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1 Clara Azevedo Mediadores químicos no influxo nervoso Critérios de seleção: 1. Existência da substância nos neurónios em causa, sistemas de síntese e de inativação. 2. Libertação pela estimulação nervosa. 3. Semelhança de ações da substância e das ações da estimulação nervosa. Antagonismo destas ações pelos fármacos antagonistas do mediador. Condução nervosa Transmissão Nervosa Mensageiros 2ºs: AMPc, GMPc, Ca2+ Intervenção farmacológica As ações farmacológicas advêm da alteração da: ▪ Condução axonial ▪ Transmissão nervosa → Síntese, armazenamento, libertação ou inativação do mediador → Ativação de recetores ▪ Fenómenos intracelulares no órgão efetor Sistema Nervoso Periférico ▪ Sistema Nervoso Somático → Controlo voluntário consciente ▪ Sistema Nervoso Autónomo → Controlo involuntário das funções fisiológicas → Manutenção da homeostasia Este esta dividido em: → Sistema Nervoso Simpático (Luta e Fuga) → Sistema Nervoso Parassimpático (Repouso e Digestão) → Sistema Nervoso Entérico (neurónios dos plexos intramurais do trato GI, recebe estímulos do simpático e parassimpático, mas pode controlar as funções secretoras e motoras do intestino de forma independente) O SNA encontra-se em grande parte, fora do alcance voluntário e regula: ▪ Músculo liso visceral e vascular; ▪ Secreções exógenas e certas secreções endógenas; ▪ Frequência e força cardíaca; ▪ Metabolismo energético. Potencial de ação libertação dos neurotransmissores nos terminais nervosos Ação no órgão efetor 2 Clara Azevedo Sistema Nervoso Simpático ▪ Neurónios pré-glanglionares emergentes dos nervos espinais torácicos e lombares; ▪ Neurónios pré-ganglionares curtos; ▪ Neurónios pós-ganglionares longos. ▪ Gânglios localizados nas cadeias paravertebrais em cada um dos lados da medula espinal. Sistema Nervoso Parassimpático ▪ Neurónios pré-glanglionares emergentes dos nervos cranianos e das raízes espinais sacrais; ▪ Neurónios pré-ganglionares longos; ▪ Neurónios pós-ganglionares curtos. ▪ Gânglios muitas vezes localizados na própria parede do órgão efetor. Tipos de recetores – SNSimpático ▪ Nos gânglios encontram-se recetores nicotínicos (NN), recetores ligados a canais iónicos (Na+/K+), envolvidos na transmissão rápida do sinal; ▪ Nos órgãos efetores encontram-se recetores adrenérgicos α e β; ▪ Exceções: músculo liso vascular renal (recetor D1), glândulas sudoríparas (recetor M3) e supra-renal (recetor NN). Neurotransmissores - SNSimpático ▪ Dos neurónios pré-ganglionares liberta-se acetilcolina (Ach), sintetizada a partir da AcetilCo-A e da colina; ▪ Os neurónios pós-ganglionares liberta-se norepinefrina (noradrenalina); ▪ Exceções: neurónios que enervam o músculo liso vascular renal (libertam dopamina) e as glândulas sudoríparas (libertam Ach). Tipos de recetores – SNParassimático 3 Clara Azevedo ▪ Nos gânglios encontram-se recetores nicotínicos (NN), recetores ligados a canais iónicos (Na+/K+), envolvidos na transmissão rápida do sinal; ▪ Nos órgãos efectores encontram-se recetores muscarínicos. Neurotransmissores – SNParassimpático ▪ Dos neurónios pré- e pós-ganglionares liberta-se acetilcolina (Ach), sintetizada a partir da AcetilCo-A e da colina As 2 vias do SNA controlam as funções fisiológicas: Geralmente exercem ações opostas (gera equilíbrio): ▪ Parassimpático baixa frequência cardíaca ▪ Simpático aumenta a frequência cardíaca Exceção: Vasos, baço, glândulas sudoríparas praticamente só enervação simpática Parassimpático Simpático Principais efeitos do SNAutonomo Aumenta a salivação (ambos podem ativar ou inibir) 4 Clara Azevedo 5 Clara Azevedo Catecolaminas: Compostos que contêm um grupo catecol e uma cadeia lateral de amina ▪ Dopamina ▪ Noradrenalina (norepinefrina - NE) ▪ Adrenalina (epinefrina - Epi) ▪ Isoprenalina (isoproterenol - Iso) Síntese de catecolaminas ▪ A tirosina hidroxilase é seletiva para a tirosina e existe apenas nas células que contêm catecolaminas. A ação da enzima é inibida pela NE – o produto final regula a velocidade de síntese. ▪ A Feniletanolamina N- metiltransferase existe principalmente na medula supra- renal. Captação e degradação das catecolaminas ▪ Uptake 1 ou neuronal - recaptação activa da NE pela NET (norepinephrine transporter) para o interior do neurónio. Uma parte da NE é recaptada para as vesículas sináticas pela VMAT (vesicular monoamine transporter), outra é degradada pela MAO (monoamina oxidase). ▪ Uptake 2 ou extraneuronal - captação das catecolaminas para as células não neuronais, onde são degradadas pela COMT (catecol-Ometiltransferase). Mecanismo de terminações da ação da noradrenalina Recetores adrenérgicos ▪ Recetores α1 localização: Pós – sináptica A ativação dos recetores α1-adrenérgicos conduz à produção de IP3/DAG por ativação da fosfolipase C, aumentando a [Ca2+] intracelular, o que promove: 6 Clara Azevedo → Vasoconstrição → Midríase → Glicogenólise hepática → Relaxamento do músculo liso GI Afinidade: Noradrenalina> Adrenalina> Isoprenalina Agonistas: → Fenilefrina → Oximetazolina Uso Clínico: → Descongestionantes nasais e oculares Antagonistas → Prazosina → Tansulosina (α1A) Uso Clínico → Hipertensão arterial → Hipertrofia benigna da próstata ▪ Receptores α2 localização: Pré e Pós – sináptica A ativação dos receptores α2-adrenérgicos conduz à inibição da adenilato ciclase, diminuindo a produção de cAMP, o que promove: → Regulação negativa da neurotransmissão → Agregação plaquetária → Inibição da secreção de insulina → Vasoconstrição Afinidade: Adrenalina> Noradrenalina > Isoprenalina Agonista → Clonidina Uso Clínico → Hipertensão arterial → Abstinência aos opiáceos → Pressão intraocular Antagonista → Iombina Uso Clínico → Estimulante sexual masculino(?) ▪ Receptores β1 localização: Pós – sináptica Ao contrário dos receptores α2, a activação β conduz à activação da adenilato ciclase, aumentando a [cAMP] intracelular, o que promove: → Estimulação cardíaca → Aumento da frequência e força cardíaca → Relaxamento intestinal → Secreção amilase salivar Afinidade: Isoprenalina> Noradrenalina = Adrenalina Agonista → Dobutamina Uso Clínico → Choque cardiogénico Antagonistas → Propranolol (não selectivo) → Atenolol (cardioselectivo) → Timoptol Uso Clínico 7 Clara Azevedo → Hipertensão, arrítmias, ansiedade angina de peito, insuficiência cardíaca… → Glaucoma ▪ Receptores β2 localização: Pré e Pós – sináptica Por ativação dos receptores β2, o aumento a [cAMP] intracelular conduz a: → Vasodilatação → Broncodilatação → Regulação positiva da neurotransmissão → Glicogenólise hepática → Relaxamento GI, relaxamento uterino → Tremor Afinidade: Isoprenalina> Adrenalina> Noradrenalina Agonista → Salbutamol → Salmeterol Uso Clínico → Broncodilatadores na asma Antagonista → Propranolol → Butoxamina Uso Clínico → Sem aplicação clínica Transmissão adrenérgica A maioria dos fármacos atua diretamente sobre os recetores, mas existem outros com ação simpaticolítica ou simpaticomimética indireta. 1. Agonistas ou antagonistas adrenérgicos directos. 2. Tiramina provoca libertação rápida de NE. 3. Guanetidina inibe transmissão de NE por diversos mecanismos. 4. Reserpina bloqueia o transporte da NE para a vesícula. NE no citoplasma é degradada pela MAO. 5. Cocaína, anfetaminas, antidepressivos tricíclicos bloqueiam a recaptação neuronal de NE. 6. Inibidores da MAO (ex. moclobemida) impedem degradação NE.Aminas simpaticomiméticas de ação indireta ▪ Anfetamina ▪ Tiramina Libertação de Noradrenalina ▪ Efedrina ▪ Taquifilaxia ▪ Desenvolvimento de tolerância Características dos recetores adrenérgicos 8 Clara Azevedo Continuação SNAutónomo 2 neurónios em serie: 9 Clara Azevedo Neurónio pré-ganglionar Gânglio Neurónio pós-ganglionar Transmissão colinérgica - recetores ▪ Nicotínicos - encontram-se a nível central, ganglionar e muscular Estrutura pentamérica (5 subunidades – δ, ε, γ, β, α) que forma o canal iónico. Diferentes recetores têm diferentes subunidades, o que condiciona a afinidade dos ligandos. → Recetores musculares – junção neuromuscular esquelética (transmissão somática. → Recetores ganglionares – gânglios simpáticos e parassimpáticos. → Recetores centrais – disseminados pelo cérebro e heterogéneos quanto à estrutura e localização. ▪ Muscarínicos – dividem-se em 5 classes: → M1 – neurais Efeito excitatório no SNC e periférico, células parietais gástricas → M2 – cardíacos Efeito inibitório no coração, terminações pré-sinápticas centrais e periféricas → M3 – glandulares/musculares lisos Efeito excitatório da secreção glandular, contração do músculo liso visceral, vasodilatação (#NO) → M4 e M5 – no SNC, a sua função não é bem conhecida 10 Clara Azevedo Os principais efeitos do SNA 11 Clara Azevedo Sistema Nervoso Parassimpático Fases da transmissão química nos nervos colinérgicos Síntese (colina+ acetilcoenzima A – acetiltransferase/ATP) Armazenamento Vesículas (terminal nervoso) Libertação Exocitose (cálcio dependente) Ação sobre os recetores: → Nicotínicos → Muscarínicos Inativação Acetilcolinesterase Acetilcolina Pseudocolinesterase Butirilcolina ESQUEMAS: ▪ Colina a entrar para dentro da célula (neurônio) é transformada em acetilcolina ▪ Ao entrar o cálcio vai ser continuada a despolitização ▪ Na fenda vai ser degradada colina e dá acetilcolato ▪ Ao estimular os recetores muscarínicos M1 vai promover a