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1 Natália Giacomin Lima – Medicina UFES 101 LABORATÓRIO EM REUMATOLOGIA INTRODUÇÃO E IMPORTÂNCIA DOS EXAMES LABORATORIAIS • Diagnostico de doenças • Diagnostico diferencial • Atividade da doença • Respostas terapêuticas/ efeitos adversos • Prognósticos • Podem ser negativos em algumas doenças • Podem ser positivos em mais de uma doença • Podem ser positivos em pessoas saudáveis • Pode haver sobreposição de doenças • Para chegar ao diagnostico Boa anamnese e bom EF → HD → indicação solicitação de exames laboratoriais → INTERPRETAÇÃO • Podemos dividi-los em grupos: Artrites Colagenoses Vasculites ARTRITES 1. ANÁLISE DO LIQUIDO SINOVIAL (INTRARTICULAR) fornece informações importantes (características do LS) que auxiliam na definição do diagnóstico LS normal: Transudato de plasma + moléculas de alto peso molecular Lubrificação da cartilagem Poucas células (<200/ mm³) → condrócitos e sinoviócitos Cor: amarelo pálido, límpido Viscosidade alta 4.1.1 O que analisar no LS? Celularidade Culturas + Gram (presença de bactérias?) Cristal (microscopia de luz polarizada) 4.1.2 Classificação do LS após análise: Não-inflamatório Inflamatório Séptico Hemorrágico: único que é identificável macroscopicamente → é decorrente de um sangramento intraarticular (ex: trauma, neoplasia, hemofilia, ....) 2 Natália Giacomin Lima – Medicina UFES 101 A primeira coisa que devemos analisar é a celularidade do liquido. LS não inflamatórios costumam ter celularidade mais baixa (<2000 células mm³) e menor percentagem de PMN Quando temos processo inflamatório, o número de células do LS aumenta assim como a proporção de PMN – a contagem de células diferencial ajuda a classificar e diferenciar um LS inflamatório (2ª a doença autoimune ou 2ª a doença articular) de um não inflamatório O protótipo da doença que resulta em LS NÃO INFLAMATÓRIO é a OSTEOARTRITE. Nessa doença o LS possui aspecto macroscópico claro/ amarelo; ALTA viscosidade; contagem de células baixa com pequena percentagem de PMN e cultura negativa, excluindo infecções DIFERENCIAÇÃO ENTRE LS INFLAMATÓRIO: AUTOIMUNE X INFECCIOSO • O exame mais importante é a CULTURA – pesquisa de microrganismos (BACTÉRIAS) → no liquido séptico (inflamação de origem infecciosa este exame será POSITIVO) • A celularidade NÃO é fator decisivo para definir o liquido como inflamatório ou séptico. A contagem de PMN também não deve ser usada para esse fim!! Sendo o único capaz de diferenciar se a etiologia é SEPTICA ou AUTOIMUNE a CULTURA + GRAM • Excluindo a etiologia infecciosa de um LS com caráter inflamatório devemos levantar a hipótese de uma doença autoimune (TODAS AS DOENÇAS AUTOIMUNES CURSAM COM LS DE CARACTERÍSTICA INFLAMATÓRIA!!) OBS: além das doenças autoimunes as ARTROPATIAS MICROCRISTALINAS (caracterizadas pelo deposito de cristais dentro das articulações) podem cursar com LS INFLAMATÓRIO → as duas doenças mais importantes desse grupo são a GOTA e a ARTROPATIA CAUSADA PELA DEPOSIÇÃO DE PIROFOSFATO DE CALCIO → devemos incluir aqui a PESQUISA DE CRISTAIS (MICROSCOPIA DE LUZ POLARIZADA) OBS: Na pesquisa quando esses cristais são positivos podemos diferenciar uma artropatia por deposição de cristais (microcristalinas) de uma autoimune PASSO A PASSO PARA CLASSIFICAR O LS: 1. Celularidade do LS → Inflamatório → Não inflamatório (< 2000 leucocitos mm³) 2. Culturas + Gram → identificação de artrite séptica (infecciosa) 3. Presença de cristais → identifica o LS inflamatório decorrente de artrites microcristalinas 3 Natália Giacomin Lima – Medicina UFES 101 MICROSCOPIA DE LUZ POLARIZADA – IDENTIFICA OS TIPOS DE CRISTAIS: • URATO MONOSSÓDICO → Birrefringência negativa (coloração amarelada) – formato de agulha → GOTA • PIROFOSFATO DE CÁLCIO → birrefringência fracamente positiva, formato romboide → doença por depósito de Pirofosfato de cálcio 4.2 FATOR REUMATÓIDE Anticorpo dirigido contra a fração FC de IgG Na AR: ✓ Presente em 70-80% dos casos ✓ Título tem associação com gravidade de doença (AR) – maiores títulos associados a quadros