Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
SUMÁRIO UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO ..................................................................................... 2 UNIDADE 2 – A PROTEÇÃO SOCIAL AO TRABALHADOR ................................... 4 2.1 SURGIMENTO E EVOLUÇÃO .................................................................................... 4 2.2 DA CARIDADE À ASSISTÊNCIA ................................................................................ 7 2.3 O ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL, POLÍTICA SOCIAL, SEGURIDADE SOCIAL ................ 9 UNIDADE 3 – AS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS E A PROTEÇÃO SOCIAL .... 11 UNIDADE 4 – A SEGURIDADE SOCIAL NA CRFB/88 ........................................... 13 4.1 OBJETIVOS DA SEGURIDADE SOCIAL .................................................................... 15 4.2 O TRIPÉ DA SEGURIDADE SOCIAL ......................................................................... 15 4.2.1 Saúde ........................................................................................................ 16 4.2.2 Assistência Social ..................................................................................... 18 4.2.3 Previdência ............................................................................................... 22 UNIDADE 5 – FUNDAMENTOS DA SEGURIDADE SOCIAL .................................. 23 UNIDADE 6 – MODELOS DE PREVIDÊNCIA SOCIAL ........................................... 25 6.1 SISTEMAS CONTRIBUTIVOS E NÃO CONTRIBUTIVOS ................................................ 26 6.2 SISTEMAS CONTRIBUTIVOS DE CAPITALIZAÇÃO E REPARTIÇÃO ............................... 28 6.3 SISTEMAS PRIVADOS DE PREVIDÊNCIA .................................................................. 29 6.4 O SISTEMA DE PILARES – MODELO BRASILEIRO .................................................... 30 UNIDADE 7 – REGIMES PREVIDENCIÁRIOS ........................................................ 32 7.1 O REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL (RGPS) ............................................ 34 7.2 REGIMES DE PREVIDÊNCIA DE AGENTES PÚBLICOS OCUPANTES DE CARGOS EFETIVOS E VITALÍCIOS ............................................................................................................ 35 7.3 REGIME PREVIDENCIÁRIO COMPLEMENTAR .......................................................... 35 7.4 REGIME DOS MILITARES DAS FORÇAS ARMADAS .................................................. 37 UNIDADE 8 – A CONSTITUICIONALIZAÇÃO DO DIREITO PREVIDENCIÁRIO (MARCELO LEONARDO TAVARES) ...................................................................... 39 REFERÊNCIAS......................................................................................................... 65 3 Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO Iniciamos o curso de especialização em Direito Previdenciário afirmando que a Seguridade Social é uma necessidade que baliza o Estado na busca de estabelecer a justiça social mediante a redistribuição de renda e a assistência aos menos favorecidos. Concordamos com Fillipo (2007) quando ressalta que as discussões em torno do tema Seguridade Social deveriam ocupar um lugar de destaque na agenda brasileira, especialmente num país com índices elevados de pobreza em algumas regiões, crescente aumento da população de idosos e alto índice de acidentes de trabalho e de mortes em acidentes de veículos, que oneram expressivamente as despesas com saúde pública e previdência social. Mesmo com atrasos e participando de uma luta sem fim, temos visto avanços nas três áreas que formam seguridade social no Brasil (saúde, previdência e assistência social) as quais serão analisadas ao longo deste curso. De todo modo, o que se espera é um estado de bem-estar social que avance sempre no caminho da universalidade e inclusão e temos os estudiosos e operadores do Direito Previdenciário que muito têm a contribuir com tais avanços. Neste primeiro momento, o foco está justamente em delinear a proteção social ao trabalhador; relembrar o caminho percorrido pelas constituições; apresentar os fundamentos, os modelos e os regimes da Previdência Social. O último tópico traz justamente um estudo especial muito bem elaborado pelo Senhor Juiz Federal e professor MARCELO LEONARDO TAVARES, intitulado “A Constitucionalização do Direito Previdenciário”. Ressaltamos em primeiro lugar que embora a escrita acadêmica tenha como premissa ser científica, baseada em normas e padrões da academia, fugiremos um pouco às regras para nos aproximarmos de vocês e para que os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos científicos. Em segundo lugar, deixamos claro que este módulo é uma compilação das ideias de vários autores, incluindo aqueles que consideramos clássicos, não se tratando, portanto, de uma Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 3 redação original e tendo em vista o caráter didático da obra, não serão expressas opiniões pessoais. Ao final do módulo, além da lista de referências básicas, encontram-se outras que foram ora utilizadas, ora somente consultadas, mas que, de todo modo, podem servir para sanar lacunas que por ventura venham a surgir ao longo dos estudos. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 4 UNIDADE 2 – A PROTEÇÃO SOCIAL AO TRABALHADOR 2.1 Surgimento e evolução CELSO BARROSO LEITE e LUIZ PARANHOS VELLOSO (1963 apud TAVARES, 2008) assinalam que se costuma atribuir o berço da previdência social a instituições de cunho mutualista de que se tem notícia na Grécia e Roma antigas, ou ainda a recuados períodos da história chinesa. Durante a idade Média, certas corporações profissionais mantiveram seguros sociais para seus membros. O marco de criação da assistência social, tema a ser exaustivamente trabalhado ao longo do curso, encontra-se na Inglaterra e data de 1601, com a edição da Lei dos Pobres (Poor Law), a qual regulamentou a instituição de auxílios e socorros públicos aos necessitados. Para CARLOS ALBERTO PEREIRA DE CASTRO e JOÃO BATISTA LAZZARI (2009), o direito à proteção social do trabalhador pelo Estado tem sua gênese relacionada ao desenvolvimento da sua estrutura e da discussão histórica sobre quais deveriam ser as suas funções. O Estado Contemporâneo possui, entre suas funções, a proteção social dos indivíduos em relação a eventos que lhes possam causar a dificuldade ou até mesmo a impossibilidade de subsistência por conta própria, pela atividade laborativa. Tal proteção, que tem formação embrionária do Estado Moderno, encontra-se consolidada nas políticas de Seguridade Social, dentre as quais se destaca, para os fins deste estudo, a Previdência Social (CASTRO; LAZZARI, 2009, p. 33). A verdade é que o ser humano, desde os primórdios da civilização, tem vivido em comunidade e a evolução histórica da proteção social teve na assistência mútua familiar o seumarco inicial, pois os pais, cônjuges, irmãos e filhos providenciavam auxílio para outros membros da família que não possuíam mais condições de trabalhar, considerando a família célula-mãe da sociedade, sendo a principal responsável pela proteção social aos necessitados. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 5 Com o desenvolvimento das relações sociais, ocorreu a formação de novos grupos de pessoas que encontram afinidades nas relações de trabalho, sendo, portanto, o trabalho um gerador de afinidades e infortúnios (GUSMÃO, 2012). Neste convívio, para sua subsistência, aprendeu a obter bens, trocando os excedentes de sua produção individual por outros bens. Com o desenvolvimento das sociedades, o trabalho passou a ser, numa determinada fase da história – mais precisamente na Antiguidade Clássica –, considerado como ocupação abjeta, relegada a plano inferior, e por isso confiada a indivíduos cujo status na sociedade era excludente – os servos e escravos. Dizia Aristóteles que para se obter cultura era necessário o ócio, razão pela qual deveria existir o escravo. Muitos mencionam advir desta época a etimologia do vocábulo trabalho – derivando do latim tripalium (MORAES FILHO; MORAES, 1993, p. 17). Mais adiante no tempo, dentro do chamado sistema feudal, aparecem os primeiros agrupamentos de indivíduos que, fugindo das terras dos nobres, fixavam- se nas urbes, estabelecendo-se, pela identidade de ofícios entre eles, uma aproximação maior, a ponto de surgirem as denominadas corporações de ofício, nas quais se firmavam contratos de locação de serviços em subordinação ao “mestre” da corporação. Mas é com o Estado Moderno – assim considerado em contraposição ao modelo político Medieval, como antecedente, e ao Estado Contemporâneo, como sucessor daquele –, a partir da Revolução Industrial, que desponta o trabalho tal como hoje o concebemos. O surgimento dos teares mecânicos, dos inventos movidos a vapor e das máquinas em geral estabeleceu uma separação entre os detentores dos meios de produção e aqueles que simplesmente se ocupavam e sobreviviam do emprego de sua força de trabalho pelos primeiros. Paralelamente a esse fenômeno, a Revolução Francesa e seus ideais libertários proclamaram a liberdade individual plena e a igualdade absoluta entre os homens, conceitos que, tempos após, foram contestados tal como concebidos naquela oportunidade (CASTRO; LAZZARI, 2009). Nos primórdios da relação de emprego moderna, o trabalho retribuído por salário, sem regulamentação alguma, era motivo de submissão de trabalhadores a Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 6 condições análogas às dos escravos, não existindo, até então, nada que se pudesse comparar à proteção do indivíduo, seja em caráter de relação empregado- empregador, seja na questão relativa aos riscos da atividade laborativa, no tocante à eventual perda ou redução da capacidade de trabalho. Vale dizer, os direitos dos trabalhadores eram aqueles assegurados pelos seus contratos, sem que houvesse qualquer intervenção estatal no sentido de estabelecer garantias mínimas. Começaram, então, a eclodir manifestações dos trabalhadores por melhores condições de trabalho e de subsistência, com greves e revoltas – violentamente reprimidas pelo próprio Poder constituído. Surgiram daí as primeiras preocupações com a proteção previdenciária do trabalhador, ante a inquietação dos detentores do poder nos Estados com a insatisfação popular, o que acarretou a intervenção estatal no que diz respeito às relações de trabalho e segurança do indivíduo quanto a infortúnios. Como disse Bismarck (s.d apud CASTRO E LAZZARI, 2009), governante alemão daquela época, justificando a adoção das primeiras normas previdenciárias: “Por mais caro que pareça o seguro social, resulta menos gravoso que os riscos de uma revolução”. Nesse contexto, as revoltas operárias permaneceram por todo o século XIX, ocorrendo, de modo simultâneo e paulatino, um movimento de cada vez maior tolerância às causas operárias (cessação da proibição de coalizões entre trabalhadores, primeiras leis de proteção ao trabalhador), o que culminaria numa concepção diversa de Estado, a que se denominaria Estado Social, Estado de Bem- Estar, ou ainda, Estado Contemporâneo. Nem sempre, como visto, houve a preocupação efetiva com a proteção dos indivíduos quanto a seus infortúnios. Somente em tempos mais recentes, a partir do mal do século XIX, a questão se tornou importante dentro da ordem jurídica dos Estados. MOZART VICTOR RUSSOMANO (1981, p. 18) comenta que o mundo contemporâneo abandonou, há muito, os antigos conceitos da Justiça Comutativa, pois as novas realidades sociais e econômicas, ao longo da História, mostraram que não basta dar a cada um o que é seu para que a sociedade seja justa. Na verdade Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 7 algumas vezes, é dando a cada um o que não é seu que se engrandece a condição humana e que se redime a injustiça dos grandes abismos sociais. Enfim, a proteção social é o conjunto de medidas de caráter social destinadas a atender certas necessidades individuais; mais especificamente, às necessidades individuais que, não atendidas, repercutem sobre os demais indivíduos e, em última análise, sobre a sociedade (LEITE, 1978, p. 16). Em verdade, a marcha evolutiva do sistema de proteção, desde a assistência prestada por caridade até o estágio em que se mostra como um direito subjetivo, garantido pelo Estado e pela sociedade a seus membros, é o reflexo de três formas distintas de solução do problema: a da beneficência entre pessoas; a da assistência pública; e a da previdência social, que culminou no ideal de seguridade social (CASTRO; LAZZARI, 2009). 2.2 Da caridade à Assistência No dicionário Aurélio (FERREIRA, 2004), encontramos algumas definições para caridade que podem ser resumidas em: benevolência, complacência, esmola (auxílio, amparo, benefício, favor). É uma prática de assistência ao outro não se limitando à civilização judaico- cristã (caridade como amor ao próximo) muito menos às sociedades capitalistas (caridade em decorrências das mazelas impostas pela ótica da pobreza que incomoda). Sob a ótica da solidariedade social, pobres, viajantes, incapazes e doentes eram alvos de ações que assumiram formas variadas nas diferentes sociedades, sempre motivadas pela compreensão de que entre os homens nunca deixarão de existir os mais frágeis, carecedores de ajuda alheia (CARVALHO, 2008). Embora a proteção ao ser humano venha da antiguidade, quanto ao sujeito enquanto trabalhador, é recente a proteção social aos riscos de trabalho. Em períodos passados, anteriormente ao surgimento das primeiras leis de proteção social, a defesa do trabalhador quanto aos riscos no trabalho e perda da condição de subsistência se dava pela assistência caritativa individual ou pela reunião de Todos os direitos são reservadosao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 8 pessoas. J. R. FEIJÓ COIMBRA (1997), citando Oscar Saraiva (s.d), menciona que nas sociedades romanas e gregas da Antiguidade se encontram referências a associações de pessoas com o intuito de, mediante contribuição para um fundo comum, receberem socorro em caso de adversidades decorrentes da perda da capacidade laborativa. No período das corporações de ofício, Idade Média Europeia, tem-se o aparecimento das guildas, entre cujos escopos estava também o de associação de assistência mútua. Porém, é somente com o desenvolvimento da sociedade industrial que vamos obter um salto considerável em matéria de proteção, com o reconhecimento de que a sociedade no seu todo deve ser solidária com seus incapacitados (CASTRO; LAZZARI, 2009). MOZART VICTOR RUSSOMANO (1981, p. 19) confirma que até o século XVIII não havia a sistematização de qualquer forma de prestação estatal, pois, “de um modo geral, não se atribuía ao Estado o dever de dar assistência aos necessitados”. A exceção registrada na História, já citada anteriormente, a Poor Law, editada em 1601 na Inglaterra, instituía contribuição obrigatória para fins sociais, com intuito assistencial. Na Idade Moderna, havia um fosso imenso separando a classe operária da classe dos detentores dos meios de produção. E o Estado Moderno, dentro da concepção liberal, limitava-se a assistir, inerte, às relações entre particulares, sem estabelecer normas de limitação à autonomia pessoal. Desse modo, a proteção ao trabalhador, até então voluntariamente feita por aqueles que se preocupavam com a dignidade humana, muitas vezes só existia sob a forma de caridade. Não obstante isso, a intervenção estatal, no período do liberalismo econômico, limitava-se a prestar benefícios assistenciais, ou seja, oferecia pensões pecuniárias e abrigo aos financeiramente carentes (CASTRO; LAZZARI, 2009). Nota-se, portanto, que, no tocante à atuação no campo do amparo aos indivíduos, “o primeiro tipo de proteção social que podemos reconhecer no mundo é o tipo liberal, em que predomina a assistência aos pobres enquanto uma preocupação do Estado. Então, o Estado dá assistência; e o mercado, o resto” (ANDRADE, 2003, p. 18). Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 9 DANIEL MACHADO DA ROCHA (2004, p. 28) adverte que as manifestações assistenciais de até então tinham inserido o caráter de mutualidade, mas não o de seguro, não havendo garantia plena de proteção em caso de necessidade. O seguro de vida surge somente em 1762, com a fundação em Londres “da primeira companhia de seguros de vida dentro de bases científicas”. Em 1849, surgiram empresas que se dedicavam à instituição de seguros populares, destinados à classe trabalhadora. O mesmo autor ressalta que, de acordo com o pensamento liberal da época, em síntese, os instrumentos de proteção social da época eram: a assistência social privada e pública, a poupança individual, o mutualismo e o seguro privado. 