estimulação da atenção Acetilcolinesterase O local ativo contém 2 pontos de fixação: ▪ Centro aniónico Promove ligações eletrostáticas ▪ Centro esteárico Promove ligações covalentes Inativação ACh - Colinesterases Acetilcolinesterase ▪ Livre: líquido cefalorraquidiano ▪ Ligada: membrana basal nas sinápses colinérgicas 12 Clara Azevedo membrana plasmática do eritrócito O efeito da acetilcolina é transitório porque é degradada rapidamente pela AchE. Hidrólise da Ach é muito rápida 2,7x108 moléculas Ach/ms/local activo Butirilcolinesterase (pseudocolinesterase) ▪ Livre no plasma, fígado, músculo liso gastrointestinal Diferentes formas de intervenção farmacológica ▪ Inibição da formação: Bloqueio da captação de colina hemicolínio ▪ Inibição do armazenamento: Vesamicol ▪ Estimulação da libertação: Carbacol, veneno da aranha viúva negra ▪ Inibição da libertação: Toxina Botulínica ▪ Inibição da destruição da ACH: Fisostigmina Transmissão colinérgica ▪ Recetores nicotínicos → Agonistas: nicotina, lobelina, suxametónio… → Antagonistas: tubocurarina, hexametónio, vecurónio… ▪ Recetores muscarínicos → Agonistas: muscarina, carbacol, betanecol, pilocarpina... → Antagonistas: atropina, hioscina (escopolamina), pirenzepina, ipratrópio, tropicamida… Ação dos parassimpaticomiméticos ▪ Sistema cardiovascular ▪ Vasodilatação (recetores muscarínicos nas paredes dos vasos) e diminuição da frequência cardíaca (Muscarina) ▪ Sistema gastrointestinal ▪ Aumento do tónus, amplitude das contrações e peristaltismo e secreções gastrointestinais ( Pilocarpina). ▪ Aparelho urinário ▪ Aumento do peristaltismo dos ureteres e estimulação do músculo detrusor, facilitando o esvaziamento da bexiga (betanecol e carbacol) ▪ Olhos ▪ Estimulam a glândula lacrimal e miose por contração do músculo radial da íris e diminuição da pressão intra- ocular por drenagem do humor aquoso (pilocarpina tópica provoca contração da pupila (miose) e espasmo de acomodação). INDICAÇÕES TERAPÊUTICAS ▪ Taquicardia paroxística: uso reduzido ▪ Paralisia do músculo liso intestinal e vias urinárias: betanecol ▪ Formas de glaucoma: aceclidina, carbacol, pilocarpina Inibição da Acetilcolinesterase 13 Clara Azevedo Reversível ▪ Fixação eletrostática ao centro aniónico, com hidrólise rápida anticolinesterásicos ação curta Ex: Edrofónio ▪ Fixação a ambos os centros, seguida de hidrólise lenta anticolinesterásicos duração média Ex: Fisostigmina, Neostigmina, Piridostigmina Irreversível ▪ Fixação covalente ao centro esteárico anticolinesterásicos irreversíveis Ex: Organofosforados (malatião, paratião) A enzima fosforilada inativa é muito estável. A recuperação da atividade depende da síntese de novas moléculas de enzima. Tratamento da intoxicação: pralidoxima, atropina, diazepam. Parassimpaticomiméticos indirectos Inibidores das colinesterases (verdadeira e pseudocolinesterase) Inibidores reversíveis ▪ Fisostigmina ▪ Neostigmina ▪ Edrofónio ▪ Benzipirínio ▪ Decamecário ▪ Ambemónio ▪ Scharadan Inibidores irreversíveis ▪ I - Fluorofosfato de diisopropilo ▪ Sarim, Mipafax ▪ II – Tobum ▪ Dipterex; Sistox ▪ III – Malatião, Paratião ▪ IV – Pirofosfato de tetraetilo ▪ V – Ecotiofato ▪ Efeitos sobrepostos aos parassimpaticomiméticos directos Parassimpaticolíticos Atropina e alcalóides relacionados atuam por mecanismo competitivo Ações farmacológicas: ▪ Sistema nervoso central → A atropina em doses tóxicas pode provocar: alucinações, desorientação, delírio → A escopolamina provoca depressão do SNC, com amnésia, fadiga e alterações do sono ▪ Olho → Provocam dilatação da pupila (midríase) e paralisia por acomodação. ▪ Sistema cardiovascular → Alteram a frequência cardíaca sem alterar a pressão sanguínea. Doses elevadas provocam aumento de frequência cardíaca por bloqueio de efeitos vagais (M2) no nódulo SA. ▪ Tubo digestivo → São usados como anti-espasmódicos nos transtornos intestinais e no tratamento da úlcera péptica. Reduzem a secreção glandular. 14 Clara Azevedo Compostos terciários ▪ Adifenina ▪ Ciclopentolato ▪ Pirenzepina ▪ Piperidolato ▪ Tropicamida ▪ Difemil ▪ Pipenzolato Compostos quaternários ▪ Ambutónio ▪ Butilescopolamina ▪ Ipatrópio ▪ Mepenzolato ▪ Diclomina ▪ Hematropina → Usados no tratamento da doença de Parkinson: Triexifenidilo; benzotropina; prociclidina; cicrimina; biperideno; etopropazina. Parassimpaticomiméticos diretos ▪ BetanecolUrecolina® ▪ Carbacol Isoptocarbacol® (oftálmico) Parassimpaticomiméticos indirectos ▪ Neostigmina Prostigmine® ▪ Piridostigmina Mestinon® ▪ Fisostigmina Eserocil® (uso oftálmico) Fármacos e utilização terapêutica Anticolinérgicos (parassimpaticoliticos) na terapêutica da asma e DPOC ▪ Ipratrópio(brometo) ▪ Tiotrópio (brometo) Os brometos de ipratrópio e de tiotrópio são análogos estruturais da atropina com reduzida absorção sistémica devido à sua estrutura de amónio quaternário. Usados por via inalatória. Recetores M3 ▪ Presentes nas células musculares lisas das vias aéreas, induzem broncoconstrição. Nas glândulas da árvore respiratória medeiam a secreção de muco. Brometo de Ipratrópio → Antagonista específico dos recetores muscarínicos. → Início de ação ≈ 1 a 2 horas → Duração de ação ≈ 4 - 6 horas 15 Clara Azevedo Brometo de Tiotrópio → Liga-se a todos os recetores muscarínicos com igual afinidade. → Dissocia-se dos recetores M1 e M3 mais lentamente do que dos recetores M2: M1 - t½ = 14,6h M2 - t½ = 3,6h M3 - t½ = 34,7h Comparativamente com o ipratrópio, o tiotrópio tem uma afinidade cerca de 10 vezes superior para os recetores muscarínicos e dissocia-se dos sub-tipos M1 e M3 cerca de 100 vezes mais lentamente. Maior duração de ação = Administração uma vez por dia. ▪ A broncodilatação não demonstra tolerância devido ao uso crónico de brometo de tiotrópio. ▪ A secura da boca é mais comum com o tiotrópio do que com o ipratrópio. ▪ À parte desta diferença, os perfis de segurança dos dois fármacos parecem ser semelhantes. São fármacos muito bem tolerados e praticamente desprovidos de efeitos sistémicos. Anticolinérgicos ▪ Asma Isoladamente, estes agentes não são praticamente usados na asma. A associação de ipratrópio com salbutamol em nebulização ou inaladores mostrou reduzir as taxas de hospitalização e melhorar a função respiratória decorrentes das exacerbações agudas de asma. ▪ DPOC (doença pulmonar obstrutiva crónica) O tiotrópio está indicado na terapêutica crónica de manutenção do broncospasmo associado à DPOC, incluindo bronquite crónica e enfisema. Também são úteis nos cenários agudos de DPOC, preferindo-se nestas situações o ipratrópio (menor tempo de latência), em associação com agonistas adrenérgicos β2. Estimulantes e depressores ganglionares Transmissão ganglionar vegetativa Nestes receptores, a nicotina mimetiza a ação da Ach, daí advindo o nome de recetores nicotínicos. São essenciais na transmissão ganglionar (responsáveis pela transmissão excitatória rápida). Em alguns gânglios vegetativos existem recetores muscarínicos M1, responsáveis por um potencial excitatório lento adjuvante. 16 Clara Azevedo Efeitos das substâncias bloqueadoras ganglionares (ganglioplégicos) Importância da Neurofarmacologia: ▪ Diagnóstico e Terapêutica de disfunções do SNC ▪ Prevenção e tratamento de intoxicações e uso de drogas de abuso Dificuldades no estudo e intervenção no SNC: ▪ Sistema fisiológico complexo ▪ Multiplicidade de transmissores ▪ Barreiras anatómicas ▪ Ética ▪ Sistema fisiológico complexo: Complexidade das interconexões neuronais inibitórias, excitatórias, modulação, retromodulação Função (dinâmica orgânica e funcionamento do próprio organismo) ≠ Comportamento (estado sociológico) Dopamina (doenças do fórum da esquizofrenia; movimentos) – Parkinson, esquizofrenia GABA (neurotransmissor que contrabalança com todos os outros) Ansiedade Propranolol (aumenta a capacidade de concentração, mas o nível tem de ser bem controlado) - memória 5-HT (neurotransmissor do bem-estar) – depressão, alucinações, enxaqueca 17 Clara Azevedo Sinalização química no SNC Neurotransmissão ≠ Neuromodulação Neurotransmissores 1. Existência da substância nos neurónios em causa, sistemas de síntese e de inativação. 2. Libertação pela estimulação nervosa. 3. Semelhança de ações da substância e das ações da estimulação nervosa. Produzem respostas excitatórias ou inibitórias rápidas nos neurónios pós-sinápticos. Neuromoduladores 1. Relacionam-se com a plasticidade sináptica – alterações na conexão neuronal provocadas por eventos a curto (exemplo: regulação pré-sináptica de neurotransmissores) ou a longo prazo (exemplo: regulação transcrição genética). 2. Produzidos por neurónios ou astrócitos. 3. Produzem respostas pré ou pós-sinápticas ± lentas. Podem ser: ▪ Intra-sinápticos (ex. adenosina, prostaglandinas) ▪ Extra-sinápticos (ex. esteróides, CO2) Alguns neuromoduladores são também chamados de Factores neurotróficos: 1. Regulam a morfologia, crescimento e função neuronal. 