mais graves ✓ ISOLADAMENTE NÃO FAZ DIAGNÓSTICO DE AR (ARTRITE REUMATÓIDE)!! → Pode ser negativo em pacientes com AR! Produzido em desordens inflamatórias crônicas: HBV, HCV, TB, CBP (colangite biliar primaria), hepatite autoimune, hanseníase, vasculite crioglobulinêmica, SSJ, AIJ Produzido em indivíduos normais -prevalência de 5-6% → IDOSOS prevalência de 10-25% CASO CLÍNICO: Associando o quadro da paciente – artralgia de caráter mecânico (desencadeada por movimento). Nódulos de Heberden ao exame físico Provas inflamatórias na AO – são NORMAIS → PCR e VHS normal Nesse caso não precisamos pedir fator reumatoide pois ele não mudará o diagnostico independente do FR vir + ou não! Podendo atuar como um fator confusional na formulação do diagnostico (OBS: como sabemos o FR não é especifico, e pode aumentar com a idade do paciente. Dessa forma em idosos pode ser elevado 4.3 ANTI-CCP (ANTICORPO ANTI PEPTIDEO CITRULINADO) Anticorpo dirigido contra resíduos de citrulina Na AR: Mais especifico (95-98%) do que o FR para a AR Presente em 85% dos casos Associação com gravidade de doença** → quanto maior o titulo maior a chance do individuo ter uma doença erosiva grave associada a manifestações extra-articulares Solicitar apenas se suspeita clínica de: → Artrite reumatoide (AR) → AIJ – artrite idiopática juvenil → Síndrome de Sjogren Idoso com diagnóstico de osteoartrite e FR + Mudaria o diagnóstico?? NÃO!! ANÁLISE DO LS NÃO INFLAMATÓRIO <2000 cél mm³ OA INFLAMATÓRIO > 2000 CÉLULAS/MM³ CULTURA + Artrite séptica CRISTAL + Gota CPPD CRISTAL - CULTURA - outras artrites HEMORRÁGICO Trauma? Neoplasia? CELULARIDADE CRISTAL CULTURA/ GRAM 4 Natália Giacomin Lima – Medicina UFES 101 30% dos AR FR negativo → tem anti-CCP positivo!! Em condições normais o nosso corpo produz somente a ARGININA. em pacientes com AR (artrite reumatoide) uma enzima, chamada PAD4 transforma a arginina em CITRULINA (não self). Dessa forma o corpo reconhece esses resíduos de citrulina como antígenos e desencadeia a produção de anticorpos contra esses resíduos #OBS: Dessa forma esses anticorpos serem negativos NÃO exclui diagnóstico de ARTRITE REUMATÓIDE quando o paciente tem clínica característica associada a exames de imagem que corroborem o quadro 4.4 HLA-B27 Alelo de um gene que confere susceptibilidade para as ESPONDILOARTRITES – sendo a principal a Espondilite Anquilosante → é dosado pelo sangue 50-100 x o risco de EA Pode ser encontrado em pessoas normais 4.5 EXAMES QUE DETECTAM INFLAMAÇÃO EM AMOSTRA SÉRICA a) HEMOGRAMA Anemia Leucocitose Trombocitose b) PROVAS DE FASE AGUDA Produzidas no fígado após estimulo de citocinas (IL-6**, IL-1, TNF-ALFA) → síntese das proteínas de fase aguda PCR e VHS Outras: fibrinogênio, ferritina, complemento, heptoglobina, amiloide sérico A Podem estar elevadas: inflamação → doença autoimune; infecção; neoplasia; gestação – NÃO ESPECÍFICA DE DOENÇA AUTOIMUNE!! 2ª A QUAQUER PROCESSO INFLAMATÓRIO! c) PCR (PROTEÍNA C REATIVA) Concentração aumenta rapidamente T ½ 18horas Processos inflamatórios, autoimunes, tumorais e infecciosos → NÃO É POSSIVEL DIFERENCIAR A ETIOLOGIA! Na reumatologia → útil na identificação de atividade de doença (AR- artrite reumatoide e SPA- espondilite anquilosante) → quando há atividade de doença a PCR se eleva d) VHS (VELOCIDADE DE HEMOSSEDIMENTAÇÃO) Medida indireta de reagentes de ase aguda e imunoglobulinas sintetizadas em resposta a inflamaçãoOBS: em condições normais as hemácias possuem forças repulsivas entre uma e outra. A presença de reagentes de fase aguda alteram essas forças de forma que os glóbulos vermelhos tendem a se agregar e preciptar nessas condições ( VHS) SOLICITAR SE: - Dúvida diagnóstica poliartrite crônica --> se vier + = AR - Paciente AR com FR negativo FATOR REUMATÓIDE (FR) + 80% QUANDO AMBOS SÃO NEGATIVOS? Se suspeita clínica é grande + Exames de imagem AR (SORONEGATIVA) ANTI-CCP + EM 85% SOLICITAR SE: Suspeita de Espondiloartrite (anquilosante, artrite enteropática, artrite psoriásica, artrite reativa, ....) 