2.3 O Estado de bem-estar social, política social, seguridade social Quando da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, em 1789, viu- se a primeira menção ao conceito que mais tarde seria entendido como “bem-estar social”. A proteção ao indivíduo se inscreveu como o princípio da Seguridade Social, um direito subjetivo assegurado a todos. Na apresentação de sua dissertação de Mestrado em Economia, MARIA PANDOLFI GUERREIRO (2010) inicia refletindo que muitos são os modos de organização de um estado de bem-estar social e de suas redes de proteção. Pondera que não existe fórmula única. Ele pode ser mais ou menos inclusivo, mais ou menos universal, com maiores ou menores graus de desmercantilização na provisão do bem-estar. Também, a principal responsabilidade pode estar centrada no Estado, no indivíduo ou na família. Seu caráter pode ser mais progressivo ou mais regressivo e, ainda, priorizar políticas de transferências horizontais ou verticais. O resultado deste “mix” de escolhas formará sociedades mais ou menos igualitárias, com maiores ou menores equidade de oportunidades e maiores ou menores graus de solidariedade. Vários podem ser os modelos (liberal, conservador, socialdemocrata) de um Estado de bem-estar social. Os países que adotaram propostas mais universalistas são os mais inclusivos, os que sua população apresenta melhor qualidade de vida, enfim, são os mais eficientes na promoção do bem estar social. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 10 O regime social-democrata de estado de bem-estar pode ser considerado o mais completo, pois, através de seu sistema altamente igualitário e universal garante um maior grau de desmercantilização, o mais amplo sentimento de solidariedade entre a população, e diminui imensamente o risco da pobreza. O regime de bem-estar social conservador, corporativo ou meritocrático, pode ser considerado como uma forma intermediária entre o liberal e o social- democrata. Foi construído nos moldes bismarckianos: apresenta proteção social atrelada ao mercado de trabalho, muitas vezes com diferenciações entre os distintos cargos e ocupações. Já no modelo liberal, a diretriz era de que a grande maioria da população fosse capaz de prover seu próprio bem-estar no mercado e a interferência do Estado deveria ser mínima, apenas para os comprovadamente pobres (através de testes de meios) (GUERREIRO, 2010). No âmbito mais geral das políticas sociais, pode-se dizer que o grande avanço foi a criação da Seguridade Social, uma nova e mais abrangente concepção de proteção social. Esta nova concepção percebe as políticas sociais como uma rede, que deve ser integrada para um melhor resultado, preterindo as políticas sociais isoladas. Assim, a Seguridade Social abrange as áreas da Previdência Social, da Assistência Social e da Saúde, colocando-as todas num mesmo patamar de importância, conforme Castro; Ribeiro, para expressar um arranjo consistente com uma ampla rede de proteção aos riscos sociais inerentes ao ciclo de vida, à trajetória laboral e à insuficiência de renda, agravados por um modelo econômico excludente e pela perversa distribuição de renda do país (CASTRO; RIBEIRO, 2009, p. 28). EVILÁSIO SALVADOR (2007, p. 81) reitera esta posição afirmando que um dos maiores avanços em termos de política social foi a adoção do conceito de seguridade social englobando, em um mesmo sistema, as políticas de saúde, previdência e assistência social. [...] A rede de proteção da seguridade social permite a manutenção do padrão de renda e protege o cidadão ou sua família contra as situações de incapacidade de trabalhar ou de diminuição da capacidade laboral derivada dos ciclos vitais. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemasde armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 11 Veremos estes “componentes” da seguridade social ao longo desta apostila e de todo o curso de Direito Previdenciário. UNIDADE 3 – AS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS E A PROTEÇÃO SOCIAL O desenvolvimento da intervenção estatal no tocante à proteção social, aos riscos sociais tanto no Brasil quanto no mundo aconteceu de maneira gradual. Em relação ao Brasil, da Constituição de 1824 que não tratou do assunto e não fazia nenhuma menção à previdência social ou aposentadoria até a Constituição de 1988, observamos perfeitamente a exclusão de 1824 até o amplo sistema criado a partir de 1988. Repassando... Constituição de 1891 – foi a primeira a tratar de aposentadoria, que somente poderia ser dada aos “funcionários públicos em caso de invalidez no serviço da Nação” (art. 75). Nas disposições transitórias, também concedia o direito de aposentadoria aos magistrados que não se enquadrassem na nova organização judiciária criada e ainda previa implicitamente o direito aos demais juízes (art. 6º). Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 12 Evidencia-se a natureza não contributiva que revestia a aposentadoria do servidor, restrita aos inválidos em serviço. Nada se falava sobre os demais trabalhadores e servidores, ou seja, proteção social à organização estatal era algo estranho (IBRAHIM, 2009). Constituição de 1934 – avança nas garantias sociais, até porque já algum tempo posterior à Lei Eloy Chaves (Decreto Legislativo nº 4.682/23), prevendo a competência privativa da União para legislar sobre assistência social (art. 5º, XIX, c). Também vem a prever a proteção ao trabalhador e à gestante, além de determinar “instituição de previdência, mediante contribuição igual da União, do empregador e do empregado, a favor da velhice, da invalidez, da maternidade e nos casos de acidentes de trabalho ou de morte” (art. 121, § 1º, h). Esta Constituição ficou conhecida como a primeira a tratar de previdência e a instituir a fonte tríplice de custeio, com recursos dos trabalhadores, dos empregadores e da União. Os servidores também tinham direito ao benefício, que, de acordo com a Constituição, deveria constar de Estatuto dos Funcionários Públicos (art. 170). Constituição de 1937 – não trouxe grandes mudanças, limitando-se a prever a “instituição de seguros de velhice, de invalidez, de vida e para os casos de acidentes do trabalho” (art. 137, m). Também determinava que “as associações de trabalhadores têm o dever de prestar aos seus associados auxílio ou assistência, no referente às práticas administrativas ou judiciais relativas aos seguros de acidentes do trabalho e aos seguros sociais” (art. 137, n). Com relação ao servidor, havia também menção à criação do Estatuto dos Funcionários Públicos, tratando dos direitos e obrigações destes (art. 156). Constituição de 1946 – dava competência à União para legislar sobre normas de “seguro e previdência social” (art. 5º, XV); também previa a obrigatoriedade de “previdência, mediante contribuição da União, do empregador e do empregado, em favor da maternidade e contra as consequências da doença, da velhice, da invalidez e da morte” (art. 157, XVI). Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 13 Ressalte-se que foi a primeira a garantir aposentadoria ao servidor que contasse com 35 anos de serviço (art. 191, § 3º). Constituição de 1967 – também dava competência à União para legislar sobre normas de “seguro e previdência social” (art. 8º, XVII, c). Ainda trazia o direito aos trabalhadores à “previdência social, mediante contribuição da União, do empregador e do empregado, para seguro-desemprego, proteção da maternidade e nos casos de doença, velhice, invalidez e morte” (art. 158, XVI). Importante frisar a confirmação de que “nenhuma prestação de serviço de caráter assistencial ou de benefício compreendido na previdência social será criada, majorada ou estendida sem a correspondente fonte de custeio total” (art. 158, § 1º), mas este dispositivo foi criado em 1965, por meio de Emenda à Constituição de 1946, e naturalmente mantida na Carta dois anos depois. A Emenda de 1969 repetiu as normas de 1967 sobre proteção social, mantendo a competência da União em matéria previdenciária e repetindo as demais regras. Também havia em ambas o direito ao servidor de se aposentar voluntariamente, após 35 anos de serviço (IBRAHIM, 2009). UNIDADE 4 – A SEGURIDADE SOCIAL NA CRFB/88 Para CELSO BARROSO LEITE (1992), a seguridade social é o conjunto de medidas destinadas a atender às necessidades básicas do ser humano. Portanto, o direito da seguridade destina-se a garantir, precipuamente, o mínimo de condição social necessária a uma vida digna, atendendo ao fundamento da República contido no art. 1º, III, da CRFB/88. A Seguridade Social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência social e à assistência social (TAVARES, 2008; CASTRO; LAZZARI, 2009), conforme previsto no Capítulo II do Título VIII da Constituição Federal de 1988. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 14 No entendimento de FÁBIO ZAMBITTE IBRAHIM (2009, p. 8), o melhor termo seria “segurança social”, inclusive estando este termo mais correto de acordo com a língua portuguesa, visto que o constituinte teve a intenção de criar um sistema protetivo que até a CRFB/88 inexistia no Brasil. Explica ainda que o Estado, de acordo com esse novo conceito, seria responsável pela criação de uma teia de proteção capaz de atender aos anseios e necessidades de todos na área social. O mesmo autor esclarece ainda que a seguridade social é objeto de estudo e normatização do Direito Previdenciário e que, muito embora a previdência seja menor que a seguridade, como aquela é anterior a esta, o ramo do direito adota seu nome. De todo modo, a utilização de designações diversas como direito da seguridade social também é correta. Essa rede protetiva formada pelo Estado e particulares, com contribuição de todos, inclusive do beneficiário de tais direitos, tem como objetivo estabelecer ações positivas no sustento de pessoas carentes, trabalhadores em geral e seus dependentes, provindo-lhes a manutenção de um padrão mínimo de vida. A intervenção estatal é obrigatória, quer por meio de ações diretas ou controle, devendo atender a toda e qualquer demanda referente ao bem-estar da pessoa humana. A Lei nº 8.212/91 dispõe sobre a organização da Seguridade Social, mas, segundo WLADIMIR NOVAES MARTINEZ (1999), o legislador fica devendo as normas sobre efetivação da seguridade social, por falta de definição política e reconhecida incapacidade de efetivamente atender as diretrizes constitucionais da matéria. Todavia a Seguridade Social seja uma técnica de proteçãosocial avançada em relação à Previdência Social, capaz de integrá-la com a assistência social e incorporar as ações de saúde, ela ainda é um esforço nacional extraordinário no sentido de um amplo atendimento à população, obreira ou não, empenho sujos objetivos estão à distância. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 15 4.1 Objetivos da Seguridade Social Os objetivos da Seguridade Social são veiculados mediante princípios que expandem seus efeitos pelas três áreas de concentração da seguridade, informando as condutas estatais, normativas ou administrativas de previdência, assistência e saúde (TAVARES, 2008). Segundo JOSÉ AFONSO DA SILVA (1998, p. 193), estes princípios não estão aptos à produção imediata de efeitos. Sua natureza institutiva1 gera aplicabilidade mediata, não integral, servindo: a) como vetor de orientação interpretativa de regras constitucionais e de normas legais administrativas; b) de paradigma para verificação de validade material de normas infraconstitucionais editadas antes ou depois da Carta; c) para impedir o retrocesso na proteção do núcleo das prestações sociais sobre a matéria (BARROSO, 1996, p. 148). Para concretizar os princípios, cabe ao Legislativo editar leis implementadoras de ações conjuntas de seguridade, cuja competência é privativa da União (art. 22, XXIII, CRFB/88). A lei nº 8.212/91 é a principal lei sobre seguridade social tratando do custeio de todo o sistema. Por uma questão meramente didática e de estrutura do curso, os princípios (gerais, constitucionais e específicos) serão discutidos em pormenores num segundo momento específico do curso. 4.2 O tripé da Seguridade Social 1 Carecem de concretização mediante de criação de instituições previstas em lei. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 16 4.2.1 Saúde A saúde é direito de todos e dever do Estado (art. 196, CRFB/88), com preocupação no que se refere à redução do risco de doença (prevenção) e acesso igualitário às ações e serviços para sua promoção (campanhas), proteção e recuperação. Independente de contribuição, qualquer pessoa tem o direito de obter atendimento na rede pública de saúde. A saúde pública é dever do poder público, que pode conveniar-se com entes de natureza privada para prestá-la. De qualquer forma, será gratuita para os pacientes, devendo o Estado remunerar as entidades pelo serviço, conforme ilustra o quadro abaixo. Instituições públicas – diretamente Pública – Sistema Único de Saúde (SUS) Instituições privadas - indiretamente Sem fins lucrativos (filantrópicas) Com fins lucrativos Saúde (art. 199) Privada – a assistência à saúde privada é livre à iniciativa privada (art. 199) Fonte: TAVARES (2008, p. 13) Mesmo a pessoa que, comprovadamente, possua meios para patrocinar seu próprio atendimento médico terá a rede pública como opção válida. Não é lícito à Administração Pública negar atendimento médico a esta pessoa com base em sua riqueza pessoal. Atualmente a saúde tem organização totalmente distinta da previdência social. Após a extinção do Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social (INAMPS), as ações nesta área passaram a ser de responsabilidade direta do Ministério da Saúde, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 17 Embora os operadores do Direito Previdenciário tenham em mente a diferença entre a previdência e a saúde, para leigos ocorre certa confusão, portanto, de maneira rápida e clara temos que o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), responsável pela previdência social brasileira, não tem qualquer responsabilidade com hospitais, casas de saúde e atendimentos na área de saúde em geral. A saúde é segmento autônomo da seguridade social, com organização distinta. Tem o escopo mais amplo de todos os ramos protetivos, já que não possui restrição à sua clientela protegida, ou seja, qualquer pessoa tem direito ao atendimento providenciado pelo Estado – e, ainda, não necessita de comprovação de contribuição do beneficiário direto. A saúde é garantida mediante políticas sociais e econômicas visando à redução do risco de doença e de outros agravos, com o acesso universal e igualitário às ações e aos serviços necessários para sua promoção, proteção e recuperação. As condições para implantação de tais ações da saúde, além de sua organização e do funcionamento, são objeto de regulamentação pela Lei nº 8.080/90. As ações e os serviços de saúde são de extrema relevância, cabendo ao Poder Público, sua execução diretamente ou através de terceiros, incluindo pessoas físicas ou jurídicas de direito privado. O emprego de particulares na proteção à saúde é frequente, com o governo reembolsando atendimentos destas entidades ao SUS. As ações e os serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes: descentralização, com direção única em cada esfera de governo; atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais e participação da comunidade. O SUS é financiado com recursos do orçamento da seguridade social, da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, além de outras fontes. O orçamento da seguridade social destina ao SUS, de acordo com a receita estimada, os recursos necessários à realização de suas finalidades, previstos em proposta Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 18 elaborada pela sua direção nacional, com a participação dos órgãos da Previdência Social e da Assistência Social, tendo em vista as metas e prioridades estabelecidas na Lei de Diretrizes Orçamentárias (art. 31, Lei nº 8.080/90). A Constituição, com a redação dada pela Emenda Constitucional nº 29/2000, determina que a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios devem aplicar, anualmente, em ações e serviços públicos de saúde, recursos mínimos derivados da aplicação de percentuais calculados sobre suas arrecadações tributárias, além de parcela dos valores obtidos a partir de repasses da União e dos estados e dos Fundos de Participação de estados e municípios. Os percentuais mínimos serão fixados em Lei Complementar (art. 198, § 2º, CRFB/88). Em 16 de janeiro de 2012, a presidente da República, Dilma Roussef, sancionou a Lei Complementar nº 141, que regulamenta a Emenda Constitucional 29, aprovada pelo Congresso Nacional em dezembro passado. O texto define claramenteo que deve ser considerado gasto em saúde e fixa os percentuais mínimos de investimento na área pela União, Estados e Municípios. • regulamenta o § 3º do art. 198 da Constituição Federal para dispor sobre os valores mínimos a serem aplicados anualmente pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios em ações e serviços públicos de saúde; • estabelece os critérios de rateio dos recursos de transferências para a saúde e as normas de fiscalização, avaliação e controle das despesas com saúde nas 3 (três) esferas de governo; • revoga dispositivos das Leis nos 8.080, de 19 de setembro de 1990, e 8.689, de 27 de julho de 1993; e dá outras providências. 