2. Têm ação lenta e prolongada. Exemplo: factores de crescimento Os mensageiros 2ºs do neurónio pós-sináptico (ex: AMPc, IP3, DAG) são também considerados neuromediadores. Por quem são produzidos estes mediadores? ▪ Neurónios ▪ Células gliais (10:1 neurónio) Astrócitos → Principais células não neuronais do SNC → Controlam o ambiente bioquímico do SNC → Expressam transportadores, receptores e secretam mediadores (ex. glutamato, f. crescimento, lípidos) → Relacionam-se com a condução nervosa 18 Clara Azevedo Acetilcolina (Ach) no SNC ▪ 1º neurotransmissor a ser identificado, primeiro a nível periférico e depois no SNC ▪ Distribui-se de forma heterogénea no SNC (cérebro e medula) ▪ 5 tipos de recetores muscarínicos (M1, M2, M3, M4 e M5). ▪ Os recetores nicotínicos são em menor quantidade e têm localização predominantemente pré-sinática. ▪ Envolvido na aprendizagem, memória a curto prazo e controlo motor. ▪ > 1970 - “Hipótese colinérgica”: Relação ↓ síntese Ach com Alzheimer Síntese da acetilcolina ▪ Colina a entrar na célula (neurônio) é transformada em acetilcolina ▪ Ao entrar o cálcio vai ser continuada a despolitização ▪ Na fenda vai ser degradada colina que dá acetilcolina ▪ Ao estimular os recetores muscarínicos M1 vai promover a estimulação da atenção. Catecolaminas no SNC ▪ Dopamina, Noradrenalina (NA), Adrenalina (A) ▪ 1ºs neurotransmissores identificados no SNC ▪ Síntese, armazenamento, libertação e recaptação ≈ periferia ▪ Degradação: → Neurónios pré e pós-sinápticos - MAO A e MAO B → Células gliais – COMT → Circulação sanguínea Síntese de catecolaminas Tirosina Dopa Dopamina Noradrenalina Adrenalina Dopamina ▪ Localização Sistema dopaminérgico – gânglios da base Recetores Estão caracterizados seis tipos de receptores acoplados a proteínas G. D1, D2L, D2S, D3, D4 e D5 ▪ D1 e D5 – acoplados negativamente à adenilciclase (Gi/o) (família D1-like) ▪ D2, D3, D4 – acoplados positivamente à adenilciclase e fosfolípase C (G s/q) (família D2-like) Tirosina-3-monooxigenase (tirosina hidroxílase) Dopa-descarboxílase Dopamina – Beta –hidroxílase Feniletanolamina- N-metiltransferase Sistema neuronal dopaminérgico Sistema neuronal noradrenérgico Sistema neuronal adrenérgico 19 Clara Azevedo Funções cerebrais no controlo: ▪ Atividade motora ▪ Secreção hipofisária ▪ Ingestão alimentos ▪ Aprendizagem e memória ▪ Funções mentais superiores Noradrenalina 2 localizações principais: ▪ Locus coeruleus ▪ Tegmento lateral Receptores: ▪ α1 (α1A, α1A, α1D) ▪ α2 (α2A/D, α2B, α2C) ▪ β1, β2, β3 Sistema noradrenérgico é muito complexo a nível de auto-regulação e integração funcional. Funções cerebrais no controlo: ▪ Reatividade e humor ▪ Libertação hormonas hipofisárias ▪ Memória e aprendizagem ▪ Funções músculo-esqueléticas Relaciona-se com: HTA, depressão, neurose ansiosa, perturbação do sono. Clonidina Activação α2 ↓ ansiedade, medo e sensação morte iminente Propranolol Bloqueio β ↓ medo e ansiedade, alteração de memória? 5-Hidroxitriptamina no SNC ▪ A 5-HT ou Serotonina é produzida a partir do triptofano. ▪ Ingestão de fontes de triptofano: ↑ níveis cerebrais de 5-HT (mas só 1% do triptofano da dieta é usado na síntese de 5-HT!) ▪ Metabolização: MAO (MAO-A). Funções cerebrais no controlo: ▪ Comportamento ▪ Sono, vigília e humor ▪ Comportamento alimentar▪ Transmissão sensorial Relaciona-se com: ▪ Alucinações e alteração comportamento, depressão, psicose, enxaqueca, emese, ansiedade: diversos fármacos agonistas/antagonistas dos receptores 5-HT Encontram-se caracterizados 7 famílias de sub- tipos de receptores, 6 acoplados a proteínas G e 1 acoplado a um canal Na+/K+. 20 Clara Azevedo → 5-HT 1 (A,B,D,E,F) → 5-HT2 (A,B,C) → 5-HT5 (A,B) → 5-HT3 → 5-HT6 → 5-HT4 → 5-HT7 Histamina no SNC SNC Recetores: ▪ H1 – excitação neurónios pós-sinápticos, glia e vasos sangue ▪ H2 – inibitórios (pós-sinápticos) ▪ H3 - inibitórios (pré-sinápticos, auto-regulação) Desconhece-se as suas totais funções. Os anti-histamínicos comprovam a relação da Histamina com o despertar e a vigília. GABA (ácido γ- aminobutírico) Principal neurotransmissor inibitório: ▪ Hiperpolarização por ↑ permeabilidade celular aos iões Cl- (receptores GABAA e GABAC) ▪ Receptores metabotrópicos GABAB , de localização pré e pós-sináptica, ↓ libertação de neurotransmissores. Receptor GABAA Ácido glutâmico ▪ Neurotransmissor excitatório (tal como ácido aspártico) ▪ Importante na neurotransmissão na medula espinal ▪ 4 tipos de receptores: → NMDA → Metabotrópico plasticidade sináptica → AMPA → Cainato Mastócitos Cortéx (vesículas nos neurónios histaminérgicos) respostas excitatórias lentas respostas excitatórias rápidas 21 Clara Azevedo Glicina ▪ Neurotransmissor inibitório ▪ Importante neurotransmissor na medula espinal ▪ Estricnina – Antagonista competitivo da glicina ▪ A toxina tetânica (Clostridium tetani) inibe a libertação de glicina na medula espinal → hiperexcitabilidade e espasmos musculares Outros mediadores do SNC ▪ Endorfinas e encefalinas ▪ NO e CO ▪ Derivados do ácido araquidónico ▪ Purinas (adenosina, ATP) ▪ Melatonin ▪ Todos os compostos que actuam sobre o SNC → Sentido lato. Inclui, por ex., o álcool e drogas de abuso ▪ Fármacos com predominância de efeito psíquico e que tenham aplicação terapêutica em afeções psíquicas → Sentido restrito As ações dos fármacos no SNC podem ser consideradas: → Estimulantes → Depressoras Dependendo do mecanismo de ação os fármacos atuam de forma: → Específica → Inespecífica Alvos para a ação de fármacos: → Canais iónicos → Recetores (transmembranares ou intracelulares) → Enzimas → Proteínas transportadoras Exemplos de psicofármacos: ▪ Sedativos, hipnóticos e tranquilizantes ▪ Antidepressivos ▪ Antipsicóticos ▪ Antiepilépticos ▪ Tratamento de doenças neurodegenerativas ▪ Drogas de abuso NOTA: Devido à complexidade da transmissão neuronal, o efeito de cada grupo psicotrópico não é estanque e por isso o tratamento da doença psiquiátrica frequentemente não obedece às categorias terapêuticas. 22 Clara Azevedo Fisiopatologia: → Acumulação de placas de proteína β-amiloide → Hiperfosforilação da proteína Tau Tratamento farmacológico da Demência de Alzheimer ▪ Embora os ensaios clínicos comprovem benefícios com a sua utilização, os medicamentos têm uma eficácia baixa. ▪ No entanto, nos doentes que obtêm uma boa resposta à medicação, os estudos mostram uma melhoria funcional. ▪ Não se conhecem factores que permitam predizer a resposta ao tratamento. ▪ Admite-se que haja doentes que por possuírem características individuais, ainda não identificadas, sejam bons respondedores a estes medicamentos, por isso quando se decide utilizá-los o doente deve ser monitorizado regularmente, quer para minorar os problemas de segurança, quer para avaliar da existência de efeito terapêutico. ▪ A demência de Alzheimer determina um síndrome constituído por sintomas e sinais que abrangem a totalidade das funções nervosas superiores e também muitas das restantes funções nervosas: → Alterações cognitivas → Alterações comportamentais → Alterações do humor → Alterações das funções motoras Estas manifestações não são específicas da demência de Alzheimer e para o seu controlo sintomático utilizam-se medicamentos não específicos: antipsicóticos antidepressores ansiolíticos, etc. Os inibidores da acetilcolinesterase com predomínio da acção no SNC foram desenvolvidos com base no conhecimento de que a integridade do sistema colinérgico era fundamental para o funcionamento dos processos mnésicos e que essa integridade estava gravemente perturbada nos doentes com doença de Alzheimer. → Donezepil Inibidor selectivo e reversível da acetilcolinesterase Adm. 1x/dia (semi-vida longa) É o anticolinesterásico melhor tolerado (↓ efeitos adversos) → Galantamina Inibidor reversível da acetilcolinesterase Modela a actividade dos receptores nicotínicos neuronais Semi-vida de 7h (adm. 2x/dia) → Rivastigmina Inibe “pseudo-irreversivelmente” a acetilcolinesterase por ± 10h (adm. 2x/dia) Geralmente considera-se que um período de 12 semanas é adequado para avaliar a existência de benefício terapêutico. Se este não for detectável a terapêutica deve ser suspensa. Reacções adversas: Cefaleias, dores generalizadas, fadiga, náuseas, vómitos, anorexia, cãibras, insónia, tonturas, depressão, sonhos anormais, equimoses, aumento de peso. Contra-indicações e precauções: Na anestesia há o risco de exagero da paralisia muscular do tipo da induzida pela succinilcolina; efeitos vagotónicos; aumento da secreção gástrica; convulsões; deterioração da função cognitiva quando se faz uma suspensão brusca da terapêutica; história de asma. Interacções: Anticolinérgicos, colinomiméticos/inibidores da colinesterase. 