5 Natália Giacomin Lima – Medicina UFES 101 Medida em mm da pilha de hemácias que se preciptam no período de 1 hora Método de Westergren #OBS: Além dos reagentes de fase aguda (inflamação) outros componentes do sangue podem alterar o VHS. De forma que outros fatores podem alterar essa medida, tais como: o numero de hemácias, quantidade de imunoglobulinas, idade do paciente (quanto maior a idade maior o valor do VHS) #OBS: Dessa forma o VHS NÃO É ESPECÍFICO PARA PROCESSOS INFLAMATÓRIOS. Dessa forma precisamos levar em conta para a interpretação desses valores outros fatores COLAGENOSES • Nessas doenças o indivíduo produz anticorpos contra componentes das próprias células • FAN = fator antinucleo → detecta a presença de anticorpos contra vários componente (AG) celulares, não só no núcleo mas também no citoplasma • O FAN é positivo em doenças autoimunes (COLAGENOSES): LES, ES (esclerose sistêmica), DMTC (doença mista do tecido conjuntivo), Sd. Sjogren, miopatia inflamatória Doenças não reumatológicas (autoimunes): CBP (colangite biliar primaria), fibrose pulmonar idiopática, neoplasias, anemia hemolítica autoimune, esclerose múltipla, doença de Graves, Hashimoto, hepatite autoimune, lúpus induzido por droga OBS:. Produzido em indivíduos normais – prevalência 1,2-13%! OBS: IMPORTANTE: FAN + NÃO É IGUAL A LES (DEVEMOS SEMPRE ANALISAR O QUADRO CLÍNICO) !!! 5.1 FAN (FATOR ANTI-NÚCLEO) Células Hep 2 Método de imunofluorescência indireta (IFI) Os anticorpos presentes no sangue do paciente se ligam a antígenos intracelulares. Essa ligação é revelada com a adição de um anticorpo especifico para imunoglobulina humana conjugado a fluorescência Anticorpos presentes no sangue do paciente que se ligam a antígenos intracelulares (quando essa ligação ocorre há emissão da fluorescência que é visível no microscópio) a) PADRÕES DO FAN (Os antígenos podem estar localizados em): NÚCLEO FAN nuclear homogêneo Anticorpo Anti-DNA → especifico de LES Anticorpo Anti-histona → lúpus induzido por droga FAN nuclear pontilhado fino e placa metafásica negativa: •FR (fator reumatoide) •Anti-CCP SUSPEITA DE ARTRITE REUMATÓIDE •HLA-B27 SUSPEITA DE ESPONDILOARTRITE •HMG •PCR •VHS EXAMES SÉRICOS DE INFLAMAÇÃO + RX ARTICULAÇÕES AFETADAS 6 Natália Giacomin Lima – Medicina UFES 101 Anti-Ro (anticorpo ligado a proteína “Ro”) → LES, Sd de Sjogren, LES neonatal, LES cutâneo subagudo, miopatia Anti-La → LES, sd Sjogren, LES neonatal FAN nuclear pontilhado fino e placa metafásica positiva: É chamado de padrão nuclear pontilhado fino denso → é encontrado quando o anticorpo se liga a proteína p75 → PADRÃO ENCONTRADO EM PESSOAS SAUDÁVEIS (SEM DOENÇA AUTOIMUNE!) FAN nuclear pontilhado grosso: Anticorpo anti-Sm (Smith) → LES Anti-RNP → DMTC (doença mista do tecido conjuntivo), LES, ES (esclerose sistêmica) FAN nuclear centromérico: Anticorpo anti-centrômero → esclerose sistêmica CITOPLASMA FAN citoplasmático pontilhado fino denso: Anti-P ribossomal → LES NUCLÉOLO FAN nucleolar: Esclerose sistêmica (anti-Th/To; anti U3-RNP; anti-RNA; polimerase-1) APARELHO MITÓTICO b) TÍTULO DO FAN Baixo: 1:80 Moderado: 1:160- 1:320 Alto > 1: 640 Doenças autoimunes → títulos moderados/ altos Pacientes saudáveis → títulos baixos VASCULITES 1. ANCA • Exame que detecta antígenos presentes nos neutrófilos • Método de imunofluorescência indireta (IFI) • Os anticorpos presentes no sangue do paciente se ligam a antígenos intracelulares (do neutrófilo) – quando essa ligação ocorre há emissão de fluorescência • O anticorpo pode se ligar a: Uma proteína presente no citoplasma → PADRÃO P ANCA Peri-nuclear → PADRÃO PERINUCLEAR ANCA CITOPLASMÁTICO = C-ANCA → Anticorpo se liga a proteína citoplasmática – Anti-PR3 → granulomatose com poliangeíte (especifico) ANCA PERINUCLEAR = P-ANCA → Anti-MPO (anticorpo se liga a mieloperoxidase) → poliangeite microscópica, GEPA (granulomatose eosinofilica com poliangeíte) Solicitar FAN se: suspeita de doença autoimune (principalmente do grupo das colagenoses) Solicitar ANCA se: suspeita de vasculite de vasos de pequeno calibre
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