4.2.2 Assistência Social A assistência social será prestada a quem dela necessitar (art. 203, CRFB/88), ou seja, àquelas pessoas que não possuem condições de manutenção própria. Assim como a saúde, independe de contribuição direta do beneficiário. O requisito para o auxílio assistencial é a necessidade do assistido. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 19 A assistência social serve para preencher as lacunas deixadas pela previdência social, que, devido sua natureza contributiva, acaba por excluir os necessitados. Agora, a pessoa dotada de recursos para a sua manutenção, logicamente, não será destinatária das ações estatais na área assistencial, não sendo lícito a esta a obtenção de benefício assistencial pecuniário. Naturalmente, outras ações assistenciais, não pecuniárias, direcionadas a providenciar um melhor convívio do beneficiário em sociedade, podem ser extensíveis a pessoas dotadas de recursos, pois aí o conceito de pessoa necessitada é mais elástico. A Constituição determina que a ação estatal na assistência social seja realizada preferencialmente com recursos do orçamento da Seguridade Social, e organizada com base na descentralização político-administrativa, cabendo a coordenação e as normas gerais à esfera federal, e a coordenação e a execução dos respectivos programas às esferas estadual e municipal, bem como a entidades beneficentes e de assistência social. A participação da população também é prevista em texto constitucional, por meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis (art. 204). A EC nº 42/2003 trouxe a faculdade, aos Estados e ao Distrito Federal, de vincular ao programa de apoio à inclusão e promoção social até cinco décimos por cento (0,5%) de sua receita tributária líquida. Neste caso, tais recursos ficam necessariamente atrelados às ações sociais previstas, sendo proibida a aplicação destes com despesas com pessoal e encargos sociais, serviço da dívida ou qualquer outra despesa corrente não vinculada diretamente aos investimentos ou ações sociais apoiadas. A assistência social é regida por lei própria (Lei nº 8.742/932), a qual traz definição legal deste segmento da seguridade social: A assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é Política de Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada 2 Vários artigos com redação dada pela Lei nº 12.435/2011. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 20 através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas. A assistência social tem por objetivos a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; o amparo às crianças e adolescentes carentes; a promoção da integração ao mercado de trabalho; a habilitação e a reabilitação de pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; e a garantia de 1 (um) salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família (art. 2º da Lei nº 8.742/93). O benefício de prestação continuada é a garantia de um salário-mínimo mensal à pessoa com deficiência e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê- la provida por sua família. (art. 20, Redação dada pela Lei nº 12.435, de 2011). A idade de 65 anos, em substituição aos 67 anos, anteriormente previstos, foi fixada pelo Estatuto do Idoso, aprovado pela Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003. Melhor seria a lei manter a idade, mas ampliar as possibilidades de obtenção do mesmo, em especial o conceito de necessitado. A prestação pecuniária assistencial tradicional é conhecida como Benefício de Prestação Continuada, instituída pela Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, conhecida como Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS). Tecnicamente, não se trata de benefício previdenciário, embora sua concessão e administração sejam feitas pelo próprio INSS. O referido benefício é intransferível, não gerando direito à pensão por morte aos herdeiros ou sucessores, e sim extinguindo-se com a morte do segurado. Todavia, o valor não recebido em vida pelo beneficiário será pago aos herdeiros (art. 23 do Regulamento do Benefício de Prestação Continuada (RBPC), aprovado pelo Decreto nº 6.214/07). O beneficiário não pode acumular o Benefício de Prestação Continuada com qualquer outro benefício no âmbito da Seguridade Social ou de outro regime, inclusive o seguro-desemprego, ressalvados o de assistência médica e a pensão Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 21 especial de natureza indenizatória, bem como a remuneração advinda de contrato de aprendizagem no caso da pessoa com deficiência, observado o disposto no inciso VI do caput e no § 2º do art. 4º (Redação dada pelo Decreto nº 7.617, de 2011). Parágrafo único. A acumulação do benefício com a remuneração advinda do contrato de aprendizagem pela pessoa com deficiência está limitada ao prazo máximo de dois anos. (Incluído pelo Decreto nº 7.617, de 2011). Até o advento do Regulamento do Benefício de Prestação Continuada, admitia-se a acumulação com a pensão especial devida aos dependentes das vítimas da hemodiálise de Caruaru/PE, prevista na Lei nº 9.422, de 24 de dezembro de 1996 (IBRAHIM, 2009, p. 16). Apesar do benefício de prestação continuada ser o benefício assistencial por excelência, outros existem na lei. São os benefícios eventuais, isto é, os auxílios funeral e natalidade, que eram benefícios previdenciários, mas agora vinculados à assistência social. Também são limitados às famílias cujas rendas mensais per capita sejam inferiores a 1/4 (um quarto) do salário-mínimo. O auxílio natalidade era benefício previdenciário concedido à segurada gestante ou ao segurado pelo parto de sua esposa ou companheira não segurada em prestação única, desde que estes possuíssem remuneração inferior a determinado patamar. Já o auxílio funeral era pago ao executor dos préstimos fúnebres, em cota única, desde que o interessadopossuísse remuneração inferior a determinado patamar (arts. 140 e 141 da Lei nº 8.213/91, ambos revogados pela Lei nº 9.528/97). Dispõe a LOAS que compete os estados destinar recursos financeiros aos municípios a título de participação no custeio do pagamento dos auxílios natalidade e funeral, mediante critérios estabelecidos pelos Conselhos Estaduais de Assistência Social (art. 13, I, Lei nº 8.742/93). Destinar recursos financeiros aos Municípios, a título de participação no custeio do pagamento dos benefícios eventuais de que trata o art. 22, mediante critérios estabelecidos pelos Conselhos Estaduais de Assistência Social; (Redação dada pela Lei nº 12.435, de 2011). Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 22 4.2.3 Previdência FÁBIO ZAMBITTE IBRAHIM (2009) coloca a previdência como um seguro sui generis, pois é de filiação compulsória para os regimes básicos (RGPS e RPPS3), além de coletivo, contributivo e de organização estatal, amparando seus beneficiários contra os chamados riscos sociais. A Previdência Social é técnica protetiva mais evoluída que os antigos seguros sociais, devido à maior abrangência de proteção e a flexibilização da correspectividade individual entre contribuição e benefício. A solidariedade é mais forte nos sistemas atuais. A seguridade social, como última etapa ainda a ser plenamente alcançada, abrangendo a previdência social, busca a proteção máxima, a ser implementada de acordo com as possibilidades orçamentárias. Em um conceito restrito, os riscos sociais cobertos pelos regimes protetivos são as adversidades da vida a que qualquer pessoa está submetida, como o risco de doença ou acidente, tanto quanto eventos previsíveis, como idade avançada – geradores de impedimento para o segurado providenciar sua manutenção. Todavia, é interessante observar que o conceito de risco social não é tão limitado como possa parecer, pois abrange outras situações estranhas à ideia de infortúnio, como a maternidade. Daí alguns criticarem a concepção de “riscos sociais”, sugerindo adotar-se o termo necessidade social (ASSIS, s.d. apud IBRAHIM, 2009). Da mesma forma, Paul Durand (1991 apud IBRAHIM, 2009) afirma que o qualificativo de risco pode ser utilizado também para acontecimentos venturosos. Desta forma, devemos interpretar risco social como todo evento coberto pelo sistema protetivo, com o intuito de fornecer ao segurado algum rendimento substituidor de sua remuneração, como indenização por sequelas ou em razão de encargos familiares. A previdência brasileira comporta dois regimes básicos, que são o Regime Geral de Previdência Social (RGPS) e os Regimes Próprios de Previdência de Servidores Públicos (RPPS), este último para servidores ocupantes de cargos efetivos e militares. Em paralelo aos regimes básicos, há o complementar. 