23 Clara Azevedo Estes fármacos inibidores da acetilcolinesterase têm acção paliativa na doença de Alzheimer inicial ou moderada, com efeito estatisticamente significativo na função cognitiva, mas sem capacidade para modificar as fases tardias da doença resultantes: → Stress oxidativo → Inflamação → Excitotoxicidade Terapêutica não anticolinesterásica ▪ Memantina A memantina é um antagonista dos receptores NMDA do glutamato, com a função de prevenir a excitotoxicidade neuronial mediada pela hiperactividade daqueles receptores. A utilização conjunta da memantina e inibidores da acetilcolinesterase parece conferir maior benefício para o doente que a terapêutica isolada. Neuropsicofarmacologia – grupos farmacológicos 24 Clara Azevedo Transmissão neuronal Neurónio (estrutura présináptica) Sinapse química (mediador químico específico de cada tipo de neurónio) Ativação recetores no neurónio (estrutura pós-sináptica) Transmissão central ▪ Intervenção farmacológica: controlo da transmissão neuronial cerebral ▪ ACETILCOLINA ▪ CATECOLAMINAS → dopamina → noradrenalina → adrenalina ▪ 5-HIDROXITRIPTAMINA ▪ HISTAMINA ▪ GABA ▪ ÁCIDOS GLUTÂMICA E ASPÁRTICO ▪ ENCEFALINAS E ENDORFINAS Tranquilizantes, sedativos, hipnóticos Depressão generalizada do snc: 1. Sedação (frenação da excitação e da agitação psicomotora, “nervosismo”, sem indução do sono) 2. Hipnose 3. Anestesia geral 4. Coma Sedativos: sonolência, dificuldade de concentração, redução da iniciativa, atenção e atividade Hipnóticos: indução do sono (sedação, confusão e excitação paradoxal – sedativos hipnóticos) Tranquilizantes: muito menor ação depressora inespecífica do que os sedativos (sonolência); ação “calmante”, ansiolítica e corretora da tensão emocional. Barbitúricos IDEAÇÃO SUICIDA!!! ▪ Ações depressoras centrais ▪ FENOBARBITAL (antiepilético) e TIOPENTAL (anestésico geral endovenoso) ▪ Ações de intensidade variável em função da via de administração, dose administrada (sedação, hipnose, anestesia geral, coma e morte) ▪ Sedação (diminuição do estado de excitabilidade ou hiperexcitabilidade do SNC): diminuição da intensidade da resposta a estímulos externos, diminuição memória recente, rendimento, coordenação motora, tensãonervosa e ansiedade (efeito idêntico TRANQUILIZANTES!) → Irregularidades ciclos do sono → Efeitos anticonvulsivantes (doses anestésicas) → Ações cardiovasculares diretas e indiretas → Alteração da função hepática Comunicação interneuronial → Processos enzimáticos de síntese idênticos aos observados no SNP; → Inativação neuronial MAO-A e MAO-B → Inativação no neurónio pós-sináptico MAO-A e/ou MAO-B (área cerebral); → Inativação COMT ou COMT + MAO (células gliais); → Circulação sanguínea (MAO plaquetária?). 25 Clara Azevedo → Depressão central excessiva (centros respiratório e vasomotor) → Dependência usica e psíquica (acentuada!) e tolerância → Interações medicamentosas importantes (outros depressores SNC, anticoagulantes…) → Sintomas de abstinência → Pequena margem de segurança Mecanismo de ação ▪ Potenciam a ação do GABA por prolongarem o tempo de abertura do canal de cloro ▪ Em doses altas têm efeito GABA-mimético direto Ação do fármaco mediada por recetores ▪ Canais acionados por ligandos ▪ Ligação do agonista ⇒ regulação da abertura do canal iónico (recetores da acetilcolina, GABA, glicina, aspartato, glutamato) ▪ Alteração do fluxo de iões através dos canais iónicos da membrana plasmática ⇒ alteração do potencial elétrico da membrana Ex: acetilcolina + recetor nicotínico → aumento do fluxo de Na+ para dentro da célula → despolarização Tranquilizantes benzodiazepínicos ▪ ação “calmante” ▪ ação ansiolítica ▪ tensão emocional ▪ < sonolência o relaxamento muscular (diazepam) ▪ ação hipnótica ▪ ação anticonvulsivante ▪ amnésia anterógrada Os sedativos: diminui o tempo adormecer, aumenta o tempo sono total, diminui a frequência despertar noturno e não há alteração das fases do sono. Pode ocorrer: Anestesia geral, Depressão respiratória, Paralisia bulbar fatal Benzodiazepinas (bz’s) DIAZEPAM A. Tranquilizantes 1. Longa duração ação → Clobazam → Clorazepato → Clorodesmetildiazepam → Clorodiazepóxido → Desmetildiazepam → Diazepam → Medazepam → Prazepam 2. Ação intermédia → Bromazepam → Lorazepam 3. Ação curta → Alprazolam Mais seletiva 26 Clara Azevedo → Oxazepam B. HIPNÓTICOS → Flurazepam → Lormetazepam → Midazolam → Triazolam … → Zolpidem → Zopiclone C. ANTIEPILÉPTICOS → Clonazepam → Diazepam → Nitrazepam D. PRÉ-ANESTÉSICOS → Diazepam → Flunitrazepam → Midazolam (administração parentérica em solução aquosa) Lipossolubilidade vs início de ação ELEVADA → Midazolam → Quazepam → Flurazepam → Diazepam INTERMÉDIA → Lorazepam → Oxazepam BAIXA → Bromazepam → Lormetazepam Duração de ação MUITO CURTA → Midazolam → Triazolam → Zolpidem CURTA → Zopiclone → Temazepam INTERMÉDIA OU LONGA → Diazepam → Flurazepam Mecanismo de ação ▪ Elevação atividade das sinapses gabaérgicas (GABA) ▪ Sem afinidade para os recetores do GABA ▪ Atuação sobre recetores específicos Recetores das benzodiazepinas ▪ Localização na mesma estrutura macromolecular onde se situa o recetor do Upo A do GABA ▪ Recetor GABAA e recetor das BZ’s: sítios diferentes, mas funcionalmente ligados. ▪ Ativação recetor GABAA (acoplado a canal iónico) = permeabilidade ao ião Cl- = cargas negativas no lado intracelular = hiperpolarização membrana (frenação atividade neuronial) ▪ Ativação dos recetores das BZ’s = afinidade GABA para o recetor GABAA ▪ Agonistas: BZ’s; ▪ Antagonistas: Flumazenil (intoxicações agudas!) Recetores GABAA pentaméricos: α, β e γ (diferentes combinações; ausência diferenças funcionais). Doentes com insónia (concentrações hipnóticas) + ansiedade diurna (concentrações mais baixas e sustentadas) 27 Clara Azevedo Reações adversas → Sonolência → Sensação de cansaço → Diminuição tónus muscular com fraqueza muscular → Inapetência e indiferença → Erupções cutâneas → Confusão → Incontinência → Perda memória → Hipotermia → Aumento paradoxal ansiedade → Tolerância → Dependência usica (síndroma de abstinência com ansiedade, trémulo, insónia, ilusões, náuseas…) DOSES ELEVADAS; TRATAMENTOS PROLONGADOS Interações ▪ Todos os depressores do SNC: álcool barbitúricos ▪ Potenciação efeitos depressores centrais; ▪ Paragem respiratória (depressão centro respiratório) Usos terapêuticos ▪ Tranquilizantes ▪ Hipnóticos ▪ Afeções do tónus muscular: redução tensão emocional + depressão internuncial ▪ Espasmos musculares (inflamação, trauma) ▪ Tétano (doses elevadas; diazepam) ▪ Antiepilépticos (diazepam, clonazepam, nitrazepam) ▪ Pré-anestésicos Outros tranquilizantes Buspirona (AZOPIRONA) ▪ Reduz ansiedade (início ação lento) TRANQUILIZANTE ▪ Sem ações sobre transmissão gabaérgica ▪ Atuação recetores pré-sinápticos 5-HT1A com redução libertação 5-HT (agonista parcial); redução libertação 5-HT ▪ Sem sedação ou incoordenação; sem potencial para dependência ▪ Bem tolerado (tonturas, náuseas, vómitos, cefaleias) ▪ Não potência efeitos hipnóticos e sedativos do etanol ▪ Não potência efeito BZ’s ▪ Inadequada para surtos de ansiedade aguda Zolpidem e Zopiclone (Análogos BZ’s) ▪ Atuação nos recetores do GABA= efeito das BZ’s ▪ Sem efeito ansiolítico; com efeito sedativo pouco marcado ▪ Não induzem tolerância nem efeito rebound ▪ Usados como hipnóticos 28 Clara Azevedo (Depressão major, Distimia, Desordem ansiedade generalizada, neurose obsessivo-compulsiva, perturbação do stresse pós-traumático, fobia social, perturbação do pânico com agorafobia, anorexia, bulimia, adjuvantes na dor crónica) → Desproporção em relação à causa desencadeante; → Causa não identificável; → Sem adaptação às novas circunstâncias Sintomas depressão (doença debilitante e prevalente) ▪ Perda interesse ou prazer pelas atividades diárias ▪ Humor deprimido ▪ Sensação incapacidade ▪ Desesperança ▪ Alterações do sono (insónia ou hipersónia) ▪ Alterações do peso e apetite ▪ Agitação ou lentificação psicomotora ▪ Ausência de autoestima e autoconfiança ▪ Sentimentos de culpa ▪ Dificuldades de concentração ▪ Fadiga ▪ Ideação suicida; tentativas suicídio Antidepressores ▪ Tratamento da doença depressiva ▪ Monoterapia ou em associação ▪ Associação a psicoterapia ▪ Fármacos atuantes sobre a concentração de neurotransmissor na fenda sináptica DEPRESSÃO Défice neurotransmissores: ▪ Stresse ▪ Fármacos Recetores pós-sinápticos AUMENTO: → NORADRENALINA → 5-HT → DOPAMINA → Sinapses neuroniais SNC Efeitos imediatos após 2/3 semanas após a administração. Classes terapêuticas 1) INIBIDORES DA MONOAMINOXÍDASE (imao) Mecanismo de ação → Inibição MAO → Aumento da concentração dos neurotransmissores (noradrenalina, 5- HT) na fenda sináptica Diminuição e dessensibilização recetores pós-sinápticos 29 Clara Azevedo → Ações simpaOcomiméOcas → Inibição enzimas microssomais hepáticas → interações com inúmeros fármacos e alimentos ricos em tiramina (“síndroma do queijo”). Podem ser: Inibidores inespecíficos (MAO-A e MAO-B) NOTA: INIBIDORES INESPECÍFICOS DA MAO NÃO SÃO FABRICADOS EM PORTUGAL → CAUSAM SUICIDO Exemplo: Tiramina (amina simpaticomimética ação indireta) → inativação hepática bloqueada → indução libertação catecolaminas em grande quantidade → CRISES HIPERTENSIVAS → rotura vascular e morte Inibidores reversíveis MAO-A MOCLOBEMIDA: ▪ Único do grupo comercializado em Portugal ▪ Especificidade para MAO-A → interações praticamente inexistentes (MAO-B metaboliza a tiramina; moclobemida desloca-se da MAO-A para metabolizar tiramina quando em excesso) ▪ Efeitos laterais: secura boca, vertigens, trémulo, cansaço, sudorese, taquicardia, náuseas ▪ Usos terapêuticos: depressão, bulimia, reações de stresse pós-traumático, neurose obsessivo- compulsiva Inibidores MAO-B (Parkinson) 1) INIBIDORES DA RECAPTAÇÃO DOS NEUROTRANSMISSORESa) Antidepressores tricíclicos e análogos Mecanismos de ação: → Aumento da noradrenalina e 5-HT (e, em menor escala, da dopamina) → Bloqueio da recaptação neuronial neurotransmissores → Alterações adaptativas recetores pós-sinápticos → Bloqueio recetores muscarínicos, histamínicos H1 e adrenérgicos α1 (efeitos laterais) Efeitos colaterais: → Hipotensão ortostática → Arritmias cardíacas → Trémulo fino → Convulsões → Aumento de peso → Alterações sexuais Intoxicações agudas: → Excitação → Mioclonias → Convulsões → Coma → Depressão respiratória → Hipóxia → Depressão de reflexos → Hipotermia → Hipotensão → Colapso cardio-respiratório e morte 1 toma diária ao deitar 30 Clara Azevedo Exemplos: imipramina, amitriptilina, desipramina, nortriptilina, trimipramina, clomipramina, doxepina, opipramol, dotiepina, maprotilina, viloxazina, iprindol, quinuprina, lofepramina b) Inibidores seletivos da recaptação da serotonina Intervenção exclusiva na recaptação da 5-HT !!! MAIS SEGUROS SEM ATIVIDADE ANTICOLINÉRGICA, ANTI-HISTAMINÉRGICA ANTI-ADRENÉRGICA α1!!! Efeitos colaterais: → Anorexia e perda de peso → Náusea Diarreia → Cefaleias → Insónia → Disfunção sexual c) Inibidores seletivos da recaptação da noradrenalina REBOXETINA: → Efeito fraco sobre recaptação 5-HT → Moderada ação anticolinérgica → Taquicardia → Hipotensão ortostática → Xerostomia → Insónia → Sudorese aumentada → Vertigens → Obstipação → Alterações sexuais d) Inibidores da recaptação da dopamina (fraca ação sobre recaptação noradrenalina e 5-HT) Estimulante do SNC Depressão e desabituação tabágica BUPROPIONA Efeitos colaterais: → Cefaleias → Insónia → Náuseas → Irritabilidade → Diminuição limiar convulsões e) Inibidores da recaptação da serotonina e da noradrenalina VENLAFAXINA MINALCIPRAN Efeitos colaterais: → Náusea Vómitos → Obstipação → Xerostomia → Insónia → Tonturas → Trémulo → Hipertensão → Alterações sexuais 31 Clara Azevedo !!! SEM EFEITOS ANTICOLINÉRGICOS, ANTI-HISTAMINÉRGICOS ANTI-ADRENÉRGICOS α1!!! 