esses indicadores já auxiliam bastante o gestor a gerar as suas metas de controle, e são úteis para calcular a disponibilidade do equipamento. Disponibilidade (D): corresponde ao tempo (geralmente em porcentagem) em que um equipamento está disponível para utilização, que no caso da manutenção, não está sob reparo. A obtenção da disponibilidade pode ser obtida por uma equação muito simples: 𝐷𝐷𝐷𝐷𝑜𝑜𝐷𝐷𝑜𝑜𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝑜𝑜𝐷𝐷𝐷𝐷 (𝐷𝐷) = MTBF MTBF+MTTR x100 Exemplo de aplicação: Utilizando-se dos dados anteriores, em que o tempo médio entre falhas (MTBF) é de 88 horas e o tempo médio para reparo (MTTR) é de 04 horas, temos o seguinte: 𝐷𝐷𝐷𝐷𝑜𝑜𝐷𝐷𝑜𝑜𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝑜𝑜𝐷𝐷𝐷𝐷 (𝐷𝐷) = 88 88 + 4 𝑥𝑥100 𝐷𝐷𝐷𝐷𝑜𝑜𝐷𝐷𝑜𝑜𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝑜𝑜𝐷𝐷𝐷𝐷 (𝐷𝐷) = 95,6 % Conforme resultado acima, a prensa automática, com relação a problemas de manutenção, está disponível 95,6% do tempo de trabalho. Segundo Costa (2012, p. 138), a Gestão da Manutenção pode fazer a diferença em uma organização principalmente quando há a necessidade de manter os equipamentos funcionando em ciclo contínuo. Portanto, prestar atenção especial à manutenção deve fazer parte do planejamento estratégico da empresa. FINALIZANDO Os Tópicos Especiais em Engenharia de Produção desta aula tiveram como essência a gestão em áreas ligadas diretamente ao profissional de Engenharia de Produção. Por meio de um caso de ensino sobre um engenheiro de produção que já exercia a função de gestor na área de manutenção, foi possível entender quais as competências que um profissional deve ter para gerir outras áreas. Começamos pela Gestão da Inovação. A partir desta aula você já pode assumir algumas responsabilidades no que tange a criar ambientes que promovam a criatividade e inovação, conforme visto nos Temas 1 e 2. Quantas vezes encontramos em nossas vidas, seja no campo pessoal ou profissional, pessoas que possuam iniciativa para iniciar excelentes projetos, 19 mas acabam não obtendo sucesso na implantação? Com as dicas desse tema, você já pode refletir melhor sobre como gerir projetos. Não adianta você ter uma Gestão da Inovação em que se obtém ideiasincríveis, que se transformam em excelentes projetos, se no momento de produzir não há nenhum planejamento estratégico que evidencie a participação da manutenção. Pois foi isso que vimos nos Temas 4 e 5, dedicados a exemplos práticos da manutenção preditiva e aos indicadores para manutenção. Esta disciplina teve como objetivo apresentar de forma prática alguns dos principais tópicos da Engenharia da Produção no cotidiano das empresas. Pela minha experiência de mais de 25 anos nessa área, tenho certeza de que, em algum momento da carreira como engenheiro de produção, vocês poderão confirmar o quanto esses tópicos, de alguma forma, foram úteis. Bons estudos! 20 REFERÊNCIAS CARVALHO JUNIOR, M. R. Gestão de Projetos: da academia à sociedade. Curitiba: InterSaberes, 2012. COSTA JUNIOR, E. L. Gestão de Processos Produtivos. Curitiba: InterSaberes, 2012. KANITZ, S. Iniciativa e Acabativa. RH Portal. 2 set. 2015. Disponível em: <https://www.rhportal.com.br/artigos-rh/iniciativa-e-acabativa/>. Acesso em: 13 abr. 2019. LOURES, R. C. R.; SCHLEMM, M. M. Inovação em Ambientes Organizacionais, teorias, reflexões e práticas. Curitiba: InterSaberes, 2012. MICHAELIS. Moderno Dicionário da Língua Portuguesa. Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php>. Acesso em: 11 abr. 2019. NORIS, M. R. Aplicação de diferentes técnicas preditivas em planta de alta performance do setor automotivo, apresentando sua viabilidade técnica e indicadores de custo. UTFPR 2007. Trabalho apresentado no XXII Congresso Brasileiro de Manutenção, 2007. POSSOLLY, G. E. Gestão da Inovação e do Conhecimento. Curitiba: InterSaberes, 2012. SELEME, R. Manutenção Industrial: mantendo a fábrica em funcionamento. Curitiba: InterSaberes, 2015. SLACK, N.; CHAMBERS, S.; JOHNSTON; R. Administração de Produção. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2002. https://www.rhportal.com.br/artigos-rh/iniciativa-e-acabativa/ CONVERSA INICIAL TEMA 1 – FUNDAMENTOS DA INOVAÇÃO TEMA 2 – GESTÃO DE PESSOAS COM FOCO EM INOVAÇÃO TEMA 3 – GESTÃO DE PROJETOS TEMA 4 – GESTÃO DA MANUTENÇÃO: PREDITIVA TEMA 5 – GESTÃO DA MANUTENÇÃO: INDICADORES FINALIZANDO
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