3 Regime Geral de Previdência Social e Regime Próprio de Previdência Social. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 23 Embora o RGPS, administrado pelo INSS, seja somente um dos componentes da previdência brasileira, é frequentemente utilizado como sinônimo da Previdência Social brasileira, devido à sua importância por atender à grande maioria da população. UNIDADE 5 – FUNDAMENTOS DA SEGURIDADE SOCIAL CARLOS ALBERTO PEREIRA DE CASTRO e JOÃO BATISTA LAZZARI (2009) colocam como fundamentos da Previdência Social, motivos de caráter sociológico e outros de caráter político. Estendendo esses motivos, JOSÉ JAYME DE SOUZA SANTORO (2001) diz que as medidas de proteção social são de iniciativa e responsabilidade do estado e possuem motivações as quais variam qualitativa e quantitativamente em decorrência do momento. Para ele esses motivos ou fundamentos podem ser econômicos, políticos, sociais e jurídicos. De todo modo, os fenômenos que levam o Estado e a sociedade a se preocuparem com a questão da subsistência no campo previdenciário são de matiz específica, ou seja, são fenômenos que atingem indivíduos que exercem alguma atividade laborativa, no sentido de assegurar direitos mínimos na relação de trabalho, ou de garantir o sustento, temporário ou permanentemente, quando diminuída ou eliminada a capacidade para prover a si mesmo e a seus familiares. Mesmo se confundindo sociológica e politicamente, manutenção da dignidade humana, solidariedade social, proteção aos previdentes, redistribuição de renda são finalidades da Previdência Social. Os motivos econômicos têm como base os chamados “efeitos materiais negativos”, ou seja, a perda da capacidade de auferir rendimentos de parte da população, derivada dos eventos ligados aos riscos de existência, quais sejam: incapacidade total ou parcial para o trabalho, desemprego, doença, velhice, acidentes do trabalho, morte, etc., mais ou menos agravados em função da evolução da própria sociedade. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 24 Evidentemente que a economia tem interesse em abrandar esses efeitos negativos e manter as atividades produtivas de consumo, o que pode acontecer pela saúde e melhor distribuição de renda, que no final é a busca do bem comum. As pessoas geralmente só pensam na ocorrência de um dano quando ele acontece, ou seja, não tem costume de antecipar e prevenir-se; outras só se dispõem a tomar qualquer atitude diante do risco ou na iminência da ocorrência do dano, já quando sentem a chegada dos seus efeitos e no caso do Brasil, a grande maioria da população não dispõe de recursos econômicos para, sozinha, arcar com a responsabilidade de autoproteção. Estes são os motivos sociais que partem do princípio de que os indivíduos, porque dotados de livre arbítrio, ordinariamente demonstram quase total incapacidade de adoção, por conta própria, de mecanismos de autoproteção contra os riscos sociais. São motivos que levam o Estado a suprir a incapacidade do indivíduo a fim de não causar mais transtornos para a sociedade. Os Motivos Jurídicos podem ser analisados sob a ótica da comunidade internacional, que não mais se pode conceber a existência de Estado que subestime ou ignore as ideias de proteção social, e que não possua em funcionamento mecanismos próprios de defesa de massa contra os riscos de existência. Aqui como em outros países, faz parte da realidade dos tempos atuais e estão assumidos em nossa Carta Magna. Os chamados Motivos Políticos fundam-se no fato de que, nas sociedades modernas, não mais se admite o exercício do poder sem legitimidade, sem compromisso com a garantia dos direitos sociais. A importância desse vínculo político é clausula do contrato social estabelecido entre o cidadão-eleitor e o Estado (este representado pelas forças políticas e pelos dirigentes políticos), onde se pretende garantir um acordo entre gerações, de tal modo que não só os excluídos da força de trabalho, por força de eventos econômicos ou de existência, tenham a tranquilidade e a certezade que estarão amparados pela repartição financeira advinda dos tributos ou das contribuições da população economicamente ativa. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 25 A experiência brasileira não tem sido das mais felizes, no que concerne à garantia e segurança futuras. Especialmente no que se refere à Previdência Social, muitos erros políticos foram cometidos no decorrer do tempo, tornando-se difícil e traumática qualquer correção de rumo. UNIDADE 6 – MODELOS DE PREVIDÊNCIA SOCIAL Já vimos que a Previdência Social é um direito subjetivo do indivíduo exercitado em face da sociedade a que pertence, personificada na figura do Estado- Providência, portanto, impõe-se que esta sociedade participe do regime de seguro social, por meio de aportes que garantam recursos financeiros suficientes à aplicação da política de segurança social (CASTRO; LAZZARI, 2009). Em âmbito mundial são vários os sistemas existentes e em funcionamento para levar a proteção social aos indivíduos que estão com sua capacidade de trabalho ou subsistência afetados. Alguns desses modelos estão em fase de transição e outros já foram modificados do original, como veremos a seguir, relembrando que a proteção social é um fenômeno típico do século XX. Analisando tais modelos do ponto de vista político-ideológico, como o faz GOSTA ESPING-ANDERSEN (1990 apud CASTRO; LAZZARI, 2009, p. 55), são identificados três modelos de regimes. O primeiro, denominado regime socialdemocrata, típico dos países nórdicos, cuja ênfase é a universalidade da cobertura a todos os cidadãos, é marcado por benefícios de montante consideravelmente elevado em comparação a outros países, mesclando-se benefícios baseados em contribuições e não-contributivos, além de uma vasta malha de serviços públicos, gratuitos. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 26 O segundo, chamado conservador-corporativo, nasceu na Europa ocidental, cuja tendência é priorizar o seguro social compulsório voltado à proteção dos riscos sociais, com foco na população que exerce trabalho remunerado, cujo custeio tem por base principal a contribuição destes trabalhadores e de seus tomadores de serviços, com benefícios proporcionais às contribuições. Há também benefícios não contributivos para atender demandas assistenciais. O terceiro, identificado como liberal, garante uma proteção residual, com benefícios contributivos e não contributivos que visam o combate à pobreza e a garantia de um patamar mínimo de renda, com limitada rede de serviços públicos gratuitos. Este modelo é adotado, entre outros países, no Reino Unido, Irlanda, Canadá e Estados Unidos. Um quarto modelo, segundo alguns estudiosos, seria denominado mediterrâneo, por ser típico dos países do sul da Europa (Espanha, Portugal, Itália, Grécia) e diferencia-se do regime dito conservador-corporativo por haver um sistema de saúde pública universal e, dada a grande quantidade de pessoas trabalhando na informalidade ou em regime de economia familiar, há uma preocupação específica, além da proteção à população assalariada (BATISTA, 2008, p. 21-22). 