2) OUTROS ANTIDEPRESSORES TRAZODONA e (NEFAZODONA) → Bloqueio recaptação 5-HT + recetores pós-sinápticos 5-HT2A + histamínicos (bloqueio recaptação noradrenalina) → Sedação acentuada → Hipotensão ortostática MIANSERINA → Bloqueio recetores pré-sinápticos α2 → Efeitos laterais idênticos aos dos tricíclicos (anticolinérgicos e CV; menos relevantes) → Leucopenia, agranulocitose, anemia aplástica MIRTAZAPINA → Bloqueio recetores pré-sinápticos α2 + bloqueio recetores 5-HT2 e 5-HT3 → Antagonista recetores histaminérgicos H1 → sedação → Aumento do apetite e do peso → Sedação e sonolência → Hipotensão ortostática → transamínases séricas → Depressão aguda medula óssea Sinais e Sintomas Humor e afeto: ▪ Tristeza ▪ Reactividade diminuída a eventos prazerosos ▪ Sensação de “vazio” ▪ Apatia ▪ Ansiedade ▪ Irritabilidade ▪ Raiva Pensamento: ▪ Concentração diminuída ▪ Desamparo ▪ Indecisão ▪ Perda da auto-estima ▪ Sensação de culpa ▪ Pessimismo ▪ Desejo de morrer Atividade psicomotora: ▪ Movimentos lentos do corpo ▪ Diminuição da expressão facial ▪ Falta de comunicação ▪ Agitação ▪ Hiperatividade Sintomas somáticos ▪ Alterações em funções básicas (sono, apetite e libido) ▪ Alterações na vitalidade (cansaço, falta de vigor) ▪ Sensações corporais (dores, sensação de pressão, frio, peso nos membros) ▪ Sintomas viscerais (gastrointestinais) Opções para o tratamento da depressão → Psicoterapia → Eletroconvulsoterapia → Farmacoterapia → Outras modalidades terapêuticas (terapia da luz, actividade física, etc...) 32 Clara Azevedo Indicação terapêutica → Depressão grave (suicídio) → Necessidade de rápido início do efeito terapêutico → Psicose → Condição médica subjacente que contraindique o uso de medicamento antidepressivo Eletroconvulsoterapia Indicação terapêutica: ▪ Incapacidade ou recusa da utilização de medicação via oral ▪ Ausência de resposta ao tratamento farmacológico 1. Antidepressivos tricíclicos Aminas terciárias → Amitriptilina → Clomipramina → Doxepina → Imipramina → Trimipramina Aminas secundárias → Desipramina → Nortriptilina → Protriptilina 2. Antidepressivos tetracíclicos → Amoxapina → Maprotilina 3. Antidepressivos tricíclicos (ADT) O mecanismo de acção dos ADT é o aumento da NA e da 5-HT, na fenda sináptica. Este aumento da disponibilidade dos neurotransmissores na fenda sináptica é conseguido através da inibição na recaptação destas aminas pelos recetores pré-sinápticos. Parece haver também, com o uso prolongado dos ADT, uma diminuição do número de recetores pré-sinápticos adrenérgicos do tipo α2, cuja estimulação do tipo feedback inibiria a libertação de NA. Desta forma, quanto menor o número destes recetores, menor será a sua estimulação e, consequentemente, mais NA será libertada na fenda sináptica. Efeitos colaterais dos antidepressivos tricíclicos e tetracíclicos Cardiovascular ▪ hipotensão postural ▪ taquicardia ▪ arritmias ▪ diminuição da contractilidade miocárdica ▪ alterações electrocardiográficas Anticolinérgico ▪ boca seca ▪ obstipação ▪ retenção urinária ▪ visão turva ▪ taquicardia ▪ disfunção sexual 33 Clara Azevedo Anti-Histaminicos ▪ sedação ▪ ganho de peso Neurológico ▪ confusão ▪ convulsão Posologia dos antidepressivos tricíclicos e tetracíclicos → Imipramina 150 – 300 mg/dia → Amitriptilina 150 – 300 mg/dia → Clomipramina 150 – 250 mg/dia → Nortriptilina 50 – 150 mg/dia → Maprotilina 150 – 225 mg/dia 4. Inibidores seletivos da recaptação da serotonina → Fluoxetina → Paroxetina → Sertralina → Citalopram → Escitalopram → Fluvoxamina O efeito antidepressivo dos ISRS parece ser consequência do bloqueio seletivo da recaptação da serotonina (5-HT). A fluoxetina foi o primeiro representante dessa classe de antidepressivos e tem como metabolito ativo, a norfluoxetina. A incidência de efeitos colaterais anticolinérgicos, anti-histamínicos e alfabloqueantes, assim como o risco de sobredosagem é menor nos ISRS que nos antidepressivos tricíclicos (ADT). Dosagem dos inibidores da recaptação da serotonina → FLUOXETINA 20 – 80 mg/dia → SERTRALINA 50 – 200 mg/dia → PAROXETINA 20 – 50 mg/dia → FLUVOXAMINA 50 – 300 mg/dia → CITALOPRAM 20 – 60 mg/dia Efeitos colaterais Sistema nervoso central → Sonolência → Insónia → Agitação → Tremor → Ansiedade → Tontura Gastrointestinal → Náusea → Diarreia → Boca seca → Vómitos → Anorexia Outros → Astenia → Sudorese → Disfunção sexual 34 Clara Azevedo 5. Inibidores da monoaminoxidase A monoaminoxidase (MAO), é uma enzima envolvida no metabolismo da serotonina e dos neurotransmissores catecolaminérgicos, tais como a adrenalina, a noradrenalina e a dopamina. Os antidepressivos IMAOs são inibidores da MAO e, havendo uma redução na actividade MAO, produz-se um aumento da concentração destes neurotransmissores nos locais de armazenamento, em todo o SNC. → Isocarboxazida → Fenelzine → Tranilcipromina → Moclobemida → reversível Efeitos colaterais → Disfunção sexual → Dores musculares → Edema periférico → Ganho de peso → Insónia (diminuição do sono rem) → Hipotensão postural → Crise hipertensiva → Cefaleia → Mioclonias → Parestesias 6. Inibidor da recaptação de noradrenalina e serotonina ▪ Venlafaxina ▪ Milnaciprano 7. Inibidor da recaptação de noradrenalina e dopamina 8. Moduladores de serotonina ▪ Trazodona ▪ Nefazodona 9. Modulador de noradrenalina e serotonina ▪ Mirtazapina 10. Inibidor selectivo da recaptação de noradrenalina ▪ Reboxetina 11. Agonista dos receptores da melatonina ▪ Agomelatina 12. Outrosantidepressivos ▪ VENLAFAXINA 75 – 375 mg/dia ▪ NEFAZODONA 200 – 600 mg/dia ▪ TRAZODONA 150 – 600 mg/dia ▪ BUPROPIONA 200 – 450 mg/dia irreversível 35 Clara Azevedo ▪ MIRTAZAPINA 15 – 45 mg/dia ▪ REBOXETINA 4 – 10 mg/dia Indicações dos antidepressivos Indicações Formais → Estados Depressivos → Estados Ansiosos (Pânico...) → Estados Fóbicos → Estados Obsessivo-Compulsivos → Anorexia → Bulimia Segundas Indicações → Estados Hipercinéticos → Somatizações → Ejaculação Precoce → Doenças Psicossomáticas → Enxaqueca → Dores neurogénicas Fatores a ser ponderados na escolha do antidepressivo ▪ Efeitos colaterais esperados, segurança e tolerabilidade ▪ História de resposta prévia no paciente ou em membro da família ▪ Preferência do paciente ▪ Custo ▪ Quantidade e qualidade de estudos clínicos Duração do tratamento: Risco de recorrência ▪ Número de episódios anteriores ▪ Presença de condições mórbidas associadas ▪ Sintomas residuais entre os episódios Severidade dos episódios ▪ Tentativa ou ideias suicidas ▪ Sintomas psicóticos ▪ Diminuição severa do funcionamento Efeitos colaterais com o tratamento 36 Clara Azevedo Preferência do paciente Tratamento inadequado da depressão Paciente → Não reconhecimento dos sintomas → Falta de compreensão da severidade e suas consequências → Acesso limitado ao tratamento → Medo do estigma de ter depressão → Pobre adesão ao tratamento Médico → Conhecimento insuficiente sobre depressão → Falta de tempo para o atendimento → Dose inadequada dos medicamentos → Tempo insuficiente de tratamento ▪ Amissulprida ▪ Aripiprazol ▪ Ciamemazina ▪ Cloropromazina ▪ Clozapina ▪ Flufenazina ▪ Flupentixol ▪ Haloperidol ▪ Levomepromazina ▪ Melperona ▪ Olanzapina ▪ Pimozida ▪ Quetiapina ▪ Risperidona ▪ Sulpirida ▪ Tiaprida ▪ Ziprasidona ▪ Zotepina ▪ Zuclopentixol Os antipsicóticos classificam-se em típicos e atípicos sendo que a distinção entre uns e outros nem sempre é clara, mas essencialmente tem em consideração a afinidade para os receptores D2 e consequente risco de indução de efeitos extrapiramidais. ▪ Cloropromazina, Haloperidol → Antagonistas D2 Os antipsicóticos típicos são os que têm elevada afinidade para os receptores D2 e produzem frequentemente efeitos extrapiramidais graves (movimentos distónicos, crises oculogiras, síndromes parkinsónicos). ▪ Clozapina , Olanzapina, Quetiapina, Risperidona Os antipsicóticos atípicos são os que têm menor afinidade para os receptores D2, tendo menor probabilidade de determinar efeitos extrapiramidais. São simultaneamente antagonistas dos receptores da dopamina e dos da serotonina (5-HT). A