6.1 Sistemas contributivos e não contributivos Dentre outros modos, os sistemas previdenciários podem ser separados em relação ao custeio, de acordo com a fonte de arrecadação da receita necessária ao desempenho da política de proteção social. Há, assim, sistemas que adotam, em seus regramentos, que a arrecadação dos recursos financeiros para a ação na esfera do seguro social dar-se-á por meio de aportes diferenciados dos tributos em geral, de modo que as pessoas especificadas na legislação própria ficam obrigadas a contribuir para o regime. Entre as pessoas legalmente obrigadas a contribuir estão aqueles que serão os potenciais beneficiários do sistema, os segurados, bem como outras pessoas – naturais ou jurídicas – pertencentes à sociedade a quem a lei cometa o ônus de também Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 27 participar no custeio do regime. É o sistema dito contributivo, embasado nas contribuições sociais. Contribuições sociais são aquelas destinadas exclusivamente a servir de base financeira para as prestações previdenciárias (COIMBRA, 1997, p. 240) e, no sistema brasileiro, também para as áreas de atuação assistencial e de saúde pública. Noutros sistemas de financiamento, a arrecadação provém não de um tributo específico, mas sim da destinação de parcela da arrecadação tributária geral, de modo que os contribuintes do regime não são identificáveis, já que qualquer pessoa que tenha pago tributo ao Estado estará, indiretamente, contribuindo para o custeio da Previdência. São os sistemas ditos não contributivos. A Austrália e alguns países da Europa – a Dinamarca, por exemplo – adotam o sistema não contributivo. A Previdência Social brasileira é composta por mais de um regime jurídico. O Regime Geral de Previdência Social, que abarca a maior parte dos indivíduos, sempre foi de natureza contributiva, tal como indica o art. 201 da Constituição, já que os trabalhadores, desde a criação do sistema, sempre contribuíram de forma compulsória para o custeio deste regime. Além do Regime Geral, há os regimes previdenciários instituídos pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios, para proteção, quanto aos riscos sociais, dos agentes públicos titulares de cargos efetivos e vitalícios, conforme previsão contida nos artigos 40 e 149 da Constituição. Quanto a esses últimos, durante muito tempo houve a concessão de benefícios de aposentadorias (e em alguns casos, de outros benefícios) sem a exigência de contribuição por parte dos servidores, apresentando- se, até a promulgação da Emenda Constitucional nº 20/98, como regimes tipicamente não-contributivos. Com a exigência de contribuição, que passou a constar expressamente do texto do caput do art. 40 da Carta a partir de 16.12.1998, também os chamados “regimes próprios” passaram a ter caráter contributivo. No sistema contributivo, os recursos orçamentários do Estado para o custeio do regime previdenciário também concorrem para este, mas não com a importância Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 28 que os mesmos possuem no modelo não contributivo. Cumpre ao Estado garantir a sustentação do regime previdenciário, com uma participação que pode variar, já que eventuais insuficiências financeiras deverão ser cobertas pelo Poder Público (art. 16, parágrafo único, da Lei nº 8.212/91). 6.2 Sistemas contributivos de capitalização e repartição Entre os sistemas baseados em contribuições sociais, encontramos nova divisão,no que tange à forma como os recursos obtidos são utilizados. Alguns sistemas adotam regras que estabelecem, como contribuição social, a cotização de cada indivíduo segurado pelo regime durante certo lapso de tempo, para que se tenha direito a benefícios. Assim, somente o próprio segurado – ou uma coletividade deles – contribui para a criação de um fundo – individual ou coletivo – com lastro suficiente para cobrir as necessidades previdenciárias dos seus integrantes. O modelo de capitalização, como é chamado, é aquele adotado nos planos individuais de previdência privada, bem como nos “fundos de pensão”, as entidades fechadas de previdência complementar (CASTRO; LAZZARI, 2009). Nesse sistema, a participação do Estado é mínima, e a do empregador vai variar conforme a normatização de cada sistema (vide art. 202 da Constituição, com a redação conferida pela Emenda Constitucional nº 20/98). Primordial no sistema de capitalização é a contribuição do próprio segurado, potencial beneficiário, que deverá cumprir o número de cotas ou o valor estabelecido para garantir a proteção pelo sistema para si e seus dependentes. Já no sistema de repartição, as contribuições sociais vertem para um fundo único, do qual saem os recursos para a concessão de benefícios a qualquer beneficiário que atenda aos requisitos previstos na norma previdenciária. A participação do segurado continua sendo importante, mas a ausência de contribuição em determinado patamar não lhe retira o direito a benefícios e serviços, salvo nas hipóteses em que se lhe exige alguma carência. Como salienta J. R. FEIJÓ COIMBRA (1997), este modelo repousa no ideal de solidariedade. No pacto entre gerações – já que cabe à atual geração de trabalhadores em atividade pagar Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 29 as contribuições que garantem os benefícios dos atuais inativos, e assim sucessivamente, no passar dos tempos –, ideia lançada no Plano Beveridge inglês, e que até hoje norteia a maior parte dos sistemas previdenciários no mundo. 6.3 Sistemas privados de previdência No ano de 1981, o Chile, então sob a ditadura de Augusto Pinochet, inaugurou uma nova forma de gerir a questão previdenciária, na qual as contribuições dos trabalhadores não mais seriam vertidas para um fundo público, mas para entidades privadas, denominadas Administradoras de Fundos de Pensões – AFPs, de forma compulsória. Caberia ao Estado o estabelecimento de regras de funcionamento e fiscalização. Para os que não conseguissem cotizar o suficiente para ter direito a uma aposentadoria, foi previsto um benefício assistencial mínimo. Houve, ainda, a assunção pelo Estado das despesas com o passivo das aposentadorias e pensões que então era extinto (CASTRO; LAZZARI, 2009). Pelo sistema estabelecido, os trabalhadores chilenos devem destinar entre 10 e 12% de seu ganho mensal às AFPs, que investem estes recursos em ações e bônus, tanto no Chile quanto no exterior – sujeitando o capital investido, portanto, às incertezas do mercado e da economia interna e mundial. O modelo chileno, totalmente privatizante da previdência – mantida pelo Estado apenas a assistência social – foi daí para frente paradigma para diversos estudos, ganhando adeptos no campo doutrinário e, na década seguinte, sendo implantado, com algumas alterações, em outros países latino-americanos, como México, Argentina e Peru. Transformou-se, assim, no modelo preconizado pelo Banco Mundial (no estudo Averting the Old Age Crisis: Policies to Protect the Old and Promote Growth, 2004). Ao entendermos que a concepção verdadeira de seguridade social envolve a solidariedade – um dos seus fundamentos – não podemos concordar que este plano seja um modelo de sistema de previdência social, pois falta justamente esse comprometimento da solidariedade. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 30 O que se nota, todavia, é que o modelo privatizante parece ter atingido o seu ocaso. O Chile, precursor da privatização, decidiu modificar substancialmente o sistema, passando a vigorar novas regras a partir de julho de 2008. Nestas, ainda que não se observe um retorno ao modelo estatal, podem ser notadas mudanças de caráter social, como a instituição de um aporte previsional solidário a qualquer pessoa que tenha cotizado valores insuficientes, para assegurar um complemento de renda – custeado pelo Estado – a partir destes aportes, o que assegura uma proteção social pouco maior que a assistencial. Mantém-se, portanto, o regime das Administradoras de Fundos de Pensões, privadas, mas é assegurado um patamar de proteção previdenciária a ser entregue pelo Estado, caso a cotização privada seja pequena. Entretanto, um dos pontos fundamentais da reforma proposta por Michelle Bachelet, a criação de uma AFP estatal, foi vetado pelo legislativo (informações retiradas do site http://wwwbcn.cl/guias/ reforma-previsional-las-pensiones-solidarias, acesso em 2.1.2009). 6.4 O sistema de pilares – Modelo Brasileiro A doutrina e os organismos ligados à pesquisa em matéria de seguridade social têm lançado suas luzes sobre a formação de modelos mais recentes de financiamento e distribuição de benefícios, superando a noção de uma só forma de custeio (baseada em contribuições exclusivamente, ou não) e de níveis de cobertura aos beneficiários, com o fito de atingir o objetivo da universalidade do atendimento àqueles que necessitam de proteção. A isto se costuma denominar de modelos construídos sobre mais de um “pilar”. Segundo o Relatório sobre a Seguridade Social de 2009 da Conferência Interamericana de Seguridade Social, a literatura sobre o tema sugere a formação de três pilares: o primeiro seria uma rede de seguridade ou pensão mínima para todos os cidadãos, financiada por impostos gerais; o segundo, um sistema de benefícios contributivo, voltado à atividade laborativa, financiado por contribuições sobre salários; e o terceiro, baseado na economia voluntária individual. O modelo Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 31 brasileiro atual vai de encontro a esta tendência, se observarmos que ao chamado “primeiro pilar” podemos associar as políticas de assistência social e saúde, ao “segundo pilar” os Regimes de Previdência Social – atualmente todos contributivos e em modelo de repartição simples –, e ao “terceiro pilar”, a Previdência Complementar Privada, em forma de capitalização. No Chile, paradigma de muitos estudiosos, o segundo pilar foi entregue a administradoras de fundos de pensão, como visto (CASTRO; LAZZARI, 2009). O Banco Mundial, em estudo de 2005, denominado Old Age Income Support in the 21st Century, tem defendido não mais o modelo de três pilares, o qual sustentou até 2004, no já citado texto Averling lhe Old Age Crisis: Policies to Protect the Old and Promete Growth. A proposta mais recente englobaria cinco níveis de proteção: pilar “zero” ou não contributivo; “um” –o qual é contributivo em junção dos ingressos; “dois” – o qual é obrigatório e baseia-se na criação de contas individuais; “três” – que consiste em acordos voluntários flexíveis (financiados pelo empregador, de tipo contribuição definida ou benefício definido); e, “quatro” – que consiste em transferências adicionais em espécie ou monetárias (inter ou intrageracionais, incluindo seguro de saúde, transferências familiares, etc.). No âmbito das reformas previdenciárias em outros países, pode-se identificar também a questão da existência de um ou mais sistemas, de acordo com o estudo de MERCEDES HOCES QUINTEROS (2006, p. 93): nos países de “sistema único”, a filiação a este é de caráter obrigatório; nos países de “sistema misto integrado”, como o do Uruguai, “o regime de capitalização individual e o de repartição coexistem”, sendo obrigatória a filiação a um dos dois regimes, ou a ambos; e nos de “sistema misto em concorrência”, como o da Colômbia, o regime de capitalização e o de repartição são concorrentes, cabendo aos trabalhadores escolher, obrigatoriamente, um dos regimes, sendo a contribuição destinada integralmente ao regime escolhido. O modelo brasileiro, segundo esta linha de pensamento, se divide da seguinte forma: • Pilar 1 - Previdência Social Básica – pública, compulsória em forma de repartição, com financiamento misto (trabalhadores, tomadores de serviços e poder público), dividida em múltiplos regimes: o Regime Geral, administrado pela União, cuja atribuição é descentralizada à autarquia INSS; e os Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 32 Regimes Próprios de Previdência dos Servidores, administrados pelos entes da Federação, baseados no princípio da solidariedade e com o objetivo de oferecer proteção à classe trabalhadora em geral (empregados de qualquer espécie, trabalhadores avulsos, por conta própria e empresários dos meios urbano e rural, servidores públicos); • Pilar 2 - Previdência Complementar – privada, em regime de capitalização, na modalidade contribuição definida, facultativa à classe trabalhadora na modalidade fechada (financiada, neste caso, com contribuições dos trabalhadores e tomadores de serviços), e a todos os indivíduos, na modalidade aberta (com contribuição somente do indivíduo), administrada por entidades de previdência complementar; • Pilar 3 - Assistência Social – para idosos e portadores de necessidades ou cuidados especiais, abrangendo as pessoas que estejam carentes de condições de subsistência, segundo critérios estabelecidos em lei financiada pelos contribuintes da Seguridade Social e pelos entes da Federação. Há múltiplos regimes, mas todos são de filiação obrigatória, porque “únicos” em relação a cada um dos grupos de indivíduos protegidos: trabalhadores da iniciativa privada, agentes públicos federais, estaduais e municipais (CASTRO; LAZZARI, 2009). UNIDADE 7 – REGIMES PREVIDENCIÁRIOS A previdência social é primeiramente mencionada no art. 6º da Constituição, o qual dispõe que “são direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição (Redação dada pela EC nº 26, de 14/02/2000)”. Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 33 Sem dúvida, é o ramo mais importante da seguridade social e também o mais complexo, não somente em razão de suas especificidades, mas também devido às constantes alterações legais e constitucionais, muitas realmente necessárias para a adequação do sistema. A definição da previdência social, no âmbito constitucional, começa com o art. 201, que explicita sua natureza contributiva e compulsória e também expõe a obrigatoriedade do equilíbrio financeiro e atuarial do sistema. Em verdade, o segmento básico da previdência social, de filiação compulsória e organização estatal, tem em sua estrutura o Regime Geral de Previdência Social (RGPS) e os Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS), restritos a servidores públicos de cargo efetivo. A previsão de constituição dos RPPS está no art. 40 da Constituição, sendo seu regime complementar previsto nos parágrafos 14, 15 e 16. O RGPS, que, por ser o principal segmento previdenciário, acaba por ser utilizado, frequentemente, como sinônimo da previdência brasileira, tem previsão no art. 201, tendo seu regime complementar previsão no art. 202 da Constituição. Ambos os regimes complementares são de ingresso voluntário, mas aqueles relativos aos RPPS têm natureza pública (art. 40, § 15, da CRFB/88), ao contrário do regime complementar ao RGPS, que tem natureza privada (art. 202, caput, da CRFB/88) (IBRAHIM, 2009). Em que pese o princípio da uniformidade de prestações previdenciárias, contemplado no texto constitucional, o fato é que no âmbito da Previdência Social no Brasil não existe somente um regime previdenciário, mas vários deles. Mas o que é um regime previdenciário? Entende-se por regime previdenciário, aquele que abarca, mediante normas disciplinadoras da relação jurídica previdenciária, uma coletividade de indivíduos que têm vinculação entre si em virtude da relação de trabalho ou categoria profissional a que está submetida, garantindo a esta coletividade, no mínimo, os benefícios essencialmente observados em todo sistema de seguro social – aposentadoria e pensão por falecimento do segurado (CASTRO; LAZZARI, 2009). Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas. 34 Alguma polêmica poderia advir do fato de não se considerar como benefício essencial de um regime previdenciário aquele que proteja o indivíduo de incapacidades temporárias para o trabalho. Contudo, se o tomador dos serviços do trabalhador garante a este remuneração integral durante o afastamento por motivo de saúde, não há necessidade de cobertura deste evento. Como a legislação do trabalho – Consolidação das Leis do Trabalho – não prevê tal garantia, senão nos primeiros quinze dias de incapacidade, cumpre à Previdência Social proteger o indivíduo que fique incapacitado por mais tempo. 7.1 O Regime Geral de Previdência Social (RGPS) Principal regime previdenciário na ordem interna, o RGPS abrange obrigatoriamente todos os trabalhadores da iniciativa privada, ou seja: os trabalhadores que possuem relação de emprego regida pela Consolidação das Leis do Trabalho (empregados urbanos, mesmo os que estejam prestando serviço a entidades paraestatais, os aprendizes e os temporários), pela Lei nº 5.889/73 (empregados rurais) e pela Lei nº 5.859/72 (empregados domésticos); os trabalhadores autônomos, eventuais ou não; os empresários, titulares de firmas individuais ou sócios gestores e prestadores de serviços; trabalhadores avulsos; pequenos produtores rurais e pescadores artesanais trabalhando em regime de economia familiar; e outras categorias de trabalhadores, como garimpeiros, empregados de organismos
Compartilhar