clozapina é ainda um medicamento particular, quer pelo seu perfil de afinidade para os diferentes receptores (é o único antipsicótico que se liga com maior afinidade aos receptores D4 do que aos D2), quer pelo facto de ser o antipsicótico com maior eficácia demonstrada no tratamento de doentes esquizofrénicos resistentes. Precaução: risco de agranulocitose (controlos frequentes do hemograma). Os antipsicóticos devem ser usados com precaução: → doentes com patologia cardíaca (alteração do intervalo QT) → situações que podem ser agravadas pelos efeitos anticolinérgicos (glaucoma, prostatismo) → a terapêutica não deve ser interrompida subitamente 37 Clara Azevedo Reações adversas: ▪ Sintomas e sinais extrapiramidais desde acatísia no início da terapêutica até discinésias tardias após terapêutica prolongada. ▪ A distonia aguda ocorre geralmente no início da terapêutica ou quando há subida da dose, nas crianças e nos jovens. ▪ Há também o risco de síndrome maligno dos neurolépticos (mortalidade 30%). ▪ Produzem, em graus variáveis, sedação e efeitos anticolinérgicos, hipotensão ortostática e arritmias; registam-se também náuseas, vómitos, dores abdominais, irritação gástrica, crises convulsivas, alterações endócrinas, alterações hematológicas, erupções cutâneas e alterações idiossincráticas das transaminases e por vezes icterícia colestática. Estabilizadores do humor 1. Lítio ▪ Carbonato de lítio (Priadel®) - Tratamento e profilaxia da mania, doença bipolar e depressão recorrente; no comportamento agressivo ou automutilante. Não tem efeito no indivíduo normal. ▪ Bloqueia a libertação de NA e favorece a sua recaptação - Modela a acção de mensageiros 2ºs (fosfatidilinositol e cAMP) ▪ Monitorização da concentração plasmática: → 0,8 a 1,4 mEq/L - nível terapêutico → 2 mEq/L – toxicidade → 3 a 5 mEq/L - convulsões e morte Reacções adversas: Alterações gastrintestinais, tremor fino, poliúria, polidipsia, aumento de peso e edema; os sinais de intoxicação incluem visão turva, aumento das perturbações gastrintestinais, fraqueza muscular, agravamento das alterações do SNC (sonolência, disartria, ataxia). Contra-indicações e precauções: A litémia deve ser medida regularmente; a função tiroideia deve ser monitorizada; a ingestão de líquidos e sódio deve ser adequada; IR, doença cardíaca e doenças endócrinas com alterações do equilíbrio do sódio; aleitamento, idosos, tratamento com diuréticos, miastenia, cirurgia. 2. Carbamazepina 3. Valproato 4. Gabapentina Epilepsia é um conjunto de manifestações clínicas paroxís9cas correspondentes a descargas anormais, localizadas algures no SNC ▪ A descarga anormal e excessiva tem a designação de crise epilética ▪ Os sintomas dependem da área afetada do córtex cerebral ▪ Podem ocorrer fenómenos motores, sensoriais, psíquicos e vegetativos Fatores que baixam o limiar convulsivo: Frequentes: ▪ Má adesão à terapêutica antiepilética ▪ Privação do sono ▪ Fármacos epiletogénicos ▪ Infeção sistémica ▪ Traumatismo craniano ▪ Drogas ▪ Período menstrual ▪ Privação de barbitúricos Parecem ter interesse no tratamento da doença maníaco- depressiva 38 Clara Azevedo ▪ Consumo de álcool ▪ Privação alcoólica nos alcoólicos crónicos Os mecanismos fisiopatológicos das crises epilépticas ainda não foram completamente esclarecidos, no entanto, sabe-se que a génese das crises epilépticas está relacionada com a instabilidade eléctrica das membranas celulares neuroniais. Algumas hipóteses: → alterações da condutância do potássio → defeito nos canais de cálcio dependentes da voltagem → deficiência nas ATPases membranares necessárias ao transporte iónico As crises epiléptias classificam-se em: 1. parciais (quando têm um início localizado/focal) (75%) ▪ simples (sem perturbação da consciência) ▪ complexas (com perturbação da consciência) ▪ com generalização secundária (simples ou complexas) 2. Generalizadas (25% casos): ausências, ausências atípicas, crises mioclónicas, clónicas, tónicas, tónicoclónicas, atónicas, não classificadas 3. Estado de mal (atividade epilética contínua ou repetida sem recuperação do estado de consciência em 30min. Na prática + de 5min). Importância do tratamento → risco de morte associado (crises e acidentes); → melhoria da qualidade de vida do doente; → prevenção da morte neuronial que acontece em cada descarga. Esta perda neuronial causa defeitos neurológicos sendo, só por si, fator agravante da epilepsia. ▪ Eficaz em 70-80% dos doentes ▪ Tratamento: epilepsia e outros distúrbios convulsivos ▪ Fenitoínas ▪ Barbitúricos (fenobarbital, primidona) ▪ iminostilbenos (carbamazepina oxicarbamazepina) ▪ succinimidas (etossuccimida) ▪ ácido valpróico / valproato semisódico ▪ oxazolidinedionas (trimetadiona) ▪ felbamato ▪ gabapentina ▪ lamotrigina ▪ levetiracetam ▪ piracetam ▪ pregabalina ▪ tiagabina ▪ topiramato ▪ vigabatrina ▪ zonisamida ▪ benzodiazepinas (diazepam, clonazepam, clorazepato dipotássico e lorazepam parentérico) Mecanismos de ação ▪ Efeito estabilizador de membrana, por bloqueio dos canais de sódio dependentes de voltagem (fenitoína, lamotrigina, carbamazepina,topiramato) ▪ Bloqueio dos canais de cálcio dependentes da voltagem (etosuccimida) ▪ Inibição da libertação do aspartato e glutamato (lamotrigina) ▪ Aumento da ação inibitória do GABA, por agonismo gabaérgico através do recetor ionoforo-cloro (BZs, fenobarbital, topiramato) ▪ Bloqueio do recetor N-me;l-D-aspartato (felbamato) 39 Clara Azevedo Bloqueadores dos canais Na+ dependentes da voltagem 3 estados dinâmicos dos canais Na+: 1. estado de repouso 2. estado ativo 3. estado inativo Ligam-se preferencialmente aos canais Na+ no estado inativado, impedindo o retorno ao estado de repouso e, assim, diminuem o nº de canais disponíveis para gerarem potenciais de ação. Carbamazepina ▪ Bem absorvida por via oral ▪ Semi-vida de 5 a 26 horas (adultos) ▪ Indutor do citocromo P450, induz a sua própria biotransformação e de outros antiepiléticos ▪ Bem tolerada, embora possa provocar RA no início da terapêutica e toxicidade ocasional ▪ Administração oral ▪ Convulsões focais Efeitos laterais → Alterações sanguíneas: Anemia, leucopenia e trombocitopenia → Alterações cutâneas: dermatite esfoliativa, fotossensibilidade, hiperpigmentação, erupções, prurido → Sintomas digestivos: náuseas e vómitos → Outros: ataxia, sonolência, hipertensão, perturbações cardíacas... Fenitoína ▪ Elevada atividade antiepiléptica muito eficaz nas diferentes formas de epilepsia, exceto no pequeno mal ▪ Ação estabilizadora da membrana (movimento do sódio) ▪ Diminui a repetição e propagação de descargas ▪ Reforça os sistemas inibitórios (GABA) ▪ Antiarrítmico Farmacocinética: → Rapidamente absorvida por via oral, mas com absorção limitada. → Liga-se fortemente a proteínas plasmáticas (>90%) → Semi-vida de 22 horas → Excretada maioritariamente por via biliar, com reabsorção intestinal e excreção urinária. → Difícil controlo das doses terapêuticas, risco de crises (↓ dose) ou neurotoxicidade (↑dose) → Biotransformação hepática → Indutor do citocromo P450 → Devido à sua farmacocinética tem inúmeras interações medicamentosas Toxicidade e efeitos laterais: → Alterações de comportamento → Hiperplasia gengival → Osteomalácia → Anemia → Hiperglicemia e glicosúria → Inibição da libertação de vasopressina → Ataxia, ptose palpebral e erupções cutâneas → Linfoadenopatias → Rudeza das feições femininas → Nos inativadores lentos, maior probabilidade de efeitos laterais 40 Clara Azevedo Lamotrigina 2 mecanismos de ação: diminui a libertação neurotransmissores excitatórios como o glutamato; bloqueia canais de sódio dependentes da voltagem) Reações adversas: → Exantemas graves que incluem a síndroma de Stevens-Johnson e necrose tóxica da epiderme. As manifestações cutâneas são mais frequentes nas crianças e na presença de terapêu;cas múl;plas, especialmente as que incluem valproato. → Febre, mal-estar, síndroma gripal, sonolência; raramente disfunção hepática, leucopenia e trombocitopenia em associação com o rash. → Diplopia, tonturas, insónia, cefaleias, tremor, vómitos. Contra-indicações e precauções: A função hepática, renal e os parâmetros de coagulação devem ser monitorizados cuidadosamente; se surgirem sinais de hipersensibilidade, particularmente rash, a terapêutica deve ser interrompida. Exceto nesta circunstância a terapêutica não deve ser interrompida bruscamente devido ao risco de desencadear crises. Inibidores das correntes de Cálcio SUCCINIMIDAS Etossuccimida Tratamento das ausências (“pequeno mal”) - Bem absorvida por via oral, fraca ligação a proteínas plasmáticas e metabolizada pelo fígado, eliminada pelo rim sob a forma intacta (10-20%). Efeitos laterais: → Centrais: sonolência, zumbidos, cefaleias, agitação, agressividade → Cutâneos: urticária → Digestivos: náuseas, vómitos, dores abdominais Potenciadores da ação do GABA ↑ Formação do GABA ▪ Valproato de Sódio ▪ Gabapentina Agonistas dos recetores GABA ▪ Barbitúricos ▪ Benzodiazepinas Inibidores da captação do GABA ▪ Tiagabina Inibidores da transamínase do GABA ▪ Vigabatrina ▪ Valproato de Sódio Valproato de sódio (antiepiléptico de largo espetro; convulsões generalizadas; profilaxia da enxaqueca) Mecanismo de ação (duplo): ▪ Aumenta as concentrações do GABA (estimula enzima responsável pela síntese) ▪ Efeito inibitório sobre a transamínase, aumentando as concentrações do GABA 41 Clara Azevedo Farmacocinética: bem absorvido por via oral, com elevada ligação a proteínas plasmáticas. Pico plasmático ao fim de 3-4 horas Toxicidade: Sonolência, hipotonia, ataxia, erupções cutâneas Barbitúricos Fenobarbital Mecanismo de ação ▪ Estabilizador da membrana ▪ Aumento da ação inibitória do GABA Farmacocinética ▪ Absorção per os lenta ▪ Boa distribuição ▪ Metabolização hepática ▪ Concentração plasmática máxima ao fim 9h ▪ Semi-vida de 2 - 6 dias Toxicidade → Sonolência → Transtornos psíquicos e neurológicos (irritabilidade, depressão, estados delirantes e confusionais) → Ataxia, vertigens, polinevrite, hiporreflexia → Perturbações sanguíneas → Alterações gastrintestinais (náuseas, vómitos, anorexia e obstipação) → Alergia (edema, urticária, dermatite esfoliante) → Perturbações respiratórias → Outras: Osteomalácia, hipotensão ortostática, hipoproteinemia… Indicações terapêuticas: ▪ Grande mal ▪ Certos tipos de epilepsia focal ▪ Convulsões febris Primidona ▪ Pró-fármaco do fenobarbital ▪ Menos potente que o fenobarbital no grande mal Efeitos secundários: sedação e ataxia, edemas dos membros inferiores, alterações visuais. Benzodiazepinas ▪ É um grupo importante no tratamento da epilepsia ▪ Largo espetro de ação ▪ Baixa toxicidade Clonazepam, Diazepam, Lorazepam, Nitrazepam, Clorazepato dipotássico Mecanismo de ação: Atuam como facilitadores da transmissão gabaérgica, aumentando a inibição pré e pós- sináptica Toxicidade: Ataxia, fadiga, sonolência, irritabilidade Boa absorção oral (80% com picos entre 2-5 horas) Administração oral ou parentérica (mal epilético) 42 Clara Azevedo Vigabatrina Mecanismo de ação: ▪ Inibidor irreversível da transamínase do GABA ▪ Farmacociné;ca: rapidamente absorvida por via oral, com pico máximo ao fim de 2 horas e semi-vida de 5-7 horas Efeitos laterais: sonolência, zumbidos, confusão mental e aumento de peso Utilização terapêutica: Adjuvante na epilepsia refratária e na epilepsia complexa; espasmos infantis Felbamato Mecanismo de ação ▪ Bloqueia recetores NMDA e canais de cálcio dependentes da voltagem ▪ Modula canais de sódio dependentes da voltagem ▪ Devido à sua potencial toxicidade o seu uso restringe-se a formas graves de epilepsia resistentes a outros tratamentos Outros antiepilépticos: Topiramato Derivado da D-frutose. Desenvolvido como antidiabético Múltiplos mecanismos de ação: ▪ Diminui condutância ao sódio ▪ Diminui a frequência dos potenciais de ação e disparos espontâneos ▪ Aumenta o GABA ▪ Bloqueia recetores AMPA do glutamato ▪ Inibe a anídrase carbónica Indicações: Tratamento adjuvante das crises parciais com ou sem generalização secundária insatisfatoriamente controladas com outros antiepilépticos; crises associadas com a síndroma de Lennox-Gastaut; crises tónico-clónicas generalizadas primárias. Tem ação sobre o humor na psicose maníaco-depressiva. Reações adversas: Dor abdominal, náusea, anorexia, perda de peso, alterações do gosto, diminuição da capacidade de concentração e memória, confusão, perturbação do discurso, labilidade emocional e perturbações do humor e depressão, alterações do comportamento, ataxia, alterações da marcha, parestesias, tonturas, sonolência, astenia, alterações da visão, diplopia, nistagmo, sintomas psicóticos, agressividade, leucopenia. Levetiracetam Derivado do piracetam Mecanismo de ação: desconhecido Indicações: Tratamento adjuvante das crises parciais com ou sem generalização.Interações: Com o álcool. O levetiracetam NÃO tem interação farmacocinética com os outros antiepilépticos (útil em doentes IH ou IR). Princípios gerais 1. Sempre que possível deve persistir-se na monoterapia. 2. O fármaco com a melhor relação risco-benefício deve ser escolhido em função das características das crises e do doente. 43 Clara Azevedo 3. A dose do medicamento escolhido deve ser #tulada até ao controlo das crises ou até surgirem sinais de intolerância. O doseamento dos níveis plasmáticos é um instrumento útil neste processo. 4. Se não se conseguir o controlo da situação clínica com o fármaco escolhido deve ser considerado outro fármaco. Neste caso o novo fármaco deve ser titulado enquanto que o fármaco utilizado primariamente deve ser descontinuado de forma progressiva. Para qualquer antiepiléptico, a interrupção brusca da administração pode desencadear crises ou mesmo estado de mal, pelo que não deve ser praticada. 5. As associações medicamentosas só deverão ser consideradas quando a monoterapia insistentemente tentada não resultou. As associações fixas de medicamentos, isto é, as formulações medicamentosas com 2 ou mais princípios ativos NUNCA devem ser utilizadas no tratamento da epilepsia. A escolha do fármaco e posologia dos antiepilépticos deve ter em conta os seguintes fatores: → Características do doente → Tipo de epilepsia → Gravidade da doença → Tempo de evolução → Idade → Peso → Profissão → Doenças concomitantes A duração do tratamento: → Quanto maior for a duração do tratamento menor será a possibilidade de recidivas após suspensão → A suspensão deve ser gradual de modo a evitar o reaparecimento das crises ou mesmo a instalação de um estado de mal epiléptico (grave!) Tratamento da Epilepsia na Mulher (Contracepção oral; Gravidez; Aleitamento) Aleitamento Thomas ▪ Passagem para o leite é inversamente proporcional à ligação às proteínas plasmáticas ▪ Fármacos + recentes tendem a passar + para o leite ▪ Monitorizar RAM no bebé (ex. comportamento, monitorização sérica) ▪ Ajustar a toma dos medicamentos/amamentação ▪ Os benefícios do aleitamento superam os riscos Quando fazer MTF de anticonvulsivantes? → Otimização doses no início tratamento → Epilepsia não controlada → Suspeita de toxicidade → Crianças → Gestantes → Idosos → Condições patológicas que alteram a farmacocinética do anticonvulsivante 44 Clara Azevedo Terapêutica da dor ▪ Metodologia de estudo da dor e analgesia ▪ Limiar da dor ▪ Diferentes tipos clínicos de dor ▪ Dor aguda e dor crónica ▪ Analgésicos de ação central e seus antagonistas ▪ Analgésicos opiáceos e outros analgésicos centrais ▪ Agonistas parciais e antagonistas ▪ Aspetos fisiopatológicos e mecanismos de ação O Sistema Nervoso é um todo, a sua divisão em partes tem um significado exclusivamente didático, pois as várias partes estão intimamente relacionadas do ponto de vista morfológico e funcional Pode ser dividido em partes, levando-se em conta critérios anatómicos, embriológicos e funcionais. Dificuldades no estudo e intervenção no SNC ▪ Sistema fisiológico complexo: Complexidade das interconexões neuronais inibitórias, excitatórias, modulação, retromodulação ▪ Multiplicidade de transmissores Conceito (Associação Internacional para o estudo da Dor): “...uma experiência sensorial e emocional desagradável, relacionada com lesão tecidual real ou potencial, ou descrita em termos deste tipo de dano.” Sensação subjetiva: valorizar descrição e avaliar com base em escalas. “...o tratamento da dor não deve estar limitado a eliminar a sensação dolorosa, mas deve principalmente, dar alívio ao paciente que apresenta dor.” → A dor é um sinal de alerta que ajuda a proteger o corpo de danos nos tecidos. → Sherrington definiu a dor como efeito psicológico relacionado com um reflexo protetor, cuja finalidade é fazer com que o tecido afetado se afaste de estímulos potencialmente nocivos (e lesivos). → Ao contrário da maioria das modalidades sensoriais, a função da dor é essencial à sobrevivência Limiar da dor Muito variável de indivíduo para indivíduo Limiar de tolerância (Muito variável) → Componente afetiva: varia com idade, sexo, grau cultural, treino… Limiar de perceção (relativamente constante) → estímulo sensorial Tipos clínicos de dor: → Aguda Início súbito relacionado a afeções traumáticas, infeciosas ou inflamatórias. Espera-se que desapareça após intervenção na origem. Respondem rapidamente às intervenções na origem e não costumam ser recorrentes. Estão associadas a respostas neurovegetativas como aumento da pressão arterial, taquicardia, agitação psicomotora e ansiedade. Observa-se vocalização, expressões faciais e posturas de proteção. → Crónica Persiste de forma contínua ou recorrente, por processos patológicos crónicos. Sem resposta neurovegetativas associadas e com respostas emocionais de ansiedade e depressão frequentes. 45 Clara Azevedo De padrão evolutivo e intensidade com variação individual. Nem sempre se observa alteração comportamental ou postural, expressões faciais ou vocalizações. → Benigna → Neoplásica → Dor Nocicetiva: Compreende dor somática e visceral e ocorre diretamente por estimulação química ou física de terminações nervosas normais - é resultado de danos nos tecidos. → Dor Neuropática: Resulta de alguma injúria a um nervo em qualquer ponto ao longo das linhas de transmissão neuronal, dos tecidos mais periféricos ao SNC. Tratamento: Aspetos a considerar na avaliação da dor: Fisiologia da dor Sistema Nociceptivo: Toda a lesão tecidual de origem física, térmica ou química é seguida de uma reação inflamatória resultando na libertação de substâncias químicas (Bradicinina, Histamina, Prostaglandinas…) que excitam as terminações nervosas livres presentes no sistema nervoso periférico. Estas substâncias, despolarizam a membrana neuronal e emitem o impulso eléctrico que é conduzido pelas fibras nervosas à medula espinhal. 46 Clara Azevedo ▪ Da medula espinhal a informação dolorosa é encaminhada para a região do tronco cerebral, tálamo, estruturas do sistema límbico e áreas corticais. ▪ Diversos neurotransmissores estão envolvidos na transmissão da informação nocicetiva ao SNC Sistema reticular do tronco cerebral- são atribuídas as respostas de fuga ou ataque, respostas neurovegetativas. Tálamo - a informação dolorosa é localizada espacialmente e projectada em estruturas do sistema límbico e cortical (Só assim o paciente é capaz de dizer onde dói). Sistema límbico - são atribuídas à dor o carácter emocional de sofrimento e desconforto. Assim, só se pode fazer analgesia, interrompendo, confundindo e bloqueando o sistema nocicetivo ou estimulando e ativando o sistema modulador. Registo sistemático da intensidade da dor 1. Temperatura corporal 2. Pulso (ou frequência cardíaca) 3. Pressão arterial 4. Frequência respiratória 5. Dor (“Dor como o 5º sinal vital”; Circular Normativa de 14 de junho de 2003 da Direção Geral da Saúde) → Escala visual analógica → Escala numérica → Escala quantitativa “Sopa” sensibilizadora ▪ serotonina, histamina, potássio, PGs, leucotrienos e tromboxanos, sintetizadas pelas células lesadas ▪ citocinas, a histamina, as neutrofinas e a 5-HT libertadas pelas células do sistema imunológico ▪ cininas, ativadas no plasma ▪ NO, libertado pelas células dos vasos ▪ a substância P que passa a ser libertada e sintetizada pelos neurónios terminais sensoriais Antinociceção ▪ Ao sistema de condução de estímulos nóxicos em direção ascendente, corresponde um outro descendente e exerce efeitos modificadores do “input” nóxico. ▪ Muitos destes locais têm elevada concentração de opióides endógenos, noradrenalina e a serotonina 30 ▪ Intervenção terapêutica por uma intensificação destes sistemas descendentesinibitórios Mecanismos moduladores da via nociceptiva A natureza pluridimensional da dor significa que a utilização de analgésicos pode ser apenas uma parte da estratégia multiprofissional que tem que ser adotada. 47 Clara Azevedo Fármacos utilizados no tratamento de dor → Analgésicos de ação central → Anestésicos Gerais → Anestésicos Locais → AINES, Analgésicos e Antipiréticos → Corticosteróides Recetores e mediadores da antinociceção Opióides endógenos são os mediadores mais importantes da analgesia Recetores opiáceos endógenos Os recetores opióides são importantes na regulação normal da sensação da dor. A sua modulação é feita pelos opióides fisiológicos, como as endorfinas, encefalinas e dinorfinas, que são neurotransmissores. Recetores opiáceos endógenos ▪ Membros da família de recetores acoplados à proteína G e inibem a adenilciclase (também estão associados a canais iónicos ). ▪ Promovem a abertura dos canais de potássio ▪ Inibem a abertura dos canais de cálcio dependentes de voltagem. ▪ Reduzem tanto a excitabilidade neuronal como a libertação de neurotransmissores Analgésicos de ação central e seus antagonistas Mecanismo da dor 1. Evento inicial: estímulos nocivos. 2. Destruição ou lesão do tecido. 3. Libertação ou síntese de mediadores bioquímicos envolvidos no processo álgico (histamina, prostaglandinas e bradicinina) 4. Interação com nociceptores periféricos e terminações nervosas livres. 5. Produção de sinais de dor a partir da área da lesão tecidual. 48 Clara Azevedo Trajeto do estímulo nervoso 1. Ativação dos nociceptores por histamina e bradicinina. 2. Condução dos estímulos por vias nervosas periféricas sensitivas (ex. ramos nervos trigémio, facial, glossofaríngeo e vago) ao SNC. 3. Tálamo e córtex: integração da sensação dolorosa. 4. Vias eferentes inibitórias e modulação da dor pelo cérebro Analgésico de ação central → Opióides - são todos os compostos de origem natural ( péptidoendógenos ) , com propriedades semelhantes à morfina e agonistas dos recetores opióides. → Opiáceos - são substâncias (alcalóides), com origem sintética ou semisintética (ex:codeína). Ópio ▪ Obtido da planta denominada Papaver somniferum, por incisão da bolsa de sementes, após as pétalas terem caído. ▪ O látex branco, torna-se castanho e endurece. Esta goma castanha é o ópio. Utilizado a mais de 6.000 anos, pelos egípcios, gregos e romanos. ▪ Contém cerca de 20 alcalóides, incluíndo morfina, codeína, tebaína e papaverina. Em 1803, Sertürner, farmacêutico alemão isolou o principal alcalóide do ópio Recetores opiódes → µ(mu) MOPè analgesia supra-espinhal, depressão respiratória, euforia e dependência física → κ(capa) KOPè analgesia espinhal, miose, sedação e disforia → δ(delta) DOPè alterações no comportamento afetivo → σ(sigma) è disforia, alucinações, estimulação vasomotora Recetor órfão Foi retirado da família dos recetores opióides porque não é ativado pela morfina nem antagonizado pela naloxona Recetores Opiáceos e mediadores endógenos 3 tipos de recetores 3 famílias de mediadores µ (mu) MOP →→ Endorfinas κ(capa) KOP →→ Dinorfinas δ (delta) DOP →→ Encefalinas Opiáceos ▪ A Analgesia ao nível supraespinhal com propriedades euforizantes, depressoras respiratórias e de dependência física decorrem da combinação de recetores µ e δ. Analgésicos opiáceos, podem ser divididos em: → Agonistas totais ou parciais → Antagonistas → Agonistas-antagonistas mistos 49 Clara Azevedo Agonistas mais potentes ▪ Alfentanil ▪ Fentanil ▪ Heroína ▪ Meperidina ▪ Metadona ▪ Morfina ▪ Remifentanil ▪ Sulfentanil Agonistas moderados/fracos ▪ Codeína ▪ Oxicodona ▪ Propoxifeno Agonistas e antagonistas parciais ▪ Buprenorfina ▪ Butorfanol ▪ Nalbufina ▪ Pentazocina Antagonistas ▪ Naloxona ▪ Naltrexona 50 Clara Azevedo Efeitos dos Opióides SNC ▪ Analgesia - alteração da percepção da dor e da reação do paciente a esta dor. ▪ Euforia - sensação agradável de flutuar e estar livre da ansiedade e do desconforto. ▪ Sedação - sonolência e turvação da consciência ▪ Depressão respiratória - inibição dos mecanismos do tronco cerebral ▪ Supressão da tosse (mais especificamente a codeína) ▪ Miose – pupilas puntiformes (diminuição do diâmetro da pupila) ▪ Rigidez no tronco - aumento do tonus nos grandes músculos do tronco, interferindo na ventilação ▪ Náuseas e vómitos - ativação da zona desencadeante quimiorrecetora do tronco cerebral Gastrointestinal ▪ Diminuição da motilidade do estômago e aumento do tónus, diminuição da secreção gástrica. ▪ Aumento do tónus do intestino delgado e espasmos periódicos. ▪ Aumento do tónus do intestino grosso e diminuição dos movimentos propulsivos → Efeito obstipante Vias Biliares ▪ Contração do músculo liso biliar, pode ocasionar cólicas biliares. Trato genitourinário ▪ Diminuição do fluxo plasmático renal ▪ Aumento do tónus do esfíncter uretral (retenção urinária). Útero ▪ Prolongamento do trabalho de parto Neuroendócrino ▪ Estimulação da libertação da hormona antidiurética, prolactina e somatotropina Utilização dos opióides Analgesia → A dor intensa e constante é aliviada com o uso de opióides. → A dor associada ao cancro e a outras doenças terminais. → a administração do opióide a intervalos fixos é mais eficaz no alívio da dor, do que a administração quando solicitada. → utilização em obstetrícia - atenção - os opióides atravessam a BHE do feto, podendo provocar depressão respiratória. Tosse → Atualmente o seu uso está bastante â pelo desenvolvimento de antitussícos sintéticos que não causam dependência ex: Codeína Diarreia → ex: Loperamida Anestesia → Medicação pré-anestésica - propriedades sedativas, ansiolíticas e analgésicas - podem ser usados como drogas anestésicas primárias (fentanil) 51 Clara Azevedo → analgésicos regionais (ação directa sobre a medula espinhal) quando administrados nos espaços epidural ou subaracnóide da medula espinhal → reversão com naloxona Uso Clínico Dor crónica → pós-operatória e cancro Dor Aguda → Trauma, cefaleia e no parto Anestesia → Preparação antes da inalaçãode anestésicos gasosos mais potentes Supressão da Tosse → Preparações anti-tússicas Diarreia → Redução da motilidade intestinal Farmacocinética ▪ A biodisponibilidade dos opióides utilizados por via oral diminui devido ao efeito de primeira passagem ▪ Semi-vida plasmática de 3-6 horas ▪ Principais locais de absorção: via subcutânea, transdérmica, intramuscular, mucosa do nariz, boca e TGI. Vias de administração ▪ Via retal (supositórios) ▪ Via epidural (anestesia) ▪ Via transdérmica ▪ Via intranasal ▪ Analgesia controlada pelo paciente Toxicidade ▪ Comportamento agitado, tremor, disforia (Estado de mal-estar e agitação ansiosa). ▪ Depressão respiratória ▪ Náuseas e vómitos ▪ Aumento da pressão intracraniana ▪ Obstipação ▪ Retenção urinária ▪ Urticária (mais frequente na administração parentérica) Efeitos indesejados: → Tolerância → Dependência → Síndrome de abstinência (que pode ser precipitada pelo uso de um antagonista opióide) → Náuseas → Vómitos → Diarreia → Cãibras musculares → Cólicas intestinais → Corrimento nasal Os opióides apresentam duas características que os tornam drogas de abuso particularmente perigosas: produzem euforia e bem-estar, mas a sua ação necessita de doses cada vez maiores para se manter ao mesmo nível (tolerância). 52 Clara Azevedo Em doses elevadas produzem euforia, estados hipnóticos e dependência. O opióide de abuso mais utilizado hoje é a heroína, um derivado da